Você está na página 1de 8

PESSOAS COLETIVAS

São um organismo social dirigido à realização de uma finalidade lícita a que o direito atribui
personalidade jurídica. É considerada como um sujeito de relações jurídicas, estando
suscetível a determinados direitos e vínculos.

Por vezes, o Direito cria um regime análogo ao da pessoa singular para personificar
juridicamente num único sujeito os interesses coletivos ou os fins institucionais. Daí
resultam as pessoas coletivas. Nestas, podemos distinguir as de carácter associativo (associações e
sociedades) das de carácter fundacional ou institucional (fundações).

NATUREZA DA PERSONALIDADE COLETIVA:

A doutrina diverge neste assunto.

Apoiantes do iluminismo voluntarista liberal defendem que antes de tudo o resto está a
pessoa no seu singular – o Homem. É da sua dignidade e capacidade jurídica – personalidade
– que podemos partir para uma outra realidade, agora coletiva. Partimos do particular para o
coletivo.

Em resposta a isto, antiliberais afirmam que devemos construir o Direito a partir da


sociedade e do Estado – do direito objetivo – até chegar aos indivíduos e, assim, aos direitos
subjetivos. Partimos do coletivo para o particular.

Neste assunto, consideram-se as mais importantes as seguintes posições:

● Ficcionismo personalista – Savigny; Windscheid – deriva do personalismo kantiano


e defende que a pessoa humana não admite a pessoa coletiva a não ser como uma
construção fictícia, como algo artificial. Esta artificialidade não pode ser colocada
no mesmo plano que a pessoa humana, aquela que de facto contribui para o
fundamento do Direito. É uma visão dualista, já que separa a personalidade singular e
a personalidade coletiva como duas realidades diferentes.
● Normativismo formalista – Hans Kelsen – parte da norma para a pessoa. A
personalidade é uma construção da ordem jurídica. A pessoa representa apenas um
suporte de deveres jurídicos e de direitos subjetivos. É a unidade personificada das
normas jurídicas, é uma construção criada pela ciência do direito. É uma perspetiva
monista, colocando pessoas singulares e coletivas no mesmo plano.

PEDRO PAIS DE VASCONCELOS: só a pessoa humana tem uma dignidade própria
originária, autónoma e extrajurídica, que o Direito se limita a reconhecer. A personalidade
coletiva, por sua vez, é uma construção do Direito que não pode ser equiparada à
personalidade singular. Tem, sim, uma natureza análoga à personalidade singular.

Relativamente ao ficcionismo personalista, se é verdade que as pessoas coletivas são


diferentes das pessoas singulares, também é verdade que a diferença não é tal que se possa
dizer que estas não existem ou não têm relevância social. As pessoas coletivas estão ligadas
às pessoas singulares que lhes dão origem e, apesar de não se confundirem com estas, não
deixa de ser uma relação relevante para o Direito. Esta tese é direcionada para as
associações e para as sociedades de pessoas.

O normativismo formalista peca por não dar relevância à dimensão humana, económica e
social da personalidade coletiva nas sociedades de hoje em dia. É, no entanto, assertivo
relativamente à descrição que faz dos mecanismos com os quais o Direito constrói a
personalidade coletiva. A realidade social da personalidade coletiva não pode ser descartada.

As pessoas coletivas podem resultar da institucionalização de agrupamentos de pessoas


humanas que através delas prosseguem os seus interesses; da institucionalização dos fins
das pessoas singulares, que são então autonomizados e dotados de meios ou ainda da
autonomização de massas patrimoniais de pessoas humanas, afetos à prossecução de fins
humanos. Na origem das pessoas coletivas estão sempre pessoas humanas, podendo nós
assim afirmar que as pessoas coletivas são o prolongamento das pessoas humanas. Disto
resulta que a personalidade coletiva está sempre ligada à personalidade humana, por pouco
que seja.

Uma vez criadas, as pessoas coletivas vão-se tornando mais e mais autónomas das pessoas
que primeiramente lhes deram origem, ganhando individualidade própria na vida de relação e
na sociedade. Tornam-se titulares de interesses próprios que se autonomizam dos seus
fundadores ou membros e que com eles podem até entrar em conflito.
Consideramos as pessoas coletivas como centros de imputação de situações jurídicas, de
direitos e de vinculações. Não as podemos considerar meras construções do Direito ou pura
ficção. Apesar disso, também não as podemos colocar nunca ao nível das pessoas humanas,
dadas as diferenças que existem entre ambas as realidades serem demasiado fortes. As
pessoas coletivas não têm a qualidade humana, não têm a dignidade originária que nos
assiste, nem assumem uma posição central no Direito. A sua personalidade jurídica é-lhes
atribuída e não meramente reconhecida, como é no caso das pessoas singulares. As
pessoas coletivas não deixam de ser mais um meio das pessoas humanas para a prossecução
dos seus fins. Dado isto, não podemos nunca dizer que pessoas singulares e coletivas se
encontram no mesmo plano horizontal. Há ainda diferenças que nos são impostas pela
natureza das coisas: as pessoas coletivas não têm emoções nem ambições, não nascem e
não morrem, não sentem, não constituem família e não procriam, (...). Não possuem o
que faz dos humanos, humanos. Dado isto, são-lhes impostas grandes limitações ao nível
da capacidade de gozo.

ELEMENTOS ESSENCIAIS = São aqueles que são essenciais para o surgimento da pessoa
coletiva. (Ato Constitutivo e Estatutos).

ATO CONSTITUTIVO

TEORIA DO CONTRATO TEORIA DA NORMA TEORIA MISTA

Na constituição de uma Na constituição de uma O ato constitutivo da pessoa


associação está um contrato pessoa coletiva, não haveria coletiva teria natureza
de constituição, de tipo uma negociação na qual contratual, enquanto os
organizacional. duas partes procurem estatutos assumiriam
harmonizar os seus natureza normativa.
Na constituição de uma interesses, mas sim uma
fundação está un negócio fixação de regras para o
unilateral de tipo futuro.
fundacional.

Está composta por elementos intrínsecos, elementos extrínsecos e estrutura sistemática.

Intrínsecos Extrínsecos Estrutura

substrato → Uma pessoa fim → prossecução de - Associações

coletiva, como organismo interesses humanos, já que - Fundações


- Sociedades
social, possui uma qualquer pessoa coletiva tem

determinada realidade sempre subjacente a si e à sua


Para entender esta distinção
jurídica, sendo que é esta organização certos interesses. devemos atentar em dois
realidade que lhe dá critérios:
existência no mundo objeto → atividade - substrato

exterior. O substrato é essa desenvolvida pelos órgãos a - quem comanda a


pessoa coletiva
realidade e pode subdividir- ela adstritos

se em 2 elementos:

- pessoal → substrato

constituído por um

grupo de pessoas.

- patrimonial →

quando é

constituído por bens

forma → o substrato precisa

da organização formal para


que se crie uma pessoa

coletiva. Isto é, o grupo de

pessoas precisa de definir

como atuará essa vontade

de modo a tomar-se um

sentido coletivo e não

particular.

personalidade → Por

último é fundamental

acrescentar à realidade

jurídica (substrato) e à

organização formal com

vista à prossecução de um

fim comum, a personalidade

(que são os direitos e

vínculos atribuídos pela

ordem jurídica).

ASSOCIAÇÕES

● Substrato composto maioritariamente por pessoas, o que não invalida que se


verifiquem características patrimoniais;
● fins sociais

FUNDAÇÕES → Arts. 185º a 195º CC


- fins não lucrativos
São pessoas coletivas que representam a institucionalização de fins humanos cuja
prossecução são fins de interesse social. Não têm caráter corporativo, ao contrário das
associações, e o seu fundador não faz parte do substrato. A sua intervenção começa e acaba,
normalmente, no ato de fundação.

Substrato de uma fundação necessita de um elemento patrimonial e um elemento


teleológico (fim prosseguido)

PPV: “o fim institucional é dominante e o património constitui o seu suporte”.

Oliveira Ascensão – define o objectivo das fundações como sendo “assegurar que uma
finalidade do instituidor é prosseguida, mediante o suporte duma massa patrimonial que é a
isso afectada”

Para a Fundação ser personificada é necessário prosseguir um fim de interesse social →


Arts. 185º, nº1 CC e Art. 188º, nº3, alínea a) CC

As fundações sudvidivem-se em: fundações privadas; fundações públicas e de direito público


e fundações públicas e de direito privado.

Fundações privadas → criadas por uma ou mais pessoas de direito privado, em conjunto

ou não com pessoas colectivas públicas, desde que estas não exerçam uma influência

dominante na fundação

Fundações públicas e de direito público → criadas exclusivamente por pessoas colectivas

públicas, nos termos da lei-quadro dos institutos públicos

Fundações públicas e de direito privado → criadas por uma ou mais pessoas colectivas

públicas, em conjunto ou não com pessoas de direito privado, desde que estas não

exerçam uma influência dominante na fundação


As Fundações são instituidas por escritura pública ou testamento. No ato de instituição
deve ser apresentado o fim da fundação e os bens com que esta é dotada.

SOCIEDADES CIVIS SIMPLES → Arts. 980º a 1021º CC


Não estão incluídas nas pessoas coletivas.
- fins lucrativos

Art. 980º CC → Uma sociedade é um conjunto de duas ou mais pessoas que se obrigam a

contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa atividade

económica, que não seja a mera fruição, a fim de repartirem os lucros económicos.

Art. 981º, nº1 CC → Contrato que origina a constituição da sociedade não está sujeito a

forma especial, salvo se assim o exigirem os bens em jogo. Qualquer forma serve pelo que

pode surgir nos contextos mais informais, ou de uma forma mais estruturada e solene

como escritura publica.

Art. 981º, nº2 CC → a lei prevê para a inobservância de forma esquemas reforçados de

redução e conversão

Art. 982º CC → As alterações ao contrato devem ser unânimes, exigindo-se ainda o

acordo do próprio para a supressão de direitos especiais.

Art. 983º CC → Entrada para a sociedade é o bem ou conjunto de bens que o sócio entra

para a sociedade. Esta entrada é convencionada no contrato de sociedade. Podem

convencionar livremente, caso tal não aconteça, a lei presume que a entrada é igual para

todos.

Art. 985º CC → A sociedade sendo embora uma organização incipiente tem no mínimo

administração. Em sociedades com estruturação há um órgão específico, contudo, quando

não existe esta organização, os sócios podem desempenhar o papel de administradores.


Os sócios têm os direitos e os deveres previstos nos Arts. 985º a 988º + 1002º CC

ASSOCIAÇÕES SEM PERSONALIDADE JURÍDICA E COMISSÕES ESPECIAIS →


Arts. 195º a 201º CC

● ASSOCIAÇÕES SEM PERSONALIDADE JURÍDICA → Arts. 195º a 198º CC

Este regime rege os casos de sociedades civis simples, bem como daquelas às quais
não foi atribuída personalidade jurídica por não cumprirem com o Art. 158º CC.

● COMISSÕES ESPECIAIS → Arts. 199º, 200º, 201º CC

Verifica-se quando é atribuída uma certa tarefa a uma pluralidade de pessoas, ou


quando estas se propõem à realização de algo/prossecução de determinado fim.
Alguns destes fins estão especificados no art 199o CC. Relativamente ao regime
patrimonial, a lei não fala de um fundo comum. Os membros da comissão e os
responsáveis pela administração dos bens da mesma são pessoal e solidariamente
responsáveis pela sua conservação, pela sua afectação ao fim definido e pelas dívidas
possivelmente contraídas.

(...) isto sai???

Você também pode gostar