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Atlas Histórico de La España Medieval, de Jose María Monsalvo Antón (págs.

16-39)
- Desde 409 que a Península Ibérica se viu sujeita a ataques de povos bárbaros, desde que
estes começaram a cruzar os Pirenéus, sendo estes povos os suevos, vândalos e alanos. Em
411 estabelecem-se os alanos na Lusitânia e a oeste de Cartagena; os suevos na zona da
Galiza, bem como parte dos vândalos, sendo que outra parte deste povo se fixaram na Bética,
passando em 429 para África. O sucessor de Ataulfo obteve com o imperador Honório um
pacto de feudo pelos territórios do sul da Gália, com capital em Toulouse, desde o qual os
bárbaros exerceram a sua influência na Península Ibérica. Durante o reino visigótico de
Toulouse (418-507) sucederam-se diversos conflitos entre os povos bárbaros da Península
Ibérica, resultando em:
- Domínio dos suevos de 430 a 456;
- E domínio dos visigodos desde 456.
De início, o domínio dos bárbaros foi mais a nível militar, que antes eram uma minoria face à
população hispano-romana: chegaram apenas 200.000 visigodos, ante milhões dos autóctones.

- Até metade do século VI houve uma supremacia tutelar ostrogoda sobre a Hispânia, seguido
de anarquia política entre 549 e 569. A rebelião de Atanagildo contra Agila precipitou a
intervenção bizantina, fruto da qual foi a dominação de estes no sudeste da Hispânia. A figura
de Leovigildo faz dele um dos grandes reis, que batalhou contra francos, vascões, suevos e
bizantinos, que se provou ser resistente aos ataques do inimigo. Também foi muito importante
na definição do estado, sendo que no seu reinado as diferenças entre godos e hispanorromanos
se diluíram, com a legalização da contração de casamentos entre as duas etnias, e a
convergência dos interesses patrimoniais. As leis do tempo de Eurico foram revistas,
originando o Codex Revisus o Antiquae e adotando os símbolos da supremacia monárquica,
sendo estes a coroa, a espada, o manto e o anel. A integração de visigodos e hispanoromanos
acentuou-se quando um dos líderes bárbaros se converteu-se ao cristianismo, abandonando o
arianismo, sendo que no III Concílio de Toledo, em 589, o passado ariano foi eliminado,
sendo que os Concílios de Toledo e a monarquia visigótica tornaram-se nos pilares
importantes, porém, continuavam a verificar-se episódios de desigualdades e de apropriações
de poder, originando guerras civis dentro do território. Em 711, os muçulmanos desembarcam
em Guadalete, na zona de Cádiz, encontrando um reino desunido e enfraquecido, sendo que a
norte esta situação não se verificava, que por estarem perto da barreira natural das montanhas
e fora do controlo da monarquia, regiam-se de forma autónoma, dedicados ao pastoreio e à
pilhagem.
- A conquista da Península por parte dos muçulmanos pode ser vista como a continuação de
uma propagação da fé após a morte de Maomé, que chegou até ao Magreb, em África. Nesta
região a população berbere, que se tinha aliado ao califado de Damasco no século VIII, apesar
do estrato árabe deste. Em julho de 711, cerca de 10.000 berberes chegaram à Península e
derrotaram as tropas do rei D. Rodrigo na batalha de Guadalete, iniciando-se assim a
conquista da Península Ibérica. No ano de 712, Musa Ibn Nusayr entrava com cerca de 18.000
árabes, conquistando as principais zonas. A conquista muçulmana não foi um processo difícil,
dada a desorganização dos visigodos e a colaboração que alguns destacados ofereciam. Os
árabes, guiados pela solidariedade tribal (assabiyya) e pelo sagrado da guerra (jihad),
chegaram por diversas alturas a negociar pactos de capitulação com o poder local, como o
pacto entre Teodomiro, chefe godo. E as tropas muçulmanas de Abd al-Aziz. Ao longo do
território, a conquista muçulmana perpetuou-se, mas anos depois verificou os seus primeiros
contratempos, em Covadonga (722) e Poitiers (732). A zona do Al-Andalus teve muitos
governadores depois de Musa, emires inicialmente dependentes de Damasco. Em 717,
Córdoba converte-se na capital do território, fazendo com que sejam enviados variados
delegados militares aos principais núcleos urbanos da Península Ibérica. Em 756 é formado o
Emirado Independente em no Al-Andalus, que não dependia do poder de Bagdad, a nova
capital muçulmana. No reinado de Abd al-Rahman, o primeiro rei andaluz, foram travadas
algumas revoltas no Al-Andalus por aqueles que não se sentiam representados pelo poder
Cordovês. Para os sucessores deste rei, dois grandes problemas estavam relacionados com o
controlo do território em si e com questões étnicas, visto que uma liderança identificada com
o elemento árabe provocava a asabiyya, já mencionada como solidariedade tribal dos berberes
que eram discriminados, que não se identificavam com a jurisdição que se instaurou no final
do século VIII, considerando-a hierárquica e convencional. Já no século IX verificam-se
conflitos e revoltas, muitos protagonizados pela minoria cristã, destacando-se os de 850 com
os moçárabes e dos “mártires voluntários”, que na presença do juiz cometiam blasfémias
contra o Islão, sendo muitos deles punidos com a morte, o que demonstrava o mal estar entre
as duas crenças no território.

- Dom Pelágio, com a ajuda de habitantes da zona, foi eleito rei e conseguiu uma vitória
importante contra os muçulmanos em Covadonga, começando assim o reino das Astúrias, que
ficou consolidado com sucessores como Fuela I, Aurélio e Silo, que obtiveram vitórias contra
fações muçulmanas. Mais tarde, Afonso III conquista territórios, nomeadamente Porto,
Chaves e Coimbra. Os muçulmanos por sua vez efetuavam razias (invasão do território).

Identificação de um País, de José Mattoso


- Mattoso começa por referir que este livro surge da necessidade de encontrar respostas para a
historiografia moderna, focando-se no tema da identidade nacional de Portugal, tendo o país
como unidade de observação, analisando-o de maneira diferente àquela que Alfredo Pimenta,
historiador do Estado Novo.
- De forma a estudar a sua causa com sucesso, Mattoso define os anos entre 1096 e 1325
como o primeiro período da História de Portugal. A primeira data é a de 1096, no ano em que
o Condado Portucalense é reconhecido como uma entidade política, englobando assim as duas
unidades existentes dos condados de Portucale e de Coimbra. Neste ano, verificaram-se
alterações demográficas, que levaram o desbravamento de algumas terras, aproveitando-os
para a agricultura, de forma a obter novos recursos para alimentar a população. A ocupação
destes espaços impunha um novo ordenamento territorial, criando instâncias nos
relacionamentos entre as comunidades, como a multiplicação de paróquias rurais. À ocupação
do solo segue-se a organização civil e religiosa. Até esta altura, as cartas de couto eram raras,
mas o seu aparecimento beneficiou as ordens eclesiásticas. A senhorialização já estava
instituída, mas o poder monárquico reconhece-a e tenta aproveitá-la na sua esfera de
influência. No ponto de vista social, foi no final do século XI que a influência francesa se
intensificou em Leão e Castela, apoiada pela corte régia e pela Igreja, com a adoção da
liturgia romana, abandonando a moçárabe, o que provocou algumas resistências.
Militarmente, após a apropriação das regiões muçulmanas avançou a fronteira cristã até
Coimbra, e mais tarde até Toledo, o que despertou uma reação dos almorávidas de Marrocos.
Estas etapas foram importantes para a definição do estado.
- Primeiro período, de 1096 e 1131: dá-se a criação da instância política que reúne os antigos
condados de Portucale e Coimbra, criando assim uma estável relação com a aristocracia
senhorial e com as comunidades concelhias, consolidando os poderes senhoriais, nos quais a
guerra adquire um cariz de defesa contra os almorávidas. O Condado Portucalense começa a
organizar-se em torno de uma figura semelhante à do rei.
- Entre 1131-1190, dá-se o segundo período: Afonso Henriques estabelece-se em Coimbra,
iniciando uma investida contra o Islão, com sucesso militar dos seus exércitos e a ampliação
dos territórios, o que permitiu o fortalecimento dos concelhos, que acabam por se tornar em
locais institucionalizados. O papel do príncipe neste processo de legitimação é fundamental,
pelas suas façanhas militares, adotando o título de rei em 1139 exprimindo a sua autoridade,
apesar de até ao final do século ser considerado um primus inter pares. A partir de 1157, o
país acentua a guerra externa, e em 1169 começa a perder terreno, culminando com a perda
dos territórios ao sul do Tejo em 1190, com a exceção Évora.
- 1190-1250: em 1190 inicia-se um ciclo de maus anos agrícolas que perturbou o país,
provocando revoltas e conflitos sociais, procedendo de uma tentativa de centralização dirigida
por Afonso II, apoiado por legistas, mas muito dos concelhos tiveram uma atitude diferente.
Em 1123 Afonso II morre, quebrando o poder dos ideais centralizadoras, mas as contradições
na nobreza aumentam de tom. O Alentejo e grande parte do Algarve são conquistados,
verificando assim um período de estabilidade entre 1217 e 1249. Além das lutas entre fações
nobres e alguns centralizadores, a fraqueza do rei mantém-se na sua impotência para travar o
avanço da vaga senhorial, no Norte, em Trás-os-Montes e na Beira Alta, onde nestes dois
locais existiam comunidades rurais autónomas. A anarquia social cresce, com uma coligação
entre nobres e clérigos, que pedem a intervenção do papa para destituir Sancho II.

Portugal, Uma Retrospetiva- 1179, de Maria Filomena Coelho (págs. 11-33)


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