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DICIONÁRIO

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SAC 0800-123401 TEMÁTICO DO OCIDENTE

D546
Ficha Catalográfica elaborada pela EDUSC

Dicionário Temático do Ocidente Medieval I coordenação Jacques I..e Goff


1 e Jean-Claude Schmitt; coordenador da tradução Hilário Franco Júriior.
Bauru, SP: EDUSC ; São Paulo, SP: Imprensa Oficial do Estado, 2002.
.'2v.; 23cm
MEDI,EVAL
v· ·o L u M E I

ISBN 85-7460-147-0 (v. 1) (EDUSC)


ISBN 85-7460-148-9 (v. 2) (EDUSC) ..
ISBN 85-7060-022-4 (v. 1) (Imprensa Oficial do Estado)
ISBN 85-7060-023-2 (v. 2) (Imprensa Oficial do Estado)
Inclui bibliografia.

ScH:~ITT
Tradução de: Dictionnaire raisonné de l'Occident médiéval
]ACQUES LE GoFF & ]EAN-CLAUDE
1. Idade Média - Dicionários. I. Le Goff, Jacques. IL Schmitt,
Jean-Claude. III. Título.

CDD. 940.1403

coordenador da ttadução
ISBN 2-213-60264-6 (original)
HILÁRIO FRANCO JúNIOR

"DICI10NNAIRE RAISONNÉ DE LOCCIDENT MÉDIÉVAL"


de Jacques LE GOFF e Jean-Claude SCHMITT
World copyright © Librairie Artheme Fayard 1999
Copyright ©(tradução) EDUSC, 2002

IMPRENSA O FinAL SP
IMPÉRIO

A noção de Império é complexa e_ convém definir os diferentes sentidos e


rl.mostrar as diversas concepções, a dos alemães e a dos outros povos.
Existiram na história numerosos impérios. Aqui, trata-se somente do
Império Romano e do Império Germânico da Idade Média. Uma primeiro la-
cuna existe entre as fontes medievais e os historiadores modernos: a palavra la-
tina imperium tem, como "império", simultaneamente, o sentido de poder e
de território sobre o qual esse poder se exerce. Mas a ela se acrescenta, na Ida-
de Média, a idéia de poder universal, disputado entre imperadores e papas e
definido regularmente pelos teóricos, clérigos ou leigos, de forma diferente se-
gundo o contexto político em que viviam.
Esse império teve uma história própria, freqüentemente confundida
com a dos países germânicos, pois os reis designados pelos príncipes alemães
do século X ao século XIII foram titulares do Império. Entre as pessoas co-
muns e os historiadores da Idade Média, foi habitual chamar de império ter-
ritórios governados pelo imperador de origem alemã e considerados como
equivalentes a um reino. Por "oposição entre Sacerdócio e Império" entende-
se o conflito entre o podersacetdotal, representado pelo papa, e o poder tem-
poral, representado pelo imperador. Por "França e Império", entende-se de
um lado o reino dos francos, depois dos franceses, de outro o Estado germâ-
nico ou alemão. Ora, mesmo se a distinção era difícil de se fazer na Idade Mé-
dia, deve ser considerada aqui, para evitar lamentáveis confusões, bem conio
se deve admitir que a "idéia que se faz do Império e do papel do imperador foi
muito diferente para um francês, um italiano ou um alemão.
A idéia de império permaneceu viva em todo o Ocidente ao longo da Ida-
de Média, o título de imperador foi cobiçado, mas o território do exercício do
seu poder não estava claramente definido. Uma discordância incontestável ma- ·
nifesta-se entre, de uma parte, a idéia que os teóricos, os cronistas universais e
e
os teólogos faziam do poder, de outra parte a realidade verificada através da
transmissão do título, as discussões eleitorais, o real exercício do poder imperial.
O Império Romano de Augusto e de Constantino não morreu definiti-
vamente com a deposição de Rômulo Augústulo, em 476, pelo chefe bárbaro
Odoacro. De início, sobreviveu na parte oriental, que se chamou Império

ORlG\NA\..
Ç~4·r:
Dicionário Temático do Ocidente Medieval Império

Bizantino (do nome de sua capital, Bizâncio ou Constantinopla); depois foi hesitou em assegurar a sobrevivência do novo império, fazendo cor~ar seu fi-
recriado, no ano 800, em benefício de Carlos Magno e sobreviveu no Ociden- lho Luís, em 813, enquanto vivia, e sem a intervenção do soberano pontífice.
te até 1806, enquanto o do Oriente desaparecia em 1453. Desde esse período, distingue-se novamente o Império oriental do Império
ocidental. Recriava-se a situação do Baixo Império Romano.
O IMPÉRIO RoMANO NA ÉPOCA CAROLÍNGIA Luís, o Piedoso, mostrou-se mais decidido, tomando o título simples e
expressivo de "imperador augusto" e recebendo a unção po-ntifícia das mãos
A data de 25 de .dezembro de 800 permaneceu na memória de todos do papa Estevão IV, em 816, em Reims. Um ano mais tarde, pela ordinatio
como a do renasCimento do Império Romano com a coroação do rei franco imperii, Luís apresentou sua concepção de Império: um único de seus descen-
Carlos Magno pelo papa Leão III, na igreja de São Pedro, em Roma. Esse dentes poderia sucedê-lo e usar o título imperial, os outros reis francos eram-
acontecimento, embora preparado nos espíritos, parece ter surpreendido al- lhe subordinados; o papa devia ainda coroar o eleito, que foi Lotário, seu fi-
guns no momerito de sua efetivaçã~. Carlos Magno era o único rei dos fran- lho primogênito. Nessa época, o reino fra~co ainda era único e confundia-se
cos e seu poder estendia-se a grande parte da Eúropa, da Frísia ao norte da Es- o
com o Império; que Luí~ instituía era a noção nova de um imperador rei-
panha, do Atlântico à Turíngia. Excetuadas as Ilhas Britânicas, alongava-se nando acima dos reis, separando assim o imperium dos regna que lhe eram
pelo interior do limes (fronteira) do Baixo Império. Vencedor dos lombardos, submissos. A situação degradou-se lentamente. Com a morte de Luís, o Pie-
cuja coroa de ferro usa, Carlos Magno recebeu o título de "patrício dos roma- doso (840), seu suç;essor ao"título imperial, Lotário I, reinou em Roma e em
nos" e apresenta-se como protetor da Igreja cristã e do papado. Aix-la-Chapelle, mas não sobre as terras atribuídas aos seus irmãos Luís, o
A idéia de l?romover o renascimento do império desaparecid<;> propagou- Germânico, e Carlos, o Calvo. A ficção da unidade imperial mantinha-se, en-
se no reino franco, em Roma e em Aix-la-Chapelle, no meio curial impregna- tretanto, graças aos freqüentes encontros dos reis irmãos.
do de noções antigas. Entre 750 e 760, um falsário criativo compôs um docu- Lotário deixou também a coroa imperial a seu filho primogênito, Luís,
mento chamado Doação de Constantino, oride relatava as condições em que que não dispunha senão da Itália e não teve descendentes. O papel do papa-
se teria operado entre o imperador e o papa Silvestre I uma divisão do mundo do tornou-se, então, decisivo. João VIII (872-882) declarou que os reinos es-
e do poder sobre o mundo: ao soldado, o ·poder temporal, ao sacerdote, o po- tavam submetid~s ·ao Império e que este era concedido pela lgrej~, o que efe-
der espiritual. Esse texto preparou os acontecimentos que se seguiram e deu a tivamente ocorreu quando entregou a coroa imperial ao mais poderoso ou ao
eles, antecipadamente, um aspecto· particular. Carlos Magno encontrava-se em que mais ofereceu: .Cados, o Calvo, rei da Francia Ocidental,- por dois anos
e
Roma, a pedido do papa Leão liI,. recebeu deste a coroa que fazia dele o hovo (875-877), depois Carlos, o Gordo, rei da Francia Oriental (879-888). Este
imperador. Tal gesto, inteiramente novo,_ parecia reproduzir o de Silvestre co- teve a oportunidade de pela última vez reunir sob_sua autoridade única os rei-
roando Constantino. Na realidade, criava uma prática; a entrega da coroa im- . nos Aancos, reconsdtuind~, assim, o Império de seu a~ô Luís, o Piedoso. Após
perial por parte do papa ao príncipe eleito pa~a r~inar no mundo terrestre. sua morte, em 8.88; o Império Romano dos carolíngios, moribundo, transmi-
O círculo de Carlos Magno elaborou uma fórmula para lhe dar um títu- tiu-se como um título já vazio de poder efetivo, na Germân'ia a'Arnoldo, de-
lo e ele se ajustou a uma titulatura explícita e prudente: Carlos, serenfssímo au- pois na Itália a Lamberto de Spoleto (morto em 898), Luís da Provença (901)
gusto, coroado por Deus, grande e pacifico imperador, governante do Império Ro- e Berehgário do Friuli (915-924).
mano, igualmente pela misericórdia de Deus, rei dos frarú:ds e dos Iom bardos. Car- O "Império Ca~olíngi~" não havia durado um séc~lo, mas tev.e o gran-
los Magno foi primeiramente rei dos francos, não dos romanos.· Entretanto, de mérito de fazer renascer na terra uma instituição· sempre presente nos espí'-
ele sentia encarnar uma: idéia nova e exigia de todos um juramento de fideli- ritos. A ascensão do rei dos francos ao Império não era estranha, ela reprodu-
dade à causa que representava. Não ignorava a existência do imperador bizan- zia outros acontecimentos de generais bárbaros vencedores, que também ti-
tino, cujas ambições eram universais. A intervenção pontifícia fazia do rei dos nham vindo à frente de suas tropas tomar o título em Roma. Esse renascimen-
francos um imperador cristão e dava-lhe uma autoridade suplementar. Ele não to respondia a uma necessidade de que se ressentiam os pensadores e os his-

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Dicionário Temático do Ocidente Medieval Império

toriadores. A Igreja cristã tinha necessidade dele porque desde Constantino imperator augustus, que se enraizava mais na tradição reverenciada e igualava
identificava-se com o Império, e só podia ganhar em prestígio se um impera- 0 imperador do Ocidente ao basileus Romaion de Constantinopla.
dor a assistisse e a amparasse. Como foi o papa o impulsionador do movimen- Foi de Oro III que o Império recebeu o maior impulso. O filho de Oto
to, a Igreja conheceu um acréscimo de poder, que iria obstinadamente defen- II e Te6fano havia recebido rara e primorosa formação, que compreendia o
der enquanto pudesse. Ela desejava reconstituir o Império cristão universal, grego e alimentava-se de diversas ideologias. Se Bernward, o futuro bispo de
que lhe permitiria fazer frente à Igreja do Oriente. A estréia de Carlos Magno Hildesheim, havia-lhe inculcado princípios saxônicos, João Philagathos o ti-
no poder imperial não tinha sido a intervenção na querela das imagens que nha iniciado na história dos impérios antigos e no papel desempenhado por
ensangüentava Constantinopla? Não havia ele mandado compor os livros que Roma. Aos 16 anos, Oto III escolheu o dia da Ascensão, 21 de maio de 996,
ditavam a doutrina aos fiéis de Roma? para ser coroado imperador pelo seu primo Bruno de Caríntia, que ele tinha
feito papa alguns dias antes, sob o nome. de Gregório V. Roma devia tornar-
O IMPÉRio RoMANo GERMÂNico se o centro do mundo, do Império universal, da Cristandade, com a aliança
do trono e do altar. Renovatio imperii Romanorum, a intenção era claramente
A coroação imperial do rei Oto I (que se dizia apenas imperador, sem de-
anunciada, tudo o comprovava: o traje do imperador, o globo na sua mão, a
terminante), a 2 de fevereiro de 962 pelo papa João XII seguia a mesma linha
bula que pendurava nos seus diplomas com a representação de Roma, aurea
de Carlos Magno. A Francia oriental foi anexada em 925 à Lotaríngia, ainda
Roma. A ideologia foi levada ainda mais longe com a ascensão de Gerberto de
chamada Gallia ou Francia. O soberano havia conquistado a coroa de ferro dos
Aurillac, Silvestre Il, ao trono de São Pedro. Constantino e Silvestre I, Oto III
1om bardos, em 952, depois se impôs em Lechfeld frente aos húngaros, em 955, e Silvestre II. O imperador não estava enganado e conhecia a falsidade da
como Carlos diante dos saxões. Desde então, na corte real, o título imperial es-
"Doação de Constantino". Não havia necessidade de apoiar-se em tal texto,
tava em todas as bocas e esperava-se sua concretização em Roma. Oto foi na- :iJ
ele fundava uni novo Império, ele que se dizia também "servidor de Jesus Cris-
turalmente conduzido para lá. O papa também continuava a desempenhar pa-
to", como seu compadre era "servo dos servos de Deus". Nenhum rei estava
pel decisivo. A 12 de fevereiro, João XII enfatizava o papel da Igreja romana
em condições de rivalizar com ele, ainda. menos Hugo Capeto. · O to '•podia pe-
que esperava grandes serviços daquele a quem havia distinguido. A coroação
reg~inar até Gniezno, criar metrópoles, dar o título real aos príncipes da Po-
realizada em Roma tinha valor constitutivo, o governo da Itália e a ocupação
lônia e da Hungria. Ele era o imperador cristão por excelência.
da Cidade Eterna estavam indissoluvelmente ligados ao rítulo imperial. O Im-
O sonho de Oto III foi cl~ramente rompido com sua morte prematura.
pério guardou, entretanto, seti caráter universal, mas des.sà. vez, se a idéia e o tí-
O lugar da Itália no Império tomou desde então um destino pouco brilhante.
tulo estavam ainda presentes, era outro o espaço: o Império Otônida estendia-
Esse reino estava doravante e por muito tempo indissoluvelmente ligado aos
se apenas sobre as terr~s alemãs e lotax:íngiase o norte da Itália. Não tinha mais
ducados germânicos; porque era a chave de Roma e do título imperial. Desde ·
o reino franco, separação com a "Francia. ocidental" que iria continuar no fu-
então, os candidatos ao Império deviam se sacrificar e ir à Itália, fato absoluta-
turo. A França encontrava-se definitivamente ·excluída. A noção de império
mente necessário para que sua autoridade ao sul dos Alpes não fosse apenas
também era retomada em outras regiões do Ocidente, mas de maneira efême-
.simbólica. O título imperial mudavà de dinastia segundo a vontade dos prín-
ra, pelo reino de Leão, na Espanha, e por Aethelstan nas Ilhàs Britânicas.
cipes alemães eleitores. Com a morte deHenrique II (1 024). a coroa voltou aos ·
Como em 800, alguns contemporâneos do imperador ficaram perplexos
Sálios; em Kamba, a designação do arcebispo de Mogúncia favoreceu Conra-
e não admitiam limitar o papel do soldado diante do sacerdote. Oto olhava
do, cujo filho; Henrique (III), foi o primeiro a usar o título de "rei dos roma-
de soslaio para Bizâncio e sonhava unir seu filho e herdeiro a uma princesa bi-
nos", prelúdio necessário ao de '~ugusto". De pai para em filho, em 1046,
zantina. Oto II, que recebeu a coroa imperial em 25 de fevereiro de 967, co-
1084, 1111, ele foi retomado por Henrique III, Henrique IV e Henrique V.
imperador de seu pai, casou-se com uma parente d~João Tzimiskes, Teófano.
O reinado de Oto III deu considerável impulso à idéia de Império e inú-
Ele inovou, tomando a partir de 976 o título mais completo de Romanorum
meros sinais manifestavam seu singular desenvolvimento. Assim, por exem-

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Dicionário Temático do Ocidente Medieval Império

pio, em torno de I 030 foi composto em Roma um "Livro de cerimônias na rompeu entre Henrique IV e ele, a partir de janeiro de 1076, lançou uma ex-
corte imperial" muito singular porque o Império jamais teve capital fixa nem comunhão cuja conseqüência prática devia ser a deposição do soberano, caso
corte organizada além daquela que cercava o rei alemão. Fundamentando-se não se submetesse. Gregório VII teve part~ na progressiva fusão que se operou
em tradições da Doação de Constantino acima evocada, o autor do tratado faz entre imperium e regnum, entre Império e reino (alemão): ele designou Hen-
minuciosa descrição dos ritos imperiais, da pompa semelhante à do basileus rique IV como rex Teutonicorum, desejando reduzir o rei a uma dimensão ger-
bizantino (túnica, manto, cetro, cabelo, penteado). Um ardo da consagração mânica, o que era novo e ia contra o habitual título romano. Essa limitação
imperial havia sido elaborado desde o início do século X, foi retomado nq XII geográfica à Alemanha consumava a ruptura com a França e ao mesmo tem-
(chamada Cencius, do nome do cardeal que conservou o texto). A sagração aí po aprofundava a ligação do Império com o reino "teutônico".
descrita demons,tra a analogia da cerimônia com a que consagrava os pontífi- Apesar do que se diz, Henrique IV foi o vencido de Canossa e o Impé-
ces cristãos: unção, como a do batismo, consagração por três prelados. Depois rio perdeu muito com ele. Ele tinha, contudo, ganho terreno, se se julga pelo
a entrega de uma cótoa simbólica, formada de um diadema de oito plaquetas fato de que podia s.ervir de referência fora de seus Estados: em 1066, um ato·
de ouro, para quem se designava "príncipe cristianíssimo", e objetos igual- autêntico de Guilh~rme, duque da Normandia, fundador da abadia da Trin-
mente simbólicos: o gládio, o cetro, a vara e o anel (os dois últimos desapare- dade de Caen, citava-o: "Filipe, rei felizmente reinante na França, Henrique,
ceram depois da querela das investiduras). A fixação germânica em Roma foi que governa o país romano por direito imperial, o piedosíssimo papa Alexan-
consagrada pela manutenção do uso da bula com a aurea Roma; com o desen- dre, ocupante da cátedra da Sé Apostólica''. Essa menção mostra que o nome
volvimento da expressão Imperium Romanorum e com a adoção do título de daquele a quem estava prometido o Império era conhecido fora da Germânia
"rei dos romanos", que exprime bem o .que Wipo, biógrafo de Conrado 11, in- não como soberano dos ducados alemães, mas como rei dos romanos. Sabia-
terpretou quando via no eleito dos príncipes alemães um "futuro César". se, contudo, na França e em toda a parte, que o Império era universal, mes-
Acrescentemos que a noção de espaço imperial enriqueceu-se com a anexação mo se o imperador alemão reinava sobre um espaço limitado. A idéia geral de
do reino da Borgonha (1 032) aos dois outros, da Germânia e da Itália, for- império mantinha, portanto, sua força. Mas a Igreja apossava-se dela cada vez
mando a Tríade. Tem-se, então, o sentimento de uma progressão knta e segu- mais com energia, insistindo em seu aspecto católico e romano. Desde o rei-
ra da noção. de Império, de· sua confusão com os reinos do rei germânico, ·de nado de Leão IX (I049-l054), o cardealloreno Humberto, iniinigo mortal
sua ligação mais estreita com os ritu~is de consagração, do controle que ele dos simoníacos e que participou do decreto de Nicolau 11 que instituiu a elei-
exercia sobre o papado c;: sobre Roma. ção do papá pelos cardeais (1 059), referia-se ao império universal de Leão I ·
o período seguinte devia transtornar muitos desses ~ados, na aparência . (cuj~ le~brança tinha sido.reavivadapela escolha do nome d~Leão IX) e não
solidamente estabelecidos, e pôr novamente em questão as vantagens obtidas, . concebia império que não fosse o da Igreja de Roma, cuja cabeça era a Sé
. se se tem em mente a expressão "querela do Sacerdócio e do ,Império", mais Apostólica. Para completar esse açambarcamento, a cúria pontifícia, em vias
exata para essa região do· que "querela das lnv~stiduras", cons~grada pelo uso. de constituição, tomou o lugar da inexistente cúria i~perial e o uso das insíg-
Como o período sálio (I 024-1125) foi determinante para a: idéia imperial, o nias imperiais foi reivindicada por Gregório VII (um gorro branco simboliza
afrontamento com o Sacerdócio, representado pelo papado, 'foi de grande in- o regnum e anuncia a mitra, já usada por Leão IX e destinada a tornar-se a trí-
tensidade. Henrique III, como anteriormente Oto III, tinha ido a Roma im- plice tiara: o papa tornava~se um senhor temporal). "O ornato dO Império é·.
por seu papa; Clemente 11, que o fez imperador no dia seguinte ao de sua en- fixado pelo papado" (R. Folz). Mais: Gregório V11 considerava que o poder
tronização, 25 de dezembro de 1046. O rei é que tinha feito o papa,.mas um espiritual de um leigo {o imperador) não podia exceder o de um clérigo exor-
rei que era um imperador em embrião. A Igreja não podia admitir por muito cist~ (um nível das ordens menores); o imperador perdia na nova unção da co-
tempo mais tal situação. Com Gregório V11, o combate foi violento. Nos Dic- roação tudo o que podia assemelhar-se à unção episcopal. E para a sagração,
tatus papae, o papa declarava que faria o imperador a seu modo, e também que abandonou-se o santo óleo dos prelados pelo óleo bento dos simples catecú-
dispunha de meios para destituir reis, se o desejasse, já que no' conflito que ir- menos. O recuo era considerável.

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Diciondrio Temdtico do Ocidente Medieval Império

O Sacerdócio e o Império defrontavam-se, então, para saber quem devia o que não é corretamente traduzido pela expressão francesa "Sacro Império".
dominar, quem era o verdadeiro senhor do mundo, quem fazia o outro. Desde Da mesma maneira, o adjetivo "romano" reproduzia mal a fórmula "dos ro-
Oro I, e sobretudo Oro 111, o vento tinha virado, e Henrique IV não teve meios manos", distinção que não é inútil, como se vê na utilização da expressão "rei
de prevalecer. Suas vitórias militares não tiveram futuro. Foi um papa não reco- alemão", que não é a mesma coisa que "rei dos alemães", que nunca existiu.
nhecido por rodos, Clemente III, quem o fez imperador em 1084. Henrique V, A 29 de dezembro de 1165, a canonização de Carlos Magno atestava a
que ganhou o poder contra seu pai, também obteve a coroa imperial em condi- continuidade do poder imperial desde o grande imperador franco até seu re-
ções de desordem política, lutando passo a passo contra Pascoal 11, fazendo co~- moto· sucessor do século XII. Convém lembrar a sucessão genealógicà em li-
cessões rapidamente retomadas. Não se tratava tanto da questão de domínio do nha direta do imperador de Aix até Frederico. Era também o momento em
mundo, mas de controle das investidura dos bispos. O .grandioso enfrentamen- que o direito antigo recobrava seu vigor, inspirava os reis do Ocidente: os mes-
to de Canossa teve por continuação as deploráveis negociações de W 0 rms tres de Bolonha estavam lá para ajudar o imperador a definir seus .direitos,
(1122), quando se separaram clarament~ o imperiu",n e o regnum teutonicum. como estiveram sob Justiniano e Teodósio. O imperador recebia seu poder de
Deus, certamente, mas pela eleição dos príncipes: a sagração pontifícia ratifi-
o IMPÉRIO DOS STAUFEN cava uma escolha que escapava ao papa. Por volta do ano 1200, instalaram-se
os primeiros elementos de um colégio eleitoral germânico, de onde saiu mais
Com Frederico I Barba-Ruiva e Frederico II, o Império Romano Germâ- tarde o grupo dos sete grandes eleitores, um colégio cujo papel era especifica-
nico conheceu novos momentos de glória. Entretanto, desde sua ascensão, o mente o de designar o imperador.
papa cisterciense Eugênio III chamou à ordem Frederico I, porque o eleito, O filho e sucessor de Frederico I, Henrique VI, acrescentou aos três rei-
que se dizia rei dos romanos, deveria ter solicitado sua confirmação a Roma. nos (a Tríade) o da Sicília, que lhe abria o acesso ao Mediterrâneo romano. Ele
O Staufen não estava decidido a dobrar-se. Sua concepção era a de um impé- não podia obter novas vantagens e desapareceu (setembro de 1197) pouco tem-
rio independente, ligado à realeza que tinha recebido diretamente de Deus po antes da ascensão ao trono pontifício daquele que melhor iria estabelecer
por intermédio dos príncipes, sem recurso ao papado. Indo àitália, em 1155, em base cristã e romana a idéia de Império, Inocêncio III (janeiro de 1198).
para aí receber a coroação (o que teve :Iuitr a 18 de junho, u~ sábado co- Cabe ao papa designar quem seria o iniperador legítimo, rendo os príncipes
mum), pretendia submeter a cidade à sua autoridade. Dois anos mais tarde, o alemães eleito sucessivamente Filipe da Suábia e Oto de Brunswick. Após lon-
imperador, coroado "rei da. Borgo~ha'', reuniu a Dieta e.m Besa.nçon. Um erro· gas hesitações, te~do optado por Oro IV, reagiu diante das ambições italianas
de tradução, sem dúvida provocado pelo chanceler Reinaldo de Dassel, ·sobre desse último, colocando em primeiro plano Frederico de Hohenstaufen, filho
o sentido de "benefícios" concedidos pelo papa ao imperador, provocou ten- de Henrique VI. A eleição podia ser a expressão da vontade dos prín,cípes, mas
são com Roma e conduziu ao cisma de 1159: o cârdeal Bandinelli, que esta-:· apenas ao papa competia a decisão de coroar ou rião o imperador. A opçãofei-
va em Besançon, tornou-se papa com o nome de Alexandre III, a ele o impe- ta por Inocêncio III foi confirmada por seus sucessores, Gregório IX e Inocên-
rador opôs Víror IV. Esses cisma da Igreja do OCidente era a conseqüência do cio IV. A idéia que prevalecia então era a de que o Império havia sido delega-
confronto violento sobre os respectivos papéis do Sacerdó~io e do Império. As do a Carlos Magno, mas que o papa era seu verdadeiro depositário. Este entre-
teorias; defendo um e outro, refinavam-se. Barba~ Ruiva tinha à sua disposiÇão gav:;t, por conseguinte, ao leigo a espada temporal a serviço do mundo cristão,
espedalmente a teoria de seu tio Oto de ~r~ising, autor de uma profunda re~ Sustentado pelo direito romano, o papado ·adotava o cerimonial imperial, pre~
flexão sobre as '.'duas cidades", Para esse autor, que olhando a história univer- tendia, sozinho, a dominação universal. Os dois gládios estavam em suas mãos.
sal vê nos francos o· povo eleito para continuar o Império Romano, a direção As fortes teorias do tempo de Frederico I estavam arruinadas, eliminadas
deste está confiada ao soberano franco-germânico, que é igual ao soberano As vantagens do papado eram tais, que as opções de Frederico 11 ti-
pontífice como representante de Cristo e chefe da Igreja. Desde 1157 foi usa- nham pouca probabilidade de êxito. O destino excepcional desse soberano
da a expressão sacrum imperium, que enfatizava o caráter sagrado do Império, foi o último sobressalto do Império, e os meados do século XIII marcam o

ORI~;~~L
Dicionário Temático do Ocidente Medieval Império

fim de uma época. No plano espacial, o "rei dos romanos" havia ganho ter- O SAcRo IMPÉRIO RoMANO GERMÂNICO NA BAIXA IDADE MÉDIA
reno. Aos reinos de seus predecessores, aumentados da Sicília, que era seu
berço, ele soube anexar a coroa de Jerusalém e alimentou um sonho medi- O interregno (1250-1273) foi ainda mais nefasto ao destino do Império
terrâneo, realizável visto que o império de Constantinopla estava nas mãos temporal. O teórico da cúria, Tolomeu de Luca, fazia do papa o senhor do
dos venezianos e de uma dinastia ocidental. O "espaço imperial" era, em mundo e o lugar-tenente de Cristo. A deposição de Frederico II de seu título
suma, mais verossímil que no tempo de Carlos Magno. Mas no plano teó- imperial abriu caminho a eleições que lançam sobre o trono personagens es-
rico sofria co.m o recuo recente de seus predecessores. Cerca de 1220-1230, colhidos fora da dinastia reinante, inicialmente Guilherme da Holanda, de~
os canonistas confirmaram que o gládio temp~ral era entregue pelo papa e pois dois estrangeiros, Ricardo da Cornualha e Monso de Castela. Compreen-
que esse último era o verdadeiro imperador. Frederico foi coroado em 22 de de-se, desde então, que esses últimos candidatos não podiam em nenhum caso
novembro de 1220, mas as tergiversações já começavam a respeito de sua ser tidos como soberanos reinantes na Alemanha; podiam tomar o título de
participação na cruzada de reconquista ·da Terra Santa, e foi um imperador "rei dos romanos" ·e esperar a coroa em Roma. A ruptura com o regnum teu-
excomungado que tomou junto ao Santo Sepulcro a coroa de Jerusalém. tonicum ao qual fora. assimilado o Império tornava-se total. No entanto ela
Herdeiro distante de Oto III, Frederico li não se sentia alemão e abando- não dura e cabe ao papa Gregório X apoiar a eleição de Rodolfo de Habsbur-
nou aos príncipes eclesiásticos e laicos da Germânia privilégios consideráveis go, em 1273. Nem esse último nem seu sucessor foram, entretanto, coroados
que destruíram definitivamente a possibilidade de dar origem a um verda- em Roma. Em compensação, Henrique VII, da família de Luxemburgo, de-
deiro reino alemão. Uma vez mais, ressentia-se a anomalia que representava sejoso de retomar a tradição foi à Itália, onde encontrou a morte.
a confusão entre o eleito dos príncipes alemães e o imperador. O IJ:Upério A primeira metade do século XIV é marcada por um fato novo.- o de-
era cada vez mais uma noção vazia e cada vez menos um governo. A idéia de senvolvimento do patriotismo alemão. A noção de um "reino alemão" nasceu
um império universal, no sentido temporal do termo, era fortemente con- tarde, no final do século X, mas, como se viu, jamais houve rei que usasse o
tra-atacada pela existência de um reino como' o de Filipe Augusto e de São título de "rei dos alemães". Efetivamente, eles se reconheciam no imperador.
Luís. Fazia um bom tempo que a França balbuciante de Hugo Capeto tinha Alexandre de Roes, aritigo cônego de Colônia, fez-se apologista de um impé-
se tornado um reino coerente e bem governado. A preeminência do impe- I rio alemão: regnum (Reich alemão, entenda-se o p~der real) e imperi~m con-
rador sobre os reis não existia mais e admitia-se, no início do século XIII, .fundem-se. I~perium e sacerdotium são iguais; a história imperial é cada vez
que "o·rei era imperador em seu reino~'. . . mais confundida com a da Alemanha. Governar o J.mpério é um dever para
Durante· essa época, entretanto, os teóricos, aqueles ·que escreviam his- os alemães, que se acreditavam sucessores diretos dos francos, .assim como se
tórias universais, continuavam a considerar o Império com os olhos da tra- fazia de Carlos Magno um imperador alemão, e dos alemães irmãos dos ro-
dição~ Os ensinamentos que nos trazem o Speculum hístoriale, de Vicente de mà!J.OS. Do mesmq rnodo que outrora se tinha visto nos francos urp povo dei- .
Beauvais, próximo de São Luís, são significativos a e~se respeito. Como Oto to para governar o Iinpério, assim faziam também os alemães.
de Freising no século precedente, ele relata a su.cessão de impérios desde a Durante o reinado de Luís IV da Baviera (1314-1347), as teorias impe-
. origem do mundo. Sucessivas translações fizeram o poder supremo passar ríais foram as de Marcílio de Pádua (Defemor pacis) e de Guilherme de Oc-
dos hebreus aos gregos, aos· romanos, depois aos francos; Quando escreveu; kham, o primeiro conferindo· um papel ao povo, o segundo mantendo o' cará-
em 1244, ele sabia, por.exemplo, que·se estava "no trigésimo terceiro anodo . ter romano do Império. Apartir'de 1338, os príncipes eleitores agiram sem au-
.império de Frederico" (II) e, em 1250, nota que "o império romano está va- torização pontifícia. Depuseram o imperador, elegeram Carlos de Luxembur-
. cante". O império universal permanece uma referência obrigatória. É nor- go e da Boêmia. Este, publicando a Bula de Ouro, em Metz .,.. escolha simbó-
mal que a atitude dos clérigos e dos monges historiadores não seja a da cor- lica da Lotaríngia- em 1356, criou raízes para a evolução recente do Império:
te do rei da França. sete príncipes alemães são os senhores da escolha do imperador. Na Tríade an-
tiga, o reino alemão tinha a prioridade e constituía a força dirigente.

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Dicionário Temático do Ocidente MedievaL Império

O Império existia, mas que força tinha ele? Cada imperador não possuía fusão de imperium com regnum depois com regnum teutonicum, riscar da his-
realmente senão seus bens patrimoniais. Em geral, devia dispor do que tradicio- tória a noção de Império, à qual os alemães permaneceram muito ligados mes-
nalmente na Alemanha formava o fisco, o que os historiadores chamam os mo bem depois do grande interregno. Mesmo se Frederico III (1442-1493) é
Reichsgüter, os bens da Coroa, cidades, abadias, direitos. De fato, todos esses um imperador sem grandes poderes, não o é menos que Carlos, o Temerário,
bens já eram ou iriam ser empenhados sem esperança de recuperação, e o prín- duque da Barganha, que espera a elevação de seus Estados em reino. A sim-
cipe foi assim pouco a pouco despojado de todo recurso de origem pública. Car- ples recusa de Frederico destruiu as ambições do borgonhês.
los IV foi o grande responsável pela "liquidação" dos bens imperiais e precisou Com Maximiliano alcança-se novas etapas, a da administração institu-
pagar muito para ganhar outras eleições. O imperador não tinha verdadeira- cional do Império, a ligação entre este e a casa da Áustria. Em Worms, em
mente poder, não tinha exército, não tinha residência oficial. Mas aos olhos do 1495, Maximiliano consagrou o "dualismo", a separação entre o imperador e
povo alemão ele existia, e devia mesmo "imperativamente" existir. A eleição era o reino, e a socied::ide alemã. Na Dieta, as forças políticas agiam sem ou con-
seguida com paixão e o dia da coroação era festejada por tod~ a parte porque tra o rei. O imperador não tem mais nenhuma política territorial. Totalmen-
marcava o retorno à ordem normal do mundo. Não há mundo sem imperador. te privado de recursos, solicita a cobrança geral do gemeiner Pfennig (o dízimo
Ademais, no início do século XIV - a primeira menção é de 1409 mas a confir- geral) para i:er meios de constituir a Câm~ra de justiça imperial, o Reichskam-
maÇão somente de 1474 - a expressão "Império Sagrado dos Romanos", ou mergericht, como cria também a Câmara imperial, o Reichstag(que sucede ao
mais comumente "Sacro Império Romano" completa-se com a expressão "da Hoftag, a Dieta do Império substitui a antiga cúria real). Em 1519, o mesmo
nação germânica'', também mal rraduzida em francês pelo único 'adjetivo "ger- príncipe desenvolve ainda um programa imperial. Ele encontra-se nas véspe-
mânico". Desde então e somente então a expressão está "Completa: "Sacro Impé- ras de um período crucial, em que o imperador deve intervir no destino da
rio Romano Germânico", em latim sacrum imperium ·romanum germanicum, em Igreja, sustentando ou condenando novas teorias de reformadores protestan-
alemão, Heiliges Romisches Reich deutscher Nation. É anacronismo empregá-la tes. Impotente, o imperador não estava morto.
para um período anterior, anacronismq que desconhece a _lenta evolução que Anexa~do o Império, Oto I, sólido rei eleito dos ducados germânicos, ha-
acaba de ser relatada. Em relação a Roma, a distân~i~ aumenta. O rei dos roma- via tocado os sinos da agonia· de ufn' fut~ro Estado (alemão), tal como pô<;l.e ·
nos, que logo se dh imperador eleito, i-~tatda a viagem para a coroação na cida- · constituir ao seu lado o si.mples rei dos francos. Os soberanos, que ja'inais foram
de santa e um belo dia deixa de fazê-la para transferir os ritos para a cidade de chamados de rei dos alemães, perderam além disso grande parte de sua energia
Carlos Magno, Aix-la-Chapelle, no próprio rein<? alemão. nas descidas militares à ltáliae nos conflitos com o papíldo. O Império Roma-
A participação dos príncipes eleitores aumenta sem parar. As negociações no de vocação universal reduziu-se pouco a pouco, até confundir-se com o rei-
que precediam as eleições eram regateios sem fim. Os eleitores não he~itaram no alemão, mas sem dar a esse um verdadeiro soberano. Em condições dife~e·n­
em depor Venceslau, filho de Carlos IV. Como teriam podido considerar em tes, o Im,pério cristão:-romano-grego manteve-se. com mais sucesso em Constan-··
depor mais cedo o imperador? Na primeira metade do século XV, Sigismun- tinopla, ao menos até que os turcos lhe confiscassem seu território e sua capital.
do realçou o título imperial pelo papel que desempenhou na resolução da cri-
se da Igreja no Concílio de Constança. Constata-se que ele usava então um tí-
·rulo venerável e que o Império continuava a ser venerado, mesmo sem repre-. MICHEL PARISSE
sentar nenhum ·poder temporal reaL Designa-se comodamente desde então. Tradução de Dâniel Valle Ribeiro
por "Império" as terras alemãs e foi assim que ele absorveu as distantes con-
quistas da Ordem Teuí:ônica no leste. Chegava-se desse modo ao ·fim de uma
evolução lenta que começara com Oto I. Quando alguns historiadores são REMISS6ES
tentados a contar a história do "Sacro Império Romano Germânico" entre
Direito(s) - Igreja e papado - Rei - Roma
962, ascensão de Oto I ao Império, e 1273, morte do último Staufen, come-
tem numerosos erros: o de suprimir o caminho progressivo que levou à con-

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