Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PROPÓSITO
Conhecer o contexto histórico-cultural do surgimento da literatura portuguesa para o
entendimento da origem e da identidade da expressão estética em língua portuguesa.
PREPARAÇÃO
Tenha à mão um dicionário de literatura para compreender o vocabulário específico da área.
Na internet, você pode acessar gratuitamente o E-dicionário de termos literários, de Carlos
Ceia, e o Dicionário de cultura básica, de Salvatore D’Onofrio.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
Você sabe quando e como se inicia a produção literária em língua portuguesa? Já imaginou
quantas questões culturais e identitárias estão implicadas no surgimento e no desenvolvimento
dessa literatura?
Agora você terá a oportunidade de estudar alguns aspectos históricos e culturais pertinentes a
esses questionamentos. Além disso, analisaremos as diferentes cantigas que surgiram na
Baixa Idade Média e que tiveram demasiada importância para o caráter literário ibérico.
Em seguida, faremos um percurso pelas novelas de cavalaria, apresentando, para isso, duas
das mais famosas do gênero: A demanda do Santo Graal e O Amadis de Gaula. Por fim,
estabelecermos uma compreensão acerca do papel das crônicas na sociedade portuguesa
enquanto importante elemento da historiografia antiga.
MÓDULO 1
INDEPENDÊNCIA E ORGANIZAÇÃO DE
PORTUGAL
Comecemos este módulo com uma panorâmica da independência e da organização de
Portugal como Estado.
Imperador da Península Ibérica, Afonso VI (1040-1109), rei de Leão, deu a Teresa, sua filha
ilegítima, o Condado Portucalense, enquanto Urraca, que era sua filha legítima, herdou os
reinos de Leão e Castela.
Teresa tentou anexar o Condado Portucalense à Galícia. Isso gerou descontentamento entre
os nobres de Portucale, tradicionais rivais da nobreza galega. Filho de Teresa, Afonso
Henriques (que nasceu provavelmente em 1109 e faleceu em 1185) tomou partido, aos 21
anos, dos nobres do Condado e ficou contra sua mãe.
Em função disso, em 1128, no Campo de São Mamede, Afonso Henriques, ao lado dos nobres
portucalenses, expulsou Teresa e o Conde de Borgonha, seu pai. Com isso, teve início a saga
de Afonso Henriques, o futuro rei de Portugal.
Para compreender melhor os próximos itens desta seção, verifique a seguir a árvore
genealógica do imperador Afonso VI e de seus descendentes:
Fonte: EnsineMe.
Árvore genealógica de Afonso VI.
A BATALHA DE OURIQUE
Imagem: Joseolgon / Wikimedia Commons / CC BY 3.0.
Batalha de Ourique de Jorge Colaço no Centro Cultural Rodrigues de Faria, Portugal.
Neto do rei Afonso VI, Afonso Henriques era de linhagem nobre. Apesar de ele ter assinado
como rei em diversas situações, seu “título de rei era uma dignidade pessoal”, explica Saraiva.
(1996, p. 47).
Isso não implicava por si só a independência do reino. Um fato célebre, porém, fez com que
Afonso Henriques passasse a usar direto o título de rei: a batalha de Ourique, que foi travada
em 25 de julho de 1139.
Sabe-se que os portugueses faziam incursões (fossados) nas terras ocupadas pelos mouros,
apreendendo gado, escravos e outros despojos. Em um desses fossados, eles se depararam
com um exército de mouros.
COMENTÁRIO
Não podemos afirmar com segurança o que é mito e o que é história nesse confronto, mas
tudo nos leva a crer que os mouros eram numericamente superiores. Isso alimentou o mito do
milagre de Ourique, que passou a fazer parte de um dos muitos milagres do ciclo de Santiago
de Compostela.
De acordo com o mito, a vitória foi obtida com o auxílio divino. O milagre tem seu primeiro
relato completo na crônica dos sete primeiros reis em Portugal, em 1419.
D. Afonso Henriques procurava encorajar os seus afirmando que eles seriam ajudados por
Deus. E Santiago, cujo dia se celebrava, seria o conde do povo.
A história depois foi desenvolvida atribuindo-se o milagre exclusivamente a Cristo. Essa versão
de 1419 é a fonte das outras versões que virão depois, mas nelas Santiago deixa de intervir,
frisa Saraiva (1996, p. 57).
De qualquer modo, sendo o milagre atribuído a Cristo ou a Santiago, diz o mito que, no
momento da batalha, Afonso Henriques foi ungido como rei de Portugal.
A INDEPENDÊNCIA
Imagem: Roque Gameiro / Wikimedia Commons / Domínio Público.
Cerco de Lisboa, por Roque Gameiro, Portugal.
Após a morte de Afonso VII (1105-1157), neto legítimo de Afonso VI, o título de imperador da
Península Ibérica se extinguiu. As relações de Afonso Henriques e Afonso VII, que era seu
primo, sempre foram tensas.
Henriques dilatou o território do condado, conquistando, entre outras terras, Coimbra, Lisboa e
Santarém. Dessas conquistas, a mais polêmica foi o “cerco de Lisboa” pelo caráter sangrento
da ocupação.
SAIBA MAIS
Há um romance famoso do escritor português José Saramago (1922-2010) que faz alusão a
esse fato. O título do livro é A História do cerco de Lisboa.
Sabemos que, além das conquistas, ele buscou o apoio do Papa Inocêncio II (1081-1143),
embora o reconhecimento do reino e sua oficialização só tenham sido obtidos quase no final do
seu reinado. Até esse momento derradeiro, os diplomatas de Roma procuravam evitar o
reconhecimento de Afonso Henriques como rei.
A mudança nessa situação foi adquirida por mil moedas de ouro, mas isso parece não ter
influenciado muito na consolidação da independência de Portugal, algo que já se tornara fato
consumado. Aliás, nem mesmo havia mais imperador, destaca Saraiva (1996).
O feudalismo sofreu, na Europa no século XI, uma transição. Era o início de uma economia
comercial monetária. De acordo com Hauser (1972, p. 269), os mosteiros foram os precursores
da administração racional dos negócios, emprestando dinheiro a juros.
Com o passar dos anos, eles cederam o lugar às cidades, que passaram a ser os centros de
administração das trocas comerciais. Com isso, o capital estéril do mundo medieval foi posto
em movimento: a economia financeira das cidades passou a ameaçar de extinção todo o
sistema feudal.
O RESSURGIMENTO DA BURGUESIA
A partir daí, observou-se o aumento do nível de vida e o gosto dos homens por tudo que fosse
vestuário, armaduras e alojamentos. As pessoas já não se satisfaziam mais com o que era
simples e útil.
Imagem: Shutterstock.com
Burgueses.
Com o aluguel das terras produtivas, os camponeses passaram a receber dinheiro em vez de
gêneros, pontua Hauser (1972). Os senhores feudais se tornavam endividados e acabavam
vendendo suas terras a homens da cidade, cujas origens eram plebeias.
O APARECIMENTO DA CAVALARIA
No século XI, segundo Hauser (1972), houve finalmente a concessão de feudos aos
“cavaleiros”. Com isso, formava-se uma classe hereditária de cavaleiros, uma nobreza de
segunda classe na qual se enraizou o espírito do servilismo. Na nobreza feudal, tal espírito era
diferente: todos se enxergavam como pretendentes ao trono.
ATENÇÃO
Fora isso, a Igreja encorajou a formação da nobreza da cavalaria, tentando anular o processo
de secularização que provinha das cidades. Ela passou a reconhecer a cavalaria como o
exército de Cristo. As virtudes dos cavaleiros se assemelhavam às cristãs e pressupunham
esforço e treino físico.
A CULTURA DA CORTE
A cultura da corte da Idade Média distinguiu-se de qualquer outra cultura palaciana anterior
pelo seu caráter feminino. Ao contrário do que ocorria com as canções de gestas francesas, as
canções de amor provençais e os romances de cavalaria do ciclo arturiano foram
essencialmente escritos para mulheres.
CICLO ARTURIANO
Ciclo literário vinculado à lenda do rei Artur e seus cavaleiros na Idade Média. Ainda é
muito famosa a versão de Rei Arthur e os cavaleiros da távola redonda, escrita e ilustrada
pelo norte-americano Howard Pile (1853-1911).
Elas participavam ativamente da educação dos jovens; os homens, portanto, deviam-lhes sua
educação moral e estética. Diferentemente do que ocorreu na época clássica e na Idade
Média, a concepção cavaleiresca desenvolvida nas cortes era um sintoma de uma nova
posição ocupada pelas mulheres.
O AMOR TROVADORESCO
Imagem: Shutterstock.com
O FEMININO E UMA NOVA CONCEPÇÃO DE
AMOR
No século XII, surgiu uma nova concepção de amor baseada no destaque da figura da mulher.
Tratava-se do amor trovadoresco como caracterização de um novo código de amor. Há
sobretudo algo de original nessa temática, até porque ela ocorreu numa sociedade
teocrática (Divindade do rei.) de origem misógina (Aversão à mulher.) .
Segundo Bloch (1995, p. 55-60), nos primórdios do cristianismo, houve uma nítida estetização
dos sexos, marcando as distinções entre homem e mulher. Isso partiu de uma interpretação do
Gênesis, cuja narrativa apresenta a mulher surgindo da costela de Adão.
No início da Idade Média, o corpo dela estava associado não apenas à carne, enquanto fonte
de pecados, mas também aos ornamentos e aos cosméticos tidos como pecaminosos e
prostituintes.
Imagem: Shutterstock.com
O OURO.
Imagem: Shutterstock.com
AS ARTES.
Imagem: Shutterstock.com
AS MULHERES.
A natureza de cada um desses elementos seria não essencial e não natural, pois eles estariam
relacionados com um excesso escandaloso e ofensivo, pontua Bloch (1995).
Para os primeiros padres da Igreja, a mulher que utilizasse artifícios estéticos se aproximava
do caráter enganador da arte e se mostrava como um objeto demoníaco de sedução. Tal
posicionamento estava em sintonia com o entendimento religioso de que o ser humano perde
parte de sua dignidade ao ter admiração por qualquer coisa além de Deus, completa Bloch
(1995).
COMENTÁRIO
TESE MÉDIO-LATINA
Natália Correia (1978, p. 16) afirma que o conhecimento dos trovadores do Languedócio
(região costeira do Sul da França) acerca dos elegíacos latinos pode sugerir uma influência
no aparecimento da lírica trovadoresca.
Nesse sentido, suas influências seriam sobretudo de Catulo, Ovídio, Propércio e Tíbulo. Mas
talvez elas não tenham excedido o caráter decorativo estilístico, porque os antigos
consideravam o amor uma enfermidade dos sentidos.
TESE ÁRABE
Os poetas árabes da Andaluzia, segundo Correia (1978, p. 16), deram aos trovadores
occitânicos os temas primordiais para a sua poética.
Os poetas árabes desenvolviam os acentos de um amor platônico que se expandiu entre as
elites muçulmanas depois das traduções de sírios cristãos nos séculos VIII e IX. O platonismo
árabe coincidiu com a ascese amorosa da poética provençal.
TESE FOLCLÓRICA
A tese folclórica, na perspectiva de Correia (1978, p. 18), oferece um fundamento para a
erótica provençal, cuja exaltação sensual se encaminha para uma mística do amor. Nesse
caso, admite-se o trânsito de uma poesia popular jogralesca (feita pelo jogral) para um produto
requintado de lirismo cortês.
O amor adulterino, tão glorificado pelos cantos eróticos, trazia as marcas da euforia orgiástica
das Florálias, as antigas festas romanas da primavera.
TROVADORES
ELEGÍACOS LATINOS
Poetas ligados à elegia, gênero literário de origem grega. Inicialmente, a elegia era um
canto fúnebre; depois, ela deixou de ser apenas um canto triste para tratar de temas
como a pátria, a guerra, a dor, o amor e a amizade. Já os elegíacos latinos cantavam
motivos eróticos e o amor relacionados com suas experiências de vida.
OCCITÂNICOS
Referente à língua occitana ou occitânica, que é uma língua românica (com suas raízes
no latim) falada no Sul da França. Ela também é chamada de provençal ou langue d’oc
(literalmente “língua de Oc”). Vem daí o nome dado para uma região no Sul da França:
Languedoc.
A INFLUÊNCIA CÁTARA
Doutrina considerada herege pela Igreja e muito difundida no Sul da França e no Norte da
Itália no século XII. Os adeptos da cultura e das ideias cátaras também são chamados de
Albigenses em referência a um importante centro de difusão dessa cultura: a cidade
francesa de Albi.
Eles também acreditavam na bissexualidade celeste dos corpos espirituais. Desse modo,
aparição da amada – cuja imagem o amante já conhecia por se tratar da sua outra metade
espiritual – libertava-o do desejo e o fazia esquecer seu corpo. Nesse sentido, a abstinência de
caráter metafísico dos cátaros era semelhante ao amor puro dos trovadores.
INFLUÊNCIAS DO PLATONISMO
A lírica provençal está inserida numa dialética do amor no mundo ocidental, destacando-se,
conforme aponta Correia (1978), sobretudo o platonismo.
Há uma distinção platônica entre o amor popular e sensual e o amor espiritual. Confira:
Seria uma prerrogativa dos homens vulgares, que são escravos da atração feminina.
AMOR ESPIRITUAL
Corresponderia à comunhão espiritual, sendo o amor dos sábios, ou seja, daqueles que
estimam as virtudes espirituais do homem.
O cristianismo agravou uma cisão ocidental, dividindo o homem entre espírito e carne,
acrescentando a noção de pecado. Houve um aviltamento do corpo e uma exaltação do
espírito. Com isso, um dos dois acaba saindo prejudicado.
ATENÇÃO
O amor cortês, embora tenha se dado na Idade Média, inseriu-se, por seu caráter herético, em
um complexo ideológico que determinou a Renascença e a Reforma.
Ainda de acordo com a perspectiva de Correia (1978, p. 24-25), no século XII, a lenta
elaboração iniciada com o humanismo de Carlos Magno propiciou uma renovação da cultura
da Antiguidade, propiciando, assim, o surgimento da força libertária do “individualismo”.
EXEMPLO
Com o filósofo e teólogo francês Pedro Abelardo (1079-1142), que fundou o racionalismo
medieval, desabrochou o exercício apaixonado da dialética. Com isso, certos dogmas
passaram a ser questões problemáticas.
OS CLERICI VAGANTES
Cabe ressaltar ainda a poesia dos clerici vagantes (clérigos errantes) no século XII. Esses
poetas tiveram sua formação nos quadros da Igreja, porém se tornaram autônomos em relação
a ela.
Parodiavam os evangelhos.
O povo de então passou a crer que o Espírito Santo, anunciado pela Igreja para 1260,
encarnaria numa mulher, afrontando, com isso, o “antifeminismo” do dogma oficial. Esse foi um
dos elementos que provavelmente influenciou o surgimento, no Sul da França, de um culto
literário do feminismo.
CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL E
ORIGEM DA LITERATURA PORTUGUESA
Assista ao vídeo com o professor Mário Bruno explicando os aspectos históricos e culturais que
fazem parte do contexto de origem e formação da literatura portuguesa.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Camponês, que usa sua montaria no trabalho cotidiano e participa de combates e guerras.
C) Camponês, que consegue obter ascensão social por meio da demonstração de coragem e
valentia nas guerras.
D) Nobre, que conquista novas terras por meio de sua ação em torneios e jogos contra outros
nobres.
E) Trovador, que compunha suas cantigas após retornar das batalhas como cavaleiro
homenageado.
GABARITO
MÓDULO 2
OS CANTARES EM PORTUGAL
Imagem: Autor desconhecido* / Wikimedia Commons / Domínio Público.
Uma das cantigas de amigo de Martim Codax, século XIII.
CONCEITOS E CONTEXTUALIZAÇÃO
A primitiva poesia lírica – geralmente chamada de “galego-portuguesa” por ter sido produzida
em galego-português – surgiu de forma quase simultânea à formação da nação portuguesa.
Os poetas que deram início à poesia portuguesa trovadoresca eram provavelmente ligados à
corte de D. Sancho I (1185-1211), o segundo rei de Portugal. Inclusive o próprio rei talvez tenha
escrito a canção Ai eu coitada, uma cantiga de amigo.
As fronteiras políticas e culturais na Península Ibérica, dos fins do século XII até meados do
século XIV, eram muito permeáveis e de contato estreito entre os reinos de Leão, Castela,
Aragão, Catalunha, Navarra e Portugal. Esses contatos eram mantidos por meio dos laços
matrimoniais entre os nobres da Península, argumenta Vieira (1992, p. 25).
ATENÇÃO
Os problemas relativos à sua datação se complicam quando damos conta de que só os poetas
de alta posição social possuíam registros biográficos.
O maior número desses poetas está localizado nas cortes de Fernando III (1217-1252) e
Afonso X (1252-1284), de Leão e Castela, e na do rei português D. Afonso III (1245-1279).
CARACTERÍSTICAS
As cantigas desses trovadores tinham como interlocutores um pequeno grupo. Muitas vezes,
elas eram feitas em parcerias e na forma de tenção, ou seja, no formato de um desafio ou
debate poético.
Era muito comum uma cantiga provocar a resposta de um ou mais poetas. Por isso, as
composições acabavam tendo o aspecto de apartes que ocorrem em um debate, “passando a
constituir um ciclo” (VIEIRA, 1992, p. 29).
A morte de D. Dinis, em 1325, poderia ser considerada como a data final do lirismo
trovadoresco galego-português. Entretanto, Pedro Afonso (1287-1350), conde de Barcelos e
filho de D. Dinis, chegou a doar, em testamento, um livro de cantigas a Afonso XI de Castela
(1311-1350).
ORIGENS
Sabemos que o impacto do lirismo provençal no Ocidente europeu foi mais imediato nas
regiões mais próximas, ou seja, no Norte da Itália e na Catalunha. Já áreas como a Sicília e a
Península Ibérica, mais distantes da Europa central, receberam uma influência atenuada ou
modificada da poesia do Sul da França.
PRESERVAÇÃO
CANCIONEIRO DA AJUDA
Recebeu esse nome por ter sido descoberto exatamente na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em
Lisboa. Ele reúne 310 cantigas de amor.
CANCIONEIRO DA VATICANA
Seu nome deriva do fato de estar depositado na Biblioteca do Vaticano, sendo uma coletânea
medieval de aproximadamente 1200 cantigas.
CANCIONEIRO DA AJUDA
CANCIONEIRO DA VATICANA
CANCIONEIRO DA BIBLIOTECA NACIONAL DE LISBOA
CANCIONEIRO DA AJUDA
CANCIONEIRO DA VATICANA
O Cancioneiro da Vaticana foi copiado pelo filólogo e humanista italiano Angelo Colocci (1467-
1549), no século XVI, a partir de um manuscrito mais antigo. Possui cantigas de amor, de
amigo, de escárnio e de maldizer dos poetas galego-portugueses.
GÊNEROS TROVADORESCOS EM
PORTUGAL
Agora conheceremos melhor os gêneros trovadorescos em Portugal. Para isso,
apresentaremos brevemente as características das cantigas descritas a seguir, examinando
pelo menos um exemplo de cada uma delas.
Imagem: Shutterstock.com
CANTIGAS DE AMOR
Com nítida inspiração nas canções provençais, o poeta expressa seu amor pela “senhor”.
Havia um código de amor cortês a ser seguido por ele.
Podemos até dizer que a coita (sofrimento) do amor ibérico é distinta do joi (alegria) occitânica.
Dessa forma, o amor é percebido como uma fatalidade inevitável e tem seu fundamento na
excelência da senhora. Ela, por sua vez, também é fatalmente altiva e inacessível.
“SENHOR”
O uso de “senhor” se deve ao fato de o substantivo ser invariável para os dois gêneros
em galego-português.
Diante disso, amar é um tipo de exercício de “gestão” do sofrimento, que chega ao auge no
desejo de morte, explica Vieira (1992, p. 39). A dama das poesias galego-portuguesas inspira
um amor absoluto em virtude de suas qualidades físicas e morais.
A poesia medieval é uma forma codificada na qual não existe uma preocupação em expressar
sentimentos, cabendo a ela expressar-se dentro de uma forma adequada e aceita socialmente.
Veremos agora um exemplo de cantiga de amor. Apresentaremos ainda uma versão para o
português contemporâneo do texto de João Garcia de Guilhade e sua posterior análise:
Análise
Perceba que, nessa cantiga de amor, sobressai uma característica formal presente em muitas
cantigas medievais: a ideia, a informação ou o sentimento apresentado na primeira estrofe
acaba se repetindo nas estrofes seguintes, ainda que com palavras e construções variadas. De
certo modo, as demais estrofes repetem ou aprofundam a impressão inicial da primeira.
O poema nos permite reconhecer o tema do amor vinculado à excelência da senhora, ou seja,
da mulher que se destaca por sua beleza em relação às demais. A dama ou a senhora alvo da
admiração e fervor do poeta inspira a canção e o sentimento dele em virtude de suas
qualidades físicas e de sua beleza ímpar.
COMENTÁRIO
O poeta brasileiro Manuel Bandeira (1886-1968) apresenta em sua escrita uma inspiração
medieval na qual valoriza a influência e a estética das cantigas trovadorescas portuguesas. O
poema Cantiga de amor, por exemplo, nos remete ao tema e à forma da cantiga de amigo
composta por Guilhade.
CANTIGA DE AMOR
(BANDEIRA, 1986)
CANTIGAS DE AMIGO
São cantigas cujo eu lírico, que é feminino, se dirige ao seu amigo (namorado), à sua mãe ou
às suas irmãs. Embora postas na voz de uma mulher, as cantigas de amigo eram escritas por
trovadores. Seus poetas foram os mesmos que compuseram as cantigas de amor, de escárnio
e de maldizer.
Há uma relação muito próxima entre a cantiga de amigo e a de amor em muitas canções, com
a apresentação de uma visão supostamente feminina do “amor cortês”. Por isso, é possível
identificar um certo diálogo entre esses dois tipos de cantigas.
Veremos agora uma cantiga de amigo escrita por Pero Meogo. Em seguida, daremos sua
tradução para o português contemporâneo:
Nas cantigas de maldizer, por palavras descubertas, de um modo mais transparente.
As cantigas de escárnio e de maldizer possuem um caráter satírico, o qual por vezes acaba
sendo burlesco e obsceno. Ambas eram cantigas muito valorizadas pelos trovadores galego-
portugueses.
SAIBA MAIS
O filólogo português Rodrigues Lapa (1897-1989) chegou a editar 428 cantigas de escárnio e
de maldizer. Elas eram composições de diferentes poetas pertencentes a diversos níveis
sociais. O leque de compositores incluía desde reis, como D. Afonso X, até jograis, trovadores
de classes sociais inferiores.
As cantigas de escárnio e de maldizer também tiveram seus representantes provençais.
Guilherme IX da Aquitânia, considerado o primeiro trovador, foi um deles. Esse trovador foi
denominado no século passado como “trovador bifronte”, já que suas cantigas possuíam uma
dupla natureza:
CANTIGA D’ESCANEO
CANTIGA DE ESCÁRNIO
Análise
Nessa cantiga de escárnio, pode-se perceber uma crítica mais implícita àquilo que rodeia D.
Afonso X. O poeta descreve diversas situações perigosas e outras consideradas – em alguns
momentos – ruins para afirmar que elas são preferíveis ao “escorpião” que o ronda.
A referência ao escorpião pode ser entendida como uma metáfora da ação ou do caráter de
uma pessoa, pois evitava-se dizer o nome de quem era alvo de uma crítica.
CANTIGA DE MALDIZER
Análise
Nessa cantiga de maldizer, o poeta é explícito em sua heresia e deboche para com a figura de
Deus, que teria tomado sua amada, fonte de sua felicidade.
Ele até cita um “querer” do Criador com uma mulher, Maria. O poeta também diz que não se
considera pecador, pois é culpa de Deus essa descrença criada em relação a Ele.
Diferentemente do exemplo da cantiga de escárnio, em que a crítica era implícita, na de
maldizer vê-se uma afronta e crítica explícitas.
TROVADORISMO EM PORTUGAL
Assista ao vídeo com o professor Mário Bruno apresentando comentários e exemplos de
cantigas trovadorescas em Portugal.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
D) O trovador canta um amor absoluto e serviçal dedicado à mulher amada, numa postura de
vassalagem amorosa.
B) Cantiga de maldizer, pois é escrita de forma explícita em relação ao seu objeto crítico.
C) Cantiga de escárnio, pois é escrita de forma explícita em relação ao seu objeto crítico.
D) Cantiga de maldizer, pois é escrita de forma implícita em relação ao seu objeto crítico.
E) Cantiga de amigo, pois é escrita de forma explícita em louvor a uma dama, seu objeto de
contemplação.
GABARITO
Nas cantigas de amor, o poeta enfatiza seu sofrimento pela amada, que é sempre tida como
altiva e inacessível. O trovador a canta numa posição de dedicação fervorosa, devotando seu
sentimento à mulher como se dela fosse um escravo ou servo.
A cantiga é satírica e se refere a uma dama cujo poeta não diz quem é, caracterizando-a,
assim, como uma cantiga implícita. Desse modo, ela pode ser considerada uma cantiga de
escárnio, pois esse tipo tem como particularidade o fato de ser escrito por intermédio de
palavras cubertas.
MÓDULO 3
NOVELAS DE CAVALARIA
Trataremos agora da prosa medieval a partir das novelas de cavalaria. Apoiando-nos
principalmente no trabalho de Vieira (1992), começaremos nossa análise conhecendo um
pouco mais sobre:
A ficção em torno da lenda do rei Artur ficou conhecida entre os estudiosos pela denominação
“matéria de Bretanha”. Tal lenda é considerada um assunto difícil devido à quantidade de textos
e às numerosas versões escritas ao gosto do copista. Em virtude disso, as opiniões
divergentes e as discussões genéticas são intermináveis.
A demanda do Santo Graal portuguesa não foge a essas querelas. O único original existente é
o códice 2594 da Biblioteca Nacional de Viena, que, por sua vez, foi traduzido de um outro
original francês, cuja produção é situada no século XIII.
DISCUSSÕES GENÉTICAS
EXEMPLO
A figura histórica de Artur tem sido identificada por especialistas como um chefe guerreiro das
Ilhas Britânicas, o dux bellorum (líder da guerra) dos bretões, que se destacou entre os séculos
VI e VII em confrontos contra os inimigos saxões. Na outra ponta está o mito do Graal, cuja
essência nos remete aos objetos célticos, às crenças judaico-cristãs e até ao evangelho
apócrifo de Nicodemos.
Imagem: Howard Pyle/ Wikimedia Commons / Domínio Público
Rei Artur (Ciclo Arturiano)
Existem referências anteriores à história de Artur, mas foi com o clérigo galês Geoffrey de
Monmouth (nascido em 1095 e morto em aproximadamente 1155), com sua obra Historia
regum Britannie, de 1135, que tal personagem ganhou seus contornos heroicos.
Devemos destacar ainda Chrétien de Troyes, que escreveu sete novelas em versos sobre a
“matéria Bretanha”, entre 1162 e 1182. No entanto, foi a partir da morte de Chrétien que os dois
motivos (a lenda de Artur e o Graal) se uniram.
Também podemos apontar o trabalho do cavaleiro e poeta alemão Wolfram von Eschenbach
(1170-1220) com sua Parzifal, escrita entre 1200 e 1212. Essa obra, dividida em dezesseis
livros, traz a famosa localização do Castelo do Graal no Mont Sauvage.
O primeiro texto conhecido como pertencente ao “ciclo do Graal” foi escrito pelo poeta francês
Robert de Boron (que viveu entre os séculos XII e XIII) na forma de uma tetralogia. No entanto,
o início mais significativo desse ciclo se deu com os cinco livros atribuídos ao clérigo e escritor
inglês Gautier Map (1140-1210).
Rodrigues Lapa (1981) assinala a existência de duas versões da Demanda: uma portuguesa e
outra castelhana. Apesar de se certificar de que uma foi traduzida da outra, ele expõe dúvidas
sobre qual delas é a original.
SAIBA MAIS
Na Demanda, precisamente após 453 anos da morte de Jesus Cristo, no Pentecostes, Galaaz,
o cavaleiro puro, entra no castelo em Camalote. Galaaz ocupa um lugar vago entre 150
cadeiras da távola redonda.
Logo a seguir, conduzido por Artur, Galaaz retira a espada enfiada numa pedra de mármore.
Com isso, fica indicado que ele seria o cavaleiro escolhido para encontrar o Cálice Sagrado (o
Graal). Na versão da Demanda, não é o ingênuo Percival que encontra o Cálice, e sim Galaaz,
o cavaleiro puro.
A INVESTIDURA DE GALAAZ
Não é um dia qualquer: trata-se da véspera de Pentecostes. Galaaz passa a noite vigiando e
orando acompanhado do ermitão, o seu aio. Lancelote faz o seu filho cavaleiro e o ermitão
pede para segui-lo, pois pretende registrar por escrito todas as maravilhas que Galaaz viverá
em nome de Deus.
Investido cavaleiro, Galaaz parte para Camalote no dia de Pentecostes. Artur é chamado à
ribeira, onde a espada cravada na pedra está flutuando nas águas por encanto de Merlim. Artur
diz então que só o melhor cavaleiro do mundo conseguirá retirá-la da pedra.
Imagem: Ladyofthelake1.jpg: Alfred Kappesderivative work: Themadchopper/ Wikimedia
Commons / Domínio Público.
A Dama do Lago oferecendo a Arthur a espada Excalibur.
Nesse momento, Galaaz chega à corte de Artur e é apresentado pelo ermitão. Galaaz era o
cavaleiro que Merlim havia profetizado. Artur conduz Galaaz ao ribeiro e o convida a retirar a
espada cravada na pedra.
Galaaz retira a espada com facilidade, metendo-a depois à cinta. Dá-se então início à
demanda, ou seja, à busca do Cálice Sagrado.
A primeira aparição dele ocorre quando Tristão, sobrinho do rei Marcos, muito querido de Artur,
chega à távola redonda. Com todos sentados à mesa, o Santo Graal surge misteriosamente.
Após a aparição do Cálice, todos ficam mais belos, enquanto a sala enche-se de maravilhosos
odores e ofuscante luz. Já sobre a mesa, surgem maravilhosos manjares. O Graal, por fim,
desaparece tão misteriosamente como surgira.
O ESCUDO DE GALAAZ
Galaaz foi armado de espada, mas não tinha ainda o escudo (a ser recebido do rei
Bangemaguz). O escudo que lhe é dado tem a cor branca com uma cruz vermelha
representando o próprio Cristo.
Nesse momento, o ermitão revela a “sinefiança” das aventuras de Galaaz. As três sinefianças
de sua aventura representavam a paixão de Jesus Cristo.
Esse episódio pôs à prova a virgindade e a pureza de Galaaz. Ele e Boors, dois cavaleiros,
caminhavam juntos e chegaram ao castelo do rei Brutus. O rei os recebe. Seduzida pela beleza
de Galaaz, a princesa entra na câmara onde o cavaleiro dormia para possuí-lo. Ele acorda e
aconselha-a a partir.
A donzela, irada, ameaça matar-se e acaba por cravar a espada de Galaaz no próprio peito. A
princípio, o rei crê que ela teria sido morta por Galaaz, porém acaba se convencendo de que
ela se matara pelas próprias mãos.
N’A demanda, são muitas as aventuras, inclusive havendo uma perseguição da “besta
ladrador”, filha de uma donzela com um demônio. Galaaz, por fim, encontra o Santo Graal no
Castelo de Corbenic.
A condição para entrar em tal castelo era ter fé e pertencer à Igreja. Na câmara do rei Peles,
que jazia doente, Galaaz vê o cálice. Além de encontrá-lo, Galaaz e os outros cavaleiros
escolhidos, Boors e Percival, recebem do próprio Jesus Cristo um manjar e a hóstia.
MORTE DE ARTUR
A demanda acaba, porém, ainda assim, a história se desdobra no confronto de Artur com
Lancelote, que havia raptado sua esposa, Genebra, e em outro confronto de Artur com o seu
filho, Morderet, fruto de uma relação incestuosa com a sua meia-irmã Morgana.
Morderet quer se apoderar do reino de Logres e luta com Artur. Morderet é morto, mas Artur
também acaba sendo ferido mortalmente.
O corpo de Artur desaparece; assim, ninguém sabe se ele está vivo ou morto. Após o seu
desaparecimento, Lancelote se torna ermitão e Genebra entra para um convento.
O AMADIS DE GAULA
Imagem: Giovanni Antonio Nicolini da Sabbio, BNE / Wikimedia Commons / Domínio Público.
Amadis de Gaula, edição de 1533.
APRESENTAÇÃO E QUESTIONAMENTOS
O romance Amadis de Gaula provavelmente foi escrito em português e aparece pela primeira
vez em 1508 numa edição castelhana. Isso suscita, portanto, uma questão: o Amadis é de
autoria portuguesa?
Tudo indica que tal obra teria sido escrita, no século XIII, por um trovador da corte de Afonso III
e de D. Dinis. Esse trovador seria Vasco Lobeira (sem data de nascimento confirmada e morto
em 1403). Parece que Vasco Lobeira escreveu os três primeiros livros, enquanto um parente
seu teria retomado o fio da narrativa por volta de 1370.
A FIGURA DE AMADIS
A personagem Amadis, em torno da qual gira toda a obra, nem sempre possui um tratamento
psicológico adequado. Aos 16 anos, ele já se comporta como um cavaleiro, demonstrando uma
infatigável perfeição, mesura e sanha de leão nas batalhas.
EXEMPLO
Por outro lado, o romance de Amadis não se caracteriza pela sublimação do amor; em vez
disso, aproxima-se das cantigas de amigo ao abordar o aspecto carnal de um amor que se
concretiza fisicamente.
EXEMPLO
AS NOVELAS DE CAVALARIA
Assista ao vídeo com o professor Mário Bruno apresentando comentários e exemplos das
características das novelas de cavalaria.
AS CRÔNICAS
Finalizaremos nossa abordagem da prosa medieval tratando das crônicas produzidas em
Portugal.
Foto: Shutterstock.com
A PROSA HISTORIOGRÁFICA
LIVROS DE LINHAGEM
CRÔNICA GERAL
DE ESPANHA DE 1344
O trabalho de análise desses textos apresenta muitas dificuldades, já que houve neles
acréscimos e supressões feitas por mãos anônimas, existindo ainda versões distintas dos
originais.
FERNÃO LOPES
Fernão Lopes inscreve-se na literatura portuguesa por seu papel como historiador e primeiro
grande prosador. De origem incerta e humilde, Lopes atravessou as crises que vão da morte de
D. Fernando até o governo de Afonso V.
Tabelião-geral do reino
Imagem: Pollini/ Wikimedia Commons / Domínio Público.
Possível retrato de Fernão Lopes, nos Painéis
de São Vicente de Nuno Gonçalves.
Quanto às suas crônicas, Fernão Lopes mostrava-se parcial, pois era simpatizante do povo e
da revolução financiada pela burguesia. Isso, entretanto, não o impediu de registrar uma visão
muito ampla e concreta da realidade social, quando comparado ao dos cronistas de seu tempo.
As crônicas de Fernão Lopes, de acordo com Maleval et al. (1992), estavam baseadas em:
Para Teresa Amado (1993), a experiência profissional de Fernão Lopes como notário e
arquivista contribui para ele escrever crônicas fundadas numa verdade histórica, trabalhando
tanto com narrativas quanto com registros oficiais. Sua convivência na corte ao longo de quase
trinta anos também permitiu o acesso a várias informações sigilosas.
Cabem ainda algumas observações sobre as qualidades estilísticas de Fernão Lopes. Ele
aglutinava fragmentos narrativos aos documentos e às citações de obras de diferente teor no
interior de um texto, mas sem que, com isso, as fontes utilizadas se confundissem.
Amado (1993, p. 273) considera isso “uma técnica híbrida de escrita, por vezes hoje difícil de
apreciar, mas que permite ao autor um domínio perfeito dos seus efeitos, e a composição duma
narrativa que produz o seu próprio sentido”.
Não só pelo labor dele enquanto escrivão e historiador, mas também por sua aprimorada
técnica narrativa, Fernão Lopes é considerado o mais importante cronista da historiografia
portuguesa.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) I e II
B) I e III
C) I, II e III
D) II, III e IV
E) III, IV e V
A) A amada é retratada a partir de seu sofrimento e de seu apelo erótico para conquistar o
cavaleiro.
E) Contém uma tematização histórica e documental na forma de crônicas das grandes batalhas
vividas pelos heróis cavaleiros.
GABARITO
I. O tema do Graal é muito mais antigo que a lenda de Artur. A figura de Artur tem sido
identificada como de destaque nos séculos VI e VII, enquanto o mito do Graal nos
remete aos objetos célticos e a uma versão não canônica do evangelho.
II. Existe apenas uma versão da Demanda na Península Ibérica, sendo ela castelhana e
comprovadamente não portuguesa.
III. A lenda do rei Artur é considerada uma obra de difícil mensuração devido às
numerosas versões escritas, com o passar dos anos, por copistas. Sendo assim, as
opiniões divergentes acerca da obra são intermináveis.
IV. A lenda do rei Artur e o mito do Graal surgem no mesmo período histórico, o que
justifica a junção de tais obras como complementares.
V. De acordo com pesquisadores, as canções de gesta são apenas versões mais antigas
das novelas do ciclo arturiano.
O mito do Graal é muito mais antigo que o ciclo arturiano. Entretanto, a lenda do rei Artur é
uma obra que foi modificada diversas vezes ao longo do tempo. Sendo assim, em muitas
dessas modificações posteriores, ela aparece ao lado do mito do Graal, mesmo que ambas
inicialmente não tivessem qualquer correlação.
Embora as canções de gesta e o ciclo arturiano (algumas das principais novelas de cavalaria)
sejam consideradas novelas pagãs, esse ciclo sofreu uma cristianização ao longo do tempo,
dando origem à Demanda do Graal. Sendo assim, pode-se dizer que os cavaleiros medievais
das novelas eram concebidos segundo os padrões da Igreja.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos o contexto do surgimento da literatura portuguesa, procurando estabelecer as
relações entre o início do nascimento da identidade do povo português e as suas primeiras
manifestações literárias. Fomos, assim, do universo das cantigas trovadorescas até o
surgimento da historiografia e das primeiras crônicas, passando pelas novelas de cavalaria.
Com isso, procuramos cobrir os principais aspectos da escrita literária portuguesa na Baixa
Idade Média. Desse modo, vimos que tanto na lírica quanto na prosa medievais existem
importantes aspectos que devem ser considerados nos estudos literários que procuram
retomar o surgimento da literatura em língua portuguesa.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
AMADO, T. Dicionário da literatura medieval galega e portuguesa. Lisboa: Editorial
Caminho, 1993.
BANDEIRA, M. Lira do brigadeiro. In: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1986.
HAUSER, A. História social da literatura e da arte. São Paulo: Mestre Jou, 1972.
EXPLORE+
Navegue pelos textos de diversas cantigas trovadorescas no acervo disponibilizado pela
página da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Aprofunde seu estudo sobre os aspectos históricos e sociais do trovadorismo lendo o texto O
trovadorismo galego-português e a Europa, de José Carlos Ribeiro Miranda, disponível no
Google Acadêmico.
b) Excalibur
Esse filme do diretor John Boorman ilustra o ciclo arturiano e a procura pelo Graal.
CONTEUDISTA
Elaine Zeranze Bruno
CURRÍCULO LATTES
DIREITO DE USO DE IMAGEM
* A EnsineMe reserva ao autor o direito de se manifestar.