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Capovilla

ARTIGO FC
ESPECIAL

Por um Plano Nacional de Alfabetização


(PNA) capaz de respeitar diferenças de
língua e constituição biológica
Fernando Cesar Capovilla

DOI: 10.5935/0103-8486.20200015

RESUMO – O presente artigo faz uma apreciação sobre aspectos


importantes que um Plano Nacional de Alfabetização precisa incluir e
propõe o conceito desse plano a partir do espírito das duas políticas em
sua aplicação a surdos, cegos e surdocegos, e de literatura recente sobre
estrutura e processamento linguístico em Libras e Português. Essa literatura
é considerada numa perspectiva da Neurociência Cognitiva da Linguagem
Oral e Escrita (com foco no Português ouvido e lido orofacialmente por visão
e por tato) e de Sinais (com foco em Libras vista e tateada), num modelo
de processamento de informação.

UNITERMOS: Política Pública. Alfabetização. Surdos. Libras.

O presente artigo faz uma apreciação sobre Modalidades Especializadas de Educação da


aspectos importantes que um Plano Nacional Secretaria de Modalidades Especializadas de
de Alfabetização, como a Política Nacional de Educação do MEC.
Alfabetização1 precisa incluir. O autor fez par- O presente artigo propõe o conceito de Plano
te da equipe de colaboradores que elaborou a Nacional de Alfabetização a partir do espírito
Política Nacional de Alfabetização do MEC. das duas políticas em sua aplicação a surdos,
Ele colaborou tanto para a Política Nacional de cegos e surdocegos, e de literatura recente sobre
Alfabetização da Secretaria de Alfabetização estrutura e processamento linguístico em Libras
do MEC quanto para a Política Nacional de e Português. Essa literatura é considerada numa

Fernando Cesar Capovilla - Professor Titular do Instituto Correspondência


de Psicologia, Uni­versidade de São Paulo (USP). Fernando Cesar Capovilla
Membro do Conselho Nacional de Educação, São Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo
Paulo, SP, Brasil. Avenida Professor Mello de Morais, 1721 – Butantã –
São Paulo, SP, Brasil – CEP 05508-030
E-mail: fernando.capovilla@usp.br

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perspectiva de Neurociência Cognitiva da Lin- de Sinais Brasileira ou Libras10,11, as crianças


guagem Oral e Escrita (com foco no Português indígenas, com seus idiomas ameríndios12 e as
ouvido e lido orofacialmente por visão e por tato) crianças quilombolas. Um Plano Nacional de
e de Sinais (com foco em Libras vista e tateada), Alfabetização precisa respeitar as diferenças
num modelo de processamento de informação. culturais de língua e de cultura dessas crian-
ças, e propor adaptações especiais. Ainda com
O ESCOPO DE UM PLANO NACIONAL DE relação à plasticidade neural, um Plano Nacio-
ALFABETIZAÇÃO nal de Alfabetização deve propor que crianças
Um Plano Nacional de Alfabetização precisa com surdez congênita profunda tenham acesso
incluir a alfabetização de crianças com quadros precoce a Libras, sempre antes dos 5 anos.
de comprometimento neurossensorial (e.g., Segundo Newport13, se as crianças com surdez
surdos, surdocegos), neuromotor (e.g., paralisia congênita profunda forem expostas à língua
cerebral), e neurolinguístico (e.g., dislexia do de sinais somente aos 5 anos de idade, elas
desenvolvimento), bem como com múltiplos serão significativamente menos fluentes que
comprometimentos. Um Plano Nacional de Al- aquelas expostas à língua de sinais desde seu
fabetização precisa defender o uso de recursos nascimento. Se elas forem privadas de acesso
e adaptações e procedimentos especiais para a à língua de sinais até os 12 anos de idade, elas
alfabetização competente dessas populações. O nunca atingirão proficiência plena em língua
Plano deve abordar essa alfabetização à luz das de sinais, mesmo que venham a ser expostas
neurociências cognitivas, com especial atenção diariamente a essa língua pelos próximos 30
à plasticidade neural2, e propor intervenção pre- anos de vida.
coce já na educação infantil para desenvolver Libras é a Língua Materna (L1) dos surdos. É a
todos os pré-requisitos à alfabetização, de modo metalinguagem que eles usam para aprender a
a assegurar sua disponibilidade para a alfabeti- ler e escrever Português. Nas Escolas Bilíngues
zação escolar no 1o ano do ensino fundamental. sinalizadoras, é o veículo de ensino-aprendiza-
Dependendo do quadro, esse desenvolvi- gem. Trata-se do sistema de comunicação da
mento irá requer o uso de diferentes recursos comunidade surda brasileira reconhecida em
específicos. Por exemplo, crianças com paralisia Lei Federal número 10.436 de 24/04/2002, e
cerebral necessitarão de sistemas computado- regulamentada pelo Decreto Federal número
rizados falantes de comunicação alternativa e 5.626 de 2/12/2005, cujo espírito é o de reco-
aumentativa implementados como aplicativos nhecer oficialmente a Libras e estabelecer seu
de tablet, por exemplo3,4. Crianças que tenham ensino e divulgação, para que a educação possa
irmão ou genitor com dislexia do desenvol- se dar em Libras na Filosofia Educacional do
vimento podem se beneficiar de intervenção Bilinguismo14-16. Segundo Que et al.2, embora a
fônica5-7 já na educação infantil, antes da alfa- exposição à língua de sinais use o córtex audi-
betização. Crianças disléxicas têm 50% de risco tivo, devido à plasticidade neural, a língua de
de virem a desenvolver dislexia do desenvolvi- sinais não é incompatível com implante coclear.
mento, comparado aos 7-10% de risco de crian- Além disso, a leitura orofacial promove a reabi-
ças sem irmãos ou pais disléxicos8. Detecção e litação auditiva pós-implante.
intervenção fônica são sabidamente eficazes em Mostrando sensibilidade às particularida-
prevenir dislexia do desenvolvimento, facilitan- des da ampla variedade linguística e cultural
do a alfabetização subsequente9. de um lado, e variedade constitucional (com
Um Plano Nacional de Alfabetização tam- distúrbios neurossensoriais, neurolinguísticos
bém precisa incluir crianças com características, e neuromotores) de outro lado, um Plano Na-
línguas e culturas distintas, tais como crianças cional de Alfabetização deve propor que sejam
surdas, cuja língua materna (L1) é a Língua feitas as adaptações necessárias às diversas

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combinações entre diferenças culturais de um palavras que soam do mesmo modo (e.g.,
lado e diferentes combinações entre diferenças conserto-concerto, passo-paço, sinto-cinto)
constitucionais de outro lado. Assim, por exem- a partir da percepção do contexto frasal
plo, o Plano deve propor que crianças surdas ou semântico em que se inserem.
tenham acesso precoce a Libras visual e, sub- É preciso que um Plano Nacional de Alfabeti-
sequentemente, durante a alfabetização, para zação tenha clareza de que, em termos de ordem:
aperfeiçoar a qualidade ortográfica da escrita e (1.) O princípio fonotático precede o semio-
a precisão de leitura17,18, a diversos recursos efica- tático nas crianças ouvintes cuja língua
zes para permitir às crianças surdas compreen­ materna (L1) é o Português, o princípio
der melhor a fala por leitura orofacial visual fonotático é básico à aquisição da leitura e
(e.g., Cued Speech19,20). O Plano também deve escrita alfabética; ao passo que o princípio
propor que crianças surdocegas tenham acesso semiotático é importante para permitir
precoce a Libras Tátil e, subsequentemente, à criança interpretar adequadamente o
para viabilizar a alfabetização, a diversos re- significado das palavras a partir dos mor-
cursos eficazes para permitir às crianças surdas femas componentes, para além da fala
compreender melhor a fala por leitura orofacial interna; e a escrever corretamente a partir
tátil (e.g., Tadoma). do contexto semântico, novamente para
além da fala interna. Por exemplo, durante
LEITURA E ESCRITA ALFABÉTICAS: a escrita sob ditado, ao ouvir a frase: “O
PRINCÍPIOS FONOTÁTICO E SEMIO- homem andou três passos e chegou ao
TÁTICO, E A SUA ORDEM NA ALFABE- Paço Municipal” a criança competente no
TIZAÇÃO COMO FUNÇÃO DA LÍNGUA princípio semiotático escreverá a primeira
MATERNA DO EDUCANDO palavra com “ss”, e a segunda com “ç”.
Com vistas a atender toda essa ampla gama Como as palavras soam do mesmo modo,
de variabilidade linguística e constitucional, é o princípio fonotático por si só não permite
preciso que um Plano Nacional de Alfabetização escrever corretamente. A competência
tenha uma visão ampla e compreensiva da es- semiotática torna a criança sensível ao
crita. É preciso considerar que a escrita é regida contexto, que condiciona a escrita correta.
por dois princípios: o fonotático e o semiotático. (2.) O princípio semiotático precede o fono-
(1.) O princípio fonotático diz respeito ao fato tático nas crianças com surdez congênita
claro de que a escrita mapeia a fala. As profunda, e cuja L1 é a Libras, nas crianças
unidades da escrita (grafemas) mapeiam indígenas cuja L1 é um idioma ameríndio
unidades da fala correspondentes (lale- como o Tupi-guarani, e nas crianças indí-
mas). Essas unidades da fala podem ser genas cuja L1 é um idioma ameríndio de
audíveis (fonemas ou otolalemas, que sinais como o Urubu-Kaapor21. Como a
ouvintes processam para a compreensão criança está aprendendo a ler e escrever
auditiva da fala), visíveis (optolalemas, uma L2 a partir de sua L1, ela começará
que surdos videntes processam para com- pelo princípio semiotático, estabelecendo
preender a fala na leitura orofacial visual), correspondências entre as unidades de
ou táteis (esteselalemas, que surdocegos significado (morfemas) da L2 que está
processam para compreender a fala na aprendendo e as unidades de significa-
leitura orofacial tátil). do de sua L1. Isso ocorre sempre que se
(2.) O princípio semiotático trata da composi- aprende uma língua estrangeira. No caso
ção morfêmica das palavras conforme seu da criança surda, ela aprende a usar Li-
significado (semântica) e origem (etimo- bras como metalinguagem para analisar
logia), e permite escrever corretamente as palavras em morfemas semânticos (i.e.,

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Lexemas, como os radicais gregos e lati- sematossêmica dos sinais pode ser encontrado
nos, por exemplo) e morfemas gramaticais em Capovilla & Oliveira23. Sua importância para
(i.e., Gramemas, que denotam as catego- o processamento cogni­tivo dos surdos pode ser
rias gramaticais de gênero, número, modo, encontrada em Capovilla & Martins24.
tempo e pessoa). Um Plano Nacional de Alfabetização precisa
Essa distinção é essencial a um Plano Nacional considerar, como denominador comum a todas
de Alfabetização compreensivo e consistente: essas crianças, o fato de que todas elas terão de
Enquanto os ouvintes, que têm no Português aprender a ler e escrever a Língua Portuguesa,
sua L1, começarão abordando a escrita pelo já que são todas são cidadãs brasileiras. Isso
princípio fonotático (ancorando as unidades da ocorre a despeito de toda a diversidade cultural,
escrita nas unidades da fala); os surdos congê- englobando as surdas congênitas que pensam e
nitos profundos (cuja L1 é Libras), os indígenas se comunicam em Libras como L1, as indígenas
ouvintes (cuja L1 é um idioma ameríndio falado) que pensam e se comunicam em seus idiomas
e os indígenas surdos (cuja L1 é um idioma ame- ameríndios como L1, e as quilombolas, com
ríndio de sinais, como, por exemplo a Língua seu léxico próprio. Igualmente, isso ocorre a
de Sinais Urubu-Kaapor) partirão do princípio despeito de toda a diversidade constitucional,
semiotático. Ao abordar palavras escritas do englobando as crianças com comprometimento
Português, o aluno, cuja L1 não é o Português neurossensorial (as surdas, as cegas, as surdo-
(seja esse aluno indígena, surdo, ou indígena cegas), neuromotor (as com paralisia cerebral
surdo), começará aprendendo a traduzir as pa- e tetraplegia), neurolinguístico (as disléxicas
lavras do Português para sua língua, e de sua e afásicas). Além das crianças com os mais
língua para o Português. Em seguida, aprenderá variados quadros como Discalculia, Disartria,
a fazer análise morfêmica de cada palavra, Disgrafia, Deficiência Intelectual, Transtorno de
decompondo-a em seus lexemas e gramemas. Déficit de Atenção e Hiperatividade, Distúrbio
Para fixar o conhecimento, o indígena aprende do Sistema Vestibular, Distúrbio de Processa-
diversas palavras formadas por um mesmo mento Auditivo Central, dentre outras25.
lexema (por exemplo, “beb-” em Português, A alfabetização em Português deve ancorar
que está presente em palavras como “bebida”, a escrita na fala, uma vez que:
“beber”, “bebericar”, “bêbado”, etc.; “estud-” (1) Todas essas crianças terão de aprender a
que está presente em palavras como “estudo”, ler e escrever a Língua Portuguesa,
“estudar”, “estudante”, etc.) variando apenas (2) O Português emprega o sistema de escrita
os gramemas, no caso, os sufixos. E, em segui- alfabético; e
da, deve aprender diversas palavras formadas (3) O sistema alfabético mapeia a fala.
por um mesmo gramema (e.g., o sufixo “-er”, Como vimos, essa ancoragem deve ser feita
presente em “beber” e “-ar” em “estudar”) logo no início para a criança ouvinte cuja L1 é
variando apenas os lexemas. Isso permite com- Português; e apenas no fim para crianças cuja L1
preender como o Português codifica significado não é Português. Uma observação fundamental
pelo princípio semiotático. precisa ser feita aqui. A Filosofia Educacional de
Nessa abordagem, a todo momento, o surdos mais aceita é a do Bilinguismo10,14-16,26,27.
aluno, cuja L1 não é o Português estabelece Segundo Filosofia Educacional do Bilinguismo,
correspondências entre os morfemas do Por- a alfabetização da criança surda não deve al-
tuguês e os morfemas metafóricos de sua L1 mejar que ela venha a articular a fala, de modo
(seja ela Tupi-Guarani, Libras, ou língua de algum. Espera-se apenas que ela venha a ser
sinais Urubu-Kaapor, por exemplo). Um ma- capaz de ler silenciosamente com precisão
peamento preliminar da estrutura morfêmica de compreensão; e a escrever com precisão
da Libras pode ser encontrado em Capovilla et ortográfica e correção semântica. A escrita é
al.22. Um mapeamento completo da estrutura considerada competente quando as mensagens

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produzidas são inteligíveis, ou seja, capazes de e escrever a partir da sinalização, com


serem compreendidas por leitores fluentes em mediação na imaginação visual da fala,
Português que desconhecem o autor, seu pro- na redação livre. Os procedimentos ne-
pósito e o contexto em que escreveu. cessários à consecução desse resultado
Segundo Capovilla17,18: encontram-se descritos em Capovilla17,18,
(1.) A aprendizagem do Português deve co- que explica, também, como se dá a articu-
meçar pelo princípio fonotático para a lação cuidadosa dos processos cognitivos
criança ouvinte cuja L1 é Português. Nesse à luz das Neurociências Cognitivas. Tais
princípio fonotático, a criança aprende a processos envolvem a soletração digital,
ancorar a escrita na fala. Uma vez que e a imaginação visual da fala.
a criança se torne fluente e precisa no (3.) No caso da criança surda indígena, cuja
domínio do princípio fonotático, ela deve L1 é uma língua de sinais ameríndia,
progredir ao princípio semiotático, apren- como a Língua de Sinais Urubu-Kaapor,
dendo a composição morfossintática da por exemplo, a fase fonotática é igual-
palavra. Por outro lado, mente essencial, mas muito mais comple-
(2.) A aprendizagem do Português deve xa, já que as pessoas com quem convive,
começar pelo princípio semiotático para fora da comunidade surda específica à
a criança ouvinte cuja L1 é um idioma qual pertence, tenderão a se comunicar
ameríndio, para criança surda cuja L1 é oralmente num idioma ameríndio distinto
a Libras, e para criança surda indígena do Português. Isso tende a aumentar a
cuja L1 é um idioma ameríndio de sinais complexidade da ancoragem da escrita
como a Língua de Sinais Urubu-Kaapor. na fala. É imprescindível que essa crian-
Essas crianças devem começar apren- ça surda indígena (cuja L1 é a Língua
dendo o vocabulário e a composição de Sinais Urubu-Kaapor) tenha contato
morfossintática da palavra. Só depois de interpessoal frequente com falantes do
dominarem isso elas devem progredir Português.
para o princípio fonotático aprendendo Portanto, a criança ouvinte cuja L1 é um idio-
a fazer mapeamento sistemático entre as ma ameríndio deve começar pelo princípio se-
unidades da escrita alfabética (grafemas) miotático, inicialmente pela tradução da palavra
e as unidades da fala por meio da leitura do Português para a correspondente palavra em
orofacial visível (optolalemas). seu idioma; em seguida aprendendo a compo-
Para a criança cuja L1 não é Português, o sição morfossintática da palavra do Português,
objetivo dessa segunda fase, a fonotática, é a de e estabelecendo relação de correspondência
permitir a ancoragem na fala, de modo a con- entre a estrutura morfossintática das palavras
tribuir para a qualidade ortográfica da escrita. do Português e a estrutura morfossintática das
(1.) No caso da criança ouvinte indígena, palavras de seu idioma ameríndio. Feito isto,
cuja L1 é um idioma ameríndio, a fase a criança deve aprender a pronunciar as pa-
fonotática permite ler em voz alta e si- lavras do Português, primeiro por imitação do
lenciosamente de maneira precisa e com professor, usando a sua própria fala para repetir
compreensão; e a escrever sob ditado precisamente a fala do professor que é pronun-
ouvido, bem como sob ditado da própria ciada de maneira clara e pausada de início, e
fala interna, na redação livre. depois naturalmente. Conseguindo pronunciar
(2.) No caso da criança surda cuja L1 é Libras, perfeitamente as palavras do Português, a
a fase fonotática permite fazer leitura criança indígena deverá começar a aprender a
orofacial (Capovilla et al.28), de manei- escrever aquelas palavras. Ela aprenderá pelo
ra precisa e com compreensão correta; princípio fonotático. Na criança ouvinte, cuja

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L1 é o Português, esse princípio fonotático é à audição. Isto porque algumas unidades


implementado de maneira sintética, indo dos da fala são mais conspícuas à visão que
fonemas para a palavra falada; e dos grafemas à audição. Por exemplo, as unidades da
para a palavra escrita. Entretanto, como a L1 fala (lalemas) \m\ e \n\ são mais distintas
dessa criança indígena é um idioma ameríndio, à visão que à audição. Assim, as unidades
e como o Português é apenas sua L2, o princípio visíveis da fala (ou optolalemas) {\m\} ≠
fonotático deverá ser implementado primeira- {\n\} são mais distintas entre si que as
mente de modo analítico, indo da palavra para correspondentes unidades audíveis da
os grafemas e correspondentes fonemas, e não fala (fonemas ou otolalemas) [\m\] ≈ [\n\].
sintético. Esses lalemas são semi-homofônicos, mas
como são heteroscópicos, os ouvintes
tendem a se beneficiar também da leitura
PROBLEMAS NA IMPLEMENTAÇÃO DO orofacial visual para aumentar a com­
PRINCÍPIO FONOTÁTICO PARA EDU- preensão da fala.
CANDOS OUVINTES, SURDOS, CEGOS, E (3) Os traços táteis da fala são os esteselale-
SURDOCEGOS, TAIS COMO REVELADOS mas, que são processados na leitura oro-
POR PARALEXIAS E PARAGRAFIAS facial tátil por surdocegos, como o sistema
Estabelecidas tais considerações, passamos Tadoma34. Cada um desses três grupos
em seguida a detalhar o princípio fonotático, que (ouvintes, surdos, surdocegos) requer
é a chave da alfabetização em Português. Como adaptações especiais da Alfabetização
vimos, a escrita alfabética do Português mapeia Lalêmica Multissensorial.
a fala. Portanto, a alfabetização deve ser anco- Alfabetizar é ensinar a ler por decifragem de
rada na fala. De fato, segundo Capovilla17,18,29, grafemas em lalemas (ouvidos, vistos, ou tatea-
a Alfabetização Fônica5-7 é, em verdade, uma dos), e a escrever por cifragem desses lalemas
Alfabetização Lalêmica Multissensorial, já que em grafemas. Em cada grupo, as atividades são
se ancora na fala em suas três modalidades implementadas por um modelo distinto.
sensoriais. Conforme Capovilla25,30-32, a fala pode Na criança ouvinte, capaz de articular a fala
ser recebida por audição (em crianças ouvintes, (i.e., não anártrica, como aquela com paralisia
videntes ou cegas), visão (por crianças videntes, cerebral), duas das atividades mais importantes
para o ensino de leitura e escrita são o ensino
ouvintes ou não, como no caso do surdo viden-
de leitura em voz alta e o de escrita sob ditado.
te), e por tato (em crianças sencientes, videntes
Na criança surda, no ensino de leitura, a lei-
ou não, como as surdocegas).
tura deve ser sempre leitura silenciosa mediada
Segundo Capovilla29,33, a fala produz traços
por soletração digital, por acesso semântico por
audíveis, visíveis e táteis.
meio de figuras, e finalmente por meio de anco-
(1) Os traços audíveis são os fonemas ou ragem na fala articulada visivelmente. O ensino
otolalemas, que são processados na co- de escrita deve se dar no contexto de nomeação
preensão auditiva da fala. de figuras, para descrever eventos e situações,
(2) Os traços visíveis da fala são os optolale- e para tomar ditado por leitura orofacial visual.
mas, que são processados na leitura orofa- Os erros de leitura e de escrita são chamados
cial visual por surdos videntes, e também de paralexias e paragrafias, respectivamente.
por ouvintes, que fazem uso da leitura Capovilla e colaboradores17,18,35-39 analisaram os
orofacial por visão para suplementar a erros de leitura e escrita em surdos. Os estudos
audição em casos de escuta dificultosa, analisaram leitura enquanto comportamento
como numa sala ruidosa. Crianças com de escolher palavras escritas para nomear
dificuldade de leitura e escrita também se figuras37,40; e escrita enquanto nomeação de
beneficiam da leitura orofacial em auxílio figuras por escrita de palavras à mão livre35.

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Esses estudos revelaram os principais processos (TNF-Escrita). baseadas na semelhança


cognitivos envolvidos na leitura e na escrita de entre os sinais subjacentes (entre o sinal
crianças surdas videntes. Os autores identifica- subjacente à figura a ser nomeada e o
ram dois tipos básicos de erros: sinal subjacente à escrita que acabou
(1) Paralexias e paragrafias sematossêmicas, sendo produzida para nomeá-lo);
que são trocas na leitura e escrita com (2) Paragrafias optolálicas, baseadas na
base na semelhança entre os sinais sub- semelhança entre a articulação da fala
jacentes; e (a fala que nomeia a figura e a fala que
(2) Paralexias e paragrafias optolalêmicas, corresponde à palavra que acabou sendo
que são trocas na leitura e escrita com escrita).
base na semelhança entre as unidades Para avaliar leitura e analisar os erros de lei-
da fala visíveis (optolalemas). tura (paralexias), os autores avaliaram a habili-
Os autores solicitaram que as crianças no- dade de nomear outras 72 figuras por escolha de
meassem 144 figuras, 72 das quais deveriam ser palavra escrita, no teste de nomeação de figuras
nomeadas por escrita à mão livre, e as demais 72 por escolha (TNF-Escolha). Algumas palavras
figuras deveriam ser nomeadas por escolha da oferecidas como opção de escolha tendiam a
palavra escrita correspondente à figura. O pri- induzir erros com base na imaginação visual
meiro teste é de escrita; o segundo é de leitura.
da fala; outras palavras oferecidas como opção
Os autores analisaram os erros de leitura (pa-
de escolha tendiam a induzir a erros com base
ralexias) e de escrita (paragrafias) como função
na semelhança entre os sinais subjacentes. Os
do processo cognitivo subjacente:
erros cometidos pela criança, ao escolher dentre
(1) O processo sematosêmico foi revelado
algumas palavras para dar nome a uma dada
pelo efeito da semelhança entre o sinal
figura, foram divididos em:
da Libras subjacente à figura e o sinal
(1) Paralexias sematósicas, baseadas na seme-
subjacente à palavra que acabou sendo
lhança entre os sinais subjacentes (entre o
escrita ou escolhida. Por exemplo, escre-
sinal subjacente à figura a ser nomeada,
ver ou escolher a palavra escrita “café”
e o sinal subjacente à palavra escrita que
e em presença da figura de uma peteca.
(2) O processo optolálico foi revelado pelo acabou sendo escolhida para nomeá-lo);
efeito da semelhança entre as articu- (2) Paralexias optolálicas, baseadas na se-
lações da fala visíveis na imaginação: melhança entre as articulações da fala (a
aquela subjacente à figura e aquela sub- articulação da fala que nomeia a figura e a
jacente à palavra que acabou sendo es- articulação da fala que corresponde à pa-
crita ou escolhida. Por exemplo, escrever lavra escrita que acabou sendo escolhida).
ou escolher as palavras escritas “vila” e Os autores documentaram os dois tipos de
“foto” e em presença das figuras de uma paralexias e de paragrafias.
fila e de um voto. (1) Em termos de paragrafias sematosêmicas,
Para avaliar escrita e analisar os erros de eles descobriram que, quando a criança
escrita (paragrafias), os autores avaliaram a não sabe o nome em Português de uma
habilidade de nomear 72 figuras por escrita à dada figura, ela acaba escrevendo outra
mão livre, no teste de nomeação de figuras por palavra aparentemente inusitada, mas
escrita (TNF-Escrita). ancorada na sinalização subjacente. Por
Os erros cometidos pela criança ao escrever exemplo, ao ver a figura de uma peteca
à mão livre a palavra que corresponde ao nome e ter de escrever o nome “peteca”, a
de uma dada figura foram divididos em: criança surda, cuja L1 é Libras, primeiro
(1) Paragrafias sematósicas, baseadas na nomeia a figura em Libras, evocando o
semelhança entre os sinais subjacentes sinal a ela correspondente. Em seguida,

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essa criança usa esse sinal para tentar produzindo paragrafias optolalêmicas. A
resgatar a palavra escrita correspondente. origem das paragrafias optolalêmicas é
Como essa palavra (“peteca”) é bastante que os optolalemas são iguais à visão. Por
incomum no Português escrito (de fato, exemplo, os optolalemas velares {\k\} e
sua frequência média anual em base de {\g\} são homoscópicos, ou seja {\k\} = {\g\}.
dados como o Google AdWords é baixís- Assim, o surdo é incapaz de distinguir en-
sima), a criança não consegue resgatar a tre as palavras faladas “calo” e “galo”. O
representação ortográfica dessa palavra mesmo ocorre entre os optolalemas {\f\}
de sua memória de longo prazo (léxico = {\v\}, {\t\} = {\d\}, {\p\}= {\b\} = {\m\},
ortográfico). Ela, então, usa o seu sinal de {\ʒ\} = {\ʃ\}. Por isso, o surdo é incapaz de
Libras como ponto de apoio para procurar, distinguir entre as palavras faladas “foto”
em sua memória, palavras escritas cujo e “voto”; “teto” e “dedo”; entre “pico”,
sinal é semelhante ao sinal peteca. Mui- “bico” e “mico”; entre “chato” e “jato”,
tas crianças surdas acabam escrevendo, e assim por diante. Na escrita dos nomes
então, a palavra “café” para designar a de figuras, o surdo imagina visualmente
figura de peteca, uma vez que a forma do as palavras faladas sendo articuladas em
sinal café é muito parecido com o sinal sua mente. Como aquelas unidades da fala
peteca. No sinal peteca, uma mão simula
visível (optolalemas) são indistinguíveis
segurar algo cilíndrico como o corpo de entre si, eles tendem a cometer trocas
uma peteca no ar defronte o corpo, e a na escrita. Essas trocas são chamadas de
outra mão, espalmada, vem por baixo e paragrafias optolalêmicas. Elas são muito
simula bater na peteca, então, que sobe fáceis de documentar quando a pessoa
levemente. Já no sinal café, uma mão
com deficiência auditiva ou o surdo orali-
simula segurar algo cilíndrico como uma
zado está escrevendo sob ditado a fala lida
xícara de café no ar defronte o corpo, e
orofacialmente por visão.
a outra mão, espalmada, dá apoio por
baixo da primeira mão, como se fosse
ALFABETIZAÇÃO FÔNICA-OTOLÁLICA
o pires daquela xícara. Ao testar 5.200
PARA ENSINO DE LEITURA E ESCRITA
alunos surdos num teste de nomeação
de 72 figuras, Capovilla e colaboradores A OUVINTES
documentaram várias centenas desses Ensino de escrita a ouvintes
erros, mostrando que semelhança entre Conforme Capovilla17,18, na Alfabetização Fô-
os sinais subjacentes é a única explicação nica-Otolálica para ouvintes, a criança apren­de a
possível para esse tipo de erro, que revela escrever por cifragem de fonemas-otolalemas em
a importância da Libras para o pensar e grafemas. Para facilitar esse ensino, Capovilla17,18
o escrever e o ler da criança com surdez mapeou todas as relações entre fonemas e gra-
congênita bilateral profunda. femas da Língua Portuguesa. Esse levantamento
(2) Em termos de paragrafias optolalêmicas, descobriu todas as formas de cifrar (i.e., grafar)
eles descobriram que, na escrita para no- cada fonema, e as organizou uma hierarquia que
mear 144 figuras, as 5.200 crianças tendem vai das mais comuns (as dominantes) às mais
a trocar os grafemas com base na seme- raras (as recessivas). Por exemplo, o fonema /k/
lhança da articulação visível da fala. Por pode ser cifrado de sete formas: “c” (em “calor”),
exemplo, embora os fonemas-otolalemas “qu” (“querido”), “q” (“quadro”), “k” (“kart”),
[\k\] e [\g\] velares sejam distintos à au- “ck” (“lamarckista”), “ch” (“chroma”), “cqu”
dição, como o surdo não ouve, e tem de (“hecquéria”). As três formas mais dominantes
fazer leitura orofacial visual, a semelhança são “c”, “qu”, “q”; e as três formas mais re­
visual entre optolalemas diferentes acaba cessivas são “ck”, “ch”, e “cqu”.

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Capovilla FC

Ao errar na escrita, a criança alfabetizanda o Grau de Facilidade de Escrita da Palavra


quase sempre vai acabar omitindo ou grafando (GFEP) pela rota perilexical (i.e., fonológica, de
incorretamente os grafemas que são recessivos cifragem fonema-grafema) durante a alfabeti-
(raros, os últimos) para aquele fonema. Mais zação. Quando a professora alfabetizadora pre-
frequentemente, ela vai tender a grafar (cifrar) para uma lista de palavras faladas para escrita
um grafema dominante (comum) no lugar do sob ditado, ela pode saber exatamente qual é o
grafema alvo recessivo. Portanto, na escrita sob grau de facilidade de escrita de cada uma delas.
ditado, a criança tenderá a cifrar “lamarckista” Ao corrigir as provas, a professora verá que as
e “hec­quéria” com “qu”, e “chroma” com “c”. crianças erram mais na escrita das palavras
Isso porque “ch” é recessivo e “c” é dominante; que têm menor GFEP. Além disso, a professora
e, porque “qu” é dominante, ao passo que “ck” verá que, dentro de qualquer palavra, as trocas
e “cqu” são recessivos. Fica evidente, aqui, que de escrita que as crianças cometem tendem a
além da escrita por cifragem intuitiva, baseada envolver a troca de um grafema com baixo GFC
nos grafemas que são mais comuns para cifrar por outro com alto GFC. Isso é importante para
cada fonema, a escrita envolve regras grama- o ensino da escrita sob ditado, pois as relações
ticais de posição32,41,42, que permitem escolher fonema-grafema com menor GFC são as que
requerem mais atenção. Os dados de Capovilla
os melhores grafemas para cifrar os mesmos
et al.45 corroboram a eficácia desse modelo em
fonemas, dependendo da relação entre ele e
prever os erros de escrita de crianças durante
os grafemas antecedente e subsequente. Por
a fase de alfabetização, bem como de adultos
exemplo: na leitura, o grafema “c” é pronun-
ao escrever palavras de muito baixa frequência
ciado como /s/ quando precede as consoantes
no Português. Isso ocorre porque nesses dois
“e”, e “i”; e como /k/ quando precede as con-
casos a escrita se dá por cifragem de fonemas
soantes “a”, “o” e “u”. Igualmente, na leitura,
em grafemas.
o grafema “s”, em posição intervocálica, é
pronunciado como /z/. Ainda na leitura, o “i”
Ensino de leitura a ouvintes
e o “u” em posição final em sílaba simples CV
Para ouvintes, essa Alfabetização Fônica-Oto­
são pronunciados de maneira tônica, como em
lálica ensina a ler por decifragem de grafe-
“saci”, “rubi”, “jacu” e “pacu”. Na escrita, as
mas em fonemas. Para facilitar esse ensino,
palavras paroxítonas são acen­tua­das, desde
Capovilla17,18 mapeou todas as relações entre
que terminadas em sílaba simples CV em “i”
grafemas e fonemas da Língua Portuguesa.
ou “u”. Por exemplo, “cáqui” e “biquíni”43. Tais Esse levantamento descobriu todas as formas
regras gramaticais auxiliam a criança a produzir de pronunciar cada grafema, e as organizou
leitura em voz alta precisa (ortoépica) e escrita numa hierarquia que vai das mais comuns (as
sob ditado precisa (ortográfica). dominantes) às mais raras (as recessivas). Por
Voltando à intuição de escrita41,44, o levanta­ exemplo, um determinado grafema usualmente
mento de Capovilla et al.45 permite prever a pode ser pronunciado de várias formas, havendo
probabilidade de erro de escrita (paragrafia) de uma mais dominante e outra mais recessiva.
cada fonema durante a atividade de escrita sob Ao errar na pronúncia, a criança alfabetizanda
ditado de qualquer palavra falada do Português. quase sempre vai errar na pronúncia dos fo-
A explicação é muito simples: Na escrita sob nemas que são recessivos (raros) para aquele
ditado de uma dada palavra falada, de modo a grafema. Além disso, ela vai tender a pronunciar
poder produzir a correspondente palavra escri- um fonema dominante (comum) no lugar do
ta, a criança vai convertendo cada fonema no recessivo. Esse levantamento permite prever a
grafema correspondente. Cada uma dessas con- probabilidade de erro de pronúncia (paralexia)
versões tem um Grau de Facilidade de Cifragem de cada grafema na leitura em voz alta de qual-
(GFC). A média aritmética desses GFC constitui quer palavra escrita do Português.

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Por um PNA capaz de respeitar diferenças de língua e biológicas

A explicação é muito simples: Na leitura em optolalemas em grafemas. A prevalência desse


voz alta de uma dada palavra escrita, de modo modo de leitura e escrita é alta nas pessoas com
a produzir a correspondente palavra falada, a DA, já que elas têm o Português como L1. Já nas
criança vai convertendo cada grafema no fonema pessoas surdas, ela é bem menor, já que elas têm
correspondente. Cada uma dessas conversões a Libras como L1 e o Português como L2. Essas
tem um Grau de Facilidade de Decifragem crianças surdas videntes precisam da soletração
(GFD). A média aritmética desses GFD consti- digital como base para poder proceder à análise
tui o Grau de Facilidade de Leitura da Palavra das palavras escritas.
(GFLP) pela rota perilexical (i.e., fonológica, de Primeiramente, elas aprendem a converter
decifragem grafema-fonema) durante a alfa- as letras (ainda não os grafemas) nas corres-
betização. Quando a professora alfabetizadora pondentes formas da mão da soletração digital.
prepara uma lista de palavras escritas para Subsequentemente, elas aprendem a identificar
leitura em voz alta, ela pode saber exatamen- os dígrafos e os trígrafos e os ditongos e os tri-
te qual é o grau de dificuldade de leitura de tongos. Neste ponto elas começam a identificar
cada uma delas. Ao verificar o desempenho da os grafemas, que são, para essas pessoas surdas
criança, a professora verá que as crianças erram videntes, unidades de escrita que mapeiam
mais na leitura das palavras escritas que têm unidades de fala visível. Isto possibilita ati-
menor GFLP. A professora verá que, dentro de var o léxico optolálico, ou seja, o vocabulário
qualquer palavra, as trocas de pronúncia que de palavras faladas identificáveis por leitura
as crianças cometem tendem a envolver a troca orofacial visual. Finalmente, as pessoas surdas
de pronúncia de um fonema com baixo GFD por congênitas necessitarão de usar a escrita para
outro com alto GFD. Isso é importante para o evocar os sinais, uma vez que o surdo só será
ensino da leitura em voz alta, pois as relações capaz de compreender uma palavra escrita
fonema-grafema com menor GFC são as que se, antes, convertê-la no sinal correspondente
requerem mais atenção. de sua L1. E ele só será capaz de começar a
escrever se partir do sinal que representa o
ALFABETIZAÇÃO OPTOLÁLICA PARA que ele quer dizer. Capovilla17,18 explica como
ENSINO DE LEITURA E ESCRITA A CRIAN- se dá a conexão entre o léxico de sinais, tanto
ÇAS VIDENTES COM DA E SURDEZ o expressivo, que permite evocar o sinal em
O presente Alfabetização Optolálica consti- presença de uma figura; quanto o receptivo,
tui extensão do tradicional modelo de Campbell que permite compreender o significado de um
e colaboradores46-49 para explicar leitura e es- sinal, possibilitando escolher dentre figuras em
crita em pessoas videntes com DA, e os surdos presença de sinais. A presente seção se dedica
videntes oralizados. Segundo esse modelo, ao princípio fonotático.
essas pessoas leem identificando, nas palavras
escritas, as unidades de escrita (grafemas) que Ensino de escrita a crianças videntes com
mapeiam as unidades da fala visível. Capovilla DA e surdez
denominou essas unidades de optolalemas32,33. A Alfabetização Optolálica ensina a escrever
Na leitura elas imaginam visualmente as formas por cifragem de optolalemas em grafemas. Para
de boca correspondentes a cada grafema. Essa facilitar esse ensino, Capovilla17,18 mapeou todas
decifragem de grafemas em optolalemas acaba as relações entre optolalemas e grafemas da
por compor uma sequência de articulações vi- Língua Portuguesa. Esse levantamento desco-
sualizadas mentalmente. Igualmente na escrita briu todas as formas de cifrar (i.e., grafar) cada
essas pessoas evocam na imaginação visual os optolalema, e as organizou numa hierarquia
segmentos da fala correspondentes às palavras que vai das formas mais comuns (as dominan-
que querem escrever, e vão convertendo os tes) às mais raras (as recessivas). Por exemplo,

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o optolalema {\k\=\g\} pode ser cifrado de dez Ensino de leitura a crianças videntes com
formas: “c”, “g”, “qu”, “q”, “gu”, “k”, “ck”, DA e surdez
“ch”, “gh”, “cqu”. Os cinco mais dominantes A Alfabetização Optolálica ensina a ler por
são: “c”, “g”, “qu”, “q”, “gu”. Os cinco mais decifragem de grafemas em optolalemas. O pro-
recessivos são: “k”, “ck”, “ch”, “gh”, “cqu”. cesso é paralelo àquele aqui exposto. Por falta
Ao errar na escrita, as crianças com deficiência de espaço não poderá ser descrito em detalhes.
auditiva e as crianças surdas oralizadas quase
sempre vão errar nos grafemas que são recessi- PANDESB: PROGRAMA DE AVALIAÇÃO
vos (raros) para aquele optolalema. Além disso, NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO DO
elas vão tender a grafar (cifrar) um grafema ESCOLAR SURDO BRASILEIRO
dominante (comum) no lugar do recessivo. Por Para descobrir sob que circunstância a
exemplo, elas vão tender a escrever trocar “g”
criança surda aprende mais e melhor, Capo-
por “c” porque, segundo Capovilla e colabora-
villa e colaboradores17,18,50-55 criaram o Pandesb.
dores, a frequência do grafema “c” é três vezes
Trata-se de um programa de avaliação do de-
maior que a do “g” para cifrar o optolalema
senvolvimento da linguagem oral, escrita e de
{\k\=\g\}. Esse levantamento permite prever a
sinais do escolar surdo brasileiro. O programa
probabilidade de erro de escrita (paragrafia) de
foi financiado pelo Observatório da Educação,
cada optolalema na escrita sob ditado orofacial
num consórcio entre a Capes e INEP. Ao longo
visual de qualquer palavra falada do Português.
de 16 anos, de 2001 a 2017, o Pandesb examinou
A explicação para isso é simples: Na escrita
as competências linguísticas e metalinguísticas
sob ditado de uma dada palavra lida orofacial-
de 9.200 estudantes surdos brasileiros do 1º ano
mente por visão, de modo a poder produzir
do ensino fundamental até o ensino superior
a correspondente palavra escrita, a criança
de 15 estados brasileiros, representando todas
vai convertendo cada optolalema no grafema
as regiões geográficas do Brasil. Cada um dos
correspondente. Cada uma dessas conversões
9.200 estudantes surdos foi examinado durante
tem um Grau de Facilidade de Cifragem da
Fala Vista (GFCfv). A média aritmética desses 26 horas em diversas baterias de testes estan-
GFCfv constitui o Grau de Facilidade de Escrita dardizados que avaliam diversas competências,
da Palavra (GFEP) por Leitura Orofacial Visual como leitura alfabética e orofacial, compreensão
(LOV) (i.e., GFEP-LOV) pela rota perilexical de leitura de textos, vocabulário de escrita e
(i.e., de cifragem optolalema-grafema) durante qualidade ortográfica da escrita, vocabulário
a alfabetização. Quando a professora alfabeti- em Libras, dentre outras. Sub-amostras foram
zadora prepara uma lista de palavras faladas também avaliadas na Prova Brasil adaptada em
para escrita sob ditado por leitura orofacial vi- Libras, na competência de Leitura Orofacial em
sual, ela pode saber exatamente qual é o grau Português, e no Vocabulário de Leitura Orofa-
de facilidade de escrita de cada uma delas. cial do Português.
Ao corrigir as provas, a professora verá que as O estudo analisou o desenvolvimento de
crianças videntes com DA e surdez erram mais linguagem em crianças surdas como função
na escrita das palavras que têm menor GFEP-­ das características do estudante, da alocação
LOV. Além disso, a professora verá que, dentro escolar, e da língua de ensino, tendo como co-
de qualquer palavra, as trocas de escrita que as variantes fatores como o ano escolar e a idade
crianças cometem tendem a envolver a troca de cronológica. O desenvolvimento da linguagem
um grafema com baixo GFCfv por outro com considerou especialmente os escores de de-
alto GFCfv. Isso é importante para o ensino da codificação e reconhecimento de palavras, de
escrita sob ditado orofacial visual, pois as rela- compreensão de texto, e de vocabulário em
ções optolalema-grafema com menor GFCfv são Libras. As características do estudante incluíam
as que requerem mais atenção. a idade e o grau de perda auditiva. A alocação

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escolar comparou as escolas bilíngues especiais àquelas unidades da fala visível. Ou


com as escolas monolíngues comuns. A língua seja, a criança só consegue fazer leitura
de ensino comparou o Português apenas com a orofacial quando faz leitura alfabética.
conjunção entre a Libras e o Português. Tais achados corroboram aqueles encon-
Os resultados mostraram que os estudantes trados com crianças ouvintes do Ensino
surdos aprendem mais e melhor em escolas Infantil, de 3 a 6 anos. De fato, Capovilla e
bilíngues (escolas especiais que ensinam em Graton-Santos59,60 revelaram que crianças
Libras e Português) do que em escolas mo- ouvintes não fazem leitura orofacial até
nolíngues (escolas comuns que ensinam em que estejam alfabetizadas.
Português apenas). De fato, competências como (3) Os estudantes surdos começam a compre-
decodificação de palavras e reconhecimento ender textos usualmente no 4o ano (aos
de palavras, compreensão de leitura de textos, 9 anos de idade). Eles começam a exibir
vocabulário em Libras, dentre outras, foram sig- compreensão de leitura de textos acima
nificativamente superiores em escolas bilíngues do nível do acaso no 4o ano.
que em escolas comuns. (4) À medida que os estudantes surdos come-
Mais precisamente, os resultados revelaram çam a compreender textos escritos, eles
uma interação significativa entre tipo de estu- começam a compreender a fala por leitura
dante e tipo de escola. A alocação, pelo critério orofacial. Eles começam a compreender
inclusivo, na escola comum, é mais adequada Português por leitura orofacial apenas
para estudantes com deficiência auditiva, ao quando começam a compreender textos
passo que a alocação, pelo critério linguístico, escritos.
na escola bilíngue é mais adequada para a Tais dados sugerem que é incorreto impor
criança surda (i.e., aquela cuja língua materna uma política inclusivista, que remove as crian-
é a Libras). ças surdas de sua escola bilíngue e as realoca
Esse mesmo programa de pesquisas revelou em escolas comuns com professores ainda
o seguinte conjunto de achados: incapazes de compreendê-las e ensiná-las em
(1) Estudantes surdos começam adquirindo sua língua.
leitura-escrita no 4o ano (aos 9 anos de Os resultados sugerem que a expectativa de
idade). Apenas no 4o ano eles começam que as crianças pré-alfabetizadas possam vir
a exibir, em nível acima do acerto casual, a fazer uso da leitura orofacial para aprender
competências decodificação de palavras a ler e escrever não é realista, e pode levar ao
e reconhecimento visual de palavras. fracasso dessas crianças.
(2) À medida que os estudantes surdos come- A leitura orofacial não se desenvolve apar-
çam a decodificar e compreender as pala- tada da alfabetização, a menos que a criança
vras na escrita alfabética, eles começam a surda receba ajuda profissional especializada
decodificar e compreender a fala por meio intensiva, baseada em métodos comprovada-
de leitura orofacial. Eles começam a de- mente eficazes, fora do contexto escolar. De
codificar e reconhecer a fala por meio de outro modo, antes de estar aptas a fazer leitura
leitura orofacial apenas quando começam orofacial, as crianças surdas terão de adquirir
a decodificar e reconhecer a escrita na a competência de leitura-escrita alfabética. E
leitura alfabética. Ou seja, a habilidade de os dados desse estudo mostram que elas se al-
processar as unidades de fala visível para fabetizam mais e melhor em escolas bilíngues
poder compreender a fala por leitura oro- especiais, cujo ensino é ministrado em Língua
facial visual56-58 só emerge com a aquisição de Sinais Brasileira, do que em escolas comuns.
da habilidade de processar grafemas como Como essas crianças surdas de escola pública
unidades de escrita correspondentes são alfabetizadas mais facilmente em escolas

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bilíngues do que em escolas comuns, fica claro da 1a série (2o ano). No estudo, a Prova Brasil foi
que a tentativa de removê-las da escola bilíngue adaptada em Libras, gerando a Prova Brasil em
antes que possam se alfabetizar seria contrapro- Libras. Ela é composta de 28 itens, cada qual
ducente e danosa. com quatro alternativas. Nesse estudo, ela foi
Os dados sugerem que as crianças surdas de aplicada a alunos surdos do 2o ano (i.e., 7 anos
escola pública só devem ser alocadas em turno de idade) ao 5o ano (i.e., 10 anos de idade), jun-
principal de escolas comuns depois que tenham tamente com testes de vocabulário em Libras,
tido a chance de adquirir competência de leitura nomeação de figuras por escrita, compreensão
e escrita em turno principal na escola bilíngue. de leitura de sentenças, e decodificação e
A análise dos prontuários desses 5.600 alu- reconhecimento de palavras. O objetivo era
nos surdos revela que 95% deles nascem em descobrir quais são as competências que mais
lares ouvintes. São crianças cujos pais desco- contribuem para o desempenho de leitura na
nhecem Libras. Portanto, essas crianças surdas Prova Brasil em Libras.
necessitam de escolas bilíngues para que pos- Os achados mostram que os escores de lei-
sam aprender Libras. Se elas forem privadas tura aumentaram significativamente, de ano
de Libras, de nada adiantará prover intérpretes a ano. Os escores de leitura aumentaram do
de Libras (TILS) porque elas simplesmente 2o ano (10 pontos) ao 3o ano (15 pontos); do 3o ao
não terão aprendido Libras o suficiente para 4o ano (19 pontos); e daí para o 5o ano (22 pon-
compreender esse intérprete. A escola bilíngue tos). Como a Prova Brasil em Libras tem 28 itens,
constitui uma comunidade linguística sinali- com quatro alternativas cada um, a pontuação
zadora, que é o contexto ideal para a criança casual é de 7 acertos. A pontuação se destacou
adquirir Libras. É importante que essa aquisição do nível de acerto casual já no 2o ano, e cresceu
seja precoce. Estudos de plasticidade neural61 de ano a ano, até o 5o ano. Isso permitiu norma-
sugerem que, quanto mais cedo ocorrer o acesso tizar a Prova Brasil em Libras como prova válida
a língua de sinais, maior será o desempenho para avaliar rendimento escolar de surdos do
escolar da criança. 2o ao 5o ano. A Prova Brasil em Libras, valida-
Evidência ulterior sugestiva da importância da e normatizada para o alunado surdo, torna
da língua de sinais para a alfabetização e o possível sondar que competências cognitivas
desempenho de leitura de crianças surdas do poderiam estar relacionadas ao desempenho, de
ensino fundamental é dada pela Prova Brasil modo a descobrir como melhorar o desempenho
adaptada em Libras, que foi administrada a uma na Prova Brasil em Libras, consequentemente, o
subamostra dos alunos avaliados no Pandesb. rendimento escolar dos surdos. A competência
A Prova Brasil faz parte da avaliação nacional que mais contribuiu para o bom desempenho na
de leitura em Português destinada a estudantes Prova Brasil em Libras foi o escore em Libras54.

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Por um PNA capaz de respeitar diferenças de língua e biológicas

SUMMARY
Towards a National Literacy Policy in tune with language
and biological specificities

This paper makes an appreciation of important aspects that a National


Literacy Plan needs to include and proposes the concept of this plan
from the spirit of the two policies in its application to the deaf, blind and
deafblind, and from recent literature on linguistic structure and processing
in Libras (Brazilian Sign Language) and Portuguese. The literature is
considered in a perspective of Cognitive Neuroscience of Oral and Written
Language (with a focus on spoken Portuguese in auditory, visual and
tactile modalities) and Signs (with a focus on visual and tactile Libras), in
an information processing approach.

KEYWORDS: Public Policy. Literacy. Deaf. Brazilian Sign Language.

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Trabalho realizado no Instituto de Psicologia da Uni­ Artigo recebido: 22/5/2020


versidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Aprovado: 25/6/2020
Conflito de interesses: O autor declara não haver.
Apoio: Observatório da Educação (Capes-Inep).

Rev. Psicopedagogia 2020; 37(113): 208-24

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