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CoNQQLSTADORES
Como Portugal forjou o primeiro império global
TRADUÇÃO
HELENA LONDRES
CRÍTICA
Copyright O Roger Crowiey, 2015
Copyright mapas & András Bereznay
Copytighr & Editora Planeta do Brasil, 2016
Todos os direitos reservados.
Título original: Conguerors
0958
Crowley, Roger
Conquistadores : come Portugal forjou o primeiro império global / Roger
Crowley ; tradução Helena Londres. - 1. ed. - São Paulo : Planeta, 2016.
2018
Todos os direitos desta edição reservados à
EDITORA PLANETA DO BRASIL LTDA.
Rua Padre João Manoel, 100 — 21º andar
Ed. Horsa II — Cerqueira César
01411-000 — São Paulo — SP
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EPÍLOGO
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E lá vimos o Preste João sentado numa plataforma de seis de-
graus, muito ricamente adornado. Ele tinha na cabeça uma co-
“roa alta de ouro e prata, [...] e uma cruz de prata na mão. [...] O
Preste estava vestido numa rica túnica de brocado, e camisa de
seda de mangas largas, [...] de seus joelhos para baixo tinha um
rico pano bem estendido como o avental de um bispo, e ele es-
tava sentado como eles pintaram Deus o Pai na parede. [...] Em
idade, pele e estatura, ele é um homem jovem, não muito mo-
reno, [...] um homem elegante, de estatura média, disseram que
ele tinha 23 anos, e parece ter isso, seu rosto é redondo, os olhos
são grandes, o nariz alto no meio, e sua barba está começando
a crescer. Em sua presença e estado, ele parece plenamente o
grande senhor que é. Estávamos à distância de duas lanças dele.
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“O reino do Preste João num mapa português do século XVI.
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Quando as notícias do Preste João alcançaram Manuel, na pri-
mavera seguinte, ele despachou uma carta de júbilo ao papa. Em
junho de 1521, o rei publicamente declarou que a destruição de
Meca e a retomada de Jerusalém estavam à vista. No entanto, a ver-
dade era outra. Manuel não sabia que, por mais impressionante que
Dawit TI fosse em pessoa, ele não era o rei que conquistava tudo, cuja
imagem dourada fora estampada em mapas medievais. De perto, era
óbvio que os etíopes não estavam em posição militar ou econômica
de lançar qualquer ataque ao mundo islâmico; ao contrário, estavam
cercados por inimigos islâmicos. Quando Dawit foi morto lutando,
em 1540, foi uma expedição heroica de quatrocentos voluntários
portugueses que salvaram a Etiópia cristã. Do mesmo jeito que a
gradual revelação da face do real Preste, o primeiro século de desco-
bertas portuguesas viu um sucessivo desnudamento das camadas de
mitologia medieval a respeito do mundo e da sabedoria recebida de
autoridades antigas — as histórias de homens com cabeça de cachorro
e aves que conseguiam engolir elefantes —, pelas observações empíri-
cas da geografia, clima, história natural e culturas que se introduzi-
ram no início da Idade Moderna.
Manuel morreu em dezembro de 1521. Embora ninguém sou-
besse na época, seus planos de cruzada vacilaram anos antes com
o fracasso de Afonso de Albuquerque nos muros de Áden, as esca-
das quebradas como tiros fatais de pistola, e depois com a demissão
e a morte do governador. Ele foi substituído, por sua vez, por três
homens desajeitados e tímidos, nenhum deles abençoado com seu
bom-senso estratégico. Lopo Soares de Albergaria, equipado com
uma frota enorme, na verdade recusou a oferta do xeique para cons-
truir um forte em Áden porque não estava em suas ordens, depois
falhou num ataque a Jidá — “A tragédia mais triste e miserável de
todos os tempos”, foi o veredito de João de Barros. “Nem antes, nem
depois se viu qualquer coisa parecida, uma vasta frota apenas desa-
parecendo sem lutar” Albergaria fez pior: ele voltou o relógio para
trás, abolindo os bandos treinados em favor dos fidalgos, relaxando
a proibição ao comércio privado — que tinha sido o núcleo da briga
de Afonso com seus oponentes na Índia — e favorecendo o interesse
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de homens, muitas vezes em desesperada inferioridade numérica,
lutaram com um espírito que desafiava todas as probabilidades.
Mesmo um maciço ataque a Goa e Chaul nos anos 1570-1571 mor-
reu nas muralhas. Os francos não podiam ser deslocados. Goa, “a
Roma do Leste”, justificou a visão estratégica de Afonso. Permane-
ceria colônia portuguesa durante quatrocentos anos, pátria de uma
notável cultura mista.
Em tempo, a pressão contrária do Império Otomano tornou
o bloqueio econômico do mar Vermelho impossível de se manter.
Daí em diante, o comércio de especiarias passaria a ser comparti-
lhado entre Cairo e Lisboa. Os portugueses efetivamente aumen-
taram o mercado: o consumo de especiarias na Europa duplicou
durante o século XVI. Para as possessões portuguesas de além-mar,
o comércio no oceano Índico e nos mares se tornou tão importante
quanto o da própria terra natal, e a expansão portuguesa, agora
aumentando nas mãos de comerciantes privados, alcançou os ma-
res para além de Malaca — chegando até as ilhas das especiarias, à
China e ao Japão.
Assim como em todas as aventuras imperiais, os julgamentos da
história têm sido ambíguos. Afonso de Albuquerque, apesar de sua
ferocidade, aderiu a um robusto ideal de justiça. Ele era muito realis-
ta a respeito dos riscos e das consequências da aventura portuguesa.
Ao supervisionar as muralhas de Ormuz, ele declarara:
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armas de fogo e pão para o Japão, astrolábios e vagens verdes para
a China, escravos africanos para a América, chá para a Inglaterra,
pimenta-do-reino para o Novo Mundo, seda chinesa e remédios
indianos para a Europa inteira, e um elefante para o papa. Pela
primeira vez, povos de cantos opostos do planeta podiam ver uns
aos outros — eram tema de descrição e admiração. Pintores japo-
neses imaginaram visitantes estranhos com enormes calças em for-
ma de balão. e chapéus coloridos. Os cingaleses ficaram perplexos
com sua agitação endêmica e seus hábitos alimentares, declarando
que os portugueses são um “povo muito branco e bonito, que usa
chapéus e botas de ferro, e nunca para num lugar. Eles comem
um tipo de pedra branca e bebem sangue”. Essas imagens, impres-
sões e intercâmbio deixaram uma influência enorme e duradoura
na cultura, alimentação, flora, arte, história, línguas e genes do
planeta. Além disso, eles marcaram o início de quinhentos anos
de dominação pelo Ocidente que só agora começa a reverter; em
seu rastro, navios de contêineres com vários andares navegam pe-
los oceanos, voltando com artigos manufaturados do Oriente. A
China projeta novas formas de soft power pelo oceano Índico e no
coração da África.
Em Belém, hoje, próximo à tumba de Vasco da Gama, à es-
tátua do melancólico Afonso de Albuquerque e ao litoral de onde
os portugueses partitam, há uma venerável confeitaria e um café, a
Antiga Confeitaria de Belém. Talvez seja um santuário para as in-
Huências mais benignas da aventura global de Portugal. As pessoas
vão até lá aos bandos para comer suas especialidades, os pastéis
de Belém, tortas de creme doce assadas até dourar e salpicadas de
canela, acompanhadas por notas de café preto como piche. Canela,
açúcar, café: os gostos do mundo desembarcados primeiro ali em
navios a vela.
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