Você está na página 1de 23

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/346028808

PRIMEIROS CONTATOS ENTRE NATIVOS E EUROPEUS – SÉCULO XVI:


Colonização portuguesa

Research · September 2008


DOI: 10.13140/RG.2.2.35597.77283

CITATIONS READS

0 636

1 author:

Jônatas Ferreira de Lima Souza


Federal University of Rio de Janeiro
76 PUBLICATIONS 4 CITATIONS

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Ateísmo na Antiguidade View project

Judeus na Literatura Clássica View project

All content following this page was uploaded by Jônatas Ferreira de Lima Souza on 20 November 2020.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


JÔNATAS FERREIRA DE LIMA

PRIMEIROS CONTATOS ENTRE NATIVOS E


EUROPEUS – SÉCULO XVI:
Colonização portuguesa

Texto apresentado ao curso de História da


Universidade Federal do RN (UFRN),
como requisito de obtenção de nota
máxima na Unidade I da disciplina de
História Indígena do Brasil

Orientadora: Prof. Fátima Martins Lopes

NATAL/RN
2008
2

A espada, a cruz e a fome iam dizimando a família selvagem.

(Pablo Neruda)
3

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................4

1 A MOTIVAÇÃO PORTUGUESA E AS “NOVAS TERRAS”............................. 5

2 O QUE OS PORTUGUESES ENCONTRARAM.................................................. 6

3 AS ORIGENS DOS INDIGENAS PARA OS


EUROPEUS .................................................................................................................. 8

4 ORIGEM DOS INDIGENAS NA AMÉRICA


DO SUL ......................................................................................................................... 10

5 QUEM ERAM OS ÍNDIGENAS


ENCONTRADOS PELOS PORTUGUESES ............................................................ 11

6 ADMINISTRAÇÃO PRÉ-COLONIAL .................................................................. 14

7 ADMINISTRAÇÃO COLONIAL E O
DECLÍNIO DO ESCAMBO........................................................................................ 15

8 ASCENSÃO DA ESCRAVIDÃO NEGRA ............................................................. 19

9 VISÃO INDÍGENA: DE ONDE


VIERAM OS EUROPEUS? .........................................................................................21

REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 22
4

INTRODUÇÃO

Os primeiros contatos entre nativos americanos e colonos europeus, sempre causaram,


desde sua “descoberta” até o presente momento, muita discussão. Discussões estas que
abordam temas, como as teorias de origens de ambos os lados; o que levou o europeu a
lançar-se aos grandes oceanos, bem como o que teria motivado povos antigos a migrarem para
as Américas; A opinião da Igreja e das ciências sobre o assunto, sem deixar de lado o senso
popular; a questão da escravidão desses povos, afinal, porque os índios eram tachados de
“preguiçosos”? É verdade que os negros gostavam de ser escravizados? Como se deu esse
processo de substituição dessa mão-de-obra?
Para essa discussão, autores como John Manuel Monteiro, Stuart Schwartz, Berta
Ribeiro e outros, junto com os cronistas da época, mas especificamente os do século XVI,
como Pero Vaz de Caminha e Pero de Magalhães Gândavo, terão espaço celebre no
desenvolvimento desse tema.
Vale lembrar que o principal objetivo desse texto não é trazer nenhuma verdade e
nenhuma conclusão definida sobre o tema abordado, mas sim apresentar um pouco de
conhecimento a ser debatido a nível de desenvolver a crítica de quem o ler e de quem o
escreve.
5

1 A MOTIVAÇÃO PORTUGUESA E AS “NOVAS TERRAS”

Imaginemos estarmos cientes de que apenas nós, seres humanos, somos única vida
“inteligente” no universo. Agora, pensemos na quebra dessa expectativa, dessa certeza.
Tendo refletido sobre isso, agora, viajemos ao século XV-XVI de nossa era. Por que
estes séculos? Século XV, na historiografia ocidental, é o período de transição entre a Idade
Média e a Idade Moderna, sendo no século XVI, melhor caracterizada. Este último século
apresentou uma “novidade” na Europa, as ditas “Grandes Navegações”, no entanto, não tão
diferentes das da Antiguidade Clássica, quando fenícios, gregos e romanos navegavam pelo
Mar Mediterrâneo, conquistando novas terras e comercializando novas especiarias. Essa tal
novidade, está no contexto em que passava a Europa nesse século. Todo esse movimento
iniciou com o Estado Português, que vendo a principal rota de comércio entre a Europa e
Oriente – o já dito, Mediterrâneo – “bloqueada” pelo monopolismo genovês, estudou
(principalmente), através da Escola de Sagres, novas rotas marítimas que os levassem de volta
ao Oriente.
Nesse momento, o mundo conhecido se restringia a Europa, Ásia e norte da África. O
que se definiu, foi que os portugueses navegariam em redores da costa africana (périplo), a
fim de chegar às índias. Porém no trajeto realizado pelo português Pedro Álvares Cabral
(1467-1520) e sua equipe, diz à historiografia que, um “desvio de rota” fez com que o mesmo
chegasse a uma terra que “não” estava prevista no roteiro de viajem português. Sabemos que
essas terras poderiam estar sim no plano de rota português, uma vez que em 1492, o italiano
Cristóvão Colombo (1451-1506), apoiado pelos reis Católicos espanhóis Fernando II de
Aragão e Isabel I de Castela, também em busca de novas rotas marítimas, navegou em “linha
reta” para o oeste da Europa e esbarrou com terras que o mesmo chamou de “Índias” e
pertencentes aos reis espanhóis.
Colombo realizou mais três viagens para essa “nova terra”, em 1493, 1498 e 1502.
Quando Cabral e sua equipe chegaram nessas “novas terras” foi em 1500, havendo assim uma
certa suspeita de que um “leve desvio” de rota os levariam a tais terras “encontradas” por
Colombo, bem como conferir a região estipulada pelo Tratado de Tordesilhas, assinado em
1494.
6

2 O QUE OS PORTUGUESES ENCONTRARAM

O escrivão Pero Vaz de Caminha (1450-1500), membro da equipe de Cabral,


encarregado de descrever essa “nova terra” ao rei de Portugal, Dom Manuel (o venturoso),
destaca em sua carta, os principais objetivos dessa armada portuguesa, dentre os quais a busca
pelo crescimento econômico nos ideais mercantilistas, a expansão dos ideais cristãos e a
afirmação de Estado português.
Vejamos alguns trechos dessa carta de Caminha, escrita nos primeiros dias de maio de
1500:

[...] Esta terra, Senhor, é muito chã e muito formosa. Nela não podemos
saber se haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal; porém, a terra em
si é de muitos bons ares [...] as águas são muito e infindas. Em tal maneira
(a terra) é grandiosa que, querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por causa
das águas que tem. Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece
que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa
Alteza nela deve lançar. E que não houvesse mais que ter aqui Vossa Alteza
esta pousada para a navegação [...], isso bastava. Mas ainda, disposição para
nela cumprir-se – e fazer – o que Vossa Alteza tanto desejava, a saber o
acrescentamento da nossa Santa Fé! [...], pois o desejo que tinha de tudo vos
dizer, mo fez por assim pelo miúdo. Beijo as mãos de Vossa Alteza. Desde
Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de
maio de 1500. (CAMINHA, Carta 1500)

Esse trecho da carta exemplifica o que já foi dito acima. Observemos uma descrição
espacial do meio, de certa forma, espantosa aos olhos dos europeus e também uma menção a
“gente” que estava nela habitando.

[...] Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que cobrisse suas vergonhas.
Nas mãos traziam arcos com suas setas. [...] Eles não lavravam, nem
criavam. Não há aqui boi nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem qualquer
outra animália, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão
desse inhame, que aqui há muito, e dessa semente de frutos, que a terra e as
árvores de si lançam [...]. (CAMINHA, Carta 1500)

Vemos aqui uma breve descrição dos seres “semelhantes à homens” que os
portugueses viram na costa dessa terra desconhecida ao mundo europeu. A posteriori serão
retomados. O cronista português Pero de Magalhães Gândavo, escrevendo em seu livro
“História da Província de Santa Cruz” – conhecida a posterior como Brasil – menciona sobre
esses “homens pardos”:
7

[...] A língua de que (os índios) usam, toda pela costa, é uma: ainda que em
certos vocábulos difere em algumas partes; mas não de maneira que se
deixem de entender. [...] Carecem de três letras, convém a saber, não se acha
nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não tem Fé,
nem Lei, nem Rei, e desta maneira vivem desordenadamente [...]
(GÂNDAVO, 1576).

Esses homens chamados índios, devido as primeiras intenções dessas expedições


marítimas em busca das rotas rumo as índias orientais, em principio foram o grande alvo de
discussões dos séculos que se seguiram. Bem como Gândavo mencionou, esses homens não
possuíam os fundamentos ocidentais, rei para governar com mãos fortes e poder absoluto, lei
para manter a ordem e a civilidade e ter a fé católica e seus valores. Mas também mostrava o
interesse dos europeus em conhecer toda essa gente.
No entanto, todo esse interesse é bem posterior a 1500. Como o principal objetivo
português era chegar às índias a nova terra foi, de certa forma, deixada em segundo plano.
Mas, segundo o historiador John Manuel Monteiro, em se tratando de tráfico de especiarias e
indígenas, nos registros da nau Bretoa, em 1511, apareciam dados referentes a cargas de pau-
brasil e de cerca de 35 cativos indígenas. Muitos desses cativos, ainda não relacionados com
escravidão, mas sim com a questão da curiosidade dos europeus, mais especificamente das
cortes européias. Devido a esse fato, dos portugueses terem deixado as terras por cerca de 30
anos, é um período de pouquíssimos documentos e esse da nau Bretoa, é um desses poucos.
Nesse intervalo, a nação européia que mais caminhou nessa terra de Vera Cruz foram os
franceses. Os franceses não aceitaram o Tratado de Tordesilhas, chegando a se estabelecer no
sul da parte portuguesa do tratado – posteriormente chamada de Rio de Janeiro – entre 1555-
1560.
8

3 AS ORIGENS DOS INDIGENAS PARA OS EUROPEUS

Em se tratando do período pós 1533, que foi quando os portugueses assumiram uma
administração na terra brasilis, iniciou-se as discussões a fim de saber as origens desses
povos, afinal, eram homens mesmo? Essas terras eram a Atlântida perdida, o paraíso ou o
inferno? Era terra de monstros?
Questionamentos que são uma longa duração, ou seja, uma continuidade da
mentalidade característica do mundo medieval. Essas “novas terras” fertilizavam o imaginário
do homem tachado de moderno. No século XVI, enquanto o homem europeu buscava a razão
para as coisas, ao mesmo tempo imaginavam o que poderia haver nos grandes mares e ai toda
aquela literatura medieval surte como o grande medo desse século. Contudo, em nome da fé,
do rei e da lei, partiram a desbravar esses mares “desconhecidos”.
Chegando ao Novo Mundo, a questão dos imaginários retornam as discussões dos
estudiosos europeus. A princípio, buscou-se nas escrituras sagradas do cristianismo, a Bíblia,
a origem desses supostos homens. Quem são eles? O que a Bíblia fala sobre eles? Quem são
esses seres semelhantes a homens, que habitam todo o continente chamado América?
Segundo Julio Cezar Mellati, em seu livro “Índios do Brasil”, a presença desses seres, é de
ordem prática e intelectual.

[...] Era de ordem intelectual porque a existência dos indígenas americanos


desafiava os europeus a encontrar para eles um lugar no seu sistema
tradicional de explicação do mundo. Era de ordem prática porque, caso se
mostrasse terem os índios uma origem independente de qualquer contato
com o Velho Mundo, isso equivaleria a defini-los como não-homens, por
não serem descendentes de Adão, pois a narrativa bíblica era então a única
explicação que os europeus possuíam para a origem dos homens. Se fossem,
pois, definidos como não-homens, os europeus se permitiriam submeter os
índios a todos os tipos de exploração, da qual estes, aliás, não escaparam,
mesmo depois da intervenção do Papa Paulo III, em 1537, declarando-os,
atreves de uma bula, verdadeiros homens (MELATTI apud Laming-
Emperaire, 1993, p.5).

Mellati explica muito bem essa questão da origem indígena pelo lado do cristianismo.
Porém não foi a única. No século XIX, com a formação das ciências humanas, ou seja,
antropologia, história, filosofia, sociologia e posteriormente a arqueologia e a paleontologia,
os europeus trazem a “público” novamente a questão das origens. De onde vieram os
indígenas? Muitas teses, teorias foram desenvolvidas, sendo que a que mais convenceu,
inclusive até o presente tempo, é a do Estreito de Bering. Há cerca de 40000 anos homens
9

asiáticos, siberianos (ditos mongolóides) por fatores ainda em estudo, iniciaram uma
migraram para o norte e atravessaram um continente chamado Beríngia no período glacial
chamado Wisconsin, que unia o atual Alasca com o nordeste russo.
No século XX, em conjunto com as ciências humanas, aparecem a biologia com a
genética, a química com o carbono 14 e o radiocarbono, a etnologia com a questão das etnias
e mais recentemente a ciência forense com técnicas apuradas em estudos de restos mortais e
criminalísticos.
10

4 ORIGEM DOS INDIGENAS NA AMÉRICA DO SUL

4.1 O DEGENERACIONISMO

A chamada teoria do degeneracionismo, muito influente nos meios intelectuais


brasileiros até poucas décadas atrás, de acordo com o Pedro Paulo Funari em seu livro “Pré-
história do Brasil”, foi difundida a partir das publicações do naturalista Von Martius, que
percorreu o interior do país para levantar informações sobre a fauna e a flora, entre 1817 e
1820, mas, foi apenas em 1845, que essa teoria passou a ser conhecida no Brasil, quando foi
publicado o seu ensaio "Como se deve escrever a História do Brasil", vencedor de um
concurso realizado pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Von Martius adotou as
idéias de certos círculos intelectuais europeus (séc. XVIII) para explicar a diferença dos
animais das Américas em relação aos do "Velho Mundo" (África, Europa e Ásia), quali-
ficando-os como inferiores e aberrações. A partir dessa idéia, Von Martius formulou a tese de
que as populações indígenas que ocuparam as Américas eram originalmente "desenvolvidas",
tendo como modelo os astecas, os maias e os incas. Ao descerem das terras temperadas, dos
altiplanos andinos, os incas teriam ingressado nas áreas de floresta tropical, consideradas am-
bientes desfavoráveis para a humanidade, passando a sofrer um contínuo processo de
degenerarão das suas capacidades morais, de desintegração da sua cultura material e de sua
organização social. Além disso, acredita-se que o clima cálido (quente) e úmido das florestas
induzia as pessoas a terem uma vida sexual desordenada, o que resultou em uma contínua
formação de novos povos, cada vez mais degenerados e com as suas línguas cada vez mais
diferentes”. Segundo Funari, isso explicaria a imensa dispersão geográfica dos falantes de
várias línguas, a exemplo dos povos tupis e jês. Noelli comenta que Von Martius achava que a
semelhança entre as distintas línguas devia-se a uma separação recente é que esses povos não
eram muito antigos. Ele também pensava que a degeneração levaria os povos indígenas à
extinção, tese que foi imediatamente adotada pelos intelectuais brasileiros no século XIX e
que perdurou com bastante força até a década de 1970, dominando inclusive o pensamento de
antropólogos famosos, como Darcy Ribeiro, e de órgãos governamentais, como a FUNAI.
11

5 QUEM ERAM OS ÍNDIGENAS ENCONTRADOS PELOS PORTUGUESES

Pero de Magalhães Gândavo, relata em seu livro um pouco de como os portugueses


olhavam esses indígenas, bem como a reação dos mesmos perante a presença desses
“estrangeiros”.

[...] Não se pode contar nem compreender a multidão de bárbaro gentio que
a natureza semeou por toda esta terra do Brasil. [...] Deus permitiu que
fossem contrários uns dos outros, e que não houvessem entre eles grandes
ódios e discórdias, porque se assim não fosse os portugueses não poderiam
viver na terra nem seria possível conquistar tanta gente. Quando os
portugueses começaram a povoar a terra, havia muitos destes índios pela
costa junto das capitanias. Porque os índios se levantaram contra os
portugueses, os governadores e capitães os destruíram pouco a pouco, e
mataram muitos deles. Outros fugiram para o sertão, e assim ficou a costa
despovoada de gentio ao longo das capitanias (GÂNDAVO, 1576).

5.1 SOBRE OS TUPI-GUARANI

Segundo Berta Gleizer Ribeiro, o povo que Pedro Álvares Cabral encontrou na costa
do atual estado da Bahia, era chamado de Tupiniquim, pertencendo à grande família
Tupinambá do tronco lingüístico tupi-guarani, localizados na costa litorânea.
Foram esses tupi, que informaram aos primeiros cronistas e jesuítas a noção de que
haviam uma “divisão” entre os que povoavam a terra: seriam os que falavam a língua deles e
tinham os “mesmos” costumes e todo aquele que assim não o eram, foram tachados de tapuia,
que para Berta Ribeiro significa “escravo” – também pode significar o “outro”. Essa divisão
serviu principalmente para distinção dos indígenas litorâneos dos do que foram e residiram no
sertão.
Os tupi dividiam-se em quinhentistas, que viviam numa estreita faixa ao longo da
costa, de São Paulo até o Pará. A primeira gramática de sua língua foi escrita pelo padre José
de Anchieta. A língua guarani era falada de São Paulo ao Rio Grande do Sul, bem como no
Paraguai, onde ainda hoje é de uso tradicional entre a população rural e mesmo da capital
Assunção e na zona de fronteira no sul de Mato Grosso. Usualmente, os tupi, habitantes do
litoral, eram chamados de tupinambá, sendo divididos em diversos grupos locais. Os
Tupiniquim e Tupiná na região de Porto Seguro e Espírito Santo; Os Tamoio e Temirnino do
rio Paraíba até Angra dos Reis; Os Carijó do rio Cananéia até a Lagoa dos Patos; Os Tape no
litoral rio-grandense; Os Caeté na região do rio São Francisco até o rio Paraíba; Os Tabajara
12

do Itamaracá até o rio Paraíba; Os Amoipira na região do São Francisco; Os Potiguares que
abrangiam as regiões da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará e os Tupiná na área mais
próxima do interior de Pernambuco. Foram os tupi que, no decorrer da presença portuguesa,
mais influenciaram na formação da sociedade brasileira.
Os tupi, também ficaram conhecidos por uma lenda que era contada ao longo das
gerações e foram repassadas aos colonos portugueses. Era a lenda de que havia uma
legendária “terra sem males” ou um “paraíso terrestre” em algum lugar, e esse conto, foi de
bastante ajuda na catequização dos mesmos, uma vez que se convertendo a Cristo, teriam a
salvação e a vida eterna e iriam para a “terra prometida”.

5.1.1 Etimologia de alguns nomes em língua tupi, Engenho Sergipe (1572-1574)

NOME PROVÁVEL DERIVAÇÃO


Açu Grande
Merim Pequeno
Pejuira Peju = soprar; ira = separar (interrogativo)
Pedro rari Rari = nascido
Itaoca Ita = pedra; oka = casa
Ocaparana Oka = casa; parana = mar
Mandionagem Mandio = mandioca; nhaê = panela
Antonio Jaguare Jaguare = iâguara = jaguar
Francisco Tapira Tapira = boi
Birapipo Bira = ybyra = madeira; pipó é um interrogativo
Cunhamocamarava Kunhâmuku = moça em idade casadoura; maravamarabá = filho de
índio com forasteiro
Ubatiba Uba = porto, coxas, ovas de peixe; tyba é uma desinência que
indica plural
Tabela 1: Etimologia de alguns nomes próprios em língua tupi, Engenho Sergipe, 1572-4
Fonte: SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos. São Paulo: Companhia das letras, 1988. p.60.

5.2 SOBRE OS “TAPUIAS”

Eram chamados genericamente de “tapuia”, os grupos filiados à família lingüística jê e


alguns de língua isolada, ou seja, os não tupi.
Para Berta Ribeiro, são povos de cultura material mais simples, no entanto, a maneira
como organizam a vida em sociedade é bem mais “complexa” e “elaborada” que a dos tupi-
guarani ou dos povos da floresta tropical.
13

Na verdade, quando os portugueses chegaram à costa brasileira, ainda havia algumas


tribos ditas “tapuias”.
Os “tapuias” ou os de língua jê, encontravam-se distribuídos da seguinte forma: Os
Guaianá, onde seus descendentes são os Kaingáng, na região de São Paulo e Paraná; Os
Goitacá ou Guaitacazes na região do Rio de Janeiro e Espírito Santo que no século XIX serão
chamados de Puri, Coroado e Coropó; Os Aimoré ou Botocudos (hostis) na região da Bahia,
Minas Gerais e Espírito Santo, são os mais temidos do período colonial português; Os Kariri
na região onde hoje é o Nordeste, são um dos “tapuias” mais famosos do Brasil; Kaypó ou
Ibirajara meridionais relatados pelo padre Anchieta; Os Tarairiu, também da região Nordeste,
aparecem na literatura de cronistas holandeses como Marcgraf, Barleus, Roulox e outros.
Outros povos também chamados de “tapuia” são os Malili, os Kamakã e os Makali, pois
possuem línguas independentes.
Gabriel Soares, um oficial português, escreveu em 1587 sobre os índios Guaianá: “[...]
é gente de pouco trabalho [...]; se encontram com gente branca, não fazem nenhum dano,
antes boa companhia, e quem acerta de ter um escravo Guaianá não espera dele nenhum
serviço, porque é gente folgazã de natureza e não sabe trabalhar.” Podemos ver como as
concepções de trabalho dos europeus eram bastante diferentes do das culturas indígenas. Os
índios normalmente dividiam suas tarefas por sexo e por idade, ou seja, as mulheres
cozinhavam, cuidavam das crianças, plantavam e colhiam; já os homens participavam de
atividades guerreiras, da caça, de pesca e da derrubada da floresta para fazer a lavoura. Sua
produção destinava-se à subsistência, realizando apenas trocas rituais de presentes – ritual que
foi essencial para os contatos com os colonos portugueses.
Dos povos que o português encontrou em 1500, restam pequenos grupos muito
“deculturados”: os Potiguares e Pataxós, na região entre Paraíba e Bahia; os Tupiniquim na
região do Espírito Santo; os Guarani, nas regiões de São Paulo e Mato Grosso; os Kaingáng
na região sul. Todos ilhados em meio à população “neobrasileira”.
14

6 ADMINISTRAÇÃO PRÉ-COLONIAL

Como já mencionado anteriormente, os franceses caminharam pelas terras brasileiras


num período de 30 anos desde 1500-1502. A partir de 1533 em diante, os portugueses
retomam os “cuidados” com a província.
A extração do pau-brasil foi um dos principais motivos dessa investida na nova terra.
Os portugueses precisavam da ajuda dos índios para que se pudesse realizar tal empreitada, e
o escambo foi o principal meio de se entender com os eles.

[...] Da primeira vez que vieste aqui, vós o fizeste somente para traficar. [...]
Não recusáveis tomar nossas filhas e nós nos julgávamos felizes quando elas
tinham filhos. Nessa época, não faláveis em aqui vos fixar. Apenas vos
contentáveis com visitar-nos uma vez por ano, permanecendo, entre nós,
somente durante quatro ou cinco luas (meses). Regressáveis então ao vosso
país, levando os nossos gêneros para trocá-los com aquilo que carecíamos
(MAESTRI, 1993).

Uma das vantagens iniciais desse escambo, foi a presença dos franceses, uma vez que
alguns índios já estavam “civilizados”. O escambo consistia num jogo de trocas e interesses
entre os colonos e os nativos. Segundo Berta Ribeiro, tanto estes (os portugueses) quanto os
franceses faziam uma espécie de intercâmbio com os índios, que os historiadores preferem
chamar de escambo, porque não se trata, evidentemente, da troca de mercadorias de valor
equivalente, mas, em grande medida, da barganha de objetos por trabalho. A fragilidade da
presença francesa se explica pela falta de um estabelecimento fixo, pois era financeiramente
inviável no momento. Já os portugueses implantaram as feitorias, que já estavam em
funcionamento em outras colônias. No entanto a amizade dos indígenas para com os franceses
foi de suma importância nesse período chamado pré-colonial.
Na verdade, nesse período de 30 anos, os portugueses não exploraram definitivamente
a nova terra, ela servia apenas para escala de viagens marítimas para o Oriente, converter
alguns indígenas e também o escambo.
15

7 ADMINISTRAÇÃO COLONIAL E O DECLÍNIO DO ESCAMBO

7.1 SOBRE AS ALIANÇAS E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

De acordo com John Manuel Monteiro, o estado de fragmentação política que


imperava no Brasil indígena, as perspectivas de conquista, dominação e exploração da
população nativa dependiam necessariamente do envolvimento dos portugueses nas guerras
“intestinas”, através de alianças esporádicas. Porém os indígenas perceberam outras vantagens
imediatas na formação de alianças com os portugueses e com outros invasores, principalmente
nas guerras contra inimigos mortais.
Mas logo essas alianças tornaram-se um problema para eles, os indígenas. Os
portugueses utilizaram-se dessas guerras para capturar e conseqüentemente, escravizar os
índios derrotados – a chamada “guerra justa”. Contudo os europeus logo enfrentaram
resistência à venda de prisioneiros não apenas entre os captores como também entre os
próprios cativos. Não era somente capturar e escravizar, também era necessário conhecer
como funciona a questão dos rituais indígenas. Muitos índios se negavam a ser vendidos por
estar envolvido em algum ritual.
Muitas tribos aliadas aos portugueses, por exemplo, tinham o costume de sacrificar
seus cativos de guerra.
Todavia, embora os portugueses conseguissem a adesão de alguns chefes locais por
meio dessas alianças, estratégias de consolidação do controle nem sempre foram bem-
sucedidas.
Outro problema que os indígenas viram nessas alianças foi a questão das doenças.

[...] Deus castigou esta terra com dez pragas muito cruéis por causa da
dureza e obstinação de seus moradores [...]. A primeira dessas pragas foi
que num navio, veio um negro atacado de varíola, uma doença que nunca
tinha sido vista nessa terra (MONTOLINÍA, 1520).

O relato do franciscano Montolinía, sobre a conquista espanhola na Cidade do México,


mostra como as doenças acabaram se tornando importante arma de dominação européia sobre
qualquer povo indígena da América. Berta Ribeiro comenta com dados a respeito dessa
dizimação: “[...] onde havia 20 indivíduos na época da conquista, restou um só, 130 anos
depois”. Unindo a questão das alianças mal sucedidas com o medo do cativeiro e dos males
trazidos pelos europeus, muitos indígenas ou tribos inteiras migraram rumo ao interior,
16

chegando a se estabelecerem na densa floresta Amazônica, no entanto, muitos deles quando se


encontravam nesse “êxodo” acabavam guerreando e quando tentavam fugir delas ou eram
pegos pela própria “natureza” ou eram recapturados pelos brancos.
Em resumo, vimos como essas relações entre indígenas e europeus foi por um lado um
tormento para ambos os lados, com guerras, epidemias, mortes e por outro lado trocas
culturais. Essas trocas culturais podem ser exemplificadas da seguinte forma: devido as
alianças, portugueses casavam-se com filhas de líderes de tribos indígenas e até muitos deles
aderiam a cultura indígena para viver com eles sendo os mamelucos o principal fruto desse
tipo de relação. Outras trocas culturais seriam, os índios que antes andavam nus, quando
catequizados passam a vestir-se como europeus e não praticar mais seus ritos e costumes
como a antropofagia e o canibalismo; outro ponto seria a questão dos gêneros alimentícios: a
mandioca, a batata-doce, a araruta, o milho, o feijão, o amaranto, o amendoim, etc., foram
“domesticados”. O pastor francês Jean de Léry que viveu na segunda metade do século XVI,
período em que ocorria na Europa as chamadas guerras de religião, isto é católicos em
oposição aos protestantes, relata sobre o cerco da cidade de Sancerre (comuna francesa) por
tropas católicas, bem como fala da importância da cultura indígena nessa situação

[...] desde que os canhões começaram a atirar sobre nós com maior
freqüência, tornou-se necessário que todos dormissem nas casernas. Eu logo
providenciei para mim um leito feito de um lençol atado pelas suas duas
pontas e assim fiquei suspenso no ar, à maneira dos selvagens americanos
(entre os quais eu estive por dez meses) o que foi imediatamente imitado por
todos os nossos soldados. De tal maneira que a caserna logo ficou cheia
deles. Aqueles que dormiram assim puderam confirmar o quanto esta
maneira é apropriada tanto para evitar os vermes quanto para manter as
roupas limpas [...] (LÉRY, século XVI).

7.2 SOBRE O DECLÍNIO DO ESCAMBO

Todos esses fatores apresentados acima foram motivos para se findar com o método
do escambo. De acordo com Berta Ribeiro, a vinda de Martim Afonso de Souza em 1531 e
três anos mais tarde a divisão do Brasil em capitanias hereditárias, afundou de uma vez por
todas o escambo e algumas relações “tranqüilas” entre os nativos e os colonos.
Essa divisão do território brasileiro em capitanias hereditárias não seria apenas a
primeira tentativa oficial de colonização portuguesa na América, mas também a primeira vez
que os europeus transportaram um “modelo civilizatório” para o Novo Mundo.
17

Segundo Berta, “de inicio apareceram para prestar auxilio aos portugueses, os índios
das proximidades de cada colônia. Os meios para obter essa ajuda enquadravam-se ainda no
padrão do escambo que fora coroado de pleno êxito na fase anterior.” A princípio, era
“indiferente” para os índios o contato com franceses ou portugueses. Passado certo tempo, os
franceses se aliaram aos Tupinambá e os portugueses aos Tupiniquim. Os donatários que se
estabeleceram em terras Tupinambá, como Francisco Pereira Coutinho, na Bahia, e Pero
Lopes de Souza, em Pernambuco, sofreram com suas desafrontas.
A sede pela escravidão era maior do que a do enfraquecido escambo. Martin Afonso
de Sousa tinha, segundo Berta, o direito de mandar 48 escravos por ano do Brasil para
Portugal. Duarte Coelho e outros donatários podiam mandar 24, além de utilizar outros na
guarnição de navios.
Porém, com a intervenção da Igreja em 1537, foi proibida a intenção e o ato de
escravizar indígenas, exceto em caso de circunstancias especiais como a prisão por guerra ou
invasão de propriedade.
Portugal implantou o Governo Geral no Brasil em 1549, a fim de contribuir para que a
colonização passasse de transitória e instável, para efetiva, num estilo mais absolutista,
aperfeiçoando o Pacto Colonial. Nesse momento cresce a atuação dos jesuítas.
Tomé de Souza, o primeiro governador-geral do Brasil, defendeu os estabelecimentos
portugueses contra índios hostis e os franceses. A solução adotada por ele foi a de atender aos
interesses do rei e dos colonos. Ordenou que só os índios hostis aos portugueses fossem
“assaltados” e apenas por tropas do governador ou por colonos por ele autorizados. Foi uma
boa oportunidade de escravizar indígenas sobre a proteção da chamada “guerra justa”.
Restabeleceu, sempre que possível o escambo, mas não impediu de todo a escravização.
Duarte da Costa, o segundo governador-geral, não teve a mesma perícia de seu
antecessor. Em seu governo, houveram muitas revoltas indígenas, uma vez que ele permitiu
que os colonos explorassem mais intensamente a mão-de-obra nativa nas roças e fazendas.
Berta cita que em 1557, os índios da Bahia declararam-se numa espécie de greve de fome,
recusando-se a plantar para a colheita seguinte. Mem de Sá, o terceiro, chega em fins desse
ano para resolver outro problema: a presença dos franceses no Rio de Janeiro. Nesse período
os índios que eram vencidos em guerras eram obrigados a se converter ao cristianismo. Cerca
de 34000 índios, entre 1557 e 1562, chegaram às mãos dos jesuítas. Colonos invadiam as
vilas jesuíticas na busca de mão-de-obra, mas se concentravam naqueles que ainda eram
pagãos.
18

Somente em 1568, teve-se inicio o tráfico regular de negros, uma vez que era muito
barato apanharem-se escravos índios da mata, do que pagar de 20 a 30 libras inglesas por
“peça” trazida da África. Segundo Gândavo, “se os índios não fossem tão caprichosos e dados
à fuga, a riqueza do Brasil seria incomparável”.
19

8 ASCENSÃO DA ESCRAVIDÃO NEGRA

A mão-de-obra indígena não supria mais as exigências dos engenhos, sustentá-los nas
fazendas estavam gerando muito prejuízo aos colonos. Pouco a pouco, senhores de engenhos
iam comprando escravos vindos da África. Segundo Stuart Schwartz, em fins do século XVI,
a mão-de-obra dos engenhos era mista do ponto de vista racial, e a proporção foi mudando
crescentemente em favor dos africanos importados e sua prole. Schwartz também apresenta
dados sobre esses acontecimentos: “Em 1572, o Engenho Sergipe possuía 280 escravos
adultos, dos quais apenas vinte (7%) eram africanos. Em 1591, a população cativa do engenho
era de 103 indivíduos, 38 (37%) deles africanos. Em 1638, quando a propriedade foi
arrendada a Pedro Gonçalves de Matos, havia 81 escravos, todos eles africanos ou afro-
brasileiros.”
Na verdade, a transição para uma força de trabalho africana foi efetuada nas primeiras
décadas do século XVII, época em que a indústria açucareira experimentava rápida expansão
e considerável desenvolvimento interno devido aos altos preços internacionais do açúcar, do
crescimento do mercado europeu e, de acordo com Schwartz, também a questão da paz nos
mares com a trégua dos doze anos entre Espanha e Holanda (1609-1621).
A visão que se tem do negro é que ele tem certa “predisposição” ao trabalho escravo.
Para Schwartz,

[...] Os africanos sem dúvida não eram mais “predispostos” ao cativeiro do


que índios, portugueses, ingleses ou qualquer outro povo arrancado de sua
terra natal e submetido à vontade alheia, mas as semelhanças de sua herança
cultural com as tradições européias valorizavam-nos aos olhos dos europeus.
A suscetibilidade dos índios de todas as idades Às doenças européias
aumentava o risco do investimento de tempo e capital para treiná-los em
trabalhos artesanais ou de fiscalização. [...] A saúde e a perícia dos
africanos, bem como sua pouca oposição ao cativeiro, podem explicar a
relutância dos senhores de engenho em investir no treinamento de escravos
indígenas; [...] (SCHWARTZ, 1988, p.70).

No Brasil, a posição relativa dos cativeiros indígenas e africanos na força de trabalho


da indústria açucareira, para Schwartz, pode ser vista em sua forma mais simples e crua nos
preços relativos de indivíduos dos dois povos. O preço médio de um africano incluso em
ocupações durante os anos de 1572 era de 25 mil-réis enquanto o dos nativos com as mesmas
ocupações valiam cerca de 9 mil-réis. Somente indígenas com ocupações artesanais –
carpinteiros, caixeiros e calafates – possuíam o “devido valor”, semelhante aos dos africanos.
20

8.1 A IGREJA E A ESCRAVIDÃO

A escravidão, inicialmente dos índios e posteriormente dos negros africanos, foi um


fator decisivo para a implantação da grande lavoura canavieira no Brasil. Por isso, em plena
dita “Idade Moderna”, de acordo com a mentalidade colonialista, justificava-se a escravidão
com os seguintes argumentos: os índios eram criaturas bestiais, antropófagas, supersticiosas e
desprovidas de razão e da fé cristã, portanto, sujeitos ao domínio civilizatório da Europa; A
escravidão era imprescindível à formação do Brasil, pois os escravos eram os “pés” e as
“mãos” dos senhores de engenho; os africanos, descendentes de Caim e amaldiçoados por
Deus, deveriam sofrer no Brasil, purgando seus pecados, como forma de alcançar a salvação;
o comércio de escravos e a propagação do cristianismo retiravam os africanos do estado de
barbárie em que viviam, evitando que os mais fortes destruíssem os mais fracos em guerras
tribais.
“Oh se a gente preta tirada
das brenhas da sua Etiópia,
e passada ao Brasil
conhecera bem quanto deve a Deus
e a sua Santíssima Mãe
por este que pode parecer
desterro, cativeiro e desgraça
e não é senão milagre
e grande milagre!”

(Padre Antonio Vieira, 1633)

[...] Os senhores poucos, os escravos muitos; os senhores rompendo galas,


os escravos despidos e nus; os senhores banqueteando; os escravos
perecendo a fome; os senhores tratando-os como brutos, os escravos
adorando-os e temendo-os como deuses; os senhores em pé apontando para
açoite, como estátua da soberba e da tirania, os escravos prostrados com as
mãos atadas atrás, como imagem vilíssima de servidão e espetáculos da
extrema miséria. Oh Deus! Quantas graças devemos à Fé que nos destes,
[...] para que À vista destas desigualdades reconheçamos com tudo vossa
justiça e providência! [...].

(Sermão do Padre Antonio Vieira)

Na verdade, os colonos portugueses em geral não se sentiam propensos a renunciar ao


controle dos índios, especialmente quando podiam ser obtidos por uma “ninharia”, e
demonstraram essa aversão com protestos e manifestações políticas, particularmente nos anos
de 1609 e 1640.
21

9 VISÃO INDÍGENA: DE ONDE VIERAM OS EUROPEUS?

Os europeus buscaram uma explicação coerente e homogênea a todos sobre a origem


dos índios. Até hoje, não se sabe exatamente. Existe a versão religiosa e a cientifica.
E os índios, o que eles pensaram dos europeus? Para Melatti, cada sociedade indígena
tem uma resposta diferente.
O único consenso, é que a maioria dessas explicações estão inclusas em relatos míticos
contados pelos mais antigos por gerações.
Neles essa questão aparece não raro ligada a uma outra: a de explicar porque os
indígenas se acham numa situação de subordinação, de povos dominados, perante os brancos.
É tema digno de questionamento. Porque os índios buscariam explicar sua
“inferioridade” técnica perante os europeus? Porque eles se considerariam inferiores e
“constrangidos” frente a civilidade branca? Se se contavam essas histórias nas tribos, porque
os índios não procuraram tal civilidade? E para terminar, esses mitos foram “bolados” antes
ou depois da presença européia?1

1
São questionamentos que me vieram em quanto lia os textos da Berta e do Mellati e decidi colocá-los neste
tópico e finda-los como uma conclusão-questionamento do texto. Espero que sejam interessantes.
22

REFERÊNCIAS

MELATTI, Julio Cezar. De onde vieram os índios. In:___. Índios do Brasil. 7.ed. São Paulo:
HUCITEC; Brasília: EDUNB, 1993. cap. 1, p.5-18.

MONTEIRO, John Manuel. Contato, alianças e conflitos. In:___. Negros da terra: índios e
bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. cap. 1, p.29-
36.

-FUNARI, Pedro Paulo A.; NOELLI, Francisco Silva. Pré-História do Brasil: As origens do
homem brasileiro, O Brasil antes de Cabral e Descobertas arqueológicas recentes. 2.ed. São
Paulo: Contexto, 2005.

RIBEIRO, Berta Gleizer. O Brasil indígena. In:___. O índio na história do Brasil. 6.ed. São
Paulo: Global, 1983. cap. 2. p.19-40.

_________. Os aborígenes descobrem o europeu. Revista USP: dossiê quinhentos anos de


América, São Paulo, n. 12, dez./jan./fev. 1991-1992. p.37-47.

SCHWARTZ, Stuart B. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São


Paulo: Companhia das Letras, 1988. cap. 2;3, pp.40-56;57-73.

OUTRAS REFERÊNCIAS

CAMINHA, Pero Vaz. Carta ao rei de Portugal. 1500.

GÂNDAVO, Pero de Magalhães. Crônicas e História da terra de Vera Cruz. 1576.

RELATOS. “Avulsos” do século XVI.

View publication stats

Você também pode gostar