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COLÉGIO ESTADUAL CEL JOSÉ F.

DE AZEVEDO
PROFESSORA: MARIA VIRGÍNIA P. GONÇALVES
DATA: ____/____/____
DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA
ALUNO (A)_____________________________________________ 23.___________
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA-

O PORTUGUÊS BRASILEIRO

Carta de Pero Vaz de Caminha

A “Carta de Pero Vaz de Caminha” ou “Carta a el-Rei Dom Manoel sobre o achamento do Brasil” foi um
documento escrito pelo escrivão português Pero Vaz de Caminha.

Redigido em 1.º de maio de 1500, em Porto Seguro, Bahia, foi levado para Lisboa sob os cuidados de
Gaspar de Lemos, considerado um dos maiores navegadores de seu tempo.

Apesar de ter sido escrita no século XVI, a Carta foi descoberta muitos anos depois, no século XVIII por
José de Seabra da Silva (1732-1813). Ele era estadista, ministro e guarda-mor da Torre do Tombo.

Sua aparição oficial e acadêmica é obra do filósofo e historiador espanhol Juan Bautista Munoz (1745-
1799).

No Brasil, sua primeira publicação foi em 1817, na obra “Corografia Brasilica”.

Provavelmente, a primeira versão editada no Brasil foi do Padre Manuel Aires de Casal (1754-1821). Ele era
geógrafo, historiador e sacerdote português que viveu boa parte de sua vida em território brasileiro.

Importante notar que a Carta de Caminha é considerada o primeiro documento redigido no Brasil e, por esse
motivo, é o marco literário do País. Ele faz parte da primeira manifestação literária pertencente ao
movimento do Quinhentismo.

Resumo da Carta

O Manuscrito da Carta de Pero Vaz de Caminha


Composição da Carta

Iniciada como um processo epistolar de praxe, a Carta, após desenvolver os primeiros parágrafos, realizando
toda a reverência ao monarca D. Manuel I (1469-1521), irá continuar como um diário comum.

Sobre sua composição, foi escrita em sete folhas, cada qual dividida em quatro páginas. Da conotação
fonética das marcas ortográficas, vale citar que Caminha reproduz o estilo de época típico dos textos
portugueses até o século XV.

Sua periodização torna o manuscrito um produto organizado e bastante ordenado cronologicamente.

O escrivão pontua seu texto de modo a provocar um efeito expressivo capaz de prender a atenção do leitor.
Além de garantir que a leitura do manuscrito seja bastante simples.

Conteúdo da Carta

Sobre o seu conteúdo, foi uma carta redigida para o rei, de modo a comunicar-lhe o descobrimento das
novas terras.

O deslumbramento dos europeus em relação à descoberta do "Novo Mundo" é bem evidente nos registros
feitos por Caminha. Na Carta ele descreve suas impressões sobre o território que viria a ser chamado de
Brasil.

Ele documenta a composição física à primeira vista do território. Além disso, narra o episódio do
desembarque dos portugueses na praia, o primeiro encontro entre os índios e os colonizadores, e a primeira
missa realizada no Brasil.

Curiosidade

O termo “descobrimento” é muito combatido atualmente pelos estudiosos brasileiros. Isso porque deixa à
margem os povos indígenas que habitavam o território no momento da chegada dos “descobridores”.

Trechos da Carta
"Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos como pelas pernas, que, certo, assim
pareciam bem. Também andavam entre eles quatro ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas
andava uma, com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e todo o resto da sua cor
natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com
tanta inocência assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma."

"Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a
fonte, tintas de tintura preta, que parece uma fita preta da largura de dois dedos."

"Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram para a terra, como se os
houvesse ali.

Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.

Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe pegaram, mas como
espantados.

Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada; e
se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora.

Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada, nem quiseram mais.

Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas lavaram as bocas e
lançaram-na fora.
Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço; e
depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão,
como se dariam ouro por aquilo."

Confira a obra na íntegra, fazendo o download do PDF aqui: A Carta de Pero Vaz de Caminha.

Quem foi Pero Vaz de Caminha?

Retrato de Pero Vaz de Caminha


Pero Vaz de Caminha nasceu na cidade do Porto (Portugal) em 1450 e faleceu na cidade de Calicute (Índia)
em 15 de dezembro de 1500.

Seu pai era o Duque de Bragança e, portanto, teve uma educação sólida. Trabalhou como tesoureiro e
escrivão na Casa da Moeda. Além disso, ocupou o cargo de vereador da cidade do Porto, em Portugal.

Em 1500 Caminha acompanhou a frota de Pedro Álvares Cabral ao Brasil sendo responsável por escrever
sobre as impressões da terra avistada. Sem dúvida, esse foi o maior feito de Caminha e que o imortalizou.

Exercício 1: Caiu no Enem!

(Enem-2013) De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu,
vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos
parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de
metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares [...]. Porém o melhor fruto que
dela se pode tirar me parece que será salvar esta gente.

A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o projeto colonizador para a nova terra. Nesse trecho, o
relato enfatiza o seguinte objetivo:

a) Valorizar a catequese a ser realizada sobre os povos nativos.


b) Descrever a cultura local para enaltecer a prosperidade portuguesa.
c) Transmitir o conhecimento dos indígenas sobre o potencial econômico existente.
d) Realçar a pobreza dos habitantes nativos para demarcar a superioridade europeia.
e) Criticar o modo de vida dos povos autóctones para evidenciar a ausência de trabalho.

Exercício 2: (UFSC 2018/1)

E então estiraram-se de costas na alcatifa, a dormir sem procurarem maneiras de encobrir suas vergonhas as quais não
eram fanadas; e as cabeleiras delas estavam bem rapadas e feitas. [...]
Deduzo que é gente bestial e de pouco saber, e por isso tão esquiva. Mas apesar de tudo isso andam bem curados, e
muito limpos. E naquilo ainda mais me convenço que são como aves, ou alimárias montesinas. [...]
Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a vossa fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que
não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. [...]
Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. [...] E assim foi
feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu, e dentro levantar um altar mui bem arranjado. E ali com todos nós
outros fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos
outros padres e sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito
prazer e devoção. [...]
Enquanto assistimos à missa e ao sermão, estaria na praia outra tanta gente, pouco mais ou menos, como a de ontem,
com seus arcos e setas, e andava folgando. E olhando-nos, sentaram. E depois de acabada a missa, quando nós
sentados atendíamos a pregação, levantaram-se muitos deles e tangeram corno ou buzina e começaram a saltar e
dançar um pedaço. [...]
O melhor fruto que se pode tirar desta terra me parece ser salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente de que
Vossa Alteza deve lançar nesta terra.

PERO Vaz de Caminha. Carta à D. Manuel (excertos). In: Enciclopédia Itaú Cultural de arte e cultura brasileiras. São
Paulo: Itaú Cultural, 2017. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa7833/pero-vaz-de-caminha>.
Acesso em: 30 jun. 2017.

Sobre a carta de Pero Vaz de Caminha e o contexto da expansão ultramarina portuguesa, é correto afirmar que:

na carta, é possível identificar choque e estranhamento entre as diferentes culturas, assim como
1)
perceber a iniciativa portuguesa de tomar posse da terra.

apesar dos rituais católicos descritos na carta, a Igreja Católica não apoiava a iniciativa das navegações
2)
portuguesas porque contrariava princípios da instituição sobre as explorações do mundo.

3) no relato do autor, há referências aos habitantes como seres que, na sua visão, seriam selvagens.

a mais conhecida das cartas relacionadas à expedição de Pedro Álvares Cabral é a de Pero Vaz de
4)
Caminha, que relata a estada da tripulação durante o tempo em que esteve aportada nas terras
encontradas.

movida pelo grande interesse sobre as terras descobertas, parte da tripulação daquela expedição não
5)
seguiu viagem, garantindo assim a posse do lugar ao reino português.

a carta de Pero Vaz de Caminha reproduz fielmente o que aconteceu durante a estada da armada de
6)
Pedro Álvares Cabral, já que esta era a função de Caminha como escrivão.

fica evidente, pela descrição do autor, o respeito da Coroa portuguesa em relação às crenças e aos
7)
costumes dos habitantes da terra.
COLÉGIO ESTADUAL CEL JOSÉ F. DE AZEVEDO
PROFESSORA: MARIA VIRGÍNIA P. GONÇALVES
DATA: ____/____/____
DISCIPLINA: LÍNGUA PORTUGUESA
ALUNO (A)_____________________________________________ 23.___________
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA-
O PORTUGUÊS BRASILEIRO- “Carta de Pero Vaz de Caminha”

TEXTO: CARTA DE CAMINHA – FRAGMENTO

Silvio Castro

Leitura, reflexão e interpretação:

Nesse trecho de sua Carta, revela o olhar do europeu na avaliação que faz dos índios.

[...]

Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí a pouco começaram a vir mais. E
parece-me que viriam, este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e cinquenta. Alguns deles traziam
arcos e flechas, que todos trocavam por carapuças ou por qualquer coisa que lhes davam. Comiam
conosco de tudo que lhes oferecíamos. Alguns deles bebiam vinho; Outros não o podiam suportar. Mas
quer-me parecer que, se os acostumarem, o hão de beber de boa vontade. Andavam todos tão bem
dispostos, tão bem feitos e galantes com suas tinturas que muito agradavam. [...] E estavam já mais
mansos e seguros entre nós do que estávamos entre eles. [...]

Quando saímos do batel, disse-nos o Capitão que seria bem que fôssemos diretamente à cruz que
estava encostada a uma árvore, junto ao rio, a fim de ser colocada amanhã, sexta-feira, e que nos
puséssemos todos de joelhos e a beijássemos para que eles vissem o acatamento que lhe tínhamos. E
assim fizemos. E a esses dez ou doze que lá estavam, acenaram-lhes que fizessem o mesmo; e logo
foram todos beijá-la.

Parece-me quente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo
cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. E, portanto, se os
degredados que aqui hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles,
segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de crer na nossa santa fé, à qual praza a
Nosso Senhor que os traga, porque certamente esta gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á
facilmente neles todo e qualquer cunho que lhes quiserem dar, uma vez que Nosso Senhor lhes deu
bons corpos e bons rostos, como a homens bons. E o fato de Ele nos haver até aqui trazido, creio que
não o foi sem causa. E portanto Vossa Alteza, que tanto deseja acrescentar à santa fé católica, deve
cuidar da salvação deles. E aprazerá a Deus que com pouco trabalho seja assim!

[...]

Castro, Silvio (Intr., atualiz. e notas). A carta de Pero Vaz de Caminha.

Porto Alegre: L&PM, 1996. p. 93-94. (Fragmento).


Interpretação do texto:

01 – Nesse trecho da carta, é possível perceber que o primeiro contato entre portugueses e índios foi
bastante amistoso. Que informações do primeiro parágrafo comprovam essa afirmação?

Índios e portugueses convivem pacificamente: os índios trocam arcos e flechas por presentes,
comem e bebem o que lhes é dado.

a) De que maneira o comportamento tranquilo e amistoso dos indígenas é interpretado pelos


colonizadores?

O comportamento dos índios leva os colonizadores a acreditar em uma índole que pode se adaptar
facilmente às novidades. A inocência desse povo e seu caráter amável são vistos por Caminha como a
possibilidade de moldá-los segundo os valores europeus.

02 – Além de encontrar ouro e metais preciosos, os portugueses tinham outro objetivo para a terra
recém-descoberta. Identifique-o e transcreva no caderno o trecho em que isso fica claro.

A intenção dos portugueses era converter os índios à fé católica. Esse objetivo fica explícito na
sugestão que faz o Capitão de que os homens beijassem a cruz para os índios percebessem o
“acatamento” diante do símbolo católico. O trecho que comprova essa afirmação é: “[...] que nos
puséssemos todos de joelhos e a beijássemos para que eles vissem o acatamento que lhe tínhamos.”

a) Como os índios são retratados por Caminha?

Caminha retrata os índios como “bem dispostos”; “bem feitos”; “galantes”, inocentes, bons e com uma
simplicidade “bela”. Todas as expressões utilizadas para caracterizá-los enfatizam a índole cordata e
pacífica dos índios.

b) Por que, segundo ele, os índios “seriam logo cristãos”?

Segundo Caminha, o fato de os índios demonstrarem grande inocência e não terem ou não entenderem
crença alguma faria com que se tornassem logo cristãos, se a comunicação com eles fosse possível.

03 – Releia:

“E imprimir-se-á facilmente neles todo e qualquer cunho que lhes quiserem dar, uma vez que
Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons”.

a) O trecho destacado revela os princípios que nortearam a colonização portuguesa. Explique por quê.

O trecho destacado deixa claro que, na visão do escrivão português, é muito natural impor os valores da
civilização europeia aos povos nativos encontrados na terra nova. Foi exatamente isso que aconteceu
no Brasil: índios foram submetidos aos valores culturais e religiosos da metrópole, tendo sua cultura,
comportamento e religião desconsiderados pelos colonizadores.

b) Por que, segundo Caminha, a aparência dos índios revela sua índole boa?

Caminha atribui a Deus a aparência dos índios. Portanto, se receberam de Deus “bons corpos e bons
rostos”, devem ser “homens bons”.
04 – Que elementos do texto indicam a visão de um homem europeu que desconsidera a cultura
indígena?

O principal elemento que indica a visão de um homem europeu que desconsidera a cultura indígena
é a referência à provável falta de crença dos índios. Além disso, as referências frequentes à
simplicidade, à ingenuidade, à bondade e a índole pacífica dos índios revelam uma visão
condescendente que Caminha tem dos gentios, que o faz afirmar que o rei “deve cuidar da salvação
deles”. Para ele, Deus levou os portugueses até lá por uma boa causa: salvar os índios.

a) É possível explicar o processo de aculturação dos índios a partir dessa visão de mundo do
colonizador? Por quê?

Sim. Como em todo processo de aculturação, o que determina a eliminação de todos os traços da
cultura colonizada e a visão de superioridade daquele que coloniza. Ora, é isso que fica evidente nesse
trecho da Carta. Para Caminha, os índios representavam um povo dócil e ingênuo que deveria ser salvo.
Mais do que isso: Deus queria que os portugueses o fizessem, por isso os levou até a terra descoberta,
ao encontro desse povo.

05 – Observe as informações referentes ao ano de 1549 na linha do tempo. Discuta com seus colegas:
há contradição entre as ações autorizadas por Portugal nessa data e o projeto de salvação dos indígenas
pela fé católica declarado na Carta? Explique.

Gostaríamos que os alunos, ao compararem os acontecimentos que envolvem as tentativas de


escravização indígena por parte do governo colonial ao desejo de evangelização dos “gentios”,
expresso na Carta de Caminha, perceberam que as relações entre portugueses e índios se alteraram
durante o processo de colonização. O projeto de catequização dos indígenas e a expansão da fé católica
passam a ser colocados em prática efetivamente com a chegada dos primeiros missionários. Mas o
conflito de interesses permanecerá durante todo o período: de um lado, os missionários desejam
“salvar” as “almas dos gentios”; do outro, os donatários e os colonos necessitam da submissão indígena
e de sua mão de obra para colonizar a terra que se apresentava plena de possibilidades econômicas.

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