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Carta de Pero Vaz de Caminha suas impressões sobre o território que viria a ser

A “Carta de Pero Vaz de Caminha” ou “Carta a el- chamado de Brasil.


Rei Dom Manoel sobre o achamento do Brasil” foi Ele documenta a composição física à primeira vista
um documento escrito pelo escrivão português do território. Além disso, narra o episódio do
Pero Vaz de Caminha. desembarque dos portugueses na praia, o primeiro
Redigido em 1.º de maio de 1500, em Porto Seguro, encontro entre os índios e os colonizadores, e a
Bahia, foi levado para Lisboa sob os cuidados de primeira missa realizada no Brasil.
Gaspar de Lemos, considerado um dos maiores Curiosidade
navegadores de seu tempo. O termo “descobrimento” é muito combatido
Apesar de ter sido escrita no século XVI, a Carta foi atualmente pelos estudiosos brasileiros. Isso
descoberta muitos anos depois, no século XVIII por porque deixa à margem os povos indígenas que
José de Seabra da Silva (1732-1813). Ele era habitavam o território no momento da chegada dos
estadista, ministro e guarda-mor da Torre do “descobridores”.
Tombo.
Sua aparição oficial e acadêmica é obra do filósofo e
Trechos da Carta
"Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho,
historiador espanhol Juan Bautista Munoz (1745-
e quartejados, assim pelos corpos como pelas
1799).
pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também
No Brasil, sua primeira publicação foi em 1817, na
andavam entre eles quatro ou cinco mulheres,
obra “Corografia Brasilica”.
novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre
Provavelmente, a primeira versão editada no Brasil
elas andava uma, com uma coxa, do joelho até o
foi do Padre Manuel Aires de Casal (1754-1821). Ele
quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura
era geógrafo, historiador e sacerdote português que
preta; e todo o resto da sua cor natural. Outra trazia
viveu boa parte de sua vida em território brasileiro.
ambos os joelhos com as curvas assim tintas, e
Importante notar que a Carta de Caminha é
também os colos dos pés; e suas vergonhas tão
considerada o primeiro documento redigido no
nuas, e com tanta inocência assim descobertas, que
Brasil e, por esse motivo, é o marco literário do
não havia nisso desvergonha nenhuma."
País. Ele faz parte da primeira manifestação literária
"Todos andam rapados até por cima das orelhas;
pertencente ao movimento do Quinhentismo.
assim mesmo de sobrancelhas e pestanas. Trazem
Composição da Carta
todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura
Iniciada como um processo epistolar de praxe, a
preta, que parece uma fita preta da largura de dois
Carta, após desenvolver os primeiros parágrafos,
dedos."
realizando toda a reverência ao monarca D. Manuel
"Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão
I (1469-1521), irá continuar como um diário
traz consigo; tomaram-no logo na mão e acenaram
comum.
para a terra, como se os houvesse ali.
Sobre sua composição, foi escrita em sete folhas,
Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.
cada qual dividida em quatro páginas. Da conotação
Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo
fonética das marcas ortográficas, vale citar que
dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois lhe
Caminha reproduz o estilo de época típico dos
pegaram, mas como espantados.
textos portugueses até o século XV.
Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido,
Sua periodização torna o manuscrito um produto
confeitos, fartéis, mel, figos passados. Não
organizado e bastante ordenado cronologicamente.
quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam
O escrivão pontua seu texto de modo a provocar
alguma coisa, logo a lançavam fora.
um efeito expressivo capaz de prender a atenção do
Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe
leitor. Além de garantir que a leitura do manuscrito
puseram a boca; não gostaram dele nada, nem
seja bastante simples.
quiseram mais.
Conteúdo da Carta Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram
Sobre o seu conteúdo, foi uma carta redigida para o cada um o seu bochecho, mas não beberam; apenas
rei, de modo a comunicar-lhe o descobrimento das lavaram as bocas e lançaram-na fora.
novas terras. Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez
O deslumbramento dos europeus em relação à sinal que lhas dessem, e folgou muito com elas, e
descoberta do "Novo Mundo" é bem evidente nos lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as
registros feitos por Caminha. Na Carta ele descreve em volta do braço, e acenava para a terra e
novamente para as contas e para o colar do
Capitão, como se dariam ouro por aquilo."

Quem foi Pero Vaz de Caminha?


Pero Vaz de Caminha nasceu na cidade do Porto
(Portugal) em 1450 e faleceu na cidade de Calicute
(Índia) em 15 de dezembro de 1500.
Seu pai era o Duque de Bragança e, portanto, teve
uma educação sólida. Trabalhou como tesoureiro e
escrivão na Casa da Moeda. Além disso, ocupou o
cargo de vereador da cidade do Porto, em Portugal.
Em 1500 Caminha acompanhou a frota de Pedro
Álvares Cabral ao Brasil sendo responsável por
escrever sobre as impressões da terra avistada. Sem
dúvida, esse foi o maior feito de Caminha e que o
imortalizou.
Caiu no Enem!
(Enem-2013) De ponta a ponta, é tudo praia-palma,
muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos
pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a
estender olhos, não podíamos ver senão terra com
arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até
agora, não pudemos saber que haja ouro, nem
prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho
vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares
[...]. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me
parece que será salvar esta gente.
Carta de Pero Vaz de Caminha. In: MARQUES, A.; BERUTTI, F.; FARIA, R. História moderna através de
textos. São Paulo: Contexto, 2001.

A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o


projeto colonizador para a nova terra. Nesse trecho,
o relato enfatiza o seguinte objetivo:
a) Valorizar a catequese a ser realizada sobre os
povos nativos.
b) Descrever a cultura local para enaltecer a
prosperidade portuguesa.
c) Transmitir o conhecimento dos indígenas sobre o
potencial econômico existente.
d) Realçar a pobreza dos habitantes nativos para
demarcar a superioridade europeia.
e) Criticar o modo de vida dos povos autóctones
para evidenciar a ausência de trabalho.

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