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Professora Danieli C.

Balbi
Aluno:

A Literatura de Informação e as origens de uma nacionalidade inventada


A Carta de Pero Vaz de Caminha
A “Carta de Pero Vaz de Caminha” ou “Carta a el-Rei Dom Manoel sobre o achamento do
Brasil” foi um documento escrito pelo escrivão português Pero Vaz de Caminha. Redigido em 1.º de
maio de 1500, em Porto Seguro, Bahia, foi levado para Lisboa sob os cuidados de Gaspar de
Lemos, considerado um dos maiores navegadores de seu tempo. Apesar de ter sido escrita no século
XVI, a Carta foi descoberta muitos anos depois, no século XVIII por José de Seabra da Silva (1732-
1813). Ele era estadista, ministro e guarda-mor da Torre do Tombo. Sua aparição oficial e
acadêmica é obra do filósofo e historiador espanhol Juan Bautista Munoz (1745-1799).
No Brasil, sua primeira publicação foi em 1817, na obra “Corografia Brasilica”.
Provavelmente, a primeira versão editada no Brasil foi do Padre Manuel Aires de Casal (1754-
1821). Ele era geógrafo, historiador e sacerdote português que viveu boa parte de sua vida em
território brasileiro. Importante notar que a Carta de Caminha é considerada o primeiro documento
redigido no Brasil e, por esse motivo, é o marco literário do País. Ele faz parte da primeira
manifestação literária pertencente ao movimento do Quinhentismo.

Composição
Iniciada como um processo epistolar de praxe, a Carta, após desenvolver os primeiros
parágrafos, realizando toda a reverência ao monarca D. Manuel I (1469-1521), irá continuar como
um diário comum. Sobre sua composição, foi escrita em sete folhas, cada qual dividida em quatro
páginas. Da conotação fonética das marcas ortográficas, vale citar que Caminha reproduz o estilo de
época típico dos textos portugueses até o século XV.
Sua periodização torna o manuscrito um produto organizado e bastante ordenado
cronologicamente.
O escrivão pontua seu texto de modo a provocar um efeito expressivo capaz de prender a atenção
do leitor. Além de garantir que a leitura do manuscrito seja bastante simples.

Conteúdo
Sobre o seu conteúdo, foi uma carta redigida para o rei, de modo a comunicar-lhe o descobrimento
das novas terras. O deslumbramento dos europeus em relação à descoberta do "Novo Mundo" é
bem evidente nos registros feitos por Caminha. Na Carta ele descreve suas impressões sobre o
Professora Danieli C. Balbi
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território que viria a ser chamado de Brasil. Ele documenta a composição física à primeira vista do
território. Além disso, narra o episódio do desembarque dos portugueses na praia, o primeiro
encontro entre os índios e os colonizadores e a primeira missa realizada no Brasil.
Curiosidade
O termo “descobrimento” é muito combatido atualmente pelos estudiosos brasileiros. Isso
porque deixa à margem os povos indígenas que habitavam o território no momento da chegada dos
“descobridores”.
Trechos da Carta
"Ali veríeis galantes, pintados de preto e vermelho, e quartejados, assim pelos corpos
como pelas pernas, que, certo, assim pareciam bem. Também andavam entre eles quatro
ou cinco mulheres, novas, que assim nuas, não pareciam mal. Entre elas andava uma,
com uma coxa, do joelho até o quadril e a nádega, toda tingida daquela tintura preta; e
todo o resto da sua cor natural. Outra trazia ambos os joelhos com as curvas assim
tintas, e também os colos dos pés; e suas vergonhas tão nuas, e com tanta inocência
assim descobertas, que não havia nisso desvergonha nenhuma."

"Todos andam rapados até por cima das orelhas; assim mesmo de sobrancelhas e
pestanas. Trazem todos as testas, de fonte a fonte, tintas de tintura preta, que parece
uma fita preta da largura de dois dedos."

"Mostraram-lhes um papagaio pardo que o Capitão traz consigo; tomaram-no logo na


mão e acenaram para a terra, como se os houvesse ali.

Mostraram-lhes um carneiro; não fizeram caso dele.

Mostraram-lhes uma galinha; quase tiveram medo dela, e não lhe queriam pôr a mão.
Depois lhe pegaram, mas como espantados.

Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel, figos passados.
Não quiseram comer daquilo quase nada; e se provavam alguma coisa, logo a
lançavam fora.

Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram a boca; não gostaram dele nada,
nem quiseram mais.
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Trouxeram-lhes água em uma albarrada, provaram cada um o seu bochecho, mas não
beberam; apenas lavaram as bocas e lançaram-na fora.

Viu um deles umas contas de rosário, brancas; fez sinal que lhas dessem, e folgou muito
com elas, e lançou-as ao pescoço; e depois tirou-as e meteu-as em volta do braço, e
acenava para a terra e novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se
dariam ouro por aquilo."

“De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos
pareceu, vista do mar, muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão
terra com arvoredos, que nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber
que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém a
terra em si é de muito bons ares [...]. Porém o melhor fruto que dela se pode tirar me
parece que será salvar esta gente.”

Carta de Pero Vaz de Caminha.


In: MARQUES, A.; BERUTTI, F.; FARIA, R. História moderna através de textos. São
Paulo: Contexto, 2001.

De Gestis Mendi de Saa, de Padre José de Anchieta

“[…] Ó quão ditoso dia, Mem de Sá, aquele em que a terra brasílica
te pôde vislumbrar! Que vida salutar hás de conceder a esses povos
aflitos! Ao teu combate, com que grande pavor, fugirá
o fero inimigo, que muitos impropérios vocifera, lançando-os
contra os cristãos, impelido por uma fúria mortal!
Mas o primeiro combate será para ti causa de copiosas lágrimas
e grande sofrimento, quando teu filho querido cair por terra,
abatido por um golpe fatal, e tingir de púrpura as areias da praia,
com o seu precioso sangue, e exalar o último suspiro às auras etéreas.
Tu, porém, guarda, diante de teus olhos, a glória do Eterno Pai,
e não sucumbas aos infortúnios, nem à dor!
A morte lhe concederá, nos céus, a vida eterna,
que ele alcançará, inflamado pelo amor da verdadeira religião,
presente em seu puro coração, e, no excelso Olimpo, terá sua morada.
As proas de bronze não haviam ainda atingido estas margens;
e, após sucessivos infortúnios e constantes perigos do mar,
deixam os litorais dos etíopes - plagas abrasadas por um sol
escaldante, para onde o ímpeto de gigantescas ondas se precipitara,
Professora Danieli C. Balbi
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sob um céu adverso, o mar agitado por fortes ventos –,


e já, então, aguardavam o ilustre governador guerras violentas e
terríveis provações, causa de penosas dores.

Ao longe, uma terra fértil cultivada por poucos colonos,


a cingi-la estão a seu redor montanhas e rochosas praias,
por onde, soltas as rédeas, passa, em fúria, o pluvioso Austro,
violento, em suas águas turbulentas, envolve de nuvens
todo o céu e todo o mar, soprando em turbilhão por sobre as terras.
A esta terra designa-a o Espírito Santo com o seu sacrossanto nome,
terra habitada por povos lusíadas, contra os quais guerras cruéis
move o fero tamoio (o terrível inimigo herda o nome de seus avós),
causando imensos danos por toda a parte,
ao devastar campos e ricas searas de fartas colheitas.
Expulsando os homens, ele segue, abatida a presa, vitorioso,
e do sangue cativo enche os ávidos ventres.
De repente, hordas inimigas acorrem de vários lados,
aglomerando-se, em um bando furioso, para dizimarem
todo o povo cristão; e, em fúria, irrompe, das profundas entranhas,
a ira, a violenta paixão da guerra e a avidez de carne humana;
inflamam-se os corações de insano furor.
E se não fosse a mão de Deus a impedir essas ações criminosas,
trazendo o auxílio celeste a dispersar a tribo altiva,
abrasada pelo furor das guerras, sequiosa de sangue,
e, logo, manchadas todas as coisas, com a ação do cruel Marte,
já a terra inundariam com o sangue dos piedosos.
Tendo, pois, atravessado os mares de Netuno e alcançado o porto,
soube o magnânimo governador de feras guerras preparadas
contra os cristãos; de tribos selvagens em constantes rebeliões,
oriundas de toda a parte, firmes na sua intenção de nunca desistir,
ao ponto de a todos arruinarem e destruírem com cruenta matança.
Incontinenti, dirige-se em seu espírito ao Pai Celeste (sua maior
devoção), e revolvendo todas essas coisas no silêncio do coração,
implora para os sitiados o seu auxílio, que desce, copiosamente, dos céus:
ao mostrar-se propícia a onipotente clemência, vencida pela prece
dos que Lhe são fiéis, diante das difíceis situações da vida humana.”.

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