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Componente curricular: História


Adriana Machado Dias Ensino Fundamental – Anos Finais
Keila Grinberg
Marco Pellegrini

6
JOVEM ANO

SAPIENS
HISTÓRIA
Povos indígenas do Brasil
Chamamos os primeiros povos que habitaram o território brasileiro de paleoin-
dígenas. Existem diversas pesquisas arqueológicas sobre as datas em que esses
povos teriam se estabelecido na região onde hoje é o Brasil. Atualmente, os indí-
cios mais reconhecidos pelos estudiosos foram datados de 12 mil anos atrás. Na-
quela época, os paleoindígenas viviam da caça, da coleta e da pesca.
Depois deles, outros povos habitaram o Brasil, como os povos dos sambaquis,
os Tupi, os Macro-jê, os Marajoaras e os Tapajoaras. Observe o mapa a seguir.

Populações do Brasil (por volta de 1500)


KEITHY MOSTACHI/ARQUIVO DA EDITORA

Equador

OCEANO
PACÍFICO Tronco linguístico Tupi
Tronco linguístico Jê
Cultura Marajoara
Cultura Santarém (Tapajó)
Concentração de sambaquis

Fonte: ATLAS
Histórico do Brasil.
io
icórn FGV/CPDOC.
e Capr OCEANO
ico d Disponível em:
Tróp ATLÂNTICO https://atlas.fgv.br/
mapas/populacoes-
0 400 americanas/terra-
brasileira-antes-da-
Quilômetros conquista. Acesso
50º O em: 14 fev. 2022.

Para estudar essas populações, os arqueólogos analisam vestígios como ferra-


mentas, pontas de flechas feitas de ossos ou rochas, fósseis, resquícios de foguei-
ras e ossadas de pessoas.

Atividades
1. Compare o mapa desta página com um mapa do Brasil atual. Em que estado
se desenvolveram as culturas ceramistas (Marajó e Tapajó)? E os sambaquis?
2. As regiões onde ficavam os sambaquis eram banhadas por qual oceano?

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Os povos dos sambaquis
Algumas populações que habitavam o litoral brasileiro ou regiões fluviais há
milhares de anos construíram sambaquis, estruturas que formavam uma espécie
de monte com resquícios diversos: conchas, rochas, mariscos, ostras, ossos, frag-
mentos de cerâmica, entre outros.
Alguns dos mais antigos sambaquis datados pelos arqueólogos são estruturas
construídas há cerca de 10 mil anos. Leia o texto a seguir.

[...]

Os tamanhos dos sambaquis variam: desde pequenos montes de 10 metros


de comprimento e 2 metros de altura até verdadeiras montanhas de 500 metros
de extensão e mais de 60 metros de altura.

[...]

Estudos recentes mostram que os sambaquis foram construídos com a


intenção de serem marcos importantes nos territórios, para que pudessem ser
vistos bem de longe. As populações que os construíram são conhecidas hoje
como “sociedade dos sambaquis”. Alguns desses grandes sambaquis ainda
existem, mas somente aqueles que não foram destruídos pelas mudanças cau-
sadas pela elevação do nível do mar.

[...]
RICARDO, Fany (coord.). Povos indígenas no Brasil Mirim. São Paulo: ISA, 2015. p. 117.

O estudo dos sambaquis pode auxiliar os pesquisadores a compreender o mo-


do de vida das primeiras populações que habitaram o Brasil, principalmente com
relação à sua alimentação e aos rituais funerários.
TALES AZZI/PULSAR IMAGENS

Sambaqui de cerca
de 7 mil anos,
localizado no sítio
arqueológico de
Santa Marta III, em
Laguna (SC), 2021.

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Os Tupi e os Macro-Jê
Com o passar dos anos, os primeiros povos que habitaram a região do Brasil
foram se diferenciando em grupos com tradições variadas e com costumes cada
vez mais complexos. Teve início então a formação das aldeias, além da prática de
técnicas agrícolas.
Dois grandes grupos indígenas se formaram: os povos Tupi e os Macro-Jê. Esses
grupos tinham algumas características em comum: viviam da caça e da coleta e
praticavam a agricultura. O aspecto que os diferenciava está relacionado princi-
palmente ao idioma.
Observe a ilustração a seguir.

SUSI SILVA/ARQUIVO DA EDITORA

Fonte: LÍNGUAS. Povos Indígenas no Brasil. Disponível em:


https://pib.socioambiental.org/pt/L%C3%ADnguas. Acesso em: 14 fev. 2022.

Acredita-se que os Tupi tenham se originado na região amazônica e imigrado para


outras regiões da América há cerca de 2 mil anos. Foram encontrados vestígios deles
no litoral, demonstrando que eles também costumavam ocupar essas regiões.
Os Macro-Jê teriam se desenvolvido originalmente no litoral, na época da chegada
dos Tupi. Essa população então se deslocou para algumas regiões do interior, prin-
cipalmente próximo aos rios.
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Marajoaras e Tapajoaras
No século XIX, foram encontrados na

FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO/SIM/SECULT-PA/MUSEU DO FORTE, BELÉM, PA


região da Amazônia vestígios arqueológi-
cos feitos de cerâmica, indicativos do alto
grau de complexidade das sociedades
que habitavam essa região há cerca de
1 500 anos. Vasos decorados com inscri-
ções, esculturas ricas em detalhes, potes
de armazenar alimentos, vasos usados
como urnas para os mortos eram feitos
de barro e colocados em fornos para que
adquirissem maior resistência.
Muitas dessas peças representavam
elementos da natureza, como animais ca-
racterísticos da região.
Dois grupos populacionais conhecidos
pela sua arte em cerâmica foram os Marajo-
aras e os Tapajoaras. Leia o texto a seguir.

Estátua marajoara em
exposição no Museu do
Forte, em Belém (PA), 2018.

A cultura Marajoara foi a que alcançou o maior nível de complexidade


social na pré-história brasileira. Essa complexidade se expressa também na
sua produção cerâmica, tecnicamente elaborada, caracterizada por uma
grande diversidade de formas e decorada com esmero. As peças exibidas aqui
estão relacionadas a práticas cerimoniais. Algumas foram encontradas em
contextos funerários, outras provavelmente foram utilizadas em rituais de
passagem. A iconografia Marajoara – fortemente centrada na figura humana
e na representação de animais da floresta tropical revestidos de significados
simbólicos – compõe um intrincado sistema de comunicação visual que se
vale de simetrias, elementos pareados, repetições rítmicas e oposições biná-
rias para reafirmar, transmitir e perpetuar uma determinada visão de mundo.
CULTURA Marajoara. Museu Nacional. Disponível em:
https://www.museunacional.ufrj.br/dir/exposicoes/arqueologia/arqueologia-brasileira/marajoara.html.
Acesso em: 14 fev. 2022.

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Atividades

1. Ao longo dos anos muitas palavras do Tupi – um dos troncos linguísticos


indígenas mais antigos do Brasil – foram incorporadas à língua portuguesa.
Você consegue notá-las no seu vocabulário? Pensando nisso, você e a sua
turma vão fazer uma pesquisa sobre o tema.
a) Em grupos, pesquisem na internet e na biblioteca exemplos de palavras
da língua portuguesa que têm origem no tronco linguístico Tupi.
b) Reúnam o material pesquisado e o tragam à sala de aula no dia combinado.
c ) Compartilhem com os colegas as palavras encontradas.
d) Depois, anote no caderno as palavras citadas pelos colegas.
2. Leia o texto a seguir e responda às questões.
[...] Se hoje temos aproximadamente 150, podemos afirmar que mais ou
menos mil línguas indígenas deixaram de existir no Brasil nos últimos 500
anos. É o que dizem muitos estudiosos do assunto.
Como uma língua deixa de existir?
Uma língua está em risco de extinção quando ela deixa de ser transmitida de
uma geração para outra; quando os falantes param de usá-la ou só a usam em
um número pequeno de situações de comunicação. [...]
A diversidade das línguas é importante porque cada língua reúne um conjunto
de conhecimentos únicos, saberes de um povo. Assim a perda de qualquer língua
é, antes de tudo, uma perda para toda a humanidade.
RICARDO, Fany (coord.). Povos indígenas no Brasil Mirim. São Paulo: ISA, 2015. p. 15.
LUCIANA WHITAKER/PULSAR IMAGENS

Cacique Urutau
Guajajara
ensinando a
língua Tupi em
uma aula virtual.
Rio de Janeiro
(RJ), 2021.

a) De acordo com o autor, por que muitas línguas indígenas deixaram de


existir no Brasil?
b) Por que é importante preservarmos a diversidade de línguas em nosso país?

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Hora do tema
O protagonismo indígena
Nas últimas décadas, os povos indígenas têm tido um grande protagonismo
quando o assunto é “contar a sua história”. Por meio de diversos tipos de supor-
tes como livros, sites, palestras, rádio, vídeos, entre outros, alguns grupos indí-
genas têm se destacado na pesquisa e na difusão de sua versão referentes aos
eventos históricos e às origens de suas aldeias e de seus povos.
Existem no Brasil disponíveis on-line podcasts e

REPRODUÇÃO/EDITORA MODERNA
rádios que são geridos pelos próprios indígenas,
muitas vezes dentro das aldeias. Esses canais de
comunicação contam histórias e difundem as cul-
turas indígenas pelo Brasil.
Em livros desenvolvidos pelos próprios mem-
bros das aldeias, os indígenas publicam informa-
ções relacionadas à tradição oral, aos costumes
medicinais, à sua língua nativa, entre outros te-
mas. Daniel Munduruku, por exemplo, é atual-
mente um dos mais conhecidos escritores indí-
genas do Brasil.

Crônicas indígenas: para rir e refletir na escola,


de Daniel Munduruku, publicado em 2021.
REPRODUÇÃO/EDITORA FTD

REPRODUÇÃO/<HTTP://RADIOYANDE.COM>

Vozes ancestrais: dez contos indígenas, de Rádio Yandê. Disponível em: http://radioyande.com/.
Daniel Munduruku, publicado em 2016. Acesso em: 14 fev. 2022.

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RENATO SOARES/PULSAR IMAGENS

Indígenas Waurá durante o ritual do quarup, no Parque Indígena do Xingu,


em Gaúcha do Norte (MT), 2019.

As apresentações culturais dos povos indígenas são uma maneira de esses


povos propagarem suas tradições, fortalecendo na sociedade o seu direito à
voz. Além disso, outro canal importante de mobilização são as associações, que
organizam eventos e documentos em defesa dos direitos indígenas.
Os diversos povos que vivem na região do Xingu, por exemplo, realizaram o
4º Encontro da Rede Xingu+, em 2019, no qual divulgaram um manifesto. Leia
um trecho dele a seguir.
[...]
Somos responsáveis pela proteção da floresta do Xingu, que beneficia
toda a região e os moradores das grandes cidades, contribuindo para o equi-
líbrio climático essencial para o país e para o mundo. Queremos o reconhe-
cimento e respeito aos nossos modos de vida e também participar das deci-
sões sobre o futuro do Brasil. Exigimos ser ouvidos, especialmente sobre
aquilo que nos afeta [...].
Nunca vamos deixar de ser os povos do Xingu, nunca vamos abandonar as
nossas terras, queremos deixá-las para nossos filhos e netos. O Xingu é um só.
[...]
DO XINGU para o mundo, pela Amazônia. Instituto Socioambiental, 26 ago. 2019. Disponível em: https://site-antigo.
socioambiental.org/pt-br/noticias-socioambientais/do-xingu-para-o-mundo-pela-amazonia. Acesso em: 17 fev. 2022.

Agora, converse com os colegas sobre a questão a seguir.


1. Em sua opinião, qual é a importância de os grupos indígenas contarem a
própria história?

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Componente curricular: História
Adriana Machado Dias Ensino Fundamental – Anos Finais
Keila Grinberg
Marco Pellegrini

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JOVEM ANO

SAPIENS
HISTÓRIA

28/07/2022 16:12:02
Cultura
Dizemos que os indivíduos de um grupo têm uma mesma cultura quando com-
partilham ideias semelhantes ou quando têm um modo parecido de agir e de
perceber o mundo. A arte, a língua, os costumes e as leis de um país são exem-
plos de expressões de uma cultura. Porém, mesmo no interior de uma sociedade,
há diferenças que indicam a variedade da produção cultural de cada grupo que
compõe essa sociedade.
ANDRE DIB/PULSAR IMAGENS

Mulher
indígena
Ashaninka da
Aldeia Apiwtxa.
Marechal
Thaumaturgo
(AC), 2021.

A cultura é transmitida de geração em geração por meio dos grupos sociais aos
quais estamos ligados. Geralmente, é a família que nos transmite os primeiros
valores culturais, depois a escola, em seguida nossos círculos de amizade, poste-
riormente, o trabalho e assim por diante. Desse modo, a cultura é adquirida por
meio de um processo de construção e transmissão social.
SERGIO PEDREIRA/PULSAR IMAGENS

Alunos em
sala de aula
na escola.
Santaluz
(BA), 2018.

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11/08/2022 08:23:49
As diferentes percepções do tempo
O tempo é essencial para o estudo da História, e podemos percebê-lo e medi-lo
de várias maneiras. Existe o tempo da natureza, que não depende da vontade
humana e pode ser percebido, por exemplo, pelo crescimento das árvores ou,
então, pelo envelhecimento das pessoas.
Há também o tempo cronológico, que pode ser contado e também dividido
em diferentes unidades de medida: segundo, minuto, hora, dia, mês, ano, entre
outras. O tempo cronológico obedece a regras humanas e, por isso, é um produto
cultural, podendo variar de uma sociedade para outra.

O tempo para os indígenas


Entre diversos povos indígenas que vivem no Brasil, a observação e a imersão
da natureza são fatores determinantes para a organização da comunidade, das
atividades cotidianas e também dos momentos especiais, como as celebrações.
Leia o relato a seguir, concedido pelo indígena Awasiu Kaiabi.

[...]
Antigamente os Kaiabi só usavam marcadores tradicionais, como por exemplo:
pássaros, flores, lua, peixes, plantas, libélula e sapo. A cigarra marca o tempo da
chuva, a borboleta marca a época de verão, a libélula marca o tempo da primeira
chuva. Quando o mutum canta, época de verão, quando o sapo canta, vai fazer
muito frio naquela região. [...] As plantas marcam o tempo da seca, época da
roçada. Então são esses os marcadores de tempo para o povo
Kaiabi, que são utilizados ainda no Parque Indígena do Xingu.
KAIABI, 2009 apud KAYABI, Dineva Maria. Salto Sagrado do povo Kayabi:
uma história de resistência. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em
Pedagogia Intercultural) – Universidade do Estado de Mato Grosso, Barra do
Bugres, 2016. p. 17. Disponível em: http://portal.unemat.br/media/files/
DINEVA.pdf. Acesso em: 30 maio 2022.

Mutum: tipo de ave.


ARQUIVO DA EDITORA
MALU MENEZES/

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11/08/2022 08:23:45
CAPÍTULO
Povos nativos

2 da América

NIARKRAD/SHUTTERSTOCK.COM

A.

O sítio
arqueológico de
Wiñaywayna contém
vestígios de moradias, Milhares de anos atrás, o continente americano já era
terraços agrícolas e habitado por uma grande diversidade de povos. Neste
caminhos construídos
pelos incas, século XV. capítulo, vamos conhecer alguns deles, como os maias,
Trilha Inca, Peru, 2020. os astecas, os incas, os nazcas e os nativos do Brasil.
34

11/08/2022 08:26:08
JEJIM/SHUTTERSTOCK.COM/MUSEU NACIONAL
DE ANTROPOLOGIA, CIDADE DO MÉXICO, MÉXICO

B.
Calendário asteca
feito entre os anos
1427 e 1479.
RICARDO AZOURY/PULSAR IMAGENS

C.
Pintura rupestre
feita há milhares de
anos por habitantes
nativos do Brasil.
Parque Nacional
Cavernas do Peruaçu,
em Itacarambi (MG).

Ativamente
1. Quais impressões as imagens desta abertura transmitem em relação aos
povos nativos da América?
2. Quais conhecimentos e tradições típicos desses povos você conhece?

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11/08/2022 08:26:09
Atividades

1. Leia o texto e responda às questões a seguir.

[...]

Descobrimento é um termo tradicionalmente empregado pela historiogra-


fia [...], desde o século XIX, para se referir à chegada dos primeiros euro-
peus à América e ao início da colonização desse continente. [...] Capistrano
de Abreu, historiador do final do século XIX [...] utiliza, de acordo com o
uso então comum, a expressão “descobrimento do Brasil” para falar das pri-
meiras expedições ao que viria a ser o território brasileiro. Mas o termo
parece ter caído em desuso no fim do século XX. A crítica ao processo pre-
datório de colonização rendeu frutos e atualmente a maioria dos histo-
riadores [...] prefere nem mesmo falar de descobrimento, mas de conquista
e de colonização. [...]

[...] Descoberta e descobrimento, para autores como Vicente Romano, têm


cunho eurocêntrico muito forte. Isso porque o sentido etimológico da pala-
vra descobrimento refere-se àquilo que está sendo encontrado pela primeira
vez, que ninguém nunca encontrou antes. O que, ao ser empregado com
relação às conquistas territoriais empreendidas pelos europeus, dá a enten-
der que esses tinham direito de estar nesses lugares — a América, a Oceania,
a África, a Ásia —, já que teriam sido

ISMAR INGBER/PULSAR IMAGENS


os primeiros a chegar. Dessa forma,
o conceito de descobrimento, tal como
empregado tradicionalmente, des-
considera por completo a existência
de povos nativos nesses territórios.

[...]
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique.
Dicionário de conceitos históricos. 2. ed.
São Paulo: Contexto, 2006. p. 93-94.

Marco do descobrimento, século XVI.


Porto Seguro (BA), 2019.

a) Por que autores como Vicente Romano consideram que as palavras desco-
berta e descobrimento têm forte cunho eurocêntrico?
b) Na atualidade, quais termos são utilizados pelos historiadores no lugar de
descobrimento? Quais são as razões para a utilização desses termos?

129

11/08/2022 09:06:41
Impactos da invasão europeia
Quando Cristóvão Colombo chegou à América, em 12 de outubro de 1492, esse
continente era habitado por milhões de pessoas. Essa população era composta
por diferentes sociedades, cada uma com sua língua, sua religião, seus costumes,
enfim, seu modo de vida. Havia desde pequenos grupos habitando as florestas
tropicais até grandes centros urbanos, habitados por milhares de pessoas.

Atividades

1. Quando estudamos a história do continente americano, a partir do século XV,


geralmente nos deparamos com determinados conceitos, como invasão,
conquista e colonização. Por que conceitos como esses são usados para
explicar a história da América?

2. Com base no que você estudou sobre os povos da América antes da chegada
de Colombo, como você imagina que ocorreu o processo de conquista e de
colonização do continente americano pelos europeus?

3. Analise a imagem a seguir. O que essa fonte histórica indica sobre o contato
entre espanhóis e povos indígenas da América?

REPRODUÇÃO/MESOLORE/UNIVERSIDADE BROWN, PROVIDENCE, EUA

Nativos do México realizam trabalhos forçados para colonizadores espanhóis.


Cópia de 1773 feita com base no códice Lienzo de Tlaxcala, século XV.

4. Pesquise o significado da palavra genocídio. Depois, converse com os colegas


sobre os motivos de essa palavra ser associada ao processo de conquista
europeia da América.

166

11/08/2022 09:26:57
O choque entre dois mundos
Para a população nativa da América, a chegada dos europeus representou uma
verdadeira catástrofe. No caminho aberto por Colombo, vieram invasores interes-
sados em riquezas, principalmente no ouro e na prata. Na busca pelo enriqueci-
mento rápido, esses invasores deixaram rastros de devastação e sofrimento.
Os sobreviventes das guerras contra os europeus foram incorporados ao processo
de colonização. Os colonizadores apossaram-se das terras, escravizaram e impuseram
suas leis e sua cultura aos indígenas. Além disso, a fome, a violência e as doenças
causaram a morte de milhares de indígenas e a destruição de povos inteiros.
A conquista e a colonização do continente americano podem ser consideradas
um choque entre dois mundos. Desse encontro, nasceu um continente produtor
de grandes riquezas que, no entanto, foram distribuídas de maneira desigual. As
consequências da conquista, como as desigualdades e as injustiças sociais, deixa-
ram marcas profundas que, até hoje, estão presentes, principalmente, nas so-
ciedades da América Latina.

REPRODUÇÃO/BIBLIOTECA NACIONAL DA ESPANHA, MADRI

Espanhóis e indígenas lutando em Tlaxcala, no México. Ilustração do manuscrito Historia


de las Indias de Nueva España y islas de tierra firme, de Diego Durán, século XVI.

O genocídio americano
De acordo com os principais estudiosos do assunto, a população da América, na época da
chegada dos europeus, era de, aproximadamente, 55 milhões de pessoas. No entanto, no
decorrer do processo de conquista, milhões de indígenas foram dizimados. Vários estudiosos
consideram que esse foi o maior genocídio da história.

Genocídio: extermínio total ou parcial de determinado grupo étnico ou religioso.

167

11/08/2022 09:26:58
Resistências contra os invasores
No decorrer de todo o processo de colonização, os indígenas resistiram aos
invasores espanhóis. Havia várias formas de resistência, como guerras, rebeliões
e preservação cultural.
Leia o texto a seguir.

Pouca gente sabe, mas existe um povo que nunca foi conquistado pelos
espanhóis aqui na América Latina. [...]

Ao longo de 300 anos de invasão europeia, este povo guerreiro enfrentou


com valentia e audácia a fúria dos espanhóis até ser reconhecido como um
estado autônomo dentro do imenso território conquistado. São os Mapuche,
palavra que designa “gente da terra”, na língua mapudungun. [...]

A luta do povo Mapuche não foi em vão. Diante de um continente domi-


nado, a Espanha obrigou-se a aceitar a autonomia desta nacionalidade, sendo
traçadas, inclusive, fronteiras territoriais bem claras. O “wall mapu”, território
e também espaço sagrado dos mapuche, permaneceu intacto até que chega-
ram as guerras de independência. [...]
TAVARES, Elaine. O povo Mapuche

REPRODUÇÃO/SEDE DO MINISTÉRIO DA DEFESA, SANTIAGO, CHILE


segue em luta. IELA/UFSC, 15 jan. 2015.
Disponível em: https://iela.ufsc.br/
noticia/o-povo-mapuche-segue-em-luta.
Acesso em: 9 jul. 2022.

Durante os conflitos contra


os primeiros colonizadores es-
panhóis, um dos líderes mapu-
ches que mais se destacaram
foi o toqui Lautaro. Na década de
1550, sob o comando de Lautaro,
os mapuches obrigaram os es-
panhóis a recuar de algumas
regiões do atual Chile.

Toqui: líder militar entre os mapuches.

Detalhe de obra O jovem Lautaro,


de Pedro Subercaseaux. Afresco,
​500 cm × 1 200 cm​, 1946.

168

11/08/2022 09:26:59
“Não somos índios”
Quando os europeus chegaram ao continente americano, eles desconsidera­
ram a imensa diversidade de povos que vivia aqui, chamando a todos de “índios”.
Nas últimas décadas, porém, esse termo vem sendo contestado. Leia a explicação
da educadora Márcia Mura, integrante do povo Mura, de Rondônia.

SERGIO L. FILHO/ARQUIVO DA EDITORA


[...]
“Índio é um termo genérico, que não considera as especificida-
des que existem entre os povos indígenas, como as especificidades
linguísticas, culturais e mesmo a especificidade de tempo de con-
tato com a sociedade não indígena”, explica.
Em contrapartida, “indígena” é uma palavra que significa “natural do
lugar em que vive”. O termo exprime que cada povo, de onde quer que
seja, é único.
“O que o movimento indígena reivindica é que esse termo [índio],
que é colonizador, que reproduz um pejorativo que remete à ideia
eurocêntrica de que somos atrasados, de que somos todos iguais, no
sentido de que as diferenças linguísticas e culturais são desconside-
radas, seja substituído por como nos autodenominamos”, continua
[...]
“Quando dizemos que não somos índios, queremos dizer que
somos Mura, Uruéu-Au-Au, Guarasugwe, todos habitantes do terri-
tório Pindorama, que é como os Tupinambá chamam o que os colo-
nizadores deram o nome de Brasil, mas diferentes”.
[...]
SANTOS, Emily. Índio ou indígena? Entenda a diferença entre os dois termos. G1, SP, 19 abr. 2022.
Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2022/04/19/indio-ou-indigena-entenda-a-diferenca-
entre-os-dois-termos.ghtml. Acesso em: 11 jul. 2022.

Atividades

1. De acordo com Márcia Mura, por que o termo “índio” não é adequado para se
referir aos povos indígenas que vivem no Brasil?
2. Márcia Mura afirma que o termo “índio” é eurocêntrico. Com base nos conteú­
dos já estudados neste livro, explique o que é eurocentrismo.

190

11/08/2022 09:29:00
Os povos nativos do Brasil
De acordo com vários estudos, no início do século XV havia cerca de 4 a 5 mi-
lhões de indígenas vivendo nas terras que hoje formam o Brasil.
Eles agrupavam-se em

REPRODUÇÃO/FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO, RJ


cerca de 900 povos dife-
rentes, como Tupinambá,
Tupiniquim, Karijó, Kaeté,
Xavante, Apiaká e Curutu.
Com diferenças entre si,
cada povo tinha seu pró-
prio modo de vida, sua
língua, seus costumes e
suas crenças.

Moradia dos Curutu,


de José Joaquim Freire.
Aquarela, século XVIII.

Vestígios arqueológicos
Para estudar os povos indígenas que viviam no Brasil há milhares de anos, os
cientistas costumam analisar os vestígios materiais encontrados nos sítios arqueo­
lógicos. Entre esses

GERMANO FELIPE/SHUTTERSTOCK.COM
vestígios estão pin-
turas rupestres, geo­
glifos, petróglifos e
objetos do dia a dia
feitos de cerâmica e
pedra, como urnas
fu­nerárias, tigelas,
cuias e cestas.

Petróglifos: gravuras
feitas em rocha.

Petróglifos no Sítio
Arqueológico Pedra
do Ingá (PB).

47

11/08/2022 08:31:36
A organização das aldeias
Além das diferenças nos costumes, na língua e nas pinturas corporais, havia
diferenças nas moradias indígenas. Cada povo organizava a sua aldeia de uma
maneira. Observe.

1. A aldeia dos Tupiniquim é 1.


formada por várias casas,
construídas em torno de um
pátio central, onde eles
costumam realizar reuniões e
cerimônias. Em cada uma das
casas, moram cerca de 50
pessoas que constituem uma
família. Cada família tem seu
próprio espaço, onde é feito o
fogo para cozinhar e onde são
armadas as redes para dormir.

2. A aldeia dos Yanomami é 2.


formada por uma única
grande casa, que abriga todos
os moradores. Dentro dela,
cada família tem seu próprio
espaço para cozinhar e dormir.
Essa casa, onde vivem cerca
de 70 pessoas, é circular, com
uma abertura no centro para
permitir a entrada da luz do
Sol e a saída da fumaça das
fogueiras. A aldeia-casa é
construída com madeira e
folhas de palmeira.

3. A aldeia dos Xavante é 3.


ILUSTRAÇÕES: WANDSON ROCHA/ARQUIVO DA EDITORA

formada por várias casas


dispostas em formato de
ferradura, com a abertura
geralmente voltada para o rio
mais próximo. Suas casas são
feitas de madeira e de folhas
de palmeira, e cada uma
abriga três ou quatro famílias.
No centro da aldeia, existe o
warã, onde os homens se
reúnem para discutir assuntos
de interesse comum a todos
os membros do grupo.

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19/04/2023 17:42:29
O Caminho do Peabiru
O Caminho do Peabiru é uma rede de estradas e de trilhas que começou a ser
formada pelos indígenas que viviam no continente americano há mais de 1 200 anos.
Esses caminhos atravessavam o continente e ligavam o litoral sul do atual territó-
rio do Brasil ao Peru, totalizando cerca de três mil quilômetros de extensão.
Atualmente, pesquisas e estudos ainda estão sendo realizados para se saber
quem construiu esses caminhos e quais as suas finalidades.
Algumas hipóteses indicam que indígenas que habitavam o atual território bra-
sileiro teriam aberto parte das vias para se deslocar mais facilmente de um lugar
a outro. Além disso, alguns pesquisadores atribuem aos incas a autoria de tre-
chos do caminho situados mais a oeste do continente, os quais seriam usados
para trocas comerciais ou expansão do império. Nesses trechos, foram utilizados
técnicas e sistemas de construção mais complexos, incluindo pontes, pavimenta-
ção e canaletas para escoamento da água.

Caminho do Peabiru
EDSON BELLUSCI/ARQUIVO DA EDITORA

AM PA PI
AC
TO
RO
PERU BA
MT
Cuzco

15° S DF
GO
BOLÍVIA
Porto Suárez
MG
Potosí
MS
OCEANO Porto SP
PACÍFICO Casado
São Paulo RJ
PARAGUAI Peabiru
córnio
de Capri PR
Trópico Guairá São Vicente
Pitanga
Assunção Curitiba
0 210
Quilômetros ARGENTINA OCEANO
SC
ATLÂNTICO
Peabiru
65° O RS
Ramais
Limite atual dos Fonte: LANGER, Johnni. Caminhos ancestrais. Nossa História,
estados brasileiros São Paulo, Vera Cruz, ano 2, n. 22, ago. 2005. p. 21.
Limite atual dos
países

49

11/08/2022 08:31:38
8
Componente curricular: História
Adriana Machado Dias Ensino Fundamental – Anos Finais
Keila Grinberg
Marco Pellegrini

8
6
JOVEM ANO

SAPIENS
HISTÓRIA
b) Agora, reflita sobre as questões: Como seria a convivência desses grupos
na sociedade colonial? Havia conflitos ou era uma convivência pacífica?
Escreva as suas hipóteses no caderno.
8. Atualmente, apesar de a escravidão ter sido abolida, a população afrodes-
cendente ainda sofre com o racismo, a discriminação e a desigualdade racial.
Sobre a escravidão africana no continente americano, indique em seu cader-
no a afirmativa incorreta. Em seguida, explique por que ela não está correta.
a) O tráfico de africanos escravizados para as Américas constituiu-se em
uma atividade altamente lucrativa, e o grande volume desse comércio
intensificou os conflitos entre as sociedades africanas.
b) Na América, os escravizados eram empregados em todo tipo de tarefas
braçais, como nas lavouras de cana-de-açúcar, na mineração e nos traba-
lhos domésticos.
c ) A violência contra os africanos escravizados começava desde seu aprisio-
namento e transporte, em péssimas condições, até o trabalho nas colô-
nias, permeado por castigos físicos e privações.
d) Embora a escravidão já fosse praticada na África, Europa e Ásia desde a
Antiguidade, foi seu aspecto comercial moderno que a tornou mais in-
tensa e destrutiva contra as sociedades africanas.
e) Os africanos escravizados aceitavam pacificamente sua situação e as
condições de trabalho nas colônias americanas, pois a prática da escravi-
dão já fazia parte de suas culturas originárias.
9. Analise a imagem a seguir e escreva um texto explicando a frase do cartaz.
Para isso, baseie-se na situação dos povos indígenas do Brasil, antes e depois
da chegada dos europeus.
CASSANDRA CURY/PULSAR IMAGENS

Manifestantes
durante a
2» Marcha
Nacional de
Mulheres
Indígenas.
Brasília (DF),
2021.

15
O trabalho
Trabalho é a ação produtiva dos indivíduos, que, para atender às suas necessi-
dades, transformam a natureza. Todos os bens de que dispomos são frutos do
trabalho, desde um alimento até um automóvel ou uma obra de arte.
As formas de trabalho variam de uma sociedade para outra e são influenciadas
pelas técnicas que cada sociedade domina e por aquilo que seus membros consi-
deram importante produzir. O trabalho, de qualquer modo, é fundamental para o
desenvolvimento humano.
Observe as fotografias a seguir.
CADU DE CASTRO/PULSAR IMAGENS

FOTOMUNDO BRASIL/SHUTTERSTOCK.COM
Indígena Macuxi trabalhando na produção de Pescadores trabalhando na praia da Lagoinha.
cerâmica. Normandia (RR), 2021. Florianópolis (SC), 2021.
ADRIANO KIRIHARA/PULSAR IMAGENS

ADRIANO KIRIHARA/PULSAR IMAGENS

Homem trabalhando na produção de queijo Agricultores trabalhando na colheita de uvas.


canastra. São Roque de Minas (MG), 2021. Petrolina (PE), 2021.

Atividades

1. As pessoas retratadas estão fazendo quais trabalhos?


2. Cite de que maneiras o trabalho dessas pessoas pode movimentar a economia.

31
O genocídio indígena
Outro grupo que não teve garantido o direito à vida e à liberdade individual foi
o dos indígenas. Eles foram os primeiros habitantes da região, mas tiveram suas
terras tomadas no período Colonial e continuaram a perder seus territórios após
a independência. No século XIX, as invasões das terras indígenas e o massacre
desses povos tornaram­se uma política incentivada por diversos governos estadu­
nidenses. Essa política, conhecida como Marcha para o Oeste, resultou no geno­
cídio de várias nações indígenas e na ampliação do território dos Estados Unidos.
Leia o texto a seguir.

[...]
O terrível desse genocídio se vê nos números. Em 1620, a população nativa
era de 18 milhões, foi reduzida a 600 mil em 1800 e chegou a 250 mil em
1900. Em 2008, o censo demográfico dos Estados Unidos mostrou uma popu-
lação de aproximadamente 325 milhões de habitantes. Entre esses, 75,1%
brancos, oriundos de imigrações europeias, enquanto os nativos representavam
0,13% da população, algo como 2,5 milhões, quando no início do século 17
eram 18 milhões. [...]
CANNABRAVA FILHO, Paulo. Maior genocídio da humanidade foi feito por europeus nas Américas: 70 milhões morreram.
Diálogos do Sul, 31 maio 2019. Disponível em: https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/direitos­humanos/58765/
maior­genocidio­da­humanidade­foi­feito­por­europeus­nas­americas­70­milhoes­morreram. Acesso em: 27 abr. 2022.

A Marcha para o Oeste era fundamentada pelo Destino Manifesto, uma dou­
trina que defendia que a expansão territorial, cultural e religiosa dos Estados
Unidos era uma vontade divina. A pintura desta página é uma representação do
Destino Manifesto.
REPRODUÇÃO/MUSEU AUTRY DO OESTE AMERICANO, LOS ANGELES, EUA

Progresso americano, de
John Gast. Óleo sobre tela,
29,2 cm × 40 cm, 1872.

76
Atividades

1. Releia a Carta Régia de 1808 e responda às questões a seguir.


a) Qual é a primeira ordem que D. João dá ao governador da capitania?
b) E a segunda e terceira ordens, quais são?
c ) De acordo com o que estudamos, o que D. João pretendia com essas ordens?

A diversidade indígena
Desde 1500, com a chegada e a invasão dos portugueses às terras indígenas
que atualmente formam o Brasil, a violência foi usada como meio de exterminar
e controlar os povos nativos. Desse modo, na época da transferência da Corte
portuguesa, o número de etnias indígenas já havia diminuído drasticamente.
Mesmo assim, ainda existia uma grande diversidade. Entre os “botocudos” que
viviam na região dos atuais estados de Minas Gerais e Espírito Santo, por exem-
plo, havia diferentes etnias. Leia o texto.

[...] Com a intensificação das investidas dos colonos no Sertão Leste de


Minas Gerais, “botocudo” ganhou maior abrangência e passou a incluir dife-
rentes grupos indígenas que entravam em contato com os portugueses, como
Crenaques, Nacnuc, Nac-requés, Pancas, Manharigems, Incutera, que habitavam
as margens de rios nas regiões de Minas Gerais e Espírito Santo. [...]
CORRÊA, Luís Rafael Araújo. A Guerra de D. João contra os índios Botocudos:
contexto e motivações. História em Rede, 16 ago. 2019.
Disponível em: https://historiaemrede.medium.
com/a-guerra-de-d-jo%C3%A3o-contra-os-%C3%ADndios-botocudos-contexto-e-
motiva%C3%A7%C3%B5es-52df072e1f71. Acesso em: 11 maio 2022.
REPRODUÇÃO/ACERVO DA PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO, SÃO PAULO, SP

Armas,
ornamentos e
utensílios de
Puris, Botocudos,
Machacaris e
índios da Costa,
de Maximilian zu
Wied-Neuwied.
Gravura, 1822.

182
O discurso civilizatório
Converse com os colegas sobre as questões a seguir.

Atividades

1. Quais foram as consequências da colonização do Brasil para os indígenas?


2. De que formas os indígenas resistiram à colonização europeia?
3. Em sua opinião, qual é a relação entre a colonização europeia e o racismo
sofrido pelos indígenas no Brasil atual?

No século XIX, o modo como os indígenas eram vistos pelos europeus fazia
parte de uma concepção etnocêntrica e racista. Os europeus defendiam o princí-
pio de que eram superiores aos indígenas e que tinham a “missão de civilizá-los”,
ou seja, de impor seus modos de ser, viver e pensar.
O discurso civilizatório foi muito negativo para os indígenas, que tiveram sua
cultura e seus saberes praticamente destruídos pelos europeus.

A resistência indígena
Os indígenas sempre resistiram aos inva-

REPRODUÇÃO/EDITORA GFM
sores europeus e às suas tentativas de exter-
mínio. E resistiam de diferentes modos, co-
mo no confronto direto, na destruição das
vilas e cidades coloniais e com a fuga para o
interior do território como meio de evitar a
morte e preservar seu modo de vida.
Os cerca de 900 mil indígenas que vivem
atualmente no Brasil são os descendentes
desses primeiros povos que sobreviveram
ao genocídio causado pela colonização eu-
ropeia. Segundo estudo dos pesquisadores
Marcelo Grondin e Moema Viezzer, estima-
-se que, em 1500, viviam cerca de 4 a 5 mi-
lhões de indígenas no Brasil.
Capa do livro O maior genocídio da
história da humanidade, de Marcelo
Grondin e Moema Viezzer, 2018.

Etnocentrismo: visão de mundo preconceituosa na qual se considera a própria cultura como superior às
demais culturas.

183
Os indígenas e a Constituição de 1824
Durante o Primeiro Reinado, a legislação indigenista do governo de D. João VI
foi mantida. Os indígenas continuaram a ser considerados incapazes de participar
da vida política do país.
Com a Constituição de 1824, eles não foram considerados “cidadãos ativos”.
Leia o texto a seguir.

[...] Para esses membros da Assembleia, todos os moradores do novo país


deveriam ser considerados brasileiros, isto é, membros da sociedade brasílica.
Porém, nem todos poderiam ser considerados como cidadãos brasileiros com
iguais direitos e deveres, pois uns eram ativos e outros passivos na prática do
seu patriotismo, e essa diferenciação era essencial dado o caráter heterogêneo
da população que habitava o país.

Nessa condição de brasileiros, isto é, nascidos no Brasil, e de não cidadãos


foram enquadrados os filhos de negros [...] cativos porque não teriam con-
dições de exercer direitos

REPRODUÇÃO/INSTITUTO DE PESQUISA GETTY, LOS ANGELES, EUA


cívicos. Já para os índios,
havia uma pré-condição
para passarem da simples
condição de brasileiros
para a de cidadãos: a de
deixarem de ser silvícolas,
no sentido mais restrito do
termo, isto é moradores
das selvas, e “abraçarem a
nossa civilização”.

[...]
PARAISO, Maria Hilda Baqueiro. Construindo
o Estado da exclusão: os índios brasileiros e a
Constituição de 1824. Revista CLIO, Recife, v. 28,
n. 2, jul./dez. 2010. p. 12-13. Disponível em:
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaclio/
article/viewFile/24259/19680.
Acesso em: 16 maio 2022.

Chefe Bororo, de Francis de la


Porte. Gravura, século XIX.

214
Política indigenista no
Segundo Reinado
Em 1845, D. Pedro II aprovou o Regulamento acerca das Missões de catequese
e civilização dos Índios. Esse documento determinou que os indígenas deveriam
ser “civilizados” nos aldeamentos de acordo com os padrões europeus. Os aldea-
mentos passaram a ser administrados por funcionários públicos, entre eles diretor,
tesoureiro, cirurgião, enfermeiro e missionário.
Foi instituída, dessa maneira, uma política governamental de dominação nos
aldeamentos, formalizando o trabalho compulsório e a dominação cultural dos
povos indígenas.

[...]

O modelo do indigenismo que vigorou após o Regimento das Missões associou


catequese e civilização e integrou o processo de construção da nação brasileira,
segundo um padrão que se pretendia europeu, onde não caberiam as pluralida-
des étnicas e culturais indígenas [...]. O Regimento das Missões foi a base legal da
política indigenista empreendida pelo governo imperial em todo o território
nacional na segunda metade do século XIX, executada pela Diretoria Geral dos
Índios até a queda do regime monárquico em 1889. [...]
CABRAL, Dilma. Diretorias/Diretores-Gerais de Índios. Arquivo Nacional MAPA, 26 set. 2018. Disponível em:
http://mapa.an.gov.br/index.php/menu-de-categorias-2/312-diretores-diretoria-geral-dos-indios. Acesso em: 20 maio 2022.
REPRODUÇÃO/FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO, RJ

Capitão Manoel,
chefe dos índios
coroados do
aldeamento de São
Jerônimo, de Franz
Keller. Grafite e
aquarela, 1865.

241
9
Componente curricular: História
Adriana Machado Dias Ensino Fundamental – Anos Finais
Keila Grinberg
Marco Pellegrini

6
9
JOVEM ANO
ANO

SAPIENS
HISTÓRIA
Ativamente
1. Observe a fotografia a seguir. Que grupo social está representado?

WALTER GARBE/FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL, RIO DE JANEIRO, RJ


Ativamente

B.
Indígenas botocudos, que viviam no estado do Espírito Santo.
Fotografia de Walter Garbe, 1909.

2. Você sabe como viviam as pessoas pertencentes ao grupo retratado na


fotografia? Junte-se a alguns colegas, escolham uma etnia indígena e pes-
quisem a situação dela no Brasil no início do século XX.
• Como esse grupo estava organizado?
• Como era a relação entre esse grupo e o governo republicano?
• Quais eram as dificuldades encontradas por esse povo nessa época?
3. Depois de reunir o material da pesquisa, leia o trecho a seguir.

[...] No estado de São Paulo, em razão da expansão da fronteira oeste,


registraram-se, nas proximidades de Bauru, sucessivos massacres dos
B.
caingangues, o mesmo ocorrendo em Santa Catarina, onde os xokleng
Münchehagen, Alemanha, 2015.
entram em processo acelerado de extinção; fenômeno que estava longe
de representar casos isolados e que levou, nas primeiras décadas do
século XX, à quase extinção das populações indígenas brasileiras.
[...]
DEL PRIORE, Mary; VENANCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São Paulo: Planeta, 2010. p. 226-227.

• Com base na pesquisa realizada e no texto citado, a que conclusões po-


demos chegar acerca da situação de grande parte dos povos indígenas
no início do século XX? Converse com os colegas.

39
Hora do tema
Os povos indígenas durante a República
Desde o governo de Getúlio Vargas, nas décadas de 1930 e 1940, foram
criadas propostas de ocupação do interior do Brasil, além de iniciativas de
incentivo ao crescimento das redes rodoviária e ferroviária entre as diversas
regiões, buscando promover o povoamento do Norte e do Centro-Oeste. Era
a chamada Marcha para o Oeste.
Nessa época, a urbanização e a industrialização ainda eram marcantes ape-
nas nas regiões litorâneas, enquanto o interior era considerado por muitos
uma região estagnada, atrasada e um “vazio” territorial.

Políticas de integração
Porém, nessas terras viviam muitos povos indígenas com um modo de vida
autônomo e uma cultura própria. No contexto da Marcha, Vargas propôs al-
gumas políticas de integração com essas populações por meio da implanta-
ção de expedições de reconhecimento territorial e de bases de ocupação no
interior do país.

Os irmãos Villas Bôas e o Xingu


Entre essas expedições, uma

ACERVO UH/FOLHAPRESS
das mais conhecidas é a Expedi-
ção Roncador-Xingu, desenvol-
vida a partir de 1943. Os irmãos
Orlando, Cláudio e Leonardo
Villas Bôas exerceram papel de
liderança nessa expedição, que
alcançou a região do rio Xingu
em 1946. Nesse local, a expedi-
ção entrou em contato com mui-
tos povos indígenas e os irmãos
Villas Bôas passaram a empreen-
der ações para preservar essas
Getúlio Vargas encontra-se com indígenas em
terras da exploração de fazendei- 1954. Orlando Villas Bôas (ao centro) atuou
ros e de políticas colonizadoras como intérprete do diálogo entre o presidente
e os indígenas.
do governo.

249
A criação do Parque Indígena do Xingu
Assim, após estabelecer contato com os diferentes povos da região, os irmãos
Villas Bôas passaram a defender o direito dos indígenas de viver no Xingu.

[...]

Muitas vezes observamos que, atraídos pelos civilizados, os índios eram


persuadidos a abandonar suas aldeias para residir em fazendas, onde sem-
pre, e automaticamente, perdiam a autonomia, os estímulos e a oportuni-
dade para as suas recreações, bem como a plena disponibilidade do tempo
para a obtenção dos tradicionais e fartos recursos da sua subsistência.
Foi contra isso que sempre lutamos, pois tais circunstâncias simples-
mente demolem a vida socioeconômica dos índios, que, passando a viver
entre civilizados isolados no Sertão, se transformam em objeto de explora-
ção indiscriminada. [...]
VILLAS BÔAS, Orlando. Histórias e causos. São Paulo: FTD, 2005. p. 135.

Para assegurar o território, foi pro- Parque Indígena do Xingu

KEITHY MOSTACHI/ARQUIVO DA EDITORA


posta em 1952 a criação de uma área MT
-32
2 (B
R-0
80)
de proteção na região. Após quase dez ug
o X in
Ri
anos de debates a respeito da extensão Juruna
Kayabi
issu
da área, em 1961, durante o governo de Rio Ma ritsauá-M Posto
Rio

Diauarum 11° S
u ua
ing
A

Jânio Quadros, foi criado o Parque Indí- iá-


X

M is
Rio

su
Kayabi Suyá
gena do Xingu, com uma área bem me- Rio
Suy
Kayabi á-M
iss u
nor do que a inicialmente proposta. O Txikão
Trumai
Parque situa-se no nordeste do estado Base Jacaré
do Mato Grosso. Observe no mapa as Kamayurá Nahukwá
u ro Waurá Yawalapiti
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etnias que o parque abriga atualmente. Rio
Ro Posto Leonardo Matipu
Villas Bôas
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Kuikuro
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Kalapalo
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Ri o Kur is evo

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Fonte: ATIX; IPEAX; ISA; FUNAI. Plano de Gestão do


Set
R i o Ku l u e n e

0 30
ed

Território Indígena do Xingu, 2016. p. 53. Disponível em:


eS

https://acervo.socioambiental.org/sites/default/files/ Quilômetros em
et

br
publications/0pd00256.pdf. Acesso em: 30 mar. 2022. 53° O o
Área do Parque
Indígena do Xingu
Aldeias indígenas
Rios
Agora, responda às questões.
1. Como se caracterizaram as relações entre os povos indígenas e o Estado
brasileiro entre as décadas de 1930 e 1950?
2. Que tipo de “integração” o governo estava propondo? Explique.

250
A resistência indígena e quilombola
O governo ditatorial incentivou e financiou políticas de expansão territorial e
desenvolvimento econômico no interior do país. Para isso, empreendeu obras de
construção de rodovias e de usinas hidrelétricas. Além disso, autorizou a explora-
ção de terras por empresas de mineração e o desmatamento para o desenvolvi-
mento da agropecuária.
Entretanto, muitas dessas ações foram realizadas sem nenhuma preocupação
com a população que vivia nos territórios afetados, como os povos indígenas e as
comunidades quilombolas. Esses povos foram amplamente prejudicados com es-
sas políticas expansionistas, sofrendo diversos tipos de violência.
Em meio ao processo de desenvolvimento econômico promovido pelo governo,
houve ocupação irregular de terras indígenas. Muitos povos foram expulsos de
seus territórios e houve perseguição, prisão, tortura e morte de lideranças indíge-
nas que reivindicavam os direitos de sua população.
Uma das lideranças que resistiu à ditadura e lutou pelos direitos indígenas foi
o cacique Xavante Mário Juruna. Em 1983, ele foi o primeiro deputado federal in-
dígena do Brasil.
Leia o texto a seguir.

[...] Estreou na tribuna da Câmara no Dia Nacional do Índio, 19 de abril,


pronunciando discurso em português, no qual pedia a demissão de todo o
ministério do governo do general João Batista Figueiredo, a quem considerava
“bom, mas mal assessorado”. Sugeria também o retorno dos militares aos
quartéis e afirmava a necessidade de a Funai ser administrada por índios, e
não por militares. [...]
VERBETE Mário Juruna. FGV CPDOC. Disponível em:
https://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/juruna-mario. Acesso em: 31 mar. 2022.
MOREIRA MARIZ/FOLHAPRESS

O deputado
federal Mário
Juruna em
audiência com o
presidente
João Figueiredo.
Brasília (DF), 1983.

270
O massacre de indígenas na ditadura
De acordo com dados da Comissão Nacional da Verdade (CNV), a ditadura foi
responsável direta pela morte de aproximadamente 8 mil indígenas. Como em
muitos casos não foram disponibilizados dados oficiais, acredita-se que esse nú-
mero possa ser ainda maior.
As formas de violência contra as populações indígenas eram variadas, como a
imposição de deslocamentos nas terras, torturas, prisões, mortes em embates e
a propagação de doenças como gripe e sarampo.

[Uma] característica sistemática das violações cometidas contra indígenas


no período em questão reside no fato de que, ainda que tenham se dirigido a
indivíduos, tiveram como alvos povos como um todo e enquanto tais. Liberar
terras para fins de colonização ou para a construção de obras de infraestru-
tura levou não só a tentativas de negação formal da existência de certos povos
indígenas, em determinadas regiões, mas também a meios de tornar esse apa-
gamento realidade.

[...]
COMISSÃO Nacional da Verdade – relatório – volume II – textos temáticos – dezembro de 2014. p. 217.
Disponível em: https://www.plataformadh.org.br/wp-content/uploads/
2019/08/capitulo_indigena_relatorio_final_cnv_volume_ii.pdf. Acesso em: 19 mar. 2022.

Entre as obras de infraestrutura realiza-

SOLANO JOSÉ/AGE/ESTADÃO CONTEÚDO


das durante o regime ditatorial, estavam
a construção de estradas e hidrelétricas e
a exploração de minérios.
Essas ações representaram a morte e o
deslocamento forçado de indígenas, além
da destruição de seus territórios. Foi o
que aconteceu, por exemplo, durante a
implantação do projeto de mineração
Grande Carajás e a construção da rodovia Obras de construção da rodovia
Transamazônica. Transamazônica. Altamira (PA), 1972.

A criação da Funai
Em 1967, para instituir a política indigenista do governo ditatorial, foi criada a
Fundação Nacional do Índio (Funai). Naquele contexto, ela estava alinhada aos
interesses dos militares nos projetos de execução de obras de infraestrutura nos
territórios tradicionais dos indígenas no interior do Brasil, principalmente na re-
gião amazônica.
271
A União das Nações Indígenas
Durante o Seminário de Estudos Indígenas de Mato Grosso do Sul, em 1980,
diversas lideranças indígenas se reuniram para discutir ações de resistência à si-
tuação de violência e descaso sofridos por esses povos na ditadura civil-militar.
Veja o que disse Marçal de Souza, líder da etnia Guarani Ñandeva, durante o
seminário.
[...]
“Caros amigos, para terminar a nossa intenção e a intenção do Mário Juruna,
é que o povo indígena brasileiro se organize. Tenhamos o direito de organizar,
aproveitar aqueles elementos que amam os seus irmãos. Quer a sobrevivência
do seu povo, da sua raça, que aqueles que são responsáveis por nós, nos dê a
liberdade. Tenha a liberdade de se sentar com os caciques indígenas de todo o
Brasil em congresso e simpósio, em seminário, quem quer que seja, para discu-
tir juntos, porque não adianta dizer ao doutor que está doendo o corte que está
no pé. O doutor pode dar remédio, de acordo com a minha queixa, mas a dor ele
não está sentindo, dor ele não sente. O nosso caso, jamais um branco enten-
derá. O sofrimento moral, espiritual do Índio, é nós mesmo estamos diante
dessa impossibilidade dos branco sentir nosso problema, o problema do Índio.”
[...]
SOUZA, 1980 apud DEPARIS, Sidiclei Roque. Uni‹o das Na•›es Ind’genas (UNI): contribuição ao movimento Indígena no
Brasil (1980- 1988). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, 2007. p. 85.
Disponível em: https://www.ppghufgd.com/wp-content/uploads/2017/06/Sidiclei-Roque-Deparis.pdf. Acesso em: 4 jul. 2022.
REPRODUÇÃO/ARQUIVO EDGARD LEUENROTH/UNICAMP

A partir do seminário, foi fundada


a União das Nações Indígenas (UNI),
uma organização de caráter nacio-
nal comandada por indígenas com
o objetivo de defender os direitos
desses povos.

Cartaz produzido pela União das


Nações Indígenas denunciando
o assassinato de Marçal de Souza,
1983. O líder indígena foi morto
a mando de dois fazendeiros de
Bela Vista, Mato Grosso do Sul.

272
A questão indígena
A história dos indígenas brasileiros é marcada pela luta por suas terras desde a
época em que elas foram invadidas por europeus, a partir do século XVI. Atual-
mente, o desrespeito em relação à demarcação das terras indígenas permanece
um dos problemas mais graves do Brasil.

Art. 231 – São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes,
línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradi-
cionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer res-
peitar todos os seus bens.

[...]
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 1988. Disponível em: https://www.senado.leg.br/
atividade/const/con1988/con1988_08.09.2016/art_231_.asp. Acesso em: 7 abr. 2022.

Apesar do amparo legal, a demarcação das terras indígenas tem enfrentado obje-
ções de fazendeiros, garimpeiros e madeireiros que ocupam algumas dessas terras
e exploram seus recursos, impedindo o prevalecimento do direito dos indígenas.

Sujeito em foco
Ângelo Kretã

CARLOS RUGGI/ACERVO MUSEU PARANAENSE, CURITIBA, PR


Nascido em 1942 na aldeia kaingang do muni-
cípio de Mangueirinha, no Paraná, o líder indíge-
na Ângelo Kretã começou a se envolver na luta
pela autonomia dos povos indígenas em meados
da década de 1960.
Em 1975, tornou-se o primeiro indígena eleito
no Brasil, assumindo o cargo de vereador de Man-
gueirinha e atuando na defesa dos povos indígenas
da região. Esse fato teve uma ampla repercussão Ângelo Kretã na reserva
nacional e colocou em discussão a condição dos indígena de Mangueirinha
indígenas no país. (PR), final da década de 1970.

O líder indígena travou uma luta acirrada contra madeireiras, posseiros e


grileiros com o intuito de retomar terras indígenas em todos os estados da
região Sul do Brasil.
Ângelo faleceu aos 37 anos de idade, em janeiro de 1980, uma semana
após ter sido gravemente ferido em uma colisão de veículos. Ainda hoje, as
circunstâncias em que ocorreu sua morte não foram esclarecidas.

348
A luta dos povos indígenas
Com a Constituição de 1988, os povos indígenas conseguiram ter reconhecido
seu direito a terra. Porém, o processo de demarcação e reconhecimento legal das
terras indígenas tem sido demorado, o que dificulta, na prática, a garantia dessa
conquista. Isso ocorre por diversos motivos, entre eles, a ocupação dessas terras
por pessoas que exploram ilegalmente os recursos naturais, como madeireiros e
fazendeiros.
O mapa a seguir mostra os territórios indígenas demarcados, em processo de
demarcação ou aguardando reconhecimento legal. Observe-o.

Terras indígenas (2021)

EDSON BELLUSCI/ARQUIVO DA EDITORA


RR AP
Equador

AM
MA CE
PA RN

PI PB
PE
AC RO AL
TO SE
MT BA

DF OCEANO
GO
ATLÂNTICO
MG
OCEANO MS ES
PACÍFICO
SP
Limite internacional RJ
Trópico
de C
Limite estadual PR apricór
nio

Homologada
SC
Identificada
Declarada RS
Em identificação
0 510
Áreas de pequena
escala Quilômetros
50° O

Fonte: FUNAI. Disponível em: http://mapas2.funai.gov.br/portal_mapas/pdf/brasil_


indigena_11_2021.pdf. Acesso em: 8 abr. 2022.

Com seus territórios reconhecidos e legalizados, os indígenas conseguem viver


e exercer sua cultura livremente, mantendo tradições como festas, rituais e mo-
dos de educar. Além disso, a demarcação de terras garante o contato desses po-
vos com a natureza, aspecto fundamental para o seu modo de vida.
Nos últimos anos, diversos povos indígenas se organizaram para lutar pela de-
marcação de suas terras com protestos, divulgação de ideias e buscando o apoio
da população brasileira.
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A educação indígena
Na década de 1990, o Ministé-

FABIO COLOMBINI/ACERVO DO FOTÓGRAFO


rio da Educação estabeleceu dire-
trizes específicas para a educação
escolar indígena. Atualmente, as
escolas de muitas comunidades
indígenas oferecem às crianças
uma educação bilíngue, ou seja,
na língua de sua etnia e em língua
portuguesa. Além disso, tem-se
buscado formar professores indí-
genas, pois eles têm melhores
condições de contribuir para a
preservação dos valores culturais Crianças da etnia Kapalo em sala de aula na aldeia
de seu grupo. Aiha. Parque Indígena do Xingu (MT), 2018.

Uma das consequências da implantação de uma política educacional específica


para as comunidades nativas do Brasil foi o aumento do número de jovens indí-
genas nas instituições públicas de Ensino Superior. Leia o texto.

[...] Aproximamo-nos de 5 000 indígenas no Ensino Superior brasileiro, mais


da metade dos 7 000 estimados no Ensino Médio [...]. Este é um dado [...] que
mostra certo investimento dos próprios indígenas no ensino superior como
um meio fundamental de valorização de suas culturas, e de busca por sua
autonomia política.
[...]
EDUCAÇÃO Escolar Indígena no Brasil. Ensino Superior Indígena. Disponível em: http://ensinosuperiorindigena.
wordpress.com/index/educacao-indigena. Acesso em: 8 abr. 2022.
ESTEFANY CRISTINE DE ANDRADE/UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
PONTA GROSSA/COMISSÃO UNIVERSIDADE PARA ÍNDIOS - CUIA PR

Cartaz do XVIII
Vestibular dos
Povos Indígenas
no Paraná,
realizado
em 2018.

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