Você está na página 1de 32

Apontamentos das aulas História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa

29/1/2021
Um dos primeiros mapas da Humanidade representa os rios Tigre e Eufrates, representando os
locais onde estes desaguam, bem como os lugares do nascer e do pôr do sol, bem como outros
locais desabitados. O mapa apresentado terá influenciado os mapas que se começaram a ver
na Idade Média. Ptolemeu, que viveu entre 70 e 130, começou a desenvolver alguns mapas de
representação da terra, que serviram de modelos para outras civilizações que desenvolveram
mapas. Antes, os mapas TO não se orientavam segundo o modelo Norte-Sul, mas sim tendo o
Oriente como principal ponto de referência. Os mapas TO eram mapas religiosos,
representando Roma (símbolo da Cristandade), Cartago, Líbia. O objetivo destes mapas não
era necessariamente a representação do mundo, mas sim uma visão cristã do mundo
conhecido. No século XIII, surge o mapa mundi de Hereford, onde está representada uma
profusão de informação que outros mapas não possuíam, mas com a existência da
representação de locais bíblicos e fantásticos: à medida que se explora a costa africana,
percebe-se que não existem lá as ilhas afortunadas, que se “transferem” para o Atlântico, mas
que não passavam de verdadeiras lendas. Esta simbologia aparece nos mapas destas regiões, e
nos mapas muçulmanos, como o mapa de Al-Idrisi, do século XII. Além de Ptolemeu,
destaca-se Marino de Tiro, seu contemporâneo. Na obra cartográfica de Ptolemeu, tratou da
representação de superfícies curva num mapa plano. A delineação das costas, no século XVI,
já se apresenta próxima da sua realidade. O mapa de Fra Mauro, de 1457-9 ainda possui o
Atlântico como um mar fechado, algo que só se altera em 1489 com a viagem de Bartolomeu
Dias.
Os Mapas Portulanos, já posteriores, situam-se numa altura em que o conhecimento da
Europa e do Mediterrâneo já era significativamente desenvolvido, representam uma
estimativa da distância entre os principais portos europeus e africanos. Estes mapas foram
extremamente importantes para os portugueses na navegação pelo Mediterrâneo. Em 1485
(Portulano de 1485, de Pedro Reinel), já se conhecia Angola e os seus recortes. Quais as
consequências para os europeus dos Descobrimentos Portugueses e Espanhóis?
- Revolucionaram a geografia conhecida do mundo, divulgando um novo continente;
- Provam a ocupação de África, das zonas tórridas, que se pensavam impossíveis de ser
habitadas;
- Aparecimento de novos produtos, como o milho, as especiarias e a batata;

1
- Desenvolvimento da farmacopeia, contributos pela Ásia, com a comercialização de produtos
desconhecidos até então no Ocidente.
A partir dos séculos XII/XIII, irão haver aumentos da área arroteada, posteriormente
cultivada. As arroteias, que em Portugal tem o seu ponto alto no século XII, são influenciadas
pela Ordem de Cister, que acompanharam o fenómeno da Reconquista, foram ocupando estas
terras, arroteando-as para permitir o aumento da área cultivada, que implica um aumento de
produção, que implica por sua vez um aumento da necessidade comercial, que acabarão por
gerar excedentes, que são armazenados no comércio, que se desenvolve. O aumento da
circulação comercial vai gerar uma transformação do tecido social, que vê um aumento da
nobreza, que tem mais terras para dominar, mas também crescem os indivíduos do povo, bem
como uma diferenciação dos artesãos, dos proprietários rurais, e o desenvolvimento dos
burgos, que influenciará e contribuirá para o desenvolvimento da burguesia. Porém, a
estruturação tripartida da sociedade mantinha-se estabelecida. O rei legítimo é o rei João de
Castela, e não D. João I, mestre de Avis, que sobe ao trono apoiado por parte da nobreza e
também do povo.

2/2/2021
A Península Ibérica era vista como uma placa giratória comercial. Os excedentes aumentam a
circulação monetária. Na Idade Média, o rei ainda era um Primus Interpares, ou seja, o nobre
mais importante, e não uma figura vista como um todo-poderoso, como se observou no
Absolutismo. A ressurreição do Aristotelismo, com as ciências como a astronomia e a
matemática foram importantes para a náutica. As Cruzadas foram também importantes nestes
contributos, ocorrendo entre 1095 e cerca de 1270, com a intenção de recuperar os antigos
lugares santos. As galés foram criadas para poderem navegar águas mais calmas, como as do
Mediterrâneo. Nas viagens portuguesas dos descobrimentos, os portugueses vão adaptar os
cascos mais fortes, e nas caravelas inserem as velas triangulares, bem como o leme do
cadaste, uma aplicação de outra realidade, que permite uma maior manobra do navio. A
caravela é um navio de alto bordo, facilitando que os marinheiros coloquem os remos na água.
A bússola surge no século XII, para que os portugueses consigam tirar o maior proveito da
navegação astronómica, aliada aos portulanos. A Toleta de Marteloio era uma carta que se
levava a bordo com os pontos cardeais e os desvios, em graus, que obrigava a um
conhecimento de trigonometria. Esta toleta era muito útil mesmo para aqueles navegadores
que não possuíam conhecimentos trigonométricos. Uma das principais ligações marítimas é a
que liga Génova e Flandres. As feiras da Borgonha, que reuniam uma grande afluência de

2
mercadores eram muito importantes para as trocas comerciais. Entre Génova e o Norte da
Europa, movimentaram-se entre 6000 e 8000 toneladas de mercadoria. Portugal está na
confluência destas rotas comerciais, e com elas vai aprendendo novas técnicas. Em 1243, os
castelhanos tentam impedir que os portugueses cheguem a Granada, após conquistarem o
Algarve. Em princípio, poderiam focar as suas atenções no Oriente, mas com a conquista de
Murcia, essas possíveis pretensões são dissipadas no tempo. No caso português, importa saber
que nos séculos XIII e XIV, há um claro desenvolvimento da navegação e do comércio
marítimo em Portugal, havendo um conjunto de portos, que atualmente estão assoreados, ou
no interior do país. A política marítima levada a cabo por D. Dinis foi também importante.
Graças ao povoamento florestal levado a cabo por D. Dinis, nomeadamente pela criação do
Pinhal de Leiria, a construção naval foi algo possível e com um rápido ritmo. Em 1380, cria-
se uma bolsa de seguros no Porto e em Lisboa, para diminuir o risco da atividade dos
mercadores. No tempo de D. Afonso IV, ainda no século XIV, foram feitas algumas viagens
de exploração, nomeadamente o avistamento da ilha da Madeira, que aparecia documentada
nos mapas com o nome de Leiname.

5/2/2020
O ouro do interior do continente africano foi um dos motores para os portugueses se lançarem
para a aventura expansionista. Sempre que se fala na expansão portuguesa, surge sempre a
pessoa de Preste João, que seria um soberano cristão do Oriente. O Cristianismo Nestoriano
resulta da cristianização da Mesopotâmia, que transforma a cidade de Edessa 1 num centro
cristão da Mesopotâmia, através da doutrina Cristã professada pela escola de Antioquia. O
Concílio de Éfeso vai condenar o cristianismo. O Nestorianismo expande-se para a Índia, daí
surgindo a lenda da cristianização da Índia por S. Tomé, que segundo a lenda, S. Tomé ter-se-
ia estabelecido na Índia em 56, com os seus seguidores. Esta lenda é errónea, porque a
presença dos cristãos babilónicos só se estabelece no século V, enquanto que no século IX se
dá uma segunda migração dos cristãos babilónicos, com a fundação do principiado de
Cranganor, no Malabar. Na viagem inaugural, os portugueses dirigem-se ao Malabar, onde
existia a comunidade de cristãos. É errado pensar que Vasco da Gama, quando se dirigiu para
o Malabar veio, além de buscar especiarias, evangelizar os habitantes. Ainda hoje, a região do
Malabar é predominantemente cristã. O aparecimento do centro de cristão na Babilónia e a
sua migração para a Índia e o centro da Ásia, como Merv, no Turquemenistão, foi um
importante centro do Cristianismo Nestoriano. Existem inscrições cuneiformes a propósito
1
Estado Cristão criado na Primeira Cruzada. Atualmente corresponde à cidade de Sanliurfa, na Turquia

3
desta cidade. No século VII, os árabes reconstruiram a cidade de Merv, que é mais tarde
renomeada de Curassan. Em 1221, os Mongóis destroem a cidade, que mesmo tendo sido
reconstruída, não recupera o seu antigo esplendor. O Império Seljúcida elimina alguns antigos
bastiões da Cristandade, fazendo com que no século XII. O arcebispo de Colónia apresenta
Preste João como um príncipe poderosos que concentrava em si uma numerosa estrutura. O
Preste João migra para a Etiópia e no século XIII, a Cristandade da Ásia Central é arrasada.
Apesar disto, vão decorrer viagens de Franciscanos à Ásia Central, que contactam com tribos
mongóis cristianizadas, que serão islamizadas na segunda metade do século XIV, com a
invasão mongol do Tamerlão. As viagens de Marco Polo, entre 1271 e 1296 foram um
exemplo para Cristóvão Colombo e outros viajantes, bem como a cartografia europeia, que
também foi influenciada por estas viagens. Preste João foi identificado com alguns príncipes
da Ásia Central, como Ong Khan, dos Kerait, uma das cinco federações estabelecidas na
Mongólia no século Xii, o que será batido em 1203 por Gengis Khan, e consequentemente,
começa a ser identificado com este. A cristianização da Etiópia opera-se por ação de dois
jovens alexandrinos, Eclésio e Frumêncio. A aliança bizantino-etíope contra os Persas levou o
imperador Caleb a conquistar o sul da Arábia no século VI. Os portugueses vinham à procura
do Preste João, no tempo do Infante D. Henrique, que ainda não tinha noção da possibilidade
de circundar o continente africano. D. João II envia homens a pé para que obtenham
informações sobre Preste João, bem como das comunidades cristãs do Oriente. Mais tarde, D.
Manuel ordena que Francisco de Almeida avance pelo Mar Vermelho, à procura do Preste
João, de forma a atacar a oriente e a ocidente o poderio militar muçulmano. Uma das
primeiras medidas de D. Manuel é encarregar Afonso de Albuquerque do estabelecimento de
contacto com o Xá da Pérsia, Xiita. O monarca procura uma concertação política quer com
Preste João, quer com o Xá da Pérsia, que via no Império Turco o seu mais poderoso inimigo.
Assim, tudo explica que os portugueses tivessem estabelecido um acordo com os Xiitas,
contra os Turcos.
O ouro de África e a sua afluência foi um dos vetores da expansão portuguesa, que seria
útil para um maior incremento da atividade comercial, e da cunhagem da moeda. O acesso ao
ouro seria uma forma de salvaguardar e/ou minimizar os défices do comércio com o Extremo
Oriente, um comércio deficitário por definição. Era ao Oriente que se iam buscar as
especiarias, e como na Europa não existiam produtos “apelativos” para os orientais, pagava-se
em metais preciosos. Ao falar-se do ouro, importa de perceber a sua proveniência e de que
zona este afluía.

4
O Império do Gana está ligado às rotas trans-saarianas ocidentais. Não era um local
islamizado, mas sofre uma investida Omíada contra o Gana em 734 no contexto da expansão
militar que os levou a ocupar o Magrebe e a Península Ibérica. O Gana, reduzido a um reino
apenas, é absorvido pelo Mali, que vê o seu auge com a dinastia Keita. No século XV, começa
a verificar-se o seu declínio. Mamadu e D. João II estabelecem contactos, e tenta-se uma
aliança em 1534, com o envio de uma embaixada portuguesa. O comércio tras-saariano na
Idade Média era controlado pelos judeus, os árabes e os berberes. O comércio do Sudão
exportava ouro e escravos, e numa segunda fase goma, âmbar, malagueta e importava sal,
cobre, prata, tecidos, armas e manufaturas. Com a Guiné comercializavam o sal, ferro,
algodão tecido em troca de ouro e cola. O comércio fazia-se pelos rios e pelos caminhos de
África até à costa. Entre o Sudão e o Magrebe, havia três rotas caravaneiras.

9/2/2021
A expansão quatrocentista não surgiu do nada. Ainda no século XIII, verificaram-se
numerosos ataques de forças cristãs para saquear portos africanos. O Norte de África era
fortemente assolado pela ação dos piratas. Ceuta, Larache e Salé eram três desses portos com
piratas, que atacavam portos do sul da Península Ibérica. Através de assaltos anfíbios,
tomavam os portos de assalto. Em 1270, dá-se a Cruzada de S. Luís a Túnis. Em 1291,
Sancho IV de Castela e Jaime II de Aragão assinam o Tratado de Soria, para delimitar as
zonas de expansão na zona de berberes, no Norte de África. A primeira expedição portuguesa,
a Ceuta em 1415, serve para marcar território e garantir no terreno o que o Tratado de Sória
deixava antever. Após a Batalha do Salado, em 1340, D. Afonso IV tenta empreender um
projeto expansionista em África. Este projeto é sucessivamente renovado pelo Papa Bento
XII, em 1345, 1355, 1375 e 1377 (Bula Gaudemus et exultamus). Em 1348, começa a grassar
a peste em Lisboa, o que faz com que João de Castela levante o cerco à cidade de Lisboa. Esta
peste gerava a falta de homens no campo, que provoca a crise da nobreza e da sociedade
feudal: o poder da nobreza assentava geralmente nos senhorios e nas terras que possuíam.
Toda a Europa é varrida por conflitos entre estados feudais, que se perpetuam ao longo dos
anos. A Guerra dos 100 Anos, entre as casas Plantagenetas e Valois, casas reinantes de
Inglaterra e da França respetivamente, estende-se no tempo entre 1337 e 1453. Entre 1383 e
1385, também Portugal atravessa uma crise sucessória, com a emergência das camadas da
burguesia, o papel da nobreza de toga, a emergência dos segundos filhos da fidalguia, a
emergência de uma nobreza de sangue. Consequentemente, emerge uma dinastia bastarda (a
Dinastia de Avis), que pretende a sua afirmação na Europa. Os escudeiros, pajens e criados,

5
ao conviverem com a nobreza, procuram o seu sucesso. A crise de 1383-85 é
fundamentalmente política, mas acarreta fatores socio-económicos, resulta da morte do
infante D. Fernando e coloca o problema da sucessão ao trono. Tinha apenas uma filha, D.
Beatriz, a mulher de João de Castela. De acordo com as normas de sucessão da coroa
portuguesa, o legítimo sucessor de D. Fernando seria João de Castela. João das Regras surge
em favor do Mestre de Avis, um filho bastardo de D. Pedro. O Papado irá conceder uma bula
que apoia a conquista de D. João I em Marrocos, mas também para mostrar à Europa cristã
que esta atitude de redenção, por ser bastardo, se assume poderoso como um legítimo rei.
Desde 1243, o reino português era um reino que se identificava como um estado nacional e
centralizado. Com D. João, a centralização régia acentua-se. Marrocos possui as condições
naturais ideais para permitir, tal como condições económicas propícias. Religiosamente, o
Islão surge como um fator agregador. Em 1411, surge a paz com Castela, e a partir desse
momento, D. João I começa a edificar a campanha para Ceuta, que se realizaria em 1415.

12/2/2021
A cartografia era uma das principais aliadas dos marinheiros. Na Idade Média, usava-se o
método de rumo e estima. Este método foi desenvolvido no Mediterrâneo: a direção (rumo)
era fornecida pela bússola, e a distância (estima) era estimada pelo piloto. Era caracterizado
pelos seus erros elevados, que começaram a ser corrigidos pela observação da costa. Os
percursos eram anotados nos portulanos, e poderiam ser graficamente representados na carta-
portulano. O mais antigo portulano conhecido é de cerca de 1250, Il Compasso da Navigare, e
o mais antigo português chama-se Este libro he de rotear, de 1485. As cartas portulanos,
como já referido acima, faz a descrição gráfica dos percursos, sendo que a mais antiga
conhecida, é do século XIII, a Carta Pisana, atualmente na Biblioteca Nacional de França. No
século XV, estas cartas-portulano apresentam 32 direções, bem como um símbolo que se
assemelha a uma escada, o petipé, ou tronco das léguas, para medir as distâncias. Assim, a
carta portulana é caracterizada pela teia de direções e o tronco de léguas. Utilizando dois
compassos, marcavam-se os pontos na carta. O método de rumo e estima tinha estas
ferramentas associadas, o que desperta o aparecimento da Carta plana quadrada, que inclui
latitudes, com uma escala única para toda a carta, que não considera a convergência dos
meridianos. O Roteiro de João de Lisboa é uma espécie de Portulano, mas com as indicações
da latitude até ao Cabo de Finis Terra. A navegação não depende exclusivamente da carta
plana, o que fazia com que se tivessem de incluir alguns fatores, como o rigor das direções e a
própria posição do navio. Surgiu o debate se valia a pena possuir cartas rigorosas para uma

6
navegação aproximada. Surge uma navegação aproximada à latitude que se desejava. Na
superfície da terra, os meridianos convergem nos polos, e a carta plana não possuía os
meridianos, possuindo apenas uma escala única, igualando a distância entre os paralelos e
meridianos. Pedro Nunes publica o seu Tratado da Esfera de 1537.
Gerardus Mercator, um cosmógrafo flamengo, elabora uma carta em 1569, corrigindo
limitações anteriores.

19/2/2021
Os Açores são descobertos em 1427, sendo povoados em 1439. Este período entre 1422 e
1439, corresponde à primeira fase da expansão portuguesa, enquanto Portugal tinha apenas a
primeira fortaleza conquistada, Ceuta, tomada em 1415. Na altura em que os portugueses
navegam para Marrocos. A coroa portuguesa teve a necessidade de avançar para uma
conquista militar. No total, deveriam ser cerca de 2700 homens de armas 2, pertencentes à
Casa Real e dos Infantes. Nesta altura, o rei ainda era o Primus inter Pares, havendo ainda a
existência de importantes casas senhoriais. D. João I tem o cuidado de enviar espiões a Ceuta,
que conseguiram elaborar uma maquete do local. Antes do ataque, o rei e os atacantes tinham
a maquete da fortaleza de Ceuta. Os responsáveis pela segurança de Ceuta não se precaviram
na proteção do território, algo que não é percetível. O seu emir vai acabar por ser responsável
pela derrota dos portugueses em Tânger. Há historiadores que dizem que pode ter havido uma
aliança entre os portugueses e forças muçulmanas dentro de Ceuta, algo que gera a discórdia
entre outros. Os portugueses tornam-se em especialistas nos assaltos anfíbios, apesar de
algumas falhas: é praticada em Marrocos, e levada para Oriente. D. Pedro Menezes, membro
de uma das casas senhoriais no tempo de D. Fernando, foi um dos mortos por se recusar a
praça de Chaves ao mestre de Avis, era um dos protegidos de João de Castela. Regressa ao
reino, por autorização de D. João I, e por ação de D. Duarte, e dos outros infantes, é escolhido
como capitão da cidade de Ceuta, criando património extraordinário, bem como uma poderosa
guarnição, apesar de pequena. Na cidade de Ceuta, existia uma sentinela que ao soar, obrigava
os cidadãos a recolherem-se à sua habitação. Enquanto praça, Ceuta está “prensada” entre o
Reino de Fez e o de Granada. Ceuta é conquistada devido a algumas motivações:
- estratégicas: assegurar a segurança na navegação, evitando a ação de piratas na costa
marroquina, defesa das costas portuguesas e não só dos ataques daqueles;
- económicos: acesso ao ouro dos impérios africanos, ao trigo do norte de Marrocos;

2
2700 homens de armas, 600 besteiros de cavalo, garrucha e conto; 100 arnesados de Lisboa, gentes de pé e
auxiliares em número superior a 1000 homens, para além dos marinheiros da armada.

7
- religiosos: proselitismo religioso;
- socio-políticos: livrar-se dos fidalgos sem ocupação militar, que eram demasiado
problemáticos. Tentar garantir que os fidalgos mais novos pudessem ganhar as suas esporas
de cavaleiro, permitindo a paz social no reino. Permite também que os escudeiros e cavaleiros
ascendam aos graus mais baixos das fidalguias. As casas fidalgas permitiam também que os
filhos segundos tivessem oportunidades de reunir património através das conquistas.

Os alfaqueques eram os que dominavam a língua árabe, “trabalhando” para os dois lados. Em
1433, projetam-se novas expedições, com a conjugação de diferentes fatores políticos: neste
ano, opuseram-se diversos partidários, entre os quais Pedro Menezes, D. Duarte e D. João I.
Nas Cortes de Évora, D. Duarte é forçado pelos irmãos, colocando um regimento militar
apertado, e ao transmiti-lo ao seu irmão, D. Henrique.

23/2/2021
Em 1434, Gil Eanes dobra o Cabo Bojador. Em 1435, Gil Eanes e Gonçalves Baldaia atingem
a Angra dos Ruivos ou a Angra dos Cavalos. No ano seguinte, Baldaia segue ao rio do Ouro e
a Pedra da Galé. Nas Cortes de Évora, os procuradores do povo apresentaram-se renitentes em
votar o “pedido” da discussão sobre a expansão no norte de África, sobre se deveria ou não ir
a Tânger. Em Leiria, a família real reúne-se e toma-se a decisão de se avançar para Tânger. D.
Duarte, pressionado pela nobreza e pelos irmãos D. Henrique e D. Fernando, o dito Infante
Santo. Em 1437, dá-se o desastre de Tânger, causado pelo mau comando do Infante. De forma
a proceder à rendição, entrega D. Fernando em troca da praça. A expansão é ordenada por D.
Duarte para:
1- Honrar a memória do pai
2- Manter o exército ocupado prestigiado e treinado;
3- Manutenção da nobreza;
4- Neutralidade portuguesa nos conflitos a decorrer na Europa.
D. Duarte deixou em testamento que D. Leonor deveria ser a tutora do príncipe Afonso na sua
menoridade, bem como D. Henrique, que seria um mediador, com uma junta governativa. A
população não aceita, e nomeia D. Pedro como regente (1440-1448), centralizando com o
apoio dos concelhos, e aposta na costa ocidental africana e nas ilhas do Atlântico, suscitando
uma reação de D. Afonso, Duque de Bragança, um filho natural de D. João de Avis e Inês
Pires. Durante a regência de D. Pedro, as campanhas em Marrocos são interrompidas, e:
- expansão através do litoral ocidental africano;

8
- descoberta e exploração dos arquipélagos atlânticos; colonização da Madeira sob orientação
de D. Henrique e apoio de D. Pedro.
A Batalha da Alfarrobeira, em 1449, opõe o jovem D. Afonso V ao seu tio, o regente D.
Pedro.
A política expansionista de D. Afonso V, o Africano:
a) Contrabalançar o poder da grande nobreza com o apoio de pequenos nobres ligados à casa
Real;
b) Tenta vincular a nobreza a si, colocando-a na sua dependência
c) Isso gera a necessidade de novos senhorios, ofícios e rendas para lhes outorgar;
d) A sua ação enquadra-se numa movimentação anti-muçulmana dada a conquista de
Constantinopla pelos turcos em 1453. Pregada a Cruzada apenas o rei Português avança.
Como não se realiza, opta-se por avançar de novo para o Norte de África.
As Campanhas:
1.ª Campanha- 1458, sobre Alcácer-Ceguer. A praça é conquistada, apesar da sua pequenez;
2.ª Campanha- 1464, tenta-se chegar a Tânger, episódio de D. Fernando, o irmão do rei. D.
Duarte de Menezes morre na serra de Benacofú;
3.ª Campanha- 1471, o monarca aproveita-se da anarquia reinante no reino de Fez onde a
dinastia dos Xerifes (1465-1472), levando à morte do último sultão Merínida. Mulei Xeque
funda a dinastia Uatácida, que levará 7 anos até à derrota dos Xarifes de Fez, entrando na
cidade como seu Rei, em 1472. D. Afonso V aproveita para conquistar Arzila em 1471, o que
causa a rendição de Tânger. Nesse mesmo ano faz-se a paz por 10 anos, e os ossos de D.
Fernando são restituídos. Nos últimos anos de reinado o monarca desinteressa-se de
Marrocos, virando as suas atenções para as guerras de sucessão em Castela, em virtude de ter
casado com D. Joana de Castela, filha de Henrique IV.

26/2/2021
A exploração do litoral africano- do Bojador ao cabo da Boa Esperança:
a) 1422- 1ªs viagens, financiadas pela Ordem de Cristo;
b) 1434- Gil Eanes dobra o Cabo Bojador;
c) 1435- Gil Eanes e Gonçalves Baldaia atingem a Angra dos Ruivos ou a Angra dos
Cavalos;
d) 1436- viagem de Gonçalves Baldaia ao rio do Ouro e à Pedra da Galé;
e) 1437- hiato dos descobrimentos, decorrente do desastre de Tânger e a consequente morte
do rei;

9
f) 1441- novas viagens depois de aperfeiçoamentos técnicos, como a preferência das
caravelas, em detrimento das barcas;
g) 1443- Arguim. As viagens particulares aumentam;
h) 1448- Avanço até ao Geba, e final da 2.ª fase dos descobrimentos Henriquinos;
i) 1450- Feitoria de Arguim. Dados os lucros do comércio a ação de exploração marítima
abranda;
j) 1460- Descobrimentos de Diogo Gomes, António da Noli e Cadamosto, Pero de Sintra
atinge a Serra Leoa, e no mesmo ano morre o Infante D. Henrique.
k) 1460-70- nova fase das descobertas. Algum abrandamento decorrente de algumas questões
físicas e geográficas (calmas equatoriais, desaparecimento do regimento pela Estrela
Polar);
l) 1468-1481- retoma-se a exploração da costa; Contrato com o mercador Fernão Gomes, que
paga um determinado valor para comercializar. Durante alguns anos, defendeu-se que
Fernão Gomes tinha ficado com a responsabilidade de descobrir cerca de 130 léguas
anuais, passando a descoberta para a mão de um privado, neste caso, de um burguês. Este
contrato é referido pela primeira vez pelo cronista João de Barros. Porém, esta informação
crê-se enviesada, devido à hipótese de que este burguês teria a seu mando escudeiros da
casa real;
m)1471- importância da descoberta da Mina por João de Santarém e Pero Escobar. Ambos
são homens da Casa Real, importantes pela descoberta da Mina, onde é construído por D.
João II o Castelo de São Jorge da Mina. A Mina foi muito importante devido ao afluxo de
ouro da região.
n) 1472- Guerras com Castela, no golfo da Guiné até 1474
o) 1482- Construção da Fortaleza
p) 1485-1486- expedições terrestres do Frei António de Lisboa e Pero de Montarroio. Mais
tarde, em 1488, dão-se as expedições de Pero da Covilhã e Afonso de Paiva;
q) 1482-1488- Expedições de Diogo Cão (em regra, a historiografia diz que foram duas, mas
existem estudos que referem uma terceira viagem, tal como Duarte Pacheco Pereira
escreveu em Esmeralda Situ Orbis) e de Bartolomeu Dias. Cabo da Boa Esperança.
A exploração da costa africana teve um carácter mercantilista, assente no comércio, mas sem
colonização e ocupação territorial, não intervindo na produção, algo constante em todo o
Império. Foram criadas feitorias ao longo da costa, bem como centros de troca dos produtos
europeus e africanos. Nalguns casos, são construídas fortalezas para as proteger. Eram feitos
resgates fora das feitorias, feitos pelos feitores que iam a bordo dos navios. Existem

10
intercâmbios culturais nas feitorias, e o comércio é mais ou menos monopolizado pela Coroa
(entrega a um privado- Fernão Gomes).

Período Henriquino (1443-1460)- exclusividade do Infante; particulares com autorizações


mediante o pagamento de um quinto. As descobertas podiam ser feitas em navio próprio (25%
para o infante), ou com navios deste, pagando 50%. Entre 1449-59, o trato de Arguim esteve
entregue a uma sociedade particular

Contrato com Fernão Gomes (1469-1475)- arrendamento do contrato da Guiné (excluía o


monopólio de Arguim e bem assim o da malagueta e o dos gatos de algália e pedras
preciosas). A tal descoberta das cerca de 200 léguas anuais é depois desmentida, porque é
dado certo a existência de homens da Coroa.

Organismos Centrais:
- 1434, Casa de Ceuta, centralização do comércio de Marrocos;
- 1445, Criação da feitoria do trato de Arguim em Lagos (transferida em 1463) depois
chamada Casa da Guiné e, mais tarde é criada a Casa da Guiné e Mina, bem como a Casa da
Índia. É depois criada a Vedoria da Fazenda do trato da Guiné e do Mar Oceano.

Principais zonas comerciais da costa africana:


Arguim
Rios de Guiné (Senegal até Serra Leoa)
Costa da Malagueta (da mata de Stª Maria ao Cabo das Palmas)
Costa do Ouro (do cabo das Palmas ao rio Níger)
Benim (da parte ocidental do Delta do Níger para o sul)

2/3/2021
D. Afonso V cria as fortalezas de Arzila e Tânger. D. João II cria a da Graciosa, numa
tentativa de fechar o extremo norte do reino de Fez, e limitar a ação dos corsários. No sul de
Marrocos, D. João II vai criando uma série de protetorados no seu contexto político. Com D.
Afonso V, explora-se a costa da Serra Leoa até ao Golfo da Guiné, e com D. João, fazem-se
viagens que levam a exploração do litoral africano até ao Índico. A Mina financia toda a
primeira fase dos Descobrimentos após a governação de D. João II.

11
A ilha de Porto Santo é descoberta em 1419, talvez no regresso do cerco a Ceuta do mesmo
ano, descoberta por João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira. Em 1420 os mesmos
navegadores apoiados por Bartolomeu Perestrelo descobrem a ilha da Madeira. As ilhas já
eram conhecidas anteriormente, havendo mapas com a localização da ilha de “lenhame”. Em
1425, começa o povoamento da ilha através da concessão de terras 3. O Capitão do Donatário
João Gonçalves Zarco determina que as terras fossem cedidas aos indivíduos de maior
condição social, e os de condição inferior viviam dos seus ofícios, da pastorícia e da
agricultura. Em 1433, o Infante D. Henrique torna-se, através de doação de D. Duarte, o
Donatário das ilhas. A ilha vai sendo arroteada, recorrendo às queimadas, que desbravam o
solo, retirando parte da arborização que a ilha possuía. Numa 1.ª fase, exploraram-se as
plantas tintureiras como o drago, a urzela e o sumagre, por serem as mais disponíveis e as de
mais fácil acesso pelos mercadores. Gonçalves Zarco, Perestrelo e Teixeira trazem homens
homiziados (condenados a servirem nas fronteiras e fortalezas) e condenados, muitos vindos
do Algarve. Mas rapidamente, grande parte da população é oriunda das zonas do Entre Douro
e Minho. Em 1446, já existiam cerca 150 proprietários, excetuando clérigos e mercadores. No
total, existiam entre 3200-3600 habitantes. Em 1455, Cadamosto refere a existência 800
vizinhos, e 100 de cavalos. A partir de 1450, a ilha produz já cerca de 3000 moios de açúcar.
Como Porto Santo não tem água, não possui esta cultura. A cana de açúcar traz à ilha
escravos, flamengos, franceses, genoveses e florentinos. O trigo era exportado para o reino,
bem como para as praças no Norte de África, sendo durante o período Henriquino a produção
de cereais a principal. A vinha e a cana de açúcar começam a dar os primeiros sinais
lucrativos. No final do século XV, as terras esgotam-se e o pão começa a escassear, chegando
a não abastecer o mercado local. A área plantada de vinha e de cana aumenta.
Capitães do Donatário na Madeira:
Tristão Vaz, do Machico (1440)
Perestrelo, no Porto Santo (1440)
Zarco, no Funchal (1450)
Estes administravam a justiça, cumpriam as diretivas do Infante. As terras eram distribuídas
em Sesmarias, podendo no entanto o infante dar as terras a quem quisesse desde que não
estivessem arroteadas; privilégios na construção de moinhos, fornos e venda do sal; usufruíam
da redizima de todas as terras do Infante.
Numa segunda fase, a cana que foi importada pelo Infante para a Sicília, Valência e
Granada, o que a fez ser a principal cultura da ilha. O 1.º lagar de cana de açúcar foi o do
3
Existem fontes que designam o ano de 1420 como o ano de início do povoamento das ilhas.

12
Infante, que estabeleceu um contrato com Diogo de Teive para o explorar mediante a paga de
um terço (1/3). Em 1494 existiam apenas 16 engenhos, enquanto que em 1534 já existiam 35
engenhos. O período áureo do açúcar estender-se-á do século XV até ao século XVI. A
capitania do Funchal, que possuía terrenos mais ricos, é tida como a mais importante, e no ano
de 1508, Funchal é elevado a cidade. Após 1508, os solos esgotam-se e a produção decresce,
contribuindo a a concorrência de São Tomé e mais tarde do Brasil. Em 1501, 114 777 arrobas
de produção de açúcar. Em 1555, apenas 46700. A produção de vinho na Madeira aumenta
também.

Aspetos gerais da colonização da Madeira:


- regime de capitanias donatarias;
- capitanias hereditárias com raízes medievais;
- carácter senhorial, mas não feudal;
- Terras concedidas em regime de sesmarias;
- monopólios de moendas e fornos;
- aparecimento da “agricultura comercializada”, ou seja, centralizada na produção de produtos
para exportação;
- tendência para a monocultura;
- génese do “senhorio capitalista”;
- emergência de um novo grupo social: o cavaleiro burguês;
- colonização com a fixação de populações;
- economia de base agrícola;
- administração descentralizada com órgãos fixos locais;

Os ciclos económicos na Madeira:


- ciclo do pão (1.ª crise cerealífera em 1466);
- ciclo do açúcar (termina em 1508)
- ciclo do vinho (1508-séc. XIX)

Em 1427, são descobertos os grupos Oriental e Central, do arquipélago dos Açores. Em


1431-32, realizaram-se 2 expedições por Gonçalo Velho a St. Maria e S. Miguel. Em 1439, é
dada permissão ao infante D. Henrique para mandar povoar os Açores. Terá sido por esta

13
altura que lhe terão sido doadas, mas não há uma data certa. Em 1443 e mais tarde em 1447,
D. Pedro isenta os pagamentos da dízima e da portagem aos produtos que vinham dos Açores.
Este empenha-se na colonização de Santa Maria, num processo lento e difícil, como o
comprovam as sucessivas cartas de privilégios de 1443, 1444 e 1447. Gonçalo Velho foi
nomeado capitão de Sta. Maria e de S. Miguel por D. Henrique, fixando-se na primeira ilha
mencionada. D. Pedro, entre 1445 e 1448 encarrega-se do povoamento de S. Miguel. Alguns
padres franciscanos são enviados, juntamente com os primeiros povoadores da ilha de Santa
Maria, sendo que em 1474 tinham já um oratório na ilha. Gonçalo Velho terá descurado o
povoamento e arroteamento de S. Miguel, como o afirma D. Beatriz, mulher de D. Fernando.
As ilhas das Flores e Corvo, o grupo ocidental foi descoberto em 1452, por Diogo de Teive
e o seu filho João de Teive. Embora se encontrem no testamento do infante D. Henrique, nada
permite concluir que estejam povoadas já nessa altura. Fernão Teles, comprou-as a João de
Teive em 1474. Após a sua viúva ter tentado povoá-las com homens de Van der Hagen,
fixados no vale da Ribeira da Cruz, após sete anos, porque a capitania foi vendida a João
Fonseca. Em 1503, as ilhas foram de novo povoadas.

- 1439-1460 é o governo do Infante D. Henrique, o donatário vitalício: usufruía de todas as


rendas e direitos, regulando a jurisdição civil e criminal. Podia doar as terras a quem
entendesse, bem como criar capitanias, mas não podia cunhar moeda;
- 1460-70 é o governo de D. Fernando;
- 1470-83: governo de D. Beatriz como regente;
Aos Capitães do Donatário competia manter e defender as capitanias em nome dele,
regulando as jurisdições. A ele reservava-se o direito de conceder terras em sesmarias com
algumas restrições, bem como o de vender o sal e construir fornos e moinhos, redizimar as
rendas do senhor. Dispunham de um ouvidor que exercia a justiça, bem como um almoxarife
para arrecadar as rendas do donatário. Em 1503 é criado por D. Manuel para acompanhar e
fiscalizar as ações dos donatários e dos municípios.
Em 1483, João Vaz Corte-Real recebe a capitania de S. Jorge. Sabe-se que nessa ilha
existia uma pequena povoação de meados do século XV. Velas surge como a referida
povoação no testamento do Infante em 1460, tornando-se vila em 1500. Mais cedo, em 1468,
Guilherme Van der Hagen e um grupo de flamengos chegou ao Faial, vindos de S. Jorge, do
seu extremo oriental- o Topo, de onde saíram dadas as difíceis condições de vida existentes.
Na Ilha Graciosa, tal como em S. Jorge, o povoamento antecedeu a doação da capitania.
Segundo Fructuoso, a ilha foi divida em duas capitanias: Duarte Barreto e Pedro Correia da

14
Cunha, mas este mataria o anterior, de forma a poder unificar a ilha. Até 1460, o povoamento
da ilha dá-se de forma difícil e trabalhosa. No Faial, a colonização é feita por flamengos. Joss
Dutra, fidalgo flamengo mudou-se com conterrâneos para a ilha. É obrigado a fugir para o
Reino, recebendo de D. Beatriz a capitania do Faial. Mais tarde, verifica-se uma nova vaga de
flamengos, às ordens de Willem Van der Hagen, que depois se fixou por S. Jorge. Em 1468, a
Horta é elevada a vila. O Pico é entregue a Joss Dutra em 1482, porque o anterior capitão,
Álvaro Dornelas, não promovera o povoamento. As Lages do Pico são elevadas a vila no ano
de 1501

5/3/2021
As ilhas de Cabo Verde fazem parte do grupo designado como as ilhas da Macaronésia. É o
nome moderno para designar os quatro arquipélagos do Atlântico, perto da Europa e de
África, e mais uma extensa faixa costeira do Nordeste de África, fronteira a esse grupo de
ilhas, que se estende de Marrocos até ao Senegal. A zona da Macaronésia é marcada pela
existência da árvore do Dragoeiro, espécie comum nestas ilhas. O Dragoeiro costuma ser
usado em fins medicinais, e a sua seiva era muito utilizada para tratar hematomas e
inflamações dermatológicas. A árvore possui bagas vermelhas que dão o chamado Sangue de
Drago, importante na tinturaria para tingir panos. Cabo Verde tem 10 ilhas, com
características diferentes: as do sul são as do Sotavento, e as do norte as ilhas do Barlavento.
A principal ilha, logo ocupada nos século XV e XVI, marcada pela existência de ribeiras é a
de Santiago. Em quase todas as ilhas deste grupo, existe o topónimo de Ribeira Grande: no sul
de Santiago, na Ribeira Grande, fixam-se os primeiros ocupantes de Cabo Verde. No ano de
1500, é registada a primeira erupção do vulcão da Ilha do Fogo, algo registado em diversas
cartas. As ilhas do Fogo, Maio e Boavista tinham criação extensiva de gado.
Santiago foi dividida em capitanias, em 1462. A parte noroeste tem sede em Alcatrazes,
tendo Diogo Afonso sido o seu capitão. O primeiro núcleo populacional foi o de Nossa
Senhora da Luz, dando o seu nome à Baía. A parte sudeste da ilha tem a sua sede na Ribeira
Grande, atribuída a António Noli. Em 1533, a vila da Ribeira Grande é elevada à cidade,
tendo sido o principal povoado da ilha. A sociedade colonial que se desenvolveu em Santiago
foi fundada por decisão política e constituída sob diretrizes administrativas. A partir de 12 de
junho de 1466, é dada uma carta fundador, que cria as condições necessárias para que se

15
verificasse uma ocupação efetiva, comerciar livremente na costa da Guiné, excetuando-se
Arguim, utilizando qualquer mercadoria que pretendessem, à exceção das armas, ferramentas,
navios e apetrechos náuticos. No ano de 1472, é efetuada uma carta “limitadora”, resultado da
necessidade de estabelecer determinadas à cláusula de 1466:
- demarcou-se a zona de resgate dos comerciantes insulares;
- Santiago passou a ser o único local de armação, partida e destino dos navios;
- Mercadorias só baseando-se em “novidades e colheitas”;
- Escravos trazidos tinham de ser utilizados para serviço dos moradores insulares.
A ilha de Santiago e a região dos Rios da Guiné são importantes, não se podendo
compreender uma sem a outra:
- Os moradores da ilha de Santiago possuíam o exclusivo do comércio nos Rios da Guiné;
- Do rio Senegal à Serra Leoa, demarcava-se a zona comercial dos moradores de Santiago.

Na Guiné, quantos mais


rabos de cavalo um senhor tivesse, maior era o seu poder (muitas vezes eram trocados 14
escravos por um cavalo). Na morte de um poderoso senhor de África, quanto maior fosse a
quantidade de panos que lhe serviam como mortalha, então maior seria o seu poder e a sua
riqueza.
Em meados do século XVI já existem movimentos quase constantes entre Cabo Verde e a
América espanhola. A localização das ilhas de Cabo Verde faz com que este arquipélago seja
um importante ponto estratégico, tanto como entreposto comercial. A sociedade insular nasce
a partir de uma dicotomia de estratos: o estrato dos europeus e o dos escravos. Em Cabo
Verde, surge a primeira nação escravocrata, e este arquipélago torna-se num importante
entreposto negreiro no Atlântico.

16
Os “filhos da terra” tinham o objetivo de obter benefícios e honras que estavam reservadas
aos vizinhos “brancos honrados”. A legitimação era um dos principais meios de ascensão
social dos mestiços, filhos adulterinos e educados pelos pais europeus.
- Herança dos bens, fazendas, e fortunas dos pais;
- Mas também pretendiam os direitos civis para integrarem o grupo dominante da
sociedade insular.
Numa carta de 1546, a coroa autoriza os homens “pretos e baços” a entrar nos concelhos da
Câmara da Ribeira Grande, para contornar a insuficiência do contingente de homens brancos.
No final do século XVI, as rotas comerciais começam a entrar em rotura, presença de
novos concorrentes europeus no espaço geográfico de Cabo Verde.
A reter:
- Portugal tenta reproduzir o sistema sociopolítico do reino nos trópicos;
- Cabo Verde torna-se no primeiro grande entreposto negreiro no Atlântico;
- Primeira sociedade escravocrata nos trópicos.

9/3/2021

17
A presença de um grande número de escravos na ilha de S. Tomé e o facto de a ilha ser
densamente florestada e com fortes relevos levou ao surgimento de comunidades de escravos
fugidas das plantações, que se abrigavam nas zonas recônditas das ilhas. Apelidados como
mocambos, angolares ou quilombos. Em finais do século XVI, dá-se uma crise provocada
pelo açúcar brasileiro; pelos ataques de corsários e piratas europeus; pela queda do tráfico
negreiro tanto como a P. Ibérica como com a Mina. A cultura da cana-de-açúcar dará depois à
cultura do Cacau e do Café. O sistema agrícola aí criado baseava-se na monocultura de um
produto destinado à exportação mediante a utilização e mão de obra escrava
S. Tomé e as restantes ilhas do golfo da Guiné foram descobertos durante o período de
vigência do contrato de Fernão Gomes, em 1471, por dois homens da casa real João de
Santarém e Pero Escobar, os mesmos navegadores que descobriram a Mina. Próximas do
Paralelo 0 têm um clima extraordinariamente adverso para os povoadores europeus. Com
muita água cedo se revelaram excelentes terras agrícolas tendo-se iniciado a colonização 10
anos depois, no reinado de D. João II. Em 1485, ano da doação da capitania da ilha de Paiva
marca o início do seu povoamento. Desembarque dos colonos levados por João da Paiva na
região Noroeste da ilha- Ponta do Figo. Em 1493, a capitania é entregue a Álvaro Caminha:
concessão de prerrogativas aos seus moradores para fomentar o povoamento das ilhas –
permissão de negociar na costa africana desde o rio Real até às terras do Manico.
A população branca miscigene-se rapidamente com a negra oriunda da costa, com esta a ser
muito mais numerosa.
1520- mestiços equiparados aos moradores podendo passar o ocupar cargos na Câmara;
1546- segunda provisão régia equipara-os a brancos passando a poder ocupar qualquer cargo
na ilha. Nas primeiras seis décadas de quinhentos, S. Tomé era um grande produtor de açúcar.

12/3/2021
No Tratado de Alcáçovas-Toledo, assassinado em 1469, as Canárias ficam na órbita
espanhola. A ilha de Antília, a que Colombo terá chegado, é uma ilha lendária que é
apresentada como fazendo parte das Sete Cidades, estaria situada entre Sipango e São
Brandão, mas na verdade esta ultima era inexistente. Cristóvão Colombo vai em busca das
ilhas orientais, e ao acaso acaba por descobrir as ilhas das Caraíbas, e o continente americano.
No período de governo de D. Henrique, as descobertas fazem-se do Cabo Bojador até Serra
Leoa, e no período de D. Afonso V, chega-se à Serra da Mina. Durante o reinado do seu filo,
João II, a faixa de costa que se descobre é espantosa, nomeadamente com a viagens de
Bartolomeu Dias, que fez o percurso ideal para dobrar o Cabo da Boa Esperança. D. João II

18
que o Plano das Índias se torna numa realidade, apesar de ter sido arquitetado pelo infante D.
Henrique. Toda a ação de D. João II se articula com a intenção de chegar ao Oriente, e com a
viagem de Bartolomeu Dias, os portugueses ficaram bem mais perto de atingir esse objetivo.
Após ter dobrado o Cabo das Tormentas, este é rebatizado em Cabo da Boa Esperança. Pêro
da Covilhã tem um papel fundamental no reconhecimento do oceano Índico. Aquando da
viagem de Vasco da Gama, vai incorrendo em erros, devido à inexperiência de quem
acompanhava a embarcação, que desconhecia o sistema de monções, ou seja, os ventos que
sopram no Índico. Assim, a viagem de Vasco da Gama demorará mais tempo que aquelas que
caracterizam a Carreira das Índias. D. João de Aveiro viajou ao Benim em 1484-85, criando
uma feitoria em Hutaitó. D. João II envia missionários cristãos para o reino do Benim, que
também fazem observações cosmológicas.

16/3/2021
- Após a conquista de Ceuta, enviaram-se emissários à Santa Sé, porque no território existiam
igrejas já consagradas.
- A questão de Preste João foi uma das razões que esteve na base do fenómeno expansionista
português. A existência de Cruzadas foi essencial para ajudar a criar pequenos reinos que são
destruídos pelos muçulmanos. O mito de Preste João estava ligado à necessidade dos
europeus possuírem a Oriente um grande portentado cristão que pudesse fazer a ligação aos
cristãos europeus, que pudessem derrotar as forças dos muçulmanos. Os portugueses dirigem-
se ao Malabar por saber que existiam lá cristãos. No diário de Vasco da Gama, quando chega
a Calecute, relata que a intenção principal era fazer comércio e procurar comunidades de
cristãos pré-existentes.

19/3/2021
O reinado de D. Manuel dura até 1521. A ação deste monaca no Norte de África faz-se sentir
no principio do século XVI, na altura em que o Império começa a crescer para o Oriente, com
a descoberta do caminho marítimo para a Índia. D. Manuel é um rei que vê no seu reinado um
grande crescimento do Império Português, que passa do Atlântico, passando de um império
militar no Norte de África para um império comercial no Atlântico e no Índico. O império
adaptou-se às diferentes realidades nas localidades onde se estabelecia, devido às diferenças
entre as edificações militares. As cidades de Azamor e Safim tornaram-se dois protetorados
no reinado de D. João II.
Os antecedentes desta presença de D. Manuel em Marrocos são:

19
- expansão quase militar no norte de Marrocos;
- criação de protetorados no Sul, como Azamor e Safim;
- ocupação restrita do território, com os portugueses confinados às fortalezas;
- guerra de “gaziva”, marcada pela mobilidade, rapidez e de violência nos diferentes embates;
- o “rebate”- sistema defensivo que articulava a ação dos vigias colocados nos arrabaldes da
fortaleza com o intuito de detetar aproximações furtivas de inimigos: quando estas
aproximações eram detetadas, as torres de menagem eram alertadas e soavam os alarmes, que
faziam a população proteger-se no recinto amuralhado das praças. Esta medida foi essencial
para a proteção das praças portuguesas.
- importância da cavalaria ligeira nas múltiplas surtidas para ataque às povoações limítrofes
das fortalezas;
- a guerra de cerco;
-os “saltos”, operações anfíbias efetuadas pelos portugueses, por mar, atacando e
desestruturando as populações da orla marítima; importância das fustas, navios de vela e com
remos dotados de grande mobilidade;
- defesa do Estreito e o controlo da pirataria a partir das praças portuguesas;
- Importância de Marrocos como ponto referencial para a prática de feitos pela nobreza.

Numa segunda fase do estabelecimento português em Marrocos:


- desígnios imperialistas de D. Manuel I levam ao aprofundamento da presença portuguesa em
Marrocos no Sul;
1501- expedição fracassada a Orão, que é posteriormente conquistada por Castela;
1505- João Lopes de Sequeira, comerciante português construiu a fortaleza de Santa Cruz do
Cabo Guer, em Agadir;
1507- Diogo de Azambuja constrói o castelo de Aguz, ou dos Sáveis;
1508- Safim, conquistada por Diogo de Azambuja- centro produtor de tecidos;
1513- Fortaleza de Azamor, conquistada por D. Jaime duque de Bragança.
O projeto manuelino passava pela criação de duas zonas muçulmanas na Duquela (Azamor e
Safim) e a Enxovia, graças à ação de Nuno Ataíde e de Bentafufa, alcaide mouro apoiante dos
portugueses. Em 1515, D. Manuel é derrotado e perde cerca de 4000 homens (algo que foi
desastroso), tentando estabelecer-se em Anafé mas sem sucesso. Em 1516 e 1519 morrem,
respetivamente, Nuno Ataíde e Bentafufa. Em 1520, inicia-se o declínio português em
Marrocos. Finalmente, em 1541, Mazagão é fundada, o primeiro exemplar de arquitetura
militar construído fora da Europa, influenciando as outras praças portuguesas erigidas.

20
26/3/2021
Em relação a Marrocos, a partir do reinado de D. Manuel, o que vai sucedendo em Marrocos,
estava também a acontecer no Oriente, tendo como base a criação do Estado Português da
Índia, com o estabelecimento de fortalezas ao longo da costa. A presença portuguesa nestes
territórios era maioritariamente costeira. Com o decorrer do reinado de D. Manuel, existe uma
fase de movimento exploratório do Brasil nos primeiros anos. No final do reinado de D. João
II, a presença portuguesa limitava-se apenas ao norte do território. A partir de 1520, a
presença portuguesa em Marrocos começa a tornar-se mais fraca, devido:
- ao crescimento do corso muçulmano, especialmente dos turcos apoiados pelo Império
Otomano;
- o apoio dos turcos aos Xarifes Sáadidas em 1549, unificando os dois reinos sob a sua
dinastia;
- As reformas das forças militares pelos Saadidas, feita com inspiração no modelo do exército
otomano;
- Descontentamento da população marroquina face aos roubos, razias e cativeiros provocados
pelas incursões dos portugueses;
- Bentafufa, o muçulmano do lado dos portugueses, queixa-se ao monarca da atitude dos seus
nobres, que apenas viam os seus interesses;
- Dificuldade no abastecimento e auxílio às praças, sobretudo as do sul, em virtude dos maus
portos.
À medida que o Império Português cresce, em especial para o Oriente, nesta 1.ª fase,
provocou o deslocamento do centro de interesses, agora já não focado principalmente em
Marrocos. Os meios humanos começam a escassear para as guarnições das fortalezas,
obrigando o pedido de tropas vindas da Andaluzia. O dinheiro começa também a faltar,
obrigando a que se proceda ao arrendamento da feitoria de Arguim em 1531, o encerramento
da Flandres, em 1548. A diminuição das remessas do ouro da Mina e os problemas da
indústria açucareira na Madeira agravam estes problemas monetários da coroa. As fortalezas
começam a mostrar-se inúteis, à exceção de Mazagão, que se mostrou quase impenetrável,
sendo apenas abandonada pelo Marquês de Pombal, contra a população que lá residia.

9/4/2021
A viagem de Vasco da Gama (8/7/1497 a 10/7/1499). Após a primeira viagem, a armada de
Pedro Álvares Cabral parte na altura certa, porque se considerou que Vasco da Gama partiu

21
tarde- deveria ter partido no mês de Março. Os antecedentes possíveis da viagem de Vasco da
Gama são as exporações da costa oriental africana anterior à de Vasco da Gama- existiam já
referências de textos árabes às viagens portuguesas à costa oriental:
- Kuub ud-Din refere que no começo do séc. da Hégira se dera, entre outros, a chegada dos
portugueses “próximo da costa onde o mar é estreito”, e a certo momento, os navios ter-se-
iam quebrado.
- Viagens de exploração do Atlântico Sul posteriores à viagem de Bartolomeu Dias;
- Explicações para o hiato sem referências a essas viagens. O Esmeraldo de Situ Orbis de
Duarte Pacheco Pereira. Escrito posterior à viagem, aponta para várias viagens de exploração
do Atlântico Sul.
- A política de “sigilo” de D. João II, ou antes de “desinformação”?
- A compra por D. João II das duas naus de casco forte e pano redondo:
+ segurança em mar alto;
+ velocidade a favor de ventos regulares;
+ carga
A viagem:
- partida de Lisboa- 8 de julho de 1497
- armada: duas naus de 100 toneladas; 1 nau de 50 toneladas, 1 navio com mantimentos
- pilotos: Pêro de Alenquer (nau de capitania), Pero de Escobar (companheiro de Diogo Cão)
e João Coimbra, na nau S. Rafael;
- a caravela de Bartolomeu Dias apoia até Cabo Verde, rumando depois à Mina
A tripulação era de cerca de 40 homens, cerca de 160, mas nada permite afirmá-lo. Foi feita
uma escala na ilha de Ssantiago, de Cabo Verde. A volta pelo largo foi feita para evitar as
calmaras da Guiné, aproveitando os ventos que sopram para Sul, sem se deixar arrastar em
demasia para a costa brasileira, o que poderia impelir os navios em direção aos Açores.
Passaram 3 meses entre os ventos alíseos de um e de outro trópico, passando pelas borrascas
gélidas que criavam enormes massas de gelo.
Ao chegar ao Índico, existem pequenos contactos e trocas, mas também algumas
escaramuças. Já em 1498, no dia 13 de abril, a armada de Gama deixa Mombaça, alcançando
no dia seguinte Melinde (ambas no Quénia), e a 24 de abril lá se inicia de novo a travessia
rumo à Índia; a 20 de maio chegam à praia de Kappad, atingindo finalmente a 21 de maio a
região de Calecute. A 28 de maio, a armada de Vasco da Gama encontra-se com o Samorim
de Calecute, não obtendo negociações favoráveis, o que dita o regresso a Portugal no dia 29
de Agosto, porém, no dia 21 de setembro, na Ilha de Angediva, encontram o corsário Timoja

22
e um cristão que terá sido raptado em criança, que é levado para o reino e batizado com o
nome de Gaspar da Gama, afilhado de Vasco da Gama. Em novembro, o escorbuto atinge a
armada, causando 30 mortos, e em janeiro de 1499, a costa oriental africana é avistada.
Estando a norte do Equador, a necessidade de chegar rapidamente a Melinde torna-se
imperiosa, porém a 13 de janeiro, é necessário destruir uma das naus por danos no leme e pela
insuficiência de homens para a tripular. A 20 de março, o Cabo da Boa Esperança é
novamente dobrado. Estamos agora nos Açores: Nicolau Coelho comanda a Nau Bérrio, e
Vasco da Gama comanda uma caravela, para chegar mais rapidamente a Lisboa e tentar salvar
o irmão, que acaba por morrer. Gama chega dois meses depois a Lisboa (vindo dos Açores), o
que causa estranheza, visto que dos Açores a Lisboa demoraria apenas 2 semanas

As Monções
As monções de Sudoeste surgem no inicio de Abril os ventos fortes que sopram de sudoeste,
que atingem regiões costeiras tropicais, sendo particularmente frequente na região sudeste
asiática, comummente associados aos ventos da alternância entre a estação seca e das chuvas.

16/4/2021
Os portugueses chegam ao Oriente durante um período de convulsão política das nações
localizadas nesta zona. Com exceção dos Mamelucos, todos eles são potentados militares. À
chegada dos portugueses ao Oriente, o Índico era um “lago muçulmano”, apenas no sentido
comercial, não se aplicando em termos militares.
O Mapa de Cantino, de 1502, foi comprado em Lisboa por um espião, graças a um suborno
a um cartógrafo, e numa carta, onde estava relatado este suborno. Desde há muito, a carta é
conhecida, mas o mapa é encontrado num talho, e por sorte, não se encontrava muito
deteriorado. O mapa revela já o Brasil, ressaltando as florestas com o pau-brasil. Na costa
Oriental Africana, o planisfério de Cantino não continha topónimos detalhados, apenas após a
viagem de Diogo Dias até ao corno de África. O mar vermelho, é apenas conhecido após a
viagem de Pedro Álvares Cabral, sendo uma cópia das representações mais antigas da
cartografia ptolemaica. Parece que o Mapa de Cantino é na verdade a junção de dois mapas:
um mapa de cariz mais científico, e outro que adapta as raízes ptolemaicas.
A presença de impérios e reinos que dominam as costas do Índico é uma das realidades que
os portugueses tem de conviver quando chegarem ao Índico- império Mameluco, com capital
no Cairo, com algum potencial naval. Em 1516, os turcos otomanos vão conquistar a Síria, e
em 1517, conquistam o Cairo, controlando o Egipto. Para Oriente, conquistam a Pérsia, onde

23
o Xá Ismail e Afonso de Albuquerque estabelecem um acordo diplomático em 1513 contra os
turcos, a grande potência da região. Na Índia, a situação é ainda mais volátil. Inicialmente, era
dominada pelo sultanato de Deli. No sul do território existe o único grande império hindu, que
com as invasões muçulmanas, foi pressionado para sul, que coloca Goa como uma cidade no
limite entre os conflitos muçulmanos e hindus. Ao falar-se em sultanatos, a estrutura
dominante é muçulmana, quando a maioria continua a ser hindu. O facto de as estruturas
serem muçulmanas não significa que o grosso da população não fosse toda ela hindu, algo
verificado em todas as castas. Na costa do Malabar existiam pequenos reinos: Cananor,
Calecute e Coxim. Tal como os reinos da costa oriental africana, também estes se encontram
em disputa. Por ser uma zona produtora de pimenta, os portugueses estabelecem-se no
Malabar. O Samorim de Calecute era o principal soberano, devido à importância do seu porto.
Os portugueses centram a sua presença em Coxim, de forma significativa, que hoje a região
ainda é a base do porto naval. Na ilha de Ceilão, existem os reinos de Kotte, Kandia e Jafna.
As costas do Índico, especialmente a da costa oriental africana foram islamizadas através dos
mercadores, que difundiam a fé do Islão, sendo este processo apelidado de “Islamização
Doce”, por ser lenta e pacifica.
O Império Chinês encontrava-se fechado ao exterior

20/4/2021
À chegada dos portugueses ao Oriente, o Índico era visto como um lago. No Malabar, os
soberanos locais, hindus, a quem os interditos levantados pelas suas lei religiosas
relativamente ao mar impediam de navegar, exerciam o seu poder apenas em terra, deixando o
mar a cargo dos mercadores muçulmanos. Perante esta conjuntura, é de esperar que o
principal obstáculo para os portugueses surja dos muçulmanos, o inimigo usual desde a
conquista da Península Ibérica. E pelo facto de os portugueses apenas se interessarem na
comercialização das especiarias e drogas, os muçulmanos surgiam como os principais
contendores.
Após o regresso de Vasco da Gama, conhecido o insucesso em criar uma feitoria em
Calecute e as dificuldades pelas quais os portugueses passaram devido a não possuírem
produtos suficientemente valiosos para a troca, D. Manuel envia uma resposta mais
“musculada” e armada. Pedro Álvares Cabral sugere prudência ao Venturoso, especialmente
para com os soberanos não muçulmanos. Na Corte, os chamados “Velhos do Restelo”, ou
mais conservadores, acusavam D. Manuel de trocar o ouro da Mina, tido como certo, pela
incerteza da pimenta transportada através da “Carreira da Índia”. Porém, a armada de Cabral

24
ataca Calecute, bombardeando-a. No Malabar, os portugueses associam-se aos reinos que
procuravam afirmar-se perante as potências regionais. Em 1502, conhecido o falhanço de
Cabral, D. Manuel apressou-se a enviar uma armada com objetivos militares, mas também
económicos, para defender a feitoria de Cochim e poder criar outras, bem como controlar os
mares e fluxos comerciais. No ano seguinte, Cochim invade Calecute. Vicente Sodré e o
irmão, presentes no território, preferem ir para o Golfo Pérsico, naufragando ambos, em vez
de defender a feitoria recém formada. D. Manuel entra em ação e fortalece a presença militar
dos portugueses, enviando 3 armadas para o Oriente: uma para o Mar Vermelho e duas para o
Malabar, capitaneadas por Afonso e Francisco de Albuquerque. É também construída a
primeira fortaleza em Cochim, com um novo reforço de Lopo Soares de Albergaria, com
1300 homens, aprofundando-se a presença militar portuguesa no Malabar e os laços com o
Rajá de Cochim.
Afirmação portuguesa no Oriente:
- nova tática de combate, evitando o confronto direto, devido à diferença entre os homens
de cada lado;
- combate à distância com recurso à artilharia de bordo;
- navios de alto bordo e poderosos, que alem de evitar a abordagem, mantém os inimigos à
distância, como os afundam com a sua artilharia de bordo;
- o combate é feito em coluna: os navios combatem uns atrás dos outros, e não em linha, de
forma tradicional, com os navios uns ao lado dos outros;
- os portugueses possuíam armamento pessoal, defensivo e ofensivo, superior ao dos
orientais;
- durante os combates, resguardavam-se nas cobertas inferiores, o que diminuía o numero
de baixas entre os portugueses, que ao contrário dos orientais, com navios de apenas um
deque, eram alvos fáceis dos projecteis inimigos;
- artilharia portuguesa superior à oriental, nomeadamente nos bombardeiros;
Fatores que contribuíram para a rápida afirmação dos portugueses no Índico, culminando
com a batalha naval de Diu, em 1509, entre os navios do sultão mameluco, que conferiu aos
portugueses o domínio do índico por um longo período.

27/4
A designação “Estado da Índia”, embora tenha surgido na documentação para períodos
mais tardios, é por nós utilizada aqui para as primeiras décadas de estabelecimento no Índico
por se tratar de um conceito operatório, que explica na perfeição o processo de criação das

25
primeiras estruturas militares, políticas e económicas estabelecidas pelos portugueses no
Oriente.
1505- marca o momento inicial da criação do “Estado da Índia”. Nesse ano é enviado para
o Oriente uma poderosa armada- 20 naus e 1500 homens- comandada por D. Francisco de
Almeida. D. Francisco de Almeida parte do Reino investido como Governador e Vice-Rei,
sendo-lhe conferido um Regimento alargadíssimo, que lhe atribuía poderes muito vastos. A
Coroa procurava, assim, não cair no mesmo erro que havia incorrido em Marrocos, ou seja,
criou no Oriente um cargo com supervisão sobre os demais, incluindo os capitães das
fortalezas e das armadas a criar, de forma a evitar os constantes conflitos de competências
ocorridos entre os diferentes oficiais régios no Norte de África. Entre outras directivas, o
Vice-Rei levava como principais incumbências: o estabelecimento de um conjunto de
fortalezas no Índico, quer na costa oriental africana, quer na costa ocidental indiana:
- a construção de uma fortaleza de pedra em Cochim, em substituição da de madeira
edificada pelos Albuquerques;
- criação de estruturas navais em Cochim, cujo porto passaria a funcionar como ponto de
apoio de cargas das naus da “Carreira da Índia” com pimenta e especiarias;
- patrulhamento das águas do mar arábico de forma a diminuir o fluxo para o Mar
Vermelho e o Golfo Pérsico de navios mercantes carregados de especiarias. Procurava-se
assim bloquear o acesso dos produtos orientais, sobretudo da pimenta, aos portos do
Mediterrâneo oriental, onde os Venezianos se abasteciam. Esta seria a única forma de
viabilizar economicamente a “Carreira da Índia”, uma vez que a rota pelo Cabo da Boa
Esperança era muito mais longa e dispendiosa.
- estabelecimento de relações diplomáticas com o grande império hindu de Vijayanagar,
procurando, assim, o apoio de um “aliado” na luta contra os muçulmanos.
A ação de Francisco de Almeida é tendente à destruição de Calecut, apoio ao Rajá de
Cochim. Ação decisiva no combate com as forças navais mamelucas, representando a batalha
de Diu, em 1509, o momento mais importante desse conflito. Será ainda com D. Francisco de
Almeida que serão criadas as primeiras estruturas administrativas de governo dos portugeses
no Oriente. A sua ação política centrar-se-á em torno de fixação no Malabar, em torno de
Cochim e do Malabar, porque o Vice-Rei definiu como prioritário o apoio às naus da Carreira
e a guerra naval aos muçulmanos, que como referi, detinham o grosso do comércio das
especiarias através, sobretudo da rota do Mar Vermelho. Contrariando a historiografia, que
dizia que D. Francisco de Almeida como defensor do poder naval e Afonso de Albuquerque
como o paladino da criação de um império terrestre, o Vice-Rei nunca foi um defensor da

26
adoção de uma política talassocrática no Oriente. A afirmação que fez, em carta a D. Manuel,
foi retirada do contexto (instado a criar uma fortaleza em Coulão entendeu que esta era
desnecessária, disso dando conta ao monarca) e serviu para a criação de uma teoria que serviu
para explicar de forma incorreta o conflito que opôs D. Francisco a Afonso de Albuquerque.

30/4/2021
D. Francisco de Almeida é considerado o fundador do Estado da Índia, ainda não definido
como tal. Ao contrário de D. Afonso de Albuquerque, vai concentrar a sua carga toda no
Malabar. Como afirmou Luís Filipe Thomaz, o Estado da Índia é um conjunto de territórios,
estabelecimentos, bem, pessoas e interesses administrativos, geridos ou tutelados pela Coroa
portuguesa, desde o Cabo da Boa Esperança ao Japão. A sua organização político-
administrativa reproduz os modelos norte-africanos (politico, militar e ideológico) e da costa
ocidental africana (económico e comercial), surgindo no Oriente a fortaleza-feitoria 4. As
primeiras feitorias desdobram-se em almoxarifados dos mantimentos e almoxarifados dos
armazéns (armas, munições e apetrechos de navegação), complexificando-se a sua estrutura
interna e o funcionamento com a multiplicação dos principais cargos. A multiplicação de
fortalezas no Índico e nos mares do Sul acompanham o crescimento o Império, funcionando
como bases de apoio à rede comercial do “Estado da Índia”. A este não interessa o domínio da
produção dos bens, mas apenas o controlo da sua circulação, razão pela qual prefere o
domínio do mar ao da terra. O Estado é ai marcado pela descontinuidade e, por via disso, pela
heterogeneidade das suas instituições. À medida que os anos avançam, uma estrutura outrora
linear vai-se complexificando. Os portugueses espalham-se, com Afonso de Albuquerque,
surgindo assim um império talassocrático, com fortalezas em África e na Ásia.
Contrariamente ao que se pensava, estas fortalezas não possuem um objetivo territorial, mas
sim de apoio às armadas que possuem como objetivo o asseguramento do funcionamento
destas. Na Ásia do Sueste, as fortalezas são de origem particular, sendo a de Malaca e
Ternate. Ao Estado da Índia, não interessa dominar a produção da pimenta, mas sim o
controlo da circulação comercial e marítima dos produtos. Aí, ao Estado da Índia, interessa o
domínio do mar e não da terra.
Ao contrário do império espanhol, o português não é um espaço territorial mas sim uma
rede. A territorialidade (praticamente restrita à área ocupada pelas fortalezas e respetivos
4
As feitorias eram construídas antes das fortalezas!

27
alfozes) serve sobretudo enquanto fim instrumental da manutenção e incremento dessa rede e
não do domínio da produção de bens, facto que conferiu ao “Estado da Índia”, como refere
Luís Filipe Thomaz, um carácter marcadamente urbano. A língua portuguesa surge como uma
língua veicular, que ao longo do século XVI, se tornou na língua franca (usada para o
comércio), fenómeno que se manteria ainda por boa parte da 1.ª metade do século XVII. O
império português alia assim um mínimo de territorialidade efetiva a uma extensa área
abarcada graças à superioridade das suas armadas e a uma centralizada estrutura política. Esta
entidade do “Estado da Índia” é criada em 1505, complexificando-se a sua estrutura orgânica
ao longo dos anos. Os principais órgãos da administração central em torno do Vice-rei
instalam-se primeiro em Cochim, e depois em Goa a partir de 1530, altura em que se
transforma na capital do Estado: forma-se uma corte vice-real; a “Matrícula Geral”, que é o
centro do recrutamento e de controlo da atividade e do pagamento do soldo aos homens de
armas, que permanecerá em Cochim ainda por muitos anos após a transferência da capital
para Goa. Na armada de Afonso de Albuquerque estava contida uma fortaleza em madeira
desmantelada, e é com esta que é possível suster as ofensivas, e que lhes permite continuar em
Socotorá, enquanto que a outra metade da fortaleza será utilizada na conquista de Malaca.
Estas fortalezas continham igrejas, a casa do capitão, em regra. Com a governação de Nuno
da Cunha, que parte para a Índia, para a reordenar.
Diferenças de estatuto dos estabelecimentos portugueses no Oriente segundo o modo de
aquisição:
- por conquista, nos casos de Goa e de Malaca;
- por imposição do estatuto de protetorado, como sucedeu em Ormuz, tendo o seu rei aceite
a soberania portuguesa, sendo reinvestido como rei-vassalo e mantendo uma soberania
partilhada;
O cargo do Ouvidor-Geral é criado em 1505. Esta estruturação complexifica-se a partir de
1544, com a criação do núcleo fundamental da “Relação de Goa”: sua organização-
desempenhada por três magistrados- e jurisdição. Esta relação é reformada em 1587, passando
a incluir dez desembargadores com competências diversas. Papel primordial desempenhado
pelo vice-rei ou governador neste órgão enquanto regedor da Casa da Suplicação. Tendência
crescente ao longo do século XVII no sentido da autonomização da justiça relativamente a
este. O controlo sobre as extensões da administração periférica da coroa.
A expansão portuguesa no Oriente é condicionada pela economia: o funcionamento do
Estado da Índia funcionou como uma empresa comercial, dominada pela coroa. São criadas as
feitorias, primeiro em Cochim. A penetração dos portugueses nas redes comerciais marítimas

28
revelam uma ação monopolista da Coroa relativamente ao comércio das especiarias e das
principais redes mercantis. A abolição de alguns monopólios na década de 1530 e a
liberalização parcial do comércio da pimenta em 1545: a implantação do sistema de concessão
de viagens a particulares como recompensa de serviços. As medidas liberalizantes a partir da
década de 1570 são acentuadas, como a cedência da Carreira da Índia aos particulares;
permanência de algumas linhas comerciais de grande importância económica nas mãos da
Coroa. A organização financeira do “Estado da Índia” revela algumas especificidades, em
virtude da diversidade do estatuto das diferentes possessões portuguesas no Oriente: a
inexistência de um regime fiscal uniforme em resultado da manutenção, em cada território, do
sistema tributário anterior. Os lucros do comércio e o saque eram das principais fontes de
rendimentos. A fazenda régia é moldada à imagem dos organismos congéneres do Reino. A
Vedoria da Fazenda é criada em 1517, que origina duas novas vedorias: a Vedoria da Carga
das Naus, em Cochim e a Vedoria dos Contos. A Casa dos Contos da Índia era um elemento
centralizador de toda a contabilidade régia. Os primeiros orçamentos surgem a partir de
meados de 1500: a sua importância para o estudo da história administrativa, económica,
financeira e militar do “Estado da Índia”. Militarmente, a estrutura do “Estado da Índia”
assentava num modelo semelhante da Hoste medieval: a organização militar marroquina era
tida como um exemplo. Não era verificável uma estrutura permanente de enquadramento dos
homens de armas no Oriente. A “Matrícula Geral”, cuja fundação não é conhecida, é
reorganizada em 1593, que servia para registar todos os homens que chegavam à Índia. Para
aí, deviam ser remetidos também todas as informações relativas aos soldados de cada uma das
fortalezas e armadas para que estes aí pudessem solicitar, por altura do seu regresso ao reino,
a sua carta de serviços.

4/5/2021
A viagem de Vasco da Gama demorou mais do que o esperado por desconhecerem o
sistema das Monções, mas aprenderam com os erros.
Falou-se na criação do “Estado da Índia”, e das suas componentes militares, um império
em rede, que cede importância aos espaços em terra que domina, permitindo dar solidez à
interação entre fortalezas e armadas. Com Afonso de Albuquerque, o aprofundamento
português no Oriente:
- concepção de um plano imperialista de controlo do “comércio de Índia em Índia” por
Albuquerque: domínio dos principais centros distribuidores do Índico;
- as “chaves da Índia”. Goa (conquistada duas vezes em 1510; Malaca em 1511),

29
- este alargamento provocou o reforço dos Monopólios régios sobre os produtos
transacionados, em especial a pimenta.
- impõe medidas de cariz reformador, sobretudo ao nível de organização dos homens nas
armadas e nas fortalezas, uma vez que a transferência para o Oriente do modelo de
organização militar vigente m Marrocos, um modelo marcadamente feudal, que assentava nas
hostes da fidalguia, transpusera para o Oriente muitos dos antigos problemas que minavam a
estrutura militar, tanto no reino como no Norte de África;
- Afonso de Albuquerque, para minimizar os efeitos negativos decorrentes dessa
organização militar tradicional, onde imperava a indisciplina, sobretudo em combate e durante
as invernadas (período da monção, em que os homens e navios recolhiam aos portos e
fortalezas e ai se mantinham por 3 meses- maio, junho e julho), criando no Oriente, em 1510,
como D. Manuel fez no reino em 1508, as “Companhias de Ordenanças”; estas companhias
seguiam o modelo organizativo das companhias de piqueiros suíços e espanhóis, e dos
lansquenets alemães. Eram tropas de infantaria com uma forte disciplina interna, com uma
cadeia de comando muito rígida, cujos oficiais eram homens ao serviço do rei e não fidalgos,
muitos deles antigos combatentes envolvidos nas guerras europeias, sobretudo em Itália,
defensores de um modelo de combate organizado, assente na disciplina e não nos princípios
da fidalguia. Estas impediam o combate desorganizado, favorecendo a ação individual do
cavaleiro, que visava a obtenção de honra através dos seus feitos de armas, mesmo quando
isso pudesse prejudicar a vitória em coletivo. Estas companhias procuravam resolver não só o
problema da exiguidade dos efetivos militares, mas também diminuir o peso da fidalguia no
conjunto das forças militares estacionadas no Oriente e visavam, por outro lado, impedir a
fuga de homens de armas para os soberanos asiáticos, que lhes pagavam somas avultadas para
servirem nos seus exércitos, em especial quando se tratava de bombardeiros ou
espingardeiros, dada a importância crescente que o armamento de fogo começa a deter nos
conflitos militares. No Oriente, a difícil manutenção destas companhias, por estas serem
companhias de homens pagos impedidos de desempenhar qualquer outro mester, a Coroa
raramente teria no Oriente a liquidez financeira para ter os soldos em dia, algo que Lopo
Soares de Albergaria permitiu mais tarde, com a ideia de que “a Índia não foi feita para a
guerra, mas sim para o comércio”. Fruto destas diretrizes, surgem, como Luís Filipe Thomaz
apontou, a soltura das gentes:
- substituição de Albuquerque por Lopo Soares de Albergaria no governo da Índia em
resultado da vitória da corrente anti-imperialista no seio da Corte, em 1515;

30
- a “grande soltura”, suas consequências: dispersão de muitos soldados e oficiais régios
para o Golfo de Bengala. Criação posterior de núcleos populacionais com um número
significativo de portugueses tanto na costa oriental indiana, como S. Tomé de Meliapor e na
bacia do rio Ganges, como o comprovou o insucesso de António de Brito;
- na ilha do Ceilão (atual Sri-Lanka), é construída a fortaleza de Colombo (1518-24),
dando-se a transferência para a ilha do conflito que os portugueses tinham travado no
Malabar, com o reino de Calecut: os portugueses aliam-se ao rei de Kotte, que se opunha ao
reino de Seitawaka, apoiado por aquele. Nesta mesma ilha, a presença portuguesa é
aprofundada devido à canela como um vetor fundamental.
O estabelecimento no Pacífico a partir de Malaca:
- o comércio do cravo e o estabelecimento dos portugueses nas ilhas de Maluco. A
exclusividade da produção de cravo no arquipélago, razão principal para a fixação dos
portugueses em Ternate: construção da fortaleza em 1522, por determinação ainda de D.
Manuel (que faleceu em dezembro de 1521).
Os portugueses chegam ao Mar da China- a viagem de Fernão Peres de Andrade e Tomé
Pires, em 1517. Por ação desastrosa de Simão de Andrade no sul da China, os portos chineses
fecham-se ao exterior. Martim Afonso de Melo, em 1522, vê a sua armada derrotada por
razões técnicas (superioridade dos grandes juncos chineses relativamente às naus portuguesa,
bem como um armamento bem mais superior, bem como número de homens. A estratégia foi
mandar dois homens mergulhar e trancar o leme dos juncos chineses, impedindo-os de
manobrar a embarcação. Mais tarde, em 1554, as relações oficiais são reestabelecidas por
Leonel de Sousa, e o estabelecimento dos mercadores particulares portugueses em Macau,
que vai ser importante na rota comercial da “Carreira do Japão”.
No Índico, surgem novos adversários:
- os Otomanos, que ao destruir o Império Mameluco, permitem o acesso ao Índico
Ocidental. A sua expansão para o Oriente abrir-lhe-á, mais tarde, em 1534, as portas do Golfo
Pérsico graças à tomada de Baçorá;
- os Guzerates, principais defensores do comércio marítimo do Índico, adotam desde o
inicio uma politica anti-portuguesa, que irá aumentar sobretudo após a conquista de Malaca e
a ascensao ao trono de Cambaia de Muzafar II, em 1511;
- nas duas primeiras décadas do século XVI, os muçulmanos começam a reorganizar o seu
comércio de longo curso, para colmatar a perda do domínio do mar, fazendo com que os
navios de Malaca ou de Bengala passassem a utilizar a rota das Maldivas, para fugir ao
controlo das armadas portuguesas no Índico ocidental.

31
- O sultanato do Achém, em Samatra emerge, e aliado ao sultanato de Java, irá confrontar
as posições portuguesas, especialmente a fortaleza de Malaca, alvo de sucessivos cercos. De
forma a dar resposta.

A crise militar e política do “Estado da Índia”, na década de 1520


- a ação da coligação muçulmana com Pacém, Ceilão, Maldivas e Calecute- na tentativa de
desarticulação do “Estado da Índia”.
- o incremento da pirataria malabar no sul da Índia e a oposição aos portugueses;
- oposição dos Espanhóis aos portugueses nas Molucas;
- a desorganização interna do “Estado da Índia- tentativas reformadoras, como o envio de
Vasco da Gama para a Índia em 1524, de forma a reorganizar o Estado, porém, a sua morte
após ter chegado ao Malabar impediu-o.

A política oriental de D. João III: esforços de reorganização e a abertura de novos espaços


de influência:
- mudanças políticas no seio da Corte; abandono dos grandes sonhos e conquista; a adoção
de uma política pragmática em que a guerra é posta ao serviço de uma estratégia de
desenvolvimento do comércio. As estruturas militares reorganizam-se no “Estado da Índia” na
linha do que se procurava implementar no Reino com a criação das “companhias de
ordenança”, igualmente organizadas na Índia. Nuno da Cunha toma uma ação reformadora:
centralização progressiva da administração do Estado em Goa: transferência da Casa dos
Contos e da Matrícula Geral de Cochim para Goa, a que se seguiram depois muitas outras
estruturas administrativas do “Estado da Índia”. Goa afirma-se como capital do Estado,
restruturando o sistema das armadas de guarda-costa no Índico oriental.

32

Você também pode gostar