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A EXPANSÃO ULTRAMARINA

As grandes navegações são um marco na história da humanidade, a partir


delas a história de quatro continentes ligou-se de modo duradouro. Depois que as
caravelas e naus portuguesas e espanholas lançaram-se nos “mares nunca dantes
navegados” a África, a Ásia, a América e a Europa nunca mais seriam as mesmas.
Para que se tenha uma ideia do quanto tudo mudou basta perceber que, antes dos
descobrimentos, a Europa era uma espécie de periferia do mundo e, já no século
XVII, os europeus eram donos de vastos impérios coloniais que se estendiam por,
pelo menos, dois continentes.
Os europeus já praticavam comércio com o oriente há tempos mas este era
realizado, principalmente, pelos mercadores italianos que vendiam, com grande
lucro, especiarias ( pimenta, cravo, canela e etc) e artigos de luxo. A situação piora
ainda mais com a conquista de Constantinopla, importante entreposto comercial,
pelos Turcos Otomanos. Com os produtos cada vez mais caros, os europeus
precisavam descobrir novas rotas para a Índia.
O pioneirismo coube aos portugueses.

AS NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS

Portugal surgiu na guerra. Recebido como recompensa pelos esforços


depreendidos na Reconquista Cristã,o Condado Portucalense teve sua
independência declarada por D.Afonso Henriques no ano de 1139. Enquanto boa
parte dos estados nacionais europeus ainda estavam divididos entre diversos
feudos, Portugal experimentava uma centralização que foi consumada com a
conquista da região de Algarve.
O país não tinha muitas terras que pudessem ser aproveitadas na agricultura
mas, em contrapartida, era dotado de bons portos naturais e de uma localização
geográfica que favorecia o comércio. Por causa destas condições, desde cedo os
portugueses se dedicaram ao comércio e à pesca, o que, além de garantir vasta
experiência em navegação oceânica, fortaleceu sua burguesia mercantil. A prova
maior desta força se deu em um momento de crise.
Quando Dom Fernando morreu, em 1383, o rei de castela tentou usurpar o
trono de Portugal e foi impedido pela burguesia que, liderando a população, elegeu
D. João, mestre da ordem militar de Avis, governante do país. Este movimento,
conhecido como Revolução de Avis, foi fundamental para explicar o pioneirismo
português nas grandes navegações.
O rei retribuiu a ajuda recebida investindo no comércio e nas atividades
mercantis como um todo. Também buscou o apoio da igreja organizando uma
espécie de guerra santa contra a cidade de Ceuta, na África. A escolha não foi
aleatória, Ceuta monopolizava o comércio do norte da África e era extremamente
rica.
A expedição de conquista foi organizada por um dos filhos do rei, o infante D.
Henrique que tinha 19 anos na época. Em 1415 os portugueses atacaram de
surpresa e causaram uma verdadeira chacina. Segundo o escritor Eduardo Bueno
“A tomada de Ceuta foi um momento-chave da história: aquela seria a última
cruzada e a primeira vitória europeia sobre os árabes na África desde os dias de
glória do Império Romano” (BUENO, 2019, p.55). 1
Embora economicamente a conquista tenha se mostrado de pouca validade
(os árabes simplesmente começaram a desviar de Ceuta e a realizar seu comércio
em outros locais), o movimento representou o início das navegações portuguesas.
Ao voltar para o reino, D. Henrique decidiu se afastar da corte e se instalar na região
da Algarve, onde existiam bons portos naturais. Lá reuniu sábios, cartógrafos,
astrônomos e astrólogos - muitos deles judeus fugidos da inquisição espanhola- e
fundou a chamada Escola de Sagres que, embora não tenha existido em um
sentido material - nunca houve um prédio com este nome-, foi responsável por
diversas descobertas e avanços no que diz respeito às ciências náuticas.
É significativo que tenham surgido nessa época, em Portugal, equipamentos
como o Astrolábio, a Agulha de marear ( Espécie de Bússola), Balestilha e etc.
Também foram os lusos que desenvolveram a caravela, um barco pequeno e ágil
que podia ser manejado com facilidade.
Tudo isso foi construído em meio a inúmeras expedições que o infante
organizava. Se tornou uma obsessão deste homem, que viveu uma vida envolta em
mistérios, descobrir novas terras e riquezas através da navegação do Atlântico.
Quando D.Henrique morreu, em 13 de novembro de 1460, um terço da costa
africana já constava nos mapas portugueses e o país lucrava com feitorias,
extração de ouro, marfim, com a produção açucareira e , principalmente, com o
comércio de escravos.
A empreitada teve um impulso ainda maior com D. João II que elegeu como
objetivo maior descobrir uma rota para a índia contornando a África. As dificuldades
eram imensas, dezenas de embarcações partiam para nunca mais voltar: muitos se
perderam no mar, outros naufragaram em meio a tempestades ou perdiam a
tripulação inteira para doenças como diarréias, infecções e o temível escorbuto.
Para além destes problemas reais, existiam outros imaginários. O
desconhecido sempre causou medo e foi palco para inúmeras fabulações e teorias.
Os oceanos e terras desconhecidas prestavam-se muito bem isto: Acreditava-se
que existiam monstros marinhos que comiam barcos inteiros, peixes voadores que
atacavam a tripulação, águas que, de tão quentes, incendiavam os navios.
Mesmo diante do terror, os navegadores eram exortados pelo rei a continuar
as viagens afinal de contas, de acordo com os dizeres do general romano Pompeu,
“ Navegar é preciso, viver não é preciso”. Em 1488 Bartolomeu dias contornou o
cabo das Tormentas - mais tarde batizado de Cabo da Boa Esperança- e,

1
BUENO, Eduardo. A viagem do descobrimento. Rio de janeiro: Estação Brasil, 2019.
consequentemente, a África. Ainda tentou seguir até a índia mas os seus
marinheiros, cansados e doentes, exigiram a volta.
Seriam precisos ainda dez anos para que os portugueses, através de Vasco
da Gama, chegassem ao “reino das especiarias”. Quando estava navegando para o
oeste, contornando águas perigosas, Gama avistou aves que “pareciam estar indo
para a terra”. O navegador não pôde segui-las mas informou ao militar Pedro
Álvares Cabral que poderiam existir terras naquela direção. Pouco tempo depois
Cabral chegou à costa brasileira2

AS NAVEGAÇÕES ESPANHOLAS

No ano de 1474 um estudioso chamado Paolo Toscanelli enviou uma carta ao


rei de Portugal afirmando que, de acordo com seus estudos, não só era possível
como era mais rápido chegar ao oriente navegando para o Oeste, ao invés de
contornar a África. Desacreditado pelos seus conselheiros, o monarca não aceitou
as teorias de Toscanelli e continuou com seu projeto inicial.
Tempos depois o documento chegou às mãos de um marinheiro Genovês
chamado Cristóvão Colombo. Colombo era casado com uma portuguesa, filha do
donatário da ilha de Porto Santo. Em 1484, ciente dos fracassos portugueses em
realizar o périplo africano, Colombo pediu a D. João II três navios e uma tripulação
para seguir a rota proposta por Toscanelli. Foi rejeitado e decidiu tentar a sorte na
Espanha.
Os espanhóis, preocupados com a notícia do sucesso de Bartolomeu,
decidiram apostar em Colombo. Em 1492, comandando uma pequena frota
composta por uma nau e duas caravelas, o genovês partiu em direção à índia e,
após dois meses de viagem, chegou em terra firme. Sem saber que estava
aportando em um novo continente e acreditando que tinha alcançado o sucesso,
Colombo chamou os habitantes daquela região de índios.
Deste ano até 1502 ele viajou quatro vezes até a América e , em uma delas,
percebeu a ilha de Cuba. Como ainda mantinha a fé de que havia chegado ao
oriente, pensou que ali era o japão. A comprovação de que havia sido descoberto
um novo continente foi de Américo Vespúcio, que batizou as novas terras.

O MERCANTILISMO

As navegações foram motivadas, principalmente, pelo desejo de fortuna dos


monarcas europeus. Embora navegadores e líderes, como o próprio Colombo e D.
Henrique, afirmarem aos quatro cantos que tinham motivações religiosas ( Colombo

2
Essas informações constam no livro “A Viagem do Descobrimento: Um olhar sobre a expedição de
Cabral”, publicado pelo escritor e pesquisador Eduardo Bueno. Não obstante ser baseada em relatos
e no diário de navegação do próprio Vasco da Gama, o fato é que não podemos afirmar com certeza
se houve intenção no descobrimento do Brasil.
queria, inclusive, conseguir fundos para financiar uma nova cruzada) o fato é que o
desejo por riquezas era o ponto principal.
Vigorava nessa época um conjunto de práticas econômicas que ficaram
conhecidas como mercantilismo. O mercantilismo tinha alguns pressupostos
principais:
● Metalismo: Crença na ideia de que, quanto mais metais preciosos tivesse,
mais rico era o país
● Balança Comercial favorável: Noção de que era necessário exportar mais do
que importar, assim as reservas de metais cresciam.
● Política protecionista: Taxação das importações para garantir o
desenvolvimento da manufatura nacional.

Rayan Fernandes Pereira


Graduado em História - UFCG Mestrando em História- UFCG

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