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Portugal nos séculos XV e XVI

As motivações e condições para a expansão marítima portuguesa


No século XV, os europeus tinham um conhecimento muito limitado do mundo. Apenas conheciam
a Europa, a África do Norte e parte da Ásia. Sobre o mundo desconhecido contavam-se histórias e
lendas... acreditava-se na existência de um mar tenebroso, com grandes ondas e monstros
marinhos que engoliam os barcos. As terras longínquas, segundo estas lendas, eram povoadas por
seres fantásticos e essas histórias faziam com que os homens tivessem medo de se aventurarem
por sítios desconhecidos…

Naquela época, Portugal estava em paz, mas continuava a enfrentar dificuldades económicas.
Faltavam cereais, metais preciosos, matérias-primas e mão de obra. Para resolver a crise, os
Portugueses ultrapassaram os obstáculos criados pelas lendas e aventuraram-se pelo mar,
iniciando a expansão marítima para alargar o seu território. D. João I pretendia resolver os
problemas económicos do reino e afirmar o prestígio da nova dinastia.
O rei sabia que todos os grupos sociais apoiavam a expansão marítima, como solução para os
problemas de Portugal:
• a nobreza queria participar em ações de conquista para obter novos cargos e mais terras;
• o clero desejava difundir a fé cristã;
• a burguesia pretendia ter acesso a novos mercados e produtos para comprar e vender e
obter mais lucros;
• o povo tinha esperança que a expansão marítima lhe melhorasse as difíceis condições de
vida;
Este movimento de expansão foi possível porque o reino reunia uma série de condições propícias:
tinha uma extensa costa marítima, com bons portos naturais e uma localização no sudoeste da
Europa, próxima de África; estava em paz e tinha as fronteiras definidas; os seus marinheiros
possuíam uma grande experiência no mar, devido à prática ancestral da pesca e do comércio
marítimo.

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A nível técnico e científico, o contacto com judeus e árabes tinha transmitido o conhecimento de
vários instrumentos e técnicas de navegação.
Os Portugueses também aperfeiçoaram a
construção naval, desenvolvendo um
novo tipo de embarcação: a caravela.
Esses conhecimentos permitiram navegar
em mar alto através da navegação
astronómica, que é a técnica de
navegação orientada pelos astros.

Os rumos da expansão quatrocentista


A expansão marítima portuguesa teve início no reinado de D. João I em 1415, com a conquista
de Ceuta. organizada por D. João I e seus filhos, D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique.
Razões para a conquista de Ceuta:
• era um importante centro de comércio de produtos, vindos
do centro de África e do Oriente;
• os campos à volta da cidade de Ceuta eram ricos em cereais,
que tanto faltavam em Portugal;
• a cidade estava situada estrategicamente entre o mar
Mediterrâneo e o oceano Atlântico, permitindo controlar o
comércio que passava pelo estreito de Gibraltar.

Esta cidade do Norte de África era controlada pelos Muçulmanos e possuía muitas riquezas:
ouro, escravos, cereais e especiarias vindas do Oriente.

A expedição a Ceuta foi um êxito militar, mas os objetivos iniciais não foram alcançados:

• os Muçulmanos desviaram as rotas de comércio para outras cidades;


• os Muçulmanos destruíram os campos de cultivo.
• Estavam constantemente a ser atacados pelos muçulmanos

Assim, os Portugueses decidiram aventurar-se em direção a


outros destinos, mais a sul. Estas viagens foram planeadas pelo
Infante D. Henrique.
Durante o período henriquino (1434 a 1460), a política de
expansão deu prioridade às viagens de exploração da costa
ocidental africana.
Foi neste período que navegadores portugueses fizeram o
reconhecimento dos arquipélagos despovoados da Madeira e dos
Açores, e que Gil Eanes passou o cabo Bojador em 1434.
Em 1460, os Portugueses já tinham chegado à Serra Leoa.
Expansão ao longo da costa africana no período henriquino.

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ARQUIPÉLAGO DA MADEIRA
Reconhecimento das ilhas da Madeira e Porto Santo pelos navegadores: João Gonçalves Zarco;
Tristão Vaz Teixeira; Bartolomeu Perestrelo
ARQUIPÉLAGO DOS AÇORES
Reconhecimento e descoberta pelos navegadores: Diogo de Silves; Gonçalo Cabral e Diogo de
Teive
A PASSAGEM DO CABO BOJADOR
Gil Eanes, ao ultrapassar este cabo, acabou com os mitos e as lendas sobre o desconhecido e
possibilitou que Portugal descobrisse novas terras e novos mares.

Depois da morte do Infante, D. Afonso V arrendou a exploração da costa africana a Fernão


Gomes, por um período de cinco anos. Fernão Gomes fundou a feitoria da Mina. O rei continuou a
combater os Muçulmanos no Norte de África, tendo conquistado as cidades de Arzila, Tânger e
Alcácer Ceguer.

Por sua vez, o príncipe D. João, futuro D. João II, tinha grande interesse pela continuação da
expansão. O sonho era chegar à Índia por mar. Continuou, por isso, a exploração na costa africana
e, em 1488, Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, descobrindo a passagem para o
Oceano Índico.

Entretanto, os reis de Castela também queriam alargar o seu território. Ao seu serviço, o
navegador Cristóvão Colombo desembarcou nas Antilhas em 1492, ilhas da América Central,
julgando ter chegado à Índia. D. João II informou que, de acordo com o Tratado de Alcáçovas
(assinado em 1479), essas terras pertenciam ao reino português, originando um conflito entre os
dois reinos, resolvido em 1494, através da assinatura de um novo tratado: o Tratado de Tordesilhas,
que dividiu o mundo em duas partes (uma para Portugal e outra para Castela).

O Mundo fica assim dividido em duas partes a partir de um


meridiano que passava a 370 léguas a ocidente de Cabo Verde.
Todas as terras descobertas e a descobrir para oriente desse
meridiano pertenceriam a Portugal, ficando as restantes, a
ocidente, para Castela.

Tratado de Tordesilhas.

O caminho marítimo para a Índia foi descoberto apenas no reinado de D. Manuel I. A armada,
comandada por Vasco da Gama, chegou a Calecute em 1498 e tinha como missão fazer o comércio
das especiarias. As negociações com os chefes da Índia não foram fáceis e, poucos meses após Vasco
da Gama ter regressado a Lisboa, o rei D. Manuel enviou uma poderosa armada, dirigida por Pedro
Álvares Cabral, para impor a presença dos Portugueses no Oriente.

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No entretanto, durante a viagem, a armada desviou-se
da rota e acabou por descobrir o Brasil em 1500, ao qual
chamaram Terra de Vera Cruz.

No século XVI, os Portugueses controlavam o comércio de especiarias, que iam buscar à


Índia e transportavam em naus até Lisboa, sendo depois vendidas para o resto da Europa a preços
muito elevados. Esta rota era chamada de “Carreira da Índia”. Esta deu acesso direto às especiarias
e a outros produtos de luxo, Especiarias, Porcelanas, Pedras preciosas, Sedas, Perfumes, Madeiras
tornando a cidade de Lisboa num dos principais centros do comércio europeu.

Em 1519, Fernão de Magalhães, ao serviço dos reis de


Castela, concluiu a primeira viagem de circum-navegação,
provando que a Terra é esférica, provou ainda que era possível
o contacto entre os oceanos Atlântico e Pacífico, através de
um estreito localizado na América do Sul, designado, mais
tarde, estreito de Magalhães.

O Império Português
Com a expansão marítima, Portugal formou um vasto império, formado pelos arquipélagos
atlânticos e territórios africanos, asiáticos e americanos.

Os arquipélagos dos Açores e da Madeira eram desabitados quando os Portugueses os


descobriram. Para os colonizar, o Infante D. Henrique dividiu-os em capitanias, entregues ao governo
de capitães-donatários, que deveriam atrair colonos e desenvolver economicamente o seu território.
Capitanias do arquipélago dos Açores.
Capitanias do arquipélago da Madeira

O que era uma capitania?


Região atribuída pelo rei a um homem da sua confiança (capitão-donatário), responsável
pela defesa, pela cobrança de impostos e pela aplicação da justiça no território. Foi o sistema de
administração usado nos territórios que ainda necessitavam ser explorados.

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Na Madeira desenvolveram:
a extração de madeira,
a pesca;
a agricultura, com o cultivo do trigo, da cana-de-açúcar e da vinha.

Nos Açores desenvolveram:


a criação de gado e exploração de laticínios.
a agricultura, com a plantação de trigo, da cana-de-açúcar e de plantas tintureiras.

Os lucros da exportação destes produtos foram importantes para o avanço da exploração da costa
ocidental africana.

Em África, os Portugueses encontraram povos de raça negra, que se organizavam em reinos


e tribos, com línguas e costumes muito diferentes. Com eles os Portugueses estabeleceram trocas
comerciais, comprando ouro, marfim, malagueta e escravos e vendendo tecidos, adornos, trigo e
sal. O comércio era feito por troca direta.
Junto à costa, nas regiões de maior
comércio, foram construídas feitorias e
fortalezas, locais de comércio fixo, com armazéns
para guardar os produtos.
O que era uma feitoria?
Local fortificado e protegido junto à costa,
onde se concentravam as mercadorias
negociadas com os povos locais e os produtos
portugueses.

Na Ásia, os Portugueses depararam-se com civilizações antigas, como a indiana, a chinesa e


a japonesa. Apesar dos costumes exóticos, tinham um elevado nível de desenvolvimento. O principal
objetivo dos Portugueses na Ásia era o comércio das especiarias. No entanto, não foram muito bem
recebidos pelos indianos, que estavam habituados a comercializar com os Muçulmanos.

D. Manuel, para garantir o domínio no Índico, nomeou um vice-rei da Índia, ou seja, um


governador. Os mais importantes foram D. Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque.
Afonso de Albuquerque:
• promoveu casamentos entre Portugueses e locais;
• estimulou o ensino da língua portuguesa e da religião cristã;
• foi responsável por várias conquistas;
• construiu fortalezas e templos.

Foram enviados soldados e missionários para defender e cristianizar as populações nativas.


Desta forma, os Portugueses expandiram-se rapidamente: chegaram à China, ao Japão, às Molucas,
a Timor e a Macau.
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Destas terras traziam especiarias e produtos de luxo, como sedas, porcelanas e perfumes,
que pagavam com ouro e prata. Para organizar as trocas comerciais também foram construídas
feitorias.

No continente americano, os Portugueses exploraram o Brasil, habitado por tribos de


ameríndios. Inicialmente, o território brasileiro não despertou grande interesse; os Portugueses
apenas exploraram o pau-brasil e o comércio de animais exóticos. Só quando os lucros do comércio
com o Oriente diminuíram é que a colonização brasileira se tornou uma prioridade.
Em 1535, D. João III dividiu o
Brasil em capitanias, para que os
capitães-donatários tratassem de
povoar e explorar as terras.
Iniciou-se a produção de açúcar e
o cultivo da banana, com recurso a mão
de obra escrava, de origem índia e
africana.
Em 1549, Rivalidades e conflitos
entre os capitães-donatários levaram D.
João III a nomear um governador-geral
que o representava, Tomé de Sousa, com poderes políticos e militares sobre todas as capitanias.
Foi ele que levou para o Brasil os primeiros jesuítas, responsáveis por transmitir a religião
cristã, a língua e os costumes europeus aos indígenas.

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