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UNIDADE I: EXPANSÃO EUROPEIA DOS

SÉCULOS XV E XVI

1. O comércio com o oriente


As cruzadas, que recolocaram o Ocidente em contato com o Oriente, criaram o gosto
pelo consumo de exóticos produtos orientais. Os artigos mais consumidos eram jóias,
perfumes, veludos pintados, tecidos de seda e especiarias, como a noz-moscada, canela,
o cravo e a procuradíssima pimenta, que chegou a ser usada como moeda. A expansão
do mercado europeu para esse tipo de mercadoria pôde ser rapidamente aproveitada
pelos mercadores das cidades italianas, principalmente Génova e Veneza.

Os comerciantes de Génova e Veneza recebiam os produtos orientais (das Índias) nos


portos de Trípoli, Alexandria e principalmente em Constantinopla.

Os mercadores de outros países queriam quebrar o monopólio de Génova e Veneza e


participar desse comércio tão lucrativo. Esse foi o principal fator que impulsionou as
viagens marítimas. Mas havia muitos outros motivos que impulsionaram a expansão
marítima no século XV como:
• Conquista de Constantinopla: os turcos conquistaram Constantinopla em 1453,
bloqueando o comércio de especiarias pelo Mar Mediterrâneo;

•Necessidade de Novos Mercados: os europeus precisavam seu artesanato e


manufaturas e precisavam de géneros alimentícios e de matérias-primas;

•Falta de Metais Preciosos: era preciso descobrir novas jazidas de ouro e prata para
cunhagem de moedas porque na Europa não havia mais esses metais preciosos;

• Interesse dos Estados Nacionais: a aliança da burguesia com os reis ajudou em muito
nesse processo;

•Propagação da Fé Cristã: a difusão da fé religiosa justificava conquistar e converter


povos da América, África e da Ásia;

•Ambição Material: todos que se envolviam nas longas viagens marítimas queriam
demais enriquecer com as descobertas que estavam por vir;

•Progresso Tecnológico: a expansão marítima só foi possível graças ao


desenvolvimento e o uso da bússola, do astrolábio, do quadrante, da caravela e do
aperfeiçoamento dos mapas geográficos aliada à noção de que a Terra era redonda.

Professor Agostinho António Ialá Júnior


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2. A Prioridade Portuguesa
O pioneiro das grandes navegações marítimas foi Portugal, em 1419 com a chegada à
ilha da Madeira. O país foi o primeiro a se unificar no continente e ter uma política
mercantilista com a união da burguesia com a realeza. Além disso, os lusitanos já
participavam do comércio do mediterrâneo como parceiros das cidades italianas e
através da Escola de Sagres, grande complexo náutico, dominou novas técnica de
navegação que possibilitaram percorrer grandes distâncias marítimas. Completam esses
fatores a ausência de guerras internas e a privilegiada posição geográfica, sendo o país
europeu mais próximo do grande Mar Tenebroso (Oceano Atlântico).

Os portugueses descobriram o caminho pelo sul da África quando Bartolomeu Dias


cruzou o Cabo da Boa Esperança em 1488. Em 1498, Vasco da Gama foi o primeiro
europeu a chegar à Índia, voltando carregado de especiarias, dando um lucro enorme ao
rei de Portugal. Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.

Logo após a conquista da cidade de Granada em 1492, foi a vez dos espanhóis. Com a
expulsão dos mouros. Os monarcas Fernando, de Aragão e principalmente Isabel, de
Castela lançaram-se nas navegações patrocinando a viagem de Cristóvão Colombo que
queria provar que o mundo era redondo, atingindo às Índias viajando para oeste.

Colombo, porém, acabou por descobrir um novo continente que acabaria se chamando
América. Após a chegada dele no novo continente, os reis da Espanha apressaram-se
para garantir seus direitos de posse sobre a nova terra. Para isso, pediram a intervenção
do papa Alexandre VI também espanhol, uma autoridade respeitada entre os reinos
cristãos.

Após muitas discussões com os portugueses, foi assinado um acordo, o Tratado de


Tordesilhas que traçava uma linha imaginária a 370 léguas das ilhas de Cabo Verde,
cortando o mundo em duas partes. As terras a leste dessa linha pertenceriam a Portugal
e as terras a oeste pertenceriam a Espanha.

Os espanhóis empreenderiam ainda outras viagens. Vicente Pinzón chegou até a foz do
rio Amazonas no início de 1500. Vasco Nunes de Balboa atinge o Oceano Pacífico, por
terra em 1513. Em 1519 Fernão de Magalhães inicia a primeira viagem de
circunavegação da Terra completada por Sebastião El Cano em 1521.

Interessados também em descobrir novos caminhos para a Índia, franceses, ingleses e


holandeses, lançaram-se às navegações marítimas concentrando-se no Atlântico Norte
tentando encontrar uma passagem noroeste para a Ásia.
Embora essa passagem não tenha sido encontrada, os navegadores passaram a explorar
e a ocupar parte da América do Norte além de praticar a pirataria contra navios
inimigos, principalmente espanhóis, onde conseguiram muitas riquezas e desestabilizar
esses governos.

Na Inglaterra, a pirataria foi oficializada. Os corsários, como foram chamados esses


piratas, agiam em nome da monarquia e dividiam os lucros dos saques com o governo.
O principal pirata inglês foi Francis Drake.

Professor Agostinho António Ialá Júnior


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Diversos fatores contribuíram para o retardamento da participação Inglesa francesa e
holandesa na expansão mercantil, dentre eles a Instabilidade política e econômica, a
inexistência de uma monarquia centralizada, aliada aos interesses das burguesias
nacionais e às resistências feudais.

3. Expansão ultramarina portuguesa


Portugal foi o primeiro país europeu a se aventurar pelos mares e vários foram os
fatores que contribuíram para esse fato:

 Insuficiência portuguesa em metais preciosos para a cunhagem da moeda


 Falta de produtos agrícolas e de mão-de-obra
 Desejo de expandir a fé cristã
 Necessidade de novos mercados

Outros fatores como: posição geográfica favorável, conhecimentos náuticos, criação


precoce de um estado nacional, ajudaram Portugal a ser o primeiro país a se lançar nas
Grandes Navegações

A conquista de Ceuta foi o marco inicial da expansão ultramarina portuguesa.

A aventura portuguesa recebeu o nome de “Périplo Africano”, pois alcançou as Índias


contornando a África no decorrer do século XV.

À medida que descobriam novas regiões, criavam feitorias. Nelas, ficavam alguns
homens encarregados de negociar com os nativos do local. Os portugueses queriam
adquirir somente lucros.

3.1. Cronologia

 Segunda década do século XV as ilhas do Atlântico (Açores, Madeira e Cabo


Verde) foram ocupadas
 1434 – Os portugueses chegaram ao Cabo Bojador
 1460 – Nesse ano, já se realizava um lucrativo comércio de escravos (de
Senegal até Serra Leoa)
 1462 – Pedro Sintra descobriu o ouro da Guiné
 1481 – Decretado o monopólio régio (exclusividade da coroa) sobre a
exploração colonial
 1488 - Bartolomeu Dias contornou o Cabo da Boa Esperança
 Entre 1497 e 1498 – Vasco da Gama chegou a Calicute, nas Índias dando por
encerrada a aventura marítima portuguesa.

Professor Agostinho António Ialá Júnior


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4. Expansão ultramarina espanhola
Somente após 1 século de atraso em comparação a Portugal é que os espanhóis
começaram a sua participação nas Grandes Navegações.

4.1. Cronologia
1492 – Colombo descobre a América
De 1492 ate 1504 – descobrimento das Antilhas, Panamá e da América do Sul
1504 – Américo Vespúcio afirmou que as terras descobertas por Colombo eram um
novo continente.
1513 – Nunes Balboa confirmou essa hipótese, atravessando por terra a América
Central chegando ao Oceano Pacífico. Em homenagem a Vespúcio, deu o nome de
América ao novo continente.
Entre 1519 e 1522 - Fernão de Magalhães iniciou a primeira viagem de circum-
navegação.

Outros países também se aventuraram pelos mares:

FRANÇA: Começou sua expansão ultramarina a partir de 1520. Os franceses


exploraram a costa brasileira, saquearam o pau-brasil e tentaram, sem êxito, se
estabelecer no Rio de Janeiro e no Maranhão. Também tomaram posse do Canadá e do
Luisiana (sul dos EUA).

INGLATERRA: Por causa da Guerra das Duas Rosas (1455 – 1485) a Inglaterra
também começou tarde sua aventura pelos mares.

HOLANDA: Os holandeses estabeleceram-se na Guiana, e em algumas ilhas do Caribe


e na América do Norte onde fundaram Nova Amesterdão, que depois foi chamada de
Nova Iorque. Promoveram, também, o tráfico de escravos negros.

5. Consequências das grandes navegações


 Sistema colonial português
 Dominação das civilizações asteca e inca pelos espanhóis
 Descoberta das minas de prata de Potosi (consideradas as maiores do mundo)
 Ampliação do comércio mundial
 Afluxo de metais preciosos
 Preparação das revoluções Comercial e Industria

Professor Agostinho António Ialá Júnior


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6. Descobrimentos portugueses
Planisfério de Cantino (1502), a mais antiga carta náutica portuguesa conhecida,
mostrando o resultado das viagens de Vasco da Gama à Índia, Colombo à América
Central, Gaspar Corte Real à Terra Nova e Pedro Álvares Cabral ao Brasil, com
meridiano de Tordesilhas assinalado.
.

Os descobrimentos portugueses foram o conjunto de conquistas realizadas pelos


portugueses em viagens e explorações marítimas entre 1415 e 1543 que começaram
com a conquista de Ceuta em África. Os descobrimentos resultaram na expansão
portuguesa e deram um contributo essencial para delinear o mapa do mundo,
impulsionados pela Reconquista e pela procura de alternativas às rotas do comércio no
Mediterrâneo. Com estas descobertas os portugueses iniciaram a Era dos
Descobrimentos europeus que durou do século XV até ao XVII e foram responsáveis
por importantes avanços da tecnologia e ciência náutica, cartografia e astronomia,
desenvolvendo os primeiros navios capazes de navegar em segurança em mar aberto no
Atlântico.

Embora com antecedentes no reinado de D. Dinis (1279) e nas expedições às Ilhas


Canárias do tempo de D. Afonso IV, é a partir da conquista de Ceuta em 1415, que
Portugal inicia o projecto nacional de navegações oceânicas sistemáticas que ficou
conhecido como "descobrimentos portugueses".

Terminada a Reconquista, o espírito de conquista e Cristianização dos povos


muçulmanos subsistia. Os portugueses dirigiram-se então para o Norte de África, de
onde tinham vindo os mouros que se haviam estabelecido na Península Ibérica.
Avançando progressivamente pelo Atlântico ao longo das costas do continente africano,
passaram o Cabo da Boa Esperança e entraram no Oceano Índico movidos pela procura
de rotas alternativas ao comércio Mediterrânico. Chegaram à Índia em 1498,
simultaneamente exploraram o Atlântico Sul e aportaram nas costas do Brasil em 1500,
navegando no extremo da Ásia chegaram à China em 1513 e ao Japão em 1543.

As expedições prolongaram-se por vários reinados, desde o tempo das explorações na


costa africana e americana impulsionadas pelo regente D. Pedro, duque de Coimbra e o
Infante D. Henrique, filhos de D. João I, e mais o seu sobrinho D. Infante D. Fernando,
duque de Viseu, até à ao projeto da descoberta de um caminho marítimo para a Índia no
reinado de D. João II, culminando com o do D. Manuel I a altura em que império
ultramarino português fica consolidado.

Professor Agostinho António Ialá Júnior


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7. Antecedentes da expansão portuguesa
Com a Reconquista concluída, Dinis I de Portugal interessou-se pelo comércio externo,
organizando a exportação para países europeus. Em 1293 instituiu a chamada Bolsa dos
Mercadores, um fundo de seguro marítimo para os comerciantes portugueses que
viviam no Condado da Flandres, que pagavam determinadas quantias em função da
tonelagem, que revertiam em seu benefício se necessário. Vinho e frutos secos do
Algarve eram vendidos na Flandres e na Inglaterra, sal das regiões de Lisboa, Setúbal e
Aveiro eram exportações rentáveis para o Norte da Europa, além de couro e Kermes,
um corante escarlate. Os portugueses importavam armaduras e armas, roupas finas e
diversos produtos fabricados da Flandres e da Itália.

Carta Régia do Rei D. Dinis, datada de 1 de Fevereiro de 1317, nomeando o


genovêsManuel Pessanha como primeiro Almirante do Reino.

Em 1317 D. Dinis fez um acordo com o navegador e mercador genovês Manuel


Pessanha (EmanuelePessagno), nomeando-o primeiro almirante da frota real com
privilégios comerciais com seu país, em troca de vinte navios e suas tripulações, com o
objetivo de defender as costas do país contra ataques de pirataria (muçulmana),
lançando as bases da Marinha Portuguesa e para o estabelecimento de uma comunidade
mercante genovesa em Portugal.

A reduzir suas atividades no Mar Negro, os mercadores da República de Génova


tinham-se voltado para o comércio norte Africano de trigo, azeite (também fonte de
energia) e ouro - navegando até aos portos de Bruges (Flandres) e Inglaterra. Genoveses
e florentinos estabeleceram-se então em Portugal, que lucrou com a iniciativa e
experiência financeira destes rivais da República de Veneza.

Na segunda metade do século XIV, surtos de peste bubónica levaram a um grave


despovoamento: a economia era extremamente localizada em poucas cidades e a
migração do campo levou ao abandono da agricultura e ao aumento do desemprego nas
povoações. Só o mar oferecia alternativas, com a maioria da população fixada nas zonas
costeiras de pesca e comércio.

Entre 1325 e 1357 D. Afonso IV de Portugal concedeu o financiamento público para


levantar uma frota comercial e ordenou as primeiras explorações marítimas, com apoio
de genoveses, sob o comando de Manuel Pessanha. Em 1341 as ilhas Canárias, já
conhecidas dos genoveses, foram oficialmente descobertas sob o patrocínio do rei
Português. A sua exploração foi concedida em 1338 a mercadores estrangeiros, mas em
1344 Castela disputou-as, concedendo-as ao castelhano D. Luís de la Cerda. No ano
seguinte, Afonso IV enviou uma carta ao Papa Clemente VI referindo-se às viagens dos
portugueses às Canárias e protestando contra essa concessão. Nas reivindicações de
posse, sucessivamente renovadas pelos dois povos, prevaleceu, no final, a vontade do
rei de Castela sobre estas ilhas.

Em 1353 foi assinado um tratado comercial com a Inglaterra para que os pescadores
portugueses pudessem pescar nas costas inglesas, abrindo assim caminho para o futuro
Tratado de Windsor em 1386. Em 1380 foi criada a Companhia das Naus, uma bolsa de

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seguros marítimos e, em 1387 há notícia do estabelecimento de mercadores do Algarve
em Bruges. Em 1395, D. João I emitiu uma lei para regular o comércio dos mercadores
estrangeiros.

Há unanimidade dos historiadores em considerar a conquista de Ceuta como o início da


expansão portuguesa, tipicamente referida como os Descobrimentos. Foi uma praça
conquistada com relativa facilidade, por uma expedição organizada por D. João I, em
1415. A aventura ultramarina ganharia grande impulso através da acção do Infante D.
Henrique, reconhecido internacionalmente como o seu grande impulsionador, e
continuada pelo seu sobrinho e protegido Infante D. Fernando, duque de Beja e Viseu.

8. Motivações dos descobrimentos portugueses


Até ao século XIX, considerava-se como única a que a motivação reino português para
as conquistas africanas em Marrocos tinha sido de ordem religiosa e espírito de cruzada.
O cronista Gomes Eanes de Zurara refere-se nesse sentido que os Infantes tinham as
suas razões, os letrados as suas, mas a decisão cabia ao rei D. João I. Diz assim: “Eu
não o teria por vitória, nem o faria em boa verdade, ainda que soubesse cobrar todo o
mundo por meu, se não sentisse que em alguma maneira era serviço de Deus” . O
motivo religioso, sobrepondo-se a todos os outros, foi como tal apontado, entre outros,
por João de Barros, Luís de Camões, Gil Vicente.

Sem falarmos no papel dos reis portugueses na Reconquista da Península Ibérica e


independentemente de nos apercebermos todo um pensamento de acordo com uma
época que mantinha os valores da Cavalaria medieval, que já vinha detrás, a provar está
o consentimento e bênção do papado dado ao pedido D. Dinis para combater os
corsários mouros e ao de D. Duarte, em 1436, nas intervenções de ocupação de
território sarraceno, infiel e ímpio, junto do Norte de África. Daí as sucessivas bulas da
Cruzada que se lhe seguiram e foram dirigidas ao Reino de Portugal e à portuguesa
templária Ordem de Cristo . Isto para consentir e agradecer toda a intervenção nesse
sentido da conquista de os territórios "nulliusdiocesis" (sem diocese apostólica) para
aumentar o número de cristãos e o seu prestígio. Entre outras, temos a bula Apostolice
Sedis emitida em 23 de Maio de 1320 pelo Papa João XXII; a Etsissuscepti, em 1442; a
Dum diversas, em 18 de Junho de 1452; logo depois a RomanusPontifex em 8 de
Janeiro de 14551454, enviadas pelo Papa Nicolau V; e mais tarde surge a bula
Intercætera, em 4 de Maio de 1493, pelo Papa Calisto III.

As importantes rotas comerciais da seda e das especiarias, bloqueadas pelos Otomanos


em 1453 com a queda de Constantinopla motivaram a procura de um caminho marítimo
pelo Atlântico, contornando a África

Mas havia também outras razões para a conquista de Ceuta, mais de um século depois
resumidas pelo carmelita Frei Amador Arrais, ligando-as à acção de D. Afonso IV na
Batalha do Salado - “El-Rei Dom João o primeiro, começou a conquista de África,
tomado Septa, Baluarte da Cristandade, & Chave de toda Hespanha, Porta do
comércio do poente para levante."

Professor Agostinho António Ialá Júnior


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Os muçulmanos dominavam o estreito de Gibraltar e eram poderosos em Granada. Pela
sua posição geográfica, Ceuta era uma base naval que podia servir de apoio à navegação
entre a península itálica e Portugal, permitindo também reprimir ou tolher a pirataria
dos mouros nas costas do Atlântico.

No século XX, houve historiadores que julgaram o passado com as preocupações do


presente, considerando a primazia do interesse económico: procurar acesso directo a
fontes de fornecimento de trigo, de ouro ou de escravos no norte de África. Mas houve
também historiadores, como David Lopes, rebatendo essa tese: "Ainda que Ceuta
tivesse importância como centro de comércio, a sua conquista por cristãos desviaria
dela o tráfico muçulmano",

As conquistas de Marrocos, porém, sob o impulso do Infante D. Henrique, vieram a dar


lugar aos descobrimentos. Segundo Gomes Eanes de Zurara, na Crónica do
descobrimento e conquista da Guiné (Capítulo VII), as expedições organizadas pelo
Infante tinham cinco motivações:

 (1ª) Conhecer a terra além das Canárias e do cabo Bojador;


 (2ª) Trazer ao reino mercadorias;
 (3ª) Saber até onde chegava o poder dos muçulmanos;
 (4ª) Encontrar aliados que o pudessem ajudar numa guerra que durava há
trinta e um anos;
 (5ª) E trazer para a fé de Cristo todas as almas que se quisessem salvar.

Se, com o Infante, ao avançar pela costa de África na direcção do sul, parece haver
sobretudo a intenção de envolver pela retaguarda o grande poderio islâmico, adversário
da Cristandade (uma estratégia militar e diplomática tributária do espírito das
Cruzadas), a crescente intervenção dos "cavaleiros-mercadores" (Magalhães Godinho)
nos reinados de D. Afonso V e D. João II, acabará por levar a expansão portuguesa até
ao Oriente em busca das especiarias. Em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos
Otomanos, as trocas comerciais no Mediterrâneo de Veneza e de Génova ficaram muito
reduzidas. O proveito de uma rota comercial alternativa mostrava-se recompensador.
Portugal iria ligar directamente as regiões produtoras das especiarias aos seus mercados
na Europa. Quando se firma o projecto da descoberta do caminho marítimo para a Índia,
a expansão portuguesa sem esquecer a vertente religiosa está também já dominada pelo
interesse comercial.

9. Primeiras expedições no Atlântico


A conquista de Ceuta em 1415 é geralmente referida como o início dos "descobrimentos
Portugueses". Nela participaram os infantes D. Duarte, D. Pedro e o Infante D.
Henrique que a partir de então dirige as primeiras expedições no Atlântico, como
investimento do Reino de Portugal através da templária Ordem de Cristo e do seu
próprio património pessoal. As primeiras navegações estão associadas à sua figura a
partir da base que, saindo do porto de Castro Marim que tinha sido a primeira sede da
referida ordem militar e da qual ele era o grão-mestre, estabeleceu em Lagos e na
Sagres, onde foi acompanhado por um grupo de cartógrafos, astrónomos e pilotos. Além

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dos interesses materiais, o príncipe ambicionava ao estabelecer uma aliança com o
Preste João, um príncipe cristão que governava as terras da Etiópia. Graças a essa
aliança, pensava-se recomeçar as Cruzadas, mas numa escala planetária, alcançar o
Paraíso (o Éden) do qual esse rei africano era o guardião, e expulsar os muçulmanos da
Terra Santa para alcançar a Idade do Ouro e Jerusalém Celeste. Após a conquista os
infantes foram armados cavaleiros pelo rei.

Por trás deste movimento, como dirigente governativo, estava o seu irmão Infante D.
Pedro, 1. ° Duque de Coimbra assim como um grupo vasto de religiosos cristão e
judeus, mercadores e armadores profissionais, interessados e participantes nas
navegações, responsáveis por uma série importante de iniciativas a que o navegador
aderiu. Entre eles o seu aventureiro sobrinho navegador, Infante D. Fernando, duque de
Beja, pai de D. Manuel I, que deu toda a continuidade a esses intentos.

9.1. A ilha da Madeira


Em 1418, ainda no reinado de D. João I, e sob comando do Infante D. Henrique dá-se o
redescobrimento da ilha de Porto Santo por João Gonçalves Zarco e mais tarde da ilha
da Madeira por Tristão Vaz Teixeira. Trata-se de um redescobrimento pois já havia
conhecimento da existência dessas ilhas no século XIV, segundo revela a cartografia da
mesma época, principalmente em mapas italianos e catalães. Tratava-se de ilhas
desabitadas que, pelo seu clima, ofereciam possibilidades de povoamento aos
Portugueses e reuniam condições para a exploração agrícola.

Os arquipélagos da Madeira e das Canárias despertaram, desde cedo, o interesse tanto


dos Portugueses como dos Castelhanos; por serem vizinhos da costa africana,
representavam fortes potencialidades económicas e estratégicas. A disputa destes
territórios deu origem ao primeiro conflito ibérico motivado por razões expansionistas
que só terminou com a assinatura do Tratado das Alcáçovas-Toledo em 1479.

9.2. Os Açores
Em 1427, dão-se os primeiros contactos com o arquipélago dos Açores por Diogo de
Silves. Ainda nesse ano é descoberto o grupo oriental dos Açores, São Miguel e Santa
Maria. Segue-se o descobrimento do grupo central -Terceira, Graciosa, São Jorge, Pico
e Faial). Em 1452 o grupo ocidental (Flores e Corvo) é descoberto por Diogo de Teive.

9.3. A costa oeste de África


Em 1434Gil Eanes contornou o Cabo Bojador, dissipando o terror que este promontório
inspirava. No ano seguinte, navegando com Afonso Gonçalves Baldaia descobriram
Angra de Ruivos e este último chegou ao Rio de Ouro, no Saara Ocidental. Entretanto,
após a derrota portuguesa de Tânger em 1437, os portugueses adiaram o projecto de
conquistar o Norte de África.

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Já na regência de D. Afonso V, em 1441Antão Gonçalves foi incumbido de descobrir o
Rio do Ouro. Fez os primeiros cativos africanos: um homem de cor parda a que os
portugueses chamavam de azenegues e uma moura negra. No mesmo ano, Nuno Tristão
chegou ao Cabo Branco. Juntamente com Antão Gonçalves fizeram incursões ao
referido Rio do Ouro, de onde foi obtido ouro em pó e alguns escravos, a primeira
grande captura. A partir de então ficou generalizada a convicção de que essa área da
costa africana poderia, independentemente de novos avanços, sustentar uma actividade
comercial capaz de responder às necessidades de numerário que, em Portugal, como em
toda a Europa, se fazia sentir. Em 1456, Diogo Gomes descobre Cabo Verde e segue-se
o povoamento das ilhas ainda no século XV .

Em 1455 é emitida a bula Romanus Pontifex do Papa Nicolau V confirmando as


explorações portuguesas e declarando que todas as terras e mares descobertos a sul do
Bojador e do cabo são pertença dos reis de Portugal, que poderá cobrar impostos sobre a
navegação e comércio. No ano seguinte chegava a Bristol o primeiro carregamento de
açúcar provindo da ilha da Madeira.

Em 1460, Pêro de Sintra atinge a Serra Leoa. Nesse ano faleceu o Infante D. Henrique.
Após a sua morte, a missão é atribuída temporariamente ao seu sobrinho, o Infante D.
Fernando (filho de D. Duarte), já aqui referido.

Em 1469, Afonso V, Rei de Portugal dadas as poucas receitas da exploração, concedeu


o monopólio do comércio no Golfo da Guiné ao mercador de Lisboa Fernão Gomes,
contra uma renda anual de 200.000 réis. Segundo João de Barros, ficava aquele
«honrado cidadão de Lisboa» com a obrigação de continuar as explorações, pois o
exclusivo era garantido com «condição que em cada um destes cinco anos fosse
obrigado a descobrir pela costa em diante cem léguas, de maneira que ao cabo do seu
arrendamento desse quinhentas léguas descobertas»». Este avanço, do qual não há
grandes pormenores, teria começado a partir da Serra Leoa, onde haviam já chegado
Pedro de Sintra e Soeiro da Costa.

Com a colaboração de navegadores como João de Santarém, Pedro Escobar, Lopo


Gonçalves, Fernão do Pó e Pedro de Sintra, Fernão Gomes fê-lo mesmo para além do
contratado. Com o seu patrocínio, os portugueses chegaram ao Cabo de Santa Catarina,
já no Hemisfério Sul. João de Santarém e Pêro Escobar exploraram a costa setentrional
do Golfo da Guiné, atingindo a «minha de ouro» de Sama (actualmente Sama Bay), a
costa da Mina, a de Benim, a do Calabar e a do Gabão e as ilhas de São Tomé e
Príncipe e de Ano Bom. Quando as expedições chegaram a Elmina na Costa do Ouro,
em 1471 , encontraram um florescente comércio de ouro.

Seguiram-se outros navegadores como Soeiro da Costa (que deu nome ao rio Soeiro),
Fernão do Pó (que descobriu a ilha Formosa (em África), que ficou conhecida
posteriormente pelo seu nome), João Vaz Côrte-real, que em 1472 descobriu a Terra
Nova, e em 1473Lopo Gonçalves (cujo nome se transmitiu ao Cabo Lopo Gonçalves,
hoje conhecido por Cabo Lopez) ultrapassou o Equador.

Em 1474, D. Afonso V entregou ao seu filho, o príncipe D. João, futuro D. João II, com
apenas dezanove anos, a organização das explorações por terras africanas. Mais tarde,
em 1481, o rei confirmou a missão do príncipe em novo diploma: «…sabemos certo que

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ele dá, per si, e per seus oficiais, mui boa ordem à navegação destes trautos e os
governa mui bem.».

Assim que lhe foi entregue a política de expansão ultramarina, D. João organizou a
primeira viagem de Diogo Cão. Este fez o reconhecimento de toda a costa até à região
do Padrão de Santo Agostinho. Em 1485, Diogo Cão levou a cabo uma segunda viagem
até à Serra Parda.

Há notícias de carregamentos de açúcar da Madeira serem entregues em Rouen (1473) e


Dieppe (1479).

Em 1479, buscando proteger o investimento resultante das descobertas, Portugal


negociou com Castela o Tratado das Alcáçovas-Toledo, estabelecendo a paz e
concertando a política externa Atlântica dos dois reinos rivais: Portugal obtinha o
reconhecimento do seu domínio sobre a ilha da Madeira, o Arquipélago dos Açores, o
de Cabo Verde e a costa da Guiné, enquanto que Castela recebia as ilhas Canárias,
renunciando a navegar ao Sul do cabo Bojador, ou seja, do Paralelo 27 no qual se
encontravam. O tratado dividia as terras descobertas e a descobrir por um paralelo na
altura das Canárias, dividindo o mundo em dois hemisférios: a norte, para a Coroa de
Castela; e a sul, para a Coroa de Portugal. Preservavam-se, desse modo, os interesses de
ambas as Coroas, definindo-se, a partir de então, os dois ciclos da expansão: o chamado
ciclo oriental, pelo qual a Coroa portuguesa garantia o seu progresso para o sul e o
Oriente, contornando a costa africana (o chamado "périplo africano"); e o que se
denominou posteriormente de ciclo ocidental, pelo qual Castela se aventurou no oceano
Atlântico, para oeste até ao Novo Mundo.

Em 1482 dá-se a construção da Fortaleza de São Jorge da Mina e, no ano seguinte,


Diogo Cão chega ao rio Zaire. A Fortaleza de São Jorge da Mina e a cidade foram
construídos em 1482 em redor da indústria do ouro [16] . Com os lucros deste comércio,
Fernão Gomes auxiliou o monarca na conquista de Arzila, Alcácer Ceguer e Tânger.
Além da aquisição do ouro e malagueta, o comércio escravagista oferecia boas
perspectivas de lucro.

9.4. A ligação do Atlântico com o Índico


Em 1487, D. João II envia Afonso de Paiva e Pêro da Covilhã em busca do Preste João
e de informações sobre a navegação e comércio no Oceano Índico. Nesse mesmo ano,
Bartolomeu Dias, comandando uma expedição com três Caravelas, atinge o Cabo da
Boa Esperança. Estabelecia-se assim a ligação náutica entre o Atlântico e o Oceano
Índico.

O projecto para o caminho marítimo para a Índia foi delineado por D. João II como
medida de redução dos custos nas trocas comerciais com a Ásia e tentativa de
monopolizar o comércio das especiarias. A juntar à cada vez mais sólida presença
marítima portuguesa, D. João almejava o domínio das rotas comerciais e expansão do
reino de Portugal que já se transformava em Império Porém, o empreendimento não
seria realizado durante o seu reinado. Seria o seu sucessor, D. Manuel I que iria designar
Vasco da Gama para esta expedição, embora mantendo o plano original.

Professor Agostinho António Ialá Júnior


1
Porém, este empreendimento não era bem visto pelas altas classes. Nas Cortes de
Montemor-o-Novo de 1495 era bem patente a opinião contrária quanto à viagem que D.
João II tão esforçadamente havia preparado. Contentavam-se com o comércio da Guiné
e do Norte de África e temia-se pela manutenção dos eventuais territórios além-mar,
pelo custo implicado na expedição e manutenção das rotas marítimas que daí
adviessem. Esta posição é personificada na personagem do Velho do Restelo que
aparece, n'Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, a opor-se ao embarque da armada.

Em 1492, Abraão Zacuto é expulso da Espanha por ser judeu, vindo viver para Portugal,
trazendo consigo as tábuas astronómicas que ajudariam os navegadores portugueses no
mar.

9.5. Tratado de Tordesilhas e o domínio do


Atlântico Sul
Face à chegada de Cristóvão Colombo à América no mesmo ano 1492, segue-se a
promulgação de três bulas papais - as Bulas Alexandrinas - que concediam a Espanha o
domínio dessas terras. Cientes da descoberta de Colombo, os cosmógrafos portugueses
argumentaram que a descoberta se encontrava em terras portuguesas.

D. João II consegue uma renegociação, mas só entre os dois Estados, sem a intervenção
do Papa, propondo estabelecer um paralelo das Ilhas Canárias. Os castelhanos
recusaram a proposta inicial, mas prestaram-se a discutir o caso. Reuniram-se então os
diplomatas em Tordesilhas.

Como resultado das negociações, foi assinado em 7 de Junho de 1494 o Tratado de


Tordesilhas entre Portugal e Castela. Este tratado estabelecia a divisão do Mundo em
duas áreas de exploração: a portuguesa e a castelhana, cabendo a Portugal as terras
"descobertas e por descobrir" situadas antes da linha imaginária que demarcava 370
léguas (1.770 km) a oeste das ilhas de Cabo Verde, e à Espanha as terras que ficassem
além dessa linha.

Em princípio, o tratado resolvia os conflitos que seguiram à descoberta do Novo Mundo


por Cristóvão Colombo e garantia a Portugal o domínio das águas do Atlântico Sul,
essencial para a manobra náutica então conhecida como volta do mar, empregada para
evitar as correntes marítimas que empurravam para norte as embarcações que
navegassem junto à costa sudoeste africana, permitindo a ultrapassagem do cabo da Boa
Esperança.

9.6. A chegada à Índia


Viagem de Vasco da Gama (a preto) e as viagens anteriores de Pêro da Covilhã (laranja)
e Afonso de Paiva (azul), com o caminho percorrido antes de se separarem a verde.

Nos anos que se seguiram à assinatura do Tratado de Tordesilhas (1494) Portugal


prosseguiu no seu projecto de alcançar a Índia, o que foi finalmente alcançado pela frota
de Vasco da Gama, na sua primeira viagem de 1497-1499.

Professor Agostinho António Ialá Júnior


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Mantendo o plano de D. João II, o rei D. Manuel I mandou aparelhar as naus e escolheu
Vasco da Gama, cavaleiro da sua casa, para capitão desta armada. Segundo o plano
original, D. João II teria designado seu pai, Estêvão da Gama, para chefiar a armada;
mas a esta altura já ambos tinham falecido.

A 8 de Junho de 1497 iniciou-se a expedição semi-planetária que terminaria dois anos


depois com a entrada da nau Bérrio pelo rio Tejo adentro, trazendo a boa-nova. Neste
dia parte do Restelo a armada chefiada por Vasco da Gama. Tratava-se de uma
expedição comportando três embarcações. É a partir da viagem de Vasco da Gama que
se introduzem as naus. A 20 de Maio de 1498 Vasco da Gama chega a Calecute.
Estabelecia-se assim o caminho marítimo para a Índia.

9.7. Chegada ao Brasil


Em 1499, após o retorno de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral foi nomeado
capitão-mor da armada que se dirigiria à Índia. A sua missão era a de estabelecer
relações diplomáticas e comerciais com o Samorim, promovendo a imagem de Portugal
e instalando um entreposto comercial ou feitoria, retornando com o máximo de
mercadorias.

A sua foi a mais bem equipada armada do século XV, integrada por dez naus e três
caravelas, transportando de 1.200 a 1.500 homens, entre funcionários, soldados e
religiosos. Era integrada por navegadores experientes, como Bartolomeu Dias e Nicolau
Coelho, tendo partido de Lisboa a 9 de Março de 1500, após missa solene na ermida do
Restelo, à qual compareceu o Rei e toda a Corte.

Mas Pedro Álvares Cabral, por alturas de Cabo Verde, desvia-se da rota. Tendo-se
afastado da costa africana, a 22 de Abril de 1500, após quarenta e três dias de viagem,
avistou o Monte Pascoal no litoral sul da Bahia. No dia seguinte, houve o contato inicial
com os indígenas. A 24 de Abril, seguiu ao longo do litoral para o norte em busca de
abrigo, fundeando na atual baía de Santa Cruz Cabrália, nos arredores de Porto Seguro,
onde permaneceu até 2 de Maio.

Cabral tomou posse, em nome da Coroa portuguesa, da nova terra, a qual denominou de
"Ilha de Vera Cruz" (mais tarde Terra de Santa Cruz e finalmente Brasil - face à
abundante existência de madeira pau-brasil), e enviou uma das embarcações menores
com a notícia, inclusive a Carta de Pero Vaz de Caminha, de volta ao reino. Retomou
então a rota de Vasco da Gama rumo às Índias.

Ao cruzar o cabo da Boa Esperança, perderam-se quatro dos navios, entre os quais o de
Bartolomeu Dias, navegador que o descobrira em 1488. Diogo Dias contava entre os
navegadores experientes da frota de Pedro Álvares Cabral na segunda armada à Índia. É
citado na Carta do Achamento do Brasil de Caminha como «homem gracioso e de
prazer». A 10 de Agosto de 1500, após ter dobrado o cabo da Boa Esperança, separou-
se do resto da expedição devido aos ventos, e descobriu uma ilha a que deu o nome de
São Lourenço, mais tarde designada Madagáscar. Sua embarcação se perdeu durante a

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tormenta, e acabou sendo o primeiro capitão português a viajar pelo mar Vermelho.
Incapaz de prosseguir rumo à Índia, retornou a Portugal, onde chegou com apenas sete
homens.

A armada de Pedro Álvares Cabral chega a Calecute em 1501, onde ocorrem confrontos
com o Samorim, com o qual acaba por romper relações. Assim, dirige-se para Sul e
estabelece uma feitoria em Cochim.

UNIDADE II: O IMPERIALISMO

Imperialismo é a política de expansão e do domínio territorial, cultural ou económico


de uma nação sobre outras, ou sobre uma ou várias regiões geográficas.

O imperialismo contemporâneo pode ser também denominado como neocolonialismo,


por possuir muitas semelhanças com o regime vigorado entre os séculos XV e XIX, o
colonialismo.

Esta prática está registada na história da humanidade através de muitos exemplos de


impérios que se desenvolveram e, em muitos casos, foram aniquilados ou substituídos
por outros. No entanto, o conceito, derivado de uma prática assente na teoria
económica, só surgiu no início do século XX.

É, sobretudo, aceito que o colonialismo moderno é uma expressão do imperialismo e


que não pode existir sem o segundo. A medida em que o imperialismo "informal", sem
colónias formais está devidamente descrito, como tal, continua a ser um tema
controverso entre os historiadores.

A palavra imperialismo tornou-se comum no Reino Unido na década de 1870 e foi


usado com uma conotação negativa. Na Grã-Bretanha, a palavra até então tinha sido
principalmente usada para se referir à política de Napoleão III de obtenção de opinião
pública favorável na França através de intervenções militares fora do país.

1. História da colonização de África


A história da colonização da África encontra-se documentada desde que os fenícios
começaram a estabelecer colónias na costa africana do Mediterrâneo, por volta do
século X a.C. Seguiram-se os gregos a partir do século VIII a.C., os romanos no século
II a.C., os vândalos, que tomaram algumas colónias romanas já no século V da nossa
era, seguidos pelo Império Bizantino, no século seguinte, os árabes, no século VII e,
finalmente, os estados modernos da Europa, a partir do século XIV.

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1.1. A colonização fenícia

A Fenícia foi um antigo reino cujo centro se situava na planície costeira do que é hoje o
Líbano, no Mediterrâneo oriental. Esta civilização desenvolveu-se entre os séculos X e
V a.C., estabelecendo colónias em todo o norte de África. Uma das colónias fenícias
mais importantes desta região foi Cartago.

1.2. A colonização grega

A partir de 750 a.C. os gregos iniciaram um longo processo de expansão, formando


colónias em várias regiões, como Sicília e sul da Itália, no sul da França, na costa da
Península Ibérica, no norte de África, principalmente no Egito, e nas costas do mar
Negro. Entre os séculos VIII e VI a.C. fundaram aí novas cidades, as colónias, as quais
chamavam de apoíkias, palavra que pode ser traduzida por "nova casa".

1.3. A colonização romana

Em 146 a.C. Cartago foi destruída por Roma no que se pode considerar a implantação
daquele império no Norte de África. O Império Romano dominou toda a África
Mediterrânica, ou seja, a parte do norte da África e que rodeia o Mar Mediterrâneo,
quando ocorreu a descolonização na África.

1.4. A colonização árabe

A colonização dos árabes ocorreu durante os séculos VIII e IX e abrangeu todas as


terras que formam o Deserto do Saara e grande parte da África Ocidental e a zona
costeira da África Oriental.

1.5. Omã

Durante o século XVIII o Omã estabeleceu várias colónias ultramarinas, dentre as quais
estão o Baluchistão (atual Paquistão), as Comores, Moçambique, Madagáscar e
Tanzânia. Porém, com o declínio do sultanato, tais colónias foram perdidas quando, em
1891 o sultanato vira protetorado britânico.

2. A colonização recente da África


O processo de ocupação territorial, exploração económica e domínio político do
continente africano por potências europeias tem início no século XV e estende-se até a
metade do século XX. Ligada à expansão marítima europeia, a primeira fase do
colonialismo africano surge da necessidade de encontrar rotas alternativas para o
Oriente e novos mercados produtores e consumidores.

Professor Agostinho António Ialá Júnior


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No século XIV, exploradores europeus chegaram a África. Através de trocas com
alguns chefes locais, os europeus foram capazes de capturar milhões de africanos e de
os exportar para vários pontos do mundo naquilo que ficou conhecido como a
escravidão.

No princípio do século XIX, com a expansão do capitalismo industrial, começa o


neocolonialismo no continente africano. As potências europeias desenvolveram uma
"corrida à África" massiva e ocuparam a maior parte do continente, criando muitas
colónias. Entre outras características, é marcado pelo aparecimento de novas potências
concorrentes, como a Alemanha, a Bélgica e a Itália.

A partir de 1880, a competição entre as metrópoles pelo domínio dos territórios


africanos intensifica-se. A partilha da África tem início, de fato, com a Conferência de
Berlim (1884), que institui normas para a ocupação, onde as potências coloniais
negociaram a divisão da África, propuseram para não invadirem áreas ocupadas por
outras potências. Os únicos países africanos que não foram colónias foram a Etiópia
(que apenas foi brevemente invadida pela Itália, durante a Segunda Guerra Mundial) e a
Libéria, que tinha sido recentemente formada por escravos libertos dos Estados Unidos
da América. No início da Primeira Guerra Mundial, 90% das terras já estavam sob
domínio da Europa. A partilha é feita de maneira arbitrária, não respeitando as
características étnicas e culturais de cada povo, o que contribui para muitos dos
conflitos atuais no continente africano, tribos aliadas foram separadas e tribos inimigas
foram unidas. No fim do século XIX, início do XX, muitos países europeus foram até a
África em busca das riquezas presentes no continente. Esses países dominaram as
regiões de seu interesse e entraram em acordo para dividir o continente. Porém os
europeus não cuidaram com a divisão correta das tribos africanas, gerando assim muitas
guerras internas. Os seguintes países dividiram a África e "formaram" países africanos
existentes ainda hoje.

2.1. A colonização portuguesa


A colonização portuguesa na África foi o resultado dos descobrimentos. A primeira
ocupação violenta dos portugueses na África foi a conquista de Ceuta em 1415. Mas a
verdadeira "descoberta" da África iniciou-se um pouco mais tarde, mas ainda no século
XV.

Em 1444, Dinis Dias descobre Cabo Verde e segue-se a ocupação das ilhas ainda no
século XV, povoamento este que se prolongou até ao século XIX.

Durante a segunda metade do século XV Portugal foi estabelecendo feitorias nos portos
do litoral oeste africano. No virar do século, Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa
Esperança, abrindo as portas para a colonização da costa oriental da África pelos
europeus.

A partir de meados do século XVI, os ingleses, os franceses e os holandeses expulsam


os portugueses das melhores zonas costeiras para o comércio de escravos.

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Foram os seguintes os actuais países africanos que se tornaram independentes de
Portugal no século XX (data da independência, em ordem cronológica):

2.2. A colonização francesa


Na África, foi no Senegal que os franceses primeiro estabeleceram entrepostos em 1624,
mas não formaram verdadeiras colónias até ao século XIX, limitando-se a traficar
escravos para as suas colónias nas Caraíbas. No Oceano Índico, os franceses
colonizaram a Île de Bourbon (atual Reunião), em 1664, Île Royale (actualmente
Maurícias), em 1718 e as Seychelles, em 1756. Durante o reinado de Napoleão, o Egito
foi também conquistado por um breve período, mas a dominação francesa nunca se
estendeu para além da área imediatamente à volta do Nilo.

O verdadeiro interesse da França por África manifestou-se em 1830 com a invasão da


Argélia e o estabelecimento de um protectorado na Tunísia, em 1881. Entretanto,
expandiram-se para o interior e para sul, formando, em 1880, a colónia do Sudão
Francês (actual Mali) e, nos anos que se seguiram ocupando a grande parte do Norte de
África e da África ocidental e central. Em 1912, os franceses obrigaram o sultão de
Marrocos a assinar o Tratado de Fez, tornando-se outro protetorado.

Foram os seguintes os actuais países africanos que se tornaram independentes de França


no século XX (data da independência, em ordem cronológica):

Entretanto, vários territórios africanos continuam sob administração francesa, depois de


vários referendos:

 a ilha de Mayotte, nas Comores; e


 a ilha da Reunião e várias outras ilhas que dependem administrativamente
deste departamento ultramarino francês.

2.3. A colonização britânica


No final do século XVIII e meados do século XIX, os ingleses, com enorme poder naval
e económico, assumem a liderança da colonização africana. Combatem a escravatura, já
menos lucrativa, direcionando o comércio africano para a exportação de ouro, marfim,
tapetes e animais. Em consequência disso, os africanos ficam com o mercado dominado
pelos interesses do Império Britânico. Para isso, os britânicos estabelecem novas
colónias na costa e passam a implantar um sistema administrativo fortemente
centralizado na mão de colonos brancos ou representantes da coroa inglesa. Os ingleses
estabelecem territórios coloniais em alguns países da África Ocidental, no nordeste e no
sudeste e no sul também do continente.

Os atuais estados africanos que se tornaram independentes do Reino Unido foram (por
ordem cronológica):

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2.4. A colonização neerlandesa
Os neerlandeses estabeleceram-se na litorânea Cidade do Cabo, na África do Sul, a
partir de 1652 e dominaram o que antes de 1994 era a província do Cabo. Desenvolvem
na região uma nova cultura e formam uma comunidade conhecida como africânder ou
bóer. Mais tarde, os bôeres perdem o domínio da região para o Reino Unido na Guerra
dos Bóeres.

2.5. A colonização belga


A Bélgica colonizou o Congo Belga (atual República Democrática do Congo), Ruanda e
Burundi.

2.6. A colonização espanhola


A Espanha colonizou a Guiné Equatorial, o Saara Espanhol e o norte do atual Marrocos.

2.7. A colonização italiana


A Itália conquistou a Líbia, a Eritreia e a região autónoma da Somália; a Somalilândia
ou Somália Italiana.

2.8. A colonização alemã


A Alemanha colonizou as regiões correspondentes aos atuais Togo, Camarões,
Tanzânia (a parte continental ou Tanganica), Ruanda, Burundi e Namíbia.

3. Partilha de África
A Partilha de África também conhecida como a Corrida a África ou ainda Disputa pela
África, foi a proliferação de reivindicações europeias conflituantes ao território africano
durante o período do neo-imperialismo, entre a década de 1880 e a Primeira Guerra
Mundial em 1914. Envolveu principalmente a França e o Reino Unido, mas também a
Itália, Bélgica, Alemanha, Portugal, Espanha e, com menos intensidade, os Estados
Unidos. Este último participou da fundação da Libéria.

A segunda metade do século XIX, em torno do ano 1880, assistiu a transição do


"imperialismo informal", que exercia o controlo através da influência militar e da
dominação económica para um domínio mais direto. As pretensões de mediar a
concorrência imperial, tal como a Conferência de Berlim (1884 - 1885), entre o Reino
Unido, França e Alemanha não podiam estabelecer definitivamente as reivindicações de
cada uma das potências envolvidas. Essa disputa pela África esteve entre os principais
fatores que deram origem à Primeira Guerra Mundial.

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3.1. Abertura do continente
A abertura da África à exploração ocidental havia começado no final do séc. XVIII. Até
1835, os europeus já haviam traçado mapas da parte do noroeste africano. Entre os
exploradores europeus mais famosos estavam David Livingstone, quem traçou os
planos do vasto interior, e Alexandre Serpa Pinto, quem a cruzou numa complicada
expedição e traçou mapas de seu interior. Árduas expedições nas décadas de 1850 e
1860 por Richard Burton, John Speke e James Augustus Grant descobriram os grandes
lagos centrais e a nascente do Rio Nilo. No final do século, os europeus haviam
cartografado o Nilo desde seu nascimento, o percurso do Rio Niger, e o traçado dos rios
Congo e Zambeze.

De qualquer maneira, logo no início dos conflitos pela posse da África, as nações
ocidentais controlavam apenas 10% do continente. Em 1875 os territórios mais
importantes tanto pela sua extensão quanto pela sua riqueza eram Argélia, sob domínio
francês; Colônia do Cabo, controlado pelo Reino Unido e Angola, que estava sob o
domínio português.

Os avanços tecnológicos facilitaram a expansão de grandes distâncias. A


industrialização provocou avanços significativos nos transportes e comunicações,
especialmente na utilização de Vapores, ferrovias e telégrafos. Os avanços médicos
também foram de grande importância, em especial, a descoberta da cura para as
enfermidades tropicais. O desenvolvimento da quinina, um tratamento efetivo contra a
malária, permitiu que a vasta região tropical pudesse ser acessível aos europeus.

3.2. Causas da disputa


3.2.1. África e os mercados globais

A África subsariana, uma das últimas regiões do mundo ainda não afetada pelo
"Imperialismo Formal" e a "civilização" tornou-se uma região atrativa para as
potências europeias por razões económicas e raciais. Durante uma época em que a
balança comercial da Grã-Bretanha mostrava um déficit em seu crescimento, com os
mercados continentais se encolhendo e, cada vez mais protecionistas devido a Grande
Depressão, entre os anos de 1815/ e 1817, a África oferecia ao Reino Unido, Alemanha,
França, entre outros países, um mercado aberto no qual se aproveitava o grande
excedente de produção e um mercado que importa mais da metrópole do que exporta.

Esboço do Canal de Suez realizado em 1881. O Canal era uma das grandes ambições
europeias para ampliar seus mercados ao nível global.

Devido ao fato de o Reino Unidoter se desenvolvido como a nação mais importante da


sociedade pós-industrial, os serviços se transformaram num setor da economia britânica.
As exportações financeiras mantinham a economia do Reino Unido em pé,
especialmente os investimentos de capital fora da Europa. Particularmente para o

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desenvolvimento de mercados abertos na África (predominantemente em assentamentos
coloniais), Oriente Médio, sul e sudeste da Ásia e Oceânia.

Além disso, o capital excedente era em geral mais rentável que investir no exterior,
onde a mão-de-obra barata, competência limitada e matérias-primas abundantes
desencadearam a grande exploração do continente africano. Outro atrativo para o
Imperialismo foi a demanda por recursos não disponíveis e/ou escassos da Europa, -
recursos dos quais os consumidores europeus já haviam se acostumados, e, a indústria
do Velho Mundo se tornara novamente dependente.

De qualquer maneira, na África - exceto na região da atual União Sul-Africana em 1909


- a quantidade de capital investido pelos europeus eram relativamente baixa, comparado
com outros países, antes e mesmo após a Conferência de Berlim. Consequentemente, as
companhias envolvidas no comércio tropical africano eram relativamente poucas, à
parte da Companhia Mineradora de Beers de Cecil Rhodes. Essas observações podem
diminuir o valor dos argumentos pró Imperialistas de alguns Grupos de pressão
coloniais como "AlldeutscherVerband", ou como Francesco Crispi ou Jules Ferry, que
afirmavam que alguns mercados protegidos na África resolveriam os problemas dos
preços baixos e da superprodução, causados pelos mercados continentais em
diminuição. Contudo, de acordo com a clássica tese de John A. Hobson, exposta em sua
obra Imperialismo de 1902, que influenciaria em autores tais como Lenin, León Trotsky
e Hannah Arendt. Esta diminuição nos mercados Continentais foi um fator chave para o
novo período Neo-Imperialista ao nível global. Historiadores posteriores haviam notado
que tais estatísticas só anularam o fato de que o controle formal da África tropical tinha
grande valor estratégico numa era de rivalidades imperiais, enquanto isso o Canal de
Suez havia permanecido como uma localização estratégica. A Febre do ouro de
Witwatersrand de 1886, que levou à fundação de Joanesburgo e foi um fator importante
na Segunda Guerra dos Bóeres em 1889, contou com a "conjunção do supérfluo
dinheiro e da supérflua mão-de-obra que se deram as mãos entre si para abandonar,
juntos, o país", que é por si só, de acordo com Hanna Arendt, o novo elemento da era
imperialista.

Enquanto que a África tropical não era uma região de grandes investimentos, o vasto
interior entre a África do Sul, rica em ouro e diamantes, e o Egito tinham, contudo, um
alto valor estratégico, importante para assegurar o fluxo do comércio exterior. O Reino
Unido estava sob uma intensa pressão política, especialmente devido aos partidários do
Partido Conservador para proteger os mercados lucrativos na Índia britânica, Dinastia
Qing (China) e América Latina dos rivais usurpadores. Desta forma, proteger a
importante via marítima entre o leste e oeste - O Canal de Suez - era crucial. A
rivalidade entre o Reino Unido, França, Alemanha, entre outras potências europeias
esteve presente na maior parte do período da colonização.

Desse modo, enquanto a Alemanha, que havia sido unificada sob o domínio da Prússia
após a Batalha de Sadowa em 1886 e a Guerra franco-prussiana em 1870, dificilmente
seria uma potência colonial antes do período do Neo-imperialismo e, participaria das
disputas. Tornou-se uma potência industrial em crescimento que incomodava o Reino
Unido, porém não havia tido a oportunidade de controlar territórios extra-continentais,
principalmente devido ao fato de ter a sua unificação tardia, uma fragmentação em
vários estados e uma falta de experiência na Navegação moderna. Fator que mudaria
sob a liderança de Otto Von Bismarck, quem implementou a "Weltpolitik" (política

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mundial) e, após de coordenar as bases de isolamento da França com a aliança entre a
Alemanha e o Império Austro-Húngaro e mais tarde com a Tríplice Aliança com Itália
exigiu a Conferência de Berlim, a qual fixou as regras para um maior controle efetivo
dos territórios estrangeiros. O expansionismo alemão conduziria ao Plano Tirpitz,
implementado pelo Almirante von Tirpitz, quem também defendeu os decretos de flota
em 1898, atrativo numa luta armada com o Reino Unido. Em 1914, os decretos haviam
dado à Alemanha a segunda maior força naval do mundo, aproximadamente 40% menor
que a frota da Marinha Real Britânica. De acordo com Tirpitz, essa agressiva política
naval estava respaldada mais pelo Partido Nacional Liberal da Alemanha do que pelos
conservadores, demonstrando que as principais sustentações do imperialismo das nações
europeias eram a burguesia.

3.2.2. A Weltpolitik de Bismarck.


A Alemanha iniciou sua expansão mundial na segunda metade do século XIX sob a
liderança de Bismarck, este, encorajado pela burguesia nacional. Alguns deles, dizendo
ser do pensamento de Friedrich List, defenderam a expansão nas Filipinas e no Timor;
outros decidiram se estabelecer em Formosa (atual Taiwan), etc. Ao final da década de
1870, estas vozes isoladas começaram a ser reveladas por uma verdadeira política
imperialista, conhecida como Weltpolitik, que foi ressaltada pela tese mercantilista. Em
1881, WilhelmHübbeSchleiden, um advogado, publicou "DeutscheKolonisation", na
qual dizia que " o fomento de uma consciência nacional demandava uma política
exterior independente. O Pangermanismo foi assim ligado às jovens companhias
imperialistas da nação. Nos primórdios do ano 1880, o "DeutscherKolonialverein" foi
criado e teve sua própria revista em 1884, a "Kolonialzeitung". Esse grupo colonial
também foi revelado pelo grupo nacionalista "AlldeutscherVerband".

Assim, a Alemanha se transforma na terceira potência colonial na África, adquirindo um


império de 2,6 milhões de km² e 14 milhões de habitantes, principalmente em suas
possessões africanas, como a Sudoeste Africano Alemão, Togolândia, Camarões alemãs
e Tanganica. A disputa pela África levou Bismarck a propor a Conferência de Berlim,
que se realizou entre 1884 e 1885. Depois do Ententecordiale de 1904 entre França e
Reino Unido, a Alemanha tentou isolar a França em 1905, com a Primeira Crise do
Marrocos. Isto levou à Conferência de Algeciras, na qual a influência da França sobre o
Marrocos foi recompensada pela troca de outros territórios e em seguida a Crise de
Agadir ou Segunda Crise do Marrocos em 1911. Junto com o Incidente de Fachoda de
1898 entre França e Reino Unido, esta sucessão de crises internacionais prova a
amargura da luta entre os diferentes impérios, fato que culminou na Primeira Guerra
Mundial.

O conflito de imperialismos rivais

Enquanto Pierre de Brazza estava explorando o Reino do Congo para a França, Henry
Stanley também o explorou durante o início de 1880 em nome de Leopoldo II da
Bélgica, quem conquistaria seu próprio Estado livre do Congo. Ao pretender defender o
humanitarismo e denunciar a escravidão, Leopoldo II usou das táticas mais desumanas
para explorar suas conquistas recentes. Seus crimes foram descobertos em 1905, porém

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permaneceu sob as autoridades até 1908, quando foi obrigado a ceder o controlo para o
governo belga.

A França ocupou a Tunísia em Maio de 1881 e Guiné em 1884, que em parte convenceu
a Itália para se unir em 1882 à Aliança Dual entre a Alemanha e o Império Austro-
húngaro, formando assim a Tríplice Aliança. No mesmo ano, o Reino Unido ocupou o
Egito Otomano, que dominava o Sudão e parte da Somália.

Em 1870 e 1882, Itália tomou posse das primeiras partes de Eritreia, enquanto que a
Alemanha declarou Togolândia, Camarões e Sudoeste Africano Alemão sob seu
domínio em 1884. A África Ocidental Francesa foi fundada em 1895, e a África
Equatorial Francesa em 1910

Após a derrota na Primeira Guerra Ítalo-Etíope, a Itália adquiriu a Somalilândia em


1899 e toda a Eritreia no mesmo ano. Em 1911, se envolveu em uma guerra Contra o
Império Otomano, na qual adquiriu Tripolitânia e Cirenaica (atual Líbia). Enrico
Corradini, quem financiou a maior parte da guerra e, mais tarde uniu seu grupo ao
jovem Partido Nacional Fascista, desenvolveu em 1919 o conceito de Nacionalismo
Proletário, imaginou legitimar o imperialismo da Itália com uma surpreendente mistura
de Socialismo e Nacionalismo, segundo dizia: "Devemos começar por reconhecer o
que há tantas nações cujas condições de vida estão sujeitos ao modo de vida de outras
nações. Uma vez que isto é compreendido, o nacionalismo deve insistir firmemente
nesta verdade. A Itália é, materialmente e moralmente uma nação proletária . A
invasão da Etiópia em 1935 e 1936, ordenada por Benito Mussolini, seria na realidade
uma das últimas guerras de colonização, ocupando a Etiópia durante cinco anos, que
havia permanecido como o último território independente da África. A Guerra Civil
Espanhola, para alguns é o início da Guerra Civil Europeia.

Por outro lado, os britânicos abandonaram seu isolamento em 1902 com a Aliança
Anglo-Japonesa, que permitiu ao Império do Japão sair vitorioso na Guerra Russo-
Japonesa (1904-1905). O Reino Unido firmou então o Entente Cordiale com a França
em 1904 e em 1907 a Tríplice Entente, que incluía a Rússia que se opôs à Tríplice
Aliança que Bismarck havia formado tão pacientemente.

3.2.3. A Sociedade Americana de Colonização e a


fundação da Libéria
A Sociedade Americana de Colonização, lançada em 1816 por Robert Finley, oferecia a
emigração para a Libéria, uma colónia fundada em 1820 a alguns escravos
emancipados; o escravo emancipado LottCarey transformou-se no primeiro missionário
americano na África. Esta tentativa de colonização foi resistirá pelo povo nativo da
região.

Liderados pelos sulistas dos Estados Unidos, o primeiro presidente da Sociedade


Americana de Colonização foi James Monroe da Virgínia, quem se transformou no
quinto presidente dos EUA de 1817 à 1825. Desta forma, um dos principais partidários
da colonização na África foi o mesmo homem que proclamou, em seu "Discurso de

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1
Estado e União" de 1823, a opinião de que as potências europeias já não deveriam
colonizar as Américas ou interferir nos assuntos relacionados às nações soberanas na
América. Em troca, os Estados Unidos da América planejavam manter-se neutros nas
guerras entre as potências europeias e/ou em guerras entre uma potência e sua colónia.
Em contrapartida, caso essas guerras ocorressem nas Américas, os EUA veriam tal ação
como hostil e tomariam uma atitude. Esse famoso estatuto é conhecido como Doutrina
Monroe e foi a base de neutralidade dos EUA durante o século XIX.

Assim, Jehudi Ashmun, um dos primeiros líderes da ACS, visualizou um Império


Americano na África. Entre os anos 1825 e 1826, fez o possível para arrendar, anexar
e/ou comprar terras tribais em torno da costa e perto de importantes rios que conduzem
ao interior africano. Igualmente que seu predecessor, o tenente Robert F. Stockton, em
1821 estabeleceu um lugar para a Monróvia persuadindo a um chefe local, a quem se
referia como "Rei Peter", para vender o Cabo Mesurado apontando uma pistola em sua
cabeça, Ashmun estava preparado para usar a força para estender o território de sua
colônia. Em um tratado de Maio de 1825, o "Rei Peter" e outros reis nativos
concordaram em vender as terras. Em Março de 1825, a ACS iniciou uma publicação
trimestral da "revista colonial do repositório africano". Ralph Randolf Gurley, foi quem
encabeçou a sociedade até 1844. Concebido como órgão primordial da sociedade, o
Conceived asthe Society'spropagandorgan, o repositório prometeu tanto a colonização
quanto a Libéria.

A sociedade controlou a colónia de Libéria até 1847 quando os britânicos se anexaram


no assentamento, a Libéria foi proclamada um estado livre e independente,
transformando-se assim com a primeira nação africana descolonizada. Em 1867, a
sociedade havia mandado mais de 13 mil emigrantes. Depois da Guerra Civil
Americana (1861-1865), quando as pessoas tentaram ir à Libéria, o suporte financeiro
para a colonização havia diminuído. Durante seus últimos anos, a sociedade se focou
em projetos educacionais e missionários na Libéria mais do que na emigração.

4. Sucessão de crises prévias à Primeira Guerra


Mundial
4.1. A colonização do Congo

As explorações de David Livingstone, continuadas por Henry Morton Stanley,


excitaram a imaginação dos europeus, porém ao princípio, as ostentosas ideias de
colonização de Stanley encontraram pouco apoio devido aos problemas técnicos e a
escala de ação requerida, exceto por Leopoldo II da Bélgica, quem em 1876 havia
organizado a Associação Internacional Africana. De 1879 à 1884, Stanley era enviado
secretamente por Leopoldo para a região do Congo, onde fez acordos com vários chefes
africanos locais ao longo do Rio Congo até que em 1882, havia conseguido um
território suficiente para formar as bases do Estado Livre do Congo. Leopoldo II tornou-
se proprietário oficial da colónia em 1885 e a explorou com a extração de marfim e
borracha.

Enquanto Stanley estava explorando o Congo em nome de Leopoldo, o oficial franco-


italiano da marinha francesa, Pierre de Brazza viajou até o vale do Congo ocidental e

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1
levantou a bandeira francesa sobre a recém fundada Brazzaville em 1881, ocupando
assim a região da atual República do Congo. Portugal que também reclamou a área,
devido à antigos tratados com o Reino do Congo, fez um tratado com o Reino Unido em
26 de Fevereiro de 1884 para bloquear da sociedade do Congo ao Atlântico.

Em 1890 o Estado Livre do Congo havia consolidado o controlo do território entre


Kinshasa e Kisangani, ao mesmo tempo que a Companhia Britânica da África do Sul de
Cecil Rhodes estava expandindo até o norte do Rio Limpopo e, a atenção se centrava
onde suas expansões se encontravam, Katanga, local do Reino Yeke de Msiri. Além de
possuir a força militar mais potente da região, Msiri comercializa grandes quantidades
de Cobre, marfim e escravos e rumores de que havia ouro chegaram rapidamente aos
ouvidos dos europeus. A disputa por Katanga foi um perfeito exemplo do período.
Rhodes e a Companhia Britânica da África do Sul mandaram duas expedições à Msiri
em 1890 sob o comando de AlfredSharpe, que foi desprezado, e Joseph Thomsom,
quem não conseguiu chegar à Katanga. Em 1891 Leopoldo mandou quatro expedições:
"LeMarinel" da qual só se pode obter uma carta; "Delcommune" foi desairada; a
expedição bem armada "Stairs" tinha ordens para tomar Katanga com ou sem o
consentimento de Msiri, o acesso foi negado e ele, foi fuzilado, decapitado e sua cabeça
foi cravada num poste como forma de intimidação da população, uma "lição barbárica";
e a expedição "Bia" que tinha como missão estabelecer uma administração e uma
presença policial em Katanga.

O meio milhão de km² de Katanga entraram nas posses de Leopoldo II e formou parte
do reino africano de mais de 2.300.000 km², em torno de 75 vezes o tamanho da
Bélgica. O Estado Livre do Congo impôs um regime de terror no povo colonizado,
incluindo assassinatos em massa com milhares de vítimas, e trabalho escravo, que
Bélgica, sob pressão da Associação da Reforma do Congo, terminou o mandato de
Leopoldo II e a anexou como uma colónia em 1908, território conhecido como Congo
Belga.

5. A Conferência de Berlim
A ocupação do Egito e a aquisição do Congo foram os primeiros acontecimentos
importantes do que se transformaria em uma disputa precipitada pelo território africano.
Em 1884, Bismarck convocou a Conferência de Berlim para discutir os problemas
relacionados à África. Os diplomáticos se mascararam com uma fachada humanitária
condenando o tráfico de escravos, proibindo a venda de bebidas alcoólicas e armas de
fogo em certas regiões e expressando sua preocupação pelas atividades missionárias. Os
diplomatas em Berlim estabeleceram as regras de carácter que guiava as potências
europeias em busca de novas colónias. Também concordaram que a área em torno do
Rio Congo seria administrada por Leopoldo II da Bélgica como uma área neutra,
conhecida como o Estado Livre do Congo, na qual o comércio e a navegação seriam
liberados. Nenhuma nação reclamaria nenhum território africano sem antes ter
notificado suas intenções aos demais países envolvidos e nenhum território deveria ser
reclamado sem antes ser ocupado. Contudo, os países na prática ignoravam tais regras.

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5.1. Ocupação britânica do Egito e África do Sul
As ocupações no Egito e na Colónia do Cabo por parte do Reino Unido contribuíram
para a preocupação de se preservar a nascente do Rio Nilo. O Egito foi ocupado pelas
forças britânicas em 1882 (mesmo que não havia sido declarado formalmente um
protetorado até 1914, e nunca foi uma colónia); Sudão, Nigéria, Quénia e Uganda foram
subjugados na década de 1890 e no início da década de 1900; e no sul, a colónia do
cabo, adquirida em 1795, proveu a base para a subjugação dos estados africanos
vizinhos e os povoados holandeses que haviam abandonado o Cabo para evitar os
britânicos e mais tarde fundariam suas próprias repúblicas. Em 1877, Theophilus
Shepstone anexou a República Sul Africana aos domínios britânicos. O Reino Unido
consolidou seu poder sobre a maioria das colónias da África do Sul em 1879 depois da
Guerra Anglo-Zulu. Os bôeres protestaram e em Dezembro de 1880 se revoltaram, fato
que levou à Primeira Guerra dos Bóeres (1880-1902). O primeiro-ministro inglês
William Ewart Gladstone assinou um tratado de paz em 23 de Março de 1881,
outorgando-lhes um governo livre. A Segunda Guerra dos Bóeres transcorreu entre
1899 e 1902; as repúblicas independentes do Estado Livre de Orange e a República Sul
Africana foram derrotadas e anexadas ao Império Britânico.

O projeto da ferrovia do Cairo à Cidade do Cabo de Cecil Rhodes. Fundador da De


Beers, uma das primeiras companhias de diamantes, Rhodes era também dono da
Companhia Sul-africana. Ele fez a seguinte declaração: "todas estas estrelas… estes
vastos mundos que se mantiveram fora de alcance. Se pudesse, anexaria outros
planetas".

O Incidente de Fachoda de 1898 foi um dos conflitos cruciais para que a Europa
consolidasse suas possessões no continente africano. Levou ao Reino Unido e França à
margem de uma guerra porém culminou em uma grande vitória estratégica para o Reino
Unido, e dispôs as bases para o "Ententecordiale" de 1904 entre as nações rivais. O
conflito surgiu de algumas batalhas sobre o controle de certas regiões no Nilo, o que
aconteceu foi que Reino Unido de expandiu até o Sudão.

O avanço francês até o interior da África foi principalmente desde a África Ocidental
até o leste, através do Sahel, em torno da borda sul do Saara, um território que
atualmente engloba Senegal, Mali, Níger e Chade. Seu principal objetivo era possuir
uma união ininterrupta entre o Rio Níger e o Nilo, controlando desta forma todo o
comércio da região de Sahel, em virtude do existente controlo sobre os caminhos das
caravanas que atravessavam o Saara. Os britânicos por outro lado, queriam unir suas
possessões na África Austral (atuais África do Sul, Botsuana, Zimbabué, Lesoto,
Zâmbia e Suazilândia) com seus territórios em África Oriental (atual Quénia) e essas
duas com o nascimento no nilo. Sudão era a chave para a realização destas ambições,
especialmente desde que o Egito esteve sob o controle britânico. Esta "linha vermelha"
através da África foi o feito mais famoso de Cecil Rhodes. Junto com Lord Milner, o
(ministro colonial britânico na África do Sul), Rhodes defendeu tal império de "Cabo a
Cairo" unindo com vias-férreas o Canal de Suez com a parte rica em minerais do sul do
continente. Enquanto que impedido pela ocupação alemã de Tanganica até o final da
Primeira Guerra Mundial, Rhodes exerceu pressão com êxito em nome do império.

Se desenha uma linha desde a Cidade do Cabo até o Cairo, e uma de Dacar até o Corno
de África, essas duas linhas de interceptariam em alguma parte do leste do Sudão perto

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de fachoda, explicando assim sua importância estratégica. O Reino Unido havia
buscado estender seu império da África Oriental continuamente do Cairo ao Cabo da
Boa Esperança, enquanto que França buscava estender suas próprias possessões de
Dacar até o Sudão, ao que permitiria seu império acessar desde o Oceano Atlântico até o
Mar Vermelho.

Um exército sob o comando de Jean-Baptiste Marchand chegou primeiro ao forte


estrategicamente localizado em Fachoda, seguidos muito de perto pelo batalhão
britânico comandado por Horatio Kitchener, comandante e chefe da armada britânica
desde 1892. Os franceses se retiraram após um empate, e continuaram pressionando os
reclamos de outros postos da região. Em março de 1899 os franceses e britânicos
concordaram que os nascimentos dos rios Nilo e Congo marcaram a fronteira de seus
domínios.

5.2. Colónias africanas por potência colonizadora


5.2.1. Alemanha

África Ocidental Alemão


Kamerun (atual Camarões)
Togolândia (atual Togo)
África Oriental Alemã (atual Tanzânia)
Sudoeste Africano Alemão (atual Namíbia)

5.2.2. Bélgica

Estado Livre do Congo e o Congo Belga (atuais estados de Ruanda, Burundi e


República Democrática do Congo)

5.2.3. Espanha

Río de oro (atual Saara Ocidental)


Ifni
Marrocos Espanhol
Guiné Espanhol (atual Guiné Equatorial)

5.2.4. França

Argélia
Tunísia
Marrocos
África Ocidental Francesa
Mauritânia
Senegal
Camarões
Sudão Francês (atual Mali)
Guiné
Costa do Marfim

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Níger
Alto Volta (atual Burkina Faso)
Daomé (atual Benim)
África Equatorial Francesa
Gabão
Médio Congo (atual República do Congo)
Ubangui-Chari (atual República Centro-Africana)
Chade

Somália Francesa (atual Djibuti)

Madagáscar
Comores

5.2.5. Itália

África do Norte Italiana (atual Líbia)


Eritreia
Somália Italiana (atual Somália)

5.2.6. Portugal

África Ocidental Portuguesa (posteriormente Angola)


África Oriental Portuguesa (posteriormente Moçambique)
Cabo Verde
Guiné Portuguesa (atual Guiné-Bissau)
São Tomé e Príncipe
São João Baptista de Ajuda

5.2.7. Reino Unido

Egito
Sudão Anglo-Egípcio (atual Sudão)
África Oriental Britânica
Quénia
Uganda

5.2.8. Somalilândia Britânica

Rodésia do Sul (atual Zimbabwe)


Rodésia do Norte (atual Zâmbia)
Bechuanalândia (atual Botswana)
Estado Livre de Orange
União Sul-Africana
Gâmbia
Serra Leoa
Nigéria
Camarões (províncias ocidentais)
Costa do Ouro Britânica (atual Gana)

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1
Niassalândia (atual Malawi)

5.2.9. Estados Independentes

Libéria; fundada pela Sociedade Americana de Colonização dos Estados Unidos


em 1821. Declarou independência em 1847.
Etiópia (Abissínia); teve as suas fronteiras redefinidas com a Somália Italiana e a
Somália Francesa (moderno Djibouti), fugazmente ocupada pela Itália entre
1936 e 1941 durante a Crise da Abissínia na Segunda Guerra Mundial.

6. A resistência africana contra a presença colonial

6.1. Formas de Resistência Colonial


Davidson (1991:703-706), apresenta várias formas de resistência contra a presença
colonial em África. Dentre elas destaca-se as seguintes:

– A primeira forma de resistência consistia em pegar em armas. Esta forma de luta foi
abandonada no final da primeira guerra mundial, pois era um recurso sem esperança e
condenado ao fracasso, pois as armas haviam sido confiscadas em sua maior parte e a
pólvora não era encontrada.

– A segunda forma era a retirada, pois quando a situação se tornava intolerável, aldeias
inteiras abandonavam os campos e partiam para zonas situadas fora do alcance das
autoridades coloniais.

– A terceira solução forma de resistência residia nos cultos religiosos ou messiânicos


fundados pelos africanos em reacção a religião europeia. Essa revolta metafísica dos
africanos aparentemente tinha poucas raízes locais.

Enquanto maior parte dessas formas de oposição tinham a base rural, os intelectuais e
jornalistas assimilados, denunciavam os abusos do colonialismo e reafirmavam a sua
identidade africana. De facto, desde meados do século XIX, existia uma tradição de
oposição literária muito rica.

Era quase sempre difundida pelos imperialistas europeus que África era uma espécie de
vazio político onde tinha livre curso a anarquia e selvajaria sangrenta e gratuita a
escravidão, a ignorância, miséria e ainda ausência total do nacionalismo entre os
africanos. A atitude dos africanos aquando da chegada dos europeus no século XIX foi
muito variada. A primeira reação dos africanos raramente foi de hostilidade.

A hostilidade pôde provir da circunstância do tráfico de escravos haver atingido


sobretudo as pequenas tribos desorganizadas e se estas terem tendências para ver
qualquer expedição conduzida por estrangeiros como um prelúdio ao comércio negreiro.

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De facto existiam diferentes ideias no seio dos africanos em relação aos brancos, como
por exemplo, nos povos “bornus” os brancos eram olhados com horror porque se
suspeitava que fossem leprosos ou infiéis. Na região do Kanu (Hanças) imaginavam que
esses tinham poder sobrenatural como de transformar as pessoas em animais. É
importante realçar que todos os primeiros viajantes estrangeiros conheceram a
hostilidade (oposição) dos africanos.

Muito rapidamente e principalmente desde finais do século XIX, os africanos se


aperceberam que aqueles estrangeiros não eram como os outros (asiáticos). Vai assim a
resistência tomar as suas raízes na consciência de um perigo mortal para as
colectividades dos africanos. Surgirá ela de início da reacção dos chefes locais que viam
na invasão europeia uma ameaça aos seus valores ideológicos e aos seus privilégios
comerciais.

A resistência africana surge após a instalação do sistema colonial com as suas


humilhações, os seus crimes e especialmente a proibição ao tráfico de escravos que era
a principal fonte de rendimento dos chefes locais. Assim, desperta uma resistência em
geral mais popular que tomou as formas mais variadas desde a fuga á sublevação
armada.

Com o intuito de cristianizar os africanos, os europeus entraram em choque com o


aparato ideológico local, visto que estes já dispunham das suas crenças, hábitos e
costumes e já tinham sofrido uma forte influência do islamismo. O período colonial é
considerado por africanos como sendo o “tempo de força”, pois foi na verdade pela
força, pela coerção e violência física que se estabeleceu este regime.

6.2. Lat Dior Diop


No Senegal, o principal adversário da implantação francesa depois de El-Hadji Omar foi
o Lat Dior Diop . Nascido por volta de 1842, Chefe de cantão de Guet em 1861 e damel
de Cayor em 1862. Cayior era então o reino mais importante do Senegal, que fica
situado entre Dakar e Saint Louis. O Damel era designado por príncipes que formavam
um conselho de grandes eleitores., que podam substitui-lo, mas que consegue manter-se
no poder com o apoio das suas tropas (tyeddos).

Por motivos religiosos o Damel conservava um poder de tipo mágico que lhe era
atribuído, pelo facto no dia da sua iniciação em M´Bul capital do reino de Cayor ,
recebe o turbante , assim como um vaso de semente , passando na floresta sagrada

Foi o último damel (rei) de Cayor , no Senegal , no pais de Wolof . Foi um rei
inteligente, ao mesmo tempo um guerreiro fogoso, tenaz, duma personalidade vincada.
Para tentar ultrapassar as divisões que o separava e opunha aos guerreiros indiferentes,
feiticistas e marabus , ele converteu-se ao islamismo .

Face à superioridade de armamento do colonialista franceses, em vez de os defrontar em


bloco com seu exército (o que significava uma derrota certa), ele praticou guerrilha.

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Dividiu o seu exército em pequenos grupos que atacavam os postos e as colunas
francesas, multiplicam as emboscadas e retiram-se em seguida para a floresta.

Em 1864, Faiderbe consegue expulsa-lo pela primeira vez no cayor , que foi anexado à
colónia francesa do Senegal . Mas em 1870, após a partida de Faiderbe , Lat Dior Diop
retoma o Cayor . Em 1879, os franceses, Empreendem a construção do caminho-de-
ferro de Dakar a Saint Louis , passando pelo seu território , comportando-se como se
tivesse num país conquistado .

A guerra recomeça em 1882 e não acaba senão com a sua morte em combate no ano de
1886, na batalha de Dhkele

6.3. Almami Samori Turé


Nasceu por volta de 1840 no Koniam (Alto Volta), filho de um dioula , ele foi de inicio
um comerciante , depois com alguns jovens do seu tempo , fez-se chefe de um grupo .
Para libertar a sua mãe que fora feita prisioneira, ele entra ao serviço dum marabu
guerreiro Brema Cissé.

Cedo fez a guerra por sua própria conta e aliando a astúcia e a força , unifica sob a sua
autoridade a Alta Guiné e as vizinhas regiões do Mali e da Costa do Marfim .

Ele atribuiu-se ao titulo de Almami , impõe o islamismo no seu território , propõe-se


enviar o seu filho à escola corânica para servir do exemplo , começando ele mesmo ,
embora sendo já certa idade , a aprender a ler e escrever o árabe .

Samori Turé viveu a sua vida de resistente contra a dominação francesa, entre a
diplomacia e guerrilha.

A diplomacia de Samori Turé consistia em imigração, alianças, imposições e


liquidações. As alianças foram feitas com reinos muçulmanos do Cisses e dos Beretes.

A imposições foram dirigidas contra os reinos animistas de Nantene Famadu , Adjigbé e


Sagadigui.

Ele organizou o seu estado em dez (10) governos, esforçando-se para vencer as
imposições tribais, organizou um exército dividido em sete (7) e depois com dez (10)
corpos, mais uma guarda de elite que estacionava na sua capital Bissandugo.

Como bom militar, dividiu os seus militares em zonas:

Zona militar Norte: comandada por Massaram Mamadu, depois por Diara Diamondé .
Controlava a rota do Norte.

Zona militar Oeste: comandado por Langmala Falé Bilali e Side Bamba, mais forte,
por ser munido de armas modernas. Protegia o comércio de armas.

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Zona militar Nordeste: tinha o papel defenciva contra os colonialistas franceses.

Zona militar Leste: comandada por Tammari (condenado a morte depois da sua derrota
ao enfrentar Tieba) depois por Bolu Mamadu Mamadi. Tem como a missão assegurar
Kong (zona de escravo)

6.3.1. Tácticas de guerra


Usava a táctica de mobilidade, que consistia atacar depois retirar e reagrupar num lugar
previamente combinado. Com esta táctica venceu os reinos de Futa-Djalon e os de Segu
. Samori previa um confronto com os franceses e a importância da zona costeira no
abastecimento da guerra ou controle do Norte, Sul e Leste

Em 1886 – 1887, esforça-se para tomar Sikasso , no entanto esta campanha foi um erro ,
pois não pode ocupar a cidade , poderosamente fortificada , por falta de canhões .
Enfraqueceu inutilmente as suas forças, provocando revolta nas suas fileiras.

Samori Turé foi derrotado por franceses por seguintes razão :

a) Erro de informação sobre a fortificação da cidade de Sikasso


b) Abandono da população;
c) Abandono de alguns dos seus militares;
d) Perda de grandes generais;
e) Má situação do terreno de combate;
f) Dificuldade de movimento dos seus militares, por falta de meio de transporte;
g) Revolta dos reinos do sul;

Com esta derrota, estando no seu isolamento, não podia aguentar por muito tempo o seu
império, adoptou uma nova táctica, dividindo as suas tropas em três grupos :

1o Grupo – constituindo por jovens com armas modernas de tiro rápido para travar o
avanço dos franceses e retirar, queimando tudo para não permitir o inimigo ter acesso a
lamentação;

2o Grupo – constituídos por velhos com armas tradicional, que tinham como a missão
de organizar e administrar zonas libertadas;

30 Grupo – constituídos por militares de idade médios, com armas modernas de tiro
menos rápido, que têm como a missão conquistar novas terras para transferência da
População.

Em 1891, os franceses tendo tomado Nioro , decidem liquida-lo . Pensavam acabar com
ele numa única ou duas campanhas. Mas de fato, conseguiu prosseguir com a sua
resistência durante mais sete (7) anos (1891 - 1898).

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A organização das suas forças em três grupos: defesa do território, evacuação das
populações e conquista territorial permitir-lhe-á uma coisa única na história , durante
sete (7) anos o seu povo mudara todos os anos de país para país , penetrando em novas
regiões a Leste , mas já submetidas e organizadas , sem deixar ao vencedor nem um
velho e nem um grão de milho .

Samori , retira-se para Leste , estabelecendo-se em Dabakalá ( Costa de marfim) e ali


reside , apoderando-se da cidade de Kong ,o qual o tinha traído .

Em 1898, cercado , ele volta a Oeste e é feito prisioneiro de surpresa no seu quartel-
general em Guelemou. Deportado para gabão, ali morre em 1900 .

Pela sua qualidade de chefe de estado, chefe militar, pela sua tenacidade irredutível,
Almami Samori Turé coloca-se entre os maiores resistentes africanos.

6.4. A resistência à colonização portuguesa no interior da


Guiné entre os anos 1850 a 1900

6.4.1. A realidade no interior da Guiné entre 1850 a 190


A tomada histórica de Kansala em 1867 pôs fim à independência real dos reinos
mandingas de Gabu , em benefcios dos conquistadores Futadjanlonkes ( habitantes de
Futa-Djalon)

Um número importante de fulas e fulacundas da região converteram-se ao islamismo e


juntaram-se aos conquistares, criando assim múltiplas circuncisões militares
comandadas por um chefe, vassalo de Futa-Djalon (Alta Guiné). A Sul de Corubal e ao
Norte, sob direcção de Alfa Molo e do seu filho Mussa Molo, que tomou Braço e Firdo,
tornaram-se independentes de Futa-Djalon. Aceitara em 1863 o protectorado francês e
outras obrigações vassálicas , mas o seu homem de guarda pessoal , através de um
complot de corte , apoiados por armas , desembarcaram e obrigaram-nos a refugiar-se
em Gâmbia em 1903 , dois anos depois da morte de Samory Turé no exilo na ilha de
Ougue , no gabão , em 1900.

Tal como nos impérios fulas dos séculos XVII e XIX, estes movimentos fulas na sua
origem traduziam o descontentamento dos pastores fulas oprimidos na sociedade feudal
mandinga .

O verdadeiro chefe ou senhor de Gabu , no finais do século XIX não era o almami de
Timbo (capital histórica de Futa-Djalon) cuja autoridade era completamente teórica ,
mas o seu poderoso vassalo , o chefe da província de Labe. Instalado em Kade (Fula-
Mori) , que se situa a igual distância de Labe e Gabu ,desconfia dos seus compatriotas

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de Labe , suportam mal a sua autoridade e apoiam-se sobretudo nos seus súbditos
mandingas de Gabu que lhe são aparentado pela sua mãe , filha do último rei de Gabu .

No entanto, a ocupação francesa, que se torna cada vez mais evidente, e a atribuição
deste território de Gabu a Portugal, colocam o Alfa Iaia , em dificuldades. Em 1905 é
preso e deportado pelos franceses. Os seus vassalos fulas de Gabu , encontravam-se
neste contexto .

A estrutura feudal das circuncisões militares fulas, que se apoia na dominação de um


pequeno número de conquistadores sobre as populações, praticamente reduzidas ao
servilismo, leva os chefes fulas a aceitarem um compromisso com os portugueses e
pagar-lhes tributos, estes por seu lado ajudam-nos a manter a ordem social existente e a
dominar a região.

6.4.2. As dificuldades da Ocupação Portuguesa


É de notar um grande paradoxo que exprime com uma certa indignação a primazia das
armas, de força e do complexo congénito de superioridade que caracterizam todos os
colonizadores.

Em 1886, no momento em que as fronteiras da Guiné Portuguesa são fixadas, o interior


do país não estava ocupado, nem mesmo explorado geograficamente, isto apesar das
declarações finais da Conferencia de Berlim (1884 - 1885). Esta ignorância das
realidades obriga, em 1905, à ratificação da fronteira traçada sobre o mapa para deixar à
França a região de Kade (Fula-Mori), que se julgava situava a Oeste do meridiano 16 o
de longitude oeste (Meridiano de Paris) , quando na realidade esta região ficava a leste .

Os portugueses multiplicaram sem sucessos as expedições contra as populações ou


povos independentes do litoral: contra os Beafadas em 1891; contra os Oincas em 1897;
De 1891 a 1894 Bissau estava bloqueada pelos Papeis revoltados e irredutíveis. Por
volta de 1900, os portugueses conseguem obter tratados com chefes locais e a
submissão dos povos da savana (fulas , mandingas e beafadas ).

Pelo contrario o litoral onde não há autoridade com quem negociar permanece livre, e
as expedições portuguesas contenta-se , em caso de sucesso , em incendiar e pilhar as
aldeias para em seguida se retirarem sem podido ocupar os territórios por falta de
efectivos . Em 1900 expedições contra os Bijagós na ilha de canhabaque; em 1901
expedição contra os Felupes; Em 1902 expedição contra os Oincas (vingança da derrota
de 1867) e a submissão dos Oincas em 1903; ataque aos Felupes em 1904; expedições
contra os papeis que bloqueavam o posto de Cacheu ; expedições à Formosa.

As revoltas que provocaram estas últimas expedições, devem-se à recusa das


populações de pagarem impostos exigidos pelos portugueses.

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6.4.3. Infali Sonco e as Revoltas de 1907 – 1908
Os chefes do interior que tinham aceitado a suserania portuguesa, esperando assim
utilizar o apoio dos brancos para consolidarem o seu próprio poder, ficaram desiludos
devidos às exigências portuguesas em matérias de impostos; a sua arrogância continua a
aumentar, sem menor consideração pelos chefes locais e pela população, tratam os
chefes exactamente como escravo, como objetos.

Assim, Infali Sonco , chefe dos beafadas de Cuor , investido pelos portugueses , é
ofendido pelo comandante português de posto de Geba . Na sua própria presença, um
soldado chicoteou um dos seus colaboradores, reage matando o executante e levando o
comandante preso, que viera a libertar de seguida. Mas a partir deste momento recusa o
pagamento de imposto, corta a navegação entre Bissau e Bafata , isolando assim o
Gabu e prevê estabelecer relações comerciais com os comerciantes franceses da Guiné-
Conakri .

São aliados da revolta de Infali Sonco , os chefes Bonco de Badora , Dembage de


Corubal , Guelage de Cossé , Iero de Gussara , Usssumane de Pexisse . Pelo contrario,
os chefes Abdulai de Xime , Tcherno Cali de Forea , Mundjur de Gabu continuaram a
ser aliados dos portugueses e submetidos por estes .

Duas colunas de reforços enviados especialmente de Lisboa foram necessárias para


esmagar a revolta dos chefes fulas (1907 - 1908). Os fulas vencidos foram a partir
daquele momento utilizados como auxiliares em substituição dos grumetes,
considerados como poucos seguros.

Em 1894 e em 1901, muitos de entre estes passaram ao lado dos portugueses. A


presença da coluna fora utilizada para submeter os papeis da ilha de Bissau (que se
tinham revoltado novamente em 1915), e para atacarem sem sucesso os Felupes e
Balantas .

6.4.4. A pacificação e a
ocupação dos territórios - 1913 a 195
Em 1913, uma grande parte das zonas florestais e litorais continuaram livre, é o caso de
Oio , região dos balantas; Bissau dos papéis; dos manjacos da região situada a sul do rio
São Domingos e dos Bijagós.

A submissão definitiva destas regiões a que os colonialistas chamaram de “ pacificação”

É efectuada de 1913 a 1915 pelo novo chefe de Estado-Maior da colónia, capitão


Teixeira Pinto. Copiando método dos colonialistas franceses e ingleses, mas mais
agravado pelas suas próprias iniciativas, que consistia em reduzir a fraqueza dos

Professor Agostinho António Ialá Júnior


1
efectivos portugueses, utilizando assim auxiliares fulas e mandingas , dirigidos por
chefes como Abdu Indjai de Oio , Baro Baldé de Forea , Mamadu Cisse e outros .

Estes auxiliares estão equipados com armas modernas, mas não pagos pelos
colonialistas portugueses, pagar-se-ão com a pilhagem efectuadas, fazendo cativos,
onde um destes (auxiliares), serão nomeados chefes dos territórios conquistados.

As colunas de Teixeira Pinto, assim como as que precederam, queimavam as aldeias,


pilhavam, massacravam. Mas não se limitaram somente a isso: exigiam o regresso dos
fugitivos, a entrega de todas as armadas, enormes esforços de guerra (sob pretexto de
impostos atrasados), a submissão incondicional aos chefes nomeados pelos portugueses.
Asseguram a ocupação permanente com a administração portuguesa e a presença das
forças armadas. Assim são esmagados e submetidos os Balantas e Oincas (1913), os
Papeis, Manjacos de Xuro-Caio e os Balantas da região de Mansao (1915), bem como
os Papeis da ilha de Bissau (1915).

Os abusos e crimes cometidos pelo capitão Teixeira Pinto e do auxiliar Abdu Indjai,
provocaram a transferência do capitão em 19915, para a Moçambique, onde veio a
morrer em combate com as tropas alemãs, em 1817.

Continuaram, mas com bastante dificuldades, sem o capitão Teixeira Pinto, as


campanhas para a submissão total dos Bijagos, entre 1917 e 1918. Houve, ainda mais
revolta deste povo em 1924 e 1936 contra o pagamento dos impostos.

6.5. A África de Sul entre 1885 a 1902


As coisas apresentam-se sob um aspecto particular na África de Sul. Ao laso da
resistência dos povos locais, há também a dos Africânderes, brancos estabelecidos no
país há dois séculos.

Os ingleses inquietaram-se com a instalação duma companhia de comércio na região de


Angara Pequena em 1884, pois receavam um apoio Alemão à República dos Bóeres, a
qual lhes criavam dificuldades. Apressaram-se em anexar Betchuanaland em 1884 e em
estender o seu protectorado até Zambeze em 1885.

Nesta expansão inglesa na África de Sul, Cecil Rhoders desempenhou um papel


importante. Desde 1881 sonhava estender a influência britânica até Tanganica. Para isso
ele recorreu em primeiro à concessão de terrenos que obteve facilmente do rei Matabele.

Fundou a companhia mineira para explorar o ouro e diamantes, obteve um documento


inglês que autorizava a companhia a fazer tratados com os chefes locais e de ligar
Angola e Moçambique, em 1906.

Em 1893, o protectorado inglês sobre Niassaland. A companhia de Cecil Rhoders era


toda-poderosa, imensamente rica, quando deparou com o levantamento dos Matabeles

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descontentes por não receberem tributos dos seus vassalos, atacaram a cidade de Vitoria
em 1893 sem sucesso.

6.6. Causa da derrota das resistências africanas


As resistências tinham um carácter regional, tribal e étnico; falta de unidade entre os
resistentes; falta de organização, métodos e meios; falta de materiais sofisticados,
obrigados a usarem paus, catanas, flechas, lanças, azagaias, etc. A supremacia militar
europeia em armas, transporte, meios e métodos de guerra; lutas e contradições tribais;
as resistências eram dispersas e desiguais.

Por força deste condicionalismo, assim em toda a África as resistências fracassaram,


permitindo assim a ocupação e dominação efectiva do continente africano.

UNIDADEIII: A SEGUNDA GUERRA


MUNDIAL
A Segunda Guerra Mundial foi um conflito militar global que durou de 1939 a 1945,
envolvendo a maioria das nações do mundo - incluindo todas as grandes potências -
organizadas em duas alianças militares opostas: os Aliados e o Eixo. Foi a guerra mais
abrangente da história, com mais de 100 milhões de militares mobilizados. Em estado
de "guerra total", os principais envolvidos dedicaram toda sua capacidade económica,
industrial e científica a serviço dos esforços de guerra, deixando de lado a distinção
entre recursos civis e militares. Marcado por um número significante de ataques contra
civis, incluindo o Holocausto e a única vez em que armas nucleares foram utilizadas em
combate, foi o conflito mais letal da história da humanidade, resultando entre 50 a mais
de 70 milhões de mortes.

Geralmente considera-se o ponto inicial da guerra como sendo a invasão da Polónia pela
Alemanha Nazista em 1 de Setembro de 1939 e subsequentes declarações de guerra
contra a Alemanha pela França e pela maioria dos países do Império Britânico e da
Commonwealth. Alguns países já estavam em guerra nesta época, como Etiópia e
Reino de Itália na Segunda Guerra Ítalo-Etíope e China e Japão na Segunda Guerra
Sino-Japonesa.[2] Muitos dos que não se envolveram inicialmente acabaram aderindo ao
conflito em resposta a eventos como a invasão da União Soviética pelos alemães e os
ataques japoneses contra as forças dos Estados Unidos no Pacífico em Pearl Harbor e
em colónias ultramarítimas britânicas, que resultou em declarações de guerra contra o
Japão pelos Estados Unidos, Países Baixos e o Commonwealth Britânico.

A guerra terminou com a vitória dos Aliados em 1945, alterando significativamente o


alinhamento político e a estrutura social mundial. Enquanto a Organização das Nações
Unidas (ONU) era estabelecida para estimular a cooperação global e evitar futuros
conflitos, a União Soviética e os Estados Unidos emergiam como superpotências rivais,
preparando o terreno para uma Guerra Fria que se estenderia pelos próximos quarenta e

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seis anos (1945-1991). Nesse ínterim, a aceitação do princípio de autodeterminação
acelerou movimentos de descolonização na Ásia e na África, enquanto a Europa
ocidental dava início a um movimento de recuperação económica e integração política.

1. Os antecedentes da guerra
A Primeira Guerra Mundial alterou radicalmente o mapa geopolítico da Europa, com a
derrota dos Impérios Centrais (Áustria-Hungria, Alemanha e Império Otomano) e a
tomada do poder pelos bolcheviques em 1917 na Rússia. Os aliados vitoriosos, como
França, Bélgica, Itália, Grécia e Romênia ganharam territórios, enquanto novos Estados
foram criados a partir do colapso da Áustria-Hungria e dos impérios russo e otomano.
Apesar do movimento pacifista após o fim da guerra, as perdas causaram um
nacionalismo irredentista e revanchista em vários países europeus. O irredentismo e
revanchismo eram fortes na Alemanha por causa das significativas perdas territoriais,
coloniais e financeiras incorridas pelo Tratado de Versalhes. Pelo tratado, a Alemanha
perdeu cerca de 13% do seu território e todas as suas colónias ultramarinas, foi proibida
de anexar outros Estados, teve que pagar indemnizações e sofreu limitações quanto ao
tamanho e a capacidade das suas forças armadas. Enquanto isso, a Guerra Civil Russa
levava à criação da União Soviética.

O Império Alemão foi dissolvido durante a Revolução Alemã de 1918-1919 e um


governo democrático, mais tarde conhecido como República de Weimar, foi criado. O
período entre-guerras foi marcado pelo conflito entre os partidários da nova república e
de opositores radicais, tanto de direita quanto de esquerda. Embora a Itália como aliado
Entente tenha feito alguns ganhos territoriais, os nacionalistas do país ficaram irritados
com as promessas feitas pelo Reino Unido e França para garantir a entrada italiana na
guerra, que não foram cumpridas com o acordo de paz. De 1922 a 1925, o movimento
fascista, liderado por Benito Mussolini, tomou o poder na Itália com uma agenda
nacionalista, totalitária e de colaboração de classes, que aboliu a democracia
representativa, reprimiu os socialistas, a esquerda e as forças liberais, e seguiu uma
política externa agressiva destinada a forjar, através da força, o país como uma potência
mundial - um "Novo Império Romano"

Adolf Hitler, depois de uma tentativa fracassada de derrubar o governo alemão em


1923, tornou-se o chanceler da Alemanha em 1933. Ele aboliu a democracia,
defendendo uma revisão radical e racista da ordem mundial, e logo começou uma
campanha de rearmamento massivo do país.[16] Enquanto isso, a França, para assegurar a
sua aliança, permitiu que a Itália agisse livremente na Etiópia, país que o governo
italiano desejava como uma posse colonial. A situação se agravou no início de 1935,
quando o Território da Bacia do Sarre foi legalmente anexado à Alemanha e Hitler
repudiou o Tratado de Versalhes, acelerando seu programa de rearmamento e
recrutamento. Na Alemanha, o partido nazista, liderado por Adolf Hitler, procurou
estabelecer um Estado nazista no país. Com o início da Grande Depressão, o apoio
doméstico aos nazistas fortaleceu-se e, em 1933, Hitler foi nomeado chanceler da

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Alemanha. Após o incêndio no Palácio do Reichstag, Hitler conseguiu criar um governo
unipartidário e totalitário liderado pelos nazistas.

Na China, o partido Kuomintang (KMT) lançou uma campanha de unificação contra os


líderes militares regionais (os chamados senhores da guerra da China) e o país unificou-
se em meados de 1920, mas logo viu-se envolvido em uma guerra civil contra seus
antigos aliados comunistas.[19] Em 1931, o cada vez mais militarista Império Japonês,
começou a buscar influência na China como sendo o primeiro passo visto pelo governo
para obter o direito do país em governar a Ásia como afirmava o slogan político Hakkō
ichiu ("todos sobre o mesmo teto"). Os japoneses usaram o incidente de Mukden como
pretexto para lançar uma invasão da Manchúria e estabelecer o Estado fantoche de
Manchukuo.

Muito fraca para resistir ao Japão, a China apelou à Liga das Nações por ajuda. O Japão
retirou-se desta organização internacional após ser condenado por sua incursão na
Manchúria. As duas nações passaram a enfrentar-se em várias batalhas, em Xangai,
Rehe e Hebei, até a Trégua de Tanggu ser assinada em 1933. Depois disso, forças
voluntárias chinesas continuaram a resistência à agressão japonesa na Manchúria,
Chahar e Suiyuan.

Na esperança de conter a Alemanha, o Reino Unido, a França e a Itália formaram a


Frente de Stresa. A União Soviética, preocupada com os objetivos da Alemanha de
ocupar vastas áreas do leste da Europa, escreveu um tratado de assistência mútua com a
França. Antes de tomar efeito, porém, o pacto franco-soviético foi obrigado a passar
pela burocracia da Liga das Nações, que o tornou essencialmente sem poder. No
entanto, em Junho de 1935, o Reino Unido fez um acordo naval independente com a
Alemanha, flexibilizando as restrições anteriores. Os Estados Unidos, preocupados com
os acontecimentos na Europa e na Ásia, aprovaram a Lei de Neutralidade em Agosto.
Em Outubro, a Itália invadiu a Etiópia e a Alemanha foi o único grande país europeu
que apoiou essa invasão. O governo italiano posteriormente abandonou as suas objeções
com relação às metas da Alemanha de dominar a Áustria.

Hitler desafiou os tratados de Versalhes e de Locarno com a remilitarização da Renânia,


em Março de 1936. Ele recebeu pouca resposta de outras potências europeias. Quando a
Guerra Civil Espanhola começou em Julho, Hitler e Mussolini apoiaram as forças
nacionalistas fascistas e autoritárias em guerra civil contra a República Espanhola, esta
última era apoiada pela União Soviética. Os dois lados usaram o conflito para testar
novas armas e métodos de guerra, tendo os nacionalistas como vencedores no início de
1939. Em Outubro de 1936, Alemanha e Itália formaram o Eixo Roma-Berlim. Um mês
depois, a Alemanha e o Japão assinaram o Pacto Anticomintern, com a adesão da Itália
no ano seguinte. Na China, após o incidente de Xi’an o Kuomintang e as forças
comunistas concordaram com um cessar-fogo, com o objetivo de apresentar uma frente
unida para se opor à invasão japonesa.

1.1. Invasão italiana da Etiópia (1935)


A Segunda Guerra Ítalo-Etíope foi uma breve guerra colonial, que começou em Outubro
de 1935 e terminou em Maio de 1936. A guerra foi travada entre as forças armadas do

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Reino da Itália (Regno d'Italia) e as forças armadas do Império Etíope (também
conhecido como Abissínia). A guerra resultou na ocupação militar da Etiópia e na sua
anexação à recém-criada colónia da África Oriental Italiana (Africa Orientale Italiana
ou AOI); além disso, expôs a fraqueza da Liga das Nações como uma força de
manutenção da paz. Tanto a Itália quanto a Etiópia eram países membros da
organização, mas a Liga não fez nada quando a guerra claramente violou o seu Décimo
Artigo da Convenção.

1.2. Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939)


A Alemanha e a Itália deram apoio à insurreição nacionalista liderada pelo general
Francisco Franco na Espanha. A União Soviética apoiou o governo existente, a
República Espanhola, que apresentava tendências esquerdistas. Ambos os lados usaram
a guerra como uma oportunidade para testar armas e táticas melhores. O bombardeio de
Guernica, uma cidade que tinha entre 5 000 e 7 000 habitantes, foi considerado um
ataque terrível, na época, e usado como uma propaganda amplamente difundida no
Ocidente, levando a acusações de "atentado terrorista" e de que 1 654 pessoas tinham
morrido no bombardeio. Na realidade, o ataque foi uma operação tática contra uma
cidade com importantes comunicações militares próximas à linha de frente e as
estimativas modernas não rendem mais de 300-400 mortos no fim do ataque.

1.3. Invasão japonesa da China (1937)


Em Julho de 1937, o Japão ocupou Pequim, a antiga capital imperial chinesa, depois de
instigar o incidente da Ponte Marco Polo, que culminou com a campanha japonesa para
invadir toda a China. Os soviéticos rapidamente assinaram um pacto de não-agressão
com a China para emprestar material de suporte, acabando com cooperação prévia da
China com a Alemanha. O Generalíssimo Chiang Kai-shek usou o seu melhor exército
para defender Xangai, mas depois de três meses de luta, a cidade caiu. Os japoneses
continuaram a empurrar as forças chinesas para trás, capturando a capital, Nanquim, em
Dezembro de 1937 e cometendo o chamado "Massacre de Nanquim"

Em Junho de 1938, as forças chinesas paralisaram o avanço japonês através da criação


de enchentes no rio Amarelo; esta manobra comprou tempo para os chineses prepararem
as suas defesas em Wuhan, mas a cidade foi tomada em Outubro. As vitórias militares
japonesas não provocaram o colapso da resistência chinesa que o Japão tinha a
esperança de alcançar, em vez disso o governo chinês se mudou do interior para
Chongqing e continuou a guerra.

1.4. Invasão japonesa da União Soviética e Mongólia (1938)


Em 29 de julho de 1938, os japoneses invadiram a União Soviética e foram combatidos
na Batalha do Lago Khasan. Apesar da vitória soviética, os japoneses consideraram-na
um empate inconclusivo e em 11 de Maio de 1939 decidiram mudar a fronteira japonesa
mongol até o rio Khalkhin Gol pela força. Após sucessos iniciais do ataque japonês à
Mongólia, o Exército Vermelho infligiu a primeira derrota importante do Exército de
Guangdong.

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Estes confrontos convenceram algumas partes do governo japonês de que eles deveriam
se concentrar em se conciliar com o governo soviético para evitar interferências na
guerra contra a China e, ao invés de voltarem sua atenção militar para o sul, mudarem
seu foco para os territórios dos Estados Unidos e da Europa no Pacífico, e também
impediram a demissão de experientes líderes militares soviéticos, como Georgy
Zhukov, que mais tarde iria desempenhar um papel vital na defesa de Moscovo

2. Início da guerra na Europa (1939)


Em 1 de Setembro de 1939, Alemanha e Eslováquia (que na época era um Estado
fantoche alemão) atacaram a Polónia. Em 3 de Setembro, França e Reino Unido,
seguido totalmente por todos os seus domínios independentes da Comunidade Britânica
- Austrália, Canadá, Nova Zelândia e África do Sul - declararam guerra à Alemanha,
mas proveram pouco apoio à Polónia, exceto por um pequeno ataque francês no Sarre.
Reino Unido e França também iniciaram um bloqueio naval à Alemanha em 3 de
Setembro, que tinha como objetivo danificar a economia do país e seu esforço de
guerra.

Em 17 de Setembro, após a assinatura do Pacto nipônico-soviético, os soviéticos


também invadiram a Polônia. O território polonês foi então dividido entre a Alemanha e
a União Soviética, além da Lituânia e da Eslováquia também terem recebido pequenas
partes. Os poloneses não se renderam, estabeleceram o Estado Secreto Polaco e uma
sede subterrânea para o seu exército, além de continuarem a lutar junto com os Aliados
em todas as frentes de batalha fora de seu país.

Cerca de 100 000 militares poloneses foram evacuados para a Roménia e países
bálticos, muitos destes soldados lutaram mais tarde contra os alemães em outras frentes
da guerra. Decifradores poloneses de enigmas também foram evacuados para a França.
Este tempo, o Japão lançou o seu primeiro ataque contra Changsha, uma cidade chinesa
importante e estratégica, mas as forças japonesas foram repelidas no final de Setembro.

Após a invasão da Polónia e de um tratado germano-soviético sobre controlo da


Lituânia, a União Soviética forçou os países bálticos a permitir a permanência de tropas
soviéticas nos seus territórios sob pactos de "assistência mútua". A Finlândia rejeitou as
demandas territoriais e foi invadida pela União Soviética em Novembro de 1939. O
conflito resultante terminou em Março de 1940 com concessões finlandesas. França e
Reino Unido, ao considerarem o ataque soviético sobre a Finlândia como o equivalente
a entrar na guerra no lado dos alemães, reagiram à invasão soviética, apoiando a
expulsão da URSS da Liga das Nações.

Na Europa Ocidental, as tropas britânicas chegaram ao continente, mas em uma fase


apelidada de "Phoney War" (Guerra de Mentira) pelos britânicos e de "Sitzkrieg"
(Guerra Sentada) pelos alemães, nenhum dos lados lançou grandes operações contra o
outro, até Abril de 1940. A União Soviética e a Alemanha entraram em um acordo
comercial em Fevereiro de 1940, nos termos do qual os soviéticos receberam
equipamento militar e industrial alemão, em troca de fornecimento de matérias-primas
para a Alemanha para ajudar a contornar o bloqueio aliado.

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Em Abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e a Noruega para garantir
embarques de minério de ferro da Suécia, que os Aliados estavam prestes a romper. A
Dinamarca imediatamente rendeu-se e apesar do apoio dos Aliados, a Noruega foi
conquistada dentro de dois meses. Em Maio de 1940, o Reino Unido invadiu a Islândia
para antecipar uma possível invasão alemã da ilha. O descontentamento britânico sobre
a Campanha da Noruega levou à substituição do primeiro-ministro Neville Chamberlain
por Winston Churchill, em 10 de Maio de 1940.

2.1. Avanços do Eixo (1940)


A Alemanha invadiu a França, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo em 10 de Maio de
1940. Os Países Baixos e a Bélgica foram invadidos através de táticas de blitzkrieg em
poucos dias e semanas, respectivamente. A linha fortificada francesa conhecida como
Linha Maginot e as forças aliadas na Bélgica foram contornadas por um movimento de
flanco através da região densamente arborizada das Ardenas, considerada erroneamente
pelos planejadores franceses como uma barreira natural impenetrável contra veículos
blindados.

As tropas britânicas foram forçadas a evacuar do continente em Dunquerque,


abandonando o seu equipamento pesado no início de Junho. Em 10 de Junho, a Itália
invadiu a França, declarando guerra ao governo francês e ao Reino Unido; 12 dias
depois, os franceses se renderam e o território de seu país foi logo dividido em zonas de
ocupação alemãs e italianas, além da criação de um Estado fantoche colaboracionista
alemão desocupado chamado França de Vichy. Em 3 de Julho, os britânicos atacaram a
frota francesa na Argélia para evitar a sua eventual tomada pela Alemanha.

Em Junho, durante os últimos dias da Batalha da França, a União Soviética anexa à


força Estónia, Letónia e Lituânia e, em seguida, conquista a disputada região romena da
Bessarábia. Enquanto isso, a aproximação política e a cooperação económica nazi-
soviética gradualmente se paralisa e ambos os Estados começam os preparativos para a
guerra.

Com a França neutralizada, a Alemanha começou uma campanha de supremacia aérea


sobre o Reino Unido (a Batalha da Grã-Bretanha) para se preparar para uma invasão. A
campanha fracassou e os planos de invasão foram cancelados até Setembro. Usando os
portos franceses recém-capturados, a Kriegsmarine (marinha alemã) obteve sucesso
contra a melhor preparada Marinha Real, usando U-Boots contra os navios britânicos no
Atlântico. A Itália começou a operar no Mediterrâneo, com o início do cerco de Malta
em Junho, a conquista da Somalilândia Britânica em Agosto e em uma incursão no
Egito, que então era administrado pelos britânicos, em Setembro de 1940. O Japão
aumentou o bloqueio contra a China em Setembro, ao capturar várias bases no norte da
agora isolada Indochina Francesa.

Durante todo esse período, o neutro Estados Unidos tomou medidas para ajudar a China
e os Aliados Ocidentais. Em Novembro de 1939, a Lei de Neutralidade norte-americana
foi alterada para permitir compras do chamado "cash and carry" (dinheiro e transporte)
por parte dos Aliados. Em 1940, após a captura alemã de Paris, o tamanho da Marinha
Americana aumentou significativamente e, depois da incursão japonesa na Indochina, o

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país embargou ferro, aço e peças mecânicas contra o Japão. Em Setembro, os Estados
Unidos concordaram ainda em comerciar destróieres estadunidenses para bases
britânicas. Ainda assim, a grande maioria do público norte-americano continuou a se
opor a qualquer intervenção militar direta no conflito em 1941.

No final de Setembro de 1940, o Pacto Tripartite unia o Império do Japão, a Itália


fascista e a Alemanha nazista para formalizar as Potências do Eixo. Esse pacto estipulou
que qualquer país, com exceção da União Soviética, que atacasse qualquer uma das
Potências do Eixo seria forçado a ir para a guerra contra os três em conjunto. Durante
este período, os Estados Unidos continuaram a apoiar o Reino Unido e a China,
introduzindo a política de Lend-Lease que autorizava o fornecimento de material e
outros itens aos Aliados e criava uma zona de segurança que abrangia cerca de metade
do Oceano Atlântico, onde a Marinha Americana protegia os comboios britânicos.
Como resultado, a Alemanha e os Estados Unidos viram-se envolvidos em uma
sustentada guerra naval no Atlântico Norte e Central em Outubro de 1941, apesar de os
Estados Unidos terem se mantido oficialmente neutros.

O Eixo expandiu-se em Novembro de 1940, quando a Hungria, a Eslováquia e a


Roménia aderiram ao Pacto Tripartite. A Roménia faria uma grande contribuição para a
guerra do Eixo contra a URSS, parcialmente ao recapturar o território cedido à URSS e
em parte para prosseguir com o desejo de seu líder, Ion Antonescu, de combater o
comunismo. Em Outubro de 1940, a Itália invadiu a Grécia, mas em poucos dias foi
repelida e foi forçada de volta para a Albânia, onde um impasse logo ocorreu. Em
dezembro de 1940, as forças britânicas da Commonwealth começaram contra-ofensivas
contra as forças italianas no Egito e na África Oriental Italiana. No início de 1941,
depois que as forças italianas terem sido afastadas de volta para a Líbia pela
Commonwealth, Churchill ordenou uma expedição de tropas na África para reforçar os
gregos. A Marinha Italiana também sofreu derrotas significativas, quando a Marinha
Real colocou três de seus navios de guerra fora de ação depois de um ataque em Tarento
e quando vários outros de seus navios de guerra foram neutralizados na Batalha do Cabo
Matapão.

Os alemães logo intervieram para ajudar a Itália. Hitler enviou forças alemãs para a
Líbia em fevereiro e até o final de Março eles lançaram uma ofensiva contra as
enfraquecidas forças da Commonwealth. Em menos de um mês, as forças da
Commonwealth foram empurradas de volta para o Egito com exceção do sitiado porto
de Tobruk. A Comunidade Britânica tentou desalojar as forças do Eixo em Maio e
novamente em Junho, mas falhou em ambas as ocasiões. No início de Abril, após a
assinatura da Bulgária do Pacto Tripartite, os alemães fizeram uma intervenção nos
Balcãs ao invadir a Grécia e a Jugoslávia na sequência de um golpe; nesse episódio os
alemães também fizeram um rápido progresso e acabaram forçando os Aliados a
evacuar depois que a Alemanha conquistou a ilha grega de Creta, no final de Maio.

Os Aliados tiveram alguns sucessos durante este tempo. No Oriente Médio, as forças da
Commonwealth primeiro anularam um golpe de Estado no Iraque, que tinha sido
apoiado por aviões alemães a partir de bases dentro da Síria controlada pela França de
Vichy, então, com a ajuda da França Livre, invadiram a Síria e o Líbano para evitar
mais ocorrências. No Atlântico, os britânicos conquistaram um impulso moral público
muito necessário ao afundar o emblemático couraçado alemão Bismarck. Talvez ainda
mais importante foi a bem-sucedida resistência da Força Aérea Real, durante a Batalha

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da Grã-Bretanha, aos ataques da Luftwaffe alemã, sendo que a campanha de bombardeio
alemã em grande parte acabou em Maio de 1941.

Na Ásia, apesar de várias ofensivas de ambos os lados, a guerra entre a China e o Japão
foi paralisada em 1940. Com o objetivo de aumentar a pressão sobre a China ao
bloquear rotas de abastecimento e para as forças japonesas terem uma melhor posição
em caso de uma guerra com as potências ocidentais, o Japão tomou o controlo militar do
sul da Indochina. Em Agosto daquele ano, os comunistas chineses lançaram uma
ofensiva na China Central; em retaliação, o Japão instituiu medidas duras (a Política dos
Três Tudos) em áreas ocupadas para reduzir os recursos humanos e materiais dos
comunistas. A contínua antipatia entre as forças comunistas e nacionalistas chinesas
culminaram em confrontos armados em Janeiro de 1941, efetivamente terminando com
a cooperação entre os dois grupos.

Com a situação na Europa e na Ásia relativamente estável, a Alemanha, o Japão e a


União Soviética fizeram preparativos. Com os soviéticos desconfiados das crescentes
tensões com a Alemanha e o planejamento japonês para tirar proveito da guerra na
Europa, aproveitando as possessões europeias ricas em recursos no sudeste da Ásia, as
duas potências assinaram o pacto de neutralidade nipônico-soviético, em abril de 1941.
[113]
Em contraste, os alemães estavam constantemente fazendo preparativos para um
ataque à URSS, com as suas forças se acumulando na fronteira soviética.

2.2. A mundialização total da guerra (1941)


Em 22 de Junho de 1941, a Alemanha, juntamente com outros membros europeus do
Eixo e a Finlândia, invadiu a União Soviética na chamada Operação Barbarossa. Os
principais alvos dessa ofensiva surpresaforam a região do Mar Báltico, Moscovo e
Ucrânia, com o objetivo final de acabar com a campanha de 1941 perto da linha de
Arkhangelsk-Astrakhan (linha A-A), que ligava os mares Cáspio e Branco. O objetivo
de Hitler era eliminar a União Soviética como uma potência militar, exterminar o
comunismo, gerar o Lebensraum ("espaço vital") através da remoção da população
nativa e garantir o acesso aos recursos estratégicos necessários para derrotar os rivais
restantes da Alemanha.

Embora o Exército Vermelho estivesse se preparando para contra-ofensivas estratégicas


antes da guerra, a Barbarossa forçou o comando supremo soviético a adotar uma defesa
estratégica. Durante o verão, o Eixo conquistou partes significativas do território
soviético, causando imensos prejuízos, tanto material quanto em vidas. Em meados de
agosto, no entanto, o Alto Comando do Exército alemão decidiu suspender a ofensiva
de um já consideravelmente empobrecido Grupo de Exércitos Centro e desviar o 2.º
Exército Panzer para reforçar as tropas que avançavam em direção à região central da
Ucrânia e à Leninegrado. A ofensiva de Kiev teve um sucesso esmagador, resultando no
cerco e na eliminação de quatro exércitos soviéticos, além de tornar possível o avanço
na Crimeia e no industrialmente desenvolvido leste da Ucrânia (Primeira Batalha de
Carcóvia).

O desvio de três quartos das tropas do Eixo e da maioria das suas forças aéreas da
França e do Mediterrâneo central para a Frente Oriental levou o Reino Unido a
reconsiderar a sua grande estratégia. Em Julho, o Reino Unido e a União Soviética
formaram uma aliança militar contra a Alemanha. Os britânicos e os soviéticos

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1
invadiram o Irão para garantir o Corredor Persa e os campos de petróleo iranianos.[125]
Em Agosto, o Reino Unido e os Estados Unidos emitiram em conjunto a Carta do
Atlântico.

Em Outubro, quando os objetivos operacionais do Eixo na Ucrânia e na região do


Báltico foram alcançados, sendo que apenas os cercos de Leninegrado e Sebastopol
ainda continuavam, uma grande ofensiva contra Moscovo havia sido renovada. Após
dois meses de intensos combates, o exército alemão quase atingiu os subúrbios da
capital soviética, onde as tropas esgotadas foram forçadas a suspender sua ofensiva.
Grandes ganhos territoriais foram conquistados pelas forças do Eixo, mas sua campanha
não tinha atingido os seus objetivos principais: duas cidades importantes permaneceram
nas mãos da URSS, a capacidade de resistência dos soviéticos não foi eliminada e a
União Soviética manteve uma parte considerável do seu potencial militar. A fase
blitzkrieg da guerra na Europa havia terminado.

No início de Dezembro, as reservas recém-mobilizadas permitiram aos soviéticos


atingir a equivalência numérica com as tropas do Eixo. Isto, assim como dados de
inteligência que estabeleceram um número mínimo de tropas soviéticas no Oriente
suficiente para impedir qualquer ataque pelo Exército de Guangdong japonês, permitiu
aos soviéticos começar uma grande contra-ofensiva que teve seu início em 5 de
Dezembro em 1 000 quilómetros da Frente Oriental e que empurrou as tropas alemãs de
100 a 250 quilómetros para o oeste.

O sucesso alemão na Europa incentivou o Japão a aumentar a pressão sobre os governos


europeus no sudeste asiático. O governo holandês concordou em fornecer suprimentos
de petróleo ao Japão a partir das Índias Orientais Holandesas, recusando-se a entregar o
controlo político das suas colônias. A França de Vichy, por outro lado, concordou com a
ocupação japonesa da Indochina Francesa. Em Julho de 1941, os Estados Unidos, o
Reino Unido e outros governos ocidentais reagiram à invasão da Indochina com um
congelamento de bens japoneses, enquanto os Estados Unidos (que forneciam 80% do
petróleo do Japão) respondeu aplicando um embargo de petróleo completo ao país. Isso
significava que o Japão foi forçado a escolher entre abandonar as suas ambições na Ásia
e o prosseguimento da guerra contra a China ou perder os recursos naturais que
precisava; os militares japoneses não consideravam a primeira opção e muitos oficiais
consideraram o embargo do petróleo como uma declaração tácita de guerra.

O Império Japonês planejava aproveitar rapidamente as colónias europeias na Ásia para


criar um perímetro defensivo por todo o Pacífico Central; os japoneses, então, seriam
livres para explorar os recursos do Sudeste Asiático, enquanto esgotariam os já
sobrecarregados Aliados lutando uma guerra defensiva. Para evitar uma intervenção
americana nesse perímetro de segurança, foi planejada a neutralização da Frota do
Pacífico dos Estados Unidos. Em 7 de Dezembro (8 de Dezembro nos fusos horários
asiáticos) de 1941, o Império do Japão atacou os domínios britânicos e norte-
americanos com ofensivas quase simultâneas contra o sudeste da Ásia e o Pacífico
Central. Estas incluíram um ataque contra a frota americana em Pearl Harbor, os
desembarques na Tailândia e Malásia e a batalha de Hong Kong.

Estes ataques levaram os Estados Unidos, o Reino Unido, a China, a Austrália e vários
outros países a emitir uma declaração de guerra formal contra o Japão. Enquanto a
União Soviética, que estava fortemente envolvida com as grandes hostilidades dos

Professor Agostinho António Ialá Júnior


1
países europeus do Eixo, preferiu manter um acordo de neutralidade com os japoneses.
A Alemanha e as outras Potências do Eixo responderam ao declarar guerra aos Estados
Unidos. Em Janeiro, Estados Unidos, Reino Unido, União Soviética, China e outros 22
governos menores ou exilados emitiram a Declaração das Nações Unidas, ratificando
assim a Carta do Atlântico e tendo a obrigação de não assinar a paz em separado com
qualquer uma das Potências do Eixo. Em 1941, Estaline pediu persistentemente a
Churchill e Roosevelt para abrir uma "segunda frente" de batalha na França. A Frente
Oriental tornou-se o grande teatro da guerra na Europa e os muitos milhões de vítimas
soviéticas minimizaram as poucas centenas de milhares de mortes de Aliados
ocidentais; Churchill e Roosevelt disseram que precisavam de mais tempo de
preparação, o que levou a reclamações de que eles paralisaram-se para salvar vidas
ocidentais às custas de vidas soviéticas

Enquanto isso, até o final de Abril de 1942, o Japão e seu aliado, a Tailândia, quase
conquistaram totalmente Birmânia, Malásia, Índias Orientais Holandesas, Singapurae
Rabaul, causando fortes perdas para as tropas dos Aliados e conquistando um grande
número de prisioneiros. Apesar da resistência persistente em Corregidor, as Filipinas
foram capturadas em Maio de 1942, forçando o governo da Commonwealth das
Filipinas ao exílio. As forças japonesas também alcançaram vitórias navais no Mar da
China Meridional, Mar de Java e no Oceano Índico, além de bombardearem a base
naval aliada de Darwin, na Austrália. O único sucesso real dos Aliados contra o Japão
foi uma vitória chinesa em Changsha, no início de Janeiro de 1942. Estas vitórias fáceis
sobre adversários despreparados deixaram o Japão confiante, além de sobrecarregado.

A Alemanha também manteve a iniciativa. Explorando as duvidosas decisões do


comando naval americano, a Marinha Alemã devastou navios dos Aliados ao longo da
costa americana do Atlântico. Apesar de perdas consideráveis, os membros europeus do
Eixo pararam a grande ofensiva contra os soviéticos na Europa Central e no sul da
Rússia, mantendo os ganhos territoriais que haviam alcançado durante o ano anterior.
No norte da África, os alemães lançaram uma ofensiva em Janeiro, empurrando os
britânicos de volta às posições na Linha de Gazala no início de Fevereiro, o que foi
seguido por uma calmaria temporária nos combates que a Alemanha usou para preparar
as suas próximas ofensivas militares.

No início de Maio de 1942, o Japão iniciou as operações para capturar Port Moresby
através de desembarques militares e, assim, cortar as comunicações e linhas de
abastecimento entre os Estados Unidos e a Austrália. Os Aliados, no entanto, impediram
a invasão ao interceptar e derrotar as forças navais japonesas na Batalha do Mar de
Coral. O próximo plano do Japão, motivado pelo Ataque Doolittle, era conquistar o
Atol Midway e atrair companhias norte-americanas para a batalha para serem
eliminadas; como uma distração, o governo japonês também enviou forças para ocupar
as Ilhas Aleutas, no Alasca. No início de Junho, o Império Japonês colocou suas
operações em ação, mas os norte-americanos, por terem decifrado os códigos navais
japoneses no final de Maio, estavam plenamente conscientes desses planos e
disposições de força e usaram esse conhecimento para alcançar uma vitória decisiva em
Midway sobre a Marinha Imperial Japonesa.

Com a sua capacidade de ação agressiva consideravelmente diminuída após a Batalha


de Midway, o Japão optou por se concentrar em uma tentativa tardia de capturar Port
Moresby por uma campanha terrestre no Território de Papua. Os americanos planejaram

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1
um contra-ataque contra as posições japonesas no sul das Ilhas Salomão, principalmente
em Guadalcanal, como um primeiro passo para a captura de Rabaul, a principal base
japonesa no Sudeste Asiático.

Ambos os planos começaram em Julho, mas em meados de Setembro, a Batalha de


Guadalcanal teve prioridade para os japoneses e as tropas da Nova Guiné foram
obrigadas a retirar-se da área de Port Moresby para a parte norte da ilha, onde
enfrentaram tropas australianas em norte-americanas na Batalha de Buna-Gona.
Guadalcanal logo tornou-se um ponto focal para ambos os lados, com os
comparecimentos pesado de tropas e navios nessa batalha. Até o início de 1943, os
japoneses iriam ser derrotados na ilha e retirariam suas tropas. Na Birmânia, as forças
da Commonwealth montavam duas operações. A primeira, uma ofensiva na região de
Arakan no final de 1942, foi desastrosa, forçando um recuo de volta à Índia em maio de
1943. A segunda foi a inserção de forças irregulares por trás das linhas japonesas em
Fevereiro, o que, até o final de Abril, tinha conseguido resultados ainda duvidosos.

Na Frente Oriental da Alemanha, o Eixo derrotou ofensivas soviéticas na Península


Kerch e em Kharkov, e, em seguida, lançou sua ofensiva principal contra o sul da
Rússia em Junho de 1942, para aproveitar os campos de petróleo do Cáucaso e ocupar
as estepes de Kuban, mantendo posições sobre as áreas norte e central da Frente. Os
alemães dividiram o Grupo de Exércitos Sul em dois: o Grupo de Exércitos A na parte
inferior do rio Don e o Grupo de Exércitos B no sudeste do Cáucaso, no rio Volga. Os
soviéticos decidiram fazer sua plataforma de combate em Estalinegrado, que estava no
caminho dos exércitos alemães que avançavam.

Em meados de Novembro, os alemães tinham quase conquistado Estalinegrado em


severos combates de rua quando os soviéticos começaram a segunda contra-ofensiva de
inverno, com o início de um cerco às forças nazistas na cidade e um assalto à saliente
Rzhev, perto de Moscovo, embora esta último tenha falhado desastrosamente. No início
de Fevereiro de 1943, o exército alemão tinha sofrido fortes perdas; as tropas alemãs em
Estalinegrado tinham sido forçadas a se render e a linha de frente foi empurrada para
trás, além da sua posição de antes da ofensiva de verão. Em meados de Fevereiro, após
o impulso soviético diminuir, os alemães lançaram outro ataque em Cracóvia, com a
criação de uma saliente em sua linha de frente em volta da cidade russa de Kursk.

Em Novembro de 1941, as forças da Commonwealth lançaram uma contra-ofensiva, a


Operação Crusader, no norte da África, e recuperaram todos os ganhos que os alemães e
os italianos tinham feito na região. No Ocidente, preocupações com respeito ao governo
japonês usar as bases da França de Vichy em Madagáscar resultaram na invasão
britânica da ilha no início de Maio de 1942. Esta bem-sucedida invasão foi logo
compensada por uma ofensiva do Eixo na Líbia que levou os Aliados a recuar para o
Egito, até que as forças do Eixo foram paradas em El Alamein. No continente, as
incursões de comandos aliados a alvos estratégicos, culminando com a desastrosa
Batalha de Dieppe, demonstraram incapacidade dos Aliados ocidentais em lançar uma
invasão da Europa continental sem uma melhor preparação, equipamentos e segurança
operacional.

Em Agosto de 1942, os Aliados conseguiram repelir um segundo ataque contra El


Alamein e, a um alto custo, conseguiu entregar suprimentos desesperadamente
necessários à Malta sitiada. Poucos meses depois, os Aliados iniciaram um ataque

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próprio no Egito, desalojando as forças do Eixo e o início de uma unidade ao oeste de
toda a Líbia. Este ataque foi seguido pouco depois por uma invasão anglo-americana do
Norte da África Francês, o que resultou na captura da região pelos aliados. Hitler
respondeu com a deserção da colónia francesa, ordenando a ocupação da França de
Vichy, embora as forças de Vichy não terem resistido a esta violação do armistício, elas
conseguiram afundar sua frota para evitar a sua captura pelas forças alemãs. As agora
poucas forças do Eixo na África recuaram para a Tunísia, que foi conquistada pelos
Aliados em Maio de 1943.

2.3. A Invasão da Normandia.


Em 6 de Junho de 1944 (conhecido como Dia D), depois de três anos de pressão
soviética, os Aliados ocidentais invadiram o norte da França. Após retribuir várias
divisões Aliadas da Itália, eles também atacaram o sul da França. Os desembarques
foram bem sucedidos e levaram à derrota das unidades do exército alemão na França.
Paris foi libertada pela resistência local, com o apoio das Forças da França Livre em 25
de agosto e os Aliados ocidentais continuaram a forçar o recuo das forças alemãs na
Europa Ocidental durante a última parte do ano. Uma tentativa de avançar para o norte
da Alemanha liderada por uma grande operação aérea nos Países Baixos terminou em
um fracasso. Depois disso, os Aliados ocidentais lentamente moveram-se para
Alemanha, sem sucesso, tentando atravessar o rio Rur em uma grande ofensiva. Na
Itália, o avanço Aliado também desacelerou, quando se depararam com a última grande
linha de defesa alemã.

Em 22 de Junho, os soviéticos lançaram uma ofensiva estratégica na Bielorrússia


(conhecida como "Operação Bagration"), que resultou na destruição quase completa do
Grupo de Exércitos Centro alemão. Logo depois, outra ofensiva soviética estratégica
forçou o recuo das tropas alemãs da Ucrânia ocidental e Polónia oriental. O sucesso do
avanço das tropas soviéticas impulsionou forças de resistência na Polónia a iniciar
várias revoltas, embora a maior delas, em Varsóvia, além de uma revolta eslovaca no
sul, não terem recebido auxílio soviético e acabarem sendo abatidas por forças alemãs.
A ofensiva estratégica do Exército Vermelho no leste da Roménia desestabilizou e
destruiu consideravelmente as tropas alemãs na região e desencadeou um bem sucedido
golpe de Estado na Roménia e na Bulgária, seguido pelo deslocamento desses países
para o lado dos Aliados.

2.4. Colapso do Eixo e vitória dos Aliados (1945)


Em 16 de Dezembro de 1944, a Alemanha tentou sua última e desesperada medida para
obter sucesso na Frente Ocidental, usando a maior parte das suas reservas restantes para
lançar uma grande contra-ofensiva nas Ardenas para tentar dividir os Aliados
ocidentais, cercar grandes porções de tropas aliadas e tomar a sua porta de alimentação
primária na Antuérpia, com o objetivo de levar a uma solução política. Em Janeiro, a
ofensiva tinha sido repelida sem cumprir os seus objetivos estratégicos. Na Itália, os

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Aliados ocidentais ficaram num impasse na linha defensiva alemã. Em meados de
janeiro de 1945, os soviéticos atacaram na Polónia, movendo-se do Vístula ao rio Oder,
na Alemanha, e invadiram a Prússia Oriental. Em 4 de Fevereiro, os líderes norte-
americanos, britânicos e soviéticos se encontraram na Conferência de Yalta. Eles
concordaram com a ocupação da Alemanha no pós-guerra e sobre quando a União
Soviética iria se juntar à guerra contra o Japão.

Em Fevereiro, os soviéticos invadiram a Silésia e a Pomerânia, enquanto Aliados


ocidentais entraram na Alemanha Ocidental e aproximaram-se do rio Reno. Em Março,
os Aliados ocidentais atravessaram o norte do Reno e o sul do Ruhr, cercando o Grupo
de Exércitos B alemão, enquanto os soviéticos avançaram para Viena. No início de
Abril, os Aliados ocidentais finalmente avançaram na Itália e atravessaram a Alemanha
Ocidental, enquanto as forças soviéticas invadiram Berlim no final de Abril; as duas
forças encontraram-se no rio Elba em 25 de Abril. Em 30 de Abril de 1945, o Reichstag
foi capturado, simbolizando a derrota militar do Terceiro Reich.

Várias mudanças de liderança ocorreram durante este período. Em 12 de Abril, o então


presidente dos Estados Unidos, Roosevelt, morreu e foi sucedido por Harry S. Truman.
Benito Mussolini foi morto por partisans italianos em 28 de Abril. Dois dias depois,
Hitler cometeu suicídio e foi sucedido pelo Grande Almirante Karl Dönitz.

Na Itália, a rendição assinada em 29 de Abril pelo comando das forças alemãs naquele
país, se efetivou em 2 de Maio. O tratado de rendição alemão foi assinado em 7 de Maio
em Reimse ratificado em 8 de Maio em Berlim. O Grupo de Exércitos Centro alemão
resistiu em Praga até o dia 11 de Maio.

No Pacífico, as forças estadunidenses acompanhadas por forças da Comunidade das


Filipinas avançaram no território filipino, tomando Leyte até o final de Abril de 1945.
Eles desembarcaram em Luzon em Janeiro de 1945 e ocuparam Manila em Março,
deixando-a em ruínas. Combates continuaram em Luzon, Mindanao e em outras ilhas
das Filipinas até o final da guerra.

Em Maio de 1945, tropas australianas aterraram em Bornéu. Forças britânicas,


estadunidenses e chinesas derrotaram os japoneses no norte da Birmânia em março e os
britânicos chegaram a Yangon em 3 de Maio. Forças estadunidenses também chegam ao
Japão, tomando Iwo Jima em Março e Okinawa até o final de Junho. Bombardeiros
estadunidenses destroem as cidades japonesas e submarinos bloqueiam as importações
do país.

Em 11 de Julho, os líderes Aliados se reuniram em Potsdam, na Alemanha. Lá eles


confirmam acordos anteriores sobre a Alemanha e reiteram a exigência de rendição
incondicional de todas as forças japonesas, especificamente afirmando que "a
alternativa para o Japão é a rápida e total destruição." Durante esta conferência, o Reino
Unido realizou a sua eleição geral e Clement Attlee substitui Churchill como primeiro-
ministro.

Como o Japão continuou a ignorar os termos de Potsdam, os Estados Unidos lançam


bombas atómicas sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em Agosto. Entre
as duas bombas, os soviéticos, em conformidade com o acordo de Yalta, invadem a
Manchúria, dominada pelos japoneses e rapidamente derrotam o Exército de

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Guangdong, que era a principal força de combate japonesa. O Exército Vermelho
também captura a ilha Sacalina e as ilhas Curilas. Em 15 de Agosto de 1945 o Japão se
rende, sendo os documentos de rendição finalmente assinados a bordo do convés do
navio de guerra americano USS Missouri em 2 de setembro de 1945, o que pôs fim à
guerra.

A divisão pós-guerra do mundo foi formalizada por duas alianças militares


internacionais, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), liderada pelos
Estados Unidos, e o Pacto de Varsóvia, liderado pela União Soviética; o longo período
de tensões políticas e militares proveniente da concorrência entre esses dois grupos, a
Guerra Fria, seria acompanhado de uma corrida armamentista sem precedentes e guerras
por procuração.

Na Ásia, os Estados Unidos ocuparam o Japão e administraram as antigas ilhas


japonesas no Pacífico Ocidental, enquanto os soviéticos anexaram a ilha Sacalina e as
ilhas Curilas. A Coreia, anteriormente sob o domínio japonês, foi dividida e ocupada
pelos Estados Unidos no Sul e pela União Soviética no Norte entre 1945 e 1948.
Repúblicas separadas então surgiram em ambos os lados do paralelo 38 em 1948, cada
uma afirmando ser o governo legítimo de toda a Coreia, o que levou à Guerra da Coreia.
Na China, forças nacionalistas e comunistas retomaram a guerra civil em Junho de
1946. As forças comunistas foram vitoriosas e estabeleceram a República Popular da
China no continente, enquanto as forças nacionalistas refugiaram-se na ilha de Taiwan
em 1949 e fundaram a República da China. No Oriente Médio, a rejeição árabe ao Plano
de Partilha da Palestina da ONU e à criação de Israel, marcou a escalada do conflito
árabe-israelense. Enquanto as potências coloniais europeias tentaram reter parte ou a
totalidade de seus impérios coloniais, a sua perda de prestígio e de recursos durante a
guerra fracassou seus objetivos, levando à descolonização da Ásia e da África.

A economia mundial sofreu muito com a guerra, embora os participantes da Segunda


Guerra Mundial tenham sido afetados de forma diferente. Os Estados Unidos
emergiram muito mais ricos do que qualquer outra nação; no país aconteceu o "baby
boom" e em 1950 seu produto interno bruto (PIB) perca pita era maior do que o de
qualquer outra potência e isso levou-o a dominar a economia mundial. O Reino Unido e
os Estados Unidos implementaram uma política de desarmamento industrial na
Alemanha Ocidental entre os anos de 1945 e 1948. Devido à interdependência do
comércio internacional, este levou à estagnação da economia europeia e o atraso, em
vários anos, da recuperação do continente.

A recuperação começou com a reforma monetária de meados de 1948 na Alemanha


Ocidental e foi acelerada pela liberalização da política económica europeia, que o Plano
Marshall (1948-1951) causou tanto direta quanto indiretamente. A recuperação pós-
1948 da Alemanha Ocidental foi chamada de milagre económico alemão. Além disso,
as economias italiana e francesa também se recuperaram. Em contrapartida, o Reino
Unido estava em um estado de ruína económica e entrou em um relativo declínio
económico contínuo ao longo de décadas.

A União Soviética, apesar dos enormes prejuízos humanos e materiais, também


experimentou um rápido aumento da produção no pós-guerra imediato. O Japão passou
por um crescimento económico incrivelmente rápido, tornando-se uma das economias

Professor Agostinho António Ialá Júnior


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mais poderosas do mundo na década de 1980. A China voltou a sua produção industrial
de pré-guerra em 1952.

3. Consequências de guerra
As estimativas para o total de mortos na guerra variam, pois muitas mortes não foram
registadas. A maioria sugere que cerca de 60 milhões de pessoas morreram no conflito,
incluindo cerca de 20 milhões de soldados e 40 milhões de civis. Somente na Europa,
houve 36 milhões de mortes, sendo a metade de civis. Muitos civis morreram por causa
de doenças, fome, massacres, bombardeios e genocídios deliberados. A União Soviética
perdeu cerca de 27 milhões de pessoas durante a guerra, quase metade de todas as
mortes da Segunda Guerra Mundial. Uns em cada quatro cidadãos soviéticos foram
mortos ou feridos nesse conflito.

Do total de óbitos na Segunda Guerra Mundial cerca de 85 por cento, na maior parte
soviéticos e chineses, foram do lado dos Aliados e 15 por cento do lado do Eixo. Muitas
dessas mortes foram causadas por crimes de guerra cometidos pelas forças alemãs e
japonesas nos territórios ocupados. Estima-se que entre 11 e 17 milhões de civis
morreram como resultado direto ou indireto das políticas ideológicas nazistas, incluindo
o genocídio sistemático de cerca de seis milhões de judeus durante o Holocausto,
juntamente com mais cinco milhões de ciganos, eslavos, homossexuais e outras
minorias étnicas e grupos minoritários. Aproximadamente 7,5 milhões de civis
morreram na China durante a ocupação japonesa e os sérvios foram alvejados pela
Ustaše, organização croata alinhada ao Eixo.

A atrocidade mais conhecida cometida pelo Império do Japão foi o Massacre de


Nanquim, na qual centenas de milhares de civis chineses foram estuprados e
assassinados. Entre 3 milhões e 10 milhões de civis, a maioria chineses, foram mortos
pelas forças de ocupação japonesas. Mitsuyoshi Himeta registrou 2,7 milhões de vítimas
durante a política conhecida como Sanko Sakusen. O general Yasuji Okamura
implementou a política em Heipei e Shandong.

As forças do Eixo fizeram uso de armas biológicas e químicas. Os italianos usaram gás
mostarda durante a conquista da Abissínia, enquanto o Exército Imperial Japonês usou
vários tipos de armas biológicas durante a invasão e ocupação da China e nos conflitos
iniciais contra os soviéticos. Tanto os alemães quanto os japoneses testaram tais armas
contra civis e, em alguns casos, sobre prisioneiros de guerra. A Alemanha nazista e o
Império Japão realizaram experiências utilizando seres humanos como cobaias Unidade
731 Temendo punições, vários criminosos de guerra fugiram da Europa após término do
conflito. As rotas de fuga usadas por estes criminosos ficaram conhecidas como as
"linhas de ratos" (Ratlines).

Embora muitos dos atos do Eixo tenham sido levados a julgamento nos primeiros
tribunais internacionais, muitos dos crimes causados pelos Aliados não foram julgados.
Entre os exemplos de ações dos Aliados estão as transferências populacionais na União
Soviética e o internamento de estadunidenses-japoneses em campos de concentração
nos Estados Unidos; a Operação Keelhaul, a expulsão dos alemães após a Segunda

Professor Agostinho António Ialá Júnior


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Guerra Mundial, os estupros em massa de mulheres alemãs pelo Exército Vermelho
Soviético; o Massacre de Katyn cometido pela União Soviética, para o qual os alemães
enfrentaram contra-acusações de responsabilidade. O grande número de mortes por
fome também pode ser parcialmente atribuído à guerra, como a fome de 1943 em
Bengala e a fome de 1945 no Vietname

Também tem sido sugerido como crimes de guerra por alguns historiadores o
bombardeio em massa de áreas civis em território inimigo, incluindo Tóquio e mais
notadamente nas cidades alemãs de Dresden, Hamburgo e Colónia pelos Aliados
ocidentais, que resultou na destruição de mais de 160 cidades e matou um total de mais
de 600 mil civis alemães.

UNIDADE IV: A GUERRA FRIA.


Fotografia do Muro de Berlim registada a partir do lado ocidental. O muro foi
construído em 1961 pelo governo da Alemanha Oriental para evitar que seus habitantes
fugissem e deixassem um vazio economicamente desastroso de trabalhadores. A
barreira se tornou um símbolo da Guerra Fria e sua queda, em 1989, marcou o fim
iminente do conflito.

Mikhail Gorbachev, Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética, e


Ronald Reagan, Presidente dos Estados Unidos, assinando o Tratado INF, em 8 de
dezembro de 1987.

Guerra Fria é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e


conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, compreendendo o
período entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União
Soviética (1991), um conflito de ordem política, militar, tecnológica, económica, social
e ideológica entre as duas nações e suas zonas de influência. É chamada "fria" porque
não houve uma guerra direta entre as duas superpotências, dada a inviabilidade da
vitória em uma batalha nuclear. A corrida armamentista pela construção de um grande
arsenal de armas nucleares foi o objetivo central durante a primeira metade da Guerra
Fria, estabilizando-se na década de 1960 até à década de 1970 e sendo reativada nos
anos 1980 com o projeto do presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan chamado de
"Guerra nas Estrelas".

Uma parte dos historiadores argumenta que foi uma disputa dos países que apoiavam as
Liberdades civis, como a liberdade de opinião e de expressão e de voto, representada
pelos Estados Unidos e outros países ocidentais e do outro lado a doutrina comunista
ateia, onde era suprimida a possibilidade de eleger e de discordar, defendida pela União
Soviética (URSS) e outros países onde o comunismo fora imposto por ela. Outra parte
defende que esta foi uma disputa entre o capitalismo, que patrocinou regimes ditatoriais
na América Latina, representado pelos Estados Unidos, e o socialismo totalitário
expansionista ou socialismo de Estado, onde fora suprimida a propriedade privada,
defendido pela União Soviética (URSS) e China. Entretanto, esta caracterização só pode
ser considerada válida com uma série de restrições e apenas para o período do imediato

Professor Agostinho António Ialá Júnior


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pós-Segunda Guerra Mundial, até a década de 1950. Logo após, nos anos 1960, o bloco
socialista se dividiu e durante as décadas de 1970 e 1980, a China comunista se aliou
aos Estados Unidos na disputa contra a União Soviética. Além disso, muitas das
disputas regionais envolveram Estados capitalistas, como os Estados Unidos contra
diversas potências locais mais nacionalistas.

Dada a impossibilidade da resolução do confronto no plano estratégico, pela via


tradicional da guerra aberta e direta que envolveria um confronto nuclear; as duas
superpotências passaram a disputar poder de influência política, económica e ideológica
em todo o mundo. Este processo se caracterizou pelo envolvimento dos Estados Unidos
e União Soviética em diversas guerras regionais, onde cada potência apoiava um dos
lados em guerra. Estados Unidos e União Soviética não apenas financiavam lados
opostos no confronto, disputando influência político-ideológica, mas também para
mostrar o seu poder de fogo e reforçar as alianças regionais. Neste contexto, os
chamados países não alinhados mantiveram-se fora do conflito, não se alinhando aos
blocos pró-URSS ou pro-estados, formando um "terceiro bloco" de países neutros: o
Movimento Não Alinhado.

Norte-americanos e soviéticos travaram uma luta ideológica, política e económica


durante esse período. Se um governo socialista fosse implantado em algum país do
Terceiro Mundo, o governo norte-americano entendia como uma ameaça à sua
hegemonia; se um movimento popular combatesse um governo aliado ao soviético, logo
poderia ser visto com simpatia pelos Estados Unidos e receber apoio. A Guerra da
Coreia (1950-1953) e a Guerra do Vietname (1962-1975) são os conflitos mais famosos
da Guerra Fria. Além da famosa tensão na Crise dos mísseis em Cuba (1962) e, também
na América do Sul, a Guerra das Malvinas (1982). Entretanto, durante todo este
período, a maior parte dos conflitos locais, guerras civis ou guerras interestatais foi
intensificada pela polarização entre EUA e URSS. Esta polarização dos conflitos locais
entre apenas dois grandes polos de poder mundial é o que justifica a caracterização da
polaridade deste período como bipolar, principalmente porque, mesmo que tenham
existido outras potências regionais entre 1945 e 1991, apenas Estados Unidos e URSS
tinham capacidade nuclear de segundo ataque, ou seja, capacidade de dissuasão nuclear.

1. A Crise no Pós-Guerra
Com o final da Segunda Guerra Mundial, a Europa estava arrasada e ocupada pelos
exércitos das duas grandes potências vencedoras, os Estados Unidos e a URSS. O
desnível entre o poder destas duas superpotências e o restante dos países do mundo era
tão gritante, que rapidamente se constitui um sistema global bipolar, ou seja, centrada
em dois grandes polos.

Os Estados Unidos defendiam a economia capitalista, argumentando ser ela a


representação da democracia e da liberdade. Em contrapartida a URSS enfatizava o
socialismo, argumentando em defesa do proletariado e solução dos problemas sociais.

Os Aliados divergiam sobre a forma de como manter a segurança do pós-guerra. Os


aliados ocidentais queriam criar uma rede de segurança que, com governos quanto mais
possível democráticos, resolvessem suas diferenças de forma pacífica através de

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organizações internacionais. A Rússia devido à experiência, através da história de
invasões frequentes, bem como a perda humana estimada em 27 milhões e a destruição
sofrida durante a Segunda Guerra Mundial, queria garantir sua segurança pelo controle
dos assuntos internos de países vizinhos.

Sob a influência das duas doutrinas, o mundo foi dividido em dois blocos
liderados ,cada um, por uma das superpotências: a Europa Ocidental e a América
Central e do Sul sob influência cultural, ideológica e económica estadunidense, e parte
do Leste Asiático, Ásia central e Leste europeu, sob influência soviética. Assim, o
mundo dividido sob a influência das duas maiores potências económicas e militares da
época, estava também polarizado em duas ideologias opostas: o Capitalismo e o
Socialismo.

Entretanto era notória desde o início da Guerra Fria a superioridade económica norte
americana. Em 1945 os Estados Unidos tinham metade do PIB mundial, 2/3 das
reservas mundiais de ouro, 60% da capacidade industrial ativa do mundo, 67% da
capacidade produtora de petróleo, além da maior Marinha e da maior Força Aérea que
existia. Seus exércitos ocupavam parte da Europa ocidental e o Japão, algumas das
zonas foram as mais ricas e industrializadas do mundo antes da Guerra. Também
ocupavam parte do sudeste asiático, especificamente metade da península da Coreia e
grande parte das ilhas do Pacífico. O território continental americano nunca havia sido
realmente ameaçado durante a Segunda Guerra Mundial, sendo que a batalha travada
geograficamente mais próxima do continente foi a de Pearl Harbor, no Havai.

Por sua vez a União Soviética ocupava a metade oriental da Europa e a metade norte da
Ásia, uma parte da Manchúria e da Coreia, regiões tradicionalmente agrícolas e pobres.
O próprio território soviético havia sido palco de batalhas durante a II Guerra Mundial,
contra divisões alemãs. O resultado é que em 1945 os Estados Unidos contabilizavam
cerca de 500 mil mortos na guerra, contra cerca de 20 milhões de soviéticos mortos
(civis e militares). Centenas de cidades soviéticas estavam destruídas em 1945. A maior
parte das indústrias, da capacidade produtiva agrícola e da infra-estrutura de transportes,
energia e comunicações estava destruída ou seriamente comprometida.

A Operação Impensável foi o nome de um plano inicial de guerra feito pelo governo
britânico em 1945. Tal operação consistia na invasão da então União Soviética por
forças militares britânicas, poloneses exilados, estadunidenses e mesmo alemães recém
rendidos.

2. Bloqueio de Berlim (Junho/1948 - Maio/1949)


Após a derrota alemã na Segunda Guerra, os países vencedores lhe impuseram pesadas
sanções. Dentre as quais a divisão da Alemanha em 4 áreas administrativas, cada uma
chefiada por um dos vencedores: Estados Unidos, França, Reino Unido e União
Soviética e duas zonas de influência: Capitalista e Socialista. Berlim, a capital da
Alemanha, também foi dividida, ainda que sob território de influência soviética. A

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comunicação entre o lado ocidental da cidade fragmentada e as outras zonas era feita
por pontes aéreas e terrestres.

Em 1948, numa tentativa de controlar a inflação galopante da Alemanha, os Estados


Unidos, a França e o Reino Unido criaram uma "trizona" entre suas zonas de influência,
para fazer valer nestes territórios o Deutsche Mark (Marco alemão). Josef Stalin, então
líder da URSS, reprovou a ideia e, como contra-ataque, procurou reunificar Berlim sob
sua influência. Desse modo, em 23 de Junho de 1948, todas as rotas terrestres foram
fechadas pelas tropas soviéticas, privando a cidade de alimentos e combustíveis, numa
violação dos acordos da Conferência de Ialta.

Para não abandonar as zonas ocidentais de Berlim e dar vitória à União Soviética, os
países ocidentais prontificaram-se a criar uma grande ponte aérea, em que aviões de
transporte de cargas estado-unidenses, ingleses, e australianos saíam da "trizona"
levando mantimentos aos mais de dois milhões de berlinenses que viviam no ocidente
da cidade. Estaline reconheceu a derrota dos seus planos em 12 de Maio de 1949. Pouco
depois, as zonas estadunidense, francesa e britânica se unificaram, originando a
Bundesrepublik Deutschland (República Federativa da Alemanha ou Alemanha
Ocidental), cuja capital era Bonn. Da zona soviética surgiu a Deutsche Demokratische
Republik (República Democrática Alemã ou Alemanha Oriental), com capital Berlim, a
porção oriental.

3. Plano Marshall e COMECON


A fragilização das nações europeias, após uma guerra violenta, permitiu que os Estados
Unidos estendessem uma série de apoios económicos à Europa aliada, para que estes
países pudessem se reerguer e mostrar as vantagens do capitalismo. Assim, o Secretário
de Estado dos Estados Unidos, George Marshall, propõe a criação de um amplo plano
económico, que veio a ser conhecido como Plano Marshall. Tratava-se da concessão de
uma série de empréstimos a baixos juros e investimentos públicos para facilitar o fim da
crise na Europa Ocidental e repelir a ameaça do socialismo entre a população
descontente. Durante os primeiros anos da Guerra Fria, principalmente, os Estados
Unidos fizeram substanciais investimentos nos países aliados, com notável destaque
para o Reino Unido, a França e a Alemanha Ocidental.

O Japão, entre 1947 e 1950, recebeu menos apoio americano. A situação só se


transformou com a explosão da Guerra da Coreia, que fez do Japão o principal aliado
das tropas das Nações Unidas. Após a declaração da guerra, os americanos realizaram
importantes investimentos na economia japonesa, que também foi impulsionada com a
demanda de guerra.

Em 1951 foi elaborado o Plano Colombo, uma organização realizada por países do
Sudeste Asiático, com intenções de reestruturação social. Os norte-americanos
realizaram alguns investimentos para estimular a economia do sub-continente, mas o
volume de capital investido foi muito menor ao destacado para o Plano Marshall, porém
bem menos ambicioso, para estimular o desenvolvimento de países do sul e sudeste da
Ásia.

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Em resposta ao plano económico estadunidense, a União Soviética propôs-se a ajudar
também seus países aliados, com a criação do COMECON (Conselho para Assistência
Económica Mútua). O COMECON fora proposto como maneira de impedir os países-
satélites da União Soviética de demonstrar interesse no Plano Marshall, e não
abandonarem a esfera de influência de Moscou.

Terminada a Segunda Guerra Mundial, as duas potências vencedoras dispunham de uma


enorme variedade de armas, muitas delas desenvolvidas durante o conflito, outras
obtidas dos cientistas alemães e japoneses.

Novos tanques, aviões, submarinos, navios de guerra e mísseis balísticos constituíam as


chamadas armas convencionais. Mas também haviam sido desenvolvidas novas
gerações de armas não convencionais, como armas químicas, que praticamente não
foram utilizadas em batalha. A Alemanha que desenvolveu a maior indústria de armas
químicas do mundo, utilizou esses gases mortais em câmaras de gás nos campos de
concentração. Algumas armas biológicas foram testadas, principalmente pelo Japão na
China ocupada, mas a tecnologia da época ainda era muito pouco eficiente. O maior
destaque ficou com uma nova arma não-convencional, mais poderosa que qualquer
outra arma já testada até então: bomba atómica. Só os Estados Unidos tinham essa
tecnologia, o que aumentava em muito seu poderio bélico e sua superioridade militar
estratégica em relação aos soviéticos.

A União Soviética iniciou então seu programa de pesquisas para também produzir tais
bombas, o que conseguiu em 1949. Mas logo a seguir, os Estados Unidos testavam a
primeira bomba de hidrogénio, centena de vezes mais poderosa. A União soviética
levaria até 1953 para desenvolver a sua versão desta arma, dando início a uma nova
geração de ogivas nucleares menores, mais leves e mais poderosas.

A União Soviética obteve a tecnologia para armas nucleares através de espionagem. Em


1953, nos Estados Unidos, o casal Julius e Ethel Rosenberg foi condenado a morte por
transmitir à União Soviética segredos sobre a bomba atómico norte americana.

Essa corrida ao armamento era movida pelo receio recíproco de que o inimigo passasse
a frente na produção de armas, provocando um desequilíbrio no cenário internacional.
Se um deles tivesse mais armas, seria capaz de destruir o outro.

A corrida atingiu proporções tais que, já na década de 1960, os Estados Unidos e a


URSS tinham armas suficientes para vencer e destruir qualquer outro país do mundo.
Uma quantidade tal de armas nucleares foi construída, que permitiria a qualquer uma
das duas superpotências, sobreviver a um ataque nuclear maciço do adversário, e a
seguir, utilizando apenas uma fração do que restasse do seu arsenal, pudesse destruir o
mundo. Esta capacidade de sobreviver a um primeiro ataque nuclear, para a seguir
retaliar o inimigo com um segundo ataque nuclear devastador, produziu medo suficiente
nos líderes destes dois países para impedir uma Guerra Nuclear, sintetizado em
conceitos como Destruição Mútua Assegurada ou "Equilíbrio do terror".

4. OTAN e Pacto de Varsóvia

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Em 1949 os Estados Unidos e o Canadá, juntamente com a maioria dos países europeus,
suportados alguns destes com governos que incluíam os socialistas, criaram a OTAN
(Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar com o objetivo de
proteção internacional em caso de um suposto ataque dos países do leste europeu.

Em resposta à OTAN, a URSS firmou entre ela e seus aliados o Pacto de Varsóvia
(1955) para unir forças militares da Europa Oriental. Logo as alianças militares estavam
em pleno funcionamento, e qualquer conflito entre dois países integrantes poderia
ocasionar uma guerra nunca vista antes.

A tensão sentida pelas pessoas com relação às duas superpotências acentuou-se com o
início da corrida armamentista, cujo “vencedor” seria a potência que produzisse mais
armas e mais tecnologia bélica. Em contraponto, a corrida espacial trouxe grandes
inovações tecnológicas e proporcionou um grande avanço nas telecomunicações e na
informática.

O macartismo, criado pelo senador estadunidense Joseph McCarthy nos anos 1950,
culminou na criação do Comité de Investigação de Atividades Antiamericanas do
Senado dos Estados Unidos. Em outras palavras, toda e qualquer atividade pro-
comunismo estava terminantemente proibida e qualquer um que as estimulasse estaria
sujeito à prisão ou extradição. Inúmeros artistas e produtores de filmes ou de programas
de televisão que criticavam o governo estadunidense foram acusados de comunistas. Foi
criada a Lista Negra de Hollywood contendo os nomes de pessoas do meio artístico
acusados de atividades antiamericanas.

A era do macartismo acabou por extirpar do meio artístico norte americano a maior
parte dos produtores progressistas ou simpatizantes da esquerda. A URSS aplicou
extensivamente o Artigo 58 de seu Código Penal na Zona de ocupação soviética na
Alemanha, onde as pessoas eram internadas como "espiões" pela simples suspeita de
oposição ao regime stalinista, como pelo simples ato de contatar organizações com base
nas Zonas ocupadas pelos Aliados ocidentais. No campo especial da NKVD em
Bautzen, 66% dos presos, tinham sido encarcerados por suspeita de apoiarem o
capitalismo.

Durante o período da Guerra Fria, a disputa ideológica entre os dois blocos foi acirrada.
As duas superpotências fizeram grandes esforços de propaganda política no intuito de
conquistar o apoio mundial. Tanto Estados Unidos quanto União Soviética
concentravam sua propaganda político-ideológica em duas frentes: desacreditar a
ideologia e as ações do adversário e, ao mesmo tempo, convencer a opinião
internacional de que seu sistema político, económico e sociocultural era superior.

Os serviços de inteligência e espionagem na Guerra Fria desempenharam papel decisivo


nesta disputa. Usando de contra-informação, agentes soviéticos infiltrados conseguiram
induzir governos ocidentais ao erro, atuando nos EUA já na presidência de Franklin
Delano Roosevelt. Por exemplo, Harry Dexter White, funcionário que ocupou
importantes cargos no governo estadunidense, era na realidade, um agente a serviço da
URSS. E que, por meio de manipulação de informações, ajudou a sabotar as relações
nipo-americanas gerando tensão e desconfianças em ambos os lados. As ações de White

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levaram o Império do Japão a, erroneamente, tomar a decisão de lançar o ataque a Pearl
Harbor, precipitando a entrada dos EUA na guerra mundial, o que era de interesse da
URSS. Ainda durante a II Guerra Mundial, britânicos e estadunidenses retiraram o
apoio dado ao general conservador Draža Mihailović líder dos Chetniks (movimento de
resistência na-tifascista), resultando na implantação do comunismo na Jugoslávia no
pós-guerra, sob comando de Josip Broz Tito. Na Guerra Civil Chinesa, os EUA não
concederam apoio efetivo a Chiang Kai-shek, líder do exército nacionalista do
Kuomintang. Assim, o movimento comunista, liderado por Mao Tsé-Tung, foi
vitorioso. Estes equívocos (e outros) deveram-se ao trabalho de desinformação
empregado pelos soviéticos.

Em seu avanço para a Alemanha Nazista, o exército vermelho ocupou o Leste Europeu,
levando governos pró soviéticos ao poder nos países da região. Do "socialismo em um
só país" chegou-se à "revolução mundial" e, no final do conflito, o comunismo estava
presente em 12 países.

Com a vitória sobre o nazifascismo garantida, o general George S. Patton desejava


enfrentar os soviéticos, defendendo a estratégia de "rollback" (confronto militar direto
ou guerra "quente"), pois considerava o comunismo uma ameaça maior. O exército dos
Estados Unidos encontrava-se na Europa e a URSS estava esgotada pela guerra. Na
visão de Patton, aquela era uma oportunidade única para enfrentá-los que não deveria
ser desperdiçada.

Porém, terminada a guerra, o bloco ocidental adotou a "estratégia de contenção" em


lugar do confronto direto. Esta foi aplicada numa tentativa de impedir uma maior
expansão geopolítica do bloco comunista. A contenção teve êxito em barrar a expansão
do comunismo na Europa Ocidental, mas não impediu o surgimento de regimes
comunistas em países da América Latina, África e Ásia.

Vários dissidentes soviéticos desertaram para o ocidente. Muitos destes desertores


denunciaram crimes contra a humanidade cometidos pela URSS, seus estados satélites e
por movimentos marxistas-leninistas associados. Também foram reveladas ações de
espionagem e esforços de propaganda para provocar subversão no mundo ocidental.
Muitos dissidentes que revelaram fatos sobre a URSS, foram tratados com ceticismo ou
descrédito por governos e mídia de países democráticos e também foram alvo de
campanhas difamatórias movidas pelo governo soviético.

Victor Kravchenko pediu asilo político aos EUA em 1944. Dois anos depois publicou o
livroI Choose Freedom (Eu Escolhi a Liberdade). Nesta obra, ele denuncia os trágicos
resultados da coletivização forçada na União Soviética e as condições desumanas dos
Gulags (campos de trabalho forçado) mais de trinta anos antes da publicação de
Arquipélago Gulag de Alexander Soljenítsin. Kravchenko foi vítima de uma campanha
difamatória, neste caso, veiculada pela revista francesa Les Lettres Françaises. Isto,
valeu ao semanário um processo por difamação, vencido por Kravchenko, que foi
conhecido como "o julgamento do século".

Igor Gouzenko, ex funcionário da embaixada soviética no Canadá, denunciou que a


espionagem de seu país roubava dos EUA segredos para a fabricação de armas
nucleares. O livro Como Começou a Guerra Fria traz detalhes sobre as denúncias de
Gouzenko. Em 1953, os norte americanos Julius e Ethel Rosenberg foram condenados à

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pena de morte por traição, acusados de transmitirem segredos, incluindo tecnologia
nuclear, para a URSS.

Anatoliy Golitsyn afirmou que a ruptura sino-soviética (seguido do conflito fronteiriço


sino-soviético) foi uma farsa encenada para criar a ilusão de que o bloco comunista
estava dividido internamente e, assim, enganar o ocidente. Estudiosos acusam o
Movimento Não Alinhado de ter sido idealizado pelos serviços de inteligência
soviéticos, com o objetivo de disseminar, no terceiro mundo, o antiamericanismo
"camuflado" de neutralidade. Golitsyn defendia a ideia que Ruptura Tito-Stalin não
havia sido real, atendendo aos interesses da propaganda comunista ao reforçar a
sensação da existência de neutralidades dentro do bloco.

Svetlana Alliluyeva, filha de Josef Stalin, em viagem à Índia, solicitou asilo político
para a embaixada norte americana em Nova Deli. Sua autobiografiaTwenty Letters To A
Friend[25] seria publicada em 1967 coincidindo com o 50º aniversário da Revolução
Russa. Pressões da URSS adiaram o lançamento do livro. Svetlana denunciou as
violências praticadas pelo regime soviético, antes e depois de seu pai.

Yuri Bezmenov, correspondente da agência de notícias RIA Novosti na Índia e agente


da KGB, desertou para o Canadá em 1970. Revelou ao ocidente as estratégias usadas
para incitar a subversão em países nas quais a URSS almejava implantar governos
satélites. Descreveu que o processo de subversão de uma sociedade consiste em quatro
fases distintas ("desmoralização", "desestabilização", "crise", "normalização"). Cada
fase busca um objetivo: desacreditar ("desmoralizar") religião, valores e cultura;
desorganizar ("desestabilizar") as estruturas políticas, económica e sócio-cultural;
incitar desordem generalizada ("crise") precipitando a implantação de um governo pró
soviético e, após, estabilizar ("normalizar") a situação deste país. Segundo ele, a
subversão é executada por agentes estrangeiros ou colaboradores locais que infiltram-se
em diversas áreas, que vão de grupos religiosos, partidos políticos, meio empresarial e
mídia conservadora a defensores dos direitos civis, homossexuais, feministas e indústria
cultural. Alertava que, na fase de "normalização" os colaboradores mais idealistas e
radicais (os "idiotas úteis") eram descartados, muitas vezes sendo eliminados
fisicamente. Yuri Bezmenov deu inúmeros exemplos disto em livros, palestras,
entrevistas e conferências.

No período pós Guerra Fria, organizações internacionais reprovaram as violências


praticadas em nome do comunismo. Em 25 de Janeiro de 2006, o Conselho da Europa
oficializou uma resolução condenando os crimes dos governos que adotaram este
sistema. Em 2008 foi firmada, na República Tcheca, a Declaração de Praga sobre
Consciência Europeia e Comunismo (colocando no mesmo nível os crimes do
marxismo-leninismo e do nazifascismo) e o Parlamento Europeu instituiu o Dia
Europeu da Memória das Vítimas do Estalinismo e do Nazismo, internacionalmente
conhecido como o Dia da Fita Preta, (23 de Agosto, dia da assinatura do Pacto Molotov-
Ribbentrop).

Governos autoritários pró EUA e pró URSS, em todo o mundo, fizeram muitas vítimas.
Repressão política, censura, exílio, tortura e assassinato foram praticados igualmente
por governos comunistas e anticomunistas. Regimes políticos conservadores,
reacionários e contra-revolucionários de direita, apoiados pelos estadunidenses (ver:
Ações de mudanças de regimes patrocinadas pela CIA), foram responsáveis por graves

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violações dos direitos humanos (ver: Arquivo do Terror, Operação Condor e The War
on Democracy). Contudo, estatísticas atuais comprovam que o total de vítimas dos
regimes comunistas, alinhados ou não, foi numericamente muito maior.

3.1. Guerra da Coreia (1950 - 1953)


O único grande confronto militar que envolveu batalhas em que de um lado haviam
forças militares estadunidenses e do outro forças soviéticas, foi a Guerra da Coreia. A
península da Coreia foi dividida, em 1945, pelo paralelo 38 N, em duas zonas de
influência: uma ao norte, ocupada pela União Soviética, e a partir de 1949 pela
República Popular da China, comunista; era a República Popular Democrática da
Coreia. A outra porção, ao sul do paralelo 38 N, foi ocupada pelas tropas norte-
americanas e permaneceu capitalista com apoio das nações ocidentais passou a ser
conhecida como República da Coreia.

Em 1950, os líderes da Coreia do Norte, incentivada pela vitória do socialismo na China


um ano antes, recebeu apoio da URSS para tentar reunificar a Coreia sob o comando de
um governo socialista, invadiu e ocupou a capital sul-coreana Seul, desencadeando um
conflito armado. Os Estados Unidos solicitaram ao Conselho de Segurança das Nações
Unidas, a formação de uma força multinacional para defender a Coreia do Sul. Na
ocasião a URSS se recusou a participar da reunião do Conselho de Segurança das
Nações Unidas em que esta medida foi discutida, e os Estados Unidos conseguiram
legitimar a primeira grande batalha militar da Guerra Fria contra o bloco soviético.

As tropas anglo-americanas fizeram a resistência no sul, reconquistando a cidade e


partindo em uma investida contra o norte. A China, sentindo-se ameaçada pela
aproximação das forças ocidentais, enviou reforços à frente de batalha, fazendo da
Coreia um grande campo de batalha.

Após muitas batalhas, com avanços e recuos de ambos os lados, um primeiro acordo de
paz é negociado, mas demora dois anos para ser ratificado. O General americano
Douglas MacArthur chegou a solicitar o uso de armas nucleares contra a Coreia do
Norte e a China, mas foi afastado do comando das forças americanas.

Apenas quando a União Soviética já havia testado sua primeira bomba de hidrogénio,
em 1953, é que um armistício foi assinado em Panmunjon, em 27 de Julho de 1953. O
acordo manteve a península da Coreia dividida em dois Estados soberanos, praticamente
como antes do início da guerra, com mudanças mínimas na linha de fronteira. Essa
divisão da Coreia em dois países se mantém até hoje. Em Junho de 2000, os governos
das duas Coreias anunciaram planos de reaproximação dos dois países. Isso significou o
início da desmilitarização da região, a diminuição do isolamento internacional da Coreia
do Norte e, para milhares de coreanos, a possibilidade de reencontrar parentes separados
há meio século pelo conflito. Pela tentativa, o então presidente da Coreia do Sul, Kim
Dae Jung, recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2000.

3.2. Corrida Espacial

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Um dos campos que mais se beneficiaram com a Guerra Fria foi o da tecnologia. Na
urgência de se mostrarem superiores aos rivais, Estados Unidos e União Soviética
procuraram melhorar os seus arsenais militares. Como consequência, algumas
tecnologias conhecidas hoje (como alguns tecidos sintéticos) foram frutos dessa corrida.

A corrida espacial está nesse contexto. A tecnologia aeroespacial necessária para o


lançamento de mísseis e de foguetes é praticamente a mesma, e portanto os dois países
investiram pesadamente na tecnologia espacial.

Sentindo-se ameaçada pelos bombardeiros estratégicos americanos, carregados de


artefatos nucleares que sobrevoavam as fronteiras com a URSS constantemente, a
URSS começou a investir em uma nova geração de armas que compensasse esta
debilidade estratégica. Assim, a União Soviética dá início à corrida espacial no ano de
1957, quando os soviéticos lançaram Sputnik 1, o primeiro artefato humano a ir ao
espaço e orbitar o planeta. Em Novembro do mesmo ano, os russos lançaram Sputnik 2
e, dentro da nave foi a bordo o primeiro ser vivo a sair do planeta: a cadela Laika.

Após as missões Sputnik, os Estados Unidos entraram na corrida, lançando o Explorer I,


em 1958. Mas a União Soviética tinha um passo na frente, e em 1961 os soviéticos
conseguiram lançar a Vostok 1, que era tripulada por Yuri Gagarin, o primeiro ser
humano a ir ao espaço e voltar são e salvo.

A partir daí, a rivalidade aumentou a ponto de o presidente dos Estados Unidos, John F.
Kennedy, prometer enviar americanos à Lua e trazê-los de volta até o fim da década. Os
soviéticos apressaram-se para vencer os estadunidenses na chegada ao satélite. As
missões Zond deveriam levar os primeiros humanos a orbitarem a Lua, mas devido a
falhas, só foi possível aos soviéticos os envios de missões não-tripuladas, Zond 5 e
Zond 6, em 1968. Os Estados Unidos, por outro lado, conseguiram enviar a missão
tripulada Apollo 8 no Natal de 1968 a uma órbita lunar.

O passo seguinte, naturalmente, seria o pouso na superfície da Lua. A missão Apollo 11


conseguiu realizar com sucesso a missão, e Neil Armstrong e Edwin Aldrin tornaram-se
os primeiros humanos, respectivamente, a caminhar em outro corpo celeste.

A corrida espacial se tornou secundária com a distensão dos anos 1960-1970, mas volta
a ter relevância nos anos 1980, no que pode ser considerado o último capítulo daquela
disputa. O presidente dos Estados Unidos anuncia investimentos bilionários na
construção de um sistema espacial de defesa anti-mísseis balísticos. A oficialmente
denominada Iniciativa Estratégica de Defesa e conhecida como guerra nas estrelas,
poderia defender o território americano dos mísseis russos e acabar com a lógica da
Destruição Mútua Assegurada.

Neste contexto os Estados Unidos enviam ao espaço o primeiro veículo espacial


reutilizável: o ônibus espacial. A URSS levaria alguns anos para construir a sua versão
do ônibus espacial, (o Buran) mas foi a primeira a colocar no espaço uma nave espacial
armada de ogivas nucleares, a Polyus, que teria sido destruída pelos próprios líderes
soviéticos em 1987, quando já estavam avançadas as negociações diplomáticas para por
fim à Guerra Fria.

3.3. Coexistência pacífica (1953 - 1962)

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Após a morte de Stalin, em 1953, Nikita Khrushchov subiu ao posto de Secretário-Geral
do Partido Comunista da União Soviética e, portanto, governante dos soviéticos.
Condenou os crimes de seu antecessor (ver: Discurso secreto) e pregou a política da
coexistência pacífica entre os soviéticos e americanos, o que significaria os esforços de
ambos os lados em evitar o conflito militar, havendo apenas confronto ideológico e
tecnológico (corrida espacial).

Houve apenas tentativas de espionagem. Esta política também possibilitou uma


aproximação entre os líderes. Khrushchov reuniu-se diversas vezes com os presidentes
americanos: com Dwight D. Eisenhower, em 1956, no Reino Unido; em 1959 nos
Estados Unidos; e em 1960 na França; e com Kennedy se encontrou uma vez, em 1961,
em Viena, Áustria.

3.4. Os países não alinhados


Um grupo de países optou por não tomar parte na Guerra Fria. Em sua maioria, países
africanos, asiáticos e ex-colónias europeias de independência recente. Para garantir sua
neutralidade, os assim denominados países não alinhados promoveram, em Abril de
1955 e através da Conferência de Bandung, a criação do Movimento Não Alinhado.
Seu objetivo era dar apoio e segurança aos países em desenvolvimento contra as duas
superpotências. Condenavam o colonialismo, imperialismo e o domínio de países
estrangeiros em geral.

A primeira conferência do movimento foi realizada em Setembro de 1961, na cidade de


Belgrado, com a presença de representantes de 25 países. Nessas conferências, se torna
óbvio os conflitos entre os países do movimento, como por exemplo, entre o Irã e o
Iraque, o que favorecia a posição das duas superpotências e até da China. Além disso,
era difícil a neutralidade dos países por causa da fraca economia e agrava-se pelo atraso
no desenvolvimento dos países recém-independentes.

Com o fim da Guerra Fria e a extinção da União Soviética, o princípio político de


"neutralidade" deixou de ter um sentido comum.

4. Crises da Guerra Fria (1956 - 1962)


4.1. Revolução húngara (1956)

Na Hungria, a ocupação da Hungria pelo Exército Vermelho, após a Segunda Guerra


Mundial, garantiu a influência da União Soviética sobre a região. O país no período
pós-guerra tornou-se uma democracia pluripartidária, até 1949, quando a República
Popular da Hungria foi declarada e tornou-se um estado comunista liderado por Mátyás

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Rákosi. Com o novo governo, começou uma série de prisões em campos de
concentração, torturas, julgamentos e deportações para o leste. A economia não estava a
ir muito bem, sofria com a desvalorização da moeda húngara, o pengő, considerada uma
das mais altas hiperinflações conhecidas.

Esgotados com os índices económicos cada vez piores e com os governos de Enrö Gero
e Mátyás Rákosi, a população tomou as ruas de Budapeste na noite de 23 de outubro de
1956. O objetivo desse levante era o fim da ocupação da União Soviética e a
implantação do "socialismo verdadeiro". Houve um confronto entre autoridades
policiais e manifestantes e durante esse confronto, houve a derrubada da estátua de Josef
Stálin.

Mesmo após a troca de governo, os conflitos foram intensificando-se. Com isso, os


soviéticos organizaram uma trégua com os populares. Logo após, o exército soviético
executou uma violenta ação contra os populares, colocando no poder Janos Kadar. No
dia 4 de Novembro de 1956, um novo exército soviético provocou destruição nas ruas
da capital húngara. Os populares foram derrubados.

4.2. Guerra do Vietname (1962 - 1975)


A Guerra do Vietname foi um dos maiores confrontos militares envolvendo capitalistas
e socialistas no período da Guerra Fria. Opôs o Vietname do Norte e guerrilheiros pro-
comunistas do Vietname do Sul contra o governo pro-capitalista do Vietname do Sul e
os Estados Unidos.

Após a Convenção de Genebra (1954), o Vietname, recém-independente da França,


seria dividido em duas zonas de influência, como a Coreia, e estas zonas seriam
desmilitarizadas e mantidas cada uma sob um dos regimes (capitalismo e socialismo).
Foi estipulada uma data (1957) para a realização de um plebiscito, decidindo entre a
reunificação do país ou não e, se sim, qual regime seria adotado.

Infelizmente para o Vietname do Sul, o líder do Norte, Ho Chi Minh, era muito
benquisto entre a população, por ser defensor popular e herói de guerra. O governo do
Vietname do Sul decidiu proibir o plebiscito de ocorrer em seu território, pois queria
manter o alinhamento com os estadunidenses. Como o Vietname do Norte queria a
reunificação, lançaram-se em uma guerra contra o Sul.

O Vietname do Norte contou com o apoio da Frente de Liberação Nacional, ou


vietcongs, um grupo de rebeldes no Vietname do Sul. E o Vietname do Sul contou, em
1965, com a valiosa ajuda dos Estados Unidos. Eles entraram na guerra para manter o
governo capitalista no Vietname, e temendo a ideia do "efeito dominó" (Teoria do
Dominó) no qual, ao verem um país que se libertou do capitalismo preferindo o
socialismo, outros países poderiam seguir o exemplo (como foi o caso de Cuba).

Até 1965, a guerra estava favorável ao Vietname do Norte, mas quando os Estados
Unidos se lançaram ao ataque contra o Vietname do Norte, tudo parecia indicar que
seria um grande massacre dos vietnamitas, e uma fácil vitória ocidental. Mas os
vietnamitas do norte viram nessa guerra uma extensão da guerra de independência que

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haviam acabado de vencer contra a França, e lutaram incessantemente. Contando com o
conhecimento do território, os vietnamitas do norte conseguiram vencer os Estados
Unidos, o que é visto como uma das mais vergonhosas derrotas militares dos Estados
Unidos. Em 1975, os Estados Unidos e o Vietname do Norte assinaram os Acordos de
Paz de Paris, onde os Estados Unidos reconheceram a unificação do Vietname sob o
regime comunista de Ho Chi Minh.

A derrota dos Estados Unidos evidenciou o fracasso da política norte-americana na Ásia


e acarretou a reformulação, no Governo Nixon, da política externa no Oriente. Com
isso, os norte-americanos buscaram uma maior flexibilidade e novos parceiros,
destacando a aproximação com a China comunista.

4.3. A Distensão na Europa


A Europa, continente que mais sofreu com a divisão mundial, também sofreu os efeitos
da distensão política. Os países começaram a questionar as ideologias a que foram
impostos, e optaram cada vez mais pelo abrandamento, no lado ocidental, e pela revolta
popular seguida de forte repressão, no lado oriental.

Em 1968, a Checoslováquia viu uma grande manifestação popular apoiar ideias de


abertura política em direção à social-democracia e a um "socialismo com uma face
humana". Este movimento ficou conhecido como Primavera de Praga, em alusão à
capital da Tchecoslováquia, Praga, local onde os movimentos populares tomavam
corpo. Temendo a liberdade política da Checoslováquia, Leonid Brejnev, líder da
URSS, ordenou a invasão de Praga e a repressão do movimento popular.

Em 1966, Charles de Gaulle, presidente da França, manteve os seus ideais de


nacionalismo francês e antiamericanismo e desalinhou-se com as práticas
estadunidenses, saindo da OTAN.

Em 1969, o chanceler da Alemanha Ocidental anuncia a "Ostpolitik", uma política de


aproximação dos vizinhos, os alemães orientais. Em 1972 os Estados passam a se
reconhecerem mutuamente podendo, assim, voltar a integrar a ONU.

5. Descolonização de África
Durante séculos XV/XVI, os estados da Europa começaram a descobrir a África,
encontraram aí reinos ou estados, que era de feição árabe e berbere ou islamizados, no
norte e ocidente daquele continente, que era habitados por populações negras
pertencentes a uma variedade de grupos, principalmente ao Sul do Saara, com a
importante excepção do império cristão da Etiópia. Os primeiros contactos com estes
povos não foram imediatamente de dominação, mas de carácter comercial. No entanto,

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os conflitos originados pela competição entre as várias potências europeias levaram no
século XIX à dominação, e geralmente à destruição de reinos, processo este que
culminou com a partilha do Continente Negro pelos estados europeus na Conferência de
Berlim, em 1885.

No entanto, as duas grandes guerras que fustigaram a Europa durante a primeira metade
do século XX deixaram aqueles países sem condições para manterem um domínio
económico e militar nas suas colónias. Estes problemas, associados a um movimento
independentista que tomou uma forma mais organizada na Conferência de Bandung,
levou as antigas potências coloniais a negociarem a independência das colónias.

Apesar da união entre os territórios africanos, firmada na Conferência dos Povos da


África, realizada na cidade de Acra (capital do Gana, primeira colónia que se tornou
independente), a independência de alguns países, como a Argélia, a República
Democrática do Congo e as então colónias portuguesas Angola, Guiné-Bissau e
Moçambique, somente foi alcançada após desgastantes conflitos que se estenderam por
até anos de guerra.

5.1. Independência das colónias francesas


A seguir à Segunda Guerra Mundial a França, que já se encontrava a braços com
insurreição na Argélia e na Indochina e depois de já ter perdido Marrocos e a Tunísia,
em 1956, como resultado de movimentos independentistas aos quais foi obrigada a
ceder, tentou em Setembro de 1958, através dum referendo uma manobra de dar uma
“autonomia” às suas colónias, que continuariam a fazer parte da “Comunidade
Francesa”.

Com exceção da Guiné, que votou pela independência imediata, a Costa do Marfim, o
Níger, o Alto Volta e o Daomé decidiram formar a “União Sahel-Benin” e, mais tarde, o
“Conselho do Entendimento”, enquanto o Senegal se unia ao “Sudão Francês” para
formar a “Federação do Mali”. Estas uniões não duraram muito tempo e a França, em
1960, reconheceu a independência da maioria das suas colónias africanas.

5.1.1. A descolonização em Djibouti


Djibouti foi uma das colónias francesas que decidiu, em 1958, manter-se na
“Comunidade Francesa”, mas, devido a problemas de governação, a população local
começou a manifestar-se a favor da independência. Depois de um novo referendo, em
1977, o Djibouti tornou-se finalmente um país independente. Nas Comores, a história
foi semelhante, mas com uma declaração unilateral de independência, em 1975, que foi

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reconhecida no mesmo ano, mas que não abrangeu a ilha Mayotte, onde a população
votou por manter-se como um território francês.

A ilha da Reunião é igualmente um departamento francês, governando, para além da


ilha principal, várias outras ilhas que são reclamadas por Madagáscar e Maurícia.

5.1.2. A descolonização na Argélia


A Argélia, ocupada pelos franceses desde o século XIX, faz parte da Região do
Maghreb, entre o deserto do Saara e o Mar Mediterrâneo.

Enquanto em países como a Tunísia e do Marrocos a independência foi relativamente


tranquila, na Argélia, argelinos e franceses estiveram envolvidos em um conflito, após
diversos movimentos fracassados contra a ocupação francesa, que ocorriam desde a
década de 1940 do século XX. Os movimentos aumentaram após a Segunda Guerra
Mundial, e foram reprimidos pelas forças militares francesas. Em 1954, eclodiu a
sangrenta guerra que só terminou oito anos depois, com a declaração de independência
da Argélia.

5.1.3. Independência das colónias italianas


A Itália foi o último país europeu a chegar ao continente africano e também o primeiro a
retirar-se.

As únicas colónias italianas em África foram a Líbia, Eritreia e parte da Somália. A


Líbia tornou-se independente em 1951 e a Somália Italiana em 1960. No mesmo dia, a
antiga Somália Italiana uniu-se à Somália Britânica para dar origem ao que é hoje a
República de Somália.

Além dessas colónias, a Itália invadiu o atual território da Etiópia em 1936. Depois da
invasão, a Etiópia perdeu sua independência para a Itália e logo foi incorporada à África
Oriental Italiana. Cinco anos depois, em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, a
Etiópia reconquistaria sua independência, junto com a Eritreia, que em 1993 separou-se
da Etiópia e antiga África Oriental Italiana (Etiópia) foi dividida em Eritreia e Etiópia.
Isto permanece até hoje.

Efetivamente, a independência das ex-colónias italianas processou-se logo no início do


pós-guerra, tendo a ONU um papel importante nesse cenário.

5.1.4. Independência das colónias portuguesas

A independência das colónias portuguesas em África iniciou-se em 1973 com a


declaração unilateral da República da Guiné-Bissau, que foi reconhecida pela
comunidade internacional, mas não pela potência colonizadora. As restantes colónias

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portuguesas ascenderam à independência em 1975, na sequência da Revolução dos
Cravos.

Algumas pessoas, tanto em Portugal, como nas suas ex-colónias de África, consideram
que o processo de descolonização foi mal conduzido. Um dos argumentos é o fato de
não terem sido incluídos nos acordos que levaram à independência das colónias
garantias sobre os direitos dos residentes (muito preponderantemente portugueses e seus
descendentes) que ali viviam e que viriam a escolher a nacionalidade portuguesa. Esses
críticos explicam por essa razão o êxodo da grande maioria dos portugueses em
1974/1975. No entanto, os problemas que viveram, a seguir independências
principalmente de Angola e Moçambique, são geralmente atribuídos a questões de
governação.

5.1.5. Independência das colónias espanholas


A Espanha colonizou o que corresponde hoje ao atual norte do Marrocos, a Guiné
Equatorial e a Saara Ocidental.

O Marrocos atual tornou-se independente em 7 de Abril de 1956. O restante do


Marrocos foi colónia francesa e se tornou independente em 2 de Março de 1956. O
Marrocos atual surgiu em 1956, quando os dois protetorados se uniram.

A Guiné Equatorial tornou-se independente da Espanha em 1968.

O atual território da Saara Ocidental se tornou independente em 27 de Fevereiro de


1976. Porém, a sua independência não foi e ainda não é reconhecida pela ONU. Apenas
60 países reconheceram sua independência: o primeiro estado foi Madagáscar em 28 de
Fevereiro de 1976 e o último foi a África do Sul.

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