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1.

UNIDADE I: A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


A partir dos anos 170 a 1790, iniciou-se na Inglaterra a Revolução Industrial, que se
expande depois para outras regiões, nomeadamente na Europa de Nordeste e nos
Estados Unidos de América.

A Revolução Industrial constitui num processo de profundas transformações técnicas,


económicas e sociais, que alteraram, de forma decisiva, as condições de vida no planeta.

A época das “ luzes” tinha criado um ambiente favorável ao desenvolvimento das


ciências, com os sábios multiplicando as experiencias que visavam uma melhor
compreensão do mundo.

Paralelamente, artesoes engenhosos aperfeiçoavam os seus instrumentos e criavam


novas maquinas. Estes novos inventos técnicos difundiam-se rapidamente e
favoreceram um crescimento da produção sem precedentes.

Pela sua importância destaca-se a máquina a vapor, aperfeiçoada por James Watt em
1769. Graça a ela, a hulha torna-se uma espantosa fonte de energia que substituiu a
força muscular humana, animal, a água e o vento.

A máquina a vapor nasceu na necessidade de evacuar a água das minas de carvão.


Tradicionalmente, esta era aspirada por bombas hidráulicas, movidas por cavalos. Era
um processo pouco eficaz, porque exigia muitos cavalos e apenas permitia retirar a água
situada a uma dezena de metros de profundidade.

Em 1689, Papin imaginou a utilização da pressão do vapor para substituir os cavalos. O


serralheiro inglês Newcomen construiu, no inicio do século XVIII, a primeira “ máquina
atmosférico “ a êmbolo.

Em 1769 James Watt introduziu importantes alterações na máquina de Newcomen e


consegue que ela consuma apenas um terço de cavalos de que a máquina necessitava.
Produzida em série, a nova máquina passou a constituir a grande força motriz do século
XIX, pondo em movimento, nomeadamente máquinas industriais e meios de transporte.

1.1. As condições da prioridade inglesa


A Inglaterra reunia, no final do século XVIII, uma série de condições económicas
favoráveis, que justificaram a sua prioridade no arranque da revolução industrial.
Dispunha, com efeito, de condições muito favoráveis à sua industrialização. Como
principais condições da prioridade inglesa devem ser sublinhadas as seguintes:

a) As condições sociais e politicas pois contava com uma burguesia


empreendedora e dispondo de imensos capitais, que tinha já imposto o
parlamentarismo, que favorecia o seu domínio económico e político;

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b) As transformações agrícolas que permitiram alimentarem uma população mais
abundante a que, nomeadamente com as enclausures, libertaram mão-de-obra
para as cidades e industriais;
c) O aumento da população que forneceu mão-de-obra abundante e consumidores
suplementares às industriais nascentes;
d) A disponibilidade de matérias-primas para a indústria, oriundas das colónias
(como o algodão) e da metrópole (como a lã, o ferro e a hulha);
e) O amplo mercado que dispunha para os seus produtos, tanto no plano interno
(resultante do aumento da população e do consumo no pais), como no plano
externo, já que exercia uma supremacia clara no comércio mundial, dispondo de
um importante império colonial;
f) As condições geográficas que favoreciam as comunicações (bons portos, rios
navegáveis complementados pela construção de canais) que facilitavam, assim,
o escoamento de matérias-primas e produção fabricados;
g) A prioridade na aplicação de inventos técnicos fundamentais, como foram os
teares mecânicos, máquinas-untensílios e , sobretudo , a máquina a vapor .

1.2. Os sectores de arranque


A indústria têxtil foi o primeiro sector de arranque industrial. A Inglaterra dispunha
de matérias-primas, os mercados eram amplos e esta indústria não era exigente em
capital.

A metalurgia foi, entretanto, assumindo progressivamente o papel preponderante.


Ela era fundamental para dar resposta à crescente procura de novas máquinas e
meios de transporte. Importantes inovações técnicas favoreceram o seu
desenvolvimento e a produção mundial de aço cresceu rapidamente.

1.3. A expansão da revolução industrial


Ao longo do século XIX, a civilização industrial ganhou outras regiões do planeta.
A Inglaterra, no final do século, vê ameaçada a sua posição hegemónica e uma forte
concorrência envolve os novos países industrializados.

Deram-se importantes modificações da produção e recorreu-se a novas fontes de


energia. Entretanto, a par de um extraordinário desenvolvimento de transportes,
verifica-se o crescimento do comércio mundial.

Em medos do século XIX, a Inglaterra dominava ainda largamente a indústria e o


comércio mundial. Para assegurar o fornecimento de matérias-primas e produção
agrícolas e facilitar a exportação dos seus produtos industriais, preconizava o livre
comércio (supressão dos direitos alfandegários) com os restantes países europeus.

Todavia, na segunda metade do século, a industrialização ganhou novas zonas do


planeta. No final do século, a Europa do Nordeste, os Estados Unidos de América e
o Japão estavam industrializados.

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Os ingleses sofrem, assim, uma feroz concorrência, Se a França denotava um menor
dinamismo económico, a Alemanha, já unificada, e sobretudo os Estados Unidos,
dispondo de imensos recursos, produziam já, nesta altura, mais do que os ingleses.
Todavia, no seu conjunto, Europa assegurava, ainda, a sua preponderância
económica mundial.

1.4. As novas fontes de energia


A utilização do vapor nas fábricas e transporte progrediu até ao final doo século
XIX. O carvão continuava a reinar como principal fonte de energia.

Entretanto, ainda que a sua importância só se tenha tornado decisiva a partir de


1914, surgiram novas fontes de energia:

- a electricidade, que passou a ter o uso industrial quando uma série de inventos
facilitaram a sua produção , transporte e aplicação à industrial : o dínamo, a
turbina hidráulica, o “ fio eléctrico “ o alternador, o transformador de corrente e o
motor eléctrico.

- o petróleo , até ai utilizado sobretudo para a iluminação , que passou a ter , com a
invenção do motor de explosão , uma importância fundamental no mundo
industrial .

1.5. As modificações na produção


A indústria apresenta, no último quartel do século XIX, um forte dinamismo. Uma nova
vaga de inovações técnicas, para além introdução de novas fonte de energia, para outras
alterações na produção industrial.

Importa sublinhar algumas das novas característica da industria:

. na novas fontes de energias são utilizadas de forma recente ;

. a industria siderúrgica conhece um forte desenvolvimento , já que o aço se torna uma


matéria prima essencial ;

. a industria química , graças a diversas inovações técnicas , alarga a gama das


aplicações dos seus produtos e experimenta o forte crescimento ;

. as industrias de base, para a produção de bens de equipamento , crescem a um ritmo


muito mais rápido do que as industriais de consumo .

Paralelamente, a produção industrial cresce de forma acentuada. Nos países


industrializados, suplanta claramente a produção agrícola

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2. A REVOLUÇÃO DOS TRANSPORTES E O
DESENVOLVIMENTO DO COMÉRCIO MUNDIAL
A industrialização e o consequente desenvolvimento de comércio mundial impunham
uma crescente circulação de pessoas, bens e ideias. Sobre a terra, o mar e mesmo no ar ,
verificou-se , com efeito , uma espantosa revolução dos transporte .

2.1. Sobre a terra


O comboio. a utilização de railes de madeiras , para guiar vagões puxados por cavalos
era já conhecida nas minas inglesas , no final do século XVII . No século XVIII
expandiu-se o uso de railes de metal. Todavia a tracção animal estava preste a
desaparecer.

A invenção da máquina a vapor e a sua aplicação rentável aos transportes deu origem ao
comboio. Em 1830, a locomotiva “ Rockt” , criada por Stephenson , foi seleccionada
para equipar a linha Liverpool-ManchesterA sua eficácia era notável , conseguindo
atingir a velocidade de 48 km/h .

Os progressos foram espantosos . “Em 1849 , foi criada a locomotiva “ Crampton” que
conseguia transportar centenas de toneladas a 100 Km/h , que diferencia dos meios de
transporte de atracção animal , que apenas vinte anos antes , constituíam o principal
meio de locomoção terrestre ./

A rede ferroviária avançou rapidamente na Europa . Nos Estados Unidos construiu-se


uma linha que ligava o Atlântico ao pacifico. Rapidamente, Rapidamente , os caminhos
de ferro avançaram , muitas vezes com capitais do mundo industrial

O automóvel . Com o caminho de ferro, as estradas tenderam a perder a sua


importância , como meio de circulação a grandrY distancia . Passaram a servir ,
sobretudo , como meio de acesso ao comboio .

Esta situação iria modificar-se com aparecimento do automóvel , sobretudo depois da


invenção do motor de explosão . Contudo, apesar da sua expansão, até à 1Guerra
Mundial (1914 - 1918), permanecia como objecto de luxo.

A bicicleta. Popularizou-se no final no final do século XIX, com a invenção do


pneumático e de “ corrente”. O seu baixo custo garantiu-lhe um sucesso rápido.

2.2. Sobre o mar


A máquina a vapor e a hélice permitiram o triunfo do barco a vapor. O seu
desenvolvimento conduziu ao melhoramento das estruturas portuárias e à construção de
grandes canais (nomeadamente os canais de Suez e do Panamá), que facilitaram a
circulação marítima.

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Os progressos da navegação permitiram desenvolver de forma espectacular o comércio
mundial. Os transportes tornaram-se progressivamente mais rápidos e baratos. A Europa
via facilitado o acesso a matérias-primas e o escoamento dos seus produtos, o que lhe
permitiu dominar economicamente o mundo.

2.3. No ar
O avião. O desenvolvimento de aeronáutica esteve, no seu inicio, ligado a actividades
desportivas e, também, ao seu potencial interesse militar.

Os balões tendem a dar ligar a dirigíveis com motor . O alemão Zeppelin constrói, a
partir do século XIX , enormes dirigíveis cm estrutura metálica .

Mas foi o motor de explosão que permitiu o desenvolvimento do avião . No inicio do


século XX, realizaram-se diversas experiencias, coroadas de êxito : os irmãos
americanos Wright descolam em 1903 e em 1909 atravessaram o canal de Mancha e
em 1914 o mediterrâneo . Mas será a partir de I Guerra Mundial que se dará a grande
expansão da aviação .

2.4. As comunicações
O correio postal conheceu , nesta época uma forte expansão , ganhando uma grande
importância na vida quotidiana . Os preços dos selos diminuíram e os postos de correio
multiplicaram-se .

As telecomunicações desenvolveram-se igualmente , ao longo do século XIX ,


nomeadamente com o telégrafo eléctrico e o telefone . A sua utilização pública era , no
entanto , ainda limitada.

3. O LIBERALISMO ECONÓMICO
3.1. A afirmação do capitalismo

Liberalismo económico – doutrina económica que preconiza que o Estado se deve


limitar a permitir o livre funcionamento das leis do mercado e de concorrência .
Defende ,também ,que devem ser suprimidos todos os entraves do comércio entre os
estados .

O desenvolvimento económico generalizado ligou-se a uma expansão considerável da


actividade financeira . Afirma-se , assim , o capitalismo financeiro .

Entretanto , ganha adeptos a defesa do liberalismo económico , como forma de


assegurar o desenvolvimento do capitalismo , garantindo o progresso e o crescimento
das trocas internacionais .

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3.2. A caminho do liberalismo económico
O liberalismo não é apenas uma noção politica , mas também económica . Desde o
século XVII , diversos economistas defenderam que o Estado se deve limitar a permitir
o livre funcionamento das leis do mercado e da concorrência ( “laisser faire , laisser
passer”) .

Defende-se, também , que este liberalismo se deve reger as relações entre os Estados ,
Através da supressão de todos os entraves ao comércio . Com efeito , se um pais quer
exportar os seus produtos , deve aceitar a importação de produtos estrangeiros . A
tendência será , portanto , para que os Estados estabeleçam tratados comerciais que
reduzem as taxas alfandegarias , para incentivar as relações comerciais .

Pretende-se , assim , uma divisão mundial do trabalho , ou seja, que cada região se
especialize nos produtos para as quais possui melhores condições . Considera-se que
essa divisão é geradora de comércio, progresso e entendimento internacional .

Apesar de alguns Estados, sobretudo em épocas de crise, manifestarem algumas


tentações proteccionista, para protegerem a sua economia da concorrência estrangeira ,
verificou-se uma clara tendência para uma clara tendência para a afirmação do
liberalismo económico .

3.3. Capitais para a indústria


Inicialmente os industriais utilizavam os seus capitais familiares , praticando o auto
financiamento .

Mas a expansão industrial e o crescente dimensão das empresas tornaram necessárias


novas formas de financiamento .

Multiplicaram-se , por isso , as sociedades anónimas . O capital necessário era dividido


em partes iguais , as acções , que eram adquiridas pelos particulares interessados .

Eram sobretudo os bancos que possuíam capacidade para investirem , desta forma , na
industria . Surgiram diversos bancos de investimento , com participação de um número
limitado de detentores de grandes capitais , e bancos de depósitos , que admitiam
depósitos a todos interessados , em troca de um juro determinado . Todos eles investem
e concedem empréstimos, cobrando juros elevados.

Os bancos acentuam , desta forma , o controle sobre a industria . Muitos Estados


dependem , também , do crédito bancário . Verifica-se , assim , a afirmação do
capitalismo financeiro .

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3.4. A tendência para a concentração
A partir do último terço do século XIX , forma-se um capitalismo de grandes
unidades . Para esta concentração industrial contribui :

- o funcionamento das empresas , que exigiam , cada vez mais , capitais elevados para
equipamentos , organização , organização técnica , stock de matérias-primas e salários
;

- a concorrência crescente exigia uma produção a baixo custo , só possível pelas


grandes empresas ;

- as crises económicas cíclicas , que aceleravam a absorção das empresas com


dificuldades ;

- o progressivo controle das industrias pelos bancos , favoreciam a concentração das


empresas que dominavam .

Esta concentração era horizontal, se dela resultava uma grande empresa que se
consagrava a um mesmo tipo de actividades, reduzindo a concorrência no mercado.

A concentração era vertical, quando uma mesma unidade económica reunia estádios
diferentes de produção e mesmo de transporte. Por exemplo, se uma industria de
metalurgia pesada dispõe de minas, industriais metalúrgicas diferenciadas e meios de
transporte.

A concorrência verificou-se sobretudo em sectores muito exigentes em capitais ( como


caminhos de ferro , navegação marítima , bancos , metalurgia pesada ) , ou em
industria novas onde não existiam uma tradição artesanal .

Se esta concentração favoreceu a racionalização e coordenação de esforços , ela


permitiam também às empresas , quando se chegava a uma situação de monopólio
(domínio de um determinado mercado por uma empresa ) evitar a descida dos preços e
impor as suas condições no mercado . Por isso , alguns Estados sentiram a necessidade
de tomar medidas anti-monopolista .

3.5. Progresso e crise


O crescimento da produção não se verifica de forma continua , mas através de fases de
expansão e de recessão . A forma mais habitual de as detectar é através da evolução dos
preços . Ao longo do século XX , identificamos movimentos de longa duração (ciclos de
Kondrateiff) tendência de alta e baixa , movimentos de média duração de crise .

No interior de movimentos de longa duração , constata-se a existência de ciclos ,


também designados de “ juglar” , com a duração de 7 a 11 anos cada , onde se verifica
a eclosão de crises cíclicas . Com efeito , um ciclo de juglar compreende quatro fases :

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1a - Progresso : intensa actividade económica , com subida dos preços , lucros , salários
, produção e trocas comerciais e com a redução do desemprego e das falências ;

2a - Crise : período breve em que a conjuntura conduz a uma situação de superprodução


, pelo que a dificuldade de escoamento dos produtos prova uma paragem na subida de
preços , normalmente pressentida nas bolsas , onde as crises normalmente se
desencadeiam ;

3o – Depressão: a crise económica instala-se e generaliza-se. O que crescia na fase de


progresso, recua ou cresce de forma mais lenta ( , lucros , produção e trocas ) ,
enquanto o que descia passa a crescer (desemprego e falência );

4o – Retoma as dificuldades na produção e as reestruturações económicas evitam a


situação de superprodução e a economia retoma uma tendência de progresso.

Para além da sua periodicidade cíclica , estes ciclos tendem a caracterizar-se pela sua
generalidade , já que a crescente interdependência da economia mundial faz com que
esta avance segundo os mesmos ritmos .

Ao longo do século XIX , a Europa ao Nordeste , os Estados Unidos e mesmo o Japão


afirmaram-se como os principais centros de poder industrial .

Estes crescimento económico acelerado conduziu estas potencias a estenderam o seu


domínio a praticamente todas as regiões do planeta . As rivalidades pelo controle
destas regiões dependentes provocou , entretanto , múltiplos conflitos .

3.6. As exigências do crescimento industrial e a corrida às áreas


de influência
Ao longo do século XIX , acentuou-se o imperialismo das potenciais industrializadas ,
ou seja , o domínio , com intuitos sobretudo económicas , dos países industrializados
sobretudo nas regiões mais atrasadas . Esse domínio não se retingiu às zonas coloniais ,
mas estendeu-se , também , aos países que , embora politicamente independente .

Como principais razoes do interesse imperialista, destacam-se:

- a procura de novas fontes de matérias-primas e das regiões abastecedoras de produtos


alimentares ;

- a necessidade de expandir os mercados dos produtos da industria , em forte ,


crescimento , e que mercados nacionais não conseguiam absorver;

- a urgência em se aplicar os imensos capitais gerados pelo desenvolvimento económico


, sobretudo em sectores cujo desenvolvimento interessava às potencias industrializadas ,
como sejam a agricultura , a extracção mineira e os transportes ;

- o interesse em escoar a população dos países imperialistas , já que o crescimento


demográfico se torna excessivo .

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3.7. O imperialismo e a partilha do mundo

Pelas razoes referidas , as potencias industrializadas procuraram alargar a sua


influência a todas as regiões do globo . Quando não se conseguem as facilidades
pretendidas , não hesitam recorrer à força . A força militar torna-se um argumento
decisivo .

As potencias europeias estendem o seu domínio para todos os continentes . O império


britânico abrange vasta regiões dos continentes americano , asiático e africano . A
França assenta a sua força imperial no Indochina e em África . Outras potências
europeias participaram , também , na partilha do continente africano .

Em meados do século XIX , o continente africano era ainda um continente


praticamente desconhecido para os europeus . Estes ocupavam apenas algumas regiões
litorais .

Todavia , as crescentes preocupações imperialista desencadeou um forte interesse para a


sua exploração .De Novembro de1884 à Fevereiro de1885 , na Conferencia de Berlim ,
as potências europeias negociaram a partilha do continente . Ingleses e Franceses foram
os mais beneficiados. Alemães, belgas e italianos ganham, também, alguns territórios .
Os portugueses, assim como os espanhóis, asseguram, por razoes históricas, o controle
de algumas colónias.

A Rússia consolida a ocupação sa Sibéria e outras regiões asiáticas . Os Estados Unidos


acentuam a sua influência no Pacifico e nos países da América Latina , cuja
independência tinham apoiado .

Americanos e europeus conseguem impor o seu domínio económico à China , em


situação muito enfraquecida . . Também o Japão, em processo rápido de rápido
crescimento económico, torna-se uma potência imperialista, expandindo-se na China e
em outras regiões do Pacifico.

No final do século XIX , as principais potências industriais dominavam praticamente


todo o Mundo .Esse domínio era económico, político e também cultural. Com efeito,
nesta época, acentuou-se, decisivamente, a expansão da cultura ocidental.

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4. AS TRANSFORMAÇÕES DA SOCIEDADE
DEMOGRÁFICA E CONTRASTES SOCIAIS
4.1. A explosão demográfica, urbanismo e a emigração para o
novo mundo
A população aumentou, de forma espectacular, ao longo do século XIX , fornecendo a
mão-de-obra indispensável à industrialização e alongando o número de consumidores
para a produção em crescimento acelerado .

Este aumento da população favoreceu os movimentos migratórios . Acentua-se o êxodo


rural para as cidades , onde as industrialização oferece perspectivas de melhoria das
condições de vida . Uma forte emigração para o Novo Mundo funciona com válvula de
escape para a Europa , já com excesso demográfico .

4.2. A explosão demográfica


A situação demográfica caracterizava-se, durante o Antigo Regime , por uma forte
natalidade e por uma elevada mortalidade , resultante , em boa parte , de fomes e
epidemias que , ciclicamente enormes razias na população .

A partir de meados do século XVIII a população europeia conheceu um aumento


espectacular . Este aumento resultou de uma acentuada queda da mortalidade para a
qual contribuiu nomeadamente:

- a melhoria na alimentação , tanto em quantidade , como a qualidade , o que , aliado à


melhoria dos transporte de produção , favoreceu o desaparecimento doas grandes fomes
e melhorou as defesas do organismo contra as doenças ;

- os avanços da medicina , sobretudo com as vacinações que travam as epidemias e


reduziam a mortalidade , particularmente a infantil ;

- o desenvolvimento da higiene , tanto privada como pública.

A natalidade teve igualmente tendência para descer , ainda que de forma muito ligeira .
Para tal contribuíram as novas condições de vida nas cidades e uma crescente
preocupação em melhorar o nível de vida e assegurar um melhor futuro para os filhos
do casal .

Mas a queda da taxa de mortalidade foi muito mais acentuada de que a natalidade. Daí
resultou uma acentuada explosão demográfica. Ainda que tenha sido generalizado, este
aumento da população fez-se sentir de forma desigual nos diversos países , como
resultado de condições locais particulares .

Este enorme crescimento da população teve múltiplos efeitos. Aumento a mão-de-obra


disponível , indispensável neste período de expansão económica. Criou , igualmente ,
igualmente , novos consumidores , o que alargou os mercados para a produção
industrial em forte crescimento . Gerou , ainda , importantes movimentos migratórios ,
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do campo para as cidades europeias e , quando a população europeia se tornou
excessiva , da Europa para as regiões do Novo Mundo .

4.3. A concentração urbana e o urbanismo


As transformações no mundo rural libertaram mão-de-obra e o êxodo rural acentuou-se
, tanto mais que , nas cidades , a industrialização oferecia perspectivas de melhoria das
condições de vida .

Com efeito , a industrialização provocou o desenvolvimento das cidades já existentes e


a criação de novas cidades , nomeadamente em zonas ricas em matérias-primas ou
favorecidas pelas pelos novos meios de comunicação .

Nas cidades , o crescimento da população foi muito rápido . Não só porque aí existia ,
também , um excedente dos nascimento sobre os óbitos (sobretudo nos bairros pobres),
mas pela constante chegada de rurais e mesmo , sobretudo no continente americano ,
pela imigração estrangeira .

O crescimento das cidades levantou diversos problemas tanto mais que estes
crescimento foi demasiado rápido e as respostas encontradas eram , normalmente ,
incompletas e meramente empíricas . De entre esses problemas , convêm destacar os:

. de alojamento , com bairros de enormes densidade demográfica e com condições de


vida miseráveis ;

- de circulação e de abastecimento (alimentos , água , etc.);

- psicológicos , resultante de “ stress” urbano e da dificuldade de adaptação a um meio


fortemente individualista e com fracos elos de vida comunitária .

Esta dificuldade tornaram necessário o progresso do urbanismo e a partir de meados do


século XIX , verifica-se uma crescente preocupação em ordenar o espaço urbano e
melhorar as condições de vida na cidade . Todavia os cuidados urbanísticos não
abrangem todo o espaço urbano e as cidades continuaram a denotar uma profunda
heterogeneidade social . A par de zonas urbanas cuidadas , mantiveram-se outras com
condições de vida miseráveis .

4.4. A emigração para o Novo Mundo


A emigração para o Novo Mundo constitui, para a Europa , um elemento compensativo
fundamental do seu enorme surto demográfico . Milhões de europeus dirigiram-se para
as regiões ultramarinas e sobretudo para os Estados Unidos . Tratavam-se de regiões em
crescimento, mas muito pouco povoadas e com largas zonas ainda por explorar.

Como principais factores da emigração europeia destacam-se:

. o enorme crescimento demográfico na Europa , que exigia uma “ válvula de escape “


para a população em excesso ;

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- os problemas sociais e políticos na Europa , que impeliam os grupos mais
desfavorecidos ou perseguidos para outros continentes ;

- a necessidade de mão-de-obra do Novo Mundo , com imensos espaços para explorar e


povoar ;

- o espectacular desenvolvimento dos transportes e o interesse das companhias de


navegação que propagandeavam as riquezas das zonas de destino , muitas vezes de
forma pouco séria.

As consequências deste surto migratório foram , para as zonas de destino ,


espectaculares , tanto mais que se tratava de uma emigração jovem e , portanto , muito
fecunda.

Economicamente , forneceu a mão-de-obra indispensável para explorar os seus imensos


recursos naturais e consumidores para uma produção em franco progresso. Imensas
regiões despovoadas foram ocupadas , consolidando as fronteiras de diversos países .

Esta emigração europeia para a Oceânia, África e sobretudo para a América foi
fundamental para reforçar o domínio do mundo pela Europa e essencial para o
desenvolvimento dos Estados Unidos .

Os Estados Unidos foram , com efeito , o principal destino desta corrente migratório e

este facto está profundamente ligado ao espectacular desenvolvimento deste pais ao


longo do século XIX.

Nesta emigração europeia para os Estados Unidos são visíveis duas fases distintas:

1a fase: até 1880, ela será dominada por britânicos, alemães e escandinavos. Estes
partiam, normalmente, com a intenção de se estabelecerem definitivamente e eram ,
muitas vezes, oriundos das zonas urbanas com excesso demográfico . A sua adaptação
ao modo de vida americano será fácil e a sua assimilação rápida .

2a fase: a partir de 1880, esta emigração passará a ser constituída, periodicamente, por
latinos e eslavos. Eram emigrantes oriundos sobretudo de zonas agrícolas, normalmente
sem intrusão e com projectos de regresso à terra natal. Aceitavam qualquer trabalho e os
seus salários estavam, normalmente, abaixo de média americana. A sua assimilação foi
muito homogénea, onde conservavam, muitas vezes, a sua língua e muitos dos seus
costumes.

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4.5. Os contrastes e antagonismos sociais
A par das profundas alterações das condições demográficas e materiais , as estruturas
sociais modificam-se. Também as mentalidades evoluem, enquanto o modo de vida
urbano se afirma.

A alta burguesia consolida a sua supremacia, enquanto se assiste à decadência da


aristocracia tradicional. Nos campos verificam-se lent1as alterações no modo de vida
dos camponeses e , nas zonas industrializadas , os operários experimentam condições de
vida muito duras . Verifica-se, também, na sociedade industrial, um importante
crescimento da classe média.

4.6. A decadência da aristocracia tradicional


Sobretudo na Europa Ocidental , a aristocracia perdeu muita da sua importância . Para
isso contribuiu a perda dos seus privilégios legais , a decadência dos seus grandes
domínios agrícolas e sua crescente emancipação dos seus camponeses .

Isto não significa que tenha perdido toda a sua influencia . O seu prestigio mundano
mantinha-se intacto e os seus títulos continuavam a ser muito apetecidos . Os
casamentos entre os membros da nobreza e da alta burguesia multiplicaram-se , com
vantagens mutuas : prestígios para os burgueses e solução de dificuldades financeiras
para os nobres .

A sua educação e os seus contactos sociais privilegiados continuavam assegurar-lhe


postos importantes na administração publica. Com efeito, a nobreza continuava a ocupar
cargos importantes, nomeadamente no exército e na diplomacia .

No entanto a sua é inevitável e o topo da escala social tenderá a ser ocupado por uma
alta burguesia com uma força económica crescente.

4.7. As modificações na vida dos camponeses


As condições de vida de camponeses alteram-se de forma muito lenta , apesar da sua
crescente emancipação jurídica. A vida nos campos continuava muito dura e muitos
camponeses optaram por procurar nas cidades melhores perspectivas de vida .

Entretanto, os hábitos de vida rural foram-se modificando. Para tal, contribuiu


sobretudo, a crescente ligação entre os campos e as cidades. A economia rural
mercantilizou-se progressivamente. Em algumas zonas, a mercantilização da agricultura
foi-se realizando, mesmo de formam lenta. O modo de vida urbano penetrava assim,
gradualmente, no mundo rural e este foi rompendo o seu isolamento tradicional.

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4.8. A crescente influência da burguesia
A alta burguesia destaca-se pela sua importância e influencia . Impregnada da ideologia
liberal , valoriza a liberdade da actividade económica , a procura do lucro e o esforço
da ascensão social .b

Esta alta burguesia triunfa em todos os domínios; económico, social e politico .

Economicamente, o triunfo do capitalismo favorece a sua crescente importância. É ela


que controla as actividades industriais, comerciais e bancárias.

A sua crescente força económica permite-lhe integrar-se no topo da escala social .


consegue títulos nobiliárquicos , por vezes através de ligações matrimoniais com a
aristocracia tradicional . A não intervenção do Estado nas relações laborais favorece a
sua autoridade sobre os seus assalariados e na sociedade.

Politicamente, a sua influencia torna-se decisiva . Ocupam cargos políticos e


influenciam as decisões do poder . Muitos Estados dependem, alias, dos seus
financiamentos . O crescente controle da empresa permite-lhes influenciar a opinião
pública .

A mentalidade burguesa marca , cada vez mais , a vida na época e , nas artes , os
burgueses exercem , muitas das vezes , uma acção de mecenas .

4.9. O crescimento da classe média


Entre a alta burguesia e o operariado , a sociedade industrial desenvolveu uma cada vez
mais importante classe média. Para o crescimento da classe média contribuiu ,
nomeadamente :

a) O desenvolvimento da economia , que multiplicou o números de empregados e


quadros no comércio , nos bancos , nas administrações e em outros serviços ;
b) A crescente complexidade da vida urbana , que exigiu o desenvolvimento de
novas actividades profissionais ;
c) O reforço do Estado , que implicou o aumento do número dos funcionários
públicos .

Esta classe média valoriza a estabilidade financeira e a ascensão social , pelo que se
preocupa em assegurar estudos para os seus folhos .

O tipo de funções que exercem, o seu modo de vida e mentalidade levam a sentirem
claramente distintos dos operários e dos camponeses. A industrialização permite a
vulgarização dos objetos de luxo, que esta classe média se esforça para adquirir. Ainda
que disponha de menos meios, ele vê na alta burguesia o modelo a imitar. O seu peso na
opinião pública assegura-lhe um papel político cada vez mais importante. Valorizam a

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ordem e, porque não tem nem muito a defender nem grande necessidade de se revoltar ,
assumirão , normalmente , um papel estabilizador na vida social .

4.10. As condições de vida do operário


Com a industrialização , verificou-se um crescimento do operário . Multidões de
miseráveis abandonavam os campos e deslocavam-se para as cidades , fornecendo mão-
de-obra abundante e barata `s industrias em expansão .

Os artesãos não aguentavam a concorrência das industriais e foram sendo ,


progressivamente , integrados nas fabricas como assalariados . A distancia entre os
empregados e empregadores acentuava-se nas fábricas de dimensões cada vez maiores .

As condições de trabalhos destes operários eram muitos difíceis. Os salários eram


baixos e os horários de trabalho elevados . O trabalho era realizado em condições muito
difíceis e os acidentes de trabalho nas fabricas eram frequentes .

O desenvolvimento da mecanização tornava mais exigente o ritmo e as regras de


trabalho . Por outro lado , permite o recurso a mão-de-obra não qualificada .
Recorrendo-se , por isso , ao trabalho feminino e infantil em grande escala . Este , para
além de usufruir de salários mais baixos , aceitava com mais docilidade as duras
condições de trabalho que eram impostas .

Se resto , para que uma família sobrevivesse era necessário que vários dos seus
membros trabalhassem . Todavia , sobretudo em épocas de crise , o desemprego era
frequente , o que agravava as dificuldades do operário . Este desemprego contribuía ,
aliás , para que o operário aceitasse trabalhar nas mais duras condições laborais .

Assiste-se , portanto , no século XIX , a uma grande opressão e à proletarização do


trabalho . Os trabalhadores passam a dispor apenas da força dos seus braços e dos da
numerosas prole de filhos , que vende em troca do salário . Ficam , por isso , cada vês
mais dependentes dos empregadores , preocupados , antes de mais , com a rentabilidade
dos seus empreendimentos .

As condições em que estes proletariados habitavam eram normalmente terríveis. Nas


novas cidades industriais, alguns bairros e arredores passam a formar um mundo à parte,
homogéneo e com condições de vida miseráveis. Diversas famílias acumulavam-se nas
mesmas habitações, sem as mínimas condições de higiene. As poucas horas que não
ocupadas a trabalhar eram , assim , vividas sem as mínimas condições de conforto e
dignidade.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 15


4.11. A luta operária, o sindicalismo e as doutrinas socialistas
A partir do século XIX, sobretudo nos países mais industrializados, acentua-se a luta
dos assalariados por melhores condições de vida. É então que se organizaram para
defenderem os seus interesses económicos e profissionais. Nascia assim o sindicalismo.

Entretanto, o operariado sente a necessidade de intervir politicamente, enquanto


diversos pensadores criticam a sociedade mais justa, desenvolvendo um conjunto de
propostas e ideias que serão chamadas de “socialistas”

4.12. A luta operária e o movimento sindical


As difíceis condições em que viviam os trabalhadores , estiveram na origem de lutas em
que estes manifestavam a consciências da opressão que os atingia .Se a situação nos
campos era também grave , é sobretudo nas relações entre os empregadores , Estado e
assalariados urbanos que a questão social assumiu maior gravidade .

Inicialmente , estas lutas tinham um carácter bastante espontâneo e desorganizado .O


fracasso destas revoltas fez sobressair a necessidade de os trabalhadores se
organizarem .Começava o movimento sindical .

No final do século XIX , este movimento conhecia , em toda a Europa , um


desenvolvimento considerável . A sua capacidade de organização era crescente e
mobilizava já milhões de aderentes .

A necessidade de agrupamento dos sindicatos tornou-se indispensável. Surgiram , assim


, associações que ligavam os sindicatos de uma determinada região ou agrupamento de
sindicatos de sindicatos de uma determinada profissão . Em 1913 , havia 16 milhões de
sindicato no mundo. Uma força ainda minoritária , mas suficiente para garantir a
eficiência das ações que desencadeavam .

A greve constituiu , desde muito cedo, a forma mais eficaz de luta. A sua preparação e
direção passou progressivamente para os sindicatos . Os empregadores resistiram ,
recusando dialogo com as direcções sindicais e apelando ao uso da força pública. Mas o
direito à greve acabaria por ser reconhecido em diversos países e os operários vão
conseguindo melhorias sensíveis nas suas condições de trabalho .

A acao dos sindicatos não se restinga, no entanto, à organização de greves . Com a


cotizações , asseguravam fundos para os tempos de greve e para implementar sistema
de ajuda aos trabalhadores .Também , tendo em vista a formação dos seus associados ,
organizavam bibliotecas e cursos nocturnos. Desenvolviam ainda uma importante acao
de mobilização e de divulgação das suas ideias.

Surgiram , entretanto , importantes divisões no seio do movimento sindical . A mais


importante opunha os revolucionários aos reformistas :

Professor Agostinho António Ialá Júnior 16


a) Os reformistas consideravam as lutas operarias como um meio de se
conseguirem reformas que permitissem a melhoria progressiva das condições de
vida das classes trabalhadoras . Advogavam, por exemplo , a redução do horário
de trabalho para oito horas e outras regalias sociais .
b) Os revolucionários recusavam os compromissos. Consideravam a luta operaria
um meio de consciencialização do operário .preconizam , por isso , a agitação
permanente , para , pela destruição das sociedades assente na exploração , se
construir uma sociedade mais justa e igualitária .

Todo o moimento sindical ia recebendo , de resto, uma crescente influencia das ideias
socialistas e as divergências no seio destas correntes reflectiam-se , naturalmente, no
seio do movimento sindical .

4.13. O 10 de Maio
O 10 de Maio tornou-se num dia comemorado por todo o movimento sindical ,
assinalando os acontecimentos sangrentos que marcaram a luta pela jornada de trabalho
de oito (8) horas , em Chicago , no dia 1 de Maio de 1886.

Um congresso socialista internacional decide , em 1889 , que será organizada uma


grande manifestação internacional , em data fixa , de modo que , simultaneamente , em
todos os países e em todas as cidades , nesses dia acordado , os trabalhadores forcem os
poderes públicos a introduzir na lei para oito horas de jornada de trabalho.

Com base nesta decisão realizam-se, em 1890, as primeiras comemorações do 10 Maio.

4.14. As doutrinas socialistas


Enquanto os operários lançavam o movimento sindical , organizando-se e lutando para
defenderem os seus interesses , diversos pensadores , lançavam duras criticas à
sociedade vigente , propondo novos sistemas económicos e sociais , mais justos. Estas
doutrinas eram seriam designadas, a partir de 1830 , por socialismo e iriam exercer uma
enorme influência no movimento operário .

As primeiras ideias socialistas expandiram-se quando o movimento operário era ainda


fraco. Todavia, denotavam já uma grande riqueza e diversos pensadores , como Saint-
Simon (1760 - 1825) , Fourier (1772 - 1837) e Owen (1777 - 1858) , imaginaram
grandes utopias . Nas sociedades previstas , a produção organizava-se racional e
livremente, não sendo o homem sujeito a qualquer exploração.

Na segunda metade do século XIX , afirmam-se novas doutrinas no seio de pensamento


socialista

Professor Agostinho António Ialá Júnior 17


O anarquismo, defendido pelo alemão Stirner , o francês Proudhon e pelo russo
Bakunine , insiste nos direitos individuais e considera a autoridade do Estado como
incompatível com a liberdade individual .Opõe-se ao capitalismo e à propriedade
privada , defendendo que os trabalhadores devem organizar livremente a produção e que
o poder deve resultar das associações dos trabalhadores , numa solução federalista .

O comunismo ou socialismo revolucionaria resultará, sobretudo, das propostas do


filósofo e economista alemão Karl Marx (1818 – 1883). Na sua vasta obra, Marx estuda
a evolução da humanidade, que considera não ser mais do que a história da luta de
classes. Analisando a sociedade capitalista, sublinha o antagonismo entre a burguesia e
o proletariado, que conduziria, inevitavelmente, ao fim da exploração capitalista e à
implantação, através da revolução, de uma ditadura do proletariado. A este caberia,
então , impor uma sociedade igualitária , a sociedade comunista .

Em 1864, foi fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores, vulgarmente


conhecida por Internacional. Anarquistas e Comunistas, que exerciam então uma
enorme influencia no movimento operário, disputavam a liderança, que acabará por ser
controlada pelos marxistas.

As ideias marxistas irão exercer uma forte influência no pensamento socialista. Nem
todos os marxistas, porém, defendem uma solução revolucionária. Alguns, como o
francês Jaurés e o alemão Bernstein , empreendem a revisão das ideias marxistas e
preconizam um socialismo reformista , preferindo a ação parlamentar e a
implementação de reformas legislativas aos meios revolucionários . Insistem na
necessidade de alargar a base social de apoio aos socialistas, para que estes possam
conquistar a maioria nos parlamentos. Para eles a democracia reconduziria ao
socialismo, como dizia Jaurés , “ sem que nos apercebemos “ e Bernstein proclama a
necessidade de colocar os “ germes do socialismo” no seio do capitalismo.

Socialistas revolucionários e socialistas reformistas iriam manter divisões profundas e ,


em ambos os casos , marcar profundamente, a história dos séculos XIX e XX.

5. A EXPANSÃO EUROPEIA ULTRAMARINA E AS


SUAS CONSEQUÊNCIAS
5.1. Síntese
As necessidades imperialistas do século XIX conduziram à procura e conquista de
novos mercados e fontes de matérias-primas. Por outro lado, as nações “ mais
civilizadas” afirmaram altos ideais de elevar moral e materialmente os povos “
atrasados” e extinguir a escravatura. Vários exploradores-jornalistas, comerciantes e
missionários, se lançaram então à tarefa de percorrer de lés a lés o continente africano.
Daí resultou a ocupação de quase toda a África , pela Inglaterra , França . Bélgica ,
Portugal e Alemanha.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 18


Portugal , que , desde o século XV , se encontrava na África e a conhecia melhor que
qualquer daquelas nações , enviou para aí os seus representantes , exploradores no
interior do continente , que o transpuseram do Atlântico ao Indico. E muito logicamente
procurou ocupar as regiões situadas entre as nossas províncias de Angola e
Moçambique . A Inglaterra opõe-se, porém, interesseiramente, a essa pretensão ,
acabando por impor o abandono desses territórios (que ela ocupou), através de um
violento ultimato em 1890 .

E, dado que as grandes potencias tinham estabelecido o principio de que a ocupação


efectiva dos territórios africanos primava sobre as tradicionais direitos baseados na
descoberta das terras, Portugal teve de impor, pela força das armas, a sua soberania em
Angola , Moçambique e Guiné , em longas e difíceis campanhas contra certas tribos
revoltadas, quase sempre por influencia estrangeira.

5.2. Desenvolvimento do capitalismo


As formas altamente desenvolvidas do industrialismo do século XIX uniram-se às
grandes empresas financeiras, criando o capitalismo moderno, a que já se fez referência.
E este, continuando o mesmo processo de desenvolvimento, foi naturalmente conduzido
a alargar a sua actividade a expansão, a que se deu o nome de imperialismo.

Foi nas mais industrializadas potências europeias do século XIX (Inglaterra, França,
Bélgica, Itália e Alemanha) que este imperialismo, primeiro se manifestou.

No ponto de vista comercial e industrial, tornava-se necessário, por um lado, adquirir


novos mercados, à medida que os já existentes deixavam de poder absorver a produção
crescente das máquinas modernas, sempre mais aperfeiçoadas; e, por outro lado, dispor
de fontes mais abundantes de matérias-primas , como o algodão, petróleo e borracha, e
produtos coloniais, como café e açúcar, para satisfazer as exigências das máquinas e dos
clientes.

No aspecto financeiro, a já referida “ lei da oferta e da procura” fizera descer os


rendimentos de capitais na Europa, para a percentagem de 3%, enquanto, nos países
novos e nas regiões a que veio a dar-se o nome de “subdesenvolvimento”se poderia
obter o lucro mais compensador de 6% e 7%, para os capitais investidos.

Com este condicionalismo económico vem conjugar-se um conjunto de factores e


razoes de ordem moral, coerentes com a ideologia liberal: os afirmam ter, como missão
a cumprir, lutar contra a escravatura e promover uma profunda ação educativa e
sanitária nos povos “ atrasados”, através de um apostolado missionário eficiente e
humanitário.

5.3. As grandes explorações no interior da África


E assim se lança à tarefa de desvendar regiões e continentes, praticamente
desconhecidos dos europeus, uma serie de exploradores e missionários “
desinteressados”, ao lado de um conjunto de oficiais e comerciantes, absorvidos pelas
Professor Agostinho António Ialá Júnior 19
dimensões e dificuldades da sua própria missão e, ao mesmo tempo, interessados na
conquista e no comércio de novos e extensos espaços geográficos, tendo a apoia-los
grandes empresas financeiras e eminentes homens políticos.

O missionário escocês Livingstone, entre 1840 e 1873, penetra no interior da África,


visita o lago Niassa e explora o curso superior de Zambeze até ao Congo. O jornalista
americano Stanley, partindo de Zanzibar e seguindo o curso do Zaire, conseguiu chegar
à foz deste rio, em 1877, ao serviço da grande empresa inglesa. O italiano Braza, oficial
de marinha naturalizado francês, dirige várias explorações em território africano, entre
1852 e 1899, ao serviço da França, percorrendo a bacia do rio Ugué (Gabão) e
dirigindo-se ao Congo, até chegar a margem do rio Zaire, onde fundou Brazaville.

Simultaneamente, os ingleses e os franceses, logo seguidos pelos Belgas Alemães e


Italianos, procuram apoderar-se pela diplomacia e pelas armas, dos principais mercados
e pontos estratégicos do mundo.

É nesta linha de orientação que a Inglaterra se apodera do Egito, do canal de Suez, do


Sudão, da Nigéria e do território dos Boers até ao cabo da Boa Esperança, na África;
praticamente de toda a Índia, do Afeganistão, da Birmânia, dos estreitos da Malásia e da
Nova Guine oriental, na Ásia (além doutras regiões de menor importância, tanto na
Índia como noutros locais da Ásia)

Do mesmo modo, os franceses apoderam-se duma região a norte de Brazaville, de


imensos territórios do Congo, do Senegal, da Guiné, da Costa do Marfim, de Daomé e
dos mais territórios que hão de vir a constituir a África Equatorial Francesa e a África
Ocidental Francesa; da Argélia, da Tunísia e de Marrocos, na África do Norte; da
Cochinchina, do Cambodja, do Laos, de Anão e Toquim (Vietname), na Ásia.

O rei dos belgas, Leopoldo II, fundou uma associação Internacional, de fins
humanitários e científicos, através do qual se tornou proprietário de um enorme
território, para ele adquirido por Staley, no centro da África, e que legou a Bélgica,
pouco antes de morrer, em 1908; ex-Congo Belga.

A Alemanha, Aida que tanto atrasada em relação às nações já referidas, ainda conseguiu
ficar, entre 1884 e 1899, com o Togo, os Camarões, o Sudoeste Africano Alemão e a
África Ocidental Alemã, no continente africano; e com uma parte da Nova Guiné, o
arquipélago Bismark, as ilhas Marshal, as Carolinas e uma parte das ilhas Samoa, no
Pacifico.

Por último, os italianos, não obstante uma fracassada guerra de conquista contra a
Etiópia, em 1896, acabaram por ficar com a Eritreia, a Somália italiana e a Tripolitânia,
na África, entre 1890 e 1912.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 20


5.4. Os portugueses na África
O interesse dos portugueses pela África datava de muito mais longe. A partir do século
XV, sempre que as condições lho permitiram, procuraram penetrar no interior do
continente, quase ao mesmo tempo que iam abrindo o mar à navegação costeira. Ora por
incumbência dos governantes, ora por espírito de aventura, interesses comerciais, de
evangelização ou mesmo de defesa contra eventuais ataques vindos do mar, muitas
foram as tentativas dos portugueses, não raro coroadas de êxito, para penetrarem no
interior de África, estabeleceram relações com os indígenas, fundaram povoações e
atravessaram até o continente, durante os séculos XV a XVIII.

No século XIX, principalmente a partir e em consequência da perda do Brasil, os


portugueses voltaram-se para a África com especial interesse, logo que as circunstâncias
politicas lho permitiram. Começou, então, a sentir-se e a compreender-se melhor a
importância que as “ províncias ultramarinas” poderiam vir a ter para a economia
nacional e para o prestígio de Portugal no conjunto das nações europeias.

5.5. A política colonial de Sá Bandeira


Sá de bandeira, depois de vitória setembrista (1836), concebeu um vasto projecto
tendente a desenvolver e “ civilizar” as suas colónias africanas.

Encontrando-se à frente do Ministério de Ultramar, tomou uma serie de medidas


administrativas de alargar a visão e alcance.

Opõe-se ao tráfico dos escravos em 1836. Procurou desenvolver a agricultura em


Angola, Moçambique e Cabo Verde, quer distribuindo terras aos colonos e fixando
prémios aos melhores plantadores de cana-de-açúcar, café e algodão, quer promovendo
a ida , para aí, de colonos nacionais e estrangeiros. Esforçou-se por fomentar o
desenvolvimento dos transportes, ordenando a construção de estradas em Angola e
fazendo contratos para estabelecer as primeiras carreiras regulares de barcos a vapor
entre a metrópole e o ultramar, em 1856. Fez ainda por adoptar ao condicionalismo
local de cada região as respectivas medidas legislativas, de carácter descentralizador.

Perante a rápida e ávida ocupação da quase totalidade do continente africano pelas


grandes nações da Europa, que estava a processar-se, Portugal reconhece a imperiosa
necessidade da aí afirmar, com energia, a sua presença de fundas raízes históricas.
Assim, os seus exploradores lançaram-se à penetração do interior da África, com
redobrada energia e a mesma audácia e coragem com que já haviam penetrado no sertão
brasileiro.

Apontar-se-ão apenas alguns dos feitos maiores desses notáveis portugueses. Quanto às
dificuldades que tiveram de vencer, no que toca ao clima, às florestas, cursos de águas,
animais selvagens, dificuldades de orientações e caminhos, além de mil imprevistos de
tão arriscados empreendimentos, tudo isso só lhes é possível imaginá-lo, que não
descrevê-lo aqui.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 21


Atentemos somente nalgumas dessas viagens mais espectaculares que atingiram o
misterioso interior da África negra e que, sem nada ficaram a dever às dos estrangeiros
em capacidade de esforço e decisão, se estenderam do Atlântico ao Índico, percorrendo,
de lado a lado, todo o continente. Serpa Pinto vai de Benguela a Durban (África do Sul),
entre 1877 e 1879, Capelo e Ivens atravessam também a continente africano, de Angola
(Moçâmedes) para Moçambique (Quelimane), em 1884 – 1885.

5.6. A conferência de Berlim


Mas já aí se chocavam as ambições das grandes potências, como a Inglaterra, França e
Alemanha, em primeiro plano e, a seguir, a Bélgica.

Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens tinham já feito o estudo e reconhecimento das


bacias do Zaire e do Zambeze. E a Inglaterra, por meio de um tratado concluído com
Portugal em1884, reconheceu a soberania portuguesa nas margens do rio Zaire, até as
fronteiras de novo Estado de Congo, em troca de facilidades de comércio e de
navegação concedida nos rios Zaire e Zambeze. Assim a Inglaterra procurava
habilmente tirar proveito da sua velha aliança com Portugal, para afastar dessas
importantes regiões africanas as pretensões da França, da Bélgica e da Alemanha.

Dirigia então Bismarck a política alemã, não lhe foi difícil atrair à sua causa a França e
a Bélgica, para exigir a anulação do referido tratado anglo-português . A seguir , o
chanceler alemão , de acordo com o governo francês, convidou as potencias europeias a
reunirem-se em Berlim, a fim de aí se resolverem alguns problemas postos pela recente
ocupação dos territórios africanos. Portugal também foi convidado, pelo governo
alemão, para essa Conferência de Berlim , que teve o seu inicio no dia 15 de Novembro
de 1884 a 26 de Fevereiro de 1885. É nela essencialmente se procurou estabelecer a
liberdade comercial na bacia e foz do rio Congo (como convinha às grandes potencias) e
definir de modo original, as formalidades necessárias para que se pudesses considerar-se
efectiva qualquer nova ocupação da África Interior, pelas potencias já instaladas na
costa africana.

Das conclusões e resultados da Conferência de Berlim saíram consideravelmente


lesados os interesses de Portugal: perderam a margem direita da foz do Congo e tiveram
de aceitar um novo conceito de direito colonial, que passava s basear-se na ocupação
efectiva dos territórios africanos e anulava os tradicionais direitos históricos do primeiro
ocupante.

No fundo, triunfava a política de Bismarck e os interesses das grandes potências, em


detrimento dos direitos de Portugal. De futuro, fácil se tornaria às nações mais forte
proceder à ocupação efectiva dos territórios que lhes interessassem e justificar depois a
sua posse pelo novo direito criado na Conferência de Berlim.

As consequências das decisões tomadas nessa conferência vão, a breve trecho, fazer-se
sentir na política ultramarina portuguesa, a propósito dos territórios situados entre
Angola e Moçambique.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 22


O conhecimento desses territórios constitui preocupação muito antiga dos portugueses,
documentada em discrições e mapas que vêm desde o século XVI.

Ocupando Portugal as respectivas regiões costeiras a ocidente e oriente, com profunda


penetração para o interior em ambos os sentidos, mais do que razoável e justa parecia
então parecia ser a pretensão de Portugal de ocupar também, no século XIX, a zona
intermediaria que ligava as províncias de Angola e Moçambique. De todo esse conjunto
resultaria uma espécie de novo Brasil que perderam.

Não era, porém, tão fácil como parecia a execução de tal projeto. Outros visavam o
mesmo objetivo: ingleses, alemães e boers. Mas era sobretudo de temer a concorrência
dos ingleses, cuja política imperialista em África, dirigida por Cecil Rdes, se sintetizava
na conhecida frase “ do cabo ao Cairo”. Fácil seria á Inglaterra fazer jogar a seu favor,
nesta questão, o princípio da ocupação efectiva aprovado em Berlim aprovado em
Berlim, dado o potencial humano e militar de que dispunha.

O governo português, no entanto, tratou de organizar várias expedições a esses


territórios, ao mesmo tempo que buscava o apoio internacional das potências rivais da
Inglaterra, especialmente a Alemanha.

Tendo Portugal, em Angola e Moçambique, fronteiras comuns com alguns territórios


recentemente ocupados por alemães e Franceses, Portugal fez com eles os acordos
necessários à ratificação dos respectivos limites. Aproveitando a oportunidade, para
obter dessas nações a sua concordância com a tese do seu direito (Portugal) aos
referidos territórios situados entre aquelas duas antigas províncias portuguesas. Ao
projeto se anexou então um mapa contendo, a cor-de-rosa, a identificação da zona em
que estavam interessados. Foi esse o célebre mapa cor-de-rosa, de que tanto se tem
falado.

E, para ir assinalando a ocupação afectiva dos territórios que pretendiam , o ministro


dos Negócios Estrangeiros , Barros Gomes, encarregou Serpa Pinto de proceder o
estudo de um caminho-de-ferro que ligasse o logo Niassa ao Oceano Indico, em 1899.

Quando se procedia a esses estudos, a expedição portuguesa foi atacada pelos


Macololos, que impunham bandeiras inglesa. Os portugueses defenderam-se e repeliram
energicamente os indígenas.

Daqui resultou uma espalhafatosa campanha da imprensa inglesa, acusando os


portugueses de terem atacado populações e territórios colocados sob à protecção da
bandeira britânica.

Houve protestos e troca de notas diplomáticas entre a Inglaterra e Portugal. Os


argumentos e razões pendiam para o lado dos portugueses; mas a força estava do lado
dos ingleses.

E um ultima britânico, intimando Portugal a mandar retirar imediatamente a expedição


portuguesa da zona em questão, veio a pôr termo ao diferendo, em 1890.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 23


Não podendo resistir, Portugal teve de ceder. Mas foi enorme a indignação suscitada,
em Portugal, contra a Inglaterra. Cobriu-se de luto a estátua de Camões: vibraram de
emoção patriótica poetas e escritores, como guerra Junqueiro e António José de
Almeida; Alfredo Keil compôs a Portuguesa que, com os versos de Lopes de
Mendonça, viria a ser o hino nacional de Portugal; e por toda a parte houve
manifestações antibritânicas, realizadas de vário modo e com objetivos diveros. Os
republicanos aproveitaram o desaire do governo, para dele responsabilizarem a
monarquia.

Este grande incidente veio a fazer-lhes compreender quanto era necessário proceder à
ocupação efectiva dos seus territórios africanos, mal submetidos ainda, em largas zonas,
ao domínio português. Vários chefes indígenas de tribos aguerridas mantinham, perante
a Metrópole, uma atitude de quase total independência, não raro incitados por potencias
estrangeiras, interessadas em tirar proveito dessa rebeldia.

O governo português resolveu, então, pôr termo a tal estado de coisas. Não foi nada
fácil essa tarefa; e muitas centenas de portugueses aí foram vitimas de cruéis e
imprevistos ataques.

Na província de Angola, particularmente se destacavam, pelo seu valor combativo, os


Cuamatas, que acabaram por ser vencidos e dominados pelas forças portuguesas
comandadas pelo capitão Alves Roçadas, na região de Huíla, em 1904-1907.

Outra insubordinação de especial gravidade contra o domínio português era o que


persistentemente se verificava na região de Dembos, ao norte de Angola. Coube a João
de Almeida a difícil tarefa de vencer os nativos e pacificar o respectivo território.

Na Guiné, foi preciso realizar várias operações militares, a partir de 1894, para submeter
os indígenas, nelas se distinguiram principalmente Teixiera Pinto, nomeado chefe do
Estado Maior daquela região, em 1911.

Moçambique era a província ultramarina portuguesa mais cobiçada pelos ingleses.


Dispunha aí de singular prestigio, entre os seus, o rei de Gaza, chefe dos vátuas, que
usava o honroso titulo de Gungunhana, sinónimo de “ invencível “. Eram os vátuas
excepcionalmente belicosos e contava com o sólido auxilio da Inglaterra, em armas,
dinheiro e apoio politico e diplomático. E Gungunhana sabia fazer habilidosamente um
dúplice jogo com a Inglaterra e Portugal, prestando vassalagem aos portugueses e
assinando, ao mesmo tempo, um tratado com os ingleses, em 1891. Crescendo de
ousadia, praticou razias contra os colonos portugueses, junto de Inhambane,
desrespeitou as autoridades locais e entrou mesmo em Lourenço Marques, em revolta
aberta contra o Portugal, obrigando os habitantes da cidade a defenderem-se, durante
mais de dois meses, em barricadas por eles improvisados, em 1894.

O governo de Lisboa, perante a gravidade da situacao, resolveu nomear António Enes


comissário Régio de Moncambique, com poderes necessários para resolver os
problemas que aí tivesse de enfrentar.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 24


Acompanharam-no, entre outros, Caldas Xavier, Aires de Ornelas, Paiva Couceiro e
Mouzinho de Albuquerque.

Tendo chegado a Lourenço Marques em princípios de 1895, logo no mês seguinte as


tropas portuguesas foram assaltadas por milhares de Landins, noite cerrada, no plaino de
Marraceune. Formados em quadro, os soldados portugueses, em número
consideravelmente inferior, aguentaram com serenidade e firmeza, o ataque inimigo. O
combate é duro, e aqueles chefes, com o seu exemplo, incutem, nos homens que
comandam, a coragem necessária para vencer.

A vitória liberta Lourenço Marques dos ataques inimigos. E o próprio Gungunhana


envia uma embaixada a António Enes. Este recusa-se a recebe-la e exige que lhe sejam
entregues os principais culpados da revolta anterior. Gungunhana furta-se,
ardilosamente, a essa exigência. E António Enes decide resolver o problema pela força.
Cerca de duzentos e cinquenta soldados portugueses marcharam para Magul, onde se
travaram uma das mais difíceis batalhas desta campanha. Seis mil guerreiros indígenas
lançam-se furiosamente contra o pequeno quadrado português. Ao cabo de algumas
horas, um dos principais chefes negros cai morto, a umas dezenas de metros das linhas
portuguesas. Tinha-se alcançado mais uma vitória.

Vários régulos vêm declarar-se vassalo de Portugal, Gungunhana pede, uma vez mais,
auxilio aos ingleses. Mas estes, descrentes já do êxito do seu aliado, aconselharam-no a
submeter-se.

E os portugueses, dispostos a infligir-lhe definitiva derrota, decidiram atacar Manjacaze,


residência do Gungunhana. Seiscentos portugueses defrontaram cerca de doze mil
indígenas, em cooleia. Os Vátuas foram vencidos e Gungunhana foge para Chaimite.

O rei de Gaza ainda dispõe, porém, de cerca de um milhar de homens e da confiança de


alguns régulos. Mouzinho de Albuquerque, apenas com cinquenta soldados brancos e
alguns negros, lança-se à temeridade de ir prendê-lo no próprio local onde se tinha
refugiado e onde se encontrava guardado pelos seus homens. Dirige-se a Chaimite, entra
de surpresa no refúgio de Gungunhana, manda prender e fuzilar imediatamente dois
conselheiros do chefe indígena dos mais obstinados inimigos. Numerosos guerreiros
vátuas assistem a tudo isso. Parece nem terem tido tempo de compreender o que estava
a passar-se. Por isso, não esboçaram sequer um gesto de resistência.

A Gungunhana mandou Mouzinho amarrar as mãos atrás das costas, levando-o depois,
consigo, para Lourenço Marques, depois para a Lisboa. Foi julgado e condenado a
deportação perpétua para Angra do Heroísmo, onde morreu alguns anos mais tarde.

Assim terminaram praticamente – com as referidas e principais vitórias de Maracuene,


Magul, Cooleia e Cheimite – as campanhas do século XIX, para a pacificação.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 25


6. O IMPERIALISMO E AS RESISTÊNCIAS AFRICANAS
6.1. Causas distantes
No século XV os portugueses começaram a estabelecer na costa africana pequenos
fortes para servirem de poio aos seus navegadores e comerciantes; durante muito tempo,
as reacções destes exploradores com os povos africanos eram puramente comerciais e
muitas vezes amistosas. No entanto, a sua ganância em controlar as rotas comerciais
levou, também, a vários conflitos e à ocupação forçada de territórios que tinham a sua
administração própria, como foram os casos de destruição de Kilwa Kisiwani e a
ocupação de Mobaca pelos portugueses logo no inicio do século XVI e, em meados do
século XVII, o estabelecimento da colónia holandesa do cabo no extremo sul do
continente.

O processo de colonização foi relativamente lento mas, em meados do século XIX, os


europeus tinham estabelecido colónias ao longo de toda a costa da África e competiam
ferozmente pelo controlo. A Revolução Industrial levou a necessidade de obtenção de
força de trabalho barata, matérias-primas e novos mercados e aquela competição levava
frequentemente a violentos conflitos. Ao mesmo tempo, levou também à abolição da
escravatura que era o principal produto das coloniais africanas até esse fim.

A maior parte do interesse concentrava-se na região do Congo, que era um território


explorado por várias potencias, incluindo Portugal e França, mas o rei Leopoldo II da
Bélgica tinha-o declarado propriedade da Companhia Internacional do Congo.

Face ao crescente interesse das potências europeias por África no final do século XIX,
tornou-se claro que Portugal deveria também definir uma nova politica já que a
crescente presença inglesa, francesa e alemã naquele continente ameaçava a tradicional
hegemonia portuguesa nas zonas costeiras de Angola e Moçambique.

Com base no chamado direito histórico, alicerçado na primazia da ocupação europeia,


Portugal reclamava vastas áreas do continente africano, embora, de fato, apenas
dominasse feitorias costeiras e pequeníssimos territórios ao redor dessas. Contudo, a
partir da década de 1870 ficou claro que apenas o direito não seria suficiente e que a
presença portuguesa dependia de alargamento para o interior das possessões
reclamadas. Para tal começaram a ser organizados planos destinados a promover a
exploração do interior de África. Em 1877 foi lançado, por João de Andrade Corvo, um
conjunto de iniciativas de exploração destinadas às famosas expedições de
Hermenegildo Capelo, Roberto Ivens e Serpa Pinto, integradas numa nova, e então
pouco aceite, estratégia portuguesa para o continente africano que privilegiava a
ocupação afetiva através da exploração e colonização em detrimento dos simples
direitos históricos.

Portugal , que tinha interesse em Angola e Moçambique com mais de três séculos e o
sonho de controlar a região de África situada entre aquelas duas coloniais, decidiu aliar-
se à Alemanha, uma grande potencia industrial e militar europeia, para tentar obter o
controlo daquela zona. O chamado, mapa-cor-de-rosa, seria o documento representativo
Professor Agostinho António Ialá Júnior 26
da retenção de Portugal de soberania sobre os territórios sitos entre Angola e
Moçambique, nos quais se situa a Zâmbia, o Zimbabwe e o Malawi.

Causas próximas

Em 1884 a aceitação unilateral pela Grã-Bretanha das revindicações portuguesas em


relação a controlo da foz do rio Congo levou ao agudizar dos conflitos com as potencias
europeias rivais. Perante esta realidade, foi convocada uma conferência internacional
para abordar as questões relacionadas com o continente africano, a Conferência de
Berlim.

A Conferência de Berlim realizada entre 15 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de


1885, teve como objetivo organizar, na forma de regras, a ocupação de África pelas
potencias coloniais e resultou numa divisão politica que não respeitou nem a história,
nem as relações étnicas e mesmo familiares dos povos do continente.

A Conferência de Berlim foi proposta por Portugal e organizada pelo Chanceler Otto
Von Bismarck da Alemanha, país anfitrião que não tinha ainda colónias africanas, mas
tinha esse desejo e viu-o satisfeito, passando a administrar o Sudeste africano, atual
Namíbia e a Tanganica. Participaram ainda nos trabalhos a Grã-Bretanha, França,
Espanha, Itália, Bélgica, Holanda, Dinamarca, EUA, Suécia, Austria-Hungria, Império
Otomano. Os EUA não possuíam colónias em África, mas era uma potência em
ascensão e tinha passado recentemente por uma guerra civil (1861 - 1865) relacionada
com abolição de escravatura no país.

Num momento desta conferência, Portugal apresentou um projeto, o famoso mapa cor-
de-rosa, que consistia em ligar Angola e Moçambique de forma a permitir uma
comunicação entre as duas colónias, facilitando o comércio e o transporte de
mercadorias. No entanto, ente documento, apesar de todos concordarem com o projeto,
mas não se concretizou. A Inglaterra, supostamente um antigo aliado dos portugueses,
surpreendeeu com a negação face ao projeto e fez um ultimato, conhecido como
ultimato britânico de 1890, ameaçando Portugal com uma declaração de guerra caso não
acabasse com não o projeto. Portugal, com receio de uma crise, não criou um conflito
com a Inglaterra e todo o projeto foi abandonado.

As resoluções da Conferencia de Berlim

a) Fundação de um Estado livre do Congo, sob a direcao do rei da Bélgica,


Leopoldo II. Este país, a Bélgica, passou ainda a administrar os pequenos reinos
das montanhas a leste, o Ruanda e o Burundi;
b) Liberdade de navegação e comercio nos rios Congo, Níger, Zambeze e nalguns
grandes lagos como a Niassa e Tanganica;
c) A ocupação efetiva dos territórios africanos pelas potências europeias;
d) Abolição dos direitos alfandegários dos produtos, diziam que esta medida era
para beneficiar os indígenas, mas na realidade era para beneficiar as industriais
europeias e para que os indígenas pudessem comprar mais;

Professor Agostinho António Ialá Júnior 27


e) Proibição do comércio de vinho com os africanos;
f) Proibição completa do tráfico de escravos que era feito principalmente no norte
de Angola e outros portos clandestinos; esta medida significa que o africano
passasse a ser o mercador livre de mão-de-obra na sua própria terra, utilizados
pelos imperialistas;
g) Obrigação de respeitar os tratados de protectorado com os soberanos africanos.
Esta era a melhor forma de fixação para os capitalistas europeus;

Os capitalistas portugueses perderam o direito ao controlo do norte do rio Congo,


ficando só com a margem esquerda do mesmo rio. Perderam ainda o monopólio de
comércio no Congo e territórios ao Sul de Cunene. Mais tarde perderam o território
transcontinental entre Angola e Moçambique, o mapa cor-de-rosa desaparece.

Consequências da Conferência de Berlim

1. Para África
a) Foi concluída a divisão do continente, sociais africanos sem respeitar as
realidades políticas, sociais e culturais africanas;
b) As nacionalidades africanas desapareceram, ficando sem domínio europeu os
territórios da Etiópia e da Libéria;
c) O continente africano é cada vez mais explorado, assim como as suas riquezas,
ficando deste modo subdesenvolvido.
2. Para Europa
a) As rivalidades entre os vários países europeus continuaram;
b) Os capitalistas europeus obtém grandes riquezas, graças à exploracao das
matérias-primas para as suas industriais e a novos mercados para os seus
produtos industriais;
c) A Europa enriquece cada vez mais a custa de África.

As resistências africanas

As resistências africanas à ocupação europeia foram muitas das vezes tardias, dispersas
e desiguais. No inicio os colonialistas penetraram pacificamente no continente,
adormecendo as desconfianças distribuindo presentes e fazendo crer que eles se
interessavam exclusivamente em fazer comércio. Mas com ajuda dos seus próprios
começaram a impor a sua dominação, exigindo o pagamento de impostos, impondo
simultaneamente o trabalho forçado

Certos chefes africanos tinham acreditando que poderiam colaborar com os


colonialistas, tornando-se em seguida as suas próprias vítimas. Como o caso de Alfa
Iaia, chefe de Labe , o qual tinha acreditado poder utilizar as forças dos colonialistas
para se libertar de Almami de Futa Djalon , foi preso e deportado pelos franceses e
morreu durante o degredo .O mesmo aconteceu com o Infali Sonco que , de inicio tinha
Professor Agostinho António Ialá Júnior 28
aceitado colaborar com os portugueses , mas que em seguida foi vitima dessa política ,
a tal ponto acabou por dirigir a revolta de 1907 – 1908 contra os colonialistas
portugueses . Também Abdu Ndjai, que tinha participado nas sangrentas expedições de
Teixeira Pinto , em seguida foi preso e deportado pelos portugueses no ano de 1919.

Alguns chefes menos crédulos e mais prevenidos recusaram-se desde inicio a serem
auxiliares dos invasores , defendendo assim a dignidade africana e obtendo apoio
popular . Porém a inferioridade em armamento e a sua incapacidade de unirem
esforços acabou por levar ao fracasso destas formas de resistências .

Formas de resistências
Resistência passiva – esta consiste muita das vezes na recusa e na desobediência às
ordens ou a certas exigências dos brancos de determinadas contestações tais como
reacções contra o pagamento dos impostos, as requisitaçôes dos viveres, trabalho
forçado, etc

Resistência armada – esta consiste na organização em grupos (exércitos) munidos de


armamento rudimentar para fazerem frente aos invasores

Lat Dior Diop


No Senegal, o principal adversário da implantação francesa depois de El-Hadji Omar foi
o Lat Dior Diop . Nascido por volta de 1842, Chefe de cantão de Guet em 1861 e damel
de Cayor em 1862. Cayior era então o reino mais importante do Senegal, que fica
situado entre Dakar e Saint Louis. O Damel era designado por príncipes que formavam
um conselho de grandes eleitores., que podam substitui-lo, mas que consegue manter-se
no poder com o apoio das suas tropas (tyeddos).

Por motivos religiosos o Damel conservava um poder de tipo mágico que lhe era
atribuído, pelo facto no dia da sua iniciação em M´Bul capital do reino de Cayor ,
recebe o turbante , assim como um vaso de semente , passando na floresta sagrada

Foi o último damel (rei) de Cayor , no Senegal , no pais de Wolof . Foi um rei
inteligente, ao mesmo tempo um guerreiro fogoso, tenaz, duma personalidade vincada.
Para tentar ultrapassar as divisões que o separava e opunha aos guerreiros indiferentes,
feiticistas e marabus , ele converteu-se ao islamismo .

Face à superioridade de armamento do colonialista franceses, em vez de os defrontar em


bloco com seu exército (o que significava uma derrota certa), ele praticou guerrilha.

Dividiu o seu exército em pequenos grupos que atacavam os postos e as colunas


francesas, multiplicam as emboscadas e retiram-se em seguida para a floresta.

Em 1864, Faiderbe consegue expulsa-lo pela primeira vez no cayor , que foi anexado à
colónia francesa do Senegal . Mas em 1870, após a partida de Faiderbe , Lat Dior Diop
Professor Agostinho António Ialá Júnior 29
retoma o Cayor . Em 1879, os franceses, Empreendem a construção do caminho-de-
ferro de Dakar a Saint Louis , passando pelo seu território , comportando-se como se
tivesse num país conquistado .

A guerra recomeça em 1882 e não acaba senão com a sua morte em combate no ano de
1886, na batalha de Dhkele

Almami Samori Turé


Nasceu por volta de 1840 no Koniam (Alto Volta), filho de um dioula , ele foi de inicio
um comerciante , depois com alguns jovens do seu tempo , fez-se chefe de um grupo .
Para libertar a sua mãe que fora feita prisioneira, ele entra ao serviço dum marabu
guerreiro Brema Cissé.

Cedo fez a guerra por sua própria conta e aliando a astúcia e a força , unifica sob a sua
autoridade a Alta Guiné e as vizinhas regiões do Mali e da Costa do Marfim .

Ele atribuiu-se ao titulo de Almami , impõe o islamismo no seu território , propõe-se


enviar o seu filho à escola corânica para servir do exemplo , começando ele mesmo ,
embora sendo já certa idade , a aprender a ler e escrever o árabe .

Samori Turé viveu a sua vida de resistente contra a dominação francesa, entre a
diplomacia e guerrilha.

A diplomacia de Samori Turé consistia em imigração, alianças, imposições e


liquidações. As alianças foram feitas com reinos muçulmanos do Cisses e dos Beretes.

A imposições foram dirigidas contra os reinos animistas de Nantene Famadu , Adjigbé e


Sagadigui.

Ele organizou o seu estado em dez (10) governos, esforçando-se para vencer as
imposições tribais, organizou um exército dividido em sete (7) e depois com dez (10)
corpos, mais uma guarda de elite que estacionava na sua capital Bissandugo.

Como bom militar, dividiu os seus militares em zonas:

Zona militar Norte: comandada por Massaram Mamadu, depois por Diara Diamondé .
Controlava a rota do Norte.

Zona militar Oeste: comandado por Langmala Falé Bilali e Side Bamba, mais forte,
por ser munido de armas modernas. Protegia o comércio de armas.

Zona militar Nordeste: tinha o papel defenciva contra os colonialistas franceses.

Zona militar Leste: comandada por Tammari (condenado a morte depois da sua derrota
ao enfrentar Tieba) depois por Bolu Mamadu Mamadi. Tem como a missão assegurar
Kong (zona de escravo)
Professor Agostinho António Ialá Júnior 30
Tácticas de guerra
Usava a táctica de mobilidade, que consistia atacar depois retirar e reagrupar num lugar
previamente combinado. Com esta táctica venceu os reinos de Futa-Djalon e os de Segu
. Samori previa um confronto com os franceses e a importância da zona costeira no
abastecimento da guerra ou controle do Norte, Sul e Leste

Em 1886 – 1887, esforça-se para tomar Sikasso , no entanto esta campanha foi um erro ,
pois não pode ocupar a cidade , poderosamente fortificada , por falta de canhões .
Enfraqueceu inutilmente as suas forças, provocando revolta nas suas fileiras.

Samori Turé foi derrotado por franceses por seguintes razão :

a) Erro de informação sobre a fortificação da cidade de Sikasso


b) Abandono da população;
c) Abandono de alguns dos seus militares;
d) Perda de grandes generais;
e) Má situação do terreno de combate;
f) Dificuldade de movimento dos seus militares, por falta de meio de transporte;
g) Revolta dos reinos do sul;

Com esta derrota, estando no seu isolamento, não podia aguentar por muito tempo o seu
império, adoptou uma nova táctica, dividindo as suas tropas em três grupos :

1o Grupo – constituindo por jovens com armas modernas de tiro rápido para travar o
avanço dos franceses e retirar, queimando tudo para não permitir o inimigo ter acesso a
lamentação;

2o Grupo – constituídos por velhos com armas tradicional, que tinham como a missão
de organizar e administrar zonas libertadas;

30 Grupo – constituídos por militares de idade médios, com armas modernas de tiro
menos rápido, que têm como a missão conquistar novas terras para transferência da
População.

Em 1891, os franceses tendo tomado Nioro , decidem liquida-lo . Pensavam acabar com
ele numa única ou duas campanhas. Mas de fato, conseguiu prosseguir com a sua
resistência durante mais sete (7) anos (1891 - 1898).

A organização das suas forças em três grupos: defesa do território, evacuação das
populações e conquista territorial permitir-lhe-á uma coisa única na história , durante
sete (7) anos o seu povo mudara todos os anos de país para país , penetrando em novas
regiões a Leste , mas já submetidas e organizadas , sem deixar ao vencedor nem um
velho e nem um grão de milho .

Professor Agostinho António Ialá Júnior 31


Samori , retira-se para Leste , estabelecendo-se em Dabakalá ( Costa de marfim) e ali
reside , apoderando-se da cidade de Kong ,o qual o tinha traído .

Em 1898, cercado , ele volta a Oeste e é feito prisioneiro de surpresa no seu quartel-
general em Guelemou. Deportado para gabão, ali morre em 1900 .

Pela sua qualidade de chefe de estado, chefe militar, pela sua tenacidade irredutível,
Almami Samori Turé coloca-se entre os maiores resistentes africanos.

A resistência à colonização portuguesa no interior da Guiné


entre os anos 1850 a 1900
A realidade no interior da Guiné entre 1850 a 1900
A tomada histórica de Kansala em 1867 pôs fim à independência real dos reinos
mandingas de Gabu , em benefcios dos conquistadores Futadjanlonkes ( habitantes de
Futa-Djalon)

Um número importante de fulas e fulacundas da região converteram-se ao islamismo e


juntaram-se aos conquistares, criando assim múltiplas circuncisões militares
comandadas por um chefe, vassalo de Futa-Djalon (Alta Guiné). A Sul de Corubal e ao
Norte, sob direcção de Alfa Molo e do seu filho Mussa Molo, que tomou Braço e Firdo,
tornaram-se independentes de Futa-Djalon. Aceitara em 1863 o protectorado francês e
outras obrigações vassálicas , mas o seu homem de guarda pessoal , através de um
complot de corte , apoiados por armas , desembarcaram e obrigaram-nos a refugiar-se
em Gâmbia em 1903 , dois anos depois da morte de Samory Turé no exilo na ilha de
Ougue , no gabão , em 1900.

Tal como nos impérios fulas dos séculos XVII e XIX, estes movimentos fulas na sua
origem traduziam o descontentamento dos pastores fulas oprimidos na sociedade feudal
mandinga .

O verdadeiro chefe ou senhor de Gabu , no finais do século XIX não era o almami de
Timbo (capital histórica de Futa-Djalon) cuja autoridade era completamente teórica ,
mas o seu poderoso vassalo , o chefe da província de Labe. Instalado em Kade (Fula-
Mori) , que se situa a igual distância de Labe e Gabu ,desconfia dos seus compatriotas
de Labe , suportam mal a sua autoridade e apoiam-se sobretudo nos seus súbditos
mandingas de Gabu que lhe são aparentado pela sua mãe , filha do último rei de Gabu .

No entanto, a ocupação francesa, que se torna cada vez mais evidente, e a atribuição
deste território de Gabu a Portugal, colocam o Alfa Iaia , em dificuldades. Em 1905 é
preso e deportado pelos franceses. Os seus vassalos fulas de Gabu , encontravam-se
neste contexto .

Professor Agostinho António Ialá Júnior 32


A estrutura feudal das circuncisões militares fulas, que se apoia na dominação de um
pequeno número de conquistadores sobre as populações, praticamente reduzidas ao
servilismo, leva os chefes fulas a aceitarem um compromisso com os portugueses e
pagar-lhes tributos, estes por seu lado ajudam-nos a manter a ordem social existente e a
dominar a região.

As dificuldades da Ocupação Portuguesa


É de notar um grande paradoxo que exprime com uma certa indignação a primazia das
armas, de força e do complexo congénito de superioridade que caracterizam todos os
colonizadores.

Em 1886, no momento em que as fronteiras da Guiné Portuguesa são fixadas, o interior


do país não estava ocupado, nem mesmo explorado geograficamente, isto apesar das
declarações finais da Conferencia de Berlim (1884 - 1885). Esta ignorância das
realidades obriga, em 1905, à ratificação da fronteira traçada sobre o mapa para deixar à
França a região de Kade (Fula-Mori), que se julgava situava a Oeste do meridiano 16 o
de longitude oeste (Meridiano de Paris) , quando na realidade esta região ficava a leste .

Os portugueses multiplicaram sem sucessos as expedições contra as populações ou


povos independentes do litoral : contra os Beafadas em 1891 ; contra os Oincas em
1897; De 1891 a 1894 Bissau estava bloqueada pelos Papeis revoltados e irredutíveis.
Por volta de 1900 , os portugueses conseguem obter tratados com chefes locais e a
submissão dos povos da savana (fulas , mandingas e beafadas ).

Pelo contrario o litoral onde não há autoridade com quem negociar permanece livre , e
as expedições portuguesas contenta-se , em caso de sucesso , em incendiar e pilhar as
aldeias para em seguida se retirarem sem podido ocupar os territórios por falta de
efectivos . Em 1900 expedições contra os Bijagós na ilha de canhabaque; em 1901
expedição contra os Felupes; Em 1902 expedição contra os Oincas (vingança da derrota
de 1867) e a submissão dos Oincas em 1903; ataque aos Felupes em 1904; expedições
contra os papeis que bloqueavam o posto de Cacheu ; expedições à Formosa.

As revoltas que provocaram estas últimas expedições, devem-se à recusa das


populações de pagarem impostos exigidos pelos portugueses.

Infali Sonco e as Revoltas de 1907 – 1908


Os chefes do interior que tinham aceitado a suserania portuguesa, esperando assim
utilizar o apoio dos brancos para consolidarem o seu próprio poder, ficaram desiludos
devidos às exigências portuguesas em matérias de impostos; a sua arrogância continua a
aumentar , sem menor consideração pelos chefes locais e pela população , tratam os
chefes exactamente como escravo , como objectos .
Professor Agostinho António Ialá Júnior 33
Assim , Infali Sonco , chefe dos beafadas de Cuor , investido pelos portugueses , é
ofendido pelo comandante português de posto de Geba . Na sua própria presença , um
soldado chicoteou um dos seus colaboradores , reage matando o executante e levando
o comandante preso , que viera a libertar de seguida . Mas a partir deste momento
recusa o pagamento de imposto , corta a navegação entre Bissau e Bafata , isolando
assim o Gabu e prevê estabelecer relações comerciais com os comerciantes franceses
da Guiné-Conakri .

São aliados da revolta de Infali Sonco , os chefes Bonco de Badora , Dembage de


Corubal , Guelage de Cossé , Iero de Gussara , Usssumane de Pexisse . Pelo contrario,
os chefes Abdulai de Xime , Tcherno Cali de Forea , Mundjur de Gabu continuaram a
ser aliados dos portugueses e submetidos por estes .

Duas colunas de reforços enviados especialmente de Lisboa foram necessárias para


esmagar a revolta dos chefes fulas (1907 - 1908). Os fulas vencidos foram a partir
daquele momento utilizados como auxiliares em substituição dos grumetes,
considerados como poucos seguros.

Em 1894 e em 1901, muitos de entre estes passaram ao lado dos portugueses. A


presença da coluna fora utilizada para submeter os papeis da ilha de Bissau (que se
tinham revoltado novamente em 1915), e para atacarem sem sucesso os Felupes e
Balantas .

A pacificação e a ocupação dos territórios _ 1913 a 195


Em 1913, uma grande parte das zonas florestais e litorais continuaram livre, é o caso de
Oio , região dos balantas; Bissau dos papéis; dos manjacos da região situada a sul do rio
São Domingos e dos Bijagós.

A submissão definitiva destas regiões a que os colonialistas chamaram de “ pacificação”

É efectuada de 1913 a 1915 pelo novo chefe de Estado-Maior da colónia, capitão


Teixeira Pinto. Copiando método dos colonialistas franceses e ingleses, mas mais
agravado pelas suas próprias iniciativas, que consistia em reduzir a fraqueza dos
efectivos portugueses , utilizando assim auxiliares fulas e mandingas , dirigidos por
chefes como Abdu Indjai de Oio , Baro Baldé de Forea , Mamadu Cisse e outros .

Estes auxiliares estão equipados com armas modernas, mas não pagos pelos
colonialistas portugueses, pagar-se-ão com a pilhagem efectuadas, fazendo cativos,
onde um destes (auxiliares), serão nomeados chefes dos territórios conquistados.

As coluns de Teixeira Pinto, assim como as que precederam, queimavam as aldeias,


pilhavam, massacravam. Mas não se limitaram somente a isso: exigiam o regresso dos
fugitivos, a entrega de todas as armadas, enormes esforços de guerra (sob pretexto de
impostos atrasados), a submissão incondicional aos chefes nomeados pelos portugueses.
Asseguram a ocupacao permanente com a administracao portuguesa e a presença das
forças armadas. Assim são esmagados e submetidos os Balantas e Oincas (1913), os
Professor Agostinho António Ialá Júnior 34
Papeis , Manjacos de Xuro-Caio e os Balantas da região de Mansao (1915), bem como
os Papeis da ilha de Bissau (1915).

Os abusos e crimes cometidos pelo capitão Teixeira Pinto e do auxiliar Abdu Indjai,
provocaram a transferência do capitão em 19915, para a Moçambique , onde veio a
morrer em combate com as tropas alemãs , em 1817.

Continuaram, mas com bastante dificuldades, sem o capitão Teixeira Pinto, as


campanhas para a submissão total dos Bijagos, entre 1917 e 1918. Houve, ainda mais
revolta deste povo em 1924 e 1936 contra o pagamento dos impostos.

A África de Sul entre 1885 a 1902

As coisas apresentam-se sob um aspecto particular na África de Sul. Ao laso da


resistência dos povos locais, há também a dos Africânderes, brancos estabelecidos no
país há dois séculos.

Os ingleses inquietaram-se com a instalação duma companhia de comércio na região de


Angara Pequena em 1884, pois receavam um apoio Alemão à Repúbica dos Boers, a
qual lhes criavam dificuldades. Apressaram-se em anexar Betchuanaland em 1884 e em
estender o seu protectorado até Zambeze em 1885.

Nesta expansão inglesa na África de Sul, Cecil Rhoders desempenhou um papel


importante. Desde 1881 sonhava estender a influencia britânica até Tanganica. Para isso
ele recorreu em primeiro à concessão de terrenos que obteve facilmente do rei Matabele.

Fundou a companhia mineira para explorar o ouro e diamantes, obteve um documento


inglês que autorizava a companhia a fazer tratados com os chefes locais e de ligar
Angola e Moçambique, em 1906.

Em 1893, o protectorado inglês sobre Niassaland. A companhia de Cecil Rhoders era


toda-poderosa, imensamente rica, quando deparou com o levantamento dos Matabeles
descontentes por não receberem tributos dos seus vassalos, atacaram a cidade de Vitoria
em 1893 sem sucesso.

Causa da derrota das resistências africanas

As resistências tinham um carácter regional, tribal e étnico; falta de unidade entre os


resistentes; falta de organização, métodos e meios; falta de materiais sofisticados,
obrigados a usarem paus, catanas, flechas, lanças, azagaias, etc. A supremacia militar
europeia em armas, transporte, meios e métodos de guerra; lutas e contradições tribais;
as resistências eram dispersas e desiguais.

Por força deste condicionalismo, assim em toda a África as resistências fracassaram,


permitindo assim a ocupação e dominação efectiva do continente africano.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 35


7. Os sistemas de administração colonial em África
7.1. Os diferentes sistemas

País conquistados pela força ou anexados após acordos pacíficos concluídos com os
chefes tradicionais, as “ colónias” colocaram problemas às nações europeias que tendo a
gloria de concessão destas colónias, tinham a responsabilidade das mesmas. Os
primeiros problemas que se põem são as da sua organização sobre bases sociais
duráveis e rentáveis. As coloniais serão administradas pela Metrópole ou amplamente
autónomas? os autóctones participarão e em que medida no seu governo? No local ou
junto do parlamento da Metrópole?

Assim :

a) Na Administração Direta, os funcionários nomeados pela Metrópole


administram as colónias; os autóctones, na medida em que são representados ,
enviam os seus eleitos ao parlamento da metrópole .
Este sistema teve, no seu conjunto, a preferência da França onde se pensa que o
ideal é moderar os outros povos segundo o modelo francês e que as aspirações
de todos os povos se juntam.

b) Na Administração Indireta, a administração faz-se no próprio pais , mas a


liberdade que lhes é deixada é mais ou menos grande. Pode ser considerável,
mas bastante limitada na prática.

c) O protectorado, confia-se a um alto funcionário da potência colonizadora, que


tem poderes limitados, as relações exteriores, muita das vezes as forças armadas
e finanças. Todos os outros poderes são deixados, em princípio, aos chefes
tradicionais. No entanto, na prática, é frequente a administração direta substituir
dissimuladamente o protectorado, com pretexto que tem necessidade de lutar
contra abusos cometidos por chefes locais que se esforçam para manter os sues
privilégios em detrimento das populações.

7.2. O sistema Britânico


a) Os diferentes regimes
b) O sistema britânico não procura assimilar as colónias à metrópole, não admite os
deputados das colónias o parlamento de Londres, mas aceita facilmente
governos representativos eleitos no interior de cada colónia, esta prática foi
aplicada sobretudo nas colónias de povoamento europeu. Em Londres, a
“Colonial Office”, em 1858, gere o Império Inglesa e a Índia dos Príncipes.
As colónias inglesas tem diferentes de regimes segundo a sua antiguidade, a sua
evolução, o seu povoamento, etc. Há colónias de Coroa à tutela da Metrópole, as
colónias com governo responsável, beneficiando duma certa autonomia, ou

Professor Agostinho António Ialá Júnior 36


domínios independentes, salvo no que concerne a estrangeira (Canada em 1867,
Austrália em 1901, Nova Zelândia em 1907)
A unidade Sul-Africana reuniu de início sobre um plano aduaneiro Boers e
Colónias ingleses em 1903, que depois se tornou numa federação das quatro
colónias: cabo, Natal, Transval e Orange, mas esta união foi feito entre brancos
para se impor aos negros, bem mais numerosos.

O Domínio – O sistema de protectorado foi utilizado por todas as potencias


coloniais, só a Grã-Bretanha aplicou o sistema de domínio pela primeira vez no
Canada em 1864. Um domínio é uma antiga colónia de população, sobretudo
europeia, que dispõem duma completa autonomia. Um único laço que mantém
com a Metrópole, é o laço jurídico.
O domínio tem o mesmo soberano que o Reino Unido, mas o tenente
governador que o representa na capital do domínio só tem funções honoríficas.
Este laço é reforçado por relações comerciais estreitas, a comunidade da língua e
do pensamento.

7.3. O sistema francês

No início do século XX, o império colonial francês compreende as “ colónias” de


Argélia, países de África Negra, Antilhas e protectorado na Tunísia e depois em
Marrocos e na Indochina.

Em 1894, o Ministério das Colónias foi criado para gerir os territórios longínquos,
pois que até ai tinham dependido do Ministério da Marinha.

a) As colónias

Cada colónia era administrada por um governador, os governadores-gerais eram


colocados à frente de vastos territórios: Indochina em 1887; África Ocidental
Francesa em 1895; Madagáscar em 1897; África Equatorial Francesa em 1810.

As pequenas colónias, geralmente mais antigas, onde a língua e as tradições


metropolitanas são há muito familiares, quase assimilados À Metrópole, elegem
conselheiros gerais que votam o orçamento da colónia (Antilhas, Guianas, Reunião,
as cincos cidades da Índia, a Nova Caledónia, Indochina e o Senegal). Guadalupe,
Reunião, Cidades da Índia enviavam deputados/ senadores ao parlamento francês.
No caso do Senegal, são os deputados eleitos pelas quatro comunas de Saint-Louis,
Gore, Refusque e Dakar, onde as populações estavam afrancesadas desde século
XVII.

7.4. O sistema português

Colonialismo portugues é um país cuja economia nacional está longamente


submetida à dominacao do monopólio dos outros países imperialistas. Colonialismo
de um estado fascista, depois da implantação do Estado Novo, este estado que

Professor Agostinho António Ialá Júnior 37


recebe o apoio das potenciais do Ocidente (Inglaterra e França) e dos Estados
Unidos de América.

O colonialismo português baseou-se sempre no princípio de que os povos


autóctones das colónias são inferiores, incapazes e que por esta razão devem ser
ministrados directamente pela Metrópole.

Todas as principais execuções nas colónias pelos governos são do domínio do


Ministro das Colónias. Os povos das colónias não tinham de fato nenhuma
possibilidade de participarem legalmente na vida política.

Portugal, país economicamente atrasado, limitou-se essencialmente a fazer das


colónias, o mercado fornecedor das matérias-primas para as suas industriais e ainda
consumidor dos seus produtos industriais (vinho, tecidos, etc.); trabalho forçado e
pagamento dos impostos.

Resultado de conjunto

Foi através destes diversos sistemas que a primeira organizada colonial atingiu os
objectivos que tinham sido fixados pelos europeus (económicos e políticos e Aida a
abertura de África ao mundo moderno).

8. A Grande Guerra de 1914-1918 e suas consequências


8.1. O início das hostilidades

O assassinato do arquiduque Francisco Fernando, no dia 28 de Junho de 1914, quando


visitava a Sérvia em representação de imperador de Áustria, de quem era herdeiro, foi
acontecimento que despoletou o primeiro conflito mundial.

Como já sabes, desde finais do século XIX que a confrontação era latente. Os países
europeus encontravam-se divididos em blocos opostos (Tripla Aliança e Tripla Entente)
cada vez mais agressivos, com armamento mais sofisticados (metralhadoras e carros
blindados) e prestes a atuar em zonas perfeitamente marcadas – Alsácia-lorena,
Península Balcânica e África.

A morte do futuro imperador da Áutria-Hungria serviu de pretexto para que terminasse


o período da Paz Armada e se iniciasse o da guerra.

A Sérvia país até então independente, foi considerado pela Áustria como cúmplice no
assassinato do arquiduque. Esta alegada cumplicidade foi utilizado pelo Império
Austríaco como justificação para a ocupação militar desse país, pensando concretizar o
seu velho sonho de domínio da Península Balcânica. Mas a Rússia, que pretendia
também exercer a sua hegemonia sobre esta zona, estava atenta, não permitindo
qualquer intervenção

Professor Agostinho António Ialá Júnior 38


Tropas russas concentram-se nas fronteiras com Alemanha e a Áustria. Esta atitude foi
considerada pela Áustria como uma provocação, o que a levou a pedir ao Czar a retirada
dos soldados russos. A Rússia devolveu o pedido alemão, ao que o imperador
Guilherme I da Alemanha com a declaração da Guerra.

Ao mesmo tempo que se desenvolvia que se envolvia em luta com a Rússia, Guilherme
II pediu a França que mantivesse a neutralidade. Este pedido compreende-se, pois seria
muito difícil para a Alemanha manter uma Guerra em duas frentes. A França, no
entanto, considerou-o ofensivo, recusando-se a aceitá-lo, ao que a Alemanha respondeu
igualmente com a declaração de Guerra.

A partir daqui começam a funcionar as alianças anteriormente firmadas e em menos de


um mês grandes contingentes de tropas e grandes quantidades de armamentos
movimentam-se no interior de Europa e tomam posições.

No dia 4 de Agosto a Alemanha invade a Bélgica. A Inglaterra, em nome da defesa da


independência e da neutralidade dos pequenos países, entra em confiro ao lodo da
França e da Rússia.

8.2. O desenvolvimento da guerra

No inicio da guerra o número de soldados mobilizados eram semelhante nos dois blocos
em oposição, mas a Alemanha dispunha de uma superioridade em relação ao
armamento, especialmente metralhadoras e artilharia pesada. No que diz respeito ao
domínio do mar a superioridade era inglesa, o que permitiu às forças da Entente
bloquear o abastecimento marítimo dos impérios centrais.

Quando se iniciou a Primeira Guerra Mundial, todas as forças em presença estavam


convencidas de que ele iria ser rápida e decisiva. A Alemanha esperava reduzir a França
a uma potencia de segundo plano, substituir a Inglaterra no domínio dos mares e
apoderar-se do seu império colonial. Quanto aos países da Entente tinham como
objetivo acabar com as pretensões hegemónicas da Alemanha e reduzi-la às fronteiras
que limitavam o seu território antes da guerra franco-prussiana.

O conflito não decorreu de acordo com as convicções das potencias nelas envolvidas,
vindo a terminar em 1918 depois de ter feito cerca de oito milhões e meio de mortos.

A Guerra de 1914 – 1918 desenvolveu-se em três fases:

a) Guerra de movimento: 1914


b) Guerra de posições: 1915 -17
c) Guerra de movimento: 1918

Professor Agostinho António Ialá Júnior 39


8.2.1. A guerra de movimento

o plano da guerra alemão havia sido traçado em 1905 por Schieffen, demonstrando que
este conflito era esperado há muito tempo.

Schiefffen elaborou o seu projecto tendo em conta os dois inimigos da Alemanha – a


França e a Rússia. O seu plano previa duas frentes de batalha, uma a Ocidente e outra a
Oriente. O êxito alemão resultaria da rapidez e surpresa do ataque das forças
germânicas.

Os franceses, que tinham conhecimento das intenções alemãs, fortificaram a fronteira


com a Alemanha, mas o plano desta potência não previa a invasão directa da França. As
tro

ps alemães invadiram a Bélgica, envolvendo os exércitos franceses e jogando sempre no


fator surpresa na fronteira com a Alemanha. Quand os russos estivessem prontos para
atacar já as tropas alemães teriam derrotado a França no Ocidente, estando portanto
disponíveis para lutar na frente Oriental.

De acordo com este plano, a guerra ficaria resolvida em três ou quatro meses. Mas a
realidade foi bem diferente. Quando o general Moltke, comandando as tropas alemães
no inicio da guerra, pôs em pratica a generalidade do plano Schieffen, parecia que tudo
iria decorrer como estava previsto. Dez dias foram suficientes para a Alemanha dominar
a Bélgica, avançando rapidamente para a fronteira francesa e invadindo este país. Joffre,
general francês, faz então recuar as suas tropas n direcção de paris.

A guera relâmpago era um êxito. Mas no dia 15 de Agosto, na frente oriental, a Rússia
invadia o território alemão. A participação rápida da Rússia na guerra contrariava os
projectos alemães. Deste modo, o general Moltke vê-se privado de algumas divisões,
deslocadas para a frente oriental. Apesar disso, os alemães pensavam levar a bom termo
a guerra n Ocidente, já que os seus inimigos haviam recuado, fazendo prever a vitória.

Entretanto, o general Joffre reunia os seus exércitos em fuga e, juntamente com auxílio
inglês, organiza a defesa no Marne. Nesta zona vão conseguir a sua primeira vitória, que
focou conhecida como o “ milagre de Marne”. A colaboração dos taxistas de Paris, que
em duas viagens transportaram cerca de 6000 soldados, foi fundamental para este
resultado.

Este sucesso das forças das Ententes pôs em causa a realização do plano alemão e
forçou os dois blocos opostos a entrar numa nova estratégia de guerra.

8.2.2. A guerra de posicoes – 1915 – 1917

Durante três longos anos as posicoes dos exércitos em confronto vão estabilizar-se e os
soldados vão enterrar-se em trincheiras protegidas por arame farpado. A conquista das
posições inimigas vai ser o seu objectivo neste período, em que não se assiste a

Professor Agostinho António Ialá Júnior 40


nenhuma vitória assinalável para qualquer das partes, apesar das numerosas perdas
humanas.

A vida dos soldados nas trincheiras era penosa. Além do frio, da fome, dos vermes que
os atacavam, sofriam também com os bombardeamentos e com os gases asfixiantes.

As tentativas de conquista traduzi das posições inimigas traduziam-se em numerosos


mortes, e os poucos quilómetros conquistados eram perdidos no mesmo dia ou nos dias
seguintes.

Na tentativa de voltarem a uma guerra de movimento, os alemães atacaram a cidade de


Verdun, fortemente defendidas pelos franceses. Após uma ofensiva cerrada, as forças de
Entente mantêm a cidade à custa de grande número de mortes (calculam-se em 700.000
o número de vitimas para os dois llados).

Também no mar os germânicos procuraram romper o bloqueio que lhes era movido
pelos inglese. No Mar de Norte dá-se a batalha de Jutlândia, que não resultou em vitória
para qualquer das forças em presença, já que se os ingleses perderam mais unidades
navais que os alemães, as perdas sofridas por estes foram tão gravosas para a sua frota
que se retiraram e não voltaram a desafiar os britânicos para uma batalha no mar.

Podemos concluir assim que até Abril de 1917 se mantiveram as posições ocupadas em
fins de 1914.

O ano de 1917 foi decisivo para o desfecho da guerra. Os Estados Unidos da América,
se havia colocado ao lado dos aliados, desequilibrando as forças que há anos se
defrontavam.

Desde o inicio do conflito que os E.U.A. se haviam colocado, ao lado das forças da
Entente, fornecendo-lhes armas, munições e produtos alimentares, auxilio que levou os
E.U.A. a uma grande prosperidade económica.

Muito dos produtos americanos enviados para a Europa não eram pagos em dinheiro,
mas fornecidos a crédito. Deste modo, não convinha aos seus comerciantes a derrota da
Entente.

A Alemanha, desejosa de romper o bloqueio marítimo a que estava sujeita e de impedir


o abastecimento feito pelos países neutros aos Estados Ocidentais, declarou a guerra
submarina no Atlântico. Os E.U.A. viram atacados os seus barcos e a sua prosperidade
económica ameaçada.

Também no ano de 1917 se assiste o abandono da guerra por parte da Rússia. Como
estudarás mais adiante, na Rússia tiveram lugar neste ano duas revoluções – a de
Fevereiro (burguesa) e a de Outubro (socialista).

A condição fundamental para o triunfo da revolução de Outubro era a assinatura da paz


com a Alemanha, tendo em vista a canalização de todas as forças humanas e técnicas
para reconstrução do país.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 41


Em Março de 1918 é assinada a paz de Brest-Litovsk entre a Rússia e a Alemanha. Com
este tratado a Rússia perdia os estados do Báltico, a Polónia e a Rússia Branca.

O abandono da guerra por parte da Rússia permitiu aos alemães acalentar algumas
esperanças quanto ao seu desenlace.

O Japão participou também na Primeira Guerra Mundial logo desde início. Aproveitou
o facto de a Alemanha estar ocupada na Europa para se apoderar das suas colónias no
Pacífico. A força crescente do Japão e o seu enriquecimento fizeram dele uma força
temida. Embora lutando contra a Alemanha, o Japão nunca enviou o auxilio que a
Entente lhe solicitou. Pelo contrário, aproveitou a guerra para afastar os europeus da sua
vizinhança e dominar a China. Várias exigências foram feitas pelos nipónicos aos
chineses, que se viram obrigados a aceitá-las na sua quase totalidade, pois nem a
Inglaterra nem a França estavam em condições de os ajudar.

8.2.3. A guerra de movimento – 1918

Com o abandono da guerra por parte da Rússia, os alemães puderam deslocar grande
parte das suas forças para o Ocidente. Vão então tentar lançar a ofensiva final em 15 de
Julho de 1918.

Esta ofensiva alemã não surtiu efeito, já os soldados americanos já se tinham unidos
aos franceses e ingleses. Os exércitos aliados, chefiados por Foch, vão lançar-se na
contra-ofensiva a partir de Agosto desse ano.

Dispondo de material bélico mais moderno, fornecido pelos Estados Unidos (veículos
blindados), a França vai desalojar os alemães do seu território em apenas dois meses.

Quanto à Península Balcânica, a luta travava-se aí entre austríacos, que como sabemos
apoiavam os alemães, e italianos, que haviam entrado na guerra ao lado da Entente em
1915.

Depois de pesadas perdas, os italianos conseguem derrotar os austríacos (que eram


ajudados pelo exercito alemão), obrigando o governo da Áustria a pedir a paz.

Os impérios centrais, que perdiam terreno em todas as frentes, passavam também


internamente por momentos de grande dificuldade. As revoltas e deserções dos
soldados, as greves dos operários e a difusão das doutrinas marxistas agitavam
continuamente a Alemanha.

Esta agitação levou à queda do imperador Guilherme II, que em 1918 se viu obrigado a
abdicar e a fugir para a Holanda. A Republica foi proclamada a 9 de Novembro de
1918.

Foi o governo republicano que, perante os desaires sofridos pelas tropas germânicas,
pediu o armistício, que foi assinado dois dias depois da proclamação da república. Por
este armistício a Alemanha entregava grande quantidade do seu material de guerra às
forças da Entente. Estavam terminada a guerra e as negociações de paz.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 42


8.2.4. A participação de Portugal na Guerra

Desde final do século XIX que Portugal assistia à cobiça alemã sobre as suas colónias,
cobiça partilhada alias pelos ingleses. Com efeito, em 1913 a Alemanha e a Inglaterra
tinham realizado negociações secretas com o objectivo de partilharem entre si as
colónias portuguesas.

Este fato justificava a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial ao lado das
forças aliadas. Após a vitória final, era convicção do governo português que, ao tomar
parte nas negociações de paz, poderia mais facilmente defender os seus interesses. Por
outro lado, a República, recentemente implantada em Portugal, sairia mais reforçado
depois da participação na guerra, contando com o triunfo das potências defensoras da
democracia e do parlamentarismo.

A Inglaterra não estava muito interessada na participação de Portugal. Mas em 1916,


necessitando de barcos, pediu ao governo português que confiscasse todas as
embarcações acostadas em portos do continente ou das coloniais que fossem
propriedade da Alemanha. Ao satisfazer este pedido inglês, Portugal viu-se envolvido
no conflito quando a Alemanha lhe declarou guerra.

Depois de preparadas as tropas, desembarcou na Flandres, em 1917, o Corpo


Expedicionário Português.

A partida das tropas para a frente de batalha tanto na Europa como em Moçambique,
onde os alemães atacavam continuamente esta colónia, trouxe graves consequências
económicas ao país. A fome começou a grassar nas cidades e o número de feridos e
mortos assustava a população.

Esta situação, juntamente com o fato de não haver em Portugal força militar capaz de
defender a República, tornou possível em 5 de Dezembro de 1917 uma revolta
encabeçada por Sidónio Pai instaurasse uma ditadura militar em Portugal.

Sidónio Pais defendeu a saída de Portugal na guerra, não por razões humanitárias ou por
razões de reconstrução da economia nacional, mas simplesmente porque era um
admirador dos alemães. Os soldados em combates nas frentes deixaram de se rendidos,
regressando ao país.

Em 1918, os alemães venceram o Corpo Expedicionário Português em La Lys,


causando tantas baixas que o que resultou dos seus soldados não podiam ser
considerado um corpo expedicionário, tendo sido anexado ao exército inglês.

Em Portugal, a oposição a Sidónio defendia a participação na guerra, respondendo o


governo com o exílio, prisão e torturas dos que se lhe punham.

Em Dezembro de 1918 Sidónio Pais é assassinado e em Março de 1919 os republicanos


voltam ao poder.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 43


Nesta altura as negociações de paz tinham lugar em Paris. O abandono da guerra por
parte de Portugal tornou muito difícil a sua participação na respectiva conferencia em
igualdade com os outros países. Foi graça à luta travada, primeiro por Egas Moniz e
depois por Afonso Costa, que Portugal conseguiu ser contemplado com uma
indemnização de guerra, a restituição de Kionda, ocupada pelos alemães desde 1894, e o
reconhecimento da totalidade das suas colónias.

Portugal foi um dos países que fez parte da Sociedade das Nações desde o primeiro
momento, tendo sido Afonso Costa o chefe da representação portuguesa na sua região
inaugural.

8.3. A Conferência de Paz e a criação da Sociedade das Nações

Os países vencedores reuniram-se durante seis meses em Paris com o objetivo de


redigirem os Tratados de Paz, salientando-se entre eles o Tratado de Versalhes (1919).

Uma vez redigido, os delegados alemães foram chamados à capital francesa para dele
tomarem conhecimento e o assinarem. Segundo este tratado, a Alemanha era a grande
responsável pela guerra. Deste modo perdia todas as suas colónias, quer em África –
onde seriam distribuídas pela França e pela Inglaterra – quer no Oriente, onde foram
ocupadas pelo Japão. Era obrigada a restituir a Alsácia-Lorena aos franceses; a zona da
Renânia era desmilitarizada; era-lhe proibido ultrapassar os cem mil homens armados e
construir aviões ou navios de guerra. Além de tudo isso a Alemanha viu-se obrigada ao
pagamento de uma grande indemnização aos países por ela invadidos.

Este tratado foi considerado humilhante para os alemães, tendo mesmo alguns membros
do recém-criado governo republicano alemão pedido a sua demissão para o não
assinarem.

Alemanha contava com uma paz negociada, ela tem uma constituição republicana
semelhante às dos países aliados; mas depois de lhe terem levado as armas e os meios
de defesa, os aliados têm vindo a abusar da sua fraqueza.; isolaram em Versalhes os
representantes dos portugueses, rejeitaram as suas objecções e contra-propostas,
recusaram toda a discussão sobre eles; impuseram à Alemanha uma paz que não foi
livremente negociada, mas ditada – um Diktat;

Por um artigo particularmente odioso deste diktat, o artigo 231, a Alemanha foi
obrigada a reconhecer-se culpada da guerra; daí obrigarem-na a pagar reparacoes
astronómicas, e depois de tudo isto não lhe abriram o acesso à Sociedade da Nacoes.

A Alemanha assinou este tratado porque foi agrilhoada e não podi fazer outra coisa, mas
esta assinatura extorquida não a obriga a nada. OS alemães quebraram as cadeias com
que os amarraram logo que lhes seja possível.

Ainda no ano de 1919e firmado o tratado de Saint-Germain, que obriga a Áustria a


reconhecer a independência da Hungria, da Checoslováquia e da própria Polónia. A

Professor Agostinho António Ialá Júnior 44


proibição da Áustria se unir à Alemanha era também consagrada neste tratado, que
traduz o enfraquecimento daquele país.

Outros tratados que consagravam as transformações politicas resultantes da guerra e que


garantiam o domínio dos vencedores são assinados na mesma altura. Em todos, eles
salientavam a necessidade de se criar uma organização que representasse vários países
e cuja finalidade seria evitar uma nova guerra, que ao simples análise doa conteúdos dos
tratados de paz deixa adivinhar se julgava próxima.

Constitui-se as Sociedades da Nações, com sede em Genebra (Suíça), cujo princípios


foram sugeridos pelo então presidente dos E.U.A., Woodrow Wilson. Mas desde logo, o
processo da sua criação conduziu à sua inoperância e à sua incapacidade de servir como
mediadora nos conflitos internacionais. Devendo ser constituída por todos os países que
nela quisessem participar, excluindo no seu seio a Alemanha e a Rússia. Esta atitude dos
países fundadores criou ressentimentos e abria a porta a futuros conflitos.

Quando o presidente E.U.A. levou ao Congresso, para a aprovação, as cláusulas do


Tratado de Versalhes e a criação da Sociedade das Nações, viu a sua proposta derrotada,
já que grande parte dos membros do Congresso americano discordou da dureza de
Tratado de Versalhes. Deste modo, os E.U.A. não fizeram também parte da Sociedade
das Nações.

Alguns anos mais tarde, a U.R.S.S. e a Alemanha acabaram por entrar na referida
Sociedade. Era no entanto, tarde. Quando esta organização internacional pretende impor
o seu princípio de resolução de conflitos pela via diplomática, os países ou não aceitam
as suas decisões ou simplesmente a abandonem, caso da Alemanha e do Japão em 1933.

A Sociedade das Nações foi sempre, no que diz respeito às questões políticas, uma
organização sem força e que foi auto-extinguido, até à sua dissolução depois da
Segunda Guerra Mundial.

9. A Revolução Socialista Soviética

A Rússia dos finais do século XIX e início do século XX era um país da Europa de
contrastes sociais mais chocantes. Em simultâneo com indústria moderna e o capital
financeiro existiam formas medievais de propriedade de terra, o que traduzia na
manutenção de estruturas semi-feudais no mundo rural.

A industria, graças ao apoio estatal e aos investimentos estrangeiro, sobretudo por parte
da França, conheceu um desenvolvimento de tal forma acentuado que o país ocupava o
quinto lugar na produção industrial mundial, se bem que a produção per capita fosse dez
vezes menor que a dos E.U.A.. Este surto industrial era, no entanto, ilusório, uma vez
que a Rússia não produzia máquinas para a sua indústria, ao mesmo tempo que somente
1/5 da sua população se ocupava neste sector.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 45


Fácil se torna portanto concluir que o suporte da economia continuava a ser a
agricultura, uma agricultura atrasada, onde os camponeses rasgavam a terra com aados
antiquados e faziam as colheitas à mão, com foices, entregando quase metade da
produção aos ricos proprietários (Kulaks). O Czar Alexandre II pretende, no entanto, em
1861, através da concessão da liberdade aos servos, transformar as estruturas existentes
na Rússia. Com esta medida, o campesinato adquiria a liberdade pessoal, ficando com
metade das terras cultivava mediante o pagamento de uma renda ao Estado por um
período de 50 anos. Esta renda, acrescida de pesados impostos que recaíam sobre o
camponês e acompanhada do atraso tecnológico que era manifesto, em nada contribuiu
para a melhoria da vida nos campos, continuando a população rural sujeita à mais
absoluta pobreza.

No plano político, a Rússia tendo como pilares uma poderosa aristocracia detentoras de
terrae e um forte esquema burocrático, estruturava o seu regime numa monarquia
absoluta à frente da qual pontificava a figura de Czar. Este regime vai confrontar-se
com uma oposição com objectivos e inspirações ideológicas diferentes. De um lado a
burguesia desejosa de se sentar nas cadeiras do poder e que propunha, como meio de
alcançar, eleições livres de um parlamento nacional; do outro lado os intelectuais e
operários que, perfilhando uma ideologia socialista, se revelam bastante mais radicais
quanto aos processos para derrubar o Czar e que desde os meados do século XIX se
vinham agrupando clandestinamente em pequenos núcleos de reflexão e ação políticas.

Não havia, no entanto, no seio destes intelectuais, unanimidade quanto à linha de ação a
desenvolver para desencadear o processo de revolucionário. Uns, apoiados na
agressividade demonstrada pelo proletariado nas áreas industriais, traduzida nos vários
movimentos grevistas, vão buscar o fundamento para a sua tese à doutrina de Karl
Marx, defendendo que a revolução só seria possível graças à ação do proletariado
industrial nascido e explorado na sequência do desenvolvimento do capitalismo. É nesta
perspectiva que fundam em 1898 o Partido Social-Democrata.

Outros defendiam que a revolução devia começar pelos campos, uma vez que a
exploração a que estava sujeito o campesinato lhes aguçava o desejo para a sublevacao.
Para eles, o socialismo era possível sem passar pela fase de desenvolvimento capitalista,
sendo dentro desta linha de orientação política que fundam em 1901, o Partido
Socialista revolucionaria.

Contrastando com este dois processo de actuacao, a burguesia, informada por uma
filosofia reformista, funda em 1903 o Partido Constitucional Democrata. É ainda neste
mesmo ano de 1903 que se realiza em Londres e Bruxelas o segundo Congresso do
Partido Social-Democrata, donde resulta uma cisão em dois blocos: O menchevique,
minoritário e o Bolchevique, o maioritário . Com o bloco menchevique se encontrava
muito próximo da linha de actuação dos marxistas ocidentais, nomeadamente os
alemães e a repressão era grande na Rússia, tornando difícil a aplicação das medidas por
eles preconizadas. O chefe de fila do partido bolchevique, Vladimir Illich Ulianov
(Lenine), defende uma nova concepção de partido , constituído por homens predispostos

Professor Agostinho António Ialá Júnior 46


para a ação revolucionaria, fortemente disciplinado e dirigido por um comité central de
reconhecimento autoridade.

Entretanto, enquanto os partidos socialistas revolucionário e social-democrata, agindo


na clandestinidade, procuravam concretizar a ação revolucionaria, o czar Nicolau II
continuava a governar despoticamente a Rússia, defendendo mais do que nunca o
absolutismo monárquico para o seu país e o seu povo. Porém, um fato de natureza
político-militar ajuda a precipitar os acontecimentos e vem juntar-se ao caudal de
descontentamento populacional que desde o início do século XX se vinha tornando cada
vez mais visível: a derrota do exército e da armada russa em 1904 frente às tropas
japonesas, quando as duas potências se envolveram num conflito pela posse da
Manchúria, que ambas pretendiam anexar. Este desaire militar, aliado como se referiu,
ao descontentamento popular, vai culminar com a Revolução de 1905, cujo epílogo tem
lugar num Domingo de Janeiro desse mesmo ano, em São Petersburgo, frente ao Palácio
Imperial, quando uma manifestação pacífica de cerca de 200.000 pessoas, constituídas
por homens, mulheres e crianças, é dispersada a tiro pelo exército, causando centenas de
mortos – foi o célebre Domingo Sangrento de São Petersburgo.

Esta repressão violenta desencadeia nas cidades um movimento grevista de grandes


proporções que leva à constituição dos sovietes (conselho de operários) e nos campos à
invasão das terras da grande aristocracia fundiária pelo campesinato. Perante este
movimento das massas trabalhadoras, o czar acedeu convocar eleições para um
Parlamento a eleger pelo povo, não sem que na antes tivesse perseguido os líderes
revolucionários levando a revolução abortar. Quanto às eleições para o Parlamento
(Duma), o czar cumpriu efectivamente a sua palavra, mas uma vez esta constituída,
praticamente não funcionou devido ao obstinado absolutismo de Nicolau II.

Os movimentos que tinham levado à Revolução de 1905, ainda que violentamente


reprimidos, não tinham porém sido anulados; bem pelo contrário, mantinham-se latentes
e vão encontrar terreno favorável para o seu desenvolvimento com a entrada da Rússia
na Primeira Guerra Mundial, em Agosto de 1914.

O exército russo, mal equipado e mal preparado, é constantemente desbaratado,


sofrendo baixas elevadíssimas, enquanto que o regime de czarista se revelava
absolutamente inoperante e incapaz de fazer face aos desequilíbrios económicos e à
desorganização dos transportes, que a guerra viera agravar.

Perante esta situação, em Março de 1917 (Fevereiro segundo calendário russo), os


operários de Petrogrado (antiga São Petersburgo), a que se juntaram os soldados da
guarnição da cidade, iniciam um movimento revolucionário que rapidamente conduz à
queda da monarquia absoluta na Rússia.

Alarmados, os parlamentares burgueses da Duma elegem um comité encarregado de


exercer provisoriamente o poder. Mas a Revolução estava em marcha e a este poder de
origem parlamentar contrapõem os revolucionários uns do outro – o do Soviete dos
soldados e operários de Petrogrado. Pressionado põe este, o comité da Duma encarrega

Professor Agostinho António Ialá Júnior 47


o príncipe Lvov (1869 - 1925) de formar governo. Será um governo constituído na base
dos partidos burgueses que formavam a Duma, mas que integrava o vice-presidente do
Soviete de Petrogrado, Alexandre Kerensky (1881 - 1970).

Este governo, que enterra definitivamente o despotismo czarista na Rússia, toma


imediatamente medidas tendentes a estabelecer as mais elementares liberdades de
expressão, associação, reunião e greve. Entretanto, campesinato, que constituía a grande
maioria do exército russo, reclama com urgência o fim da guerra e a reforma agrária,
traduzida na repartição das terras pertencentes à aristocracia latifundiária. Por sua vez, o
Soviete de Petrogrado, onde pontificam socialistas revolucionários, mencheviques,
incita a formação de sovietes no seio do próprio exército, o que traduz a uma quebre de
unidade na instituição militar, pela oposição que frequentemente faziam às
determinações do governo.

Com este quadro desenhado no seio do processo revolucionário, Kerensky forma um


segundo governo, agora de coligacao entre socialistas e liberais burgueses, que vem a
ser alvo de uma tentativa de golpe contra-revolucionário por parte de algumas unidades
do exército e que é sustido devido à ação dos bolcheviques, liderados por Lenine. Este,
consciente das realidades com que confrontava o povo russo, concebeu um programa de
ação que lhe permitiu progressivamente impor-se no seio dos sovietes e que
basicamente gravitava em torno de quatro eixos fundamentais :

- restabelecimento imediato da paz;

- repartição das terras pelos camponeses;

- controlo das fábricas pelas comissões de trabalhadores;

- entrega de todo o poder aos sovietes.

Ente programa, aliado ao domínio do Soviete de Petrogrado pelos Bolcheviques e ao


apoio concedido pelos soldados da cidade, conduziu em Novembro (Outubro em
calendário russo) à tomada do poder pelas armas. Esta ação, que só encontrou algumas
oposição na sede do Governo do Congresso dos Sovietes, à constituição de um governo
unicamente bolchevique que , sob a presidência de Lenine, tinha Léon Trotsky (1879 -
1940) na pasta dos negócios estrangeiros.

O programa deste governo teve como coordenadas os quatros pontos atrás enunciados,
sendo nesta perspectiva que, perante um ataque do exército alemão, foi assinada em
18918 a paz de Brest-Litovsk ao mesmo tempo que, por medida de precaução e defesa,
a capital se transfere de Petrogrado para Moscovo. Em simultâneo com estes fatos, o
partido bolchevique passa a designar-se partido comunista, enquanto Trotsky deixa os
negócios estrangeiros para se ocupar exclusivamente a guerra.

Mas o governo presidido por Lenine não teve tarefa fácil. No interior do próprio país
ganhavam forma de oposicao as forças constituídas pelos saudosistas do czarismo, os
liberais burgueses, alguns socialistas revolucionários e uma forte componente

Professor Agostinho António Ialá Júnior 48


constituída por antigos oficiais do exército imperial, que vão envolver o país numa
sangrenta guerra civil, onde se vão confrontar até 1920 com o exército vermelho,
organizado por Trtsky.

Durante a guerra civil houve necessidade de não descurar a tão débil e deficitária
economia russa, procedendo-se então à nacionalização dos grandes complexos
empresariais e colocando sob o controlo dos sovietes operários as pequenas e médias
empresas. Para assegurar os circuitos comerciais dos campos para as cidades e evitar a
retenção dos excedentes nas zonas rurais, procedeu-se à sua requisitação, ao mesmo
tempo que se constituíram sovietes de camponeses encarregados de fiscalizar a ação dos
kulaks e evitar o bloqueio dos produtos alimentares. Foi esta política económica que se
designou por comunismo de guerra.

Uma vez terminada a guerra civil, impunha-se com carácter de urgência o estímulo da
economia. Em 1921, após o X Congresso do Partido Comunista (Bolchevique) da
Rússia, é posta em marcha uma Nova Politica Económica (N.E.P). Dentro dos
parâmetros estabelecidos pelas zonas agrárias em função da situação material de cada
um: Os pobres ficavam isentos, os camponeses médios pagavam parcialmente e os
kulaks pagavam por inteiro. Depois de pago o imposto, os camponeses ficavam com a
liberdade de vender os excedentes, o que vem ativar o comércio privado, ao mesmo
tempo que o comércio corporativo e estatal inicia o seu desenvolvimento.

No sector industrial, o Estado orienta os seus esforços no sentido de revitalizar a grande


indústria, concedendo de arrendamento a cooperativas e a particulares algumas
pequenas empresas. As empresas tuteladas pelo Estado foram libertadas de uma
centralização opressiva, passando a funcionar segundo o princípio de autogestão. Os
trabalhadores passam a ser contratados por bolsas de trabalho e o seu salário pago em
função da qualidade e quantidade do que produzem.

Este conjunto de medidas ajuda a recuperar a economia nacional, ao mesmo tempo que
confirma nas mãos do Estado os sectores-chave da máquina económica, como sejam a
grande e média industria, os transportes, a terra e o monopólio do comércio externo, em
simultâneo com a redução gradual e progressiva dos elementos de natureza capitalista.
Estavam assim lançados as bases de uma forte aliança económica entre operários e
camponeses, reforçado o poder de Estado e abertas as portas para a consolidação de
uma economia de tipo socialista, que só será plenamente atingida quando se
concentrarem nas mãos do Estado todos os instrumentos de produção. Mas tais
objetivos, segundo Lenine defende na sua obra O Estado e a Revolução, só serão
possíveis quando o proletariado se assumir como classe dominante dentro de uma
organização estatal centralizada, de modo a poder esmagar os exploradores de índole
capitalista e dirigir a grande massa do povo soviético – era a ditadura do proletariado

Um problema teve, no entanto, que ser resolvido. O território era muito vasto, com
povos de línguas e culturas muito diversificadas que, alguns anos após a Revolução, se
tinham constituído em República Soviéticas autónomas, como foi o caso da Ucrânia, da
Bielorrússia, da Estónia, da Letónia, da Azerbaijão, da Arménia e da Geórgia, e que
Professor Agostinho António Ialá Júnior 49
foram reconhecidas pelo Governo da República Soviética da Rússia a que presidia
Lenine. Todas estas repúblicas, logo que terminou a guerra civil, sentiram a necessidade
de entre si manterem laços de cooperação económica e militar, fato que levou o líder de
Revolução de Outubro a conceber a formação a formação de um Estado Federal
baseado numa absoluta igualdade de direitos. Deste modo, todas as Repúblicas
renunciaram em favor do Estado Federativo a alguns dos seus direitos soberanos,
nomeadamente a gestão da política externa, da defesa, das finanças e da planificação da
economia nacional. Quanto à instrução, saúde publica e segurança social, as Repúblicas
eram perfeitamente autónomas.

Esta concepção de Lenine para a formação do Estado Soviético foi aprovada pelo
Congresso das Delegações dos Sovietes das repúblicas da Rússia, Bielo-Rússia,
Ucrânia, Azerbaijão, Arménia e Geórgia que, reunido em Moscovo a 30 de Dezembro
de 1922, fundou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (U.R.S.S.), para dois
anos mais tarde aprovar a Constituição da União Soviética.

Vladimir Ilich Ulianov (Lenine) morreu em 1924. Vai suceder-lhe Estaline (1879 -
1953) na conducao d partido comunista e na liderança do Estado Soviético, depois de
afastar Trotsky. Este, inspirado no internacionalismo marxista, defendia a ideia de “
revolução permanente”; acreditando que o socialismo só triunfaria na União Soviética
quando a Revolução tivesse uma dimen

são à escala internacional; por sua vez, Estaline contrapunha que o socialismo podia ser
constituído num só país e que a União Soviética tinha, só por si, capacidade de erguer
uma sociedade verdadeiramente socialista.

Convencido da justeza da sua posição, o então líder do Estado Soviético vai submeter
toda a produção a uma organização municiona, criado para tal, em 1927, um
departamento na dependência do governo central – o Gosplan – incumbindo da
planificação da economia. Foi este departamento que fixou até 1955, para períodos de 5
anos, as quantidades a produzir, a taxa de preços para cada artigo e os salários a auferir
pelos trabalhadores. Em contrapartida recebiam das chefias das empresas relatórios
onde se dava conta das matérias-primas, maquinaria e mão-de-obra necessárias para
atingir os índices de produção exigidos pelo plano.

Esta planificação quinquenal trouxe como consequência um crescimento industrial


muitíssimo rápido com a produção do ferro e do aço a quadruplicarem e a do carvão a
triplicar, de tal modo que, na véspera da Segunda Guerra Mundial, a U.R.S.S. era a
terceira potencia industrial do mundo. Mas os planos quinquenais não esqueceram a
agricultura como componente importante no processo económico. Neste setor são
criados Sovkhoses (explorações agrícolas do Estado) e os Kolkhoses (fazenda
cooperativas).

Os Sovhhoses, surgidos inicialmente como resultado da confiscação de terra à


aristocracia fundiaria com o objectivo de fornecer alimento às populações famintas das
cidades, transformam-se em granjas-modelos, com uma agricultura mecanizada, pessoal

Professor Agostinho António Ialá Júnior 50


técnico especializado para a sua orientação e com trabalhadores assalariados ao mês.
Com esta estrutura asseguram uma parte sempre crescente da produção agrícola.

Põe sua vez os Kolkhoses, como já dissemos, funcionam dentro de um esquema


cooperativo. Cada camponês possui no Kolkhose a sua casa, alguns animais, a sua
horta, contribuído com parte do seu trabalho na terras da cooperativa para, no final do
ano, participar na repartição do lucros em função dos dias do trabalho que prestou nas
terras comuns. Na direcção do Kolkhose esta um conselho eleito, encarregado da sua
gestão e com a incumbência de entregar uma parte das colheitas, fixadas no plano aos
organismos do Estado, para posteriormente ser distribuídas pela população não agrícola.

Aplicando com êxito, os planos quinquenais vão contribui de maneira decisiva para
transformar a União Soviética, de um Estado feudal que efectivamente era no inicio do
século, na segunda potência mundial na década de 50.

10. A Europa entre o fim de uma guerra e o inicio de outra


10.1. A Grande Depressão dos anos 30: antecedentes e características

Desde o século XIX que o sistema capitalista conheceu períodos alternados de


prosperidade e depressão. Mas foi paradoxalmente no momento de prosperidade que
ocorreu nos E.U.A. a mais grave crise económico da sua historia. Iniciada neste pais
em 1929, veio a reflectir-se na Europa e alastrar por todo mundo capitalista.

A prosperidade geral que os E.U.A. tinham conhecido nos anos 1924 – 1929 estava com
efeito ameaçada por graves desequilíbrios do sistema económico. A produção industrial
americana oferecia cada vez mais produtos a uma sociedade onde a procura de bens de
consumo apresentava tendência para diminuir ou estabilizar. Os rendimentos do
trabalhador assalariado, que constitua a maioria da população urbana, eram insuficiente
para lhe assegurar um poder de compra comparável com o ritmo de crescimentos
desejável para a produção industrial.

Na verdade, a riqueza distribuía-se na sociedade americana de forma muita desigual. A


titulo de exemplo, podemos referir que, em 1929, os 12 milhões de famílias norte-
americanas mais desfavorecidas representavam 42,5% de todas as que existiam neste
país e recebiam 13% do rendimento nacional, enquanto as 36 mil famílias ricas (0,1%)
atingiam aproximadamente os mesmos 13% de rendimentos. Esta minoria recebia os
lucros das grandes empresas e reproduzia esta riqueza ampliando as suas empresas, criar
novas fabricas e investindo os seus capitais na bolsa.

Pelo contrario, a grande maioria da população sobreviviam com os rendimentos dos


seus trabalhos e, solicitada em consumir em ritmo crescente, recorria ao sistema de
credito ao automóvel e a toda a gama de electrodomésticos. Alguns investiam as suas
poupadas em acções que atingiam alta cotação na bolsa e criavam a ilusão de que
podiam obter ganhos rápidos. A alta contínua da cotação dos títulos da bolsa
desenvolvia o gosto pela especulação.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 51


A estrutura bancária favorece esta situação, uma vez que os créditos são concedidos
com a extrema liberdade.

A exportação de capitais privados para a Europa a seguir à Primeira Grande Guerra


contribuiu para contrair os investimentos, Aida que durante algum tempo tenha
estimulado a exportação. No entanto, à medida que a recuperação económica da Europa
se fazia sentir, baixava a procura de bens americanos e a produção industrial americana
começou a defrontar-se com problemas de super produção, como já vimos era difíceis
de resolver com base no consumo interno.

No setor agrícola verificavam-se uma situação semelhante. A produção europeia de


serie tinha baixado durante a guerra em cerca de 1/5. Os E.U.A. e o Canada
intensificaram por isso o seu cultivo. O preço que o trigo atingiu no mercado
internacional tornou-se muito compensador e levou a que muitos agricultores não
hesitassem em endividar-se para comprar novos campos e produzir mais cereais. Graças
ao crédito bancário modernizaram essas explorações, recorrendo a máquinas que
aumentaram significativamente a produção. À medida porém que a Europa recuperava
do esforço da guerra, o preço dos cereais baixavam no mercado internacional e os países
americanos começaram a ter dificuldades em vende-los a preços compensadores.

Os preços agrícolas deterioram-se então relativamente aos preços industriais e o


aparecimento de grane Stocks de produtos agrícolas no mundo, em 1928, torna-se um
sintoma preocupante. Mas a crise propriamente dita é despoletada a partir da brusca
queda do valor de acções na Bolsa de Nova Yorque.

Depois de vários anos de especulação com acções começavam a derrocada deste jogo
perigoso. Para muitos, os que recorreram ao empréstimo tudo arriscavam na compra dos
títulos mais cotados, isto significavam a ruína completa.

Todos queriam vender os seus valores para fazer frente às dívidas, e isso provocava a
baixa constante das cotações. A derrocada da bolsa significou a corrida ao dinheiro
depositados nos bancos, provocando a falência destes. Nos últimos meses de 1929
faliram 346 bancos em várias zonas de país, e de 1929 a 1932 pelo menos mais 5 mil
fecharam as suas portas.

A industria e a agricultura ressentem-se profundamente deste processo, uma vez o poder


de compra dos consumidores ficou drasticamente afectado. Os salários diminuíram e o
desemprego alastrou na sociedade americana. Nos últimos três meses de 1929, por
exemplo, a próspera industria automóvel reduziu para metade a sua produção. Mas os
efeitos da crise fazem-se sentir com particular incidência nas pequenas e médias
empresas, que são arrastadas para a falência. Os grandes trusts reduzem a produção e
acumulam stocks e não encontram compradores.

Os bens de consumo e mesmo os dos produtos agrícolas baixam continuamente, mas


isso não possibilita a sua venda. Muitos agricultores preferem destrui-los, convencidos
de que assim conseguirão recompor o seu mercado.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 52


Em meados de 1930 toda a economia estava paralisada e a maioria da população
debatiam-se com a miséria e o desemprego.

A Grande Depressão repercute-se rapidamente nos países da Europa, afectado


directamente os que mais ligados estavam à economia americana – Áustria e a
Alemanha – e indirectamente todos os outros países. A repartição dos capitais
americanos e a proibição da saída de dólar são decisões governamentais americanas,
consecutivas ao “ Crack” (desastre) financeiro da bolsa financeiro da Nova Yorque.
Mas esta decisão leva a falência aos bancos privados alemães e austríacos, que não
sobrevivem sem os capitais americanos.

O desemprego atingiu na Alemanha nos primeiros anos da década de 30 cerca de 3


milhões de pessoas. A recuperação económica que se vinha registado na Alemanha foi
profundamente prejudicada, e o sector industrial, que eram financiados por capitais
americanos, foi o mais duramente atingido. Na Grã-Bretanha, a Grande depressão
agravou as dificuldades que desde 1919 se faziam sentir no país. A prosperidade
britânica do período anterior à Primeira Grande Guerra baseou-se sobretudo nos lucros
dos seus capitais investidos no exterior e das suas exportações, principalmente de
carvão, produtos mecânicos e testeis. Nessa altura as suas exportações eram o dobro das
da França e d Alemanha. Mas a Inglaterra foi perdendo os seus mercados internacionais
quando apareceram outras potências a disputa-los e quando se multiplicaram as
barreiras alfandegarias nos países importadores.

Os têxteis (de lã e algodão) são substituídos por novas fibras e o carvão atinge um preço
elevado. Novas fontes de energia – o petróleo e a electricidade – começam a ter uma
utilização generalizada.

A guerra agrava esta situação, que não é ultrapassada na década de 20. A crise de 1929
acaba por conduzir a economia britânica a uma autêntica paralisia. A balança
económica inglesa regista um défice inédito e o governo britânico vê-se na contingência
de recorrer às suas reservas de ouro e à desvalorização de libra. O desemprego atinge
uma percentagem elevada.

O governo recorre então a medidas restritivas internas – reduz os salários dos


professores, da polícia e das forças armadas e mesmo os subsídios de desemprego;
aumenta as taxas alfandegárias. Porém, só a partir de 1933 são visíveis sinais de
recuperação económica.

Em França a crise económica fez-se sentir um pouco mais tarde. Os “anos 20”
corresponderam neste país a uma fase de prosperidade, em que aumentaram a produção
e a produtividade. As novas industriais tiveram um forte crescimento a seguir à guerra:
a indústria de produtos eléctricos triplicou a sua produção; a do automóvel (Citröen e
Renault) sextuplicou-a; a produção do aço e do ferro conheceu um impulso novo com a
incorporação das minas e fábricas da Lorena; e mesmo a industria química, sem atingir
os níveis da Alemanha ou do E.U.A., progrediu consideravelmente. Os preços e os
salários subiram e os trabalhadores participaram desta prosperidade.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 53


A depressão económica só em 1931 começou a afectar a economia francesa, dado que
esta era menos dependente do mercado mundial do que as suas congéneres. Mas se a
depressão não foi aqui tão violenta ela foi sem dúvida mais persistente. As medidas
deflacionarias tomadas pelos governos franceses geraram grande descontentamento
popular e consequente instabilidade politica. Reduziram-se os salários (cerca de 10%)
dos trabalhadores do Estado e procurou-se que os empresários fizessem o mesmo. O
desemprego aumentou e sucederam-se os problemas sociais.

A recessão económica das potências capitalistas priva-as de continuarem a adquirir


produtos alimentares e matérias-primas aos países menos desenvolvidos e por isso
produtos agrícolas como o algodão, o cacau, o açúcar, o café, o milho mais,
provenientes na maioria dos casos das antigas colónias europeias, não têm escoamento
no mercado internacional.

Países como a Argentina, o Uruguai, o Chile, a Austrália e o Brasil, entre outros,


sofriam ainda as consequências do domínio colonial, que lhe impusera, por exemplo no
sector agrícola, a monocultura. Nesta conjuntura de depressão profunda da economia
mundial, o preço dos produtos agrícolas descia constantemente no mercado mundial.
Privados de investimentos estrangeiros, sem alternativa no sector industrial, estes países
são os primeiros a recorrer à desvalorização da moeda como forma de equilibrar a sua
balança comercial e de retingir as importações.

A duração e a intensidade da crise de 1929 afectou as bases do capitalismo liberal,


generalizando-se a desconfiança do sistema.

Na Alemanha a crise contribuiu para a derrocada do regime democrático; em França e


na Inglaterra o regime democrático mantêm-se mais o Estado assume neles um papel de
intervenção e proteccionismo económico.

As primeiras medidas que os governos europeus tomaram para suster a crise foram,
como já viste, de deflação, ou seja, a descida de preços e salários, com estagnação geral
das actividades produtivas e restrição de créditos bancários. A desvalorização da moeda
e as restrições às importações foram outra forma de proteger as economias nacionais. O
Estado passa a controlar as actividades bancárias, intervém nas empresas, reforça o setor
público, em suma, atua sobre toda a economia.

Como forma de combater o desemprego esforça-se para dinamizar a realização de


grandes obras públicas, por vezes de utilidade discutível. Publica legislação aduaneira,
protegendo-se contra a concorrência dos produtos estrangeiros através dos direitos
alfandegários elevados.

Para travar a inflacao e fazer diminuir a moeda em circulacao assiste-se à diminuicao de


certas despesas do Estado, ao congelamento dos salários, ao aumento de impostos e à
reducao do preço dos bens ou ao seu tabelamento.

Estas decisões conduzem à retracao do mercado internacional e ao isolamento das


varias potencias .
Professor Agostinho António Ialá Júnior 54
No E.U.A. as medidas de reacção à depressão surgem em 1932.

O Estado americano, através do seu presidente Hoover, não foi capaz de prever a crise e
mostra-se incapaz de a deter. Em 1932 o desemprego atingia 15 milhões de pessoas e 10
milhões de camponeses debatiam-se com um excesso da produção. Os bancos estavam
em risco de encerrar as suas portas.

É neste contexto que decorrem eleições presidências, em que o candidato democrata,


Franklin D. Roosevelt, derrota Hoover em 42 dos 48 estados americanos.

É este presidente que vai procurar encontrar o caminho para salvar o sistema capitalista
americano.

O vasto programa de reformas que o governo de Roosevelt concretizou ficou conhecido


por New Deal. O Estado americano assumiu entao um papel intervencionista na
economia americana. Logo a seguir à sua tomada de posse – 3 de Março de 1933 –
Roosevelt debruçou-se sobre o sistema bancário americano e o Congresso aprovou uma
lei que dava autoridade incondicional ao governo relativamente ao setor bancário.

No dia 12 de Março de 1933 o presidente pronunciou um dos seus mais famosos


discursos radiofónicos, visando incutir ao desmoralizado povo americano. Não
ignorando o impacto dos meios de comunicação, assegurou que a situação esta sob
controlo e solicitou expressamente a confiança da banca. Determinou medidas de
socorro imediato aos mais necessitados, criando organismo encarregados de distribuir
subsídios em dinheiro e alimentos.

Mais as decisões que mais impacto tiveram sobre a generalidade dos cidadãos foram as
que se relacionam com o desemprego. Um organismo estatal encarregou-se de contratar
numerosos desempregados para a construção de obras públicas – estradas, barragens,
pontes, parques, escolas e hospitais. Apesar de receberem salários ligeiramente
inferiores aos habituais, a ajuda do Estado foi bem colhida por milhares de
desempregados.

No setor agrícola, protegeram-se os agricultores, regulamentando os preços e


comprando as colheitas, mas em contrapartida obrigando-os a diminuírem as superfícies
cultivadas para baixar a produção e subir os preços.

No setor industrial proibiu-se o trabalho infantil, estabeleceram-se horários mínimos e


máximos; concedeu-se aos trabalhadores o direito de se organizarem sindicalmente e de
negociarem contratos colectivos.

A partir de 1934, apesar de oposição de certos setores empresariais privados, que


chegaram a requerer ao Supremo Tribunal que declarasse o programa de governo de
Roosevelt inconstitucional, ele começou a dar frutos e a recuperação económica veio a
consolidar-se antes ainda do fim da década de trinta.

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10.2. Dificuldades das democracias e tentativas da sua superação: o fascismo,
o corporativismo, o nazismo e as experiências sociais-democratas

A primeira Guerra Mundial trouxe consigo o afrouxamento da ideologia liberal e


democrática que até aí se tinha vindo a desenhar e a impor na Europa. Como é
evidente, a deflagração de um conflito à escala mundial vai provocar um abalo
profundo na estrutura económica das principais potências nele envolvidas e por
arrastamento agravar o desequilíbrio económico nos países de economia
dependente. Perante esta situação, as medidas que tiveram de ser adoptadas
reflectiram uma severa politica de austeridade, o que trouxa como consequência a
germinação e enraizamento no espírito dos povos da ideia de que só governos
sólidos e fortes seriam capazes de evitar o caos, gerado por ressentimentos e ódios
deixados pela guerra, e conduzirem à superação da crise. Estava, deste modo, aberto
o caminho para se pôr em causa a confiança nos governos de inspiração popular, ao
mesmo tempo que se subvertia o respeito pelas garantias e liberdades dos cidadãos.

É pois nesta perspectiva que se prepara o terreno para a implantação do fascismo na


Itália e do nazismo na Alemanha, enquanto os regimes democráticos em França,
Inglaterra e Estados Unidos sofrem os fluxos e refluxos de um equilíbrio mais do
que instável.

10.2.1. A ascensão e consolidação do fascismo em Itália

Após a Primeira Guerra Mundial, a Itália viveu uma primeira contrariedade: os


tratados de paz não lhe deram os territórios a que se achava com direito, o que abalou
os sentimentos nacionalistas dos italianos.

Mais graves, contudo, eram as dificuldades económicas, financeiras e sociais. Operários


e camponeses, bem como parte da classe média, viviam uma situação de miséria
extrema devido à desvalorização da moeda, à inflação galopante e ao desemprego.

Num contexto de greves, agitação, ocupação de fábricas e terras, desordem e


perturbação generalizada que o governo não controlava, formou-se, em 1921, o Partido
Nacional Fascista, dirigido por Mussolini.

Através de comícios, de discursos mobilizadoras e das açôes de intimidação e violência


dos seus “ camisas negras” – aos quais o exército fornecia armas - , este partido, que
contava ainda com apoio financeiro da grande burguesia agrária e industrial,
rapidamente se impôs como a única força política capaz de repor a ordem no país.

No dia 24 de Outubro de 1922, Mussolini fez um ultimato ao governo para lhe entregar
o poder, sob ameaça de marchar sobre a capital. Em 28 de Outubro, uma “ Marcha
sobre Roma” obriga, de fato, o governo a demitir-se. O rei Vítor Manuel III, temendo
uma guerra civil, encarregou Mussolini de formar governo, em 29 de Outubro.

Professor Agostinho António Ialá Júnior 56


10.2.2. O Estado fascista

Uma vez no governo, Mussolini começou a lançar as bases de Estado. Em 1924, venceu
as eleições e tornou-se o senhor absoluto, concentrando em si os poderes legislativo e
executivo e convertendo o parlamento em mero órgão consultivo. Foi assim posta em
marcha a construção do Estado ditatorial fascista, cujos pilares essenciais eram os
seguintes:

- O domínio absoluto do Estado sobre o indivíduo e outras instâncias totalitarismo: “


Tudo no Estado, nada contra Estado, nada fora do Estado”. Neste sentido só podia haver
um Partido.

- O culto do chefe, considerado guia e salvador da nação e único titular do mando a


quem se devia obediência cega. “ Mussolini tem sempre razão” e “ Obedece porque
deves obedecer” eram slogans que apareciam nos meios de propaganda.

- O nacionalismo, sentimento de amor à pátria e exaltação das glórias do passado.

- O imperialismo, necessidade de expansão além fronteiras para criar um império. Esta


expansão exigiu um forte militarismo. Em 1936, a Itália conquistou a Etiópia.

- O corporativismo, que promovia a associação de patrões e trabalhadores em


corporações para resolver os conflitos laborais de forma pacifica e de acordo com
interesse do Estado. Neste Quadro, os sindicatos livres eram proibidos.

10.2.3. A violência e propaganda ao serviço do regime

O regime fascista montou uma poderosa máquina de propaganda para se afirmar no


poder e para anular a oposição:

- Exerceu um forte controlo sobre a imprensa e a rádio, divulgando as suas ideias e


censurando as vozes contestatárias.

- Utilizou a escola, os professores e os manuais para passar às crianças uma educação


de acordo com a ideologia fascista. O lema “ Acreditar, Obedecer, Combater” era
ensinado desde a infância.

- Promove a formação da Juventude através da criação de organizações destinadas à sua


“ preparação espiritual, desportiva e paramilitar” para incutir o dever da disciplina e da
obediência desde terna idade.

Para além destes meios, usou a força e a violência através das milícias armadas
(“camisas negras”) e da polícia política (OVRA).

O Estado forte que Mussolini queria construir tinha que ter uma sólida base econ´mica e
ser auto-suficiente – autarcia. Assim, promoveu a construção de grandes obras públicas
(estradas, caminho-de-ferro, barragens, etc.) para diminuir o desemprego e desenvolver
o país. No plano agrícola, procurou aumentar a produção, introduzindo novos grãos,

Professor Agostinho António Ialá Júnior 57


adubos químicos e novas técnicas de irrigação – “Batalha do Trigo”. O Estado assumia
uma posição intervencionista e dirigista da economia.

10.3. O totalitarismo hitleriano na Alemanha


10.3.1. A Alemanha após a 1a Guerra Mundial

No dia 9 de Novembro de 1918, dois dias antes de assinatura de armistício, o imperador


de Alemanha, Guilherme II, abdicou. No ano seguinte, com a eleição de um presidente e
a aprovação de uma instituição, aquele país passava a ter , pela primeira vez, um regime
parlamentar que ficou conhecido por República de Weimer.

No entanto, o sistema democrático iria confrontar-se com enormes dificuldades, fruto de


desvalorização da moeda provocada pela necessidade de pagar a indemnizações de
guerra. A inflação, inicialmente imperceptível, atingiu proporções dramáticas em1023.

Em 1924, a Alemanha iniciou um período de recuperação e prosperidade, graças à


criacao de um novo marco e ao fluxo de investimento externos. Contudo, a crise
iniciada nos E.U.A., em 1929, levou os bancos estrangeiros a repartir os seus capitais,
arrastando a economia alemã para um novo desmoronamento nos anos de 1930 e 1931.
Uma onda de falência fez disparar o desemprego e alastrar a miséria.

Perante a incapacidade do governo em resolver estes problemas, milhões de alemães


passaram a apoiar os partidos extremistas. Nas eleições de Setembro de 1930, os
comunistas conseguiram eleger 77 deputados e os nazis 107. A frágil democracia de
Weimar tinha os dias contados.

10.3.2. Ascensão do partido Nazi ao poder

Foi em 1921 que, em plena crise económica, social e anímica provocada pela guerra e
pelo diktat de Versalhes, Adolfo Hitler surgiu na vida política alemã a chefiar um
pequeno partido, o Partido Nazi. Logo em 1923 tentou um golpe de Estado, mas o
falhanço acabou por conduzi-lo à prisão.

Entre 1924 e 1928, enquanto Alemanha atravessava um periodo de recuperacao


económica, o Partido Nazi teve pouca expressão eleitoral. No entanto, depois de crise de
1929, com a explosão dos problemas económicos e sociais

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