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Romantismo

O Romantismo foi um movimento estético e cultural que revolucionou a sociedade nos séculos XVIII e XIX. Nascido na Alemanha e na Inglaterra e
depois expandido por toda a Europa, surgiu em um contexto marcado por fatos históricos como a Revolução Francesa e as consequências da Revolução
Industrial.

 As obras românticas baseavam-se, então, em valores da burguesia, classe social que substituía a elite absolutista em diversos países.
 A visão de mundo romântica negava os valores defendidos pela tradição clássica e apresentava novo:
 Enfatizava o sentimento em detrimento da razão;
 Valorizava a arte em detrimento da ciência;
 Realçava a subjetividade em detrimento da objetividade;
 Focava no conflito emocional em detrimento da impessoalidade.
 O Romantismo rompeu com a tradição clássica e inaugurou uma nova etapa na literatura, pois conseguiu criar uma linguagem verdadeiramente
nova e relacionada ao contexto histórico e político do período e à vida cotidiana do homem burguês, novo público consumidor da Literatura e
das artes em geral.

POESIA DA 1ª GERAÇÃO

O CONTEXTO HISTÓRICO BRASILEIRO

 29/11/1807: Chegada de Dom João VI e sua corte no Brasil para garantir que Portugal continuasse independente quando foi ameaçado de
invasão por Napoleão Bonaparte.
 07/09/1822: Independência do Brasil realizado por Dom Pedro I.

↳ O Romantismo surge um pouco depois da independência.


Os artistas nacionais tinham o objetivo de definir a cultura brasileira com traços que fossem verdadeiramente da nação e de produzir uma arte
que não fosse baseada nos modelos portugueses. Por isso, o NACIONALISMO é o traço principal Romantismo brasileiro – Este período marca
o despertar da consciência de artistas e intelectuais brasileiros para a necessidade de se criar uma IDENTIDADE NACIONAL por meio das
próprias raízes históricas, linguísticas e culturais do Brasil.

A POESIA NACIONALISTA/ INDIANISTA

 Tinha como objetivo levar adiante o conceito de Nação livre, repudiando ao máximo o que diz respeito à Portugal e os anos de exploração;
 Exaltava a NATUREZA tropical e exótica (símbolo singular do Brasil, considerado cartão-postal do país);
 Valorização da diversidade da fauna e flora regional, pitoresca, rica em cores de maneira sempre GRACIOSA e ORIGINAL;
CANÇÃO DO EXÍLIO, de Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras Minha terra tem primores,


Onde canta o Sabiá, Que tais não encontro eu cá;
As aves, que aqui gorjeiam, Em cismar – sozinho, à noite –
Não gorjeiam como lá. Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Nosso céu tem mais estrelas,
Onde canta o Sabiá.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida, Não permita Deus que eu morra,
Nossa vida mais amores. Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Em cismar, sozinho, à noite,
Que não encontro por cá;
Mais prazer encontro eu lá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Onde canta o Sabiá.

 A obra Suspiros Poéticos e Saudade, de Gonçalves de Magalhães é considerada o marco inicial do Romantismo brasileiro;
 Heroificação do elemento nativo, o índio, enaltecimento sua honra, força e coragem – Contudo, a caraterização do nativo, no romantismo
brasileiro, constantemente apresenta a ética do branco civilizado cristão europeu, ou seja, embora inserido nas florestas, os índios eram
descaracterizados e deixava de ser tão exotico pelos escritores a partir da língua utilizada.
O CANTO DO ÍNDIO, de Gonçalves Dias

Quando o sol vai dentro d'água


Eu a vi, que se banhava...
Seus ardores sepultar,
Era bela, ó Deuses, bela,
Quando os pássaros nos bosques
Como a fonte cristalina,
Principiam a trinar;
Como luz de meiga estrela. Quando a raiar principia.

Ó Virgem, Virgem dos Cristãos formosa, Outra vez - dentre os seus lábios
Porque eu te visse assim, como te via, Uma voz se desprendia;
Calcara agros espinhos sem queixar-me, Terna voz, cheia de encantos,
Que antes me dera por feliz de ver-te. Que eu entender não podia.

O tacape fatal em terra estranha Que importa? Esse falar deixou-me n'alma
Sobre mim sem temor veria erguido; Sentir d'amores tão sereno e fundo,
Dessem-me a mim somente ver teu rosto Que a vida me prendeu, vontade e força
Nas águas, como a lua, retratado. Ah! que não queiras tu viver comigo,
Ó Virgem dos Cristãos, Virgem formosa!
Eis que os seus loiros cabelos
Pelas águas se espalhavam, Sobre a areia, já mais tarde,
Pelas águas, que de vê-los Ela surgiu toda nua;
Tão loiros se enamoravam. Onde há, ó Virgem, na terra
Formosura como a tua!?
Ela erguia o colo ebúrneo,
Por que melhor os colhesse; Bem como gotas de orvalho
Níveo colo, quem te visse, As folhas de flor mimosa,
Que de amores não morresse! Do seu corpo a onda em fios
Se deslizava amorosa.
Passara a vida inteira a contemplar-te,
Ó Virgem, loira Virgem tão formosa, Ah! que não queiras tu vir ser rainha
Sem que dos meus irmãos ouvisse o canto, Aqui dos meus irmãos, qual sou rei deles!
Sem que o som do Boré que incita à guerra Escuta, ó Virgem dos Cristãos formosa.
Me infiltrasse o valor que m'hás roubado, Odeio tanto aos teus, como te adoro;
Ó Virgem, loira Virgem tão formosa. Mas queiras tu ser minha, que eu prometo
Vencer por teu amor meu ódio antigo,
As vezes, quando um sorriso
Trocar a maça do poder por ferros
Os lábios seus entreabria,
E ser, por te gozar, escravo deles.
Era bela, oh! mais que a aurora

 Caracterizado por aquele amor que nunca consegue se tornar um relacionamento estável, ou que termina antes de ter começado ou amadurecido
(são esses amores os que dão origem aos lutos mais profundos, e às vezes são os mais difíceis de esquecer) - O amor impossível é recorrente na
1ª geração, apesar de não ser o tema principal.
SEUS OLHOS, de Gonçalves Dias

Seus olhos, tão negros, tão belos, tão puros,


Às vezes, oh! Sim, derramam tão fraco,
De vivo luzir,
Tão frouxo brilhar,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
Que a mim parece que o ar lhes falece
Do mar vão ferir;
E os olhos tão meigos, que o pranto umedece,
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, Me fazem chorar.
De meiga expressão
Assim lindo infante, que dorme tranquilo,
Mais doce que a brisa, — mais doce que a frauta
Desperta a chorar;
Quebrando a solidão.
E mudo, sisudo, cismando mil coisas,
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, Não pensa — a pensar.
De vivo luzir,
Nas almas tão puras da virgem, do infante,
São meigos infantes, gentis, engraçados
Às vezes do céu
Brincando a sorrir.
Cai doce harmonia duma harpa celeste,
São meigos infantes, brincando, saltando Um vago desejo; e a mente se veste
Em jogo infantil, De pranto co'um véu.
Inquietos, travessos; - causando tormento,
Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
De vivo fulgor;
Com modo gentil.
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Seus olhos são negros, tão belos, tão puros, Que falam de amores com tanta poesia,
Assim é que são; Com tanto pudor.
Às vezes luzindo, serenos, tranquilos,
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Às vezes vulcão!
Assim é que são; Com tanta paixão.
Eu amo esses olhos que falam de amores

POESIA DA 2ª GERAÇÃO

A POESIA MAL-DO-SÉCULO/ ULTRARROMÂNTICA

 Acentuada inadaptação à existência – O eu-lírico está sempre deslocado (“peixe fora d’água”);
 EGOÍSMOS – Mal-estar que os artistas e escritores demonstraram com o mundo e com as relações pessoais, devido estarem inconformados e
chateados com sua condição, principalmente;
 Uso de linguagem idealizada e exagerada.
 BYRONISMO -  Segue a linha de pensamento do poeta inglês Lord Byron (1788 – 1824) uma Literatura caracterizada pelo egocentrismo,
narcisismo, pessimismo, angústia e, por vezes, pelo satanismo;
 MISTICISMO e inclinação para acreditar em forças e entes sobrenaturais.
HORAS TRISTES, de Casimiro de Abreu

EGOÍSMO
Eu sinto que esta vida já me foge Estrela que seduz!
Qual d'harpa o som final,
Agora em vez dos hinos d'esperança,
E não tenho, como o náufrago nas ondas
Dos cantos juvenis,
Nas trevas um fanal!
Tenho a sátira pungente, o riso amargo,
Eu sofro e esta dor que me atormenta O canto que maldiz!
SOFRIMENTO
É um suplício atroz! EXAGERADO DEVIDO AO
AMOR QUE TIRA A Os outros, - os felizes deste mundo,
E p'ra contá-la falta à lira cordas
VONTADE DE VIVER
E aos lábios meus a voz! Deleitam-se em saraus;
Eu solitário sofro e odeio os homens,
Às vezes no silêncio da minh'alma, P'ra mim são todos maus!
Da noite na mudez,
Eu crio na cabeça mil fantasmas VIVER EM OUTRO PLANO Eu olho e vejo... - a veiga é de esmeralda
POR CONTA DO AMOR
Que aniquilo outra vez! O céu é todo azul.
Tudo canta e sorri... só na minh'alma
Dói-me inda a boca que queimei sedento O lodo dum paul!
Nas esponjas de fel,
E agora sinto no bulhar da mente Mas se ela - a linda filha do meu sonho,
CONFUSÃO NA MENTE
A torre de Babel! A pálida mulher Das minhas fantasias, dos seus lábios
Um riso, um só me der;
Sou triste como o pai que as belas filhas MELANCOLIA
Viu languidas morrer, Se' a doce virgem pensativa e bela,

E já não pousam no meu rosto pálido - A pudica vestal

Os risos do prazer! Que eu criei numa noite de delírio


Ao som da saturnal;
E contudo, meu Deus! eu sou bem moço. MISTICISMO E CRENÇA

Devera só me rir, Se ela vier enternecida e meiga

E ter fé e ter crença nos amores, Sentar-se junto a mim;


ÉPOCA DE GRANDE SUICÍDO Se eu ouvir sua voz mais doce e terna
Na glória e no porvir!
Que um doce bandolim;
Eu devera folgar nesta natura
De flores e de luz, Se o seu lábio afagar a minha fronte

E, mancebo, voltar-me pro futuro - Tão fervido vulcão!


E murmurar baixinho ao meu ouvido

As falas da paixão;
Talvez que nos meus lábios desmaiados
Se cair desmaiada nos meus braços Brilhasse o seu sorrir,
Morrendo em languidez, E de novo, meu Deus, tivesse crença
De certo remoçado, alegre e louco Na glória e no porvir!
Sentira-me talvez!..
Talvez minh'alma ressurgisse bela
Talvez que eu encontrasse as alegrias Aos raios desse sol,
Dos tempos que lá vão, E nas cordas da lira seus gorjelos
E afogasse na luz da nova aurora Trinasse um rouxinol!
A dor do coração!
Talvez então que eu me pegasse à vida
Com ânsia e com ardor,
P'ra ela então seria a minha vida, A glória, os sonhos meus;
E pudesse aspirando os seus perfumes
E dissera chorando arrependido:
Viver do seu amor!
- Bendito seja Deus! –

 Uso da função emotiva – Uso da 1ª pessoa, adjetivos, exclamações, interjeições e reticências;


 Escapismo/ Fuga da realidade que o autor (ou personagem) não consegue suportar – Cria-se um mundo idealizado por meio de um sonho,
imaginação, loucura, espaços, tempo, morte (a maior fuga da realidade etc. (idealizações: idealização da sociedade, do amor e da mulher,
buscando uma realidade diferente).
SONETO, de Alvares de Azevedo
Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto! A VIDA CARNAL É UM FARDO PARA O EU-LÍRICO ROMÂNTICO

Do leito embalde no macio encosto


Tento o sono reter!… já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece…
Eis o estado em que a mágoa me tem posto! O EU-LÍRICO ENCONTRA-SE EM EXTREMA TRISTEZA

O adeus, o teu adeus, minha saudade,


Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.

Dá-me a esperança com que o ser mantive!


Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive! A VIDA PERDEU O SENTIDO SEM A MULHER, PORTANTO PREFERE A MORTE

 Valorização da natureza como cúmplice do eu-lírico, ou seja, ela será solidária à sua dor, sendo uma natureza sombria e triste, deixando de ser
seu refúgio.

POESIA DA 3ª GERAÇÃO

A POESIA SOCIAL/ CONDOREIRISTA

 Acentuado engajamento político-social (tomada de posição) – Clamor por JUSTIÇA SOCIAL e LIBERDADE;
 Consciência dos problemas humanos e busca por fórmulas para solucioná-las;
 ORIGEM DO NOME: O condor, ave da Cordilheira dos Andes, representava o poeta dessa geração; assim como essa ave, ele conseguiria ver a
realidade “de cima”, isto é, a partir de um campo de visão mais amplo;
 Apresenta caráter SOCIAL e POLÍTICO e que divulgava e DEFENDIA IDEIAS IGUALITÁRIAS;
 O engajamento dos poetas era sobre a questão abolicionista;
 HUGONIANA - Inspirado no poeta, dramaturgo e estadista francês, autor do romance, "Os Miseráveis", Victor Hugo (1802-1885);
NAVIO NEGREIRO – PARTE IV, de Castro Alves

Era um sonho dantesco... o tombadilho Ouvem-se gritos... o chicote estala.


Que das luzernas avermelha o brilho. E voam mais e mais...
Em sangue a se banhar.
Presa nos elos de uma só cadeia,
Tinir de ferros... estalar de açoite...
A multidão faminta cambaleia.
Legiões de homens negros como a noite,
E chora e dança ali!
Horrendos a dançar... A “DANÇA”, REFERE-SE AO MOVIMENTO
Um de raiva delira, HOMENS
QUE ESSES outro enlouquece,
NEGROS FAZEM AO SEREM AÇOITADOS.
Outro, que martírios embrutece,
Negras mulheres, suspendendo às tetas O SOFRIMENTO DAS
Cantando, geme e ri!
Magras crianças, cujas bocas pretas MULHERES TRANSPORTADAS NO NAVIO

Rega o sangue das mães: No entanto o capitão manda a manobra,


Outras moças, mas nuas e espantadas, E após fitando o céu que se desdobra,
No turbilhão de espectros arrastadas, Tão puro sobre o mar,
Em ânsia e mágoa vãs! Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
Fazei-os mais dançar!..."
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ... E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
Se o velho arqueja, se no chão resvala, DEMONSTRAM O E da ronda fantástica a serpente
SOFRIMENTO DOS
HOMENS E
MULHERES
ESCRAVIZADOS
Faz doudas espirais... Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
Qual um sonho dantesco as sombras voam!... E ri-se Satanás!...

 Estilo vibrante (mais que produzida para ser lida, a poesia condoreira era feita para ser ouvida com o objetivo de apresentar ao público os
problemas sociais, tocando-os no coração) de tom grandiloquente– Predomínio de hipérboles e apóstrofes para destacar a exaltação.

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