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Canção do Exílio são corvos do nunca mais,

Murilo Mendes a povoar nossa noite


Minha terra tem macieiras da Califórnia com duros olhos de açoite
onde cantam gaturanos de Veneza. que os anos esquecem jamais.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista, Em cismar sozinho, ao relento,
os sargentos do exército são monistas, cubistas, sob um céu poluído, sem estrelas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações. nenhum prazer tenho eu cá;
A gente não pode dormir porque me lembro do tempo
com os oradores e os pernilongos. em que livre na campina
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda pulsava meu coração, voava,
Eu morro sufocado como livre sabiá; ciscando
em terra estrangeira. nas capoeiras, cantando
Nossas flores são mais bonitas nos matagais, onde hoje a morte
nossas frutas mais gostosas tem mais flores, nossa vida
mas custam cem mil réis a dúzia. mais terrores, noturnos,
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade de mil suores fatais.
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
Minha terra tem primores,
requintes de boçalidade,
Canto de Regresso à Pátria que fazem da mocidade
Oswald de Andrade um delírio amordaçado:
Minha terra tem palmares acrobacia impossível
Onde gorjeia o mar de saltimbanco esquizóide,
Os passarinhos daqui equilibrado no risível sonho
Não cantam como os de lá de grandeza que se esgarça e rompe,
roído pelo matreiro cupim da safadeza.
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores Minha terra tem encantos
Minha terra tem mais ouro de recantos naturais,
Minha terra tem mais terra praias de areias monazíticas,
subsolos minerais
Ouro terra amor e rosas que se vão e não voltam mais.
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra ***
Sem que eu volte para lá Canção do Exílio 
Raquel Maythenand
Não permita Deus que eu morra Minha terra não tem palmeiras
Sem que eu volte para São Paulo E nem sabiá a cantar
Sem que veja a Rua 15 As aves que aqui gorjeavam,
E o progresso de São Paulo já foram para outro lugar.

Nosso céu não tem estrelas,


Uma canção nossas várzeas não tem flores
Mario Quintana Nossos bosques estão sem vida
Minha terra não tem palmeiras... e nossas vidas sem amores.
E em vez de um mero sabiá,
Cantam aves invisíveis Ao cismar,sozinha,à noite,
Nas palmeiras que não há. não encontro mais prazer lá.
Minha terra não tem palmeiras
Minha terra tem relógios, e nem sabiá a cantar.
Cada qual com sua hora
Nos mais diversos instantes... Minha terra não tem primores
Mas onde o instante de agora? Que tais eu encontro cá.
Ao cismar,sozinha,à noite
Mas onde a palavra "onde"? Não encontro mais prazer lá.
Terra ingrata, ingrato filho, Minha terra não tem mais palmeiras
Sob os céus da minha terra e nem sabiá a cantar.
Eu canto a Canção do Exílio!
Não permita Deus que eu morra
Antes de ver o meu Brasil mudar
Outra Canção do Exílio Onde possa ver primores, que agora não consigo
Eduardo Alves da Costa enxergar
Minha terra tem Palmeiras, Minha terra não tem palmeiras
Corinthians e outros times mas um dia ela terá.
de copas exuberantes
que ocultam muitos crimes.
As aves que aqui revoam

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