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Rezava às Ave-Marias,
MEUS OITO ANOS Achava o céu sempre lindo,
Casimiro de Abreu Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida, Oh! Que saudades que tenho
Da minha infância querida Da aurora da minha vida,
Que os anos não trazem mais! Da minha infância querida
Que amor, que sonhos, que flores, Que os anos não trazem mais!
Naquelas tardes fagueiras Que amor, que sonhos, que flores,
À sombra das bananeiras, Naquelas tardes fagueiras
Debaixo dos laranjais! À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência! ***
- Respira a alma inocência IRONIA ETERNA
Como perfumes a flor; Da Costa e Silva
O mar é - lago sereno, Amarante, 1885-1950
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado, Alegria perpétua das ossadas
A vida - um hino d'amor! Que, surgindo do lodo deletério,
Macabramente, pelo cemitério,
Que auroras, que sol, que vida, Gargalham chocalhantes gargalhadas…
Que noites de melodia
Naquela doce alegria, Escárnio às ironias mais sagradas,
Naquele ingênuo folgar! Sarcasmo eterno, exótico e funéreo
O céu bordado d’estrelas, Do Carnaval da Morte e do Mistério
A terra de aromas cheia, Dentro do horror das noites apagadas…
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar! Ironia feliz dos esqueletos
Nus, sorrindo, funâmbulos e doudos
Oh! dias da minha infância! Dentro dos muros lúgubres e pretos…
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era Ride, Visões sinistras, agoureiras…
Nessa risonha manhã. Pois que dos risos o melhor de todos
Em vez das mágoas de agora, É o riso escancarados das caveiras.
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias ***
E beijos de minha irmã! VERSOS ÍNTIMOS
Augusto dos Anjos 1884-1914
Livre filho das montanhas, Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Eu ia bem satisfeito, Enterro de sua última quimera.
De camisa aberto ao peito, Somente a Ingratidão – esta pantera –
- Pés descalços, braços nus - Foi tua companheira inseparável!
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras, Acostuma-te à lama que te espera!
Atrás das asas ligeiras O homem, que, nesta terra miserável,
Das borboletas azuis! Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas, Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
Trepava a tirar as mangas, O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
Brincava à beira do mar; A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Sorrio do símbolo, ao pensar nele, e ao virar à direita.
Se alguém causa inda pena a tua chaga, Em quantas coisas que me emprestaram guio como
Apedreja essa mão vil que te afaga, minhas!
Escarra nessa boca que te beija! Quanto me emprestaram, ai de mim!, eu próprio sou!