Você está na página 1de 73

O Império Português e a África: A História e o Legado da

Exploração e Colonização por Portugal da Costa da África


Ocidental
Por Charles River Editors

O brasão do Império.
Sobre a Charles River Editors

A Charles River Editors fornece serviços de edição e redação originais em


todo o setor de publicação digital, além de possuir experiência na criação de
conteúdo digital para editoras em uma ampla gama de assuntos. Além de
fornecer conteúdo digital original para editoras terceirizadas, também
republica as maiores obras literárias da história, disponibilizando-as para
novas gerações de leitores em formato digital.
Inscreva-se aqui para receber atualizações sobre livros gratuitos quando
forem publicados e visite nossa página do Kindle para promoções diárias
gratuitas e para descobrir nossos títulos Kindle mais recentes.
Introdução

Um mapa do século 16 da costa africana.


O Império Português e a África
Em meados do século 15, o Império Bizantino entrou em colapso, e as
várias Cruzadas que haviam ocorrido na região interromperam em grande
parte os caminhos terrestres da Rota da Seda e do comércio. Além das
dificuldades no comércio, houve a ascensão do Império Otomano no lugar do
Bizantino, além da eclosão da peste negra na Europa.
Mais ou menos nessa época, teve início um período de exploração na
Europa, e os principais fatores que contribuíram para tal foram introduzidos
pelos chineses, embora de maneira indireta. A bússola magnética já havia
sido desenvolvida e vinha sendo usada pelos marinheiros chineses desde o
século 12, apesar de ter sido criada pela primeira vez no século 3 d.C., como
um dispositivo de adivinhação. A dinastia Song, então, começou a usar o
dispositivo para navegação terrestre no século 11, e marinheiros passaram a
usá-la logo depois. A tecnologia se espalhou lentamente para o oeste através
de comerciantes árabes, embora possam existir argumentos para uma criação
europeia autônoma da bússola (Southey 1812: 210). Independentemente
disso, no início do século 13, a bússola encontrou seu caminho até os
comerciantes ocidentais, chegando em um momento em que o comércio
aumentava em toda a Europa.
O comércio foi capaz de crescer na Europa e em todo o mundo devido à
introdução de navios mais eficazes, e algumas das melhorias recebidas pelos
navios foram primeiro apresentadas pelos chineses. A introdução de
múltiplos navios de mastro, além de lemes de popa, permitiu que os navios
viajassem mais rapidamente e fossem mais manobráveis. No início do século
15, os navios já eram, agora, muito maiores e capazes de suportar viagens de
longa distância com um número mínimo de tripulantes a bordo.
Com isso, os portugueses começaram a explorar a costa oeste da África e o
Atlântico sob as ordens do Infante D. Henrique, o Navegador. Naquele
momento, os europeus ainda não tinham sido capazes de navegar por toda a
África, pois os navios construídos não eram capazes de navegar para muito
longe da costa, e a navegação em águas abertas era complicada, mas os
portugueses continuaram a se aventurar pela costa oeste da África,
procurando maneiras de evitarem os otomanos e os muçulmanos da África
que dificultavam as rotas comerciais terrestres. Em 1.451, o Infante D.
Henrique, o Navegador, ajudou a financiar e desenvolver um novo tipo de
navio, a caravela, que apresentava velas latinas triangulares e seria capaz de
viajar em mar aberto e navegar contra o vento. Em 1.488, Bartolomeu Dias
contornou a ponta-sul da África, nomeada como Cabo da Boa Esperança pelo
rei João de Portugal, e adentrou o Oceano Índico a partir do Atlântico.
Um explorador, Cristóvão Colombo, procurou financiamento entre os
portugueses para encontrar um caminho até a Ásia, navegando para o oeste,
mas foi rejeitado. Naquele momento, no final do século 15, a dominação de
Portugal das rotas marítimas da África Ocidental levou sua vizinha, a Coroa
de Castela, e os monarcas católicos na Espanha moderna a procurarem uma
rota alternativa até o sul e leste da Ásia (denominado Índias), portanto,
forneceram a Colombo o financiamento necessário. Em última análise,
Colombo descobriu as Américas em 1.492, e os assentamentos espanhóis nas
“Índias Ocidentais” acabaram sendo estabelecidos.
É claro que, quando se tornou óbvio que Colombo não havia desembarcado
na Ásia, todos compreenderam que aquela não era, necessariamente, a rota
que os europeus procuravam, e os portugueses continuaram a enviar
exploradores pelo Cabo da Boa Esperança, na tentativa de alcançar as Índias
Orientais. Após uma viagem de dois anos, em 1.499, Vasco da Gama chegou
com sucesso à Índia e retornou a Portugal.
Os portugueses haviam, então, encontrado o acesso às regiões comerciais
que procuravam, mas navegar de Portugal até a Índia e além exigia recursos
demais para que a viagem fosse feita de uma maneira que não houvessem
paradas no meio do caminho. Para remediar esse problema, Portugal
começou a estabelecer um número de fortes e postos comerciais ao longo da
rota. Os portugueses foram capazes de estabelecer um forte na costa oeste da
Índia, o Forte Manuel, em 1.500, e, em 1.505, um forte foi erguido na costa
da Tanzânia, iniciando, assim, uma tendência de colonização europeia na
África e na Ásia que se estenderia pelos próximos 400 anos.
O Império Português e a África: A História e o Legado da Exploração e
Colonização por Portugal da Costa da África Ocidental narra os primeiros
esforços dos portugueses que ajudaram a iniciar a Era da Exploração e as
ramificações que a colonização teve em todo o mundo. Junto com fotos que
retratam pessoas, lugares e eventos importantes, você aprenderá sobre os
portugueses na África como nunca antes.
O Império Português e a África: A História e o Legado da Exploração e
Colonização por Portugal da Costa da África Ocidental
Sobre a Charles River Editors
Introdução
O Navegador
Os portugueses na África
A Fuga de Omã e o Crescimento do Praziero
O Mapa Cor-de-Rosa
O Ultimato de 1890
A Luta Continua
Recursos online
Bibliografia
Livros gratuitos da Charles River Editors
Livros com desconto da Charles River Editors
O Navegador
“O destino de alguém nunca é um lugar, mas uma nova maneira de ver as
coisas.” – Henry Miller
Em janeiro de 1.488, uma violenta tempestade atingiu o cabo sul da África,
uma de muitas, em uma região que se tornaria conhecida por seus temporais.
De fato, a tempestade inspirou o primeiro visitante europeu do cabo, o
marinheiro português, Bartolomeu Dias, a batizá-la como Cabo das
Tormentas. Aquela tempestade em particular, no entanto, atingiu Dias em um
momento difícil, pois ele estava no comando de uma pequena flotilha de duas
caravelas, a São Cristóvão e a São Pantaleão, sob a comissão de D. João II
de Portugal, para contornar a ponta-sul da África, a fim de completar uma
rota marítima até as Índias Orientais. Com ferramentas muito rudimentares de
navegação e sem mapas para usar como referência, onde, precisamente, a
ponta-sul do continente estava continuava sendo uma questão de especulação.

Uma ilustração dos dois navios.


Exploradores marítimos portugueses foram, gradualmente, sondando a
costa ocidental da África desde o começo do século 15, semeando esporos da
língua portuguesa, de sua religião e de seus interesses comerciais em vários
pontos ao longo do caminho. Essas viagens eram, ao mesmo tempo,
empreendimentos por direito próprio, na medida em que o comércio da costa
africana bastava por si só, e um esforço para estabelecer a primazia
portuguesa no comércio de especiarias com a Índia, através da descoberta de
uma via marítima viável ao leste. Houve também um objetivo quase religioso
para o empreendimento: localizar o reino mítico do Preste João, um fabuloso
império cristão que se acreditava existir em algum lugar da África.
Quando Bartolomeu Dias partiu do continente português em agosto de
1.487, uma parte considerável da rota até o Cabo já havia sido estabelecida e,
em termos práticos, ele estava simplesmente juntando os últimos pontos. As
especulações sobre marés e correntes tendiam a sugerir que a extremidade sul
do continente africano estava próxima, mas nenhum europeu sabia
exatamente onde seria isso.
Em teoria, as exigências navegacionais da viagem eram relativamente
claras. Era simplesmente uma questão de seguir a costa atlântica da África até
o sul se tornar leste e, depois, norte. O assentamento mais longínquo foi a
fortaleza portuguesa de São Jorge da Mina, localizada na Costa do Ouro do
que hoje é Gana, e, talvez, o ponto mais conhecido seja a costa desértica do
que hoje é a Namíbia. Ali, os dois navios encontrariam uma corrente fria e
fluída ao norte, a Corrente de Benguela, ao sul da qual ainda nenhuma
expedição havia passado.
Dias e sua tripulação chegaram em segurança na costa do que hoje seria a
Angola, em meados de dezembro de 1.487, encontrando o moderno porto
namibiano de Walvis Bay algumas semanas depois. Este foi nomeado Golfo
da Conceição, e uma pequena cruz foi erguida ali antes que os dois navios
saíssem para mar aberto.
O próximo ponto de desembarque foi o porto namibiano de Lüderitz,
nomeado por Dias como Angra de Ilhéus. Em nenhum lugar do interior
daquele porto, no entanto, nem ao longo daquela costa ressequida e árida,
eles puderam obter reabastecimento de água ou comida, portanto, houveram
sérias tensões a bordo. Os dois navios estavam entrando em latitudes nunca
antes exploradas, e a corrente fria vinda da Antártica provocava nervosismo
entre os homens, alguns dos quais ainda acreditavam que o mundo era plano.
Então, abruptamente, a tempestade os atingiu e a frota foi empurrada para o
Atlântico, e tudo o que Dias pôde saber ao certo foi que os navios estavam
em algum lugar a oeste e a sul da última posição conhecida. Até onde ao sul,
era impossível saber, pois a tecnologia de navegação era rudimentar e os
navios estavam, naquele momento, bem longe de terem alguma vista da terra.
Um curso do leste os acabaria levando até o continente, mas, se por acaso,
tivessem alcançado uma latitude abaixo da ponta-sul da África, eles não
teriam qualquer ideia de quando a tivessem ultrapassado.
Este foi um enigma fundamental, e foi completamente desconcertante para
os marinheiros daquela época. Recuando instintivamente, Dias estabeleceu
um rumo a leste e esperou pelo melhor. Um dia se passou, e depois outro,
mas, ainda assim, tudo o que podia ser visto a partir do São Cristóvão era mar
aberto. Duas opções estavam agora abertas para ele – ou manterem-se firmes
e continuarem para o leste, correndo o risco de perder completamente o
objetivo (e navegando cegamente até o Oceano Índico), ou virar para o norte,
com o risco de voltar na direção de onde vieram.
Os instintos de Dias disseram-lhe para manter-se firme no curso leste, mas,
sob pressão de sua equipe, ele relutantemente concordou em virar para o
nordeste, e isso rapidamente provou ser uma decisão fatídica. A expedição
realmente calculou mal a passagem pelo cabo do sul, e quando, depois de
navegar por 30 dias sem avistar terra, ela foi eventualmente encontrada, e era
a moderna Mossel Bay na África do Sul, a cerca de 240 quilômetros a leste
do Cabo. Eles nomearam aquela região como Aguada de São Brás. Era 4 de
fevereiro de 1.488, e, embora Bartolomeu Dias fosse continuar apenas por
mais uma curta distância ao leste e ao longo daquela costa, foi mais ou menos
naquela data que percebeu que o caminho estava, agora, aberto até a Índia.
Um tanto inadvertidamente, Dias e sua tripulação haviam realizado um dos
mais importantes feitos da navegação, e, em muitos aspectos, foi a maior
conquista de um processo iniciado no alvorecer do século 15, sob o
patrocínio de um dos grandes gênios e inovadores da época. O nome
“Henrique, o Navegador” tornou-se intimamente associado à mitologia e à
história da Era da Exploração e, no mínimo, foi ele quem deu andamento a
grande era da exploração portuguesa. Conhecido em sua época como príncipe
Henrique, ou Infante Henrique, era filho do rei D. João I de Portugal, melhor
conhecido pela preservação da soberania portuguesa e pela fundação da
Dinastia de Avis, da qual Henrique era membro.

Henrique, o Navegador.
Rei João I de Portugal.
O reinado de João I coincidiu, mais ou menos, com a expulsão dos mouros
de Portugal, mas bolsões de resistência muçulmana permaneceram na
Espanha, e duros combates continuaram acontecendo por muito tempo.
Quando Henry tinha cerca de 16 anos, João decidiu dar início a uma
campanha contra o continente norte-africano, aproveitando o porto crucial de
Ceuta, uma fortaleza muçulmana localizada bem no Estreito de Gibraltar.
Essa foi uma grande e abrangente vitória militar, atribuída em muitos
aspectos aos planejamentos do jovem Henrique. Essa campanha o
estabeleceu em tenra idade na mente de seu povo como um grande
comandante militar e naval.
Uma representação do Infante Henrique, o Navegador de Ceuta.
Henrique nasceu em 1.394, na iminência de mudanças monumentais na
Europa e no mundo e, quando criança, ele certamente sonhava com a fama de
um líder militar e com grandes conquistas militares. Na sequência de Ceuta,
no entanto, e à medida que as riquezas do continente africano começaram a
chegar a Lisboa, sua mente começou a se voltar para uma conquista mais
ousada da África por meio da exploração e do comércio. Foi esse fascínio
que pôs em andamento a série de viagens que culminariam na descoberta do
Cabo das Tormentas por Bartolomeu Dias.
Henrique era um de três irmãos e, originalmente, não estava na fila do
trono. Ele permaneceu, então, como príncipe, e até os 26 anos, esteve
ativamente envolvido nas guerras e campanhas de seu pai, ganhando suas
esporas em numerosas campanhas e batalhas. Uma grande mudança veio em
1.420, quando foi colocado como administrador geral da Santa Ordem de
Cristo, a sucessão dos Cavaleiros Templários em Portugal. A partir de então,
pelo menos de acordo com a história popular, a religião e a exploração
transformaram-se em suas principais preocupações.
Embora Henrique nunca tenha embarcado em uma única expedição, foi seu
financiamento e patrocínio (sem mencionar o desenvolvimento de navios e
técnicas de navegação apropriados) que impulsionaram o ímpeto de Portugal.
Naquela época, os portugueses tinham se aventurado tão ao sul ao longo da
costa africana que haviam alcançado as Ilhas Canárias, mas Henrique, tendo
pessoalmente visto os bens transportados para o norte por caravana através do
deserto do Saara, sabia que escravos e ouro eram encontrados em grandes
quantidades em algum lugar mais ao sul, e ele estava ansioso para driblar as
redes de comércio muçulmano do norte da África e encontrar aquela fonte. A
que ponto ao sul, para além do deserto, o continente da África se estendia,
ninguém sabia, mas pretendiam descobrir.
Uma das inovações marcantes dos grandes dias da navegação portuguesa
foi a caravela, um navio leve, equipado com lataria, desenvolvido no início
do século 15, com desenhos baseados no qārib arábico e nos barcos de pesca
mediterrâneos da época, muito menores e similarmente equipados. Era
tipicamente raso com uma quilha curta, permitindo a navegação de rios
interioranos e de águas costeiras rasas. Todo esse aparelhamento equipou-o
para navegar em ventanias e, às vezes, até mesmo com o vento, o que, claro,
facilitou a navegação em mar aberto. De fato, ele se tornaria o navio de
escolha dos exploradores marítimos durante o século seguinte, e esse tipo de
navio levaria Colombo ao Novo Mundo em todas as suas viagens.
Modelo de uma caravela portuguesa.
Henrique também, supostamente, estabeleceu uma escola de ciências da
navegação, a Escola de Sagres, localizado em Sagres, perto do Cabo de São
Vicente, em Algarve. Dito isto, os historiadores modernos acreditam que o
brilho português no ramo da navegação teve mais a ver com a coragem e os
instintos daqueles no convés dos navios do que com quaisquer instituições
envolvidas. Seja como for, aqueles marinheiros profissionais que embarcam
nas primeiras viagens de Henrique receberam tudo o que o dinheiro e a
tecnologia poderiam lhes prover no século 15. Como parte do patrocínio de
Henrique, 20% dos lucros de todas as expedições bem-sucedidas voltavam
para o príncipe, estabelecendo uma motivação financeira para todos os
envolvidos. O porto algarvio de Lagos era o ponto de partida típico, e a
maioria das expedições consistia em dois ou três navios no máximo.
Uma das descobertas mais importantes foi o fenômeno conhecido como
Volta do Mar, que, em termos práticos, é um sistema rotativo de ventos e
correntes no meio do Atlântico que permite uma viagem de ida através das
Ilhas Canárias e uma viagem de volta pelos Açores. Isso facilitou o tráfego
triangular de três pontos do tráfico atlântico de escravos, permitindo uma
viagem ao longo da costa pelos portos de escravos africanos, através da
“Passagem do Meio” transatlântica, e uma viagem diretamente para casa pelo
Caribe.

Um mapa da “Passagem do Meio”.


Os Açores, a Madeira e as Canárias marcaram os principais pontos de
ancoragem das primeiras viagens, sendo o Cabo Bojador, no moderno Saara
Ocidental, o ponto mais ao sul conhecido da costa da África Ocidental. Em
1.434, o Cabo Bojador foi visitado por Gil Eanes, um dos comandantes de
Henrique, e os compatriotas Nuno Tristão e Antão Gonçalves chegaram ao
Cabo Branco, ao largo da costa da moderna Mauritânia, em 1.441. Em 1.443,
foi construído um forte na Baía de Arguim, também na Mauritânia, que
preparou o terreno para o primeiro movimento de exploração ao sul do
deserto do Saara. Logo, a foz do rio Senegal foi alcançada, naquela altura,
Henrique pôde alegar ter circunavegado com sucesso as redes de comércio
muçulmano do norte da África. Em pouco tempo, ouro e escravos começaram
a chegar a Portugal, e foi, então, que a maioria dos críticos de Henrique
acabou silenciada.
Henrique morreu em 1.460, mas os navios continuaram navegando, e, em
1.462, uma frota de caravelas chegou a Freetown, na moderna Serra Leoa.
Vinte e oito anos depois, Bartolomeu Dias ergueu uma cruz de pedra no
promontório da confluência do Oceano Índico com o Oceano Atlântico. O
próximo destino da investida do Império Português seria a Índia.
Os portugueses na África
Bartolomeu Dias não avançou muito mais pelo Oceano Índico do que para
além de seu local de desembarque. Naturalmente, ele voltou com pressa para
Lisboa, chegando em dezembro de 1.488, após 16 meses e 17 dias. O
caminho para a Índia havia sido estabelecido, e o próximo a aparecer nas
águas do sul do Oceano Índico seria o mais famoso marinheiro português,
Vasco da Gama. Foi da Gama quem transitou ao redor do que, agora, havia
sido renomeado como Cabo da Boa Esperança em 1.497, e chegou à Índia em
maio de 1.498.
Representação de da Gama chegando à Índia.

Mapa das rotas de da Gama.


É desnecessário dizer que esse foi um momento monumental na história da
exploração e, embora estivesse morto há muito tempo, talvez fosse a
conquista mais importante que poderia ser creditada à visão de Henrique, o
Navegador. Uma nova era de comércio internacional, imperialismo global e
colonização foi posta em movimento, e o mundo nunca mais foi o mesmo.
A rota de Vasco da Gama do Cabo até a Índia foi bastante direta.
Anualmente, ventos alísios alternados o levariam até a costa da África
Oriental e, de alguma maneira, ele estava de volta às águas conhecidas. A
antiga rota comercial entre a Índia e a Europa seguia a costa da Arábia até o
Mar Vermelho e, por terra, atravessava o Istmo do Suez. Isso, portanto,
ligava as frotas marítimas do Mediterrâneo às do Mar Vermelho e
estabeleceu ligações e conexões subsequentes ao longo da costa da Península
Arábica e do Golfo Pérsico até os portos de Gujarat e até o sul da costa de
Goa. Sabendo que estava, de fato, na costa da África Oriental, foi fácil para
da Gama, então, simplesmente navegar para o norte ao longo da costa,
parando em vários pontos até atravessar o Golfo de Áden. Lá, ele contatou
comerciantes árabes e indianos que o levaram para leste, até a costa da Índia.
Enquanto estava a caminho da Índia, da Gama observou atentamente uma
negociação vibrante e bem estabelecida entre comerciantes árabes e indianos,
além de uma série de cidades altamente sofisticadas espalhadas pela costa
leste africana. Ele visitou brevemente a ilha de Zanzibar, e, lá, para seu
espanto, encontrou um entreposto comercial energético e cosmopolita que
controlava o tráfego comercial de e para o interior da África. Financistas e
banqueiros indianos e persas lidavam com capitães árabes e com uma
população amplamente dispersa de swahili costeiros, atuando como
intermediários entre a costa e o interior. Escravos, marfim e ouro eram
processados e tributados em Zanzibar e, em geral, negócios lucrativos e
animados eram realizados ali.
Como a expedição de da Gama seguiu em frente antes de retornar,
eventualmente, a Portugal, ele ficou profundamente impressionado com tudo
o que viu, especialmente com o potencial aparentemente ilimitado de
conduzir comércio nas costas leste e oeste da África. Ele relatou tudo isso de
volta ao rei Manuel I, conhecido como “Manuel, o Afortunado”, e, oito anos
depois, o primeiro assentamento português na costa leste da África foi
fundado. Um império global estava, oficialmente, sendo construído.
Este primeiro assentamento foi o porto de Sofala, localizado perto de uma
aldeia de mesmo nome, fundada por árabes, que há muito havia sido
abandonada. Hoje, o local fica a sul do moderno porto da Beira, em
Moçambique, e é também o nome da província adjacente. Este foi o início da
colônia africana-portuguesa de Moçambique, um dos dois territórios
emblemáticos que consistiriam o Império Português na África. O outro era
Angola, também conhecido como África Ocidental Portuguesa, e, nos anos
desde a primeira visita de Dias, também começou a se desenvolver.
Os portugueses estabeleceram, por acréscimos, um número de fortes e
depósitos comerciais que se estendiam da Madeira aos Açores e avançavam
continuamente sobre o Senegal e vários pontos no Golfo da Guiné, incluindo
as ilhas de Fernando Pó, São Tomé e Príncipe. O comércio continuou sendo o
objetivo final, e os escravos tornaram-se gradativamente o produto mais
importante. Em quase todos os casos, o comércio de escravos era realizado a
partir de bases em terra com o conluio de chefes e reinados locais, talvez
mais notavelmente com as Dinastias de Daomé.
A fase mais rica do comércio de escravos africanos portugueses começou
quando as caravelas passaram a ir para além do Golfo da Guiné, encontrando,
pela primeira vez, a foz do rio Congo. A descoberta inicial do Congo foi feita
pelo explorador Diogo Cam, outro dos protegidos de Henrique, durante sua
viagem entre 1.484-1.486, e, em pouco tempo, um depósito comercial foi
estabelecido na foz do rio e estava aberto para negócios.

Mapa de Nuno Tavares de territórios portugueses ao longo das costas.


O Congo é um território vasto, densamente povoado e coberto por savanas
e florestas tropicais que, no século 15, existia em grande parte sob o controle
do Reinado do Kongo. O reinado do Kongo era uma das grandes potências
regionais africanas da época, controlando uma faixa de território delimitada
ao norte pela linha do rio Congo e, ao sul, por uma linha imaginária que
corria, mais ou menos, para o leste a partir do interior, do local da moderna
Luanda. Os reis do Kongo eram poderosos, ricos e estavam muito dispostos a
fazerem negócios.
Como aconteceu com todas as potências comerciais europeias que
eventualmente seguiriam os passos desses primeiros exploradores
portugueses, não fazia parte da política imperial portuguesa tentar
simplesmente conquistar ou controlar o território no continente. Em vez
disso, depósitos e fortes foram estabelecidos com o único propósito de
conduzir comércio com os poderes existentes na costa e no interior. Essas
instalações, inevitavelmente, transformavam-se em assentamentos à medida
que os missionários chegavam e os colonos relacionavam-se, casando com os
locais e estabelecendo raízes. O mesmo aconteceu com os dinamarqueses,
franceses, holandeses e britânicos que fundaram assentamentos similares
quando se uniram ao tráfico de escravos e estabeleceram bases para futuras
esferas de influência. As condições no interior eram simplesmente hostis
demais para contemplar a colonização, e vários séculos se passariam antes
que uma maior exploração e aproveitamento do interior da África fosse
tentado.
Em sua maior extensão, o Reinado do Kongo se estendeu pela maior parte
do que seria hoje o leste do Congo e o norte da Angola. Ele constituía um
sistema de províncias governadas sob o controle de monarcas locais leais a
um rei supremo. Além das fronteiras do próprio reino, existiam esferas de
influência amplamente dispersas que cobriam numerosos reinados-satélites e
entidades políticas. Toda a estrutura era altamente sofisticada, bem governada
e imensamente poderosa, nem um pouco intimidada pelos portugueses. Seus
reis e príncipes estavam interessados em negociar, e, durante as primeiras
décadas de colonização portuguesa ao longo da costa do Congo, uma relação
geralmente produtiva foi mantida. Em 1.576, o principal porto Português foi
estabelecido em Loanda na atual Luanda, e, salvo algumas pequenas
explorações fora dali, os portugueses tenderam a permanecer no local.
Mais ao sul, com a continuação da exploração portuguesa, seus grupos
encontraram um litoral cada vez mais árido, além de uma corrente fria que ia
em direção ao norte. Além de um ou dois desembarques e alguns
monumentos erguidos, nenhuma tentativa foi feita para estabelecer qualquer
tipo de assentamento permanente ali. De fato, apesar de encontrar
regularmente a península, o verde e esplêndido Cabo da Boa Esperança
também foi deixado imperturbado pelos portugueses. Isto ocorreu,
principalmente, porque os indescritíveis nativos eram selvagens demais e
poucos em números para justificar a caça, e não havia ninguém na costa
disposto ou capaz de negociar qualquer coisa que fosse de interesse para os
portugueses. O futuro demonstraria que isso era um erro, pois, em 1.652, os
holandeses assumiriam o controle da região, representando uma oportunidade
perdida para os portugueses. A moderna estrutura provincial da África do Sul
inclui a província de Natal, marcada pelos portugueses no mapa em
desenvolvimento da África, e batizada com o nome do dia de Natal, quando
foi avistada pela primeira vez. Mais uma vez, no entanto, nunca foi
explorada.
Os holandeses estavam mais de um século atrás dos portugueses em sua
chegada ao sul da África, o que deu aos portugueses séculos de acesso
irrestrito antes de outras potências colonizadoras europeias começarem a
aparecer em cena. A costa da África Ocidental, graças aos reis poderosos e a
malária desenfreada, não chamou atenção para uma exploração mais a fundo,
mas a África Oriental certamente o fez. Os árabes já haviam estabelecido
redes comerciais amplas e abrangentes em toda a região, e tudo o que era
necessário, agora, era que os portugueses expulsassem os árabes e
assumissem todo o território. Em pouco tempo, os portugueses efetivamente
ocuparam todos os principais portos e assentamentos de suaíli ao longo da
costa até Mogadíscio, e, em 1.507, entraram no porto de Mascate, na
Península Arábica, capital do Sultanato de Omã, e mantiveram o controle do
local por 143 anos.
Enquanto isso, em Sofala, o assentamento original na costa leste, grupos de
exploração eram enviados ao interior para investigar rumores de um reino
poderoso e de cidades de ouro. Os portugueses ainda estavam fascinados pelo
mito do Preste João, e a ideia de um grande e poderoso reino no interior da
África Oriental provocava muita especulação entusiasmada. A possibilidade
de que o próprio povo africano pudesse construir tal reino parecia, na época,
bastante estranha, tendo em mente o estado de civilização que os europeus
encontraram na costa, de modo que se supunha que o reino mítico era o
resultado de algum êxodo bíblico datado dos tempos antigos. Os primeiros
relatos que chegaram ao litoral pareciam confirmar isso, e uma grande cidade
murada foi descrita pelo historiador e administrador colonial português, João
de Barros, que se referiu a ela como Symbaoe, e, mais tarde, mais
comumente, como Zimbábue.[1] A sociedade correspondente a esta cidade foi
descrita de várias formas – Monomotapa, Munhumutapa, Mwenemutara ou
Mwene we Mutapa, e, nos anos posteriores, simplesmente como o Reino de
Mutapa.
Quando as notícias chegaram a Portugal sobre esse possível reino no
interior, o que já era mais um fato do que um rumor, a Igreja Católica foi
mais rápida do que o Estado. Um padre jesuíta, chamado Dom Gonçalo da
Silveira, foi o primeiro europeu alfabetizado a chegar às portas do Reino dos
Mwene Mutapa.[2] O que ele encontrou foi, de fato, um reino de grande
riqueza e sofisticação, estabelecido no planalto central do subcontinente da
África do Sul, governado por uma dinastia de reis conhecida como Mwene
Mutapa.
A dimensão do Reino de Mutapa surpreendeu o padre Gonçalo da Silveira,
e seus mensageiros ofegantes descreveram uma sociedade de inimaginável
riqueza e sofisticação, sustentada por um rico comércio de ouro e marfim
com os árabes da costa. De fato, presentes na corte dos Mwene Mutapa,
estavam numerosos árabes, todos engajados no comércio costeiro e
certamente hostis à presença de qualquer poder que pudesse desafiar sua
predominância mercantil no Planalto Central.[3] Como diz a história, o padre
Gonçalo da Silveira conseguiu converter o governante Mambo, ou rei, ao
cristianismo, o que provavelmente foi uma ilusão da sua parte. Muito
provavelmente, o Mambo via a “conversão” como uma espécie de
acomodação diplomática com um novo e, em grande parte, desconhecido
poder presente na costa, e rumores sobre tal poder, provavelmente, já haviam
há muito chegado à sua corte.
Os árabes, é claro, dificilmente poderiam tolerar isso, e, em 6 de março de
1.561, o padre Dom Gonçalo da Silveira foi assaltado e assassinado, e seu
corpo foi jogado em um rio local.
A morte do jesuíta, quando chegou a Portugal, teve um efeito surpreendente
e de longo alcance. Foi determinado, apesar de uma certeza muito vaga de
onde e sob quais circunstâncias o assassinato ocorrera, enviar uma expedição
para vingá-lo. Isso teve significados mais fortes do que simplesmente vingar
a morte de um missionário; afinal de contas, o potencial retorno de uma
invasão bem-sucedida do reino de Mutapa parecia justificar a expedição e,
apesar de suas riquezas, o Reino de Mutapa não estava particularmente bem
defendido. A expedição partiu no verão de 1.569, alcançando a foz do rio
Zambeze dois anos depois, em 1.571.
Nesta altura, a sede das atividades portuguesas na região tinha sido
estabelecida na Ilha de Moçambique, uma pequena ilha perto do continente, a
poucos quilômetros ao sul da atual cidade de Nacala. O forte de São
Sebastião foi concluído na década de 1.550, e, logo depois, a Capela de
Nossa Senhora de Baluarte, a capela mais antiga da África Subsaariana. A
cerca de 3 quilômetros ao sul, fica a foz do rio Zambeze, a mais importante
via fluvial do território, que rapidamente se tornou a área de maior interesse
do ponto de vista da condução de um comércio interno. Cerca de 4
quilômetros a montante, em um local de comércio árabe, os portugueses
estabeleceram uma base avançada de operações conhecida como Tete, que é,
hoje, uma grande cidade de fronteira moçambicana. Várias “vilas” também
foram estabelecidas, uma no assentamento de Sena, hoje também uma cidade
em Moçambique, e, a partir daí, os primeiros avanços no comércio pelo
Zambeze começaram.
A expedição fez seu caminho para o interior da costa até Sena, e, de lá,
foram feitos planos para avançar contra o reino dos Mwene Mutapa.
Certamente deve ter sido uma visão incrível para as tribos do Vale do
Zambeze encontrar um exército medieval, com armaduras polidas, padrões de
navegação, canhões e mosquetes avançando em seu meio. Os portugueses
foram facilmente capazes de dominar esses grupos, que eram primitivos ao
extremo, além de um grupo muito pequeno de sujeitos dos Mwene Mutapa. A
corte do Mwene Mutapa estava situada acima da escarpa sul, mas, muito
antes de os portugueses poderem pensar no transporte de seus canhões e
montanhas para fora do vale, eles sofreram um ataque muito mais mortífero
do que qualquer coisa que as tribos locais pudessem organizar. O Vale do
Zambeze era uma armadilha mortal para pessoas de fora, desprotegidas,
porque os mosquitos Anopheles se reproduzem em grande número durante a
estação chuvosa todos os anos, precisamente na época em que os portugueses
decidiram avançar pelo território. Em pouco tempo, os homens começaram a
morrer de febre amarela e malária, e, logo, as mortes se tornaram
insustentáveis. Como resultado, a expedição foi forçada a recuar para a costa,
onde as doenças eram menos freqüentes do que no interior.
Dentro de um ano, a expedição entrou em colapso e quase desapareceu,
perdendo cerca de 800 dos 1.000 homens originais. Ironicamente, os Mwene
Mutapa já estavam em declínio, e como os portugueses adotaram uma
estratégia de comércio em vez de conquista, a dinâmica do poder, religião e
comércio, gradualmente, ganhou um posicionamento mais firme. Os
portugueses tenderam, depois, a limitar-se à costa e ao curso inferior do
Zambeze, conduzindo expedições comerciais para o interior até que, no final
do século 17, as tribos do Planalto Central deixaram de existir como uma
Dinastia. As reservas de ouro acabaram e, pouco tempo depois, os
portugueses perderam o interesse na região, concentrando os seus esforços
nas artérias comerciais do Zambeze e do Limpopo, bem como no crescente
comércio de escravos da África Oriental.[4]
A Fuga de Omã e o Crescimento do Praziero
No final do século 16, as fortalezas portuguesas ao longo da costa da África
Oriental, ao norte da sua fortaleza administrativa da Ilha de Moçambique,
estavam começando a enfrentar resistência dos swahilis locais. Em 1.585, por
exemplo, uma expedição militar conjunta montada pelo Império Ajuran
somali, apoiada pelas forças turcas otomanas lideradas pelo emir Ali Bey,
expulsou os portugueses de Mombaça. Embora isso tenha temporariamente
libertado a cidade, além de muitos fortes e assentamentos circundantes, em
1.589, os portugueses estavam de volta, e o icônico Forte Jesus foi
construído. Desta vez, no entanto, o governo português agiu menos como
governo e mais como ocupante, e um fluxo e refluxo de inseguranças resultou
na captura do Forte Jesus em 1.698 após um cerco de 33 meses. A cidade foi,
então, tomada pelas forças do ressurgente Imamato de Omã, e, na virada do
século 17, os portugueses tinham sido expulsos de Mascate, Mombaça e
Zanzibar. Eles recuaram até o sul do Cabo Delgado para o que era então
conhecido como a África Oriental Portuguesa, o futuro Moçambique. A
África Oriental, acima do rio Rovuma, atual fronteira entre Moçambique e
Tanzânia, retornou ao domínio árabe/swahili, enquanto a ilha de Zanzibar se
tornou sede do Sultanato de Zanzibar e centro do ressurgente império
comercial.
Interior do Forte Jesus.
Por volta da mesma época, os portugueses foram pressionados pelos
holandeses quando começaram a entrar de vez no comércio com as Índias
Orientais. A partir de 1.680, porém, os holandeses tenderam a direcionar seu
tráfego marítimo para o leste, a partir do Cabo, e os dois poderes, depois
disso, raramente se encontraram. O Cabo havia se tornado um assentamento
razoavelmente bem estabelecido da Companhia Holandesa das Índias
Orientais, e, junto a ele, o baixo Vale do Zambeze era a única outra região
substancial do continente da África Subsaariana onde a autoridade europeia
direta era imposta. No caso do Cabo, o domínio da Companhia era absoluto,
e a autoridade era atribuída ao cargo do comandante. No Vale do Zambeze,
por outro lado, a situação era mais obscura. Como mencionado
anteriormente, os portugueses foram atraídos para o Vale do Zambeze pelo
ouro dos Mwene Mutapa, e isso teve a tendência de estabelecer corsários e
aventureiros, não governadores e administradores. O poder dos Mwene
Mutapa e da subsequente Dinastia Rozwi limitou a infiltração portuguesa
direta no Planalto Central e ao norte na região dos lagos do futuro Maláui,
mas a colonização portuguesa do baixo Vale do Zambeze não encontrou
qualquer restrição. De fato, todas as várias entidades tribais que cercavam o
Vale estavam felizes por ter os portugueses lá, já que o comércio era uma
vantagem para todos, mas se opunham vigorosamente a quaisquer ambições
territoriais portuguesas para além de seus assentamentos ribeirinhos.
Evidentemente, isso não impediu as autoridades portuguesas de
reivindicarem um vasto território em ambos os lados do rio e no interior em
vários outros pontos. Para gerenciar e administrar esses territórios, um
sistema conhecido como emprazamento entrou em vigor. O que isso
implicava, em termos práticos, era a concessão de título sobre um grande
“pedaço de terra” a um proprietário individual português, na maioria dos
casos, cristãos indianos da Goa administrada por Portugal, e, sobre o
território concedido, gozariam de direitos quase absolutos pelo período de
três gerações. Estas propriedades eram conhecidas como prazose, enquanto
os concessionados eram chamados de praziero.
O sistema de emprazamento sobreviveu em alguns lugares até a década de
1930, embora a introdução no final do século 19 de Companhias de
Concessão para estabelecer o interior das colônias tenderam a prejudicar o
praziero, e a maioria deles desapareceu. Em teoria, as ações e atividades do
praziero eram reguladas pelos termos da concessão, mas, em termos práticos,
eles gozavam de liberdade quase absoluta de ação e de exploração, apoiados
por exércitos de escravos, que tinham uma grande reputação por serem
violentos. Os expatriados goeses originais, que formaram a espinha dorsal do
sistema de emprazamento, acabaram sendo diluídos por miscigenações e
apropriações, a tal ponto que muitas das famílias de prazieros proeminentes
do século 18 eram indistinguíveis dos nativos. De fato, apesar dos nomes
portugueses, da língua portuguesa e da adesão à fé cristã, eles se pareciam e
se comportavam como chefes tribais africanos.
Em 1855, o grande missionário, explorador e doutor David Livingstone
esteve à beira de uma das maiores maravilhas naturais do mundo, a Mosi-oa-
Tunya ou “A Fumaça que Troveja”, e tomou nota que os anjos deveriam ter
parado em pleno voo para se maravilharem com uma visão tão magnífica. Ele
nomeou o espetáculo como Cataratas de Vitória, depois, partiu em sua
lendária exploração do rio Zambeze. Quando as notícias sobre a “descoberta”
das Cataratas de Vitória, em Livingstone, chegaram à Europa, o historiador e
estudioso português, Dom José de Lacerda, afirmou ao exultante público
vitoriano que, muito antes de David Livingstone observar e notar as Cataratas
de Vitória, os exploradores portugueses estiveram exatamente no mesmo
lugar. Mais tarde ainda, quando Livingstone descobriu o Lago Nyasa (depois,
chamado Lago Malawi), Lacerda observou que os portugueses também
estiveram lá. Quando Livingstone completou sua exploração da África, da
África Ocidental Portuguesa até a África Oriental Portuguesa, isso também
foi uma façanha que os exploradores portugueses haviam alcançado quase
uma geração antes.
Livingstone.
Havia várias razões pelas quais esses primeiros exploradores portugueses
não foram celebrados ou reconhecidos da mesma maneira que Livingstone.
Em parte, porque a maioria eram homens analfabetos que não mantinham
diários ou registros de suas expedições, e, além disso, a maioria deles não
eram portugueses de sangue puro, mas “mulatos”, o que significava que não
poderiam reivindicar sua condição enquanto europeus. Talvez o mais
importante tenha sido o envolvimento português no tráfico de escravos, que,
até então, era ilegal sob o tratado internacional, e as autoridades coloniais
portuguesas estavam ansiosas para que suas atividades no Zambeze fossem,
até onde possível, mantidas em segredo.
A história do envolvimento português no tráfico de escravos africano foi
exaustivamente documentada, e, na até onde as origens do envolvimento
europeu no comércio são conhecidas, os portugueses passaram a adquirir
escravos diretamente da costa da África Ocidental em meados do século 15.
A aquisição de escravos teve início na fortaleza da Ilha de Arguim, na costa
da Mauritânia, e se intensificou no sul, à medida que os interesses comerciais
portugueses se desenvolveram. Uma vez que as plantações de açúcar foram
estabelecidas, os escravos começaram a ser exportados em grandes
quantidades do Reinado do Kongo para as ilhas de São Tomé e Príncipe. O
sucesso dessas plantações de açúcar levou ao estabelecimento de empresas
semelhantes no Brasil e no Caribe e, em pouco tempo, casas comerciais
britânicas e portuguesas dominaram, em escala industrial, a extração e o
transporte de escravos da África para o Novo Mundo.
Esta foi a base fundamental para o estabelecimento da colônia portuguesa
da África Ocidental portuguesa, e, inicialmente, foi estabelecida uma relação
pacífica e amigável com os governantes do Reinado do Kongo, que estavam
totalmente reconciliados e prontos para se envolverem com os portugueses no
comércio de escravos. Os missionários portugueses acompanharam de perto
os primeiros exploradores mercantes, e os líderes do Reinado do Congo
foram, eventualmente, cristianizados, educados e, geralmente, incorporados
aos benefícios e recompensas do envolvimento com os portugueses. Ao longo
do tempo, o envolvimento português comprometeu a estrutura essencial do
reino, que, em meados do século 19, tinha deixado de existir em qualquer
forma identificável como uma entidade soberana.
Entretanto, ao sul da foz do rio Congo, foram estabelecidos numerosos
colonatos portugueses, sendo três mais importantes: o Soyo, no enclave
angolano de Cabinda; Loanda, fundado em 1.575; e São Felipe de Benguela,
mais tarde simplesmente Benguela, estabelecido em 1.617. Em cada caso, o
comércio de escravos, sempre em conjunto com as políticas locais
dominantes, fornecia a base comercial do assentamento. Ao longo de dois
séculos, mais de um milhão de escravos foram exportados a partir do
território. Segundo Roland Oliver, eminente historiador britânico e estudioso
africano, “por quase 200 anos, a colônia de Angola desenvolveu-se
essencialmente como uma gigantesca empresa de comércio de escravos. A
guarda raramente contava com mais de mil soldados europeus, armados
apenas com espadas de combate e espalhados em meia dúzia de pequenos
fortes perto do Vale do Kwanza (Loanda). À estes, foram gradualmente
adicionados alguns milhares de soldados-escravos, que lutavam com arcos e
lanças. A estratégia era conquistar, primeiro, uma das outras chefias dos
Mbundu, forçando os governantes locais (chamados Sobas) a um estado de
lealdade, no qual eles pagariam tributos em escravos obtidos em ataques aos
vizinhos ainda independentes mais para o interior.”[5]
Os primeiros sinais de pressão contra o tráfico atlântico de escravos
começaram a se manifestar em 1.794, com a efêmera declaração de
emancipação francesa. Nos Estados Unidos, onde a escravidão como
instituição permanecia legal, o engajamento no comércio gradualmente
começou a ser ilegal quase na mesma época. Em 1803, a Dinamarca foi o
primeiro poder europeu a proibir o comércio de escravos, seguido, quatro
anos depois, pela Grã-Bretanha e pelos Estados Unidos.
Foram os britânicos, no entanto, que lideraram o movimento, e foram as
atividades da Marinha Real no Atlântico que foram as mais vigorosas em
perseguir aqueles que tentavam continuar vendendo e movimentando
escravos. Os britânicos também queriam exportar o princípio da abolição
para seus aliados europeus e, a partir de 1810, Portugal, Holanda e Espanha
foram pressionados a embarcar no mesmo barco da Grã-Bretanha. Em 1815,
no Congresso de Viena, chegou-se a um acordo, embora alguns anos de graça
tenham sido aceitos para amortecer as economias coloniais de Portugal de
uma interrupção abrupta do comércio. Embora o comércio internacional de
escravos fosse, agora, praticamente proibido, a escravidão em si permaneceu
legal até que o Parlamento Britânico aprovasse a Lei da Abolição da
Escravatura em 1833, e, novamente, a pressão começou a ser aplicada nos
portugueses e nos espanhóis para que seguissem o exemplo. Em 1836,
Portugal promulgou, com relutância, uma proibição abrangente do comércio,
mas o continuou em Angola e Moçambique em bases domésticas por algum
tempo. Os traficantes de escravos continuaram a se esforçar e tentaram evitar
as atenções do Esquadrão Atlântico por um período considerável, pelo menos
enquanto existiam mercados viáveis no Brasil e em Cuba.
Um dos efeitos da imposição das proibições internacionais ao tráfico de
escravos e o cuidadoso monitoramento pelo Esquadrão Britânico do
transporte marítimo de Angola foi uma mudança de ênfase do oeste
português para o leste da África portuguesa. Na verdade, foi mais ou menos
nessa época, perto do final da década de 1830, que o tráfico de escravos, ao
longo de toda a costa leste da África, começou a entrar em colapso. Por várias
centenas de anos, desde o tempo de da Gama na ilha de Zanzibar, um dos
principais produtos de exportação foram os escravos. O tráfico de escravos da
África Oriental era muito mais antigo e muito mais amplo do que o comércio
do Atlântico. Ele tendeu, no entanto, a atrair menos atenção, pelo menos até
Livingstone iniciar um programa abrangente de testemunho e relato que,
desde então, veio a ser considerado como o primeiro desastre humanitário
documentado a afligir as regiões centro-sul da África.
O maior objetivo de Livingstone, agora, era acabar com a escravidão na
África, como ele escreveu para o New York Herald em 1871. “E se minhas
revelações sobre a terrível escravidão ujijiana levar à supressão do tráfico de
escravos na Costa Leste, considerarei isso como um assunto, de longe, maior
do que a descoberta de todas as nascentes do Nilo juntas.” Da mesma forma,
em seu diário, ele observou: “Superar seus males é uma simples
impossibilidade... Passamos por uma mulher amarrada pelo pescoço a uma
árvore, morta ... Encontramos um homem morto pela fome ... Passamos por
uma escrava atirada ou apunhalada pelo corpo e deitada no meio do caminho.
Os espectadores disseram que um árabe, que havia passado cedo naquela
manhã, havia feito aquilo, com raiva, por ter perdido o preço que tinha dado
por ela, porque ela não conseguia andar mais... A doença mais estranha que
eu já vi neste país parece ser a do coração partido, e ela aflige homens livres
que foram capturados e escravizados.”
Felizmente, em 20 de novembro de 1872, Sir Henry Rawlinson, então
presidente da sociedade, escreveu-lhe com uma boa notícia: “Aqui está,
agora, uma perspectiva definitiva de que o infame tráfico de escravos do leste
africano esteja sendo suprimido. Para este grande fim, se for alcançado,
devemos ficar, principalmente, em dívida com suas cartas recentes, que
tiveram um efeito poderoso sobre a opinião pública na Inglaterra, e, assim,
estimularam a ação do Governo... É claro que o grande ponto de interesse
junto a sua exploração atual é a determinação do curso inferior do Lualaba. O
Sr. Stanley ainda adere à visão, que você anteriormente defendeu, que ele
drena até o Nilo; mas, se os valores que você dá estão corretos, isso é
impossível. De qualquer maneira, a opinião da identidade do Congo e
Lualaba está se tornando tão universal que o Sr. Young fez uma doação de
£2.000 para nos permitir enviar outra Expedição para ajudá-lo naquele rio...
Todos nós admiramos muito e apreciamos sua energia e perseverança
indomáveis, e a Sociedade Geográfica fará tudo o que estiver ao alcance
deles para apoiá-lo, de modo a compensar, em alguma medida, a perda que
sofreu na morte de seu velho amigo, Sir Roderick Murchison. (...) Acredito
que o Sr. Waller lhe disse que acabamos de enviar uma homenagem ao Sr.
Gladstone, rezando para que uma pensão seja imediatamente concedida a
suas filhas, e tenho toda a esperança de que nossa oração será bem-sucedida.

Rawlinson.
Com protestos europeus à parte, o comércio de escravos foi facilitado e
financiado a partir de Zanzibar. Originalmente, os escravos eram capturados
no interior com o propósito de transportar marfim para a costa, e, somente
depois disso, eram reaproveitados em uma remessa posterior, caso
sobrevivessem. O comércio estava em grande parte nas mãos de comerciantes
swahili, apoiados por exércitos de escravos conhecidos como ruga-ruga. O
sistema geralmente dependia de conluio com poderosos líderes tribais locais.
Os portugueses rapidamente aderiram a este comércio, quase no momento
em que atingiram a África Oriental, e, inicialmente, foi conduzido em
cooperação com o comércio árabe-swahili. Nos primeiros anos, porém, o
comércio era limitado, porque a demanda tradicional também permanecia
limitada. Via de regra, os escravos eram embarcados para venda apenas como
componentes menores de cargas muito maiores de ouro, produtos animais,
madeira exótica, mel e várias outras mercadorias na Arábia, no Golfo Pérsico
e na Índia. Isso começou a mudar à medida que a pressão aumentava contra o
transporte de escravos para além da África Ocidental Portuguesa – os
comerciantes portugueses desonestos começaram a desviar do Cabo da Boa
Esperança e a aceitar cargas nos vários pontos de embarque associados ao
comércio do Zambeze. Quando os mercados brasileiros de escravos fecharam
em 1852 e o mercado cubano encontrou seu fim cerca de uma década depois,
o mercado transatlântico finalmente se esgotou. Mesmo assim, esse não foi o
fim do sistema, porque um mercado massivo foi criado, quase imediatamente,
pelo desenvolvimento de ilhas francesas de plantação no Oceano Índico.
No momento em que Livingstone começou a esclarecer as terríveis
condições da escravidão, o número de famílias ativas de praziero havia
diminuído para cerca de cinco. Estes foram os da Cruz, Caetano Pereira, Vas
dos Anjos, Ferrão e Alves da Silva. O alcance destas famílias estendeu-se ao
longo do rio Zambeze e, no final do século 19, cada vez mais para o norte, na
direção do lago Nyasa e do interior da África Oriental. Ocorreram algumas
atividades diretas de captura de escravos, com ajuda da conhecida utilidade
dos exércitos de escravos, mas a maior parte da aquisição de escravos se deu
através de alianças formadas com poderosas tribos locais, principalmente,
entre elas, a Yao. Elas interagiram com os senhores da guerra escravocratas,
que, na época, eram uma força poderosa em todo o interior, extrapolando a
divisão continental além da bacia do rio Congo.[6]
A morte de Livingstone, em 1873, estimulou o interesse britânico no tráfico
de escravos na África Oriental, e foi nesse ano que um tratado abrangente foi
negociado com o Sultanato Zanzibari, resultando no fechamento do mercado
de escravos de Zanzibar, o último do tipo no mundo. Isso também fechou a
porta do comércio ilícito de Portugal, que começou a se extinguir. O último
escravo foi comercializado em Moçambique, pelo menos segundo alguns
relatos, no ano de 1902. A instituição do emprazamento sobreviveu por mais
algumas décadas, até cair em declínio após a promulgação da Lei Colonial
Portuguesa de 1930 (que será discutida mais adiante).
A instituição da escravidão, embora abolida em sua totalidade, foi
simplesmente reinventada pelo praziero em um sistema de trabalho escravo
conhecido como chibalo. O chibalo foi usado no cultivo local de algodão e
várias outras culturas de exportação, na construção de estradas e outras obras
públicas, e, mais tarde, foi adaptado como um sistema de trabalho migratório
organizado até as minas de ouro da África do Sul.
O Mapa Cor-de-Rosa

Um mapa português do Oceano Índico.


Enquanto os portugueses desenvolviam suas colônias na África Oriental e
Ocidental, outras potências europeias estavam mais concentradas nos
acontecimentos do Novo Mundo, das Índias Orientais e da Austrália. A
África permaneceu sendo uma terra incógnita, uma fonte de trabalho escravo
barato e nada muito além disso. Mas as coisas mudaram quando o explorador
americano, Henry Morton Stanley, completou com sucesso uma exploração
do rio Congo e despertou o interesse do rei belga, Leopoldo II, que, então,
estabeleceu sua colônia privada no Estado Livre do Congo. Este foi um golpe
audacioso, surpreendendo as principais potências europeias, que competiam
entre si por seus vários planos de expansão global internacional. De repente,
a África, até então pouco conhecida, foi melhor compreendida, graças aos
esforços de uma geração de intrépidos exploradores, e tornou-se o foco de
mais interesses imperiais europeus. Os portugueses, que já estavam na África
há mais de três séculos, ficaram atrás de outras potências europeias,
ganhando a reputação de “homem pobre” da Europa. De fato, quando a Grã-
Bretanha, a França e a Alemanha começaram a disputar territórios na África,
antigas reivindicações portuguesas eram frequentemente ignoradas e
desconsideradas. Foi por pouco que Portugal conseguiu formalizar e manter
as suas duas principais colônias na África Oriental e Ocidental portuguesa.
Rei Leopoldo II da Bélgica.
Stanley.
Em uma manhã de sábado, em 15 de novembro de 1884, os
plenipotenciários de todas as grandes potências da Europa se reuniram na
residência oficial do Chanceler, o príncipe Otto von Bismarck, do Reino
alemão. Quando entraram no pátio, foram recebidos nas portas de suas
carruagens pelo próprio Chanceler e, depois, entraram na biblioteca, onde
ocorreu uma recepção informal. Então, como um, subiram pela ampla
escadaria cerimonial até uma sala de recepção no segundo andar, onde cada
um ocupou seu lugar em uma mesa semicircular disposta diante de um mapa
grande e detalhado da África pregado na parede. Bismarck dirigiu-se aos
delegados reunidos, delineando brevemente os objetivos da reunião, depois,
movendo os olhos da esquerda para a direita, declarou que a Conferência de
Berlim havia formalmente começado.
Bismarck.
Uma representação de Bismarck na Conferência de Berlim.
A Conferência de Berlim de 1884-85, uma questão sólida e bastante formal,
foi, sem dúvida, um dos encontros mais importantes e de maior alcance do
poder internacional que ocorreu em qualquer época do século XIX, além de
impactar profundamente o curso da história europeia e africana até os dias
atuais. Em termos mais simples, a Conferência de Berlim procurou regular a
subdivisão da África entre as principais potências europeias de maneira a não
causar nenhuma grande guerra entre elas. Apenas interesses europeus, um
tanto desconcertantes, haviam sido demonstrados com relação a África até
aquele momento, correspondendo a pouco mais que uma colcha de retalhos
de esferas de influência competitivas. Essas eram, em sua maioria,
preocupações privadas – empresas estatais, exibindo uma bandeira nacional –
mas, aqui e ali, territórios estavam sendo anexados e ocupados e, em geral,
um clima pouco saudável de competição se concentrava na questão da África.
Talvez o melhor exemplo disso tenha sido a Witwatersrand, região
produtora de ouro da República do Transvaal, nominalmente uma esfera de
influência britânica e, certamente, o teatro mais importante da aventura
capitalista britânica da época. A África do Sul, naquele momento, foi dividida
em quatro territórios distintos – duas colônias britânicas (Natal e Cabo) e
duas repúblicas independentes do Boer (Transvaal e Orange Free State) – e,
entre elas, existia enorme suspeita e antipatia. O peso superior do capital
britânico e do alcance imperial permitiu que os britânicos dominassem o setor
do ouro de Transvaal, e assim o fizeram, muito para o desgosto dos bôeres.
Os bôeres não eram, de modo algum, pobres por causa disso, mas, à medida
que prosperavam, estavam sempre vigilantes em relação a qualquer ameaça
britânica contra sua soberania.
Foi nessa fase econômica e política bastante tensa que os alemães
apareceram, em 1884, anexando o território de Damaraland, nominalmente, a
totalidade da Namíbia moderna, como uma colônia alemã. Isso
imediatamente colocou os britânicos em um estado de apreensão. Quais
haviam sido as intenções alemãs? Havia sido o ouro, os diamantes, os portos
estratégicos ou todos os itens anteriores? Os britânicos estavam bastante
conscientes de que o ódio sentido em relação a eles pelos bôeres poderia
facilmente colocá-los nos braços de uma potência europeia opositora, e,
tendo em mente a compatibilidade ideológica da Alemanha e de Boer naquela
época, os alemães estavam em uma posição, se a escolhessem, de causar
estragos nos interesses britânicos na África do Sul.
Foi nessa atmosfera que Leopold foi ao trabalho. A Associação
Internacional da África estava, agora, completamente extinta, e Leopold
estava quase na linha de chegada de uma longa e meticulosa campanha para
substituí-la pela Associação Internacional do Congo, controlada inteiramente
por ele. Como se para confirmar esse fato, o próprio Frelinghuysen,
desesperado, atrapalhou os contextos de todas essas organizações com várias
declarações que ninguém realmente sabia o que estava acontecendo, além de
não saberem qual delas havia sido extinta e qual não. Leopold começou,
então, a dirigir sua atenção para o reconhecimento europeu, e as coisas
ficaram um pouco mais fáceis. Para os britânicos, ele insinuou a possibilidade
de disponibilizar seus tratados aos franceses se os britânicos não seguissem
os Estados Unidos no avanço do reconhecimento, e ameaçou os franceses
com os ingleses e os alemães. O Chanceler alemão, Otto von Bismarck,
percebendo um golpe, no entanto, viu, no final, a possibilidade de uma
Bélgica enfraquecida, possuindo um território que os alemães poderiam usar
e aproveitar posteriormente, ao invés de antagonizar os britânicos ou os
franceses ao tentar algo mais ambicioso do que aquilo no momento.
E, ali, repousaram as questões. De repente, as grandes nações europeias –
França, Grã-Bretanha e Alemanha, em particular – estavam olhando para a
África em seu contexto estratégico global com um pouco mais de interesse.
Leopold havia dado início a um movimento. Agora, estava claro para todos
que a África oferecia uma vasta reserva de matérias-primas baratas e, além
disso, um mercado enorme, ainda que pouco desenvolvido, para os produtos
manufaturados e baratos dos europeus. A posição da Grã-Bretanha no Cabo e
no Cairo a colocou no controle das principais rotas marítimas internacionais,
enquanto o controle alemão das costas leste e oeste da África sugeria uma
área potencial de conflito no futuro.
De fato, a química daquela guerra estava cada vez mais tangível, e as lutas
pelo poder e influência que ocorriam na Europa entre as grandes potências se
manifestavam cada vez mais nas esferas estrangeiras de influência dessas
nações.
A Conferência de Berlim foi um momento-chave na rápida colonização da
África que começou logo depois, com a tão histórica “Partilha da África”.
Perdida na arrogância, estava a voz do governo português, que fez questão de
salientar que, 400 anos antes, os portugueses estavam estabelecidos na foz do
rio Congo e desfrutando de relações diplomáticas com o antigo Reinado do
Congo. Obviamente, os portugueses tinham uma reivindicação anterior ao
que era, agora, o Estado Livre do Congo da Bélgica, mas seus protestos
foram em vão. O apelo português foi ignorado, e Leopold deu início a sua
brutal e escandalosa exploração de propriedades privadas no Congo, que
continuou pelos próximos 20 anos.
Durante a Conferência de Berlim, os portugueses apresentaram o que ficou
conhecido como o “Mapa Cor-de-Rosa”. Isso lançou uma reivindicação
elaborada para um pedaço do continente que ligava a África Ocidental
Portuguesa a África Oriental Portuguesa num bloco territorial que, se tivesse
sido aprovada, cederia a Portugal o que seria, no futuro, não apenas
Moçambique e Angola, mas a totalidade do Malawi, Zâmbia e Zimbábue. A
base desta reivindicação era, simplesmente, a longa e histórica associação que
Portugal tinha com aquela região, as suas extensas explorações do Zambeze e
suas antigas redes de comércio.
Talvez não surpreendentemente, porém, quando o martelo foi batido, em
1885, no Ato Geral da Conferência de Berlim, duas normas-chave entraram
em vigor para governar a futura divisão da África. O primeiro era o princípio
da “Ocupação Efetiva”, que implicava a necessidade de autoridade
administrativa visível sobre uma região, e que nenhuma ocupação ou
anexação seria reconhecida a menos que fosse apoiada por tratados de
proteção assinados por governantes nativos responsáveis. No final do século
19, os portugueses não tinham nada assim para oferecer. Eles já haviam
largamente se retirado do interior, concentrando seus esforços em portos e no
interior próximo. A antiga relação entre a costa e os Mwene Mutapa havia
muito tempo se desvanecera na história, e as redes de comércio de escravos,
que outrora embrenhada profundamente no interior de ambos os lados do
continente, haviam desaparecido completamente. Como uma monarquia
manca e empobrecida, Portugal dificilmente poderia suportar as
reivindicações concorrentes da Grã-Bretanha e da Alemanha, e, no final, era
tanto quanto Lisboa poderia fazer para manter a soberania sobre os territórios
costeiros estabelecidos.
Inevitavelmente, o território reivindicado pelos portugueses também foi
alvo dos impérios britânico e alemão. Os britânicos, nesse ponto, estavam
bem estabelecidos no sul da África, mantendo as colônias do Cabo, Natal e o
Protetorado de Bechuanaland. A oeste, o novo Império Alemão reivindicava
Damaraland, estabelecendo a colônia que se tornaria, ao sudoeste da África, a
futura Namíbia. Ambos os impérios aspiravam expandir-se para o norte, no
caso do Império Germânico, para unir-se à sua colônia da África Oriental
Alemã e, no caso dos britânicos, para completar a visão do grande capitalista
e imperialista, Cecil John Rhodes, para uma rota de trem e telégrafo do Cabo
até o Cairo.
Contra as ambições daquela escala, para não mencionar os recursos
privados e imperiais disponíveis tanto para os britânicos quanto para os
alemães, o Mapa Cor-de-Rosa foi arquivado e nunca se tornou muito mais do
que uma estranha curiosidade da história imperial africana.
O Ultimato de 1890
Cecil John Rhodes continua sendo uma das figuras mais controversas da
disputa pela África. Ele é tão reverenciado quanto odiado, mas,
inevitavelmente, continua sendo o arquiteto do moderno mapa da África.
Quase desde o momento em que as portas se fecharam na Conferência de
Berlim, foi Rhodes, como membro júnior do Parlamento do Cabo e rico
magnata dos diamantes, que instou os britânicos a agirem para frustrar as
ambições dos alemães e dos portugueses ao reivindicar aquela extensão vital
de imóveis vagos.

Rhodes.
Evidentemente, não estavam totalmente vagos. A porção central, que hoje é
o Zimbábue, caiu sob o controle de uma monarquia indígena conhecida como
amaNdebele, não facilmente intimidada pelas maneiras duvidosas e pelo
impulso da diplomacia europeia. Ao longo da maior parte da África Central e
Oriental, o governo indígena nativo tendeu a ser fragmentado e desunido, e,
como consequência, para os agentes das empresas privadas foi fácil demais
colocar um contra o outro para obter o controle de vastas regiões daquele
território. Os tratados eram tipicamente impressos em números e redigidos de
maneira suficientemente vaga para cobrir qualquer eventualidade. Os
amaNdebele, no entanto, eram um povo unido sob um único monarca e, pelo
menos a curto prazo, possuíam armas para resistir a qualquer avanço
agressivo em seu território.
Lobengula, o rei dos amaNdebele, viu-se cercado por tratados e
interessados em concessões, representando uma pletora de ambições privadas
e públicas de todo o espectro imperial europeu. Representantes da
Companhia Britânica da África do Sul de Cecil Rhodes, estavam entre eles,
competindo contra poderosos interessados portugueses e alemães pelo
símbolo do rei em qualquer documento que pudesse justificar a ocupação. Os
portugueses, que continuavam a defender veementemente suas reivindicações
históricas, eram os menos desejáveis do ponto de vista dos povos indígenas.
Sua reputação no comércio de escravos não era um bom presságio e, em
geral, eles eram conhecidos por serem colonizadores e exploradores
implacáveis.
A competição, no final, foi amarga, e os portugueses foram rapidamente
eliminados. Lobengula foi, então, forçado a tomar uma decisão com base em
qual das grandes potências imperiais era provável que lhe oferecesse proteção
efetiva, e, por isso, ele sabiamente escolheu os britânicos. Como Cecil John
Rhodes era o mais proeminente e engenhoso de todos os britânicos que
buscavam concessões, foi ele quem triunfou em um episódio altamente
desonroso conhecido como a “Concessão Rudd”. Os termos da Concessão
Rudd, prometidos verbalmente ao rei durante as negociações, foram
manipulados no texto escrito do tratado, com o resultado final sendo que um
monarca analfabeto doou seu país por muito pouco. Depois disso, agentes da
Companhia Britânica da África do Sul de Cecil Rhodes foram rápidos em
ocupar, com ajuda de armas, os territórios sob o controle de Lobengula,
relegando o amaNdebele ao mesmo destino que os portugueses outrora
relegaram ao Reinado do Kongo.
Este foi apenas o começo da ambição de Cecil Rhodes de percorrer a rota
do Cabo até o Cairo e, antes que a tinta secasse na Concessão Rudd, agentes
da Companhia Britânica da África do Sul reuniram acordos ao norte do Rio
Zambeze, estabelecendo o fundamento do que se tornaria o território da
Rodésia do Norte. Por enquanto, no entanto, a nova colônia de Rhodes, na
Rodésia do Sul, carecia de qualquer comunicação prática com o mundo
exterior, pois não tinha acesso ao litoral. Assim, Rhodes considerou como
poderia apreender uma parte do litoral leste dos portugueses.
Isso deu início a um tenso impasse entre agentes do governo colonial
português e agentes da Companhia Britânica da África do Sul. O princípio
era o da ocupação efetiva, e a questão era que a fronteira reivindicada pelos
portugueses – o Vale do Rio Sabi – não era protegida nem ocupada, e
certamente não era governada. Rhodes enviou uma expedição armada para
além daquela fronteira e começou a reunir acordos com chefes menores
ostensivamente, deixando a bandeira portuguesa para trás. Não obstante, a
posição muito difícil em que se colocou esses chefes, resultou em um breve
conflito armado entre os dois lados que, por sua vez, levou à captura britânica
de um proeminente praziero e de um alto oficial militar português. O oficial
militar foi devolvido à Cidade do Cabo algemado e enviado de volta a
Portugal em desgraça. Além disso, um pequeno contingente da Polícia
Britânica da Companhia da África do Sul tentou montar uma expedição
contra o porto português da Beira, que foi interrompida pelo envio apressado
de um funcionário do Ministério Britânico, um certo Major Sapte, que emitiu
uma severa advertência aos homens da Companhia, que avançavam, que
estavam prestes a dar um passo largo demais.
Em termos práticos, esse tipo de atividade ao longo das fronteiras
internacionais parcialmente estabelecidas foi como muito do início das
negociações de colonização foram feitas. Rhodes estava razoavelmente
confiante de que sua política de ataque e conquista contra os portugueses na
África Oriental seria ratificada pelo primeiro-ministro britânico, Lord
Salisbury, uma vez que lhe fosse apresentado como um fait accompli. Na
maioria dos casos, essa fé era justificada, e Rhodes certamente foi capaz de
avançar pelas fronteiras da Rodésia do Sul a certa distância até o Leste,
tirando dos portugueses uma quantidade significativa de território legalmente
reivindicado.
Enquanto isso, uma disputa territorial semelhante irrompeu na região dos
lagos mais baixos, em um território que se tornaria o Nyasaland britânico e,
eventualmente, Malawi. Esta região situava-se certamente numa vasta área de
território que os interesses comerciais portugueses e prazieros controlavam
no rio Zambeze. No entanto, no início da década de 1860, uma série de
organizações missionárias britânicas e escocesas começaram a se estabelecer
na região do Lago Nyasa e nas Terras Altas de Shiré, criando, se não uma
administração secular, uma presença britânica que poderia dar como satisfeita
a exigência de ocupação efetiva. Na ausência de qualquer soberania oficial
pela Coroa, as organizações missionárias e a Companhia dos Lagos
Africanos, que estabeleceram operações comerciais no Lago Nyasa, entraram
em guerra com os traficantes de escravos e efetivamente limparam a região
daquela ameaça em particular. A presença consular britânica foi estabelecida
no final da década de 1870, o que tendeu a solidificar ainda mais uma
reivindicação britânica (embora, no que diz respeito aos portugueses, isso
ainda não atingisse uma ocupação efetiva). Uma expedição armada foi
montada no território em 1889, sob o comando do lendário soldado português
e explorador, Alexandre de Serpa Pinto, que foi confrontado pelos britânicos
através de seu representante consular, Sir Harry Johnson. Sir Johnson era um
diplomata, explorador e estudioso de boas maneiras, e entreteu de Serpa Pinto
com uma agradável xícara de chá embaixo de um baobá. Sob a ameaça da
ação britânica, a fronteira entre as duas esferas de influência foi finalmente
estabelecida como o rio Ruo, onde a fronteira entre Moçambique e Malawi
ainda existe hoje.
Este incidente, e algumas outras queixosas afirmações portuguesas de
soberania ao longo do rio Zambeze e da fronteira entre o Estado Livre do
Congo e a África Ocidental Portuguesa, vieram a ser conhecidas como a
“Crise Anglo-Portuguesa”. A crise, em sua maior parte, existia entre Lisboa e
Londres e tinha muito a ver com uma longa relação diplomática entre os dois
poderes que Portugal procurava invocar em um processo de arbitragem. Os
britânicos, até então, os principais parceiros em assuntos imperiais europeus
e, certamente, o poder naval mais importante do mundo, rejeitaram este
argumento com um grau de desprezo que finalmente colocou Portugal em seu
devido lugar na nova ordem. O resultado final foi o Ultimato Britânico de
1890. O Ultimato dizia: “O que o Governo de Sua Majestade exige e insiste é
o seguinte: que as instruções telegráficas sejam enviadas ao governador de
Moçambique imediatamente para que todas e quaisquer forças militares
portuguesas que estejam realmente no Condado, no Makololo ou no território
de Mashona sejam retiradas. O Governo de Sua Majestade considera que,
sem isso, as garantias dadas pelo Governo Português são ilusórias. O Sr.
Petre (Ministro britânico em Lisboa) está obrigado, por sua instrução, a
deixar Lisboa imediatamente com todos os membros da sua legação, a menos
que uma resposta satisfatória a esta intimação precedente seja recebida por
ele no decorrer desta noite, e o navio de Sua Majestade, Enchantress, está
agora em Vigo esperando por suas ordens.”
Com isso, os portugueses recuaram, e os britânicos, através da Companhia
Britânica da África do Sul, adquiriram a Rodésia do Norte e a Rodésia do
Sul. O status de protetorado foi estendido sobre Nyasaland. O médio e alto
rio Zambeze passaram ao controle britânico, enquanto o curso inferior
permaneceu dentro do território português. As fronteiras da África Oriental
Portuguesa e da África Ocidental (Moçambique e Angola) foram,
posteriormente, definidas mais ou menos como existem hoje.
O evento conclusivo deste capítulo foi a queda da monarquia portuguesa e
o estabelecimento, em 1910, de Moçambique e Angola como “províncias
ultramarinas” portuguesas, em vez de “colônias ultramarinas”, o que tendia a
solidificar seu status como parte integrante da soberania portuguesa. Esta foi
ratificada em 1930 pelo Presidente português, António de Oliveira Salazar,
através da passagem do Ato Colonial daquele ano.
A Luta Continua
A disputa pela África e pela colonização global, em geral, sofreram um
golpe mortal na Primeira Guerra Mundial, que destruiu os Impérios Alemão,
Russo, Otomano e Austro-Húngaro. Portugal permaneceu, em grande parte,
neutro durante as Primeira e Segunda Guerras Mundiais, mas esteve sujeito
às mesmas divisões essenciais que qualquer outro poder colonizador. Quase
imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, a Grã-Bretanha foi obrigada
a conceder independência à Índia, estabelecendo um precedente para todos os
seus outros territórios ultramarinos. Os franceses foram confrontados com
pressões semelhantes, e, como a guerra na Argélia desafiou a própria
existência do Império Francês na África, a inevitável descolonização francesa
ecoou a dos britânicos.
Os portugueses, por outro lado, não eram mais um poder estritamente
imperial, e suas possessões africanas não eram mais consideradas colônias,
mas províncias ultramarinas. Os franceses também a mesma consideração
pela Argélia, e a determinação portuguesa de manter o controle de
Moçambique e Angola correspondeu à determinação francesa de manter a
Argélia. Também houve outro fator, e isso teve a ver com a autoimagem
portuguesa. Mais uma vez, da mesma maneira que a França manteve sua
relevância como potência mundial no rescaldo da ocupação alemã através da
integridade de seu império, os portugueses, então, muito retardatários na
Europa, procuraram reivindicar seu status dentro do continente e do mundo
baseado no escopo de suas províncias ultramarinas. As colônias africanas,
portanto, foram centrais para o prestígio português e, sob o domínio do
ditador fascista, Antonio Salazar, a determinação de não se submeter à maré
crescente do nacionalismo negro na África ganhou raízes firmes.[7]
Salazar.
Por mais que os europeus resistissem, o nacionalismo em todo o continente
africano crescia a cada dia, e, no final da década de 1950, os territórios
imperiais, em toda a África, caíram como dominós. O presidente francês,
Charles de Gaulle, negociou a partida francesa da África com base em
numerosos pactos de defesa comuns, que juntaram os antigos territórios
francófonos em um estilo de união pós-colonial, enquanto os britânicos
formaram a Commonwealth e procuraram estabelecer uma união cultural e
econômica similar. A descolonização britânica foi mais acrimoniosa que a
francesa, mas o resultado final foi o mesmo.
Ao sul do rio Zambeze, no entanto, as coisas prometiam ser muito mais
complicadas. Não só os portugueses se entrincheiraram e decidiram não ceder
um centímetro, mas também a colônia de brancos da Rodésia e a República
da África do Sul estavam prontas para uma última batalha. Os quatro
territórios, incluindo a África do Sul, estavam unidos naquela determinação,
prometendo que a libertação africana ao sul do rio Zambeze fosse demorada e
sangrenta. Eles cumpriram aquela promessa.
A situação, em ambos os territórios portugueses, na Província Ultramarina
de Moçambique e na Província Ultramarina de Angola, era muito parecida. A
disparidade na riqueza e na representação entre os colonos portugueses
brancos e a maioria negra indígena era marcante até mesmo para os padrões
coloniais locais. No pós-Segunda Guerra Mundial, os movimentos
migratórios para igualar o equilíbrio da população viu um influxo de
portugueses, muitas vezes pobres, analfabetos e extremamente propensos ao
preconceito racial. Esses imigrantes entraram nas províncias africanas em
grande número e receberam enormes concessões de terras e oportunidades de
emprego preferenciais. Em quase todos os casos, os negros foram retirados
do território para dar lugar aos colonos brancos, o que não fez outra coisa
senão ilustrar, ainda mais nitidamente, as injustiças e as disparidades. O
trabalho forçado foi outra tradição profundamente desprezível, assim como o
cultivo forçado de plantações comerciais. Movimentos nacionalistas
concretos passaram a criar raízes em ambos os territórios, e, no final dos anos
1950 e início dos anos 1960, Moçambique e Angola estavam efetivamente
em guerra.
No caso de Moçambique, as principais figuras nacionalistas foram forçadas
desde o início ao exílio, e a maioria aceitou asilo no recém-liberto estado da
Tanzânia. O primeiro líder independente da Tanzânia foi o visionário e
nacionalista Julius Nyerere, que se posicionou como líder dos “Estados da
Linha da Frente”, uma organização de líderes da libertação dedicada a
confrontar os últimos bastiões da colonização. Nyerere ofereceu recursos e
encorajamento aos vários movimentos e organizações moçambicanas de
libertação que se concretizavam naquele momento, mas pediu a formação de
um único movimento para confrontar os portugueses em Moçambique.
Nyerere.
O líder mais carismático da época foi Eduardo Mondlane, geralmente
considerado o pai da independência moçambicana. Ele foi um sociólogo e
antropólogo altamente educado que abandonou uma carreira luminescente
nos Estados Unidos para liderar o movimento de libertação. Mondlane,
nativo e educado em grande parte por seus próprios esforços, foi certamente
uma personalidade extremamente impressionante, e foi sob sua liderança, em
junho de 1962, que a icônica Frente de Libertação de Moçambique foi
formada. Ao aceitarem a sigla FRELIMO, estabeleceu-se um nome que
ressoaria por toda a história da libertação da África com enorme autoridade.
Mondlane.
Mondlane foi um ideólogo, comprometido com uma revolução abrangente
e não meramente com a libertação. Sob a tutela e apoio da União Soviética, e
ansioso por explorar os movimentos de libertação para obter vantagem
estratégica na África, o idealismo de Mondlane tendeu a assumir um claro
sabor marxista. Ele foi apoiado nesse objetivo por uma liderança central do
partido, que incluía a figura castrense de Samora Machel, um ideólogo
marxista mais jovem e radical. Este tipo de posição e linguagem,
naturalmente, semeou o terror nos corações da liderança fascista portuguesa e
da população dos colonos racialmente dominantes. A guerra parecia
inevitável.
A guerra começou de verdade em 1964, quando as unidades armadas e
treinadas da guerrilha russa começaram a se infiltrar nas províncias do norte
de Moçambique, vindas da Tanzânia. A guerra foi bem-sucedida, na medida
em que foi conduzida, de acordo com o padrão da “guerra popular” maoísta.
Isto envolveu uma combinação de retórica revolucionária com promessas de
libertação e uma estratégia de enfrentamento contra as forças armadas
portuguesas ao atingir alvos fáceis, instalações econômicas e fazendas,
deixando, essencialmente, a parte norte do país ingovernável. Em pouco
tempo, as “zonas libertas” foram estabelecidas, e os portugueses alcançaram
posições fortificadas, além das quais não gozavam de nenhuma autoridade ou
apoio.
Mondlane foi assassinado por uma bomba escondida em um livro em 1969.
Os culpados nunca foram identificados, e, enquanto alguns dedos apontam na
direção de facções dissidentes dentro da FRELIMO, outros, talvez mais
racionalmente, apontam para o serviço de inteligência secreta português, a
PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado). Ele foi sucedido pelo
muito mais agressivo e carismático, Samora Machel quando a guerra superou
todos os outros interesses dentro do partido. Embora completamente sob uma
perspectiva marxista, Machel foi, acima de tudo, um soldado revolucionário,
e perseguiu a vitória militar absoluta com total determinação.
Machel.
Grande parte do duro trabalho militar foi feito não por tropas portuguesas,
mas por forças especiais rodesianas e brancas posicionadas no norte de
Moçambique para proteger o flanco rodesiano, que começava a ser
pressionado por grupos insurgentes operando na Zâmbia. O próprio exército
português pareceu sofrer de uma esmagadora crise moral. A tradição de uma
classe de oficiais profissionais liderando, a partir da retaguarda, e relegando
pobres e desmotivados para a linha de frente quase garantiu que a menor
quantidade de combate possível acontecesse. Independentemente das
exortações do primeiro-ministro Salazar e seu sucessor, Marcelo Caetano, as
guerras em Moçambique e Angola permaneceram profundamente
impopulares em casa.
Em Angola, as coisas foram um pouco mais complicadas. Enquanto a
guerra em Moçambique teve início com um único movimento revolucionário
unificado, a fraternidade de libertação em Angola foi dividida em três facções
mutuamente antagonistas, com a complicação adicional da África do Sul. O
interesse da África do Sul, que era, obviamente, frustrar o avanço do “Swart
Gevaar”, ou “Perigo Negro”, em suas fronteiras, ajudando, assim, os
portugueses em sua guerra contra as forças da libertação, fazia todo o sentido.
A África do Sul permaneceu tomada no sudoeste da África, tendo recebido
um mandato sobre o território pela Liga das Nações após a Primeira Guerra
Mundial, e, ao longo da fronteira entre o sudoeste da África e o sul de
Angola, as forças sul-africanas estavam secretamente ativas.
A principal facção da libertação foi o Movimento Popular de Libertação de
Angola, ou o MPLA, liderado pelo poeta revolucionário marxista, Agostinho
Neto. O MPLA contou com o apoio da União Soviética e de Cuba e operou
nas regiões centrais e costeiras. No norte, e secretamente apoiado pela CIA e
por vários interesses americanos, esteve a Frente Nacional de Libertação de
Angola, ou FNLA, operando a partir de bases no Zaire e liderada por um
revolucionário de tendência ocidental com o nome de Holden Roberto.
Finalmente, no sudeste do país, a União Nacional para a Independência Total
de Angola, ou UNITA, lutou sob a proteção da África do Sul e foi financiada
pela África do Sul e pelos Estados Unidos.
Neto.
Isso, então, levou a uma guerra de facetas múltiplas, e, além dos jogadores
principais, numerosos grupos dissidentes chegaram e partiram. Os Estados
Unidos e a União Soviética conduziram o que foi, na prática, uma guerra pela
procuração de Angola, que continuaria, por muito tempo após a saída dos
portugueses, alimentando uma subsequente guerra civil, ainda a mais longa e
sangrenta da história da África Subsaariana. Junte à isso os interesses dos sul-
africanos, bem como o conflito central entre Portugal e seus inimigos
internos em Angola, e o conflito fica obviamente complexo. Mais uma vez,
as tropas portuguesas desmoralizadas enfrentavam uma guerra perdida e
multidimensional, e, ali, um número cada vez maior de jovens recrutas
portugueses era enviado para lidar com combates, mesmo quando ambos os
territórios inevitavelmente escapavam de suas mãos.
A mudança veio em abril de 1974, quando o fascista Estado Novo foi
derrubado por um golpe militar de esquerda encenado por um grupo de
oficiais militares denominado Movimento das Forças Armadas. O golpe,
popularmente conhecido como a Revolução dos Cravos, teve como tema
central a retirada completa dos portugueses de suas colônias africanas. Isso
foi uma reviravolta radical de eventos que deslocou a maré política na África
do Sul para múltiplas direções. A Revolução terminou não só com as lutas de
libertação tanto em Angola como em Moçambique, mas com os teatros
menores da Guiné-Bissau e com as várias ilhas portuguesas, além de marcar
o início do fim da Guerra da Rodésia e o início do fim do apartheid na África
do Sul.
Em Moçambique, as negociações começaram imediatamente e, com poucas
complicações e atrasos, chegou-se a um acordo. Este foi o “Acordo de
Lusaka”, de 7 de setembro de 1974, e resultou numa transferência de poder
das autoridades portuguesas para a FRELIMO, o único movimento de
libertação disponível para receber o poderio do governo. A independência de
Moçambique foi celebrada em 25 de junho de 1975, na data aniversário de 17
anos da fundação da FRELIMO. Samora Machel foi nomeado Presidente,
cargo que ocupou até a sua morte em um acidente de avião em 1986. Uma
breve tentativa frustrada de colonos portugueses de realizar um golpe
fracassou, e um grande número fugiu para Portugal, para a Rodésia ou para a
África do Sul, tentado, na saída, destruir a maior parte da infra-estrutura
nacional possível.
Em Angola, a situação ainda era complicada pela natureza desunida do
movimento de libertação e pelos vários intervenientes periféricos que
continuavam a seguir planos diferentes. Os vários líderes – Holden Roberto,
Agostinho Neto e Jonas Savimbi – realizaram uma reunião em Bukavu, no
Zaire, em julho de 1975, após concordarem em negociar com os portugueses
como uma única entidade política. Dadas as posições ideológicas opostas e
ambições individuais dos três, aquilo não tinha absolutamente nenhuma
chance de sucesso. Enquanto os portugueses lavavam as mãos da guerra, do
território e dos séculos de ocupação, as três facções de libertação se voltaram
umas contra as outras.
Os Estados Unidos, sentindo uma vitória comunista em Angola, enviou
Henry Kissinger, então Secretário de Estado na administração de Gerald
Ford, para ganhar o apoio da África negra e pedir a ajuda da África do Sul
para impedir o MPLA, a facção dominante, de tomar o poder. Em 14 de
outubro de 1975, um enorme exército armado sul-africano, apoiado pela
Força Aérea Sul-Africana, iniciou um ataque pelo sudoeste da África,
avançando pelos arredores de Luanda. A Operação Savana, à princípio,
pretendia-se ocupar com a capital angolana e impor uma solução, mas, no
meio da operação, pareceu que os americanos frearam e abandonaram a
operação, deixando os sul-africanos desamparados em Angola.
Enquanto a operação Savana foi um sucesso militar surpreendente, foi um
desastre diplomático e político. Kissinger foi repreendido por conspirar com a
África do Sul, que colocou grande parte da África negra contra os Estados
Unidos e, em muitos aspectos, simplesmente abriu as portas para o MPLA.
Os portugueses estavam felizes em entregar o poder a quem quer que
estivesse no local para recebê-lo, e essa era a MPLA.
Todas as partes do conflito se reuniram na cidade de Alvor, em Portugal, de
10 a 15 de janeiro de 1975, para finalizar um acordo, mas, até então, o caso
estava claramente com o primeiro que atravessasse a linha de chegada. O
Acordo de Alvor foi assinado, mas não teve relevância particular. O MPLA
foi a força dominante; ela comandava Luanda, juntamente com todo o
equipamento militar português deixado para trás, e foi o partido que formou o
primeiro governo independente em Angola. Quase imediatamente, um êxodo
em massa de portugueses teve início, resultando em um colapso efetivo da
infraestrutura do país. Quando o último dos evacuados partiu, e quando
Agostinho Neto foi empossado como o primeiro Presidente, os primeiros
tiros da Guerra Civil Angolana foram disparados.
Devido a uma combinação de pobres práticas coloniais, um regime colonial
brutal e arraigadas disparidades raciais e econômicas, Angola alcançou a
independência, mas incapaz de se sustentar e, imediatamente, travou uma luta
fatal contra as antigas facções de libertação, agora combatentes em uma das
mais longas e sangrentas guerras civis na África. Tal como na subsequente
guerra civil em Moçambique, a África do Sul empregou uma combinação de
envolvimento direto e desestabilização, bem como financiamento e apoio a
movimentos de oposição para manter os vizinhos comunistas em constante
estado de guerra. Isso serviu aos interesses sul-africanos a curto prazo, mas
também exigiu um preço enorme das populações civis dos dois países.
Os analistas, desde então, tendem a apontar o dedo para os próprios
portugueses pelo modo como as coisas aconteceram. Considerados como
colonizadores pobres, tornou-se uma réplica bastante comum no período pós-
libertação que o Zimbabué e a Zâmbia tiveram a sorte de terem sido
colonizados pelos ingleses, enquanto, inversamente, era o destino amargo de
Moçambique e Angola terem sido colonizados pelos portugueses. Quaisquer
que tenham sido os méritos desse argumento, não foi até a década de 1990,
do colapso da União Soviética e do apartheid na África do Sul que a paz
chegou às antigas colônias portuguesas da África Oriental e da África
Ocidental.
Recursos online
Outros títulos sobre história africana pela Charles River Editors
Outros títulos sobre o Império Português na Amazon
Bibliografia
Abeyasinghe, Tikiri (1986). Jaffna Under the Portuguese. Lake House
Investments. ISBN 978-9555520003.
Abir, Mordechai (1980). Ethiopia and the Red Sea: The Rise and Decline of
the Solomonic Dynasty and Muslim European Rivalry in the Region.
Routledge. ISBN 978-0714631646.
Ahmed, Farooqui Salma (2011). A Comprehensive History of Medieval
India: Twelfth to the Mid-Eighteenth Century. Pearson Education India.
ISBN 978-81-317-3202-1.
Appiah, Anthony; Gates, Henry Louis, eds. (2010). Encyclopedia of Africa,
Volume 2. Oxford University Press. ISBN 9780195337709.
Arnold, James R.; Wiener, Roberta, eds. (2012). Cold War: The Essential
Reference Guide. ABC-CLIO. ISBN 978-1-61069-003-4. Retrieved 12 July
2012.
Brockey, Liam Matthew (2008). Portuguese Colonial Cities in the Early
Modern World. Ashgate Publishing, Ltd. ISBN 978-0-7546-6313-3.
Abernethy, David (2000). The Dynamics of Global Dominance, European
Overseas Empires 1415–1980. Yale University Press. ISBN 0-300-09314-4.
Anderson, James Maxwell (2000). The History of Portugal. Greenwood
Publishing Group. ISBN 0-313-31106-4.
Bakewell, Peter (2009). A History of Latin America to 1825. Wiley-
Blackwell. ISBN 978-1405183680.
Bethell, Leslie (1985). The Independence of Latin America. Cambridge
University Press. ISBN 978-0-521-34927-7.
Bethencourt, Francisco; Curto, Diogo Ramada (2007). Portuguese Overseas
Expansion, 1400–1800. Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-
84644-8.
Black, Jeremy (2011). War in the World: A Comparative History, 1450–
1600. Palgrave Macmillan. ISBN 9780230344266.
Boxer, Charles Ralph (1969). The Portuguese Seaborne Empire 1415–
1825. Hutchinson. ISBN 0-09-131071-7.
Boyajian, James (2008). Portuguese Trade in Asia Under the Habsburgs,
1580–1640. JHU Press. ISBN 0-8018-8754-2.
Chesworth, John; Thomas, David, eds. (2015). Christian-Muslim Relations.
a Bibliographical History.: Volume 7. Central and Eastern Europe, Asia,
Africa and South America (1500–1600). Brill Academic Publishers. ISBN
978-9004297203.
Coates, Timothy Joel (2002). Convicts and Orphans: Forced and State-
Sponsored Colonization in the Portuguese Empire, 1550–1755. Stanford
University Press. ISBN 9780804733595.
Cohen, Leonardo (2009). The Missionary Strategies of the Jesuits in
Ethiopia (1555–1632). Harrassowitz Verlag. ISBN 978-3-447-05892-6.
Corrado, Jacopo (2008). The Creole Elite and the Rise of Angolan
Protonationalism: 1870–1920. Cambria Press. ISBN 9781604975291.
Crowley, Roger. Conquerors: How Portugal Forged the First Global
Empire (2015)
de Almeida, Miguel Vale (2004). An Earth-colored Sea: Race, Culture And
The Politics Of Identity In The Post-colonial Portuguese-speaking World.
Berghahn Books. ISBN 978-1-78238-854-8.
Davies, Kenneth Gordon (1974). The North Atlantic World in the
Seventeenth Century. University of Minnesota Press. ISBN 0-8166-0713-3.
Davis, David Brion (2006). Inhuman Bondage: The Rise And Fall of
Slavery in the New World. Oxford University Press. ISBN 9780195140736.
Diffie, Bailey W.; Winius, George D. (1977). Foundations of the
Portuguese Empire, 1415–1580. University of Minnesota Press. ISBN 978-0-
8166-0782-2.
Disney, A.R. (2009a). History of Portugal and the Portuguese Empire
Volume 1, Portugal: From Beginnings to 1807. Cambridge University Press.
ISBN 978-0521843188.
Disney, A.R. (2009b). History of Portugal and the Portuguese Empire
Volume 2, Portugal: From Beginnings to 1807. Cambridge University Press.
ISBN 978-0521738224.
Dodge, Ernest Stanley (1976). Islands and Empires: Western Impact on the
Pacific and East Asia. University of Minnesota Press. ISBN 978-
0816607884.
Gallagher, Tom (1982). Portugal: A Twentieth Century Interpretation. St.
Martin's Press. ISBN 9780719008764.
Gann, Louis Henry; Duignan, Peter (1972). Africa and the World: An
Introduction to the History of Sub-Saharan Africa from Antiquity to 1840.
University Press of America. ISBN 978-0-7618-1520-4.
Gipouloux, François (2011). The Asian Mediterranean: Port Cities and
Trading Networks in China, Japan and Southeast Asia, 13th–21st Century.
Edward Elger. ISBN 978-0857934260.
Goodman, Grant K. (2000). Japan and the Dutch 1600-1835. Routledge.
ISBN 978-0700712205.
Goodwin, Stefan (2008). Africa's Legacies Of Urbanization: Unfolding
Saga of a Continent. Lexington Books. ISBN 978-0-7391-5176-1.
Herring, Hubert Clinton; Herring, Helen Baldwin (1968). A History of
Latin America: From the Beginnings to the Present. Knopf. ISBN 0-224-
60284-5.
Heywood, Linda M.; Thornton, John K., eds. (2007). Central Africans,
Atlantic Creoles, and the Foundation of the Americas, 1585–1660.
Cambridge University Press. ISBN 9780521770651.
Jesus, Carlos Augusto Montalto (1902). Historic Macao. Kelly & Walsh,
ltd. ISBN 9781143225352.
Juang, Richard M.; Morrissette, Noelle Anne, eds. (2008). Africa and the
Americas: Culture, Politics, and History: A Multidisciplinary Encyclopedia,
Volume 2. ABC-CLIO. ISBN 978-1-85109-441-7.
Kamen, Henry (1999). Philip of Spain. Yale University Press. ISBN
9780300078008.
Kozák, Jan; Cermák, Vladimir (2007). The Illustrated History of Natural
Disasters. Springer. ISBN 9789048133246.
Kratoska, Paul H. (2004). South East Asia, Colonial History: Imperialism
before 1800. Taylor and Francis. ISBN 978-0415215404.
Lach, Donald F. (1994). Asia in the Making of Europe, Volume I: The
Century of Discovery. University of Chicago Press. ISBN 9780226467085.
Ladle, Jane (2000). Brazil. American Map. ISBN 9780887291302.
Lisboa, Maria Manuel (2008). Paula Rego's Map of Memory: National and
Sexual Politics. Ashgate Publishing. ISBN 978-0-7546-0720-5.
Lockhart, James (1983). Early Latin America: A History of Colonial
Spanish America and Brazil. Cambridge University Press. ISBN 0-521-
29929-2.
Macmillan, Allister (2000). Mauritius Illustrated. Educa Books, Facsimile
edition. ISBN 0-313-31106-4.
Mahoney, James (2010). Colonialism and Postcolonial Development
Spanish America in Comparative Perspective. Cambridge University Press.
ISBN 9780521116343.
Malekandathil, Pius (2010). Maritime India: Trade, Religion and Polity in
the Indian Ocean. Primus Books. ISBN 978-9380607016.
Mancall, Peter C. (2007). The Atlantic World and Virginia, 1550–1624.
University of North Carolina Press. ISBN 9780807838839.
Marley, David (2005). Historic Cities of the Americas: An Illustrated
Encyclopedia, Volume 1. ABC-CLIO. ISBN 978-1-57607-574-6.
Marley, David (2008). Wars of the Americas: A Chronology of Armed
Conflict in the Western Hemisphere (2 Volumes). University of Oklahoma
Press. ISBN 978-1598841008.
McAlister, Lyle (1984). Spain and Portugal in the New World, 1492–1700.
University of Minnesota Press. ISBN 0-8166-1216-1.
Mathew, Kuzhippalli Skaria (1988). History of the Portuguese Navigation
in India, 1497–1600. Mittal Publications. ISBN 978-8170990468.
Mehta, Jaswant Lal (1980). Advanced Study in the History of Medieval
India. Sterling Publishers Pvt. Ltd. ISBN 978-81-207-0617-0.
Metcalf, Alida C. (2006). Go-Betweens and the Colonization of Brazil:
1500–1600. University of Texas Press. ISBN 978-0-292-71276-8.
Metcalf, Alida C. (2005). Family and Frontier in Colonial Brazil: Santana
de Parnaíba, 1580–1822. University of Texas Press. ISBN 978-0-292-70652-
1.
Newitt, Malyn D.D. (1995). A History of Mozambique. Indiana University
Press. ISBN 978-0-253-34006-1.
Newitt, Malyn D.D. (2005). A History of Portuguese Overseas Expansion,
1400–1668. Routledge. ISBN 0-415-23979-6.
O'Flanagan, Patrick (2008). Port Cities of Atlantic Iberia, c. 1500–1900.
Ashgate Publishing. ISBN 978-0-7546-6109-2.
de Oliveira Marques, A.H. (1972). History of Portugal: From Lusitania to
Empire; Vol. 1. Columbia University Press. ISBN 978-0231031592.
Olson, James Stuart (1991). Historical Dictionary of European Imperialism.
Greenwood. ISBN 9780313262579.
Ooi, Keat Gin (2004). Southeast Asia: A Historical Encyclopedia, from
Angkor Wat to East Timor: Volume 1. ABC_CLIO. ISBN 978-1-57607-771-
9.
Ooi, Keat Gin (2009). Historical Dictionary of Malaysia. Rowman &
Littlefield Publishers, Inc. ISBN 978-0-8108-5955-5.
Page, Melvin E.; Sonnenburg, Penny M., eds. (2003). Colonialism: An
International, Social, Cultural, and Political Encyclopedia, Volume 2. ABC-
CLIO. ISBN 1-57607-335-1.
Paquette, Gabriel (2014). Imperial Portugal in the Age of Atlantic
Revolutions: The Luso-Brazilian World, c. 1770–1850. Cambridge
University Press. ISBN 978-1107640764.
Panikkar, K.M. (1953). Asia and Western dominance, 1498-1945, by K.M.
Panikkar. London: G. Allen and Unwin.
Pearson, Michael (1976). Merchants and Rulers in Gujarat: The Response
to the Portuguese in the Sixteenth Century. University of California Press.
ISBN 978-0520028098.
Pearson, Michael (1987). The Portuguese in India. Cambridge University
Press. ISBN 0-521-25713-1.
Ponting, Clive (2000). World History: A New Perspective. Chatto &
Windus. ISBN 0-7011-6834-X.
Priolkar, A.K. The Goa Inquisition (Bombay, 1961).
Ricklefs, M.C. (1991). A History of Indonesia since c. 1300 (2nd ed.).
London: MacMillan. ISBN 0-333-57689-6.
Rodriguez, Junius P. (2007). Slavery in the United States: A Social,
Political, and Historical Encyclopedia: Volume 2. ABC-CLIO. ISBN 978-1-
85109-549-0.
do Rosário Pimente, Maria (1995). Viagem ao fundo das consciências: a
escravatura na época moderna. Edições Colibri. ISBN 972-8047-75-4.
Russell-Wood, A.J.R. (1968). Fidalgos and Philanthropists: The Santa Casa
da Misericórdia of Bahia, 1550–1755. University of California Press. ASIN
B0006BWO3O.
Russell-Wood, A.J.R. (1998). The Portuguese Empire 1415–1808. Johns
Hopkins University Press. ISBN 0-8018-5955-7.
Scammell, Geoffrey Vaughn (1997). The First Imperial Age, European
Overseas Expansion c. 1400–1715. Routledge. ISBN 0-415-09085-7.
Scarano, Julita (2009). MIGRAÇÃO SOB CONTRATO: A OPINIÃO DE
EÇA DE QUEIROZ. Unesp- Ceru. Archived from the original on 2013-02-
04. Retrieved 2012-11-29.
Schwartz, Stuart B. (1973). Sovereignty and Society in Colonial Brazil:
The High Court of Bahia and Its Judges, 1609–1751. University of California
Press. ISBN 978-0520021952.
Shastry, Bhagamandala Seetharama (2000). Goa-Kanara Portuguese
Relations, 1498–1763. Concept Publishers. ISBN 978-8170228486.
de Silva Jayasuriya, Shihan (2008). The Portuguese in the East: A Cultural
History of a Maritime Trading Empire. I.B. Taurus. ISBN 978-1845115852.
de Souza, Teotonio R., ed. (1990). Goa Through the Ages: An Economic
History, Issue 6 of Goa University publication series Volume 2. Concept
Publishing Company. ISBN 81-7022-259-1.
Stapleton, Timothy J. (2013). A Military History of Africa. ABC-CLIO.
ISBN 978-0-313-39569-7.
Subrahmanyam, Sanjay (2012). The Portuguese Empire in Asia, 1500–
1700: A Political and Economic History (2 ed.). Wiley-Blackwell. ISBN 978-
1-118-27401-9.
Thomas, Hugh (1997). The Slave Trade: The Story of the Atlantic Slave
Trade: 1440–1870. Simon and Schuster. ISBN 978-0-684-83565-5. Retrieved
10 July 2012.
Thornton, John K. (2000). Warfare in Atlantic Africa, 1500–1800.
Routledge. ISBN 978-1-135-36584-4.
Treece, Dave (2000). Exiles, Allies, Rebels: Brazil's Indianist Movement,
Indigenist Politics, and the Imperial Nation-State. Praeger. ISBN 978-1-
85109-549-0.
Velupillai, Viveka (2015). Pidgins, Creoles and Mixed Languages: An
Introduction. John Benjamins. ISBN 978-1-85109-549-0.
Wheeler, Douglas L. (1998). Republican Portugal: A Political History,
1910–1926. University of Wisconsin Press. ISBN 0-299-07450-1. Retrieved
12 July 2012.
White, Paula (2005). Bowman, John Stewart; Isserman, Maurice, eds.
Exploration in the World of the Middle Ages, 500–1500. Facts on File, Inc.
ISBN 3-87294-202-6.
Whiteway, Richard Stephen (1899). The Rise of Portuguese Power in India,
1497–1550. Archibald Constable & Co.
Yamashiro, José (1989). Choque Luso No Japão Dos Séculos XVI e XVII.
Ibrasa. ISBN 1-74059-421-5.
Livros gratuitos da Charles River Editors
Temos novos títulos disponíveis gratuitamente na maioria dos dias da
semana. Para ver quais de nossos títulos estão atualmente gratuitos, clique
neste link.
Livros com desconto da Charles River Editors
Temos títulos todos os dias por apenas 99 cents. Para ver quais de nossos
títulos custam apenas 99 cents, clique neste link.

[1]
Os leitores podem ser encaminhados para a publicação da Charles River Editors: “Grande Zimbábue”.

[2]
Com o propósito de colonização e exploração colonial, os portugueses costumavam usar prisioneiros e condenados que tinham
pouco a perder além de suas fortunas nas colônias em troca de certas liberdades e dotes de propriedade. A taxa de mortalidade
entre eles, no entanto, foi chocantemente alta.

[3]
A palavra “árabe”, embora amplamente utilizada em histórias do período, é enganosa. Na maioria das vezes, quem foi descrito
como “árabe” nas histórias não o era no verdadeiro sentido, mas eram, na verdade, falantes de suaíli da costa que se vestiam,
falavam e, mais importante, adoravam como os comerciantes árabes, cuja influência era sentida na costa desde tempos
imemoriais.
[4]
Os leitores podem ser encaminhados para a publicação da Charles River Editors: “Tráfico de Escravos no Leste da África”.
[5]
Oliver, Roland e Atmore, Anthony. Medieval Africa, 1250-1800 (Cambridge University Press, Cambridge 2001) p74
[6]
A Yao era, e continua a ser, uma forte tribo costeira há muito associada ao comércio árabe, e era predominantemente composta
por muçulmanos.
[7]
Este foi o Estado Novo, período que durou de 1933 a 1974.

Você também pode gostar