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Dez anos no mar

Florianópolis, 14 de abril de 1984. Após abandonar casa, carro, trabalho, escola e o conforto da vida em terra
firme, Vilfredo e Heloísa Schürmann –acompanhados dos filhos Wilhelm, David e Pierre, à época com 7, 10 e 15 anos de
idade – zarpam para realizar o sonho de suas vidas: dar a volta ao mundo a bordo de um veleiro.
Para tornar o sonho possível, a preparação foi longa e exigiu sacrifícios. Eles dedicaram um ano de planejamento
para cada ano passado no mar. Antes de partir, venderam bens no Brasil. E, durante a aventura, sempre que as
economias ameaçavam acabar, a Família Schürmann arregaçava as mangas e trabalhava. Eles fizeram um pouco de tudo:
promoveram charters com o veleiro; os meninos deram aulas de windsurfe e mergulho; Heloísa escreveu artigos para
revistas e publicações especializadas.
O esforço valeu a pena! Em sua primeira grande aventura, a Família Schürmann passou dez anos no mar. Eles
singraram os oceanos Atlântico, Pacífico e Índico. E conheceram lugares como Barbados, Galápagos, Bora Bora, Ilhas Fiji,
Madagascar e Cidade do Cabo, entrando em contato com uma riquíssima diversidade paisagística, cultural e humana.
Wilhelm e David eram apenas crianças quando saíram do Brasil. Pierre, adolescente. Os três cresceram a bordo.
Estudaram por correspondência. Em 1994, a experiência de viver no mar havia contribuído para transformá-los em
jovens saudáveis e bem-informados, preparados para enfrentar a vida de maneira ética e responsável, com
determinação para atingir seus objetivos, sempre respeitando o ser humano e o meio ambiente.
Wilhelm foi o único dos filhos que permaneceu dez anos ininterruptos a bordo. Em 1988, Pierre decidiu estudar
administração de empresas nos Estados Unidos, onde morou até 1994. Em 1991, David aproveitou uma temporada da
Família na Nova Zelândia e por lá ficou, graduando-se em cinema e televisão. Só voltou ao Brasil em 1999, após trabalhar
com audiovisual na Nova Zelândia e nos Estados Unidos.
Os Schürmann foram a primeira Família brasileira a completar uma volta ao mundo a bordo de um veleiro. Mais
importante que a fascinante oportunidade de conhecer o mundo, a convivência permitiu a Vilfredo, Heloísa, Wilhelm,
David e Pierre Schürmann o privilégio de compartilhar em Família a grande aventura da vida.

Saiba mais
 
Além da aventura de passar dez anos no mar, a família Schürmann realizou outra importante viagem. Em
novembro de 1997, os Schürmann começaram a percorrer a mesma rota do navegador português Fernão de Magalhães
(1480-1521), que, no século XVI, circum-navegou a Terra provando que o planeta é redondo.
O retorno ao Brasil foi no dia 22 de abril de 2000 para que a família participasse das comemorações dos 500 anos
do Brasil.
Enfim, terra!

A família Schürmann completa a viagem em volta da Terra depois de dois anos nos mares
Silvio Ferraz, do veleiro Aysso
  

Nesta expedição não há fome nem doença. Tampouco ansiedade diante do


desconhecido. A saudável família Schürmann, de Santa Catarina, que
partiu do Brasil há pouco mais de dois anos para circunavegar o planeta,
sabe dia, hora e minuto que aportará em Santa Cruz Cabrália, em
homenagem aos 500 anos do descobrimento. O que ninguém a bordo
do Aysso, o veleiro da família, sabe nessa alvorada é quando poderá
enxergar terra brasileira. A costa dista 30 milhas. Os ventos sopram a 15 nós
de través, e o barco, com 20 toneladas, corta ondas de 2 metros de altura com
galhardia. A tripulação perscruta o horizonte ainda coberto com um
manto espesso de neblina. "Terra à vista", esgoela-se David, o filho do
meio do casal Heloisa e Vilfredo, lobos-do-mar da ponta dos pés à raiz dos
OscarCabral
cabelos. É a costa da Paraíba. Todos riem, pulam e batem palmas. Foram 58.
456 quilômetros percorridos em uma rota propositadamente coincidente com
a do navegador português Fernão de Magalhães, traçada em 1519. Foram visitados 61 portos em dezenove países e nove
territórios. Uma viagem planejada quase com requintes de voo espacial, tantos foram os cuidados no mar e na terra.
Não faltaram acidentes nem surpresas desagradáveis. No Mar da China, ameaça de piratas na costa da Indonésia.
Vilfredo, com controlada tensão, esperava-os com a pistola de sinalização em punho. Ou tormentas monumentais no
Estreito de Magalhães, com ondas de 10 metros e ventos de 60 nós fustigando o convés. Ou mesmo icebergs
aprisionando o barco. Mas sobrou deslumbramento com as belezas naturais e a afabilidade de tantos povos. Em Brunei
foram recebidos como príncipes. E aquele povo, que do Brasil só conhecia Pelé, passou a integrar o grande contingente
que seguiu a viagem pela internet.

Aniversário de David, a bordo


doAysso: "O segredo é o bom
humor"

A vida a bordo é um exercício em equipe. "O segredo é o bom humor. E a chave, a tolerância com os hábitos de cada
um", ensina Vilfredo. Cada um dos oito tripulantes, incluindo o capitão, tem suas especialidades e também tarefas
preestabelecidas. A cada quatro horas, um acorda, toma um café na cozinha, informa-se da navegação e sobe à coberta.
Ouve de quem o antecede no timão comentários sobre os ventos, as correntes e o mar. E assume o comando por mais
quatro horas. Nos momentos de mar grosso, outro tripulante o acompanha. Durante as 24 horas do dia, há sempre
alguém dormindo no barco. Quem não dorme lê, ouve música com fones no ouvido ou dedica-se a responder aos e-mails
que chovem de todos os cantos do mundo. São cerca de 200 mensagens diárias. Passam por uma "quarentena" na base
de apoio em terra, no Rio de Janeiro, para depois serem transmitidos ao barco. "Não podemos correr o risco de importar
um vírus com tanto equipamento eletrônico a bordo", explica David.
A parafernália na embarcação é complexa o suficiente para garantir a navegação com segurança. Quem sobe a
bordo como tripulante novato vê o conforto num ponto minúsculo perdido no horizonte longínquo. As cinco cabines são
exíguas, com beliche, minipia, pequeno armário e prateleira para cinco livros. Depois de lidos, são trocados com outros
navegantes nos portos de escala. Na proa do barco há um banheiro com chuveiro para a tripulação. A invejada cabine do
capitão, à popa, onde dorme o casal e a filha Kat, é espaçosa e tem banheiro privativo. No mais é tudo comum: o
refeitório, a cozinha e a sala de comunicações com seis computadores.
O fogão a gás tem a superfície móvel para manter as panelas sempre em posição horizontal, não importando o
tamanho das ondas. Há dias em que o mar não permite refeições. O jeito é apelar para bebidas energéticas, frutas secas
e barras de chocolate. Nem sempre é assim. Há mesmo especialidades consagradas. Heloisa, ou "Formiga", como a
apelidaram os filhos, tem receitas de grande sucesso. Quando encontram carne de boa qualidade em algum porto, o
estrogonofe entra no circuito. Vilfredo, o capitão, inspira-se na cozinha e envolve o
barco com odores dos temperos que aplica em seu espaguete. Wilhelm, o filho Acervo pessoal
mais moço, campeão brasileiro de windsurfe, tem reservados ervas finas de
Provence e um bom vinho para preparar seu carro-chefe: peixe capturado no dia
acompanhado de batatas fervidas cobertas com queijo derretido.
No dia-a-dia, o respeito à individualidade é a tecla batida e rebatida.
Ninguém interrompe o outro em suas tarefas. Não há papo furado, embora o
humor e a gozação predominem. "Se David está lendo, procuro não distraí-lo,
porque quero que ele tenha a mesma atitude comigo", comenta Sabrina
Jachowicz, sua companheira. Ao cair da tarde, é hora da saração. Todos no Dança checak, em Bali:
tombadilho ao som de música animada, com pesos amarrados às canelas, deslumbramento com
sacodem-se animadamente. Os exercícios são imprescindíveis. O esforço a bordo as belezas naturais e com é
constante e necessário quando o mar engrossa. a afabilidade dos povos
Os Schürmann são uma empresa flutuante. Um clã que viu no mar, nas ondas e nos ventos o habitat ideal. Na
primeira viagem de circunavegação, que durou uma década, levaram milionários a recantos maravilhosos com serviço de
hotel cinco-estrelas, a 300 dólares por pessoa com tudo incluído. "Eu e Heloisa cuidávamos da navegação e da cozinha e
os meninos da marinhagem e do serviço de mesa, como garçons", recorda Vilfredo sorrindo. Desta vez, nada foi
improvisado. A viagem, que consumiu 4 milhões de dólares, contou com patrocinadores desde o início. Vilfredo acredita
que já no próximo ano, quando um longa-metragem sobre as aventuras da família, feito por David, for concluído, com a
comercialização de fotos e de conferências sobre a viagem, o faturamento poderá chegar a 7,5 milhões de dólares. Aí
começará seu novo projeto, sonhado nas noites de lua e nos dias de sol e que ganha contornos reais a cada milha que
o Aysso se aproxima da costa brasileira. Vilfredo quer um barco duas vezes maior que o Aysso e parafernália de
navegação mais sofisticada, para continuar seus planos de cruzar mares e mais mares: "Navegar não é apenas preciso, é
imprescindível à nossa sobrevivência".

Vilfredo caminha sobre uma geleira no sul do Chile e uma arraia-jamanta: aventura

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