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A cozinha da região amazônica evoca paladares ancestrais, quando o mundo era jovem
e os povos do grande vale construíam suas civilizações sem a presença dos brancos. Um naco
de tucunaré, uma garfada de paxicá de peixe-boi ou um bocado de sarapatel de tartaruga
remetem a velha morada dos deuses dessas terras do sem-fim. E, claro que hoje os nossos
deuses selvagens foram banidos da terra, o status ontológico da Amazônia passou a ser
traduzido pelo potencial de energia elétrica de uma cachoeira ou pela viabilidade econômica
de uma mina de manganês. Tartarugas e peixe-boi estão em processo de extinção, graças a
esta ideologia míope de progresso que nos chega truncada e mal assimilada por tecnocratas
de pouca imaginação e políticos conformistas.
Em 1665, o padre Antônio Vieira visita Belém. Escreve algumas das mais vivas crônicas
sobre os costumes e a rotina de uma vila colonial na Amazônia. Naqueles meados do século
XVII, Belém é uma imunda e sonolenta vila arruada desordenadamente em torno do forte do
Presépio. Nada naquele aglomerado de taperas excita a premonição de que no futuro aquela
cidade será escolhida como capital de uma administração colonial e será em I900 uma das
mais lindas e trepidantes metrópoles da América do Sul. O que o padre Antônio Vieira vê
consternado é um forte militar meio em ruínas, com sua guarnição vestindo fardas imundas e
rotas, de soldados alquebrados e mergulhados na mais completa indisciplina e desmazelo em
seus próprios tratos pessoais. Os colonos, para Vieira, já haviam atravessado os mais
inimagináveis limites da degradação. Para escândalo de Vieira, roupas eles somente vestiam
quando precisavam sair à rua para alguma demanda importante. Assim mesmo, ataviavam-se
de forma esdrúxula, esquecendo às vezes a camisa ou os calções, como se já não lembrassem
mais o que era se vestir condignamente. Ao entrar nas casas de Belém, o padre Vieira não
parava de recuar horrorizado frente ao que via. Ali os colonos portugueses pareciam
desbotados tapuias, estirados nus nas confortáveis redes de cipó tucum, atendidos por
perfumadas cunhãs que lhes ministravam elaborados cafunés.
Ah! Como devia ser uma delícia viver naquela Belém indígena, não fossem os aspectos
cruéis e discricionários da sociedade colonial. O próprio Vieira não cessa de denunciar as
barbaridades cometidas contra os índios, mas é uma pena que o lado vitorioso das culturas
indígenas ele não possa perceber.
Na Amazônia dos primeiros tempos seria impensável uma cena como a dos puritanos
da América do Norte convidando os índios para um jantar de Ação de Graças. Para começar,
eram os índios que estavam sempre convidando os brancos, como tinham feito com Francisco
Orellana em seu trajeto pelo rio Amazonas, embora quase sempre a retribuirão fosse a captura
e escravização dos índios. Em segundo lugar, os índios certamente teriam uma péssima
impressão da cozinha europeia, ao provarem um pedaço do insípido peru, prato típico dos
americanos no jantar familiar do dia de Ação de Graças.
Diz um velho axioma que comer é conhecer. Por isso mesmo todas as grandes
culinárias do mundo são formas de conhecimento, sistemas de sinais culturais transmitidos
através do paladar e da inteligência. Um tempero sutil ou agressivo, a ênfase em certos
aspectos do reino animal e a apresentação dos pratos são formas explícitas e reveladoras de
uma civilização. Sendo o ato de comer algo tão vital quanto o sexo, as convenções e
construções culturais que se tecem em torno dessas duas atividades, por envolverem
sensações primárias, são em geral um desafio para as comunidades humanas. A culinária
portuguesa anterior aos descobrimentos era um conjunto de cozinhas cujas receitas se
baseavam na carne, na proteína animal. Depois das grandes navegações ela se torna uma
culinária também marítima, e não é à toa que em língua portuguesa (como no norueguês) se
podem nominar todos os peixes e crustáceos dos oceanos. O que se nomeia se digere.
Os povos indígenas da Amazônia não legaram apenas a rede que nos embala o sono e
alguns animais amansados pelas suas mãos, deram-nos também uma cozinha que aqui nesta
obra, no magnifica texto de Raul Lody, se celebra com reverência e um necessário
sensualismo. Neste belo livro, em que certos quitutes cujas receitas foram guardadas como
relíquias são reveladas pela primeira vez, registra-se para sempre uma das originalidades da
alma brasileira. E o banquete da cozinha gerada no coração dos mitos, temperada pelas mãos
das Amazonas guerreiras, saboreada por guerreiros incansáveis e legada generosamente a nós
por essas culturas que se desvanecem.
A Amazônia é ainda uma das pátrias do mito, onde ainda existe uma unidade entre o
pensamento e a vida numa constante interação de estímulos e afirmação. A Amazônia estará
viva enquanto se reconhecer que essa natureza é parte de nossa cultura, onde uma arvore
derrubada é como uma palavra censurada e um rio poluído é como uma página rasurada. A
Amazônia estará viva enquanto soubermos saborear com deleite um pato no tucupi, uma cuia
de tacaca, uma caldeirada de jaraqui ou um tambaqui assado na brasa.
Raul Lody
Um território onde índios, donos da terra, conviviam com árvores que pareciam tocar
o céu, rios tão largos cujas margens não eram vistas, peixes imensos e mamíferos das águas,
como o boto e o peixe-boi e outros seres da mitologia da floresta, parecidos com os que
assustaram os navegadores portugueses nas rotas ultramarinas, em suas descobertas de
caminhos e novos mercados, por onde o Ocidente dialogava e se aproximava do Oriente.
Exploradores, nos séculos XVII e XVIII, que buscavam ouro no Equador, e prata no
México e no Peru, enfatizavam o Eldorado de Manoa, terras de encantos, de águas límpidas.
Tantas são as projeções, que acabaram despertando conquistas e direitos ao paraíso — a
nossa Amazônia.
O mesmo acontece com o doce — com a chegada do açúcar — tão especiaria como os
outros produtos do Oriente. A cana-de-açúcar a marca colonial mais evidente e determinada,
fortalecendo e ampliando receitas conventuais, de mosteiros, onde freiras e frades — gordos
de tanto experimentar caldas, massas de gemas de ovos, frituras com trigo e azeite de oliva —
vão legando e inventando opções de bolos, cremes, pastéis e urna infinidade de delícias doces.
As frutas nativas, da terra, têm seu uso gastronômico ampliado em pasta doce, em
caldas, em docinhos finos e individuais, fortalecendo o então exótico paladar dos primeiros
habitantes da Amazônia, os primeiros também a fazer fogo e descobrir como a mata e a água,
representados em bichos e folhas, podem servir à boca, ao corpo, ao espírito, integrando e
identificando singulares maneiras de preparar, servir e comer.
Sem dúvida, a comida indígena permaneceu mais fiel à sua tradição do que a africana e
a europeia que aqui chegaram. Os viajantes, certamente com um olhar voltado para o
desconhecido, falam sobre os hábitos e costumes dos nossos índios, sua alimentação e
técnicas de cozinha.
Estar assado, estar cru, estar semicru são estágios que os conhecimentos técnicos e os
ideais gastronômicos de cada grupo irão conceituar e estabelecer em princípios próprios sobre
regras de alimentação.
A farinha é um alimento que satisfaz — a farinha com água é uma tradicional refeição:
o chibé. O chibé, que também é chamado de jacuba, não vai ao fogo e pode ser doce. Quando
a farinha fina vai ao fogo, até transformar-se em uma espécie de mingau, é denominada
caribé.
A designação papa-chibé para os naturais da região Norte, como ocorre com papa-
goiaba para o homem fluminense e papa-jerimum para o potiguar, são designações etno-
históricas que situam pelo alimento, as opções básicas dos habitantes de determinado lugar.
São termos relativizados, de conotação afetiva. O chibé é tão popular que chega a ser utilizado,
por alguns, como substituto de alimentos como o pão, a fruta, o peixe, a carne e até mesmo o
açaí.
Creio ser essa a ceia mais tradicional do brasileiro. Tem base nativa, indígena,
incorporando os encontros dos mundos ocidental e oriental com a canela e o açúcar,
especiarias, nacionalizando costumes milenares, mais antigos do que os 500 anos da chegada
lusitana
Os frutos da terra
O açaí e o guaraná encabeçam o elenco de frutos da Amazônia, e outros, mesmo de
procedências exóticas, trazidos pelas rotas ultramarinas do homem português. já
abrasileiraram-se, compondo cardápios da região. Já são do Norte devido ao sabor, à boca que
escolhe e autentica.
Bacuri. uxi, uamari, bacaba, taperebá, cupuaçu, entre outros frutos regionais da
Amazônia, fazem parte dos cardápios de uso in natura ou, como manda o costume, com
farinha de mandioca.
Outra fruta, integrada à mesa do Norte, a banana, assume um forte símbolo tropical;
chamada genericamente de pacova, os colonizadores deram-lhe a denominação de banana-
da-terra. O gênero Musa reúne em torno de 40 espécies, sendo as mais comuns a Musa
paradisíaca, Musa sapientum e a Musa cavendishi. Popular é o gênero pacovão ou chifre-de-
boi, comprida ou pacovi, juntamente com a branca ou maçã; prata, d'água, peruá; inajá ou
ouro, são-tomé, roxa, entre outras.
São tantas e tão gostosas as frutas que fazem a memória dos sabores da Amazônia,
como araçá, pitanga, caju, jambo, ginja, grumixama, ingá, fruta-pão, jaca, ananás, maracujá,
ata, biriba, manga, cutitiribá. angá, camapu, camutim, carambola e cubiú, disponíveis nos
quintais das casas, nas feiras, nos mercados da região, ou mesmo nas ruas de Belém, por
exemplo, com suas famosas mangueiras.
O caboclo paroara vai coletar um bocado de açaí, mete-se em uma montaria (canoa)
buscando onde está o vicejante açaí, quase sempre à beira-rio, no alagadiço, na várzea. Com o
uso de jamaxis ou aturás — paneiros com pés, resistentes, especiais para o transporte dos
frutos — vivencia seu mister de coletor da natureza.
Munido de um cinto auxiliar para galgar a árvore, feito de fibras do próprio açaizeiro,
com a arte de um só golpe, retira um cacho repleto de frutos.
O celebrado guaraná compõe há muito a mesa indígena e seu uso ampliou-se para
casas de sucos, de produtos naturais ou nos espaços convencionais em feiras e mercados da
região Norte, recebendo grande procura e consumo diário.
Peixes, muitos tipos, gostos, modos de fazer, servir e comer. Cação, tainha,
piramutaba, gurijuba, camurupim, badejo, cherne, pratiqueira, garoupa, agulha, pacamão,
anchova, pescadas branca e amarela, pacu, xaréu, camurim, acará, acará-açu, acari, apapá,
anamaçá, aruaná, cangati, cascudo, curimatã, filhote, jaraqui, mapará, ituí, jatuarana, jandiá,
pirá-andirá, piranambu, pirapitinga, piracum, piranha, surubim, tucunaré, tambaqui, tamoatá,
entre tantos outros.
Além do consumo quase diário do peixe, uma das bases alimentares da região Norte,
presente em todas as camadas sociais, destaca-se o tradicional e festivo cardápio com carne e
miúdos de tartaruga. Em âmbito doméstico, os almoços fraternos ocorrem em torno de uma
tartarugada, ou de um banquete acrescido de tacacá, de farinha, de bebidas e certamente de
açaí, sucos, cremes e sorvetes das frutas da terra. Verdadeira farra de gostos, odores e
suspiros de prazer.
O sabor da goma
Se. na Bahia. é o acarajé que impera nas ruas, no Norte é o tacaca, alimento que está
vivo no hábito diário do homem amazônico.
A pimenta ajuda também a esquentar. e o jambu, erva danada de boa, gostosa, faz o
lábio tremer, ficar quase adormecido: prazer e desejo daqueles acostumados em se servir de
tacacá.
O nortista, fora da sua região, assume sua identidade, seu ethos amazônico, quando se
depara com uma cuia quase transbordante de tacacá. Os olhos brilham, a saliva brota, o cheiro
é referência da mata, com a mão, começa a catar os camarões, o jambu, depois bebe o caldo e
pronto, eis a magia do contato pela boca. Certamente, o mais emocionado e direto contato do
homem com a sua cultura.
O fruto, sem o miolo, exibe suas conchas ou cascas espessas, que, postas para secar ao
sol, adquirem flexibilidade e qualidade para serem decoradas — bordadas — com a técnica de
incisos, pinturas ou simplesmente lixadas, prontas para o consumo. São vasilhas utilizadas não
só para servir e beber água, como para tomar tacacá, açaí, mingau de milho, entre outros
alimentos.
Pigmentos como curi, tabitinga, tauá, anil e urutu têm emprego na decoração das
cuias. Hoje, a tinta a óleo, retratando paisagens e outras cenas que circulam também nas
pinturas de bares, restaurantes, lameiros de caminhões e de bicicletas, integra definitivamente
as cuias em âmbito urbano, compondo a cultura material das cidades. Essas cuias são
verdadeiras obras de arte popular, integrando o imaginário do Norte como fortes símbolos da
região. Nelas, a mão do índio, o bordado do europeu e mesmo do africano, juntos, contribuem
para a identidade da Amazônia.
Em Belém, a Baía do Guajará, formada pelos rios Guamá, Moju e Acará, é marcada pelo
mercado de peixe, pela feira do Ver-o-Peso, onde se encontra de um tudo: cachaça de Abaete,
ervas cheirosas para os banhos de conquista e de saúde, temperos coloridos e de sabores fortes,
cerâmica, rede de dormir, vidros com misturas de raízes, folhas, frutos e banhas de boto e de
tartaruga — vidros de magia —, peixe salgado e fresco; montanhas de paneiros com açaí, mulheres
fazendo comida na hora, na frente do freguês.
No mercado, muita comida, área especial para os peixes, outras para farinhas, cereais,
legumes e ainda para o artesanato local, predominantemente em trançados de fibras naturais, cuias,
objetos de adorno corporal com sementes e arte plumária. No entorno, bancas oferecem temperos a
granel: pimenta em pó, colorau, cravo e canela.
Molhos de pimenta fresca com sal, limão, azeite de oliva e recipientes com farinha-
d’água – variação da farinha de mandioca – são convites permanentes para o acompanhamento
de carnes, aves, feijões ou miúdos refogados, preferencialmente consumidos em pratos fartos,
pirâmides transbordantes de tanta comida.
Os frequentadores das feiras e dos mercados têm comportamento típicos: agindo com
certa intimidade no trato com os produtos. Tocam e cheiram frutas, quase sempre provam uma
para ver se está boa, doce, no ponto.
Peixe, carne e legumes também são olhados, certamente exigindo um outro olho clínico
que vê cor e que também sente cheiro e textura, avaliando se o peixe é fresco, se a carne não é
congelada, se o legume está macio e tenro para o consumo.
Com as pimentas frescas o processo da escolha é mais intenso, o cheiro e ardor têm que
fazer os olhos marejarem d'água. Pois, pimenta boa é aquela que arde quando entra e arde
quando sai.
Nesses espaços públicos são mantidos os costumes de comer rápido. na banca, de pé, à
beira de um fogareiro. Assim, cozinhas a céu aberto atendem os frequentadores de feiras e
mercados, oferecendo peixe frito, tapioquinha, mingau, tacaca, além de frutas transformadas
em sucos e outras amassadas e misturadas com farinha de mandioca. Tudo é consumido nos
locais e, enquanto isso, a vida e o comércio acontecem em volta.
Rituais sociais das manhãs, pois tudo acontece cedo, enquanto ainda é possível conviver
com o sol abrasador e encontrar produtos novos e frescos.
É costume comer bem nas festas. Pois o tempo da festa vai além do cotidiano e é tempo
em que tudo pode, porque o tempo é mágico. Vive-se como pessoa e como personagem.
Movem-se os sonhos com os autos dramáticos, com os ritmos e as danças, com os banhos
propiciatórios de ervas cheirosas, especialmente escolhidas e combinadas para purificar o corpo
e entrar também de espírito na comunhão sagrada com o santo da devoção.
Em junho vive-se um dos ciclos mais festejados do Norte — Santo Antônio, São João e
São Pedro, especialmente São João, pois é tempo de Bumbá — uma das mais notáveis
expressões do teatro popular brasileiro. Grupos e grupos de Bois, Bumba-Boi ou de Bumbá saem
às ruas, nas praças, nas arenas como em Parintins, Amazonas, promovendo emoções coletivas,
deslumbramentos pela imagem, som, cor, sensações sob o céu da selva. E, se há lua cheia, está
completa a magia.
Carimbó, Lundu, Cordões de Pássaros trazendo o corpo livre para vibrar com os toques
afro-ameríndios de danças ou com a ópera tropical, com os personagens nobres dos Pássaros
exibindo indumentárias elaboradas em espetáculos que somente a floresta é capaz de criar e de
viver ritualmente a cada ano, a cada São João no Norte.
Nesse tempo junino, vive-se pela boca cardápios formados de mungunzá, mingau de
banana, casquinhos de siri, de caranguejo, de muçuã e pastéis de camarão; vatapá e caruru,
maniçoba, queijadinha, bom-bocado, sopa de aviú — um tipo de camarão — além de bebidas
artesanais, quase sempre fermentadas como tarubá, mococoró, tiquira, caxiri, aluá e cassiuma,
ou ainda vinhos de cacau e de banana e a tão popular cachaça acrescida de diferentes frutas.
O Sol próximo ao planeta Terra — solstício — aumenta a luz, o calor, a intensidade das
cores, muda o humor, o corpo fica quente, sensualmente preparado para as frutas que têm
muita água. Frutas saborosas, um verde que se integra ao da mata, pois tudo encontra um
paladar que reproduz, com sinceridade, o desejo de comer a natureza.
Sensações, toques, texturas e gostos que somente a boca pode sentir, engolindo
florestas, rios, peixes, caças, farinhas do Norte. A cozinha fala, permanentemente, entre a água e
a folha. São descobertas e reencontros com a memória arcaica das primeiras chegadas do
homem aos territórios da Amazônia. Temperos fortes, castanhas oleosas que depuram espíritos,
mais ainda quando acrescidas de chocolate, de açúcar, da cana-de-açúcar, originária da Ásia, que
ficou tão brasileira, ou regionalmente nortista como o açaí.
Amazônia, território tropical; sol diário, sol delírio. O corpo tenta recuperação com os
sucos doces ou em outras águas retidas nos peixes de carnes brancas e suaves que provocam
outras águas: água na boca. Boca, porta, princípio que o homem encontrou para viver o mundo
representado pelos alimentos.
Norte, cozinha do Norte, identidades de povos, todos singulares pelas formas e destinos
de autenticar um ethos comum que se reproduz em cada cuia de tacacá, em cada maniçoba que
aguça a gula, em cada sorvete que refresca. No vatapá, no caruru, no pirarucu salgado. Nos
mingaus, na farinha em contato com a saliva, virando pasta engolida com gosto de ser d'água,
grossa, amarelada, daí ser do Norte.