Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Aula 02
Sumário
Apresentação .................................................................................................................... 2
Exercícios ........................................................................................................................ 27
1339173
Exercícios apresentados .................................................................................................. 37
Livro Digital
Apresentação
Olá caro aluno!
Nesta nossa aula abordaremos um momento crucial de nossa história: a vinda da família real portuguesa
para o Brasil e o processo que levaria à independência de nosso país, além claro de seus assuntos correlatos.
O tema desta aula invariavelmente tem caído nas provas do CACD, então bastante atenção!
Tendo chegado ao poder como cônsul francês em 1799 na esteira do golpe de 18 Brumário e, pouco depois,
coroado imperador em 1804, Napoleão Bonaparte buscava ampliar seu poder e tornar a França hegemônica
no continente europeu.
Depois de dominar vastas partes da Europa Central, a exemplo dos Países Baixos, e subjugar as potências
terrestres do continente – Áustria e Prússia – o imperador francês dirigiu suas atenções à grande inimiga de
seu país, a Inglaterra. Tentou invadir a ilha britânica e fracassou miseravelmente, sendo derrotado pelas
forças marítimas inglesas lideradas pelo Almirante Nelson na batalha de Trafalgar em 1805.
Destruída a frota francesa, Napoleão buscou outras formas de derrotar os britânicos. Analisando
corretamente os aspectos econômicos de seu tempo, percebeu que uma parcela significativa do comércio
externo inglês era dirigida ao continente europeu, que era o destino de vários produtos manufaturados na
ilha britânica. Sendo assim, já que possuía o controle real do continente até as fronteiras russas, decidiu
sufocar a economia inglesa por meio do famoso Bloqueio Continental. Napoleão instituiu que nenhum país
europeu poderia abrir seus portos para comprar produtos ingleses sob pena de invasão de tropas francesas.
Várias outras questões poderiam ser levantadas sobre o Bloqueio Continental e o porquê de sua falha, mas
escrever sobre isso seria fugir do tema de nossa aula.
O que nos importa aqui é perceber como a política de Bloqueio impactou o reino de Portugal. A monarquia
portuguesa enfrentava verdadeiro dilema no que se refere a sua política europeia. Em verdade, Portugal
possuía vínculos e necessitava de ambas as nações em guerra. Por um lado, a França possuía uma formidável
“máquina de guerra” que havia vencido as maiores potências terrestres da época. Sua influência alcançava
vastas partes da Europa, incluindo a vizinha de Portugal, Espanha. Antes mesmo que o irmão de Napoleão
usurpasse o trono espanhol, a Espanha era aliada francesa. Assim sendo, Portugal corria um sério e real risco
de ser invadido se simplesmente fosse contra as políticas e exigências do novo monarca francês.
Por outro lado, a monarquia portuguesa possuía uma longeva aliança com os ingleses, desde o século XV ao
menos. Ao longo da idade moderna, Portugal foi auxiliado pelas tropas britânicas em diversos momentos,
desde a independência da Espanha em 1640 à chamada “Guerra Fantástica” em 1762 no contexto da guerra
dos sete anos, para não mencionar durante o período turbulento da revolução francesa. Esses laços foram
se estreitando com medidas e tratados econômicos adotados por ambos os reinos, como o tratado de
Methuen de 1703 – também conhecido como tratado de panos e vinhos. Ainda por cima, os estadistas
portugueses reconheciam que, caso desafiassem os ingleses, poderiam partilhar do destino dos
dinamarqueses – que tiveram sua capital bombardeada por se negarem a furar o bloqueio napoleônico.
Ademais, o império português, marítimo por excelência, seria extremamente suscetível e frágil a ataques da
poderosa marinha inglesa. Como sintetizou Rubens Ricupero:
Na corte lisboeta, organizaram-se duas facções políticas: uma apoiava a aliança com os ingleses e era dirigida
por D. Rodrigo de Souza Coutinho. Outra, cuja personalidade mais importante seria o Conde da Barca –
Antônio de Araújo e Azevedo –, propunha um distanciamento da Grã-Bretanha e uma aproximação com os
franceses, tal como fizera a Espanha.
A situação ambígua de Portugal neste contexto de alvoroço político internacional expôs o reino a grandes
perigos. Balançando entre apoiar a França e apoiar a Inglaterra, sua posição causou dúvidas em todos os
atores envolvidos. O soberano lusitano tomava medidas que ora agradavam os ingleses e ora agradava aos
franceses. Tamanha era a ambiguidade de ações que, em 1807, o conselho de Estado decidiu pelo bloqueio
dos navios ingleses em portos portugueses – e, portanto, uma atitude pró-França – ao mesmo tempo em
que requisitava secretamente o auxílio inglês para a transferência de membros da família real para a colônia
americana. A capacidade de iludir os governos das potências em guerra foi tão grande que o comandante da
esquadra inglesa aportada em Lisboa – e que escoltaria a família para o Brasil – tinha ordens de, caso os
portugueses voltassem atrás nos planos de sair do reino, bombardear a capital, tal como fizeram com os
dinamarqueses tempos antes. Outrossim, Napoleão viria a escrever em seu diário que somente o regente D.
João fora capaz de enganá-lo.
Cabe aqui um pequeno excerto sobre o plano de transferência da corte portuguesa para a América. Mudar
a sede da Coroa portuguesa era um plano antigo. Percebendo suas debilidades territorial, militar e
populacional frente às grandes potências europeias – principalmente em face da vizinha Espanha – os reis e
ministros portugueses aventaram a possibilidade de migrar a corte desde o século XVI, principalmente
durante períodos de crise. O plano foi se tornando mais palatável aos monarcas lusitanos na medida em que
1
RICUPERO, Rubens. A diplomacia na construção do Brasil (1750-2016). Rio de Janeiro: Versal, 2017, p. 83-84.
a colônia americana foi se tornando a principal fonte de receita do reino e se aperceberam que, sem o Brasil,
Portugal nada seria.
A saída deixou de ser um mero plano quando a notícia da entrada de forças franco-espanholas em território
português alcançou a Corte. O movimento hostil de franceses e espanhóis fora decidido no tratado de
Fontainebleau em 27 de outubro.2 Em fins de novembro de 1807, foi dada a ordem de retirada de toda a
família real e do governo. Foi formada uma Junta Governativa que governaria as terras lusas e,
posteriormente, organizar a resistência às tropas franco-espanholas. Por volta de 15 mil pessoas migraram
em poucos dias para a América e cerca de metade do dinheiro circulante foi embarcada.
Saindo em novembro de 1807, a corte portuguesa chegou ao litoral da América em 1808, aportando em
Salvador, onde foi recepcionado pelas autoridades civis soteropolitanas. A cidade ficou toda enfeitada para
a chegada do soberano, evento singular na história do Ocidente. Aquele episódio marcaria de modo
definitivo os rumos de ambas as sociedades, tanto brasileira quanto lusa.
2
Ficara decidido neste tratado que o território português seria dividido e suas colônias seriam repartidas entre França e Espanha.
Ricupero, op. cit. P. 87.
O primeiro passo dessa alteração se daria com a abertura dos portos realizada em 1808. Participaria da
escrita do documento José da Silva Lisboa, futuro visconde de Cairu. Como entender e interpretar esse
documento?
Primeiramente, devemos retomar a ideia do pacto colonial ou exclusivo metropolitano, como se refere
importante corrente historiográfica brasileira – que tem em Caio Prado Jr. e Fernando Novais grandes
expoentes – às práticas mercantilistas adotadas pela metrópole lusa desde a organização sistemática da
colonização na América. Dentre essas práticas, a mais significativa era a da exclusividade de comércio a que
estava submetida a colônia. Isto é, a colônia somente poderia comprar produtos advindos da Metrópole (não
necessariamente produzidos na metrópole) e somente poderia vender sua produção para a mesma. Isto
criou, ainda segundo esse grupo de historiadores, uma situação desvantajosa aos colonos e prejudicial ao
desenvolvimento econômico da colônia.
Pois bem, essa realidade se alterou quando a Família Real chegou em Salvador. Com a assinatura do
documento supracitado o pacto colonial foi, na prática, destruído. Desta forma, os navios de todas “as
nações amigas” poderiam comercializar nos portos brasileiros. Com esta medida quebrava-se os middle-men,
isto é, os mercadores portugueses que até aquele momento operavam no mercado europeu.
Rubens Ricupero nos chama a atenção para o fato de que a assinatura do documento de abertura dos portos,
da forma como fora redigido, não era de vontade dos ingleses. Em verdade, os ingleses, desde o tratado
secreto assinado em 1807, antes da transferência da Corte, queriam um porto onde pudessem comercializar
de modo preferencial e não a abertura total a todos os povos. A fórmula final foi bem mais liberalizante do
que esperavam e mesmo ansiavam os britânicos.3
Ainda assim, não devemos deixar de ter em mente que a abertura dos portos foi fruto não só da pressão
diplomática inglesa (ainda que diferente do que desejavam, reafirmamos), como também da vontade de
grupos expressivos da colônia e da realidade objetiva do Estado português. Os grandes comerciantes luso-
3
Idem, p. 93.
brasileiros que operavam a partir dos portos brasileiros, dentre os quais se destaca o do Rio de Janeiro,
buscavam maior liberdade econômica. Essa busca advinha não só da experiência prática de que o monopólio
comercial se mostrava prejudicial a seus interesses, mas também de leituras de autores ‘liberais’ do período,
particularmente Adam Smith – que publicara seu livro A riqueza das Nações em 1776. Afirmamos é que havia
uma classe de pessoas instruídas, um substrato social que se alinhava às ideias econômicas ‘avançadas’ do
tempo, ainda que não necessariamente apoiassem concepções políticas modernas, menos ainda no campo
do trabalho. Essa elite política luso-brasileira apoiaria rapidamente as mudanças liberais em curso que as
colocava em primeiro plano nas relações com a antiga metrópole e a permitiria tomar maior controle do
Estado. A disputa entre os grupos mercantis – simbolizados nas praças mercantis lisboeta e carioca – e o
medo que a elite brasileira tinha de perder o que havia ganhado no período joanino seria um dos elementos
que levaria à independência mais a frente.
Ademais, como seria possível manter o exclusivo metropolitano se sequer o Estado português tinha domínio
do território do reino? Como seria possível que o aparato estatal ficasse à mercê de um monopólio que era
impossível de ser exercido? Como nova sede do Estado, era necessário dotar a colônia de meios para
sustentá-lo. Tal como se manifestou José da Silva Lisboa no momento: “depois da fatal desgraça da invasão
do Reino, e assento da Corte no Brasil, era de evidente, absoluta, e inevitável necessidade política abrirem-
se os portos destes domínios ultramarinos ao comércio estrangeiro”.4
O Foreign Office conseguiu, de fato, o que queria com as negociações que resultariam no tratado de 1810, o
primeiro daqueles que a literatura de relações internacionais chama de “tratados desiguais”. Por meio dele,
instituíam-se taxas preferenciais de comércio aos navios ingleses e eram concedidos vários ‘direitos’ aos
nacionais britânicos. Em outras palavras, os ingleses pagariam menos impostos alfandegários que quaisquer
outros grupos mercantes.
O tratado tinha caráter permanente, sendo possível ser revisto a cada 15 anos, prorrogáveis por mais 2, o
que levaria a Inglaterra a buscar outro tratado já com o Brasil independente em 1825 – no momento em que
o Brasil buscava a mediação inglesa para que Portugal reconhecesse a cesura dos laços entre a ex-colônia e
4
Apud Ricupero, p. 91.
5
Idem, p. 95-96.
a ex-metrópole. Em 1827, os mesmos termos seriam reiterados, com graves consequências políticas e
econômicas para o novo Estado. Para que você tenha uma ideia, a Inglaterra somente deixaria de ser nação
favorecida em 1844, com a chamada Tarifa Alves Branco! Mas isso é tema para outra aula.
Um segundo elemento, este da parte de cultura política, que foi bastante importante para a superação da
condição de colônia foi a implantação da imprensa régia também em 1808. Até a vitória da Revolução liberal
do Porto de 1820, não podemos afirmar que houvesse imprensa livre no país. Havia um tribunal censório,
relativamente eficiente, que liberava ou não as publicações. No entanto, até aquele momento, não havia
imprensa legal no país, razão pela qual muito se demorava para a publicação de livros na colônia, tanto mais
de jornais! A partir daí, e num crescente durante todo o século XIX, a atividade jornalística e editorial ganharia
forte impulso. E foram os jornais um dos grandes veículos utilizados pelos movimentos revolucionários,
independentistas e/ou subversivos tanto do reino quanto da colônia – da revolução de 1817, à revolução do
Porto até a independência. Os jornais, principalmente depois de 1820, seriam meios para a formação de um
espaço público de debate.
O terceiro elemento pode ser resumido nas inovações variadas que foram realizadas pelo monarca. Podemos
citar: o fim da proibição da existência de manufaturas na colônia em 1808 – que não trouxe industrialização
imediata, mas era uma necessidade prática, principalmente para a organização militar; a fundação do Jardim
Botânico em 1808, cujo objetivo era, dentre outros, o científico; a criação do Banco do Brasil em 1808 com
os recursos trazidos de Portugal; a criação da Real Academia Militar em 1810, que instituiu o primeiro curso
superior no Brasil, dentre várias outras modernizações. Deu para perceber como a metrópole havia se
“interiorizado” na colônia com a vinda da corte e como essa mesma interiorização levou à superação do
estado colonial?
Passemos para algumas questões factuais importantes do período joanino nas terras luso-brasileiras.
Internamente, podemos elencar alguns pontos interessantes. A chegada da corte foi um evento migratório
considerável. Conseguir alojamento foi uma tarefa complicada. Chegando ao Rio de Janeiro, várias casas
foram desapropriadas e muitas outras doadas por membros da praça mercantil carioca ou por fazendeiros a
membros da nobreza e para a Família Real. Doação de grande expressão foi a Quinta da Boa Vista, doada
pelo comerciante Elias Antônio Lopes a D. João. À época, a fazenda ficava a certa distância do núcleo urbano
e constituiu-se no local de residência real.
Esses pequenos périplos da mudança dão-nos conta de algo significativo: muitos queriam a presença do rei
aqui. Muito embora tenha surgido certo descontentamento com o deslocamento de pessoas, fato é que a
presença régia significava a possibilidade de os súditos americanos serem ouvidos por Sua Majestade
Fidelíssima. Até 1820, a monarquia portuguesa se organizava sob as bases - já fraturadas desde 1789 - da
monarquia absoluta. Assim, o rei encarnava a soberania estatal e, portanto, os poderes de legislar, julgar e
executar. Estar perto do rei era ‘graça’.
O monarca português, por sua vez, não deixava de reforçar os símbolos de poder. Organizou, depois de
chegar ao Rio de Janeiro, um ritual de beija-mão, no qual todos os súditos do regente poderiam aproximar-
se dele e beijar sua mão em sinal de respeito e lealdade. Reinóis e luso-brasileiros de todas as estirpes se
encontraram nesta mesma cerimônia, símbolo visível de que o rei era ‘pai de todos’ os seus fiéis súditos.
O Beija-mão
Até 1814, Napoleão ainda era uma ameaça à Europa. Depois de sua derrota contra as forças aliadas, o motivo
primeiro da vinda da família real não existia mais – as tropas francesas da invasão de Junot haviam sido
retiradas. Assim, a permanência de D. João e da corte portuguesa em sua colônia foi perdendo legitimidade
frente aos olhos da comunidade europeia e, particularmente, para os reinóis. Desta forma, decidiu alterar
formalmente o status das terras americanas, que deixaram de conquista, domínio ou ainda colônia, para se
transformar em Reino Unido. Não se tratava agora de Portugal-Metrópole e Brasil-colônia, mas sim do Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves.6
Este evento político não foi de pouca monta e mera formalidade vazia de significado como alguns
historiadores afirmam. Ao contrário, como apontam István Jancsó e Paulo Pimenta em seu artigo “As peças
de um mosaico”, a elevação do Brasil a Reino foi marcante para organização inicial de uma identidade muito
dispersa até então: a de ‘brasileiro’, isto é, do sentimento de pertença dos luso-brasileiros a uma entidade
política maior que a de suas províncias.
O que queremos dizer é: havia camadas identitárias na colônia no âmbito regional - isto é, paulista, baiano,
mineiro etc - e no âmbito imperial - ou seja, todos faziam parte do império português e súditos do monarca
luso. Poderíamos afirmar claramente que o nascido em São Vicente ou no Rio de Janeiro sentia-se tão
6
Região ao sul de Portugal que até a proclamação da República Portuguesa (1910) era tratada como reino de jure separado de
Portugal, mas que de facto não possuía qualquer diferenciação administrativa, privilégio ou autonomia frente ao governo lusitano.
português quanto um reinol. Uma camada identitária intermediária, embora existisse formalmente na
instituição do governo-geral da colônia, ganhou significância quando o próprio rei a pareou ao reino europeu.
Desta forma, a partir de 1815, o conjunto das províncias portuguesas na América tinha um nome e um centro
de poder: Brasil, com capital no Rio de Janeiro. Nortistas e sulistas poderiam agora se ver parte de uma
organização política só. Essa identidade seria posteriormente reforçada nos debates parlamentares de 1820
em Lisboa, mas isso fica para mais a frente.
Ainda é necessário afirmar que, ao se tornar reino, o Brasil passaria a gozar dos mesmos privilégios - ao
menos em teoria - que Portugal. A defesa dessas prerrogativas, como, por exemplo, a liberdade comercial e
posteriormente a da representação política, seria um ponto de união das classes políticas brasileiras de norte
a sul.
Apesar de todas as vantagens trazidas pela corte portuguesa à antiga colônia e ao novo estatuto de reino
unido, havia muito descontentamento com o governo de D. João, especialmente no Nordeste. Antigo polo
de prosperidade da colônia nos séculos XVI e XVII, o nordeste brasileiro passou passava por dificuldades
financeiras desde fins do século XVIII. As destruições da guerra contra os holandeses e, depois, a
concorrência com o açúcar das Antilhas inglesas – tornada ainda pior com a abertura dos portos e o tratado
de 1810 – levou a uma decadência da região com questões sociais potencialmente explosivas que viriam à
tona em 1817 na chamada revolução pernambucana ou revolução dos padres.
A explicação deste movimento insurrecional passa por múltiplos fatores. Para fins didáticos, vamos elencar
três (para além da decadência econômica mencionada acima): ideias revolucionárias, seca e impostos
elevados.
As ideias da Revolução Francesa embasaram as ações tomadas pelos revolucionários pernambucanos, como
se pode constatar nos escritos deixados por muitos dos envolvidos no movimento. Face a uma monarquia
absoluta que não concedia espaços de representação e atuação política, as ideias de igualdade jurídica, de
República e de participação “popular” – particularmente aquela representada pelo período jacobino –
pareciam muito atraentes para parcela importante das camadas médias pernambucanas e de sua elite. Este
ideário atuaria como norte condutor em muitas das medidas tomadas uma vez iniciados os movimentos de
rebeldia.
Também é relevante destacar dois pontos factuais – diria Braudel, parte da “espuma” da história – que
levaram ao estouro do movimento. O primeiro trata-se de uma seca que ocorreu em 1816 que agravou o
quadro econômico e social já bastante complicado da região. O outro refere-se ao aumento da carga
tributária na região realizado pelo governo joanino para custear o alumiamento da corte carioca.
Esses problemas levaram alguns homens a conspirarem para tomar o poder local e emancipar-se do governo
português. As autoridades ligadas ao governo do Rio de Janeiro, ao saberem do que se passava, reagiu
prendendo alguns dos conspiradores. No entanto, a insatisfação era generalizada e parte da tropa sublevou-
se a 6 de março de 1817, aderindo ao programa dos conspiradores e rebeldes. O representante do governo
de D. João foi expulso de Pernambuco, uma república foi proclamada e um governo provisório formado. Em
29 de março foi convocada uma assembleia constituinte que formalizou a separação de poderes, a liberdade
de imprensa e a manutenção da escravidão.
Foram enviados representantes do novo governo para outras províncias com o objetivo de trazê-las para a
nova república, embora sem muito sucesso. A reação do governo português não tardou e a repressão foi
violenta. As tropas portuguesas rapidamente ganharam terreno e em maio de 1817 rendiam as forças
revolucionárias. As lideranças tiveram penas variadas: alguns foram mortos, outros degredados e outros
presos. Dentre os últimos podemos contar Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, irmão de José Bonifácio.
A relevância da revolução pernambucana está em ter sido a última do ‘período colonial’ e de efetivamente
terem conseguido alcançar o poder mesmo que por pouco tempo – diferença marcante em relação à
Conjuração Baiana e à Inconfidência Mineira. Além disso, suas propostas políticas liberais eram bastante
avançadas e influenciaram políticos da região nos foros representativos do Império posteriormente.
Passemos então para a face externa da política joanina. Primeiro fato importante de recordarmos era o de
que Portugal esteve em guerra até 1814. Havia, portanto, a necessidade de enfrentar a ameaça franco-
espanhola. Muito embora a atuação militar portuguesa em solo europeu fosse diminuta, D. João, ainda
regente, decidiu por atuar contra seus inimigos na América.
Aqui faz-se necessário distinguir claramente as ações tomadas pelo regente em relação à França e em relação
à Espanha. Iniciemos pela primeira: tendo o reino sido invadido por ordem de Napoleão e em vista dos
conflitos fronteiriços entre as duas colônias, D. João decidiu atacá-lo nas posses franceses da Guiana. Assim,
destinou para Caiena uma divisão de homens do Exército luso-brasileiro e tomou conta da região com
relativa facilidade. As tropas ficaram estacionadas na região até o fim das guerras napoleônicas e ‘forçaram’
os franceses - já com Luís XVIII a frente - a negociarem as fronteiras favoravelmente aos portugueses. As
tropas somente sairiam da Guiana em 1817.
Em relação à América espanhola, a política joanina foi um pouco diferente, por questões dinásticas. D. João
era casado com a irmã do rei Fernando VII, Carlota Joaquina. As políticas matrimoniais ibéricas foram no
sentido de estreitar os laços entre os dois reinos e, caso houvesse um problema sucessório, os reinos
pudessem, novamente, ser unidos sob uma coroa - tal como ocorrera em 1580.
Após a partida dos Bragança ao Brasil, Fernando VII fora sequestrado e um Bonaparte havia assumido o trono
espanhol. Essa usurpação dos direitos dinásticos dos Bourbon espanhóis imediatamente foi contestada no
reino e nas colônias hispano-americanas. Enquanto se formavam as juntas governativas em Espanha - que
se uniriam na Junta de Cádiz -, progressivamente os cabildos da América espanhola também se organizaram
em nome de El-Rey de Espanha, Fernando VII. A partir de 1810, várias juntas desafiaram o governo de
Bonaparte e passaram a governar autonomamente os territórios das colônias – evento que é considerado o
início do processo de independência dessas regiões.
A sublevação espanhola e hispano-americana contra os franceses colocava uma dificuldade a D. João para
simplesmente declarar guerra e invadir o território ao sul do Brasil, tal como fizera com a Guiana francesa.
Assim,
Enquanto planos urdiam no Rio de Janeiro, o Cabildo Abierto8 de Buenos Aires decidiu pela deposição do
vice-rei e pela formação de uma junta teoricamente subordinada diretamente ao rei sequestrado e não à
junta central de Espanha. O governador espanhol de Montevidéu foi, então, promovido vice-rei e recebeu a
incumbência de retomar o controle de Buenos Aires nem que para isso tivesse de pedir auxílio militar à corte
portuguesa. Estando em situação periclitante – atacado pelos portenhos e pelo cadilho José Artigas – Elío
pediu socorro a D. João.
O príncipe regente de fato interviu e mandou tropas adentrarem o território da Banda Oriental. A chegada
de tropas luso-brasileiras forneceu o tão necessário alívio às tropas leais à Espanha e o cerco à cidade de
Montevidéu foi levantado. No entanto, conforme Ricupero, esta movimentação militar de D. João ia de
encontro aos interesses britânicos. Conforme o autor, “Para os ingleses, o projeto lusitano no Rio da Prata
aparecia como uma temerária diversão de forças tendente a debilitar a luta contra o inimigo comum.”9
Assim, Strangford, o representante britânico junto à corte portuguesa, atuou diplomaticamente para a
realização de um armistício, que acabou sendo celebrado em maio de 1812. Após a saída das tropas
portuguesas, as tropas leais ao governo de Espanha foram derrotadas e Montevidéu capturada em 1814.
Restaurado Fernando VII ao poder após o Congresso de Viena de 1814, os avanços liberais que haviam sido
feitos com a Constituição de Cádiz de 1812 - promulgada pelas Cortes de Espanha durante o período da
guerra napoleônica - foram enterrados e o rei passou a governar de forma absoluta, não sem resistências.
Movimento semelhante foi organizado contra os governos autônomos que haviam se formado com as juntas.
O governo de Madri queria retomar o controle político-econômico de suas colônias. Isso, no entanto, não
era mais aceitável para as elites criollas dos vice-reinos, que haviam experimentado o poder durante a
ausência de El-Rey. Assim, descrevendo de uma forma resumida, uma nova onda de contestações se iniciou,
desta vez com o propósito claro de separação da metrópole.
Neste novo contexto, conflitos estouraram nas colônias hispano-americanas ao sul do Brasil. Estavam em
contenda diferentes grupos e projetos: os independentistas radicados em Buenos Aires que queriam
construir um Estado centralizador, outros independentistas, tais como Artigas, que queriam um Estado
7
Ricupero, op. cit., p. 108.
8
“(...) assembleia extraordinária que congregava os cabildos de diversas cidades vizinhas”. Idem, ibidem.
9
Idem, p. 107.
bastante descentralizado, e os realistas espanhóis. Em face dessa realidade, D. João aproveitou-se para
novamente tentar anexar a Banda Oriental e alcançar, enfim, as chamadas “fronteiras naturais” do Brasil
(que seriam os rios Amazonas e Prata).
Em 1816, então, foi enviado o Exército contra as tropas de Artigas. D. João poderia elencar duas grandes
problemáticas para sua decisão: primeiro, o temor de que líder o caudilho viesse a invadir e ocupar o
território das Sete Missões que antes do tratado de Madri de 1750 fizera parte do domínio espanhol.
Outrossim, também havia o receio de que o pavio revolucionário aceso na Banda Oriental viesse a encontrar
seu caminho para o Rio Grande do Sul. A campanha foi longa e somente em 1820 é que D. João conseguiu
finalmente vencer os federales e tomar conta da região. Os platinos radicados em Buenos Aires se viram
impotentes para lidar com a agressão portuguesa, haja vista os vários desafios políticos que tinham de
enfrentar, além da sempre vigente ameaça de recolonização espanhola. Artigas retirou-se para o Paraguai,
onde morreu em 1850 sem voltar a pisar em solo pátrio novamente.
A Espanha reclamou diplomaticamente do movimento agressivo dos lusitanos junto às potências do então
Concerto Europeu. Depois de mediação, ficou resolvido que Portugal devolveria a região mediante algumas
condições, dentre as quais uma indenização de 7,5 milhões de francos. No entanto, os espanhóis
Com o descumprimento do tratado, o território da Banda Oriental foi anexado ao reino do Brasil, do qual
faria parte formalmente até 1828. Essa vitória de D. João, no entanto, seria diminuída pela revolução liberal
do Porto que tomou conta de Portugal no mesmo ano.
10
Idem, p. 111.
O ideário do movimento revolucionário era de inspiração francesa, mas moderado pelas tradições
portuguesas. Ambicionavam implantar uma monarquia parlamentar em que ficassem claramente divididos
os poderes do Estado e no qual o rei tivesse papel diminuto na condução dos negócios públicos.
Conseguindo a adesão de amplas parcelas da elite portuguesa, o movimento tomou conta de Portugal com
relativa facilidade. Em 27 de setembro foram formadas duas Juntas: a Junta Provisional do Supremo Governo
do Reino, para o governo ordinário, em lugar da Regência do Reino, e a Junta Preparatória para as Cortes
Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, que organizaria as eleições para as Cortes.11
Igualmente foram enviadas cartas para as províncias que compunham o reino do Brasil e para a corte de D.
João. A este último, as Cortes informavam que estavam encaminhando o processo de regeneração do Reino
e requisitava que jurasse as Bases da Constituição que seria feita e retornasse com toda a sua família a
Portugal.
As províncias do norte do Brasil - considerando aí Bahia, Pará e Maranhão - rapidamente aderiram, ante a
possibilidade dada pelas Cortes de Lisboa de ganharem mais autonomia política e representação em âmbito
legislativo, no qual eles poderiam lutar por questões que lhes fossem caras. Em seguida, as províncias do
Sudeste também aderiram ao projeto liberal das Cortes.
Quando a notícia chegou a D. João em 12 de outubro, encontrou-o surpreso e sem apoio para resistir ao
assalto liberal às formas tradicionais de governar a que estivera acostumado. Inicialmente, apoiado pela
grande nobreza emigrada, lançou um manifesto a 27 de outubro resistindo à decisão de convocação das
Cortes, afirmando que o movimento era ilegal. Prometia retornar a Portugal para lidar com a situação.
No entanto, o movimento ganhou muito apoio e forçou o monarca a fazer concessões. Em fevereiro de 1821,
lançou outro manifesto, informando que enviaria seu filho Pedro com poderes para negociar com as Cortes.
Entre fevereiro e março receberam notícia das reclamações das Cortes, que reforçava a queixa referida da
permanência da família real em terras brasileiras. Assim, em março de 1821, anunciou ao povo que retornava
ao reino e deixava seu filho como regente do Brasil. Embarcou para Lisboa em abril e lá aportou em julho.
Este processo foi bastante tenso e marcado por idas e vindas. No meio dele, várias ideias mirabolantes
surgiram, como a possibilidade aventada de permanecer no Brasil e deixar a terra-mãe de vez… No entanto,
a realidade era que nem os grupos brasileiros estavam dispostos a lutar por uma monarquia absoluta e já se
alinhavam com as Cortes, como dito acima.
11
“O governo revolucionário de Portugal, por decreto de 18 de abril determinara a aplicação ao ultramar americano do
regulamento de 22 de novembro, observado pela antiga metrópole nas eleições para as Cortes Gerais, sem mudança capaz de
influir na representação. Cada província daria tantos deputados quantas vezes tivesse o número de trinta mil moradores, e no
caso do excesso da povoação chegar a 15 mil almas designaria mais um representante, desprezada a diferença que não atingisse
o último algarismo.” CARVALHO, Manuel Emílio Gomes de. Os Deputados Brasileiros nas Cortes Gerais de 1821. Brasília: Senado
Federal, 2003, p. 80.
Apesar de tudo, D. João não aquiesceu totalmente ao projeto das Cortes. Partiu, mas aqui deixou seu filho
herdeiro ao trono português e teria dito a ele antes de embarcar, conforme registrado na história pátria,
embora não haja confirmação absoluta do evento: “Faça a independência antes que um aventureiro a faça”.
Esse fato foi fundamental para os desenvolvimentos ulteriores e marcante para o processo de independência
das províncias brasileiras.
Nesse ínterim, já que as comunicações entre os dois lados do Atlântico eram demoradas, eleições foram
realizadas em Portugal e os trabalhos legislativos foram iniciados em janeiro sem a presença dos deputados
brasileiros eleitos para as Cortes. Iniciaram pelas discussões de organização do Estado e logo chegaram às
discussões acerca da relação entre as províncias americanas e o governo lisboeta. Duas posições políticas
principais se definiram neste aspecto: alguns deputados, empenhados a restaurar a dignidade portuguesa a
todo custo, queriam que o centro do poder e das decisões ficasse com o governo central em Lisboa,
concedendo pouca autonomia legislativa e tributária para as províncias americanas. Outros, aos quais se
juntariam os deputados brasileiros, mostrar-se-iam mais flexíveis ante a possibilidade de partilhar o poder
com outras instâncias que não aquela das Cortes. Ao fim e ao cabo, a primeira proposta sairia vencedora.
Enquanto isso, as juntas governativas das províncias se organizavam dando, pela primeira vez, a chance de
as elites locais se apropriarem de um poder maior que a mera municipalidade – como fora o caso durante o
período colonial. Igualmente eram feitas eleições para as Cortes e próximo de meados de 1821 os deputados
brasileiros chegaram em Lisboa.
Aqui é importante frisar que, neste momento inicial, não havia a intenção clara e determinada de se realizar
a Independência. Os deputados brasileiros que chegavam à Lisboa buscavam, seriamente, a manutenção da
unidade imperial portuguesa, com a preservação da monarquia e da dinastia de Bragança a frente. A grande
diferença que viria a marcar a atuação dos deputados americanos de seus pares lusos seria o grau de
autonomia que seria outorgado ao governo regencial do Rio de Janeiro e aos governos de cada uma das
províncias da América.
Também se faz necessário apontar que havia muitas divergências entre os deputados brasileiros. Seria um
engano acreditar que, porque provinham do mesmo reino – no caso, o Brasil – possuíam interesses idênticos.
Os interesses comercias e a facilidade de comunicação aproximavam muito mais a províncias do Pará,
Maranhão, Pernambuco e, em certa medida, a Bahia, dos portugueses do que dos cariocas. Não à toa, foram
regiões que tiveram de ser subjugadas pelo Imperador Pedro I para se manterem sob a mesma unidas ao
Centro-Sul do país.
No entanto, vale dizer, a reunião de deputados das mais diferentes províncias num único local propiciou,
sim, o despertar de uma consciência de que eles eram diferentes, em algum grau, dos portugueses europeus.
Ou seja, ao serem tratados em bloco pelos deputados portugueses – que os viam como “os brasileiros” – os
deputados da América começaram a perceber vínculos mais concretos de unidade. Isso não fez, no entanto,
que as diferenças desaparecessem.
Seja como for, as Cortes de Lisboa não caminharam no sentido que uma parcela importante da elite brasileira
desejava, isto é, as elites do centro-sul. Logo após o início dos trabalhos legislativos, ficou claro que os liberais
portugueses estavam preocupados em resguardar prerrogativas do reino europeu, ainda que em detrimento
das “liberdades” americanas. Tendo notícia dos encaminhamentos das Cortes, o governo da província de S.
Paulo, influenciado claramente por José Bonifácio e sua família, formulou uma série de instruções aos
deputados eleitos, dentre os quais seu irmão Antônio Carlos Ribeiro de Andrada.
As Instruções dão-nos uma noção da perspectiva da elite ilustrada coimbrã do centro-sul. Interessa-nos
sobremaneira as duas primeiras partes do documento. Conforme nos traz Gomes de Carvalho:
Ocupa-se a primeira [parte] dos interesses comuns do império luso-brasileiro. Cumpre aos
representantes propugnarem a indivisibilidade da monarquia e a igualdade entre dois reinos
e fixarem previamente a sede da realeza a qual será alternadamente o Brasil e Portugal.
Regularão o comércio externo e interno conciliando as conveniências recíprocas sem tolher a
liberdade de nenhum dos Estados. Haverá um tesouro da união para a guerra, a dotação da
família real e outras despesas de caráter geral, para o qual contribuirão proporcionalmente às
suas rendas públicas as duas seções do império. Os povos da Europa e da América terão nas
Cortes o mesmo número de mandatários. No segundo capítulo, refere-se o regimento
unicamente ao Brasil. Fixadas as atribuições e poderes que lhe resultam da categoria de reino
e determinados os direitos e deveres impostos pela união, os mandatários promoverão o
estabelecimento de um governo-geral ou regência no Brasil com autoridade sobre as juntas
provinciais. Quando o monarca e o parlamento estanciarem em Portugal, preencherá a
regência o príncipe herdeiro.12 (Grifo nosso)
É interessante notar o teor do texto citado pelo autor. Embora inicie falando da necessidade de manutenção
da unidade imperial, os representantes de São Paulo imaginavam uma unidade com ampla autonomia. Afora
o mesmo rei e mesmos corpos diplomático e legislativo, teriam administrações, tesouros e organizações
internas próprias, uma federação real. Também é de valor perceber que as instruções, na segunda parte,
pedem, na prática, que se legitime o status quo existente na América portuguesa, isto é, um governo-geral
acima das províncias e a presença do príncipe herdeiro na ausência do rei.
12
Idem, p. 162.
José Bonifácio
No entanto, como dito, muitos liberais portugueses não estavam dispostos a tratar o Brasil diferentemente
das possessões africanas ou asiáticas, ou seja, como ‘ultramar’, ou ainda diferentemente de Algarves, que
recebia a denominação honorífica de reino unido, sem qualquer autonomia. As atitudes dos deputados
assim o demonstravam, uma vez que não se preocupavam com a ausência de brasileiros para legislarem
questões relativas ao Brasil – apesar de promessa feita por líderes das Cortes de que os artigos que
atingissem diretamente os interesses brasileiros pudessem ser revistos depois.13 Esta postura de fundo
levaria a grandes desentendimentos, que pouco a pouco minaram as possibilidades de acordo e união do
império.
As relações entre as duas partes do Atlântico começaram a deteriorar por três resoluções tomadas: em
primeiro lugar, os embates entre os presidentes das juntas das províncias – representantes do poder civil –
com os comandantes de armas – que possuíam o controle das forças militares provinciais – que eram
indicados pelas Cortes; em segundo, a exigência de retorno de D. Pedro feita pelas Cortes em Setembro de
1821; por fim, o documento feito por autoridades da Província de São Paulo, apoiado por outros membros
das elites brasileiras, de Minas Gerais particularmente, instando o príncipe a desobedecer as determinações
das Cortes portuguesas de retorno a Portugal.
13
Idem, p. 170.
tradição historiográfica desde o trabalho do Visconde de Cairu sobre o processo de independência escrito na
década de 1820.
O pedido de retorno do príncipe regente foi outro golpe que estremeceu as relações. Para as Cortes, o
retorno do herdeiro seria fundamental para retirar um ponto aglutinador para as elites brasileiras e acabaria
a noção de um governo-geral acima das províncias. Essas ficariam ligadas e dependentes diretamente do
governo central em Lisboa. A tão desejada autonomia das províncias brasileiras, particularmente do centro-
sul, seria alquebrada.
Por fim, o documento dos paulistas causou verdadeira ira nos representantes da Nação portuguesa. O pedido
para que o príncipe regente desobedecesse às Cortes, concretizado na proclamação do Fico do dia 9 de
janeiro de 1822,14 foi uma afronta à autoridade das Cortes que depois de deliberação acirrada decidiram
pedir mais uma vez o retorno do regente e a punição daqueles que haviam assinado o documento.
Enquanto isso, no Brasil, ocorreram desenvolvimentos importantes para a cesura dos laços políticos. Em 16
de janeiro de 1822, José Bonifácio assumiu a Secretaria de Negócios do Reino e a do Estrangeiro, tornando-
se de forma oficial a figura proeminente do governo encabeçado pelo regente. Um mês depois, frente às
notícias que chegavam das Cortes e as querelas que eram apresentadas, Bonifácio e d. Pedro tomaram a
decisão de convocar eleições para “Procuradores-Gerais” das províncias, que atuariam como corpo
consultivo, mas não deliberativo, do governo. Este corpo de procuradores-gerais viria a ser instalado em 2
de junho de 1822, mas não teria sobrevida. As Câmaras municipais e as províncias, naquele momento,
queriam mais que mero poder de ‘consulta’. Tanto o é que no dia seguinte, 3 de junho, d. Pedro, seguindo
os pedidos dos procuradores, fez um decreto convocando uma Assembleia Geral, Constituinte e Legislativa
composta de deputados das províncias. No dia 19 do mesmo mês seriam enviadas as instruções eleitorais
para essa Assembleia.
Tão importante quanto a convocação dos procuradores-gerais e a convocação de eleições foi a edição de um
manifesto às nações lançado dia 6 de agosto. Este documento, cujo teor teve decisiva influência de Bonifácio
– secretário dos Negócios Estrangeiros como dito – afirmava aos demais países do mundo o compromisso
de manter as boas relações além de reafirmar o intento de continuar unido a Portugal. No entanto, atacava
claramente os trabalhos das Cortes Portuguesas. Vejamos um pequeno trecho (grafia original):
Cumpre-Me [o príncipe] expôr-lhe succinta, mas verdadeiramente a série dos factos emotivos,
que Me têm obrigado a anuir á vontade geral do Brazil, que proclama á face do Universo a sua
Independencia politica; e quer como Reino Irmão, e como Nação grande e poderosa, conservar
illesos e formes seus imprescriptiveis direitos, contra os quaes Portugal sempre attentou, e
agora mais que nunca, depois da decantada Regeneração politica da Monarchia pelas Côrtes
de Lisboa. (...) Muitas e muitas vezes levantaram seus brados a favor do Brazil os nossos
Deputados; mas suas vozes expiram sufocadas pelos insultos da gentalha assalariada das
galerias. A todas as suas reclamações responderam sempre que eram ou contra os artigos já
decretados da Constituição, ou contra o Regulamento interior das Côrtes, ou que não podiam
14
“Como é para o bem de todos, e felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao povo que fico. Agora só tenho a recomendar-
vos união e tranquilidade” disse o príncipe na ocasião.
Você pode estar se perguntando: ora, houve uma convocação de constituinte e um documento editado
falando de independência antes mesmo do ‘grito do Ipiranga’ e dos cortes formais das relações entre os dois
países? Bem, isso requer de nós um aprofundamento em dois pontos.
Primeiramente, devemos ter em mente que a escolha dos marcos históricos são sempre, obviamente,
posteriores aos eventos e processos históricos. Após o fim da unidade imperial entre Brasil e Portugal, alguns
marcos foram buscados para definir o momento efetivo da cesura de laços.
Alguns poderiam ser escolhidos: a convocação das Cortes constituintes, o grito do Ipiranga, a aclamação do
Imperador e ainda sua coroação. Ora, cada um destes momentos – alguns dos quais vamos abordar daqui a
pouco – teria um efeito simbólico. Explicamos: enquanto o 7 de setembro tem como figura principal e,
basicamente, única D. Pedro – o que fortalece sua imagem como emancipador dos povos –, a aclamação do
imperador, em 12 de outubro, coloca em cena, também, o ‘povo’, as elites políticas, os grupos ao redor do
monarca; igualmente, a convocação das Cortes como marco colocaria um peso significativo à ‘nação’
reunida, mais do que ao monarca. Logo, a definição da data foi uma luta simbólica na história para dar um
determinado ‘tom’ à narrativa dos acontecimentos,
Segundamente, no que se refere à convocação das Cortes antes mesmo da cesura formal dos laços, tal fato
não deve nos espantar tanto assim. O que foi feito nada mais era do que a implementação efetiva do que
estava previsto no documento formulado pelos Andradas e encaminhado para as Cortes. Ora, na medida em
que as Cortes falharam em dar a devida atenção aos negócios do Brasil – assim visto pela elite do centro-sul
– o governo do regente tomou a iniciativa política de criar uma constituição própria ao Brasil, mas mantendo
a unidade imperial. Isto é, a nova constituição não seria feita para se opor àquela de Lisboa, mas para reger
os assuntos internos do reino. Somente depois de o príncipe, com o apoio de Minas Gerais, São Paulo e Rio
15
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/manife_sn/anterioresa1824/manifestosemnumero-41437-6-agosto-
1822-576171-publicacaooriginal-99440-pe.html>
de Janeiro, declarar guerra a Portugal é que a Constituinte, reunida em 1823, faria uma constituição para um
país completamente independente.
Bem, a situação tornou-se insustentável quando as Cortes deliberaram, finalmente, que o príncipe regente
deveria retornar imediatamente, que os representantes de S. Paulo que haviam assinado a representação
para a manutenção do regente contra as decisões das Cortes deveriam ser punidos e, por fim, anulava os
atos tomados pelo gabinete do príncipe regente. O conjunto destas determinações alcançou o Rio de Janeiro
em fins de agosto de 1822, quando d. Pedro visitava a província de São Paulo. Junto com estas determinações
das Cortes, recebeu uma carta de sua esposa, D. Leopoldina, e de Bonifácio. Ambos urgiam para que o
príncipe tomasse uma decisão – claramente instando-o para que fizesse a independência. Depois de ler as
cartas das Cortes, de sua esposa e de seu ministro a 7 de setembro, quando passava pelo pequeno curso
d’água do Ipiranga, tomou a decisão pela independência completa, iniciando, ali, a guerra contra Portugal.
A notícia se espalhou rapidamente pelo centro-sul e rapidamente ganhou a adesão das elites dessa região.
Também o povo participou do processo, saudando D. Pedro por onde passava e animando-se para o serviço
das armas contra a ‘tirania’ das Cortes portuguesas. Pouco mais de um mês depois, a 12 de outubro, D. Pedro
foi aclamado no Senado da Câmara da cidade do Rio de Janeiro como Imperador e Defensor Perpétuo do
Brasil. Em 1 de dezembro, foi coroado e sagrado.
“A Proclamação da Independência” por François Mereaux. Perceba a participação popular destacada neste
quadro.
As duas cerimônias pelas quais passou o imperador – a de aclamação e a de sagração – remetem a duas
perspectivas políticas diferentes e, na análise de alguns historiadores, opostas. A aclamação, como dito, traz
como central a escolha do povo – seja em sentido estrito, isto é, aqueles que compunham a comunidade
política, seja em sentido amplo, ou seja, a população como um todo – que figura, portanto, como fonte do
poder. Na tradição ibérica, desde o século XVII temos isso colocado claramente pelo pensador espanhol
Suárez contra o direito divino dos reis. Por outro lado, a sagração – e depois o art. 99 da constituição que
considerava o imperador figura sagrada – trazia em seu bojo a ideia de escolha divina do imperador, que não
‘deve’, assim, a fonte do seu poder se não ao Deus Todo-Poderoso. Essa tradição provém principalmente dos
reinos protestantes e da Igreja Galicana – francesa – particularmente com os tratados de Jaime I da Inglaterra
e de Jacques Bossuet da França.
O governo português, certamente, não aceitou pacificamente a decisão tomada pela corte do Rio de Janeiro
e medidas belicosas foram colocadas em ação em algumas províncias brasileiras – notadamente Bahia,
Cisplatina (atual Uruguai), Piauí, além do apoio tácito obtido do Pará e Maranhão.
Aqui encontramos mais um ponto controverso entre historiadores do período: nossa independência teria
sido mero “desquite” entre pai e filho ou um conflito de larga escala? Podemos encontrar historiadores de
importância em ambos os lados da contenda. Em seu livro mais recente, Ricupero mantém-se ligado à tese
da separação sem grandes derramamentos de sangue. Em suas palavras, a natureza de nossa independência
foi "pacífica e evolutiva”.16 Em sentido contrário, uma pesquisa mais recente de Hélio Franchini Neto,
defendeu a tese de que houve sim uma importante guerra de independência.17
Certo é que não tivemos no Brasil o mesmo movimento armado e de luta intensa pelo qual passou boa parte
da América hispânica. Entretanto, como dito, houve luta e confronto político, fosse com as tropas
portuguesas estacionadas no Brasil, fosse com as autoridades de algumas províncias, nomeadamente do
Maranhão e do Pará. Assim, tropas foram mobilizadas e significativas operações militares desencadeadas –
tanto em mar quanto em terra. Como exemplo, podemos citar o caso da Bahia que comemora sua
independência como tendo ocorrido em 2 de julho de 1823, quando as tropas portuguesas lideradas por
Inácio Luís Madeira capitularam em Salvador frente as tropas brasileiras comandadas pelo francês Pedro
Labatut.
Esse é um debate significativo e bastante longevo dentro dos cursos de história, mas pouco relevante para
o concurso. Assim, pedimos escusas por não nos aprofundarmos mais nele.
Vários elementos são importantes para analisarmos nesse processo de efetivo corte das relações entre Brasil
e Portugal: qual foi a importância da manutenção da monarquia sob a égide da continuidade da dinastia de
16
Ricupero, p. 120.
17
NETO, Hélio Franchini. Independência e morte: política e guerra na emancipação do Brasil (1821-1823). Tese de doutoramento:
UnB, 2016.
Bragança? Que projetos estavam em disputa quando da independência, tanto no que se refere às formas de
governo em disputa quanto aos projetos diferentes desejados pelas províncias?
Quando estudamos a história de nosso país, sempre salta aos olhos a diferença entre os processos na
América portuguesa e na América espanhola: mantivemos a unidade territorial do conjunto das províncias
brasileiras enquanto houve fragmentação entre os hispânicos; criamos uma monarquia, a única que durou
no continente americano; tivemos longo período de estabilidade política, enquanto a América espanhola foi
convulsionada por décadas com movimentos sediciosos e guerras civis. Essa “excepcionalidade brasileira” é
creditada, por grande consenso de historiadores, à manutenção do sistema monárquico no Brasil.
Isso porque o regente era o príncipe herdeiro do trono português, “legítimo” governante da América
portuguesa. Sua liderança aglutinava vários grupos políticos que viam nele uma solução de continuidade que
evitaria problemas de contestação política. Além disso, a literatura aponta que a manutenção da monarquia
==146f25==
foi imperiosa para a igual manutenção da escravidão. A legitimidade de D. Pedro torna-se mais impactante
quando comparamos com a América espanhola e observamos as diferentes elites criollas lutando para
controlar o Estado formado. As facções do Império não lutavam contra a legitimidade do imperador ou
contra o Estado imperial, mas para alcançar o governo imperial. Por essa razão que Iara Lis Carvalho Souza
pôde chamar D. Pedro de “Imperador-Contrato”.18
No entanto, havia dissenso entre as elites políticas brasileiras sobre o tipo de Estado que seria construído.
Afora a pequena minoria republicana, as grandes questões colocadas se tratavam sobre as relações entre o
governo central e as províncias – o grau de autonomia de cada uma das províncias – e qual seria o papel do
imperador nesse grande esquema político.
Alguns grupos de liberais lutaram – no âmbito da Constituinte de 1823 e no Parlamento – pela implantação
de um modelo “federativo”, no qual as províncias teriam bastante liberdade orçamentária e administrativa.
Essa luta foi perdida na constituinte e durante o primeiro reinado e seria somente alterada em 1834 com a
aprovação do Ato Adicional à Constituição que deu algum grau de autonomia às unidades do Império. O
modelo vitorioso que vigorou durante todo o Império foi o Estado centralizado e unitário, que chegou a um
grau de burocratização bastante elevado.19
Formado o Estado imperial a partir da herança portuguesa e vencidos vários embates militares de norte a
sul do país, era de fundamental importância o reconhecimento desse novo status. Como ocorria esse
procedimento de reconhecimento? De acordo com Ricupero, “a aceitação de um ator recém-independente
no cenário mundial subordinava-se, em última instância, ao reconhecimento da legitimidade do novo
participante pelas grandes potências.”20 Era particularmente importante a aprovação de nossa
independência por parte da Inglaterra. No entanto, enquanto a Inglaterra apoiava em geral os movimentos
18
SOUZA, Iara Lis Carvalho. Pátria Coroada: o Brasil como corpo político autônomo, 1780-1831. São Paulo: UNESP, 1999.
19
MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema. São Paulo: Hucitec, 1987.
20
Ricupero, p. 120-121.
de independência da América espanhola, sua atuação seria constrangida em relação ao Brasil, já que era
aliada de Portugal. Assim, por mais que o mercado brasileiro fosse muito importante para os ingleses, esses
teriam de fazer um jogo diplomático difícil para acomodar as duas partes.
Ainda assim, a diplomacia britânica seria fundamental para o reconhecimento da independência. Esse apoio,
no entanto, seria condicionado a basicamente dois pontos: celebração de tratados de comércio e a abolição
do tráfico de escravos.
A realização de tratado comercial era questão pacífica, já que o tratado de 1810 ainda se encontrava em
vigor no Brasil. O fim do tráfico seria uma questão “infinitamente mais espinhosa”21, uma vez que toda a
estrutura econômica estava baseada na mão-de-obra escrava e, claro, porque os traficantes de escravos
formavam um grupo econômico poderoso na Corte – queremos dizer, o tráfico em si mesmo era uma
atividade bastante lucrativa.
Diz-nos Ricupero que o processo de reconhecimento pode ser dividido em duas partes: uma liderada por
José Bonifácio entre agosto de 1822 e julho de 1823; outra, entre 1823 e 1825, negociada por “ministros
mais fracos”22 que garantiram os acordos com Portugal e com a Inglaterra.
A fase de Bonifácio foi marcada por uma altiva postura frente às demandas inglesas e portuguesas. Entendia
o Patriarca que o Brasil partia de condições vantajosas na negociação com a Inglaterra – vista a necessidade
inglesa de manutenção dos acordos comerciais com nosso país – e com Portugal, na medida em que esse
não conseguia reverter os rumos da guerra de independência. Sua perspicácia política pode ser entrevista
quando ordenou que Felisberto Brant, – futuro marquês de Barbacena – que negociava o reconhecimento,
se retirasse de Londres em abril de 1823 na confiança de que o reconhecimento era uma questão de tempo.
“O próprio Canning mais de uma vez admitiu que não esperaria indefinidamente para assegurar as vantagens
comerciais”.23
Acontece que os desenvolvimentos políticos do Império levariam à queda e ao exílio de Bonifácio, alterando
os rumos das negociações. Sua firmeza com vistas ao interesse público seria substituída por preocupações
outras, algumas delas pessoais do novo monarca – notadamente seu interesse em resguardar seus direitos
dinásticos:
A partir de então, o que passou a predominar já não era, como no tempo do Patriarca, a
perspectiva do Brasil independente, mas o interesse dinástico pessoal do seu monarca,
perspectivas que seguramente se confundiam no espírito de um príncipe descrito como liberal
de convicção, mas absolutista de temperamento. Daí a necessidade de afastamento dos
Andradas, além dos motivos internos que para isso concorreram. Só o poder do Imperador
lograria impor solução altamente impopular, que tornava o divórcio em relação à maioria da
21
Idem, p. 121.
22
Idem, p. 125.
23
Idem, p. 124.
opinião pública e grande parte das facções políticas afinadas com o espírito da independência,
contribuindo eventualmente para a abdicação.24
Na busca por resguardar seus direitos e de reconhecer a independência do país, D. Pedro dispôs-se, portanto,
a pagar o preço exigido. Acabou por renovar os termos do tratado comercial de 1810 com os ingleses e por
aceitar o fim do tráfico de escravos, para além de ratificar as exigências portuguesas, particularmente a
indenização de 2 milhões de libras. Vamos analisar globalmente o resultado a que chegaram os negociadores
brasileiros.
Como vimos, a corte portuguesa quando chegou ao Brasil poucas possibilidades e meios possuía para resistir
à pressão inglesa de realização do tratado de 1810. Portugal necessitava do apoio britânico na guerra contra
Napoleão, para manter o fluxo comercial e o abastecimento de produtos manufaturados. Assim sendo, a
assinatura do tratado era o único caminho que se mostrava aos portugueses.
Quando da independência do Brasil, o Império não se encontrava nas mesmas situações que os portugueses
de 12-15 anos antes. A guerra contra a (ex)metrópole ia bem, não havia ameaça de outras potências externas
e os ingleses demonstravam grande interesse em auxiliar a causa brasileira – apesar de não se pronunciarem
abertamente. Aceitar as condições inglesas da forma proposta deve ser entendido como voluntarismo do
imperador para realizar um reconhecimento que resguardasse seus interesses, um preço pago pelas
“vantagens derivadas de ter sido um príncipe, legítimo herdeiro do trono, [como] o autor da proclamação
da independência.”25 O tratado com os ingleses preservava todos os privilégios que os britânicos haviam
gozado sob governo português, condição diversa daquela das repúblicas hispano-americanas.
Pagando o alto custo, o Império obteve o reconhecimento de Portugal e da Inglaterra em 1825, seguindo
pouco tempo depois outras potências europeias – a esta data já os Estados Unidos haviam reconhecido a
independência brasileira (1824), mas sem grandes impactos internacionais. Nosso país entrava oficialmente
ao novo concerto das nações.
24
Idem, p. 125.
25
Idem, p. 128.
Exercícios
CACD 2018
Questão 46
Em novembro de 1807, temendo ser aprisionado pelas tropas de Napoleão Bonaparte, o príncipe
regente de Portugal, D. João VI, deixou Lisboa acompanhado de sua família e de boa parte da
nobreza da Corte, em direção ao Brasil, onde se estabeleceu até 1821, ano em que regressou à
metrópole já como rei. Com relação às diversas consequências, para a colônia, da permanência
de D. João VI no Brasil, julgue (C ou E) os itens seguintes.
Comentário:
O Item foi anulado pela banca muito provavelmente pelo nome da Escola baiana. Em 1808 ela se
chamava Escola de Cirurgia da Bahia, nome que perdurou até 1816. Desta data até 1832, foi
nomeada Escola Médico-Cirúrgica. Ou seja, embora seja a mesma instituição, a “Escola Médico-
Cirúrgica” passou a existir desde 1816 e não em 1808.
2 A noção de brasilidade, ou seja, a consciência de ser brasileiro, esteve presente desde cedo na
cultura política e na identidade da sociedade brasileira, tendo-se manifestado nas sedições
nativistas da Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana, ambas de cunho emancipacionistas,
e, em fins do período colonial, terminado por ser a base da luta pela independência do Brasil.
Comentário:
A percepção de uma consciência geral de “ser brasileiro” inexistia no período colonial. Eram
outras as camadas identitárias existentes, sobressaindo-se a local e a referência ao rei. As sedições
do século XVIII tiveram caráter regionalista e não propunham uma cesura de “todo o Brasil”.
Buscavam, antes, a independência local, como indica a proposta de uma “República de São João
D’el-Rei” da Inconfidência Mineira. Item errado.
3 Elevou-se o status colonial do Brasil em relação a Portugal com a revogação dos atos que
proibiam o estabelecimento de indústrias e manufaturas na América portuguesa e com a criação
de tribunais semelhantes aos sediados em Lisboa.
Comentário:
A banca foi astuta com esse item. Normalmente se cita o caso da abertura dos portos para se falar
da alteração de status da colônia brasileira com a vinda da família real. Contudo, outros atos
políticos, administrativos e econômicos foram tão relevantes para alterar a configuração então
existente na América Portuguesa. Dentre esses se destacam os mencionados no item, a revogação
4 Nesse período, foram criados o Jardim Botânico no Rio de Janeiro — com espécies oriundas da
Índia, das Ilhas Maurício e da Guiana Francesa — e o Banco do Brasil.
Comentário:
O item apresenta minúcias para levar o candidato à dúvida. É sabido que foi durante a estadia da
família real portuguesa que se criaram o Jardim Botânico e o Banco do Brasil. O detalhe da vinda
das plantas é “peguinha” desnecessário e intelectualmente irrelevante. De fato, as plantas
procederam dessas regiões e de várias outras. Item correto.
Questão 50
Tendo em vista que o processo de independência do Brasil pode ser compreendido como parte
das profundas mudanças que marcaram a história ocidental a partir do último quartel do século
XVIII, julgue (C ou E) os itens que se seguem.
1 A transferência da Corte portuguesa para a América foi proposta em crises anteriores à de 1807.
Seus defensores consideravam a fragilidade de Portugal em meio às disputas entre as potências
europeias, marcadamente entre França e Inglaterra, e a importância das possessões coloniais
para a manutenção da Coroa portuguesa. Entre os proponentes dessa ideia, encontrava-se o
padre Antônio Vieira, ainda no século XVII.
Comentário:
Comentário:
Durante o Congresso de Viena foi estabelecido de fato o fim do tráfico ao norte do Equador.
Contudo, isso não era favorável à nobreza portuguesa. Ao contrário, o tráfico era um negócio
importante e lucrativo para portugueses e “brasileiros”, tanto na compra e venda de escravos
quanto para o trabalho na América. Item errado.
Comentário:
4 A historiografia recente mostra que a tese da independência do Brasil como movimento pacífico
não se sustenta. Embates armados que duraram meses ocorreram em regiões da Bahia, do Piauí,
do Maranhão e do Pará e na Cisplatina. A fragilidade do projeto de independência vencedor em
1822 ficou demonstrada pelos conflitos no período regencial.
Comentário:
A tese de que a independência do Brasil foi somente um “desquite amigável” sem muito conflito
vingou por muito tempo na historiografia nacional. Ela tem certo sentido somente quando
contrastado com os violentos e longos embates entre as colônias americanas de Espanha e sua
metrópole. Contudo, há algum tempo já se sustenta que o Brasil passou por uma importante
guerra de independência nas regiões mencionadas pelo item. O aspecto de força impresso à forja
da nação acabou por transparecer frágil quando da saída do Imperador na medida em que as
elites locais, subjugadas anteriormente sob um projeto centralizador, buscaram maior autonomia
ou independência durante o período regencial. Item correto.
CACD 2015
Questão 45
1.O contexto histórico europeu das duas primeiras décadas do século XIX em muito favoreceu a
Independência do Brasil: a relativa paz alcançada com a renúncia de Napoleão Bonaparte ao
projeto expansionista que embalara suas pretensões imperialistas e o fim da era revolucionária
levaram as monarquias ibéricas a conceder a emancipação de suas colônias.
Comentário:
Se o item é de compreensão um pouco difícil, seus erros são facílimos para qualquer um que se
queira candidato, porque favorecem tantos aqueles que conhecem história brasileira quanto
aqueles mais bem preparados em história mundial. Dos eventos marcantes do início do século
XIX, nenhum deles se assemelha com uma renúncia napoleônica à expansão territorial. Pelo
contrário, as duas quedas de Bonaparte I se derem em meio a campanhas militares expansionistas
(Batalha de Leipzig, em 1813, e Batalha de Waterloo, em 1815). Além disso, o processo de
independência das colônias ibéricas não foi concedido e o caso brasileiro foi o que mais se
aproximou de uma negociação. Tanto as colônias espanholas na América quanto o império
português na África e na Ásia só foram descolonizados após importantes lutas locais, sem espaço
para concessões. Assim, item errado.
Comentário:
A Revolução do Porto de 1820, mais conhecida como Revolução Liberal do que como Revolução
Constitucionalista, foi, sim, responsável pela instituição de uma monarquia constitucional em
Portugal, encerrando o período absolutista, exigindo o retorno da corte para Lisboa e
promovendo importantes reformas no Estado português. No entanto, o erro central do texto está
na descrição de como a revolução via a situação das colônias, já que as Cortes buscavam diminuir
a autonomia dos governos regencial e provinciais. A revolução foi decisiva para a independência
brasileira por conta da influência de ideias e do retorno da família real para Portugal. Portanto,
item errado.
3.A abertura dos portos, tão logo a Corte portuguesa chegou ao Brasil, significou a ruptura do
pacto colonial que definia as relações de dominação e de dependência entre metrópole e colônia,
rompendo com o monopólio (“exclusivo de comércio”) e abrindo largos espaços à entrada de
produtos britânicos na colônia; essa influência britânica ampliou-se, a seguir, com a assinatura de
tratados vantajosos para o país pioneiro da Revolução Industrial.
Comentário:
As medidas tomadas por D. João VI ainda em 1808, quando da chegada da Corte ao Brasil,
acabaram por determinar o fim do exclusivo comercial da colônia com Portugal, impondo,
portanto, o fim do pacto colonial. A aliança portuguesa com o Reino Unido, potência responsável
pela segurança de toda a fuga da corte para a América, implicou na concessão de grandes
vantagens para os produtos britânicos no recém-aberto mercado brasileiro. Mais do que isso, a
aliança ainda firmaria os tratados comerciais de 1810, assegurando condições comerciais
amplamente vantajosas para os britânicos. Item correto.
colonial, o que foi possível em face da conciliação que aproximou as elites brasileiras em torno do
projeto maior de assegurar a emancipação do país e inseri-lo vantajosamente na economia
internacional.
Comentário:
O avaliador foi generoso com o candidato. Um dos pontos mais comuns na observação sobre a
independência brasileira é exatamente a manutenção de muitas das estruturas vindas da colônia,
como os privilégios da corte e da aristocracia, bem como acordos tácitos entre elites para
preservar tanto a estrutura fundiária quanto as estruturas produtivas da economia brasileira
escravista. No campo do comércio internacional, os custos advindos da política de
reconhecimento internacional da independência foram desdobrados em grave endividamento
externo associado aos tratados comerciais com o Reino Unido em 1827, reafirmando as vantagens
criadas em 1810. Por fim, o primeiro imperador brasileiro enfrentou algumas turbulências
importantes com os brasileiros, o que o levaria à outorga da Constituição sobre uma Assembleia
Constituinte fechada sob atos de força. Item errado.
CACD 2013
Questão 41
Comentário:
Antes de 1822, um dos pólos mais ativos de discussão sobre a independência brasileira estava em
Salvador, com rivalidades entre brasileiros e tropas portuguesas estacionadas na província da
Bahia. Não por acaso, houve adesão baiana à Revolução do Porto (1820), bem como a participação
de baianos na constituinte portuguesa, e o levante da independência na Bahia antes do 7 de
setembro de 1822, ao qual aderiu e assegurou a independência com a expulsão das tropas
portuguesas de Salvador em 1823, numa vitória das tropas irregulares leais a D. Pedro I. O norte
brasileiro era marcadamente voltado para Lisboa, sendo uma incógnita dentro da questão da
integralidade do território brasileiro. Alternativa errada.
B. Embora o exclusivismo comercial tenha acabado em 1808, com a abertura dos portos às nações
amigas, somente em 7 de setembro de 1822, o Brasil deixou de ser colônia política.
Comentário:
A abertura dos portos de 1808, de fato, marca a queda do pacto colonial, já que encerrava o
exclusivo comercial. No entanto, o estatuto da colônia foi encerrado formalmente em 1815,
quando o Brasil é elevado à condição de reino, criando-se o Reino Unido de Portugal, Brasil e
Algarves. Alternativa errada.
C.A Revolução Liberal do Porto, de 1820, criou, tanto em Portugal quanto no Brasil, um clima de
liberdade, que favoreceu a discussão de novas ideias políticas.
Comentário:
A Revolução Libera do Porto (1820) colocou em pauta o fim da monarquia absoluta portuguesa,
submetendo o rei a uma Constituição e exigindo transformações dentro do reino. Assim, abriu-se
um horizonte político em que tudo parecia ser possível, já que o rei seguia no Brasil, agora
também um reino, e seus poderes eram discutidos à sua revelia. Para o Brasil, a possibilidade de
questionamento da autoridade central sem que a Coroa pudesse dar respostas realmente
contundentes também significava um momento de possibilidades e de liberdades políticas
importantes. Alternativa correta.
D.A tentativa das Cortes de Lisboa de impor à colônia brasileira a condição de Reino Unido, por
acarretar impostos adicionais à elite local, foi o fato desencadeador da Proclamação da
Independência do Brasil.
Comentário:
A condição de Reino Unido foi uma outorga de D. João, e não das Cortes, às colônias americanas
portuguesas, criando uma entidade política, o Reino do Brasil. Alternativa errada.
E.A derrota portuguesa da tentativa de ocupar a Banda Oriental desmoralizou D. João perante as
elites brasileiras e contribuiu para o surgimento do projeto de rompimento dos laços coloniais.
Comentário:
João VI, na guerra contra José Artigas, foi bem-sucedido na anexação da Banda Oriental, criando
a província da Cisplatina. Aproveitando-se das fragilidades dos Estados nascentes com a
fragmentação da América hispânica, D. João VI conseguiu anexar a Banda Oriental ao Reino do
Brasil, um lance importante para reafirmar prestígios domésticos e regionais. Alternativa errada.
CACD 2011
Questão 43
Comentário:
Embora não tenhamos abarcado nesta aula é um item simples para quem já possui maiores
conhecimentos sobre a história política do Primeiro Reinado. Com a resistência da Assembleia
Constituinte em aceitar alguns pontos exigidos pelo imperador, este optou pela sua dissolução e
passou a redigir ele próprio a Constituição, que seria outorgada em 1824. Alternativa correta.
Comentário:
Comentário:
A rigor, não se pode falar de partidos políticos brasileiros durante o Primeiro Reinado (1822-
1831), já que os partidos só foram, de fato, registrados no Brasil em 1837. De qualquer maneira,
as principais facções políticas do Primeiro Reinado foram: Partido Brasileiro, Partido Português e
Partido Liberal-Radical. A divisão entre Conservador e Liberal seria característica do Segundo
Reinado. Alternativa errada.
D.A emancipação política do Brasil, além de não ensejar grandes alterações na ordem econômica
e social, preservou a monarquia, em meio aos vizinhos republicanos, situação somente possível
devido à existência de uma elite homogênea, detentora de sólida base social e de um projeto de
nação consensualmente construído.
Comentário:
Comentário:
Pedro Labatut foi um mercenário francês contratado pelo governo brasileiro para combater as
tropas leais a Portugal na Bahia. Alternativa errada.
CACD 2010
Questão 75
Em 1808, a Família Real portuguesa transferiu-se para o Brasil. Acerca desse tema, assinale a
opção correta.
Comentário:
b) A revogação do ato que proibiu a instalação de indústrias no Brasil e a abertura dos portos
simbolizaram o fim do monopólio metropolitano.
Comentário:
Com o fim da exclusividade comercial com a metrópole, também perdia sentido a contrapartida
metropolitana de assegurar o protagonismo agroexportador com a proibição da manufatura. Ou
seja, a abertura comercial da colônia acabou por atingir frontalmente os dois grandes pilares do
pacto colonial no início do século XIX. Alternativa correta.
c) Na cidade do Rio de Janeiro, transformada na capital do Império luso, foi criada a primeira
universidade nacional.
Comentário:
d) D. João VI elevou, de imediato, o status da Colônia, que passou a ser parte integrante do Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Comentário:
A elevação do Brasil a reino só ocorreu em 1815, sete anos após a chegada da família real.
Alternativa errada.
Comentário:
A volta da Corte portuguesa para Lisboa ocorreu, antes de tudo, em decorrência da Revolução
Liberal do Porto (1820), que exigia o retorno do rei para Portugal sob a primeira Constituição
portuguesa. No concerto europeu, Portugal já tinha sua posição clara de potência periférica a
reboque do Reino Unido, sendo até mesmo preferível fortificar a posição lusa na América do que
tentar dividir espaço na Europa. Ou seja, a razão política para o retorno foi, sobretudo, interna ao
reino português. Alternativa errada.
Com relação à ida da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, julgue o itens subsecutivos.
( ) Para muitos historiadores, o fim do período colonial brasileiro ocorreu em 1808, quando da
chegada da família real ao Rio de Janeiro. No entanto, a opção pela independência formal do
Brasil passou a ser abertamente discutida apenas em 1820, com a Revolução do Porto.
Comentário:
Como vimos, a elite política do reino do Brasil, aglutinada ao redor de Pedro I, de fato tentou a
conciliação entre as partes do Império luso-brasileiro de modo a evitar a separação formal. O que
se buscava, entre 1820 e 1822, era maior autonomia e não independência. As discussões para a
cesura total de laços se deram em 1822. Item errado.
( ) A abertura dos portos da América portuguesa às potências amigas foi um dos primeiros atos
de D. João VI ao chegar ao Brasil.
Comentário:
Item bastante simples. De fato, quando d. João chegou às terras americanas, um de seus primeiros
atos foi a abertura dos Portos. Item correto.
Comentário:
A vinda da família real e da burocracia régia para suas possessões coloniais já era um projeto
pensado desde, pelo menos, o século XVII como uma forma de dar maior liberdade de ação ao
governo português, sempre acossado pela grande vizinha Espanha. Item correto.
Exercícios apresentados
CACD 2018
Questão 46
Em novembro de 1807, temendo ser aprisionado pelas tropas de Napoleão Bonaparte, o príncipe
regente de Portugal, D. João VI, deixou Lisboa acompanhado de sua família e de boa parte da
nobreza da Corte, em direção ao Brasil, onde se estabeleceu até 1821, ano em que regressou à
metrópole já como rei. Com relação às diversas consequências, para a colônia, da permanência
de D. João VI no Brasil, julgue (C ou E) os itens seguintes.
2 A noção de brasilidade, ou seja, a consciência de ser brasileiro, esteve presente desde cedo na
cultura política e na identidade da sociedade brasileira, tendo-se manifestado nas sedições
nativistas da Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana, ambas de cunho emancipacionistas,
e, em fins do período colonial, terminado por ser a base da luta pela independência do Brasil.
3 Elevou-se o status colonial do Brasil em relação a Portugal com a revogação dos atos que
proibiam o estabelecimento de indústrias e manufaturas na América portuguesa e com a criação
de tribunais semelhantes aos sediados em Lisboa.
4 Nesse período, foram criados o Jardim Botânico no Rio de Janeiro — com espécies oriundas da
Índia, das Ilhas Maurício e da Guiana Francesa — e o Banco do Brasil.
Questão 50
Tendo em vista que o processo de independência do Brasil pode ser compreendido como parte
das profundas mudanças que marcaram a história ocidental a partir do último quartel do século
XVIII, julgue (C ou E) os itens que se seguem.
1 A transferência da Corte portuguesa para a América foi proposta em crises anteriores à de 1807.
Seus defensores consideravam a fragilidade de Portugal em meio às disputas entre as potências
europeias, marcadamente entre França e Inglaterra, e a importância das possessões coloniais
para a manutenção da Coroa portuguesa. Entre os proponentes dessa ideia, encontrava-se o
padre Antônio Vieira, ainda no século XVII.
4 A historiografia recente mostra que a tese da independência do Brasil como movimento pacífico
não se sustenta. Embates armados que duraram meses ocorreram em regiões da Bahia, do Piauí,
do Maranhão e do Pará e na Cisplatina. A fragilidade do projeto de independência vencedor em
1822 ficou demonstrada pelos conflitos no período regencial.
CACD 2015
Questão 45
1.O contexto histórico europeu das duas primeiras décadas do século XIX em muito favoreceu a
Independência do Brasil: a relativa paz alcançada com a renúncia de Napoleão Bonaparte ao
projeto expansionista que embalara suas pretensões imperialistas e o fim da era revolucionária
levaram as monarquias ibéricas a conceder a emancipação de suas colônias.
3.A abertura dos portos, tão logo a Corte portuguesa chegou ao Brasil, significou a ruptura do
pacto colonial que definia as relações de dominação e de dependência entre metrópole e colônia,
rompendo com o monopólio (“exclusivo de comércio”) e abrindo largos espaços à entrada de
produtos britânicos na colônia; essa influência britânica ampliou-se, a seguir, com a assinatura de
tratados vantajosos para o país pioneiro da Revolução Industrial.
CACD 2013
Questão 41
B.Embora o exclusivismo comercial tenha acabado em 1808, com a abertura dos portos às nações
amigas, somente em 7 de setembro de 1822, o Brasil deixou de ser colônia política.
C.A Revolução Liberal do Porto, de 1820, criou, tanto em Portugal quanto no Brasil, um clima de
liberdade, que favoreceu a discussão de novas ideias políticas.
D.A tentativa das Cortes de Lisboa de impor à colônia brasileira a condição de Reino Unido, por
acarretar impostos adicionais à elite local, foi o fato desencadeador da Proclamação da
Independência do Brasil.
E.A derrota portuguesa da tentativa de ocupar a Banda Oriental desmoralizou D. João perante as
elites brasileiras e contribuiu para o surgimento do projeto de rompimento dos laços coloniais.
CACD 2011
Questão 43
A.Um tipo de conflito de interesses que reapareceria em outros contexto da história do Brasil,
centrado nas atribuições do Poder Executivo e do Legislativo, ocasionou a primeira grave crise
política do nascente Estado nacional brasileiro e redundou na dissolução da assembleia
constituinte encarregada de elaborar a primeira Constituição do país.
C.Os dois partidos políticos constituídos no início do Primeiro Reinado, o Conservador e o Liberal,
ofereceram a Dom Pedro I o apoio e a estabilidade política que desapareceu em face da violenta
repressão do governo central a movimentos separatistas como a Cabanagem e a Sabinada.
D.A emancipação política do Brasil, além de não ensejar grandes alterações na ordem econômica
e social, preservou a monarquia, em meio aos vizinhos republicanos, situação somente possível
devido à existência de uma elite homogênea, detentora de sólida base social e de um projeto de
nação consensualmente construído.
E.A Cisplatina e a Bahia foram províncias brasileiras nas quais se manifestou a resistência
portuguesa, tendo o governo de Lisboa contratado comandantes militares estrangeiros, como,
por exemplo, o oficial francês Pedro Labatut, para liderar as tropas lusas no confronto com as
forças leais a Dom Pedro I.
CACD 2010
Questão 75
Em 1808, a Família Real portuguesa transferiu-se para o Brasil. Acerca desse tema, assinale a
opção correta.
b) A revogação do ato que proibiu a instalação de indústrias no Brasil e a abertura dos portos
simbolizaram o fim do monopólio metropolitano.
c) Na cidade do Rio de Janeiro, transformada na capital do Império luso, foi criada a primeira
universidade nacional.
d) D. João VI elevou, de imediato, o status da Colônia, que passou a ser parte integrante do Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Com relação à ida da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, julgue o itenS subsecutivos.
( ) Para muitos historiadores, o fim do período colonial brasileiro ocorreu em 1808, quando da
chegada da família real ao Rio de Janeiro. No entanto, a opção pela independência formal do
Brasil passou a ser abertamente discutida apenas em 1820, com a Revolução do Porto.
( ) A abertura dos portos da América portuguesa às potências amigas foi um dos primeiros atos
de D. João VI ao chegar ao Brasil.