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Aula 01

História do Brasil p/ CACD 2021


(Diplomata) Primeira Fase - Pré-Edital

Autor:
Diogo D'angelo, Pedro Henrique
Soares Santos

24 de Janeiro de 2021

10912603704 - Egberto Bezerra da Silva


Diogo D'angelo, Pedro Henrique Soares Santos
Aula 01

Sumário

Portugal em apuros: a invasão Napoleônica e a vinda da Família Real Portuguesa para a América .............. 3

O governo joanino na América portuguesa: política interna e externa ............................................................. 6

A Revolução Liberal do Porto e o processo de independência do Brasil ......................................................... 14

Esquema e detalhamento.................................................................................................................................. 29

ANTECEDENTES DA VINDA À AMÉRICA ....................................................................................................... 29

AS PRIMEIRAS MEDIDAS DE D. JOÃO NA AMÉRICA .................................................................................... 30

TRATADOS DE 1810 ..................................................................................................................................... 32

INSTITUCIONALIZAÇÃO DA MONARQUIA NO BRASIL ............................................................................... 34

CONGRESSO DE VIENA ............................................................................................................................... 40

BRASIL, PORTUGAL, AMÉRICA ESPANHOLA ................................................................................................ 42

REINO UNIDO A PORTUGAL ........................................................................................................................ 43

REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA ................................................................................................................... 44

REVOLUÇÃO DE 1820 E REGRESSO DO REI................................................................................................ 46

PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA .................................................................................................................. 50

Questões Comentadas ...................................................................................................................................... 56

Lista de Questões.............................................................................................................................................. 66

Gabarito........................................................................................................................................................... 71

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APRESENTAÇÃO
Olá caro aluno!

Nesta nossa aula abordaremos um momento crucial de nossa história: a vinda da família real portuguesa
para o Brasil e o processo que levaria à independência de nosso país, além claro de seus assuntos correlatos.

O tema desta aula invariavelmente tem caído nas provas do CACD, então bastante atenção!

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PORTUGAL EM APUROS: A INVASÃO NAPOLEÔNICA E A VINDA DA FAMÍLIA


REAL PORTUGUESA PARA A AMÉRICA
A história da vinda da real família portuguesa para suas possessões americanas está, como é bem sabido,
ligada ao furacão napoleônico que assolava a Europa. Por isso, repassemos rapidamente os eventos que
levaram Napoleão a voltar suas atenções ao pequeno reino ibérico.

Tendo chegado ao poder como cônsul francês em 1799 na esteira do golpe de 18 Brumário e, pouco depois,
coroado imperador em 1804, Napoleão Bonaparte buscava ampliar seu poder e tornar a França hegemônica
no continente europeu.

Depois de dominar vastas partes da Europa Central, a exemplo dos Países Baixos, e subjugar as potências
terrestres do continente – Áustria e Prússia – o imperador francês dirigiu suas atenções à grande inimiga de
seu país, a Inglaterra. Tentou invadir a ilha britânica e fracassou miseravelmente, sendo derrotado pelas
forças marítimas inglesas lideradas pelo Almirante Nelson na batalha de Trafalgar em 1805.

Destruída a frota francesa, Napoleão buscou outras formas de derrotar os britânicos. Analisando
corretamente os aspectos econômicos de seu tempo, percebeu que uma parcela significativa do comércio
externo inglês era dirigida ao continente europeu, que era o destino de vários produtos manufaturados na
ilha britânica. Sendo assim, já que possuía o controle real do continente até as fronteiras russas, decidiu
sufocar a economia inglesa por meio do famoso Bloqueio Continental. Napoleão instituiu que nenhum país
europeu poderia abrir seus portos para comprar produtos ingleses sob pena de invasão de tropas francesas.
Várias outras questões poderiam ser levantadas sobre o Bloqueio Continental e o porquê de sua falha, mas
escrever sobre isso seria fugir do tema de nossa aula.

O que nos importa aqui é perceber como a política de Bloqueio impactou o reino de Portugal. A monarquia
portuguesa enfrentava verdadeiro dilema no que se refere a sua política europeia. Em verdade, Portugal
possuía vínculos e necessitava de ambas as nações em guerra. Por um lado, a França possuía uma formidável
“máquina de guerra” que havia vencido as maiores potências terrestres da época. Sua influência alcançava
vastas partes da Europa, incluindo a vizinha de Portugal, Espanha. Antes mesmo que o irmão de Napoleão
usurpasse o trono espanhol, a Espanha era aliada francesa. Assim sendo, Portugal corria um sério e real risco
de ser invadido se simplesmente fosse contra as políticas e exigências do novo monarca francês.

Por outro lado, a monarquia portuguesa possuía uma longeva aliança com os ingleses, desde o século XV ao
menos. Ao longo da idade moderna, Portugal foi auxiliado pelas tropas britânicas em diversos momentos,
desde a independência da Espanha em 1640 à chamada “Guerra Fantástica” em 1762 no contexto da guerra
dos sete anos, para não mencionar durante o período turbulento da revolução francesa. Esses laços foram
se estreitando com medidas e tratados econômicos adotados por ambos os reinos, como o tratado de
Methuen de 1703 – também conhecido como tratado de panos e vinhos. Ainda por cima, os estadistas
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portugueses reconheciam que, caso desafiassem os ingleses, poderiam partilhar do destino dos
dinamarqueses – que tiveram sua capital bombardeada por se negarem a furar o bloqueio napoleônico.
Ademais, o império português, marítimo por excelência, seria extremamente suscetível e frágil a ataques da
poderosa marinha inglesa. Como sintetizou Rubens Ricupero:

Durante os conflitos da Revolução e do império napoleônico, Portugal, consciente de sua


fraqueza militar, tudo fez para manter a neutralidade, não o conseguindo devido à pressão
franco-espanhola. (...) Na passagem do século XVIII para o XIX, Portugal seguia firmemente
subordinado à relação assimétrica que estabelecera com a Inglaterra, sua aliada desde
tempos remotos. (...) Sempre que irrompia um conflito entre as alianças rivais do sistema
europeu de Balança de Poder, Lisboa via-se defrontada com o mesmo dilema. A fim de
preservar o império ultramarino, tinha de alinhar-se com o velho aliado britânico, cuja
esquadra representava a única possibilidade de defesa das colônias e de suas linhas
marítimas de comunicação com a metrópole. Expunha-se com isso a um possível ataque
ao território metropolitano por parte da França e de sua aliada, a Espanha. (...) Quase
inconcebível configurava-se a opção oposta, em favor de Paris e Madri, pois significaria a
perda do império e, em última análise, o aumento da vulnerabilidade do reino, nesse caso
ainda mais reduzido e enfraquecido em relação a seu poderoso vizinho continental.1

Na corte lisboeta, organizaram-se duas facções políticas: uma apoiava a aliança com os ingleses e era dirigida
por D. Rodrigo de Souza Coutinho. Outra, cuja personalidade mais importante seria o Conde da Barca –
Antônio de Araújo e Azevedo –, propunha um distanciamento da Grã-Bretanha e uma aproximação com os
franceses, tal como fizera a Espanha.

A situação ambígua de Portugal neste contexto de alvoroço político internacional expôs o reino a grandes
perigos. Balançando entre apoiar a França e apoiar a Inglaterra, sua posição causou dúvidas em todos os
atores envolvidos. O soberano lusitano tomava medidas que ora agradavam os ingleses e ora agradava aos
franceses. Tamanha era a ambiguidade de ações que, em 1807, o conselho de Estado decidiu pelo bloqueio
dos navios ingleses em portos portugueses – e, portanto, uma atitude pró-França – ao mesmo tempo em
que requisitava secretamente o auxílio inglês para a transferência de membros da família real para a colônia
americana. A capacidade de iludir os governos das potências em guerra foi tão grande que o comandante da
esquadra inglesa aportada em Lisboa – e que escoltaria a família para o Brasil – tinha ordens de, caso os
portugueses voltassem atrás nos planos de sair do reino, bombardear a capital, tal como fizeram com os
dinamarqueses tempos antes. Outrossim, Napoleão viria a escrever em seu diário que somente o regente D.
João fora capaz de enganá-lo.

Cabe aqui um pequeno excerto sobre o plano de transferência da corte portuguesa para a América. Mudar
a sede da Coroa portuguesa era um plano antigo. Percebendo suas debilidades territorial, militar e
populacional frente às grandes potências europeias – principalmente em face da vizinha Espanha – os reis e

1 RICUPERO, Rubens. A diplomacia na construção do Brasil (1750-2016). Rio de Janeiro: Versal, 2017, p. 83-84.
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ministros portugueses aventaram a possibilidade de migrar a corte desde o século XVI, principalmente
durante períodos de crise. O plano foi se tornando mais palatável aos monarcas lusitanos na medida em que
a colônia americana foi se tornando a principal fonte de receita do reino e se aperceberam que, sem o Brasil,
Portugal nada seria.

A saída deixou de ser um mero plano quando a notícia da entrada de forças franco-espanholas em território
português alcançou a Corte. O movimento hostil de franceses e espanhóis fora decidido no tratado de
Fontainebleau em 27 de outubro.2 Em fins de novembro de 1807, foi dada a ordem de retirada de toda a
família real e do governo. Foi formada uma Junta Governativa que governaria as terras lusas e,
posteriormente, organizar a resistência às tropas franco-espanholas. Por volta de 15 mil pessoas migraram
em poucos dias para a América e cerca de metade do dinheiro circulante foi embarcada.

Saindo em novembro de 1807, a corte portuguesa chegou ao litoral da América em 1808, aportando em
Salvador, onde foi recepcionado pelas autoridades civis soteropolitanas. A cidade ficou toda enfeitada para
a chegada do soberano, evento singular na história do Ocidente. Aquele episódio marcaria de modo
definitivo os rumos de ambas as sociedades, tanto brasileira quanto lusa.

2Ficara decidido neste tratado que o território português seria dividido e suas colônias seriam repartidas entre França e Espanha.
Ricupero, op. cit. P. 87.
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Embarque da Família Real para o Brasil

O GOVERNO JOANINO NA AMÉRICA PORTUGUESA: POLÍTICA INTERNA E


EXTERNA

Após o desembarque da corte, várias mudanças foram operadas na antiga forma de relacionamento entre a
‘colônia’ e a ‘metrópole’, fruto incontornável das circunstâncias. Ora, o Estado português estava migrando,
logo, seria necessário dotar a colônia com os aparatos burocráticos necessários para seu funcionamento. O
conjunto da obra seria o fim efetivo do status de colônia das terras lusoamericanas. Podemos ainda afirmar
com tranquilidade que a partir de então seria operada a inversão do “nexo colonial” entre Portugal e Brasil,
a ponto de contemporâneos do evento poderem afirmar que Portugal havia se tornado colônia do Brasil.
Mas vamos ponto a ponto nas questões que levariam a tal realidade.

O primeiro passo dessa alteração se daria com a abertura dos portos realizada em 1808. Participaria da
escrita do documento José da Silva Lisboa, futuro visconde de Cairu. Como entender e interpretar esse
documento?

Primeiramente, devemos retomar a ideia do pacto colonial ou exclusivo metropolitano, como se refere
importante corrente historiográfica brasileira – que tem em Caio Prado Jr. e Fernando Novais grandes
expoentes – às práticas mercantilistas adotadas pela metrópole lusa desde a organização sistemática da
colonização na América. Dentre essas práticas, a mais significativa era a da exclusividade de comércio a que
estava submetida a colônia. Isto é, a colônia somente poderia comprar produtos advindos da Metrópole (não
necessariamente produzidos na metrópole) e somente poderia vender sua produção para a mesma. Isto
criou, ainda segundo esse grupo de historiadores, uma situação desvantajosa aos colonos e prejudicial ao
desenvolvimento econômico da colônia.

Pois bem, essa realidade se alterou quando a Família Real chegou em Salvador. Com a assinatura do
documento supracitado o pacto colonial foi, na prática, destruído. Desta forma, os navios de todas “as
nações amigas” poderiam comercializar nos portos brasileiros. Com esta medida quebrava-se os middle-men,
isto é, os mercadores portugueses que até aquele momento operavam no mercado europeu.

Rubens Ricupero nos chama a atenção para o fato de que a assinatura do documento de abertura dos portos,
da forma como fora redigido, não era de vontade dos ingleses. Em verdade, os ingleses, desde o tratado
secreto assinado em 1807, antes da transferência da Corte, queriam um porto onde pudessem comercializar

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de modo preferencial e não a abertura total a todos os povos. A fórmula final foi bem mais liberalizante do
que esperavam e mesmo ansiavam os britânicos.3

Ainda assim, não devemos deixar de ter em mente que a abertura dos portos foi fruto não só da pressão
diplomática inglesa (ainda que diferente do que desejavam, reafirmamos), como também da vontade de
grupos expressivos da colônia e da realidade objetiva do Estado português. Os grandes comerciantes luso-
brasileiros que operavam a partir dos portos brasileiros, dentre os quais se destaca o do Rio de Janeiro,
buscavam maior liberdade econômica. Essa busca advinha não só da experiência prática de que o monopólio
comercial se mostrava prejudicial a seus interesses, mas também de leituras de autores ‘liberais’ do período,
particularmente Adam Smith – que publicara seu livro A riqueza das Nações em 1776. Afirmamos é que havia
uma classe de pessoas instruídas, um substrato social que se alinhava às ideias econômicas ‘avançadas’ do
tempo, ainda que não necessariamente apoiassem concepções políticas modernas, menos ainda no campo
do trabalho. Essa elite política luso-brasileira apoiaria rapidamente as mudanças liberais em curso que as
colocava em primeiro plano nas relações com a antiga metrópole e a permitiria tomar maior controle do
Estado. A disputa entre os grupos mercantis – simbolizados nas praças mercantis lisboeta e carioca – e o
medo que a elite brasileira tinha de perder o que havia ganhado no período joanino seria um dos elementos
que levaria à independência mais a frente.

Ademais, como seria possível manter o exclusivo metropolitano se sequer o Estado português tinha domínio
do território do reino? Como seria possível que o aparato estatal ficasse à mercê de um monopólio que era
impossível de ser exercido? Como nova sede do Estado, era necessário dotar a colônia de meios para
sustentá-lo. Tal como se manifestou José da Silva Lisboa no momento: “depois da fatal desgraça da invasão
do Reino, e assento da Corte no Brasil, era de evidente, absoluta, e inevitável necessidade política abrirem-
se os portos destes domínios ultramarinos ao comércio estrangeiro”.4

O Foreign Office conseguiu, de fato, o que queria com as negociações que resultariam no tratado de 1810, o
primeiro daqueles que a literatura de relações internacionais chama de “tratados desiguais”. Por meio dele,
instituíam-se taxas preferenciais de comércio aos navios ingleses e eram concedidos vários ‘direitos’ aos
nacionais britânicos. Em outras palavras, os ingleses pagariam menos impostos alfandegários que quaisquer
outros grupos mercantes.

A flagrante assimetria que caracteriza o tratado exprimiu-se, entre outros pontos, na


fixação dos direitos sobre mercadorias inglesas em 15% ad valorem, discriminando contra
mercadorias transportadas em naus portuguesas, cujos gravames haviam sido
estabelecidos em 16%! Foi necessário esperar decreto de 18 de outubro, oito meses mais
tarde, para que as autoridades lusitanas se lembrassem de igualar as tarifas! Outro
exemplo de “reciprocidade cômica” (palavras de Oliveira Lima) que se adotou para as

3 Idem, p. 93.
4 Apud Ricupero, p. 91.
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mercadorias tropicais. Era praticamente proibitivo exportar para os mercados ingleses


produtos similares aos produzidos nas colônias britânicas, como o açúcar e o café – o grosso
das exportações brasileiras –, apesar de se permitir o lucrativo comércio de reexportação.
Em “reciprocidade”, a Coroa portuguesa poderia impor tarifas igualmente proibitivas sobre
a mais que improvável importação, pelo Brasil, de açúcar, café e outros artigos das Índias
Ocidentais britânicas!5

O tratado tinha caráter permanente, sendo possível ser revisto a cada 15 anos, prorrogáveis por mais 2, o
que levaria a Inglaterra a buscar outro tratado já com o Brasil independente em 1825 – no momento em que
o Brasil buscava a mediação inglesa para que Portugal reconhecesse a cesura dos laços entre a ex-colônia e
a ex-metrópole. Em 1827, os mesmos termos seriam reiterados, com graves consequências políticas e
econômicas para o novo Estado. Para que você tenha uma ideia, a Inglaterra somente deixaria de ser nação
favorecida em 1844, com a chamada Tarifa Alves Branco! Mas isso é tema para outra aula.

Um segundo elemento, este da parte de cultura política, que foi bastante importante para a superação da
condição de colônia foi a implantação da imprensa régia também em 1808. Até a vitória da Revolução liberal
do Porto de 1820, não podemos afirmar que houvesse imprensa livre no país. Havia um tribunal censório,
relativamente eficiente, que liberava ou não as publicações. No entanto, até aquele momento, não havia
imprensa legal no país, razão pela qual muito se demorava para a publicação de livros na colônia, tanto mais
de jornais! A partir daí, e num crescente durante todo o século XIX, a atividade jornalística e editorial ganharia
forte impulso. E foram os jornais um dos grandes veículos utilizados pelos movimentos revolucionários,
independentistas e/ou subversivos tanto do reino quanto da colônia – da revolução de 1817, à revolução do
Porto até a independência. Os jornais, principalmente depois de 1820, seriam meios para a formação de um
espaço público de debate.

O terceiro elemento pode ser resumido nas inovações variadas que foram realizadas pelo monarca. Podemos
citar: o fim da proibição da existência de manufaturas na colônia em 1808 – que não trouxe industrialização
imediata, mas era uma necessidade prática, principalmente para a organização militar; a fundação do Jardim
Botânico em 1808, cujo objetivo era, dentre outros, o científico; a criação do Banco do Brasil em 1808 com
os recursos trazidos de Portugal; a criação da Real Academia Militar em 1810, que instituiu o primeiro curso
superior no Brasil, dentre várias outras modernizações. Deu para perceber como a metrópole havia se
“interiorizado” na colônia com a vinda da corte e como essa mesma interiorização levou à superação do
estado colonial?

Passemos para algumas questões factuais importantes do período joanino nas terras luso-brasileiras.
Internamente, podemos elencar alguns pontos interessantes. A chegada da corte foi um evento migratório
considerável. Conseguir alojamento foi uma tarefa complicada. Chegando ao Rio de Janeiro, várias casas
foram desapropriadas e muitas outras doadas por membros da praça mercantil carioca ou por fazendeiros a

5 Idem, p. 95-96.
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membros da nobreza e para a Família Real. Doação de grande expressão foi a Quinta da Boa Vista, doada
pelo comerciante Elias Antônio Lopes a D. João. À época, a fazenda ficava a certa distância do núcleo urbano
e constituiu-se no local de residência real.

Esses pequenos périplos da mudança dão-nos conta de algo significativo: muitos queriam a presença do rei
aqui. Muito embora tenha surgido certo descontentamento com o deslocamento de pessoas, fato é que a
presença régia significava a possibilidade de os súditos americanos serem ouvidos por Sua Majestade
Fidelíssima. Até 1820, a monarquia portuguesa se organizava sob as bases - já fraturadas desde 1789 - da
monarquia absoluta. Assim, o rei encarnava a soberania estatal e, portanto, os poderes de legislar, julgar e
executar. Estar perto do rei era ‘graça’.

O monarca português, por sua vez, não deixava de reforçar os símbolos de poder. Organizou, depois de
chegar ao Rio de Janeiro, um ritual de beija-mão, no qual todos os súditos do regente poderiam aproximar-
se dele e beijar sua mão em sinal de respeito e lealdade. Reinóis e luso-brasileiros de todas as estirpes se
encontraram nesta mesma cerimônia, símbolo visível de que o rei era ‘pai de todos’ os seus fiéis súditos.

O Beija-mão

Até 1814, Napoleão ainda era uma ameaça à Europa. Depois de sua derrota contra as forças aliadas, o motivo
primeiro da vinda da família real não existia mais – as tropas francesas da invasão de Junot haviam sido
retiradas. Assim, a permanência de D. João e da corte portuguesa em sua colônia foi perdendo legitimidade
frente aos olhos da comunidade europeia e, particularmente, para os reinóis. Desta forma, decidiu alterar
formalmente o status das terras americanas, que deixaram de conquista, domínio ou ainda colônia, para se

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transformar em Reino Unido. Não se tratava agora de Portugal-Metrópole e Brasil-colônia, mas sim do Reino
Unido de Portugal, Brasil e Algarves.6

Este evento político não foi de pouca monta e mera formalidade vazia de significado como alguns
historiadores afirmam. Ao contrário, como apontam István Jancsó e Paulo Pimenta em seu artigo “As peças
de um mosaico”, a elevação do Brasil a Reino foi marcante para organização inicial de uma identidade muito
dispersa até então: a de ‘brasileiro’, isto é, do sentimento de pertença dos luso-brasileiros a uma entidade
política maior que a de suas províncias.

O que queremos dizer é: havia camadas identitárias na colônia no âmbito regional - isto é, paulista, baiano,
mineiro etc - e no âmbito imperial - ou seja, todos faziam parte do império português e súditos do monarca
luso. Poderíamos afirmar claramente que o nascido em São Vicente ou no Rio de Janeiro sentia-se tão
português quanto um reinol. Uma camada identitária intermediária, embora existisse formalmente na
instituição do governo-geral da colônia, ganhou significância quando o próprio rei a pareou ao reino europeu.
Desta forma, a partir de 1815, o conjunto das províncias portuguesas na América tinha um nome e um centro
de poder: Brasil, com capital no Rio de Janeiro. Nortistas e sulistas poderiam agora se ver parte de uma
organização política só. Essa identidade seria posteriormente reforçada nos debates parlamentares de 1820
em Lisboa, mas isso fica para mais a frente.

Ainda é necessário afirmar que, ao se tornar reino, o Brasil passaria a gozar dos mesmos privilégios - ao
menos em teoria - que Portugal. A defesa dessas prerrogativas, como, por exemplo, a liberdade comercial e
posteriormente a da representação política, seria um ponto de união das classes políticas brasileiras de norte
a sul.

Apesar de todas as vantagens trazidas pela corte portuguesa à antiga colônia e ao novo estatuto de reino
unido, havia muito descontentamento com o governo de D. João, especialmente no Nordeste. Antigo polo
de prosperidade da colônia nos séculos XVI e XVII, o nordeste brasileiro passou passava por dificuldades
financeiras desde fins do século XVIII. As destruições da guerra contra os holandeses e, depois, a
concorrência com o açúcar das Antilhas inglesas – tornada ainda pior com a abertura dos portos e o tratado
de 1810 – levou a uma decadência da região com questões sociais potencialmente explosivas que viriam à
tona em 1817 na chamada revolução pernambucana ou revolução dos padres.

A explicação deste movimento insurrecional passa por múltiplos fatores. Para fins didáticos, vamos elencar
três (para além da decadência econômica mencionada acima): ideias revolucionárias, seca e impostos
elevados.

6Região ao sul de Portugal que até a proclamação da República Portuguesa (1910) era tratada como reino de jure separado de
Portugal, mas que de facto não possuía qualquer diferenciação administrativa, privilégio ou autonomia frente ao governo lusitano.
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As ideias da Revolução Francesa embasaram as ações tomadas pelos revolucionários pernambucanos, como
se pode constatar nos escritos deixados por muitos dos envolvidos no movimento. Face a uma monarquia
absoluta que não concedia espaços de representação e atuação política, as ideias de igualdade jurídica, de
República e de participação “popular” – particularmente aquela representada pelo período jacobino –
pareciam muito atraentes para parcela importante das camadas médias pernambucanas e de sua elite. Este
ideário atuaria como norte condutor em muitas das medidas tomadas uma vez iniciados os movimentos de
rebeldia.

Também é relevante destacar dois pontos factuais – diria Braudel, parte da “espuma” da história – que
levaram ao estouro do movimento. O primeiro trata-se de uma seca que ocorreu em 1816 que agravou o
quadro econômico e social já bastante complicado da região. O outro refere-se ao aumento da carga
tributária na região realizado pelo governo joanino para custear o alumiamento da corte carioca.

Esses problemas levaram alguns homens a conspirarem para tomar o poder local e emancipar-se do governo
português. As autoridades ligadas ao governo do Rio de Janeiro, ao saberem do que se passava, reagiu
prendendo alguns dos conspiradores. No entanto, a insatisfação era generalizada e parte da tropa sublevou-
se a 6 de março de 1817, aderindo ao programa dos conspiradores e rebeldes. O representante do governo
de D. João foi expulso de Pernambuco, uma república foi proclamada e um governo provisório formado. Em
29 de março foi convocada uma assembleia constituinte que formalizou a separação de poderes, a liberdade
de imprensa e a manutenção da escravidão.

Foram enviados representantes do novo governo para outras províncias com o objetivo de trazê-las para a
nova república, embora sem muito sucesso. A reação do governo português não tardou e a repressão foi
violenta. As tropas portuguesas rapidamente ganharam terreno e em maio de 1817 rendiam as forças
revolucionárias. As lideranças tiveram penas variadas: alguns foram mortos, outros degredados e outros
presos. Dentre os últimos podemos contar Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, irmão de José Bonifácio.

A relevância da revolução pernambucana está em ter sido a última do ‘período colonial’ e de efetivamente
terem conseguido alcançar o poder mesmo que por pouco tempo – diferença marcante em relação à
Conjuração Baiana e à Inconfidência Mineira. Além disso, suas propostas políticas liberais eram bastante
avançadas e influenciaram políticos da região nos foros representativos do Império posteriormente.

Passemos então para a face externa da política joanina. Primeiro fato importante de recordarmos era o de
que Portugal esteve em guerra até 1814. Havia, portanto, a necessidade de enfrentar a ameaça franco-
espanhola. Muito embora a atuação militar portuguesa em solo europeu fosse diminuta, D. João, ainda
regente, decidiu por atuar contra seus inimigos na América.

Aqui faz-se necessário distinguir claramente as ações tomadas pelo regente em relação à França e em relação
à Espanha. Iniciemos pela primeira: tendo o reino sido invadido por ordem de Napoleão e em vista dos
conflitos fronteiriços entre as duas colônias, D. João decidiu atacá-lo nas posses franceses da Guiana. Assim,

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destinou para Caiena uma divisão de homens do Exército luso-brasileiro e tomou conta da região com
relativa facilidade. As tropas ficaram estacionadas na região até o fim das guerras napoleônicas e ‘forçaram’
os franceses - já com Luís XVIII a frente - a negociarem as fronteiras favoravelmente aos portugueses. As
tropas somente sairiam da Guiana em 1817.

Em relação à América espanhola, a política joanina foi um pouco diferente, por questões dinásticas. D. João
era casado com a irmã do rei Fernando VII, Carlota Joaquina. As políticas matrimoniais ibéricas foram no
sentido de estreitar os laços entre os dois reinos e, caso houvesse um problema sucessório, os reinos
pudessem, novamente, ser unidos sob uma coroa - tal como ocorrera em 1580.

Após a partida dos Bragança ao Brasil, Fernando VII fora sequestrado e um Bonaparte havia assumido o trono
espanhol. Essa usurpação dos direitos dinásticos dos Bourbon espanhóis imediatamente foi contestada no
reino e nas colônias hispano-americanas. Enquanto se formavam as juntas governativas em Espanha - que
se uniriam na Junta de Cádiz -, progressivamente os cabildos da América espanhola também se organizaram
em nome de El-Rey de Espanha, Fernando VII. A partir de 1810, várias juntas desafiaram o governo de
Bonaparte e passaram a governar autonomamente os territórios das colônias – evento que é considerado o
início do processo de independência dessas regiões.

A sublevação espanhola e hispano-americana contra os franceses colocava uma dificuldade a D. João para
simplesmente declarar guerra e invadir o território ao sul do Brasil, tal como fizera com a Guiana francesa.
Assim,

(...) a Corte mudou de tática e passou a empenhar-se em colocar a serviço do plano


português os direitos dinásticos da consorte de D. João e do seu sobrinho, o infante de
Espanha [que havia migrado junto com a corte portuguesa]. Despertou, com isso, as
ambições incontroláveis da princesa Dona Carlota Joaquina de assumir, não como
instrumento lusitano, mas de verdade e em caráter absolutista, a regência das possessões
espanholas das Américas em nome do pai e o irmão.7

Enquanto planos urdiam no Rio de Janeiro, o Cabildo Abierto8 de Buenos Aires decidiu pela deposição do
vice-rei e pela formação de uma junta teoricamente subordinada diretamente ao rei sequestrado e não à
junta central de Espanha. O governador espanhol de Montevidéu foi, então, promovido vice-rei e recebeu a
incumbência de retomar o controle de Buenos Aires nem que para isso tivesse de pedir auxílio militar à corte
portuguesa. Estando em situação periclitante – atacado pelos portenhos e pelo cadilho José Artigas – Elío
pediu socorro a D. João.

7 Ricupero, op. cit., p. 108.


8 “(...) assembleia extraordinária que congregava os cabildos de diversas cidades vizinhas”. Idem, ibidem.
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O príncipe regente de fato interviu e mandou tropas adentrarem o território da Banda Oriental. A chegada
de tropas luso-brasileiras forneceu o tão necessário alívio às tropas leais à Espanha e o cerco à cidade de
Montevidéu foi levantado. No entanto, conforme Ricupero, esta movimentação militar de D. João ia de
encontro aos interesses britânicos. Conforme o autor, “Para os ingleses, o projeto lusitano no Rio da Prata
aparecia como uma temerária diversão de forças tendente a debilitar a luta contra o inimigo comum.” 9
Assim, Strangford, o representante britânico junto à corte portuguesa, atuou diplomaticamente para a
realização de um armistício, que acabou sendo celebrado em maio de 1812. Após a saída das tropas
portuguesas, as tropas leais ao governo de Espanha foram derrotadas e Montevidéu capturada em 1814.

Restaurado Fernando VII ao poder após o Congresso de Viena de 1814, os avanços liberais que haviam sido
feitos com a Constituição de Cádiz de 1812 - promulgada pelas Cortes de Espanha durante o período da
guerra napoleônica - foram enterrados e o rei passou a governar de forma absoluta, não sem resistências.
Movimento semelhante foi organizado contra os governos autônomos que haviam se formado com as juntas.
O governo de Madri queria retomar o controle político-econômico de suas colônias. Isso, no entanto, não
era mais aceitável para as elites criollas dos vice-reinos, que haviam experimentado o poder durante a
ausência de El-Rey. Assim, descrevendo de uma forma resumida, uma nova onda de contestações se iniciou,
desta vez com o propósito claro de separação da metrópole.

Neste novo contexto, conflitos estouraram nas colônias hispano-americanas ao sul do Brasil. Estavam em
contenda diferentes grupos e projetos: os independentistas radicados em Buenos Aires que queriam
construir um Estado centralizador, outros independentistas, tais como Artigas, que queriam um Estado
bastante descentralizado, e os realistas espanhóis. Em face dessa realidade, D. João aproveitou-se para
novamente tentar anexar a Banda Oriental e alcançar, enfim, as chamadas “fronteiras naturais” do Brasil
(que seriam os rios Amazonas e Prata).

Em 1816, então, foi enviado o Exército contra as tropas de Artigas. D. João poderia elencar duas grandes
problemáticas para sua decisão: primeiro, o temor de que líder o caudilho viesse a invadir e ocupar o
território das Sete Missões que antes do tratado de Madri de 1750 fizera parte do domínio espanhol.
Outrossim, também havia o receio de que o pavio revolucionário aceso na Banda Oriental viesse a encontrar
seu caminho para o Rio Grande do Sul. A campanha foi longa e somente em 1820 é que D. João conseguiu
finalmente vencer os federales e tomar conta da região. Os platinos radicados em Buenos Aires se viram
impotentes para lidar com a agressão portuguesa, haja vista os vários desafios políticos que tinham de
enfrentar, além da sempre vigente ameaça de recolonização espanhola. Artigas retirou-se para o Paraguai,
onde morreu em 1850 sem voltar a pisar em solo pátrio novamente.

9 Idem, p. 107.
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A Espanha reclamou diplomaticamente do movimento agressivo dos lusitanos junto às potências do então
Concerto Europeu. Depois de mediação, ficou resolvido que Portugal devolveria a região mediante algumas
condições, dentre as quais uma indenização de 7,5 milhões de francos. No entanto, os espanhóis

retardaram de todas as maneiras o cumprimento do estipulado, enquanto esperavam


organizar expedição de reconquista militar que partiria de Cádiz. No momento em que se
completavam os preparativos, as tropas destinadas à expedição envolveram-se na
revolução liberal de 1820, adiando em definitivo o assunto.10

Com o descumprimento do tratado, o território da Banda Oriental foi anexado ao reino do Brasil, do qual
faria parte formalmente até 1828. Essa vitória de D. João, no entanto, seria diminuída pela revolução liberal
do Porto que tomou conta de Portugal no mesmo ano.

A REVOLUÇÃO LIBERAL DO PORTO E O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO


BRASIL
Um grupo de liberais, com alguns militares envolvidos, iniciou um movimento em 24 de agosto de 1820
partindo do Norte de Portugal propondo reformas políticas substanciais. Elas seriam feitas pelas antigas
“Cortes” que foram remodeladas similarmente ao funcionamento das Cortes de Cádiz e bastante inspiradas
no modelo francês revolucionário. A principal tarefa das Cortes de Lisboa seria a de escrever uma
constituição que fosse capaz de modernizar o Estado português e reorganizar suas relações com as demais
partes do império ultramarino.

O ideário do movimento revolucionário era de inspiração francesa, mas moderado pelas tradições
portuguesas. Ambicionavam implantar uma monarquia parlamentar em que ficassem claramente divididos
os poderes do Estado e no qual o rei tivesse papel diminuto na condução dos negócios públicos.

Conseguindo a adesão de amplas parcelas da elite portuguesa, o movimento tomou conta de Portugal com
relativa facilidade. Em 27 de setembro foram formadas duas Juntas: a Junta Provisional do Supremo Governo
do Reino, para o governo ordinário, em lugar da Regência do Reino, e a Junta Preparatória para as Cortes
Gerais e Extraordinárias da Nação Portuguesa, que organizaria as eleições para as Cortes.11

10 Idem, p. 111.
11 “O governo revolucionário de Portugal, por decreto de 18 de abril determinara a aplicação ao ultramar americano do regulamento

de 22 de novembro, observado pela antiga metrópole nas eleições para as Cortes Gerais, sem mudança capaz de influir na
representação. Cada província daria tantos deputados quantas vezes tivesse o número de trinta mil moradores, e no caso do excesso
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Igualmente foram enviadas cartas para as províncias que compunham o reino do Brasil e para a corte de D.
João. A este último, as Cortes informavam que estavam encaminhando o processo de regeneração do Reino
e requisitava que jurasse as Bases da Constituição que seria feita e retornasse com toda a sua família a
Portugal.

As províncias do norte do Brasil - considerando aí Bahia, Pará e Maranhão - rapidamente aderiram, ante a
possibilidade dada pelas Cortes de Lisboa de ganharem mais autonomia política e representação em âmbito
legislativo, no qual eles poderiam lutar por questões que lhes fossem caras. Em seguida, as províncias do
Sudeste também aderiram ao projeto liberal das Cortes.

Quando a notícia chegou a D. João em 12 de outubro, encontrou-o surpreso e sem apoio para resistir ao
assalto liberal às formas tradicionais de governar a que estivera acostumado. Inicialmente, apoiado pela
grande nobreza emigrada, lançou um manifesto a 27 de outubro resistindo à decisão de convocação das
Cortes, afirmando que o movimento era ilegal. Prometia retornar a Portugal para lidar com a situação.

No entanto, o movimento ganhou muito apoio e forçou o monarca a fazer concessões. Em fevereiro de 1821,
lançou outro manifesto, informando que enviaria seu filho Pedro com poderes para negociar com as Cortes.
Entre fevereiro e março receberam notícia das reclamações das Cortes, que reforçava a queixa referida da
permanência da família real em terras brasileiras. Assim, em março de 1821, anunciou ao povo que retornava
ao reino e deixava seu filho como regente do Brasil. Embarcou para Lisboa em abril e lá aportou em julho.

Este processo foi bastante tenso e marcado por idas e vindas. No meio dele, várias ideias mirabolantes
surgiram, como a possibilidade aventada de permanecer no Brasil e deixar a terra-mãe de vez… No entanto,
a realidade era que nem os grupos brasileiros estavam dispostos a lutar por uma monarquia absoluta e já se
alinhavam com as Cortes, como dito acima.

Apesar de tudo, D. João não aquiesceu totalmente ao projeto das Cortes. Partiu, mas aqui deixou seu filho
herdeiro ao trono português e teria dito a ele antes de embarcar, conforme registrado na história pátria,
embora não haja confirmação absoluta do evento: “Faça a independência antes que um aventureiro a faça”.
Esse fato foi fundamental para os desenvolvimentos ulteriores e marcante para o processo de independência
das províncias brasileiras.

Nesse ínterim, já que as comunicações entre os dois lados do Atlântico eram demoradas, eleições foram
realizadas em Portugal e os trabalhos legislativos foram iniciados em janeiro sem a presença dos deputados
brasileiros eleitos para as Cortes. Iniciaram pelas discussões de organização do Estado e logo chegaram às
discussões acerca da relação entre as províncias americanas e o governo lisboeta. Duas posições políticas
principais se definiram neste aspecto: alguns deputados, empenhados a restaurar a dignidade portuguesa a

da povoação chegar a 15 mil almas designaria mais um representante, desprezada a diferença que não atingisse o último algarismo.”
CARVALHO, Manuel Emílio Gomes de. Os Deputados Brasileiros nas Cortes Gerais de 1821. Brasília: Senado Federal, 2003, p. 80.
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todo custo, queriam que o centro do poder e das decisões ficasse com o governo central em Lisboa,
concedendo pouca autonomia legislativa e tributária para as províncias americanas. Outros, aos quais se
juntariam os deputados brasileiros, mostrar-se-iam mais flexíveis ante a possibilidade de partilhar o poder
com outras instâncias que não aquela das Cortes. Ao fim e ao cabo, a primeira proposta sairia vencedora.

Enquanto isso, as juntas governativas das províncias se organizavam dando, pela primeira vez, a chance de
as elites locais se apropriarem de um poder maior que a mera municipalidade – como fora o caso durante o
período colonial. Igualmente eram feitas eleições para as Cortes e próximo de meados de 1821 os deputados
brasileiros chegaram em Lisboa.

Aqui é importante frisar que, neste momento inicial, não havia a intenção clara e determinada de se realizar
a Independência. Os deputados brasileiros que chegavam à Lisboa buscavam, seriamente, a manutenção da
unidade imperial portuguesa, com a preservação da monarquia e da dinastia de Bragança a frente. A grande
diferença que viria a marcar a atuação dos deputados americanos de seus pares lusos seria o grau de

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autonomia que seria outorgado ao governo regencial do Rio de Janeiro e aos governos de cada uma das
províncias da América.

Deputados das Cortes de Lisboa

Também se faz necessário apontar que havia muitas divergências entre os deputados brasileiros. Seria um
engano acreditar que, porque provinham do mesmo reino – no caso, o Brasil – possuíam interesses idênticos.
Os interesses comercias e a facilidade de comunicação aproximavam muito mais a províncias do Pará,
Maranhão, Pernambuco e, em certa medida, a Bahia, dos portugueses do que dos cariocas. Não à toa, foram

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regiões que tiveram de ser subjugadas pelo Imperador Pedro I para se manterem sob a mesma unidas ao
Centro-Sul do país.

No entanto, vale dizer, a reunião de deputados das mais diferentes províncias num único local propiciou,
sim, o despertar de uma consciência de que eles eram diferentes, em algum grau, dos portugueses europeus.
Ou seja, ao serem tratados em bloco pelos deputados portugueses – que os viam como “os brasileiros” – os
deputados da América começaram a perceber vínculos mais concretos de unidade. Isso não fez, no entanto,
que as diferenças desaparecessem.

Seja como for, as Cortes de Lisboa não caminharam no sentido que uma parcela importante da elite brasileira
desejava, isto é, as elites do centro-sul. Logo após o início dos trabalhos legislativos, ficou claro que os liberais
portugueses estavam preocupados em resguardar prerrogativas do reino europeu, ainda que em detrimento
das “liberdades” americanas. Tendo notícia dos encaminhamentos das Cortes, o governo da província de S.
Paulo, influenciado claramente por José Bonifácio e sua família, formulou uma série de instruções aos
deputados eleitos, dentre os quais seu irmão Antônio Carlos Ribeiro de Andrada.

As Instruções dão-nos uma noção da perspectiva da elite ilustrada coimbrã do centro-sul. Interessa-nos
sobremaneira as duas primeiras partes do documento. Conforme nos traz Gomes de Carvalho:

Ocupa-se a primeira [parte] dos interesses comuns do império luso-brasileiro. Cumpre aos
representantes propugnarem a indivisibilidade da monarquia e a igualdade entre dois
reinos e fixarem previamente a sede da realeza a qual será alternadamente o Brasil e
Portugal. Regularão o comércio externo e interno conciliando as conveniências recíprocas
sem tolher a liberdade de nenhum dos Estados. Haverá um tesouro da união para a guerra,
a dotação da família real e outras despesas de caráter geral, para o qual contribuirão
proporcionalmente às suas rendas públicas as duas seções do império. Os povos da Europa
e da América terão nas Cortes o mesmo número de mandatários. No segundo capítulo,
refere-se o regimento unicamente ao Brasil. Fixadas as atribuições e poderes que lhe
resultam da categoria de reino e determinados os direitos e deveres impostos pela união,
os mandatários promoverão o estabelecimento de um governo-geral ou regência no Brasil
com autoridade sobre as juntas provinciais. Quando o monarca e o parlamento
estanciarem em Portugal, preencherá a regência o príncipe herdeiro. 12 (Grifo nosso)

É interessante notar o teor do texto citado pelo autor. Embora inicie falando da necessidade de manutenção
da unidade imperial, os representantes de São Paulo imaginavam uma unidade com ampla autonomia. Afora
o mesmo rei e mesmos corpos diplomático e legislativo, teriam administrações, tesouros e organizações
internas próprias, uma federação real. Também é de valor perceber que as instruções, na segunda parte,

12 Idem, p. 162.
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pedem, na prática, que se legitime o status quo existente na América portuguesa, isto é, um governo-geral
acima das províncias e a presença do príncipe herdeiro na ausência do rei.

José Bonifácio

No entanto, como dito, muitos liberais portugueses não estavam dispostos a tratar o Brasil diferentemente
das possessões africanas ou asiáticas, ou seja, como ‘ultramar’, ou ainda diferentemente de Algarves, que
recebia a denominação honorífica de reino unido, sem qualquer autonomia. As atitudes dos deputados
assim o demonstravam, uma vez que não se preocupavam com a ausência de brasileiros para legislarem
questões relativas ao Brasil – apesar de promessa feita por líderes das Cortes de que os artigos que
atingissem diretamente os interesses brasileiros pudessem ser revistos depois.13 Esta postura de fundo
levaria a grandes desentendimentos, que pouco a pouco minaram as possibilidades de acordo e união do
império.

As relações entre as duas partes do Atlântico começaram a deteriorar por três resoluções tomadas: em
primeiro lugar, os embates entre os presidentes das juntas das províncias – representantes do poder civil –
com os comandantes de armas – que possuíam o controle das forças militares provinciais – que eram
indicados pelas Cortes; em segundo, a exigência de retorno de D. Pedro feita pelas Cortes em Setembro de
1821; por fim, o documento feito por autoridades da Província de São Paulo, apoiado por outros membros
das elites brasileiras, de Minas Gerais particularmente, instando o príncipe a desobedecer as determinações
das Cortes portuguesas de retorno a Portugal.

Quanto às desavenças entre os comandantes de armas e os presidentes de província, a alegação das


províncias era a de que não possuíam poder real uma vez que não tinham controle efetivo da força. À medida
que as tensões foram aumentando entre as duas partes do império português, esta medida pareceu às elites

13 Idem, p. 170.
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brasileiras cada vez mais um instrumento de controle das Cortes no Brasil. Este sentimento foi fortalecido
pelo envio de tropas portuguesas que ficaram sob controle desses governadores de armas, a exemplo do
que ocorreu em Pernambuco em fins de 1821, ou o caso das tropas estacionadas na corte fluminense. Em
verdade, este foi um dos principais motivos para a retórica da ‘recolonização’ das Cortes que fez escola na
tradição historiográfica desde o trabalho do Visconde de Cairu sobre o processo de independência escrito na
década de 1820.

O pedido de retorno do príncipe regente foi outro golpe que estremeceu as relações. Para as Cortes, o
retorno do herdeiro seria fundamental para retirar um ponto aglutinador para as elites brasileiras e acabaria
a noção de um governo-geral acima das províncias. Essas ficariam ligadas e dependentes diretamente do
governo central em Lisboa. A tão desejada autonomia das províncias brasileiras, particularmente do centro-
sul, seria alquebrada.

Por fim, o documento dos paulistas causou verdadeira ira nos representantes da Nação portuguesa. O pedido
para que o príncipe regente desobedecesse às Cortes, concretizado na proclamação do Fico do dia 9 de
janeiro de 1822,14 foi uma afronta à autoridade das Cortes que depois de deliberação acirrada decidiram
pedir mais uma vez o retorno do regente e a punição daqueles que haviam assinado o documento.

Enquanto isso, no Brasil, ocorreram desenvolvimentos importantes para a cesura dos laços políticos. Em 16
de janeiro de 1822, José Bonifácio assumiu a Secretaria de Negócios do Reino e a do Estrangeiro, tornando-
se de forma oficial a figura proeminente do governo encabeçado pelo regente. Um mês depois, frente às
notícias que chegavam das Cortes e as querelas que eram apresentadas, Bonifácio e d. Pedro tomaram a
decisão de convocar eleições para “Procuradores-Gerais” das províncias, que atuariam como corpo
consultivo, mas não deliberativo, do governo. Este corpo de procuradores-gerais viria a ser instalado em 2
de junho de 1822, mas não teria sobrevida. As Câmaras municipais e as províncias, naquele momento,
queriam mais que mero poder de ‘consulta’. Tanto o é que no dia seguinte, 3 de junho, d. Pedro, seguindo
os pedidos dos procuradores, fez um decreto convocando uma Assembleia Geral, Constituinte e Legislativa
composta de deputados das províncias. No dia 19 do mesmo mês seriam enviadas as instruções eleitorais
para essa Assembleia.

Tão importante quanto a convocação dos procuradores-gerais e a convocação de eleições foi a edição de um
manifesto às nações lançado dia 6 de agosto. Este documento, cujo teor teve decisiva influência de Bonifácio
– secretário dos Negócios Estrangeiros como dito – afirmava aos demais países do mundo o compromisso
de manter as boas relações além de reafirmar o intento de continuar unido a Portugal. No entanto, atacava
claramente os trabalhos das Cortes Portuguesas. Vejamos um pequeno trecho (grafia original):

14“Como é para o bem de todos, e felicidade geral da Nação, estou pronto: diga ao povo que fico. Agora só tenho a recomendar-
vos união e tranquilidade” disse o príncipe na ocasião.
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Cumpre-Me [o príncipe] expôr-lhe succinta, mas verdadeiramente a série dos factos


emotivos, que Me têm obrigado a anuir á vontade geral do Brazil, que proclama á face do
Universo a sua Independencia politica; e quer como Reino Irmão, e como Nação grande e
poderosa, conservar illesos e formes seus imprescriptiveis direitos, contra os quaes
Portugal sempre attentou, e agora mais que nunca, depois da decantada Regeneração
politica da Monarchia pelas Côrtes de Lisboa. (...) Muitas e muitas vezes levantaram seus
brados a favor do Brazil os nossos Deputados; mas suas vozes expiram sufocadas pelos
insultos da gentalha assalariada das galerias. A todas as suas reclamações responderam
sempre que eram ou contra os artigos já decretados da Constituição, ou contra o
Regulamento interior das Côrtes, ou que não podiam derrogar o que já estava decidido, ou
finalmente respondiam orgulhosos - aqui não ha Deputados de Provincias, todos são
Deputados da Nação, e só deve valer a pluralidade - falso e inaudito principio de Direito
Publico, porém muito útil aos dominadores, porque, escudados pela maioria dos votos
Europeus, tornavam nulos os dos Brazileiros, podendo assim escravizar o Brazil a seu sabor.
Foi presente ao Congresso a Carta que Me dirigiu o Governo de S. Paulo, e logo depois o
voto unanime da Deputação, que Me foi enviada pelo Governo, Câmara, e Clero da sua
Capital. Tudo foi baldado. A Junta daquele Governo foi insultada, taxada de rebelde, e digna
de ser criminalmente processada. Enfim, pelo órgão da Imprensa livre os Escriptores
Brazileiros manifestaram ao Mundo as injustiças e erros do Congresso; e em paga da sua
lealdade e patriotismo foram invectivados de venaes, e só inspirados pelo genio do mal, no
machiavelico Parecer da Commissão. Á vista de tudo isto, já não é mais possível que o Brazil
lance um véu de eterno esquecimento sobre tantos insultos e atrocidades; nem é
igualmente possivel que elle possa jamais Ter confiança nas Côrtes de Lisboa, vendo-se a
cada passo ludibriado, já dilacerado por uma guerra civil começada por essa iniqua gente,
e até ameaçado com as cenas horrorosas de Haiti, [a revolução haitiana que foi
marcadamente racial] que nossos furiosos inimigos muito desejam reviver.15

Você pode estar se perguntando: ora, houve uma convocação de constituinte e um documento editado
falando de independência antes mesmo do ‘grito do Ipiranga’ e dos cortes formais das relações entre os dois
países? Bem, isso requer de nós um aprofundamento em dois pontos.

Primeiramente, devemos ter em mente que a escolha dos marcos históricos são sempre, obviamente,
posteriores aos eventos e processos históricos. Após o fim da unidade imperial entre Brasil e Portugal, alguns
marcos foram buscados para definir o momento efetivo da cesura de laços.

Alguns poderiam ser escolhidos: a convocação das Cortes constituintes, o grito do Ipiranga, a aclamação do
Imperador e ainda sua coroação. Ora, cada um destes momentos – alguns dos quais vamos abordar daqui a
pouco – teria um efeito simbólico. Explicamos: enquanto o 7 de setembro tem como figura principal e,
basicamente, única D. Pedro – o que fortalece sua imagem como emancipador dos povos –, a aclamação do

15 Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/manife_sn/anterioresa1824/manifestosemnumero-41437-6-agosto-


1822-576171-publicacaooriginal-99440-pe.html>
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imperador, em 12 de outubro, coloca em cena, também, o ‘povo’, as elites políticas, os grupos ao redor do
monarca; igualmente, a convocação das Cortes como marco colocaria um peso significativo à ‘nação’
reunida, mais do que ao monarca. Logo, a definição da data foi uma luta simbólica na história para dar um
determinado ‘tom’ à narrativa dos acontecimentos,

Segundamente, no que se refere à convocação das Cortes antes mesmo da cesura formal dos laços, tal fato
não deve nos espantar tanto assim. O que foi feito nada mais era do que a implementação efetiva do que
estava previsto no documento formulado pelos Andradas e encaminhado para as Cortes. Ora, na medida em
que as Cortes falharam em dar a devida atenção aos negócios do Brasil – assim visto pela elite do centro-sul
– o governo do regente tomou a iniciativa política de criar uma constituição própria ao Brasil, mas mantendo
a unidade imperial. Isto é, a nova constituição não seria feita para se opor àquela de Lisboa, mas para reger
os assuntos internos do reino. Somente depois de o príncipe, com o apoio de Minas Gerais, São Paulo e Rio
de Janeiro, declarar guerra a Portugal é que a Constituinte, reunida em 1823, faria uma constituição para um
país completamente independente.

Bem, a situação tornou-se insustentável quando as Cortes deliberaram, finalmente, que o príncipe regente
deveria retornar imediatamente, que os representantes de S. Paulo que haviam assinado a representação
para a manutenção do regente contra as decisões das Cortes deveriam ser punidos e, por fim, anulava os
atos tomados pelo gabinete do príncipe regente. O conjunto destas determinações alcançou o Rio de Janeiro
em fins de agosto de 1822, quando d. Pedro visitava a província de São Paulo. Junto com estas determinações
das Cortes, recebeu uma carta de sua esposa, D. Leopoldina, e de Bonifácio. Ambos urgiam para que o
príncipe tomasse uma decisão – claramente instando-o para que fizesse a independência. Depois de ler as
cartas das Cortes, de sua esposa e de seu ministro a 7 de setembro, quando passava pelo pequeno curso
d’água do Ipiranga, tomou a decisão pela independência completa, iniciando, ali, a guerra contra Portugal.

A notícia se espalhou rapidamente pelo centro-sul e rapidamente ganhou a adesão das elites dessa região.
Também o povo participou do processo, saudando D. Pedro por onde passava e animando-se para o serviço
das armas contra a ‘tirania’ das Cortes portuguesas. Pouco mais de um mês depois, a 12 de outubro, D. Pedro
foi aclamado no Senado da Câmara da cidade do Rio de Janeiro como Imperador e Defensor Perpétuo do
Brasil. Em 1 de dezembro, foi coroado e sagrado.

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“A Proclamação da Independência” por François Mereaux. Perceba a participação popular destacada neste
quadro.

O Império do Brasil logo após a independência

As duas cerimônias pelas quais passou o imperador – a de aclamação e a de sagração – remetem a duas
perspectivas políticas diferentes e, na análise de alguns historiadores, opostas. A aclamação, como dito, traz
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como central a escolha do povo – seja em sentido estrito, isto é, aqueles que compunham a comunidade
política, seja em sentido amplo, ou seja, a população como um todo – que figura, portanto, como fonte do
poder. Na tradição ibérica, desde o século XVII temos isso colocado claramente pelo pensador espanhol
Suárez contra o direito divino dos reis. Por outro lado, a sagração – e depois o art. 99 da constituição que
considerava o imperador figura sagrada – trazia em seu bojo a ideia de escolha divina do imperador, que não
‘deve’, assim, a fonte do seu poder se não ao Deus Todo-Poderoso. Essa tradição provém principalmente dos
reinos protestantes e da Igreja Galicana – francesa – particularmente com os tratados de Jaime I da Inglaterra
e de Jacques Bossuet da França.

O governo português, certamente, não aceitou pacificamente a decisão tomada pela corte do Rio de Janeiro
e medidas belicosas foram colocadas em ação em algumas províncias brasileiras – notadamente Bahia,
Cisplatina (atual Uruguai), Piauí, além do apoio tácito obtido do Pará e Maranhão.

Aqui encontramos mais um ponto controverso entre historiadores do período: nossa independência teria
sido mero “desquite” entre pai e filho ou um conflito de larga escala? Podemos encontrar historiadores de
importância em ambos os lados da contenda. Em seu livro mais recente, Ricupero mantém-se ligado à tese
da separação sem grandes derramamentos de sangue. Em suas palavras, a natureza de nossa independência
foi "pacífica e evolutiva”.16 Em sentido contrário, uma pesquisa mais recente de Hélio Franchini Neto,
defendeu a tese de que houve sim uma importante guerra de independência.17

Certo é que não tivemos no Brasil o mesmo movimento armado e de luta intensa pelo qual passou boa parte
da América hispânica. Entretanto, como dito, houve luta e confronto político, fosse com as tropas
portuguesas estacionadas no Brasil, fosse com as autoridades de algumas províncias, nomeadamente do
Maranhão e do Pará. Assim, tropas foram mobilizadas e significativas operações militares desencadeadas –
tanto em mar quanto em terra. Como exemplo, podemos citar o caso da Bahia que comemora sua
independência como tendo ocorrido em 2 de julho de 1823, quando as tropas portuguesas lideradas por
Inácio Luís Madeira capitularam em Salvador frente as tropas brasileiras comandadas pelo francês Pedro
Labatut.

Esse é um debate significativo e bastante longevo dentro dos cursos de história, mas pouco relevante para
o concurso. Assim, pedimos escusas por não nos aprofundarmos mais nele.

Vários elementos são importantes para analisarmos nesse processo de efetivo corte das relações entre Brasil
e Portugal: qual foi a importância da manutenção da monarquia sob a égide da continuidade da dinastia de

16 Ricupero, p. 120.
17NETO, Hélio Franchini. Independência e morte: política e guerra na emancipação do Brasil (1821-1823). Tese de doutoramento:
UnB, 2016.
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Bragança? Que projetos estavam em disputa quando da independência, tanto no que se refere às formas de
governo em disputa quanto aos projetos diferentes desejados pelas províncias?

Quando estudamos a história de nosso país, sempre salta aos olhos a diferença entre os processos na
América portuguesa e na América espanhola: mantivemos a unidade territorial do conjunto das províncias
brasileiras enquanto houve fragmentação entre os hispânicos; criamos uma monarquia, a única que durou
no continente americano; tivemos longo período de estabilidade política, enquanto a América espanhola foi
convulsionada por décadas com movimentos sediciosos e guerras civis. Essa “excepcionalidade brasileira” é
creditada, por grande consenso de historiadores, à manutenção do sistema monárquico no Brasil.

Isso porque o regente era o príncipe herdeiro do trono português, “legítimo” governante da América
portuguesa. Sua liderança aglutinava vários grupos políticos que viam nele uma solução de continuidade que
evitaria problemas de contestação política. Além disso, a literatura aponta que a manutenção da monarquia
foi imperiosa para a igual manutenção da escravidão. A legitimidade de D. Pedro torna-se mais impactante
quando comparamos com a América espanhola e observamos as diferentes elites criollas lutando para
controlar o Estado formado. As facções do Império não lutavam contra a legitimidade do imperador ou
contra o Estado imperial, mas para alcançar o governo imperial. Por essa razão que Iara Lis Carvalho Souza
pôde chamar D. Pedro de “Imperador-Contrato”.18

No entanto, havia dissenso entre as elites políticas brasileiras sobre o tipo de Estado que seria construído.
Afora a pequena minoria republicana, as grandes questões colocadas se tratavam sobre as relações entre o
governo central e as províncias – o grau de autonomia de cada uma das províncias – e qual seria o papel do
imperador nesse grande esquema político.

Alguns grupos de liberais lutaram – no âmbito da Constituinte de 1823 e no Parlamento – pela implantação
de um modelo “federativo”, no qual as províncias teriam bastante liberdade orçamentária e administrativa.
Essa luta foi perdida na constituinte e durante o primeiro reinado e seria somente alterada em 1834 com a
aprovação do Ato Adicional à Constituição que deu algum grau de autonomia às unidades do Império. O
modelo vitorioso que vigorou durante todo o Império foi o Estado centralizado e unitário, que chegou a um
grau de burocratização bastante elevado. 19

Formado o Estado imperial a partir da herança portuguesa e vencidos vários embates militares de norte a
sul do país, era de fundamental importância o reconhecimento desse novo status. Como ocorria esse
procedimento de reconhecimento? De acordo com Ricupero, “a aceitação de um ator recém-independente
no cenário mundial subordinava-se, em última instância, ao reconhecimento da legitimidade do novo

18 SOUZA, Iara Lis Carvalho. Pátria Coroada: o Brasil como corpo político autônomo, 1780-1831. São Paulo: UNESP, 1999.
19 MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema. São Paulo: Hucitec, 1987.
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participante pelas grandes potências.”20 Era particularmente importante a aprovação de nossa


independência por parte da Inglaterra. No entanto, enquanto a Inglaterra apoiava em geral os movimentos
de independência da América espanhola, sua atuação seria constrangida em relação ao Brasil, já que era
aliada de Portugal. Assim, por mais que o mercado brasileiro fosse muito importante para os ingleses, esses
teriam de fazer um jogo diplomático difícil para acomodar as duas partes.

Ainda assim, a diplomacia britânica seria fundamental para o reconhecimento da independência. Esse apoio,
no entanto, seria condicionado a basicamente dois pontos: celebração de tratados de comércio e a abolição
do tráfico de escravos.

A realização de tratado comercial era questão pacífica, já que o tratado de 1810 ainda se encontrava em
vigor no Brasil. O fim do tráfico seria uma questão “infinitamente mais espinhosa” 21, uma vez que toda a
estrutura econômica estava baseada na mão-de-obra escrava e, claro, porque os traficantes de escravos
formavam um grupo econômico poderoso na Corte – queremos dizer, o tráfico em si mesmo era uma
atividade bastante lucrativa.

Diz-nos Ricupero que o processo de reconhecimento pode ser dividido em duas partes: uma liderada por
José Bonifácio entre agosto de 1822 e julho de 1823; outra, entre 1823 e 1825, negociada por “ministros
mais fracos”22 que garantiram os acordos com Portugal e com a Inglaterra.

A fase de Bonifácio foi marcada por uma altiva postura frente às demandas inglesas e portuguesas. Entendia
o Patriarca que o Brasil partia de condições vantajosas na negociação com a Inglaterra – vista a necessidade
inglesa de manutenção dos acordos comerciais com nosso país – e com Portugal, na medida em que esse
não conseguia reverter os rumos da guerra de independência. Sua perspicácia política pode ser entrevista
quando ordenou que Felisberto Brant, – futuro marquês de Barbacena – que negociava o reconhecimento,
se retirasse de Londres em abril de 1823 na confiança de que o reconhecimento era uma questão de tempo.
“O próprio Canning mais de uma vez admitiu que não esperaria indefinidamente para assegurar as vantagens
comerciais”.23

Acontece que os desenvolvimentos políticos do Império levariam à queda e ao exílio de Bonifácio, alterando
os rumos das negociações. Sua firmeza com vistas ao interesse público seria substituída por preocupações
outras, algumas delas pessoais do novo monarca – notadamente seu interesse em resguardar seus direitos
dinásticos:

20 Ricupero, p. 120-121.
21 Idem, p. 121.
22 Idem, p. 125.
23 Idem, p. 124.
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A partir de então, o que passou a predominar já não era, como no tempo do Patriarca, a
perspectiva do Brasil independente, mas o interesse dinástico pessoal do seu monarca,
perspectivas que seguramente se confundiam no espírito de um príncipe descrito como
liberal de convicção, mas absolutista de temperamento. Daí a necessidade de afastamento
dos Andradas, além dos motivos internos que para isso concorreram. Só o poder do
Imperador lograria impor solução altamente impopular, que tornava o divórcio em relação
à maioria da opinião pública e grande parte das facções políticas afinadas com o espírito
da independência, contribuindo eventualmente para a abdicação. 24

Na busca por resguardar seus direitos e de reconhecer a independência do país, D. Pedro dispôs-se, portanto,
a pagar o preço exigido. Acabou por renovar os termos do tratado comercial de 1810 com os ingleses e por
aceitar o fim do tráfico de escravos, para além de ratificar as exigências portuguesas, particularmente a
indenização de 2 milhões de libras. Vamos analisar globalmente o resultado a que chegaram os negociadores
brasileiros.

Como vimos, a corte portuguesa quando chegou ao Brasil poucas possibilidades e meios possuía para resistir
à pressão inglesa de realização do tratado de 1810. Portugal necessitava do apoio britânico na guerra contra
Napoleão, para manter o fluxo comercial e o abastecimento de produtos manufaturados. Assim sendo, a
assinatura do tratado era o único caminho que se mostrava aos portugueses.

Quando da independência do Brasil, o Império não se encontrava nas mesmas situações que os portugueses
de 12-15 anos antes. A guerra contra a (ex)metrópole ia bem, não havia ameaça de outras potências externas
e os ingleses demonstravam grande interesse em auxiliar a causa brasileira – apesar de não se pronunciarem
abertamente. Aceitar as condições inglesas da forma proposta deve ser entendido como voluntarismo do
imperador para realizar um reconhecimento que resguardasse seus interesses, um preço pago pelas
“vantagens derivadas de ter sido um príncipe, legítimo herdeiro do trono, [como] o autor da proclamação
da independência.”25 O tratado com os ingleses preservava todos os privilégios que os britânicos haviam
gozado sob governo português, condição diversa daquela das repúblicas hispano-americanas.

A questão comercial, tanto quanto a indenizatória e a simbólica, trouxeram complicações políticas e


econômicas ao governo imperial e ao imperador pessoalmente, mas empalidecem frente à decisão tomada
de acabar com tráfico de escravos. Embora tenham existido vozes contrárias ao tráfico e à escravidão desde
a independência – particularmente a de José Bonifácio – havia um consenso entre as elites brasileiras – a
produtora fundiária e a comercial/traficante – de que a mão de obra escrava era necessária e deveria ser
mantida. Quando a notícia do tratado que acabava com o tráfico se difundiu, crítica uníssona foi direcionada

24 Idem, p. 125.
25 Idem, p. 128.
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ao imperador, afirmando, dentre tantas outras coisas, que ele não observara os interesses públicos e as
necessidades do país e que o governo havia se curvado às vontades britânicas.

Pagando o alto custo, o Império obteve o reconhecimento de Portugal e da Inglaterra em 1825, seguindo
pouco tempo depois outras potências europeias – a esta data já os Estados Unidos haviam reconhecido a
independência brasileira (1824), mas sem grandes impactos internacionais. Nosso país entrava oficialmente
ao novo concerto das nações.

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ESQUEMA E DETALHAMENTO

ANTECEDENTES DA VINDA À AMÉRICA

• Conjuntura Revolucionária Francesa

➢ Campanha do Rossilhão (1793-1795) e aproximação Espanha-Portugal (Guerra da Primeira


Coalizão);

➢ Espanha de inimiga, torna-se aliada de França: Guerra das Laranjas (1801) – Guerra da
Segunda Coalizão

➢ Tratado de Badajós (1801):


o Estabeleceu a paz entre Portugal e Espanha (art. I);
o Portugal fecharia seus portos à Grã-Bretanha (art. II);
o Espanha devolve Jeromenha, Arronches, Portalegre, Castelo de Vide, Barbacena, Campo
Maior e Ouguela, mas anexa Olivença (art. III);
o Portugal deveria combater o contrabando em suas terras (art. IV);
o Rei de Espanha garantia a “inteira conservação dos Seus Estados, e Domínios sem a menor
exceção ou reserva” (art. IX);

➢ Tratado de Madri (1801):


o Pagamento de 20 milhões de francos aos franceses;
o Cessão territorial de parte do atual Amapá para a Guiana Francesa (60 milhas entre o
Vincent-Pinzon e o Araguari);
o Equiparação das mercadorias francesas às inglesas;
o Promessa de fechamento dos portos aos ingleses;

• Durante as guerras revolucionárias e napoleônicas, duas grandes facções se digladiaram na Corte


portuguesa: a corrente francesa e a corrente inglesa. Com o tratado de Badajós, a corrente francesa cresceu
em poder, mas o pendor de D. João aos ingleses sempre manteve aberta a possibilidade de retorno à aliança
inglesa;

➢ De um lado, o risco da invasão do reino pelas tropas franco-espanholas;


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➢ De outro, o risco de perda das colônias, sem as quais Portugal era nada;

➢ A situação se precipitou com a declaração do Bloqueio Continental em 1806 e posterior


pedido francês de sequestro de bens ingleses e detenção de ingleses em Portugal;

• A dubiedade portuguesa quanto ao bloqueio continental, a recusa tácita (embora oficialmente


retardada em ser anunciada) no sequestro e detenção dos súditos ingleses exigida por Napoleão precipitou
a assinatura do Tratado de Fontainebleu em outubro de 1807 com Espanha.

• Entre 1806 e 1807, ganhava força a facção inglesa, liderada pelo futuro Conde de Linhares, D. Rodrigo
de Sousa Coutinho, que pressionava o príncipe regente pela aliança com a Inglaterra, declaração de guerra
à França e saída da família real de Portugal rumo ao Brasil, ressuscitando velho plano de transferência da
Corte em caso de perigo.

• Na Inglaterra, enquanto não se decidia o príncipe regente, faziam-se dois planejamentos: caso
Portugal decidisse pela transferência, a Marinha Britânica escoltaria a Família Real para o Brasil; caso
decidisse pela recusa e dubiedade, as forças inglesas ocupariam fortes em Lisboa e ao longo do Tejo e
apresaria os navios portugueses, em nome de auxílio a Portugal e não como anexação.

• Sem muita escolha, tendo o exemplo de inúmeras casas reais que haviam caído para Napoleão, com
o conhecimento do Tratado de 1807 e da ida de Janot à Espanha com destino a Portugal (com o pretexto de
auxiliar o príncipe), D. João decidiu em novembro de 1807 pela retirada da corte para o Brasil, saindo de
Portugal a 29 de novembro, quando chegavam as tropas francesas na capital portuguesa.

AS PRIMEIRAS MEDIDAS DE D. JOÃO NA AMÉRICA

• Chegada “de surpresa” em Salvador 21-22 de janeiro de 1808;

• A abertura dos portos em 28 de janeiro de 1808:

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➢ Admitia-se a entrada nas alfândegas brasileiras de todos os gêneros transportados em navios


estrangeiros que se achassem em paz com Portugal;
➢ Permitia-se a exportação para todos os portos, por navios nacionais ou estrangeiros, de todos os
gêneros coloniais;
➢ Reduziu os “direitos” cobrados nas alfândegas, de 30 para 24% ad valorem, sendo o dobro para
vinhos, aguardente e azeite.

• Por que abrir os portos?

➢ O argumento da fatalidade: sem marinha capaz de assegurar o comércio, perdido o reino, era
impossível manter o comércio fechado;

➢ Contra-argumento: Embora fosse necessária alguma medida que permitisse o escoamento da


produção e o abastecimento de produtos europeus, não havia necessidade de abrir todos os portos.
Poder-se-ia abrir um porto franco ou impor condicionamentos e limitações ao comércio;

➢ O argumento da pressão inglesa: simplesmente se cumpria a convenção de 22 de outubro de 1807


em que se previa o acesso de navios britânicos ao Brasil;

➢ Contra-argumento: a convenção estabelecia UM único porto na América, previsto em SC;

➢ A política de abertura foi fortemente influenciada por José da Silva Lisboa, leitor das publicações de
cunho liberal da Europa, particularmente de Adam Smith. Sua importância se comprova pela tomada
de decisão de D. João antes da chegada dos Ministros de Estado e pela sua elevação a “conselheiro
da corte” e a criação, para ele, da cadeira de “ciência econômica” depois, no Rio de Janeiro. Alguns
argumentam mesmo que ele teria feito a primeira versão da Carta Régia.

➢ Essa abertura marca o início de uma política que se concebe brasileira, que consulta os interesses
brasileiros. Seria completada com o alvará de 1º de abril de 1808 (no RJ), pelo qual se levantavam as
proibições que existiam no Brasil e nos territórios ultramarinos para o estabelecimento de
manufaturas.

• Partida de Salvador, depois de a Câmara tentar evitar sua partida, a 26 de fevereiro de 1808,
chegando no RJ a 07 de março.
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• A chegada da corte à capital colonial provocou um período intenso de festas, mas também de
angústia. Era necessário acomodar milhares de pessoas, a começar pela Família Real. Essa ficou no paço do
governador e agregou os edifícios próximos, o Convento da Carmo, a Casa da Câmara e a Cadeia. Pouco
tempo depois, um grande negociante, Elias Antônio Lopes, ofereceu a d. João a sua Quinta da Boa Vista, em
São Cristóvão, afastado do centro. D. João se mudou para lá, enquanto Carlota Joaquina preferiu ficar no
centro.

TRATADOS DE 1810

• Antiga era a pretensão inglesa de realizar tratado geral de comércio com Portugal, mas as práticas
protecionistas portuguesas acabaram por impedir a consecução de um tal plano. Com a nova situação
geopolítica da transferência da corte feita sob proteção britânica, novas oportunidades se abriam.

• Valentim Alexandre argumenta que a abertura de negociações com Portugal implicava na garantia de
que a Inglaterra não reconheceria outro soberano em Portugal que não os descendentes da família Bragança;

• Para além disso, pelas próprias fontes da época fica patente a vinculação entre o auxílio político-
militar e a assinatura de um tratado de comércio. Facilidades comerciais para a obtenção de garantias
políticas.

• A realização de tratado, do lado português, também pode ser entendida pela necessidade de regular
o comércio com o único mercado aberto para as produções luso-brasileiras. A ideia era que se pudesse obter
da Grã-Bretanha um regime mais favorável de comércio que facilitasse a importação para o consumo, ou, no
mínimo, para posterior reexportação para o restante da Europa pelos portos ingleses, o que já tinha se
começado a concretizar com medida do Parlamento inglês de 25 de junho de 1808, que atribuiu o estatuto
de nação mais favorecido à importação de gêneros brasileiros e criou condições para sua armazenagem e
venda.

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• As negociações realizadas ao longo de 1809 não contaram com pareceres do reino de Portugal. D.
Rodrigo, então principal ministro, acreditava que o sucesso do desenvolvimento do Brasil levaria ao sucesso
do reino. Apesar disso, o reino foi contemplado:

➢ Em alvará de 28 de janeiro de 1809, aboliam-se taxas que artigos estrangeiros reexportados por
Portugal pagavam no Brasil;
➢ Em 28 de abril de 1809, a atividade industrial portuguesa seria contemplada da mesma forma;

• O projeto inicial elaborado por D. Domingos de Sousa Coutinho, irmão de d. Rodrigo, plenipotenciário
em Londres estabelecia:

➢ Eliminação ou limitação dos privilégios pessoais de que os súditos ingleses gozavam em Portugal em
razão de tratados anteriores (privilégio de foro e de associação, isenção de inspeção dos packets
boats de oficiais, liberdade de consciência e de imunidade perante a Inquisição);
➢ Um sistema de reciprocidade comercial imperfeita, no estilo de Methuen de 1703: Portugal
estabelecia vantagens absolutas, fixando direitos sobre os produtos ingleses, e a Inglaterra concedia
direitos relativos, estabelecendo o estatuto de nação mais favorecida aos produtos luso-brasileiros,
conservando a liberdade de regular as tarifas.
➢ As taxas cobradas nas alfândegas portuguesas seriam de 16%;

• As negociações desenroladas no RJ entre Lord Strangford e d. Rodrigo partiram desse modelo de d.


Domingos, mas começaram a se alterar por maiores pressões inglesas:

➢ diminuíam-se as limitações a privilégios pessoais;


➢ o não estabelecimento da Inquisição no Brasil;
➢ cooperação para a abolição gradual do tráfico de escravos;
➢ criação de um porto franco em SC para mercadorias britânicas – para facilitar o contrabando para o
Rio da Prata.

• As críticas ao tratado vieram de vários lados. Uma preocupação geral foi a diminuição drástica de
arrecadação que as novas taxas nos portos poderiam causar. O porto em SC prejudicava o interesse de
comerciantes estabelecidos no RJ que queriam ganhar com o contrabando na região. Os produtores rurais
se preocupavam com o fim do tráfico de escravos.

• Mas seria a questão da Inquisição que travaria o tratado. D. João não aceitava a cláusula de não
estabelecer a Inquisição. Um tratado secreto foi proposto, o de que os súditos ingleses ficavam imunes.
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George Canning, contudo, não aceitou e propôs dois tratados: um de aliança e amizade e outro de comércio
e navegação. Apesar de não querer ceder em matéria religiosa, D. João acabou aceitando e ratificou os
tratados em 19 de fevereiro em 1810. Ficava estipulado dentre outras coisas:

➢ Não estabelecimento da Inquisição


➢ 15% sobre produtos importados da Inglaterra
➢ Nação mais favorecida para Portugal;
➢ Porto franco em SC
➢ Porto franco em Goa
➢ Perpetuidade do tratado, podendo ser revisto em 15 anos
➢ Liberdade comercial nos domínios asiáticos e africanos de Portugal

INSTITUCIONALIZAÇÃO DA MONARQUIA NO BRASIL

• Ocupado o reino, sem perspectivas de retorno imediato, cabia dotar o Brasil das instituições que lhe
permitissem ser a sede da monarquia. Assim, foram criadas repartições na então colônia:

➢ Tribunal da Mesa do Desembargo do Paço e da Consciência e Ordens (22/04/1808). Encarregava-se


dos negócios que, em Portugal, pertenciam a quatro secretarias: os tribunais da Mesa do Desembargo
do Paço, da Mesa da Consciência e Ordens, do Conselho do Ultramar e da Chancelaria-Mor do Estado
do Brasil. Composto por:

o Mesa do Desembargo do Paço: “competia-lhe, de modo geral, matérias que incluíam, por
exemplo, concessão de perdões, cartas de fiança para réus, concessão de recursos de revista,
autorização para sub-rogação dos bens dos morgados foreiros ou dotais, levantamento de
degredo, provisões “restituindo a fama a pessoas condenadas por crime infamante”, dispensa de
idade mínima para servir nos cargos, autorização de recursos fora do prazo, concessão de
autorização para não se executar alguma provisão régia, passagem de cartas de legitimação e
perfilhação, nomeadamente para os efeitos da sucessão nos bens da Coroa, gestão da
magistratura letrada, confirmação da eleição dos juízes ordinários, conflito de jurisdição entre os
demais tribunais da Coroa e censura prévia das obras literárias”. Antes da criação do órgão no
Brasil, eram as relações da Bahia e do Rio de Janeiro os tribunais de última instância na colônia,
possuindo ambas suas próprias mesas de desembargo. Os processos iniciados na primeira
instância, no nível de juiz de fora ou das ouvidorias das comarcas, após interpor recurso às
relações, poderiam apenas apelar à Casa de Suplicação de Lisboa, e somente em casos
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excepcionais ao Desembargo do Paço (WEHLING, 1986, p. 156). Com a vinda da corte, os tribunais
régios foram estabelecidos no Brasil e a Relação do Rio de Janeiro foi transformada em Casa de
Suplicação.

o Mesa da Consciência e Ordens: A Mesa possuía uma gama de atribuições, como a tutela
espiritual e temporal das ordens militares, a tutela das provedorias e mamposteiros dos
cativos e dos defuntos e ausentes, o governo da Casa dos Órfãos de Lisboa, o provimento
e governo das capelas de d. Afonso IV e d. Beatriz, o provimento das mercearias dos reis
e infantes passados, a administração do Hospital Caldas e de outros hospitais, gafarias e
albergarias de proteção real, a superintendência da administração da universidade, o
provimento dos ofícios relativos às repartições que tutelava, bem como das terras das
ordens, o governo espiritual das conquistas e todos os assuntos que tocassem a
consciência do rei (HESPANHA, 1994, p. 253-254). A Mesa funcionava, ainda, como
tribunal de recurso nas matérias de foro privilegiado dos cavaleiros das ordens, além de
ser “a instância por onde se passavam os perdões e cartas de fiança dos privilegiados ou
se concediam autorizações para a alienação ou sub-rogação dos bens de comendas”
(ibidem, p. 254). (...) Para apelação das causas crimes dos cavaleiros das ordens militares,
foi criado o cargo de juiz dos cavaleiros, revogando o alvará de 12 de agosto de 1801, que
autorizara que os desembargadores ouvidores-gerais do crime das relações do Rio de
Janeiro e da Bahia desempenhassem tal função. Ainda segundo o alvará, os bispos das
respectivas dioceses ficariam servindo de juízes das Ordens Militares, em conformidade
com o parágrafo IX do alvará de 11 de outubro de 1786.

➢ Tribunal da Relação do Maranhão (23/08/1811) - A Relação do Maranhão deveria interpor agravos


ordinários e apelações para a Casa de Suplicação de Lisboa, conforme determinado no alvará de 6 de
maio de 1809, que incluía também, nesse caso, as ilhas de Açores, Madeira e Porto Santo e o Pará.
Os agravos e apelações da Relação da Bahia e do distrito da antiga Relação do Rio de Janeiro deveriam
ser interpostos para a Casa de Suplicação do Brasil.

➢ Real Erário (11/03/1808) e do Conselho da Fazenda (28/06/1808): a instalação do Erário Régio


reforçou a centralização das finanças do reino e domínios, processo que incrementado com a criação
de juntas de Fazenda nas capitanias dos territórios pertencentes a Portugal, subordinadas
diretamente ao Erário. Ainda nesse contexto, o Conselho da Fazenda transformou-se em tribunal de
jurisdição voluntária e contenciosa, competindo-lhe julgar as causas relativas à arrecadação de
rendas e bens e direitos da Coroa, continuando sob sua subordinação os armazéns de Guiné e Mina
e a Casa da Índia.

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➢ Banco do Brasil (12/10/1808): funcionaria como depósito público e seria o único depositário dos
fundos do cofre dos órfãos e das irmandades e ordens terceiras. Os bilhetes ao portador emitidos
pelo banco seriam aceitos como dinheiro nos pagamentos feitos ao Estado ou pelo Estado. Quatro
anos depois, A Real Fazenda entraria como acionista com cem contos de réis anuais retirados de
novos impostos, durante dez anos, sem receber lucro nos primeiros cinco.

➢ Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação (23/08/1808) com o objetivo de fomentar
a agricultura, a indústria, o comércio e a navegação.

➢ Conselho Supremo Militar e de Justiça (01/04/1808): Constituindo-se como um tribunal superior de


justiça militar, o órgão era composto por dois conselhos relativamente independentes, o Conselho
Supremo Militar e o Conselho de Justiça, regulados por legislações diferentes e com sessões distintas,
mas que deveriam reunir-se extraordinariamente quando requerido. Suas competências estavam
ligadas às matérias militares que em Lisboa se expediam pelos conselhos de Guerra, do Almirantado
e do Ultramar.

➢ O Arquivo Real Militar (07/04/1808): A função específica do engenheiro diretor e dos oficiais mais
experientes era examinar as “diversas cartas que existem das diversas capitanias e territórios do
Brasil, a comparação das mesmas, o exame das que merecem fé, ou conterem (sic) pontos incertos e
duvidosos”. Esta equipe também tinha a atribuição de publicar um texto similar ao Manual
topográfico, obra editada anualmente pelo arquivo francês, e introduzir, quando fosse possível, uma
classe de engenheiros gravadores que futuramente publicassem os trabalhos do Real Arquivo Militar.
Além disso, tinha a guarda de todos os planos de fortalezas, fortes e baterias, assim como de todos
os projetos de estradas, navegações de rios, canais e portos, e de tudo o que disser respeito à defesa
e à conservação das capitanias marítimas ou fronteiras, conservando em segredo tudo o que lhe fosse
confiado sobre projetos de campanha ou correspondências de generais que pudessem servir para
levar à real presença qualquer memória útil ao real serviço.

➢ Biblioteca da Academia Naval; Contadoria Real; Brigada Real (13/05/1808)

➢ Real Academia Militar (04/12/1810): ministrado curso de ciências matemáticas e de “ciências de


observações” como física, química, mineralogia, metalurgia e história natural, além das ciências
militares, de tática, fortificação e artilharia. Pretendia formar oficias em artilharia e engenharia,
engenheiros, geógrafos, topógrafos que pudessem “ser úteis ao Estado”.
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➢ Criação Intendência-Geral de Polícia da Corte e Estado do Brasil (10/05/1808) – Intendente-geral até


1821, Paulo Fernandes Viana: fiscalização do teatro e dos divertimentos públicos, pela expedição de
alvarás de licença para casas de jogos, botequins e para mendicância e pela elaboração de mapas de
população, acumulando o cargo de intérprete e tradutor de línguas. alistamento dos meios de
transporte, despesas da Secretaria e das casas de pasto, estalagens, albergues, dos presos e da
iluminação, além de servir como escrivão do pagador ou tesoureiro. expediente dos passaportes,
registro do expediente da Casa de Correção, dos escravos e do calabouço, que estava anexado à
Intendência. Outras atribuições da Intendência da Polícia, de acordo com o plano, eram a limpeza
das ruas e o cuidado de suas calçadas, estradas e pontes, a vigilância noturna da cidade, o
nivelamento do solo urbano e o aterramento dos pântanos prejudiciais à saúde. Cabia também ao
intendente Paulo Fernandes Viana, que ocupou o cargo até 26 de fevereiro de 1821: o exame de
obras e escritos estrangeiros, impressos e não impressos, e a punição daqueles que circulassem com
material proibido; a promoção da integração dos imigrantes. a colaboração para o recrutamento
militar;

➢ Instituições Sanitárias

o Criação do cargo de Provedor-Mor da Saúde da Corte e Estado do Brasil (28/07/1809): objetivo


de prevenir epidemias e vigiar sobre as condições sanitárias das tripulações dos navios que
aportavam na cidade; sobre o estado dos produtos comestíveis nos mercados; examinar e
vistoriar os matadouros de gado e açougues públicos;

o Criação da Escola Cirúrgica na Bahia em 1808 (18/02) - Nomes: Escola de Cirurgia da Bahia (1808-
1816); Academia Médico-Cirúrgica da Bahia (1816-1832); Faculdade de Medicina da Bahia (1832-
1891).

o Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica (RJ 02/04/1808) no Hospital Real Militar (da segunda
metade do XVIII);

o Criação da Junta da Direção Médica, Cirúrgica e Administrativa no Hospital Real Militar (1812)

➢ Instituições Culturais

o Imprensa Régia (13/05/1808)

o Biblioteca Real (Considera-se marco de instalação em 29/10/1810, estabelecendo-a no Carmo,


junto à Real Capela). Em 1811 foi aberta a estudiosos com permissão régia e em 1814 franqueada
ao público.
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o Real Teatro de São João (12/10/1814)

o Capela Real (1808)

o Jardim Botânico (ato de fundação considerado de 13/05/1808) / Nomes possíveis: Real Horto,
Real Jardim Botânico, Real Quinta e Jardim da Lagoa Rodrigo de Freitas. No entanto, a legislação
do período aqui considerado refere-se ao órgão apenas como Jardim Botânico da lagoa de
Rodrigo de Freitas.

o As primeiras espécies vindas do estrangeiro para o Jardim Botânico do Rio de Janeiro eram
oriundas das Ilhas Maurício e foram trazidas por Luiz de Abreu Vieira e Silva, como presente para
d. João. Assim, foram introduzidas as seguintes espécies vegetais: abacateiros, caneleiras, coração
de negro, pés de lichia, mosacadeiras, sagú, fruta-pão, cajá e areca. Estas e outras espécies de
plantas são citadas no alvará de 1º de março de 1811, assim como alcanforeiras, cravo-da-índia,
canela, pimenta e cactos como a cochonilha. Seu cultivo e propagação foram estimulados e
levados ao maior grau de perfeição possível com a plantação dos bosques artificiais de madeiras
de lei, como parobas, tapinhoãs, canelas, vinháticos e tecas. A possibilidade de produção de
conhecimentos sobre novas espécies vegetais aumentou, proporcionalmente, o poder de difusão
das informações entre plantadores e fazendeiros potenciais, facilitando o intercâmbio de plantas
entre colônias tropicais e a sua aclimatação (DEAN, 1991, p. 5). Em 1810, o marechal Manoel
Marques contribuiu com o envio de algumas espécies. Em 1812, Raphael Bottado de Almeida
remeteu ao Brasil as primeiras sementes de chá (Thea viridis L.). A partir daí, houve um grande
incentivo à plantação de chá, com a colaboração de colonos chineses que emigraram com o
intuito de ensinar o cultivo e a preparação do produto. O decreto de 11 de maio de 1819 anexou
o Jardim Botânico ao Museu Real. Contudo, o órgão esteve subordinado à Secretaria de Estado
dos Negócios Estrangeiros e da Guerra até 1822, quando passou para a esfera da Secretaria de
Estado dos Negócios do Reino.

o Instituto Acadêmico de Artes e Ciências/Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios (12/08/1816):


com a finalidade de promover e difundir o ensino de conhecimentos considerados como
indispensáveis para a “comodidade e civilização dos povos”, abrangendo áreas como agricultura,
mineralogia, indústria e comércio. Os estudos realizados na Escola eram voltados para as
atividades cuja prática e utilidade dependiam de conhecimentos teóricos das artes e das ciências
naturais, físicas e exatas. Para isso, foram empregados alguns profissionais estrangeiros que,
segundo o decreto de criação do órgão, buscaram a proteção real de d. João para se dedicarem
ao ensino. Missão Artística francesa que veio com o objetivo de auxiliar a fundar essa instituição
e foi importante para a disseminação do neoclassicismo francês na corte.

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• Para sustentar a instalação da corte e a nova burocracia, novos impostos foram estabelecidos:

➢ Quatrocentos rés por arroba de tabacão que saísse da Casa de Arrecadação da Bahia para o consumo
na capitania ou que entrasse no Rio de Janeiro;

➢ Imposto da décima sobre os prédios urbanos em todas as cidades e vilas importantes do Brasil,
estendidos depois às cidades, vilas e lugares do interior e aos domínios ultramarinos, com exceção
da Ásia;

➢ Compras e vendas de bens de raiz ficavam sujeitas ao imposto da sisa, fixada em 10% do valor da
transação;

➢ Pagamento de metade da sisa para a compra de escravos que não fosse feita diretamente junto aos
traficantes que chegavam da África.

➢ Ampliação do imposto do selo. Passaram a pagar os livros dos negociantes e mercadores, assim como
os das Câmara Municipais, dos tabeliães, das confrarias, irmandades e ordens terceiras, bem como
todos os papéis judiciais.

• Medidas econômicas e monetárias:

➢ Regularização do peso e dimensão das moedas de prata e cobre em circulação (18/04/1809).


Cunhagem de moeda de prata de 960 réis (três patacas) idêntico ao peso espanhol em resposta ao
desaparecimento do ouro (20/11/1809);

➢ Para acorrer ao estado de abatimento do comércio e da navegação por conta da guerra na Europa
(11/06/1809):

o Redução de 16% dos direitos de entrada cobrado nas alfândegas brasileiras sobre as mercadorias
de súditos nacionais transportados em navios nacionais;

o Os gêneros molhados (como vinho e azeite) pagariam menos uma terça parte e os que fossem
importados para reexportação, 4%.

➢ Para promover a indústria, o comércio e a navegação (28/04/1809):

o Isenção de impostos para matérias-primas importadas pelas manufaturas;

o Isenção para as exportações e entradas no Brasil de artigos industriais portugueses;


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o Privilégios e incentivos: reserva de mercado para as fábricas nacionais para o fornecimento de


fardas para as tropas; subsídio anual de 24 contos para instalação de novos ramos da indústria;
concessão de privilégios exclusivos de 14 anos a novos inventos;

o Criação da Real Fábrica de Pólvora no Rio de Janeiro em 1809;

o Criação da fundição de ferro em Serro Frio (iniciada em 1809, conseguindo produzir a partir de
1814);

o Real Gabinete de Mineralogia (1810).

CONGRESSO DE VIENA

• Findas as guerras napoleônicas, a situação da corte no Brasil foi colocada em questão, tanto por
conselheiros reais quanto pelas potências europeias, como a antiga aliada Inglaterra.

• D. João e outros conselheiros, como o conde da Barca, Antônio de Araújo, queriam aproveitar a
posição na América para obterem maior autonomia em suas relações e projetar poder em um Império
português na América.

• Essa situação da corte na América impactou diretamente a posição portuguesa no Congresso de


Viena. Participante como vitorioso, Portugal, contudo, nem tinha muitas reclamações a fazer, nem condições
de ter uma presença negociadora forte pela distância das comunicações e por vezes foi representada pela
Inglaterra, mesmo quando não dera permissão, caso do Tratado de Paris de 1814.

➢ Os únicos imbróglios a resolver eram a questão de Olivença, que Portugal buscava recuperar, e da
Guiana francesa, que era necessário negociar com a França;

➢ Caiena foi prometida de volta à França pela Inglaterra sem a expressa aprovação portuguesa e sem
reparação. Ficava somente a promessa de um arranjo amigável para a demarcação dos limites entre
Brasil e Guiana.

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• Para representar Portugal em Viena, foram enviados o conde de Palmela (Pedro de Sousa Holstein),
Joaquim Lobo da Silveira e Antônio Saldanha da Gama;

➢ O sistema do Congresso exigia que os participantes realizassem negociações bilaterais que,


posteriormente, seriam debatidas e inclusas no convênio. Assim, Portugal ficava muito fragilizado,
pois necessitaria negociar com a Inglaterra, com a Espanha e com a França isoladamente, e não num
sistema geral negociação, em que pudesse se utilizar de sua aliada contra os demais.

• A posição dos negociadores portugueses ficou muito mais difícil por conta das diferentes visões que
a Corte e os demais países tinham de Portugal.

➢ Para d. João e alguns de seus conselheiros, Portugal era potência vitoriosa e deveria ter seus reclames
aceitos. Para as potências continentais que venceram Napoleão, Portugal nada mais era que um
apêndice inglês e que muito pouco contribuíra para a vitória final. A distância, mais uma vez,
dificultaria alinhar essas duas perspectivas numa posição de negociação mais coerente e adequada.

• Portugal negociou:

➢ Supressão do tráfico ao norte do Equador. Ao sul, limitado aos domínios da Coroa portuguesa ou
àqueles sobre os quais ela reservara seus direitos (Cabinda e Molembo).

➢ Aceitava devolver a Guiana à França. Em compensação:

o GB pagaria 300 mil libras como indenização pelos navios apresados antes de 1º de junho de 1814;

o GB renunciava a receber os pagamentos ainda em falta do empréstimo de 600 mil libras que
Portugal contraíra em 1809;

➢ Não conseguiu, porém, a restituição de Olivença;

➢ Tentou sem sucesso renegociar os termos do acordo comercial de 1810;

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BRASIL, PORTUGAL, AMÉRICA ESPANHOLA

• A resistência de Espanha em retornar Olivença a Portugal acabou por naufragar os esforços de maior
aproximação entre os dois reinos ibéricos (apesar de casamentos trocados), projeto defendido por Palmela
– que pensava mais na dimensão europeia que americana do Império português.

• Por sua vez, esse desentendimento dava maior liberdade de ação da corte para intervir nos assuntos
do Prata e expandir-se às custas do Império espanhol. Uma expedição assim foi armada de Portugal para o
Brasil e daqui para o Rio da Prata. Em 1816 chegaram no Brasil 5 mil veteranos da guerra peninsular liderados
por Carlos Frederico Lecor.

➢ O pretexto era a continuidade da guerrilha de Artigas na região e a contenção do “vírus


revolucionário”.

➢ Oficialmente, Portugal não se propunha anexar a região, mas resguardá-la ao rei de Espanha até que
a situação se acalmasse e El-rei Fernando VII tomasse controle da região, embora nessa retórica
poucos acreditassem;

• Essa atitude de Portugal causou agravos na relação também com a Inglaterra, que não via com bons
olhos essa expansão portuguesa. O enviado inglês protestou na corte, mas sem sucesso.

• Reuniram-se, assim, as potências em 1817 e reprovaram a atitude lusitana, deixando claro que
Espanha poderia buscar meios para se ressarcir dos danos que viesse a sofrer. Portugal somente contou com
ligeiro apoio da Áustria, depois da celebração do casamento por procuração entre d. Pedro e d. Leopoldina.

• Um tratado foi proposto pelas potências para resolver a situação em junho de 1818:

➢ Portugal devolveria a Banda Oriental a mediadores, que passariam à Espanha;


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➢ A força espanhola que fosse enviada para retomar a região não poderia ter menos de 8 mil soldados;

➢ Anistia à população;

➢ O governo espanhol pagaria uma indenização de 7.5 milhões de francos a Portugal;

➢ As tropas portuguesas poderiam manter a praça de Maldonado;

• Para Portugal, era uma win-win situation: se Espanha aceitasse, os termos eram positivos; se negasse,
o ônus recaía sobre eles. Portugal sabia que haveria resistência inglesa em caso de reação espanhola fora do
quadro de negociação mais ampla.

➢ Espanha não negou, mas protelou enquanto organizava o envio de tropas para a América a partir de
Cádiz. A Coroa portuguesa não colheu piores resultados por conta da revolta liberal de Cádiz em
janeiro de 1820;

REINO UNIDO A PORTUGAL

• A 16 de dezembro de 1815, d. João decidiu elevar o Brasil à condição de Reino unido à Portugal e
Algarves, mas por quê? Eis o que d. João alegou:

➢ Reconhecimento da extensão territorial, da riqueza e da posição geográfica do Brasil;

➢ União identitária entre os dois reinos;

➢ Necessidade de formalizar a elevação a que o Brasil havia sido internacionalmente graduado pelos
representantes no Congresso de Viena;

• Fim dos títulos de colônia, domínio e conquista. Motivo de festa e alegria para os súditos da América;

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• Quais os impactos da elevação a Reino?

➢ Criação de uma camada de identidade que reunia todos os súditos da Coroa portuguesa presentes
na América;

➢ Criação de uma burocracia específica para o reino;

➢ Possibilidade de autonomia frente ao império português e diferenciação quanto ao reino;

➢ Possibilidade de busca pela igualdade frente a Portugal;

• Alguns eventos:

➢ Morte de D. Maria I em 20 de março de 1816;

➢ Negociações para o casamento entre d. Pedro e d. Leopoldina na busca por diversificação de aliados
na Europa. Celebrado por procuração em 13 de maio de 1817. D. Leopoldina chegou ao Brasil em
5/11/1817.

➢ Coroação de D. João como rei: 7/02/1818.

REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA

• A instalação da família real no Rio de Janeiro impactou de modo diverso as várias partes do Brasil.
Enquanto as elites comerciais do centro-sul saíram lucrando com a abertura dos portos e as medidas
liberalizantes, isso não implicou, no Nordeste, em mudanças significativas. Em realidade, as praças mercantis
composta de portugueses em várias cidades do norte/nordeste acabam por sair perdendo;

• Também deve-se lembrar da grande elevação de taxas em todo território para a manutenção da corte
e a criação das várias instituições mencionadas anteriormente. Assim, para muitos, parecia que se trocava
Lisboa pelo Rio de Janeiro.

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• Nesse contexto de depressão econômica no Nordeste pela decadência do açúcar, era forte o
sentimento anticolonial que vigorava em setores do país – em especial do clero – em razão da circulação das
ideias revolucionárias, apesar das tentativas do governo de evitá-la.

• No caso de Pernambuco, para além das ideias novas, ainda pode-se destacar a antiga vocação à
autonomia fruto das lutas seiscentistas contra os holandeses e a percepção de que os pernambucanos
haviam buscado se unir a Portugal por vontade própria;

• De modo mais imediato, a revolta de Pernambuco foi causada pelo aumento dos preços dos
alimentos somado à insatisfação de militares com sua situação. Conjuras começaram a ser realizadas e
quando o governador decidiu tomar uma atitude, precipitou a rebelião.

• A revolta se iniciou a 16 de março de 1817 com o levante de um regimento de artilharia. Os presos


foram soltos e o porto foi embargado. No dia seguinte, formou-se um governo provisório com membros da
elite produtora agrícola, do comércio, do clero, da magistratura e das forças terrestres.

➢ Enviaram às câmaras uma lei orgânica que regeria o governo até uma constituição a ser feita por uma
assembleia que seria convocada;

➢ Aumentaram e pagaram os soldos em atraso;

➢ Retiraram impostos sobre carruagens, lojas, armazéns ou sobrados e navios, de 1812;

• O conde dos Arcos, governador da Bahia, agiu com rapidez assim que soube do levante,
encaminhando tropas para a região e uma flotilha para a costa pernambucana. Na corte, a notícia chegou a
25 de março. Sem muitos recursos, e com suas tropas comprometidas na Banda Oriental, o governo
despachou uma frota para bloquear o porto, o que foi realizado no dia 16 de abril. Contribuições e
empréstimos foram feitos por membros da elite do centro-Sul e um crédito de 1 milhão de cruzados foi
liberado pelo BB. Um corpo expedicionário de 3 mil homens partiu do RJ em 4 de maio.

• A revolução não conseguiu espraiar-se muito, como muitos dos líderes imaginavam e esperavam.
Resistências começaram a surgir dentro do próprio Pernambuco e as tropas “patriotas” não conseguiram
lidar com as tropas enviadas da Bahia. Em 20 de maio, todo o partido revolucionário retirou-se para Olinda.

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Em 23 de maio, as tropas baianas entravam em Recife. Em 29 de junho chegavam os efetivos do Rio de


Janeiro, liderados por Luís do Rego Barreto que assumiu o governo da capitania.

• Luís do Rego Barreto, contrariamente ao que dizia suas orientações, criou uma comissão militar para
punir os responsáveis. Foram 12 executados e outros presos. O rei reprovou os excessos do governador e
refreou manifestações de júbilo quando se soube, a 14 de junho, da restauração da ordem em Pernambuco.
No dia de sua aclamação, suspendeu a devassa que ia ser realizada para investigar o levante e também
libertou os réus sem culpa formada.

REVOLUÇÃO DE 1820 E REGRESSO DO REI

• Depois de descoberta e debelada a conjura do Sinédrio em Portugal, alguns conselheiros, ministros,


os regentes e mesmo Beresford, começaram uma pressão intensa por reformas que diminuíssem o
descontentamento, mas também instaram cada vez mais o rei a retornar a Portugal ou, ao menos, que
enviasse o príncipe real.

• A situação do Império português unia em insatisfação os estamentos e classes do reino:

➢ Os militares deploravam a permanência dos oficiais britânicos e o comando de Beresford.


Temiam o envio para o Brasil. Queixavam-se do atraso no pagamento dos soldos;
➢ Proprietários rurais se ressentiam da concorrência dos cereais estrangeiros que causara baixa
de preços;
➢ Os comerciantes lamentavam a liberdade mercantil que levara ao fim do status de entreposto
Brasil-Europa que Portugal possuía o que, por sua vez, levou a uma menor atividade nas praças
do reino;
➢ Magistrados e funcionários régios viam suas carreiras prejudicadas com o afastamento do rei
e a criação dos tribunais no Brasil;
➢ A nobreza sentia perdido seu propósito, sua função social, sem o rei.

• Apesar da situação periclitante em Portugal, já anunciada em 1817, a corte do RJ pouco fez para
remediar as circunstâncias. Iniciou-se uma disputa entre conselheiros reais quanto ao que fazer:

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➢ Tomás Antônio de Vilanova Portugal, o mais importante dos ministros de d. João no momento,
acreditava que tudo não passava de um descontentamento passageiro e que medidas
econômicas simples o diminuiriam. Vilanova Portugal privilegiava a posição
brasileira/americana da monarquia portuguesa e não era favorável, até o recrudescimento da
revolução, ao retorno da família real.

➢ Em face dos pareceres e das advertências quanto ao perigo de revolta, o máximo que fez foi
promulgar um aviso em 30 de maio de 1820 que facilitava a exportação de algumas produções
portuguesas para o Brasil; vinho, aceite, sal, panos de linho e lã;

➢ Conde de Palmela (Pedro de Sousa Holtein), tinha uma visão mais europeia e entendia serem
necessárias medidas amplas para restaurar a tranquilidade no Império. Defendia o retorno da
família real, se não de toda ela, ou do rei do príncipe real.

• O pronunciamiento de Riego em 1º de janeiro de 1820 em Cádiz, que logo em fevereiro alcançava


outras partes de Espanha e forçava Fernando VII a aceitar a constituição de 1812, dava sinais claros aos
administradores do reino de que algo em Portugal estava para surgir.

• O estopim para o início da revolução de 1820 foi, ironicamente, a saída de Beresford em direção ao
Brasil para pedir ao rei regressasse ou enviasse seu filho. Além disso, levava reclames dos militares, pedia o
pagamento dos soldos atrasados e requisitava maiores poderes políticos e militares.

• Temerosos de que o retorno do marechal inglês com benesses aos militares pudesse retirar o apoio
dos chefes militares, e sem o controle e vigilância de Beresford, o Sinédrio se aliou com esses chefes e no dia
24 de agosto de 1820, um pronunciamento militar deu início à revolução a partir da cidade do Porto e
formada uma Junta governativa na cidade. Os militares buscavam, tal como na Espanha, uma anuência mais
ou menos voluntária do rei, e desde o início o movimento não se colocou contrariamente ao rei.

• A Regência tentou articular um movimento de resistência militar e, ao mesmo tempo, dar remédio
com a convocação das Cortes em seu formato tradicional – o que sempre fora negado afirmando-se
necessitar da aprovação régia. A reunião das Cortes foi marcada para o dia 15 de novembro. Em sequência,
foi enviado um emissário à Junta do Porto para negociar, mas sem sucesso.

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➢ Em 15 de setembro, um movimento insurrecional de tropas em Lisboa acabou por


rapidamente tomar a cidade e outra Junta foi formada. As duas Juntas se uniram e formaram
a Junta Provisional do Supremo Governo do Reino e a Junta Preparatória das Cortes. No dia
1º de outubro, ambas estavam em Lisboa.

• No dia 5 de outubro foi enviada comunicação a d. João VI pedindo seu retorno ou de outra pessoa da
família real que governasse em seu nome e que aprovasse a convocação das Cortes (que, sem autorização
régia, poderia ter sua legitimidade questionada);

• A partir do estouro revolucionário, a dinâmica das comunicações entre RJ e Portugal faria toda a
diferença na construção de uma resposta apropriada.

➢ A notícia do pronunciamento de 24 de agosto somente chegou no RJ a 17 de outubro, ainda


relatada pelos governadores do reino. Em resposta, d. João permitiu a convocação das cortes
em seu estilo tradicional, em carta régia de 29 de outubro. Quando a carta chegou a Lisboa,
no entanto, a 16 de dezembro, já não fazia sentido, porque seu destinatário inexistia (a junta
de governadores) e as Cortes já haviam sido convocadas com base nas orientações eleitorais
espanholas de 1812, Cortes essas que iniciariam seu trabalho a 26 de janeiro de 1821.

• Sabendo da união de Lisboa ao movimento revolucionário, ocorrida em setembro, somente em


meados de novembro, a corte ficou sem reação até a chegada de Palmela em 20 de dezembro. O conflito
entre os dois ministros de D. João torna-se cada vez mais agudo, com os dois na corte defendendo posturas
opostas:

➢ Tomas Antônio defendia a intransigência total com Junta Suprema e o reconhecimento


posterior e não prévio dos trabalhos das Cortes. Acreditava que o rei poderia adotar a política
de protelação enquanto mantivesse controle sobre o Brasil, pois que Portugal necessitaria do
reino americano para se sustentar. Assim, mantendo o Brasil sob firme controle, a revolução
definharia sozinha com o tempo. O rei, assim, deveria ficar no Brasil. Somente com a piora da
situação consentiria em enviar o príncipe real com o objetivo de domar a revolução.

➢ Pedro de Sousa Holstein, por sua vez, acreditava que o único meio de salvaguardar a
monarquia era o rei de colocando à frente, outorgando uma carta constitucional para o reino
e enviado o príncipe para que presidisse as cortes e sancionasse a Constituição em nome do
rei.

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• O rei continuou com sua postura protelatória, mesmo quando seus dois principais ministros
chegaram à conclusão conjunta de que era necessário enviar d. Pedro a Portugal. O anúncio do envio do
príncipe se deu em janeiro, mas nada fez o rei para efetivamente encaminhá-lo.

• Todos os planos se alteraram quando se chegou a notícia de que em 10 de fevereiro a Bahia havia
declarado sua união com as Cortes, movimento que foi depois seguido por outras províncias do Norte. Essa
situação jogava por terra a posição de Vilanova Portugal, cujo projeto se baseava na manutenção do controle
sobre o Brasil.

• Com o movimento revolucionário se espraiando pelo Brasil, Vilanova Portugal, com o consentimento
real e contrariamente ao pensamento de Palmela, editou um decreto a 18 de fevereiro (publicado em 23 do
mesmo mês) que convocava uma Junta de Cortes a ser formada pelos procurados dos concelhos do Brasil
das Ilhas Atlânticas que tivessem juízes letrados. Essa Junta proporia as reformas que julgasse oportunas e
se pronunciaria sobre a adaptação da Constituição de Portugal ao Brasil.

➢ O decreto foi um fracasso e causou profundas insatisfações no RJ e antes que o rei pudesse reagir a
essa insatisfação, uma conspiração foi colocada em marcha no dia 26 de fevereiro. Militares se
reuniram no Largo do Rossio pedindo para que a Constituição aprovada pelas Cortes fosse aceita no
Brasil. Quem apaziguou o levante o príncipe real, primeira atuação de relevo de D. Pedro até o
momento. Aceitou as pretensões dos militares, evitou que o poder se transferisse a uma junta
governativa, como havia acontecido na Bahia e conseguiu afastar a adoção interina da constituição
de Cádiz. A família real retornaria para Lisboa, foi comunicado às Cortes.

➢ No entanto, antes da saída, foi decidido que o príncipe real ficaria no Brasil, encarregado do seu
governo provisório, enquanto não se encontrasse estabelecida a Constituição geral da nação. Isso foi
tornado público dia 7 de março.

• Para criar certa legitimidade ao redor da regência de d. Pedro, Silvestre Pinheiro Ferreira,
encarregado de escrever a carta régia sobre a regência, convocou os eleitores, a 21 de abril de 1821, de
comarca para uma reunião no edifício da bolsa da praça do Comércio do RJ. A reunião saiu do controle do
governo e logo fez exigências ao rei, a principal delas que a Constituição de Cádiz fosse jurada
provisoriamente, o que d. João fez. O governo interveio, a reunião foi suprimida no dia seguinte e o
juramento do dia anterior, anulado.

• A situação abalou o espírito de d. João, que então decidiu-se pela partida logo, sem mais delongas.
No dia 26 de abril, 12 embarcações com 4 mil pessoas saíam do RJ em direção à Lisboa.

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PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA

• Com a saída de d. João, o Reino do Brasil passava a ser dirigido por uma Regência com d. Pedro a
frente;

• A situação política era complexa uma vez que o Reino do Brasil estava ligado, a partir de 1815, à Coroa
portuguesa e não mais ao Reino de Portugal. Contudo, apesar disso, as províncias tinham a frente duas
propostas políticas: a adesão às Cortes que se reuniam em Portugal, atuando de modo independente ao
regente, ou a articulação em torno do regente em busca de uma autonomia do reino do Brasil frente ao reino
de Portugal, mas mantendo-se dentro do Império Português;

• A questão torna-se ainda mais dramática porque não havia homogeneidade entre as províncias do
reino do Brasil, sendo mais adequado, de acordo com comentaristas do século XIX, em “Brasis”. Essa
dinâmica entre os poderes difusos das províncias e o poder regencial, que se propõe central, será
fundamental para o processo da independência e explica as reações diversas a ele.

• De acordo com Hélio Franchini, dois pólos no Brasil se formaram: um no Rio de Janeiro, outro no Pará.
O primeiro articulava-se ao redor de D. Pedro em favor de uma unidade do reino do Brasil e que depois se
encaminhou para a independência. O segundo, articulava-se ao projeto das Cortes portuguesas e, no conflito
pela independência, lutou ao dos lusitanos.

• Entre os dois pólos, as demais províncias oscilaram, com cisões internas entre as elites, conforme
seus interesses políticos, econômicos e associações clientelares;

• É importante ressaltarmos a relevância que o Nordeste desempenhava nesse momento. Considerado


em seu conjunto, as províncias do atual Nordeste tinham forte peso demográfico e econômico,
particularmente a Bahia e Pernambuco. Essa relevância foi importantíssima na busca pela adesão dessas
regiões aos dois processos que se desenrolaram e explica a estratégia de guerra que adotou Portugal.

• A questão central discutida nas Cortes portuguesas não se tratou do Brasil especificamente, como se
pode pensar. Ao contrário, preocupava-se com a construção e organização do Estado português, que se

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abrangia em múltiplos territórios, em bases liberais. Serão as discussões sobre esse Estado, sobre as relações
entre as partes do Império português é que levaria ao conflito entre as partes constituintes;

• No geral, duas posições políticas se colocaram nas Cortes portuguesas: a unitária e a dualista;

• A visão unitária defendia a ideia de um exercício da soberania de forma homogênea para todos os
territórios componentes do Império. No geral, deputados portugueses, provindos da burocracia e do grande
comércio, propunha essa organização. Nesse sentido, nenhum tipo de autonomia especial deveria ser dado
às províncias da América – nem jurídica, nem comercial, nem administrativa. Uma ideia de “somos todos
portugueses” e, portanto, devem todos estar sob a mesma organização política;

• A visão dualista, defendida principalmente por deputados do Centro-Sul do Brasil, queriam manter
as autonomias ganhadas com estruturação do Estado português na América por ocasião da vinda da Corte.
Assim, entendiam que o Brasil tinha particularidades que precisavam de regulação própria e que os cabia
aos habitantes de cá do Atlântico decidirem por si sobre essa organização – política, administrativa, judiciária
etc. – que deveria permanecer unida e indivisível. Um documento basilar dessa posição foi feito por Bonifácio
para instruir os deputados paulistas eleitos para as Cortes.

• A conflito entre as partes se iniciou a partir da emissão dos decretos de 21 de setembro de 1821, que
chegaram ao RJ em dezembro.

➢ Por meio deles se criavam as juntas provisórias de governo nas províncias, composta de 5 a 7
membros, e transferia o poder militar a governadores de armas diretamente ligados a Lisboa.
➢ A extinção da Casa de Suplicação e todos os tribunais superiores instalados desde 1808;
➢ O outro decreto ordenava o retorno do príncipe a Portugal.
➢ Quebrava-se, assim, a centralização intentada pelo RJ e a unidade administrativa do Reino do
Brasil liderada pela Regência deixava, na prática, de ter sentido e era absolutamente esvaziada
de poder.
➢ As medidas tornavam Lisboa, portanto, único centro de poder dentro do Império.

• Os decretos se chocavam diretamente com as ideias esposadas pelos “dualistas”, a de igualdade dos
reinos e, portanto, de suas prerrogativas. Os defensores dessa posição é que levantaram a tese de que as
Cortes buscavam “recolonizar o Brasil”, tese que ficou na historiografia brasileira;

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• A Corte do RJ reagiu fortemente aos decretos, acusando as Cortes de terem legislado para o Brasil
sem ter a legitimidade para tanto. Os decretos de setembro ampliaram o apoio à Regência no Brasil por parte
das elites que não queriam perder suas autonomias, com destaque para a burocracia criada no governo
joanino e que muito tinha a perder com esse movimento de perda de autonomia. Criticaram as Cortes por
quererem desunir o Brasil com as juntas provisórias e de submetê-los novamente a um status de colônia.
Especialmente criticaram o envio constante de tropas de Portugal para o Brasil, núcleo duro do que viria a
constituir a resistência portuguesa à independência;

• Assim é que se entende a petição dirigida ao regente para que ficasse no reino, desrespeitando as
ordens enviadas de Lisboa para que retornasse à Europa e a importância do ato de Pedro em 9 de janeiro de
1822.

• É interessante notar que foi a atuação das Cortes lisboetas que levou a uma aglutinação das províncias
brasileiras em torno do projeto de, inicialmente, autonomia e, depois, aberta independência. As Cortes
tratavam o Brasil como unidade cultural – os brasileiros – camada identitária que os portugueses da América
ainda não tinham construído para si mesmos. Em suma, é em reação às cortes que o projeto independentista
toma corpo

• Não quer isso dizer que houvesse unanimidade entre os diversos grupos sobre qual seria a
organização do Estado a se formar, o grau de autonomia das províncias, quais seriam os poderes do monarca
etc. E seriam essas divergências que explodiriam no I Reinado e nas Regências.

• A recusa do príncipe foi tomada pelas Cortes como um movimento de “rebelião”. O uso político do
conceito foi importante para ressaltar a legitimidade da atuação das Cortes, que, assim, respondiam de
forma justa a uma revolta.

• Em 18 de janeiro de 1822, Bonifácio assumiu como Ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros.
Em 16 de fevereiro, convocou um Conselho de Procuradores Gerais das Províncias para aconselhar o
imperador. Em 4 maio de 1822, D. Pedro determinou que nenhum decreto das Cortes seria cumprido no
reino do Brasil sem a aprovação da Regência. Em 23 de maio, o Senado da Câmara do RJ, instigado por
Gonçalves Ledo, requisita a convocação de uma constituinte no Brasil. Em 3 junho, D. Pedro a convoca para
a criação de uma constituição para o reino do Brasil. Em 1º de agosto, D. Pedro proibiu a entrada de outras
tropas portuguesas de entrar em território do reino do Brasil sem autorização, reuniu as tropas presentes
no RJ; Fez uma declaração às províncias do Brasil explicando a “guerra contra o governo de Portugal”, mas
ainda tentando se firmar o Brasil como reino irmão da Europa. Em 6 de agosto, o manifesto para as nações
amigas é proclamado, explicando a posição brasileira principalmente para as potências europeias. Em 14 de
agosto, D. Pedro viajou para as províncias de Minas e São Paulo para assegurar seu apoio. Em 28 de agosto
chegam novos decretos das Cortes: permitiam a permanência de D. Pedro no RJ até a promulgação da
Constituição, mas ordenavam investigações contra as juntas de SP e RJ e anulava a convocação do conselho
dos procuradores. Em 2 de setembro o conselho se reúne e decidem comunicar a situação a D. Pedro. D.
Leopoldina e Bonifácio escrevem ao príncipe urgindo-o a realizar a independência naquele momento sob
pena de, tardando, não conseguir evitar a chegada de mais tropas portuguesas.

• A guerra se desenvolveu principalmente no Nordeste e na Cisplatina. Franchini argumenta que a


estratégia de guerra portuguesa se focou em manter o Norte-Nordeste, já que eram províncias ricas e
prósperas e uma área propícia a ser retomada. D. Pedro, por sua vez, teve de lutar para fazer com que sua
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autoridade se estendesse por todas as províncias do Reino, agora Império, do Brasil. Na Bahia, a luta contra
o governador das Armas, Inácio Luís Madeira de Melo, avançou até 2 de julho 1823, quando capitulou depois
que ao cerco terrestre se juntou a esquadra liderada por Cochrane. Maranhão e Pará, firmes no apoio a
Portugal, se uniram ao Brasil depois da atuação do mesmo almirante. Na Cisplatina, as tropas se dividiram
entre o apoio ao RJ e à Lisboa. As escaramuças entre os dois lados finalizaram-se com um acordo em que as
tropas pró-Portugal puderam se retirar.

• Nesse contexto de efervescência política da Independência, é importante ressaltar a criação de uma


esfera de opinião pública, muito atuante nas principais cidades. A liberdade de imprensa levou a uma grande
circulação de opiniões e ideias, que inflamaram os “partidos” e permitiram discussões intensas sobre
modelos de governo, formas de organização do Estado e espalhou concepções acerca das liberdades
individuais que se tornaram fundamentais no novo regime que nascia;

• Também é importante ressaltar que a consolidação de um Estado no Brasil não significou de imediato
a formação de uma nação brasileira. Barman e Franchini ressaltam as camadas identitárias existentes, sendo
as mais relevantes nesse contexto a da pátria local e não da nação. Será justamente um embate entre visões
que privilegiavam o nacional – identificado com o poder central – e outras que focalizavam o regional –
identificado com as províncias – que deu a tônica das disputas políticas durante o I Reinado e,
principalmente, durante as Regências.

• A guerra continuou até 1825, quando então foi reconhecida a independência nacional. Ricupero
chama atenção para dois momentos: um para o período em que esteve a frente do ministério José Bonifácio,
até 16/07/1823. Outro, depois, que finalizou o tratado com Portugal;

• Bonifácio percebia que a posição brasileira era muito confortável: Portugal, vencido na América, não
tinha condições de enviar uma força suficiente para retomar os territórios perdidos. Por outro lado, entendia
que a Inglaterra tinha todo motivo para apoiar a posição brasileira porque os tratados de comércio estavam
próximos de expirar. Assim, a atitude protelatória para a negociação em termos favoráveis era a melhor
estratégia.

• Essa posição, contudo, não agradava ao Imperador que muito se preocupava com seus interesses
dinásticos e queria assegurar bons termos com Portugal, e assim, seus direitos. Esse apelo foi
particularmente forte depois da Vilafrancada (05/1823), movimento que reinstaurou a monarquia absoluta
em Portugal;

• O acordo de reconhecimento, finalmente finalizado em agosto de 1825, definia:

Art. 1º: Sua Majestade Fidelíssima reconhece o Brasil na categoria de Império


independente, e separado dos reinos de Portugal e Algarves; e a seu sobre todos muito
amado, e prezado filho dom Pedro por imperador, cedendo, e transferindo de sua livre

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vontade a soberania do dito Império ao mesmo seu filho, e a seus legítimos sucessores. Sua
Majestade Fidelíssima toma somente, e reserva para a sua pessoa, o mesmo título.

Art. 2º: Sua Majestade imperial, em reconhecimento de respeito e amor a seu augusto pai,
o senhor dom João VI, anui a que Sua Majestade Fidelíssima tome para a sua pessoa o título
de imperador.

Art. 3º: Sua Majestade imperial promete não aceitar proposições de quaisquer colônias
portuguesas para se reunirem ao Império do Brasil.

Art. 4º: Haverá dora em diante paz e aliança, e a mais perfeita amizade entre o Império do
Brasil e os Reinos de Portugal e Algarves, com total esquecimento das desavenças passadas
entre os povos respectivos.

Art. 5º: Os súditos de ambas as nações, brasileira e portuguesa, serão considerados e


tratados nos respectivos estados como os da nação mais favorecida e amiga, e seus
direitos; e propriedades religiosamente guardadas, e protegidas; ficando entendido que os
atuais possuidores de bens de raiz serão mantidos na posse pacífica dos mesmos bens.

Art. 6º: Toda a propriedade de bens de raiz, ou móveis, e ações, seqüestradas ou


confiscadas, pertencentes aos súditos de ambos os soberanos, do Brasil e de Portugal,
serão logo restituídas, assim como os seus rendimentos passados, deduzidas as despesas
da administração, ou seus proprietários indenizados reciprocamente pela maneira
declarada no artigo 8°.

Art. 7º: Todas as embarcações, e cargas apresadas, pertencentes aos súditos de ambos os
soberanos, serão semelhantemente restituídas, ou seus proprietários indenizados.

Art. 8º: Uma comissão nomeada por ambos os governos, composta de brasileiros e
portugueses em número igual, e estabelecida onde os respectivos governos julgarem por
mais conveniente, será encarregada de examinar a matéria dos artigos 6° e 7°; entendendo-
se que as reclamações deverão ser feitas dentro do prazo de um ano, depois de formada a
comissão, e que no caso de empate nos votos será decidida a questão pelo representante
do soberano mediador. Ambos os governos indicarão os fundos, por onde se hão de pagar
as primeiras reclamações liqüidadas.

Art. 9º: Todas as reclamações públicas de governo a governo serão reciprocamente


recebidas, e decididas, ou com a restituição dos objetos reclamados, ou com uma
indenização do seu justo valor. Para o ajuste destas reclamações, ambas as altas partes
contratantes convieram em fazer uma convenção direta, e especial.

Art. 10: Serão restabelecidas desde logo as relações de comércio entre ambas as nações,
brasileira e portuguesa, pagando reciprocamente todas as mercadorias quinze por cento
de direitos de consumo provisoriamente, ficando os direitos de baldeação e reexportação
da mesma forma que se praticava antes da separação.

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Art. 11: A recíproca troca das ratificações do presente tratado se fará na cidade de Lisboa,
dentro do espaço de cinco meses, ou mais breve, se for possível, contados do dia da
assinatura do presente tratado.

• A assinatura do reconhecimento abria as portas para o reconhecimento das demais potências


europeias, particularmente a Inglaterra, cujo reconhecimento se dá imediatamente, mas cujos tratados são
assinados em 1827;

• Antes da assinatura do reconhecimento português, o Brasil fora reconhecido pelos EUA (1824) e pelos
reinos de Benin e Lagos;

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QUESTÕES COMENTADAS

CACD 2019
Questão 45
A respeito das origens do processo de Independência do Brasil, julgue (C ou E) os itens a seguir.

3 A Revolução Pernambucana, deflagrada em 1817, embora tenha sido rapidamente debelada, teve forte
repercussão nas elites provinciais brasileiras, particularmente em regiões distantes do Rio de Janeiro. O
aumento de impostos e a escassez de interlocução política, de que se ressentiam a maior parte das
províncias, contrastavam com os relatos de uma Corte extravagante e perdulária, levando alguns a
entenderem a transferência da Corte como um colonialismo interno, em que o Rio de Janeiro subjugava as
demais províncias brasileiras.

Comentário:

Item muito bem construído. A situação da Corte joanina no Brasil passou a ser criticada na medida em que a
presença contínua do rei não teve como corolário melhoria de vida ou abertura política, mantendo-se a
monarquia absoluta. A transferência de recursos das províncias ao Rio de Janeiro fez crescer o
descontentamento de províncias de primeira classe com o aparato político existente. Item correto.

4 Inspirada pelas Cortes de Cádiz, que limitaram o poder da monarquia espanhola, deflagrou-se na cidade
do Porto, em 1820, uma revolução similar, cujos desdobramentos logo se fariam sentir nos dois lados do
Atlântico. No caso do Brasil, o confisco indiscriminado de residências particulares, a inquietação das tropas
desmobilizadas após a Revolução Pernambucana e a insatisfação das províncias com as elevações dos
impostos minavam a autoridade da Coroa.

Comentário:

Inspirada nas Cortes de Cádiz e no levante liberal espanhol de 1820, a revolução do Porto iniciaria o processo
cujo desfecho seria a cesura de laços entre Brasil e Portugal. Certo é que a situação interna ao reino do Brasil
facilitou bastante a adesão das províncias às Cortes portuguesas, tais como a insatisfação com o fechamento
do modelo político e descontentamento com os impostos elevados. Item correto.

CACD 2018
Questão 46
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Em novembro de 1807, temendo ser aprisionado pelas tropas de Napoleão Bonaparte, o príncipe regente de
Portugal, D. João VI, deixou Lisboa acompanhado de sua família e de boa parte da nobreza da Corte, em
direção ao Brasil, onde se estabeleceu até 1821, ano em que regressou à metrópole já como rei. Com relação
às diversas consequências, para a colônia, da permanência de D. João VI no Brasil, julgue (C ou E) os itens
seguintes.

1 Em 1808, ocorreu a fundação da Escola Médico-Cirúrgica, na Bahia, bem como a fundação da Academia
Real Militar e da Academia Real da Marinha, no Rio de Janeiro.

Comentário:

O Item foi anulado pela banca por incongruências cronológicas acerca do nome da Escola baiana. Em 1808
ela se chamava Escola de Cirurgia da Bahia, nome que perdurou até 1816. Desta data até 1832, foi nomeada
Escola Médico-Cirúrgica. Ou seja, embora seja a mesma instituição, a “Escola Médico-Cirúrgica” passou a
existir desde 1816 e não desde 1808.

2 A noção de brasilidade, ou seja, a consciência de ser brasileiro, esteve presente desde cedo na cultura
política e na identidade da sociedade brasileira, tendo-se manifestado nas sedições nativistas da
Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana, ambas de cunho emancipacionistas, e, em fins do período
colonial, terminado por ser a base da luta pela independência do Brasil.

Comentário:

A percepção de uma consciência geral de “ser brasileiro” inexistia no período colonial. Eram outras as
camadas identitárias existentes, sobressaindo-se a local e a referência ao rei. As sedições do século XVIII
tiveram caráter regionalista e não propunham uma cesura de “todo o Brasil”. Buscavam, antes, a
independência local, como indica a proposta de uma “República de São João D’el-Rei” da Inconfidência
Mineira. Item errado.

3 Elevou-se o status colonial do Brasil em relação a Portugal com a revogação dos atos que proibiam o
estabelecimento de indústrias e manufaturas na América portuguesa e com a criação de tribunais
semelhantes aos sediados em Lisboa.

Comentário:

A banca foi astuta com esse item. Normalmente se cita o caso da abertura dos portos para se falar da
alteração de status da colônia brasileira com a vinda da família real. Contudo, outros atos políticos,
administrativos e econômicos foram tão relevantes para alterar a configuração então existente na América
Portuguesa. Dentre esses se destacam os mencionados no item, a revogação das proibições de manufaturas
e a criação da Casa de Suplicação de 1808 – que se tornou a última instância apelativa, isto é, os casos
judiciais da América portuguesa não mais seriam julgados pela Casa de Suplicação em Lisboa. Item correto.

4 Nesse período, foram criados o Jardim Botânico no Rio de Janeiro — com espécies oriundas da Índia, das
Ilhas Maurício e da Guiana Francesa — e o Banco do Brasil.
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Comentário:

O item apresenta minúcias para levar o candidato à dúvida. É sabido que foi durante a estadia da família real
portuguesa que o Jardim Botânico e o Banco do Brasil foram criados. O detalhe da vinda das plantas é
“peguinha” desnecessário e intelectualmente irrelevante. De fato, as plantas procederam dessas regiões e
de várias outras. Item correto.

Questão 50

Tendo em vista que o processo de independência do Brasil pode ser compreendido como parte das
profundas mudanças que marcaram a história ocidental a partir do último quartel do século XVIII, julgue (C
ou E) os itens que se seguem.

1 A transferência da Corte portuguesa para a América foi proposta em crises anteriores à de 1807. Seus
defensores consideravam a fragilidade de Portugal em meio às disputas entre as potências europeias,
marcadamente entre França e Inglaterra, e a importância das possessões coloniais para a manutenção da
Coroa portuguesa. Entre os proponentes dessa ideia, encontrava-se o padre Antônio Vieira, ainda no século
XVII.

Comentário:

Com a colonização mais efetiva do território americano, Portugal passou a contemplar a possibilidade de
transferir a Corte para suas possessões ultramarinas como remédio para o constante perigo de avanço de
seus rivais sobre o reino. Essas propostas se deram já no século XVII, sendo Padre Vieira um dos defensores
da ideia, e ganharia fôlego durante o século XVIII, sempre que o reino lusitano se via imiscuído em guerras
na península. Item correto.

2 As convenções assinadas no âmbito do Congresso de Viena evidenciaram os esforços da nobreza


portuguesa em defender os interesses do reino português em detrimento dos do Brasil. Isso se evidencia na
proibição do tráfico de escravos ao norte do Equador, estabelecida no tratado assinado entre Inglaterra e
Portugal, em janeiro de 1815.

Comentário:

Durante o Congresso de Viena foi estabelecido de fato o fim do tráfico ao norte do Equador. Contudo, isso
não era favorável ao reino português. Ao contrário, o tráfico era um negócio importante e lucrativo para
portugueses e “brasileiros”, tanto na compra e venda de escravos quanto para o trabalho na América. Item
errado.

3 O Vintismo pretendia a regeneração e a atualização da tradição política portuguesa, o que se desdobrava


na elaboração de uma Constituição. Tendo o movimento eclodido em agosto de 1820, na cidade do Porto,
com a rápida adesão de Lisboa, as notícias chegaram primeiramente às províncias do norte do reino do Brasil.
O Grão-Pará declarou sua adesão a ele em janeiro de 1821, enquanto a Bahia se manifestou favorável a ele
em fevereiro desse mesmo ano.
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Comentário:

A Revolução Liberal do Porto, ou o movimento vintista, teve um êxito surpreendente, tanto em Portugal
quanto no Brasil. A convocação de novas Cortes para a elaboração de uma constituição para o império
animou as elites luso-brasileiras, que viram a possibilidade de tomar as rédeas da política. Como a Corte do
rei se encontrava no Rio de Janeiro, as províncias do centro-sul demoraram um pouco mais para aderir à
proposta. As do Norte, no entanto, rapidamente decidiram aceitar o novo pacto político que estava sendo
construído, justamente as províncias que tinham maior facilidade de comunicação com Lisboa e cujos laços
comerciais eram mais estreitos com a metrópole. Item correto.

4 A historiografia recente mostra que a tese da independência do Brasil como movimento pacífico não se
sustenta. Embates armados que duraram meses ocorreram em regiões da Bahia, do Piauí, do Maranhão e
do Pará e na Cisplatina. A fragilidade do projeto de independência vencedor em 1822 ficou demonstrada
pelos conflitos no período regencial.

Comentário:

A tese de que a independência do Brasil foi somente um “desquite amigável” sem muito conflito vingou por
muito tempo na historiografia nacional. Ela tem certo sentido somente quando contrastado com os violentos
e longos embates entre as colônias americanas de Espanha e sua metrópole. Contudo, há algum tempo já
se sustenta que o Brasil passou por uma importante guerra de independência nas regiões mencionadas pelo
item. O aspecto de força impresso à forja da nação acabou por transparecer frágil quando da saída do
Imperador na medida em que as elites locais, subjugadas anteriormente sob um projeto centralizador,
buscaram maior autonomia ou independência durante o período regencial. Item correto.

CACD 2015
Questão 45

As circunstâncias históricas europeias de princípios do século XIX foram responsáveis pela transferência da
sede do Estado português para a colônia brasileira. Essa decisão, tomada para preservar o trono lusitano em
mãos da família Bragança em face da invasão francesa, foi decisiva para deflagrar o processo que culminaria
na Independência do Brasil. A esse respeito, julgue os itens subsequentes.

1.O contexto histórico europeu das duas primeiras décadas do século XIX em muito favoreceu a
Independência do Brasil: a relativa paz alcançada com a renúncia de Napoleão Bonaparte ao projeto
expansionista que embalara suas pretensões imperialistas e o fim da era revolucionária levaram as
monarquias ibéricas a conceder a emancipação de suas colônias.

Comentário:

Dos eventos marcantes do início do século XIX, nenhum deles se assemelha com uma renúncia napoleônica
à expansão territorial. Pelo contrário, as duas quedas de Bonaparte se derem em meio a campanhas militares

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(Batalha de Leipzig, em 1813, e Batalha de Waterloo, em 1815). Além disso, o processo de independência
das colônias ibéricas não foi concedido, mas alcançado por embates militares. Assim, item errado.

2.A vitória da Revolução Constitucionalista do Porto, em 1820, teve o efeito de adiar a Independência do
Brasil: por ser liberal, além de eliminar os resquícios de absolutismo em Portugal, ela ampliou
consideravelmente a autonomia da colônia, atendendo aos interesses dos potentados rurais e dos
comerciantes urbanos.

Comentário:

A Revolução do Porto de 1820, mais conhecida como Revolução Liberal do que como Revolução
Constitucionalista, foi, sim, responsável pela instituição de uma monarquia constitucional em Portugal,
encerrando o período absolutista, exigindo o retorno da corte para Lisboa e promovendo importantes
reformas no Estado português. No entanto, o erro central do texto está na descrição de como a revolução
via a situação das colônias, já que as Cortes buscavam diminuir a autonomia dos governos regencial e
provinciais. A revolução foi decisiva para a independência brasileira por conta da influência de ideias e do
retorno da família real para Portugal. Portanto, item errado.

3.A abertura dos portos, tão logo a Corte portuguesa chegou ao Brasil, significou a ruptura do pacto colonial
que definia as relações de dominação e de dependência entre metrópole e colônia, rompendo com o
monopólio (“exclusivo de comércio”) e abrindo largos espaços à entrada de produtos britânicos na colônia;
essa influência britânica ampliou-se, a seguir, com a assinatura de tratados vantajosos para o país pioneiro
da Revolução Industrial.

Comentário:

As medidas tomadas por D. João VI ainda em 1808, quando da chegada da Corte ao Brasil, acabaram por
determinar o fim do exclusivo comercial da colônia com Portugal, impondo, portanto, o fim do pacto colonial.
Pouco tempo depois, por meio dos acordos de 1810, Portugal concedeu grandes vantagens aos produtos
ingleses no Brasil, iniciando uma fase de predomínio inglês no mercado nacional. Item correto.

4.Embora conduzida pelo príncipe herdeiro do trono português, a Independência é consensualmente vista
como ato político que rompeu com as estruturas básicas do período colonial, o que foi possível em face da
conciliação que aproximou as elites brasileiras em torno do projeto maior de assegurar a emancipação do
país e inseri-lo vantajosamente na economia internacional.

Comentário:

Um dos pontos mais comuns na observação sobre a independência brasileira é exatamente a manutenção
de muitas das estruturas econômica e social vindas da colônia – a agricultura monocultora voltada para o
mercado internacional. Também não se pode afirmar que tenha havido coesão total das elites no processo
de emancipação, já que as províncias do Norte tiveram de ser submetidas à força ao projeto de
independência. Item errado.

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Aula 01

CACD 2013
Questão 41

Assinale a opção correta a respeito do processo de independência do Brasil.

A.O movimento republicano secessionista no norte do Brasil, em 1820, propiciou a conscientização da elite
do sudeste da necessidade da independência, a fim de se impedir que regiões brasileiras a fizessem
autonomamente e se desintegrassem do território nacional.

Comentário:

Não se pode atribuir a adesão das elites do Centro-Sul ao projeto de independência no perigo do
esfacelamento territorial. O projeto de independência foi construído paulatinamente à medida que as Cortes
portuguesas buscaram diminuir as autonomias do Reino do Brasil e de suas províncias, autonomias essas
conquistadas ao longo do período em que a Corte portuguesa esteve no Rio de Janeiro. Iniciado o processo
de independência, as províncias do Norte (atuais Norte e Nordeste) tiveram de ser submetidas – pela força
ou negociação. Alternativa incorreta.

B. Embora o exclusivismo comercial tenha acabado em 1808, com a abertura dos portos às nações amigas,
somente em 7 de setembro de 1822, o Brasil deixou de ser colônia política.

Comentário:

A abertura dos portos de 1808, de fato, marca a queda do pacto colonial, já que encerrava o exclusivo
comercial. No entanto, o estatuto da colônia foi encerrado formalmente em 1815, quando o Brasil foi
elevado à condição de reino, criando-se o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Alternativa incorreta.

C.A Revolução Liberal do Porto, de 1820, criou, tanto em Portugal quanto no Brasil, um clima de liberdade,
que favoreceu a discussão de novas ideias políticas.

Comentário:

A Revolução Libera do Porto (1820) colocou estabeleceu a liberdade de imprensa e expressão, permitindo a
ampla circulação de ideias e as mais diversas críticas públicas à condução dos negócios do governo. Para o
Brasil, a possibilidade de questionamento da autoridade central sem que a Coroa pudesse dar respostas
realmente contundentes também significava um momento de possibilidades e de liberdades políticas
importantes. Alternativa correta.

D.A tentativa das Cortes de Lisboa de impor à colônia brasileira a condição de Reino Unido, por acarretar
impostos adicionais à elite local, foi o fato desencadeador da Proclamação da Independência do Brasil.

Comentário:

A condição de Reino Unido foi uma outorga de D. João, e não das Cortes, às colônias americanas portuguesas,
criando uma entidade política, o Reino do Brasil. Alternativa incorreta.
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Aula 01

E.A derrota portuguesa da tentativa de ocupar a Banda Oriental desmoralizou D. João perante as elites
brasileiras e contribuiu para o surgimento do projeto de rompimento dos laços coloniais.

Comentário:

João VI, na guerra contra José Artigas, foi bem-sucedido na anexação da Banda Oriental, criando a província
da Cisplatina. Aproveitando-se das fragilidades dos Estados nascentes com a fragmentação da América
hispânica, D. João VI conseguiu anexar a Banda Oriental ao Reino do Brasil, um lance importante para
reafirmar prestígios domésticos e regionais. Alternativa incorreta.

CACD 2011
Questão 43

Assinale a opção correta com relação ao processo de independência do Brasil.

A. Um tipo de conflito de interesses que reapareceria em outros contextos da história do Brasil, centrado
nas atribuições do Poder Executivo e do Legislativo, ocasionou a primeira grave crise política do nascente
Estado nacional brasileiro e redundou na dissolução da assembleia constituinte encarregada de elaborar a
primeira Constituição do país.

Comentário:

Embora não tenhamos abarcado nesta aula é um item simples para quem já possui maiores conhecimentos
sobre a história política do Primeiro Reinado. Com a resistência da Assembleia Constituinte em aceitar alguns
poderes exigidos pelo imperador, este optou pela sua dissolução e entregou sua construção a um Conselho
de Estado. O texto resultante foi outorgado em 1824. Alternativa correta.

B.O reconhecimento da independência brasileira pela Inglaterra ocorreu quase simultaneamente à decisão
dos Estados Unidos da América de reconhecer o nascimento do Estado brasileiro sob a liderança do antigo
príncipe regente português; em ambos os casos, condicionou-se o reconhecimento à abertura do mercado
brasileiro ao comércio internacional.

Comentário:

Enquanto os Estados Unidos reconheceram a independência brasileira em 1824, o Reino Unido somente o
fez após o reconhecimento português negociado em 1825. Enquanto a ação americana foi baseada na
estratégia política regional, a posição britânica se deu em meio a negociações de retribuições frente a todo
apoio dado nas negociações com Portugal em prol da independência brasileira. Além disso, a questão central
da posição britânica recaía sobre a manutenção e a atualização dos privilégios comerciais dentro do mercado
brasileiro. Alternativa incorreta.

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Aula 01

C. Os dois partidos políticos constituídos no início do Primeiro Reinado, o Conservador e o Liberal,


ofereceram a Dom Pedro I o apoio e a estabilidade política que desapareceu em face da violenta repressão
do governo central a movimentos separatistas como a Cabanagem e a Sabinada.

Comentário:

A rigor, não se pode falar de partidos políticos brasileiros durante o Primeiro Reinado (1822-1831), mas
somente a partir de 1837. De qualquer maneira, as principais facções políticas do Primeiro Reinado foram:
Partido Brasileiro, Partido Português e Partido Liberal-Radical. A divisão entre Conservador e Liberal seria
característica do Segundo Reinado. Alternativa incorreta.

D.A emancipação política do Brasil, além de não ensejar grandes alterações na ordem econômica e social,
preservou a monarquia, em meio aos vizinhos republicanos, situação somente possível devido à existência
de uma elite homogênea, detentora de sólida base social e de um projeto de nação consensualmente
construído.

Comentário:

Mantendo muitas das estruturas econômicas e políticas já existentes, a monarquia brasileira forcejava pela
galvanização de uma elite heterogênea, apostando justamente no princípio “natural” de legitimação do
poder do imperador. Havia dificuldades prementes na manutenção da unidade territorial brasileira, sendo
possível a fragmentação. Entre desencontros e possibilidades, a monarquia conseguiu organizar discursos
destoantes em meio à construção do novo país, dotar-lhe de um projeto nacional ao longo do XIX e assegurar
a unidade territorial. Alternativa incorreta.

E. A Cisplatina e a Bahia foram províncias brasileiras nas quais se manifestou a resistência portuguesa, tendo
o governo de Lisboa contratado comandantes militares estrangeiros, como, por exemplo, o oficial francês
Pedro Labatut, para liderar as tropas lusas no confronto com as forças leais a Dom Pedro I.

Comentário:

Pedro Labatut foi um mercenário francês contratado pelo governo brasileiro para combater as tropas leais a
Portugal na Bahia. Alternativa incorreta.

CACD 2010
Questão 75

Em 1808, a Família Real portuguesa transferiu-se para o Brasil. Acerca desse tema, assinale a opção correta.

a) Entre as grandes transformações ocorridas na Colônia, destaca-se o incremento do comércio com os


Estados Unidos da América, primeira nação a reconhecer a independência do Brasil.

Comentário:
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Aula 01

O comércio da colônia foi voltado favoravelmente aos produtos britânicos já na abertura dos portos (1808)
e de maneira muito clara com a assinatura dos acordos comerciais de 1810. Portanto, com grandes
vantagens, os britânicos eram os maiores parceiros comerciais da colônia. Alternativa incorreta.

b) A revogação do ato que proibiu a instalação de indústrias no Brasil e a abertura dos portos simbolizaram
o fim do monopólio metropolitano.

Comentário:

Com o fim da exclusividade comercial com a metrópole, também perdia sentido a contrapartida
metropolitana de assegurar o protagonismo agroexportador com a proibição da manufatura. Ou seja, a
abertura comercial da colônia acabou por atingir frontalmente os dois grandes pilares do pacto colonial no
início do século XIX. Alternativa correta.
==20852a==

c) Na cidade do Rio de Janeiro, transformada na capital do Império luso, foi criada a primeira universidade
nacional.

Comentário:

A Universidade do Brasil só foi criada em 1920, já na República Velha, sendo a primeira universidade
brasileira. Fundada em 1808, a Escola de Cirurgia da Bahia foi a primeira instituição brasileira de ensino
superior, mas não foi a primeira universidade. Alternativa incorreta.

d) D. João VI elevou, de imediato, o status da Colônia, que passou a ser parte integrante do Reino Unido de
Portugal, Brasil e Algarves.

Comentário:

A elevação do Brasil a reino só ocorreu em 1815, sete anos após a chegada da família real. Alternativa
incorreta.

e) O retorno de D. João VI a Lisboa teve o objetivo político de reinserir Portugal no Concerto Europeu.

Comentário:

A volta da Corte portuguesa para Lisboa ocorreu, antes de tudo, em decorrência da Revolução Liberal do
Porto (1820), que exigia o retorno do rei para Portugal. No concerto europeu, Portugal já tinha sua posição
clara de potência periférica a reboque do Reino Unido, sendo até mesmo preferível fortificar a posição lusa
na América do que tentar dividir espaço na Europa. Ou seja, a razão política para o retorno foi, sobretudo,
interna ao reino português. Alternativa incorreta.

CESPE 2013 – SEE – AL

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Aula 01

Com relação à ida da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, julgue o itens subsecutivos.

( ) Para muitos historiadores, o fim do período colonial brasileiro ocorreu em 1808, quando da chegada da
família real ao Rio de Janeiro. No entanto, a opção pela independência formal do Brasil passou a ser
abertamente discutida apenas em 1820, com a Revolução do Porto.

Comentário:

Como vimos, a elite política do reino do Brasil, aglutinada ao redor de Pedro I, de fato tentou a conciliação
entre as partes do Império luso-brasileiro de modo a evitar a separação formal. O que se buscava, entre 1820
e 1822, era maior autonomia e não independência. As discussões para a cesura total de laços se deram em
1822. Item errado.

( ) A abertura dos portos da América portuguesa às potências amigas foi um dos primeiros atos de D. João
VI ao chegar ao Brasil.

Comentário:

De fato, quando d. João chegou às terras americanas, um de seus primeiros atos foi a abertura dos Portos
em 1808. Item correto.

( ) A transferência da Corte para a América portuguesa foi aventada em diferentes crises anteriores à de
1808, como estratégia para manutenção da soberania do pequeno reino ibérico frente às potências
europeias.

Comentário:

A vinda da família real e da burocracia régia para suas possessões coloniais já era um projeto pensado desde,
pelo menos, o século XVII como uma forma de dar maior liberdade de ação ao governo português, sempre
acossado pela grande vizinha Espanha. Item correto.

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Aula 01

LISTA DE QUESTÕES
CACD 2019
1. Questão 45
A respeito das origens do processo de Independência do Brasil, julgue (C ou E) os itens a seguir.

3 A Revolução Pernambucana, deflagrada em 1817, embora tenha sido rapidamente debelada, teve forte
repercussão nas elites provinciais brasileiras, particularmente em regiões distantes do Rio de Janeiro. O
aumento de impostos e a escassez de interlocução política, de que se ressentiam a maior parte das
províncias, contrastavam com os relatos de uma Corte extravagante e perdulária, levando alguns a
entenderem a transferência da Corte como um colonialismo interno, em que o Rio de Janeiro subjugava as
demais províncias brasileiras.

4 Inspirada pelas Cortes de Cádiz, que limitaram o poder da monarquia espanhola, deflagrou-se na cidade
do Porto, em 1820, uma revolução similar, cujos desdobramentos logo se fariam sentir nos dois lados do
Atlântico. No caso do Brasil, o confisco indiscriminado de residências particulares, a inquietação das tropas
desmobilizadas após a Revolução Pernambucana e a insatisfação das províncias com as elevações dos
impostos minavam a autoridade da Coroa.

CACD 2018
2. Questão 46

Em novembro de 1807, temendo ser aprisionado pelas tropas de Napoleão Bonaparte, o príncipe regente de
Portugal, D. João VI, deixou Lisboa acompanhado de sua família e de boa parte da nobreza da Corte, em
direção ao Brasil, onde se estabeleceu até 1821, ano em que regressou à metrópole já como rei. Com relação
às diversas consequências, para a colônia, da permanência de D. João VI no Brasil, julgue (C ou E) os itens
seguintes.

1 Em 1808, ocorreu a fundação da Escola Médico-Cirúrgica, na Bahia, bem como a fundação da Academia
Real Militar e da Academia Real da Marinha, no Rio de Janeiro.

2 A noção de brasilidade, ou seja, a consciência de ser brasileiro, esteve presente desde cedo na cultura
política e na identidade da sociedade brasileira, tendo-se manifestado nas sedições nativistas da
Inconfidência Mineira e da Conjuração Baiana, ambas de cunho emancipacionistas, e, em fins do período
colonial, terminado por ser a base da luta pela independência do Brasil.

3 Elevou-se o status colonial do Brasil em relação a Portugal com a revogação dos atos que proibiam o
estabelecimento de indústrias e manufaturas na América portuguesa e com a criação de tribunais
semelhantes aos sediados em Lisboa.

4 Nesse período, foram criados o Jardim Botânico no Rio de Janeiro — com espécies oriundas da Índia, das
Ilhas Maurício e da Guiana Francesa — e o Banco do Brasil.
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Aula 01

3. Questão 50

Tendo em vista que o processo de independência do Brasil pode ser compreendido como parte das
profundas mudanças que marcaram a história ocidental a partir do último quartel do século XVIII, julgue (C
ou E) os itens que se seguem.

1 A transferência da Corte portuguesa para a América foi proposta em crises anteriores à de 1807. Seus
defensores consideravam a fragilidade de Portugal em meio às disputas entre as potências europeias,
marcadamente entre França e Inglaterra, e a importância das possessões coloniais para a manutenção da
Coroa portuguesa. Entre os proponentes dessa ideia, encontrava-se o padre Antônio Vieira, ainda no século
XVII.

2 As convenções assinadas no âmbito do Congresso de Viena evidenciaram os esforços da nobreza


portuguesa em defender os interesses do reino português em detrimento dos do Brasil. Isso se evidencia na
proibição do tráfico de escravos ao norte do Equador, estabelecida no tratado assinado entre Inglaterra e
Portugal, em janeiro de 1815.

3 O Vintismo pretendia a regeneração e a atualização da tradição política portuguesa, o que se desdobrava


na elaboração de uma Constituição. Tendo o movimento eclodido em agosto de 1820, na cidade do Porto,
com a rápida adesão de Lisboa, as notícias chegaram primeiramente às províncias do norte do reino do Brasil.
O Grão-Pará declarou sua adesão a ele em janeiro de 1821, enquanto a Bahia se manifestou favorável a ele
em fevereiro desse mesmo ano.

4 A historiografia recente mostra que a tese da independência do Brasil como movimento pacífico não se
sustenta. Embates armados que duraram meses ocorreram em regiões da Bahia, do Piauí, do Maranhão e
do Pará e na Cisplatina. A fragilidade do projeto de independência vencedor em 1822 ficou demonstrada
pelos conflitos no período regencial.

CACD 2015
4. Questão 45

As circunstâncias históricas europeias de princípios do século XIX foram responsáveis pela transferência da
sede do Estado português para a colônia brasileira. Essa decisão, tomada para preservar o trono lusitano em
mãos da família Bragança em face da invasão francesa, foi decisiva para deflagrar o processo que culminaria
na Independência do Brasil. A esse respeito, julgue os itens subsequentes.

1.O contexto histórico europeu das duas primeiras décadas do século XIX em muito favoreceu a
Independência do Brasil: a relativa paz alcançada com a renúncia de Napoleão Bonaparte ao projeto
expansionista que embalara suas pretensões imperialistas e o fim da era revolucionária levaram as
monarquias ibéricas a conceder a emancipação de suas colônias.

2.A vitória da Revolução Constitucionalista do Porto, em 1820, teve o efeito de adiar a Independência do
Brasil: por ser liberal, além de eliminar os resquícios de absolutismo em Portugal, ela ampliou

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consideravelmente a autonomia da colônia, atendendo aos interesses dos potentados rurais e dos
comerciantes urbanos.

3.A abertura dos portos, tão logo a Corte portuguesa chegou ao Brasil, significou a ruptura do pacto colonial
que definia as relações de dominação e de dependência entre metrópole e colônia, rompendo com o
monopólio (“exclusivo de comércio”) e abrindo largos espaços à entrada de produtos britânicos na colônia;
essa influência britânica ampliou-se, a seguir, com a assinatura de tratados vantajosos para o país pioneiro
da Revolução Industrial.

4.Embora conduzida pelo príncipe herdeiro do trono português, a Independência é consensualmente vista
como ato político que rompeu com as estruturas básicas do período colonial, o que foi possível em face da
conciliação que aproximou as elites brasileiras em torno do projeto maior de assegurar a emancipação do
país e inseri-lo vantajosamente na economia internacional.

CACD 2013
5. Questão 41

Assinale a opção correta a respeito do processo de independência do Brasil.

A.O movimento republicano secessionista no norte do Brasil, em 1820, propiciou a conscientização da elite
do sudeste da necessidade da independência, a fim de se impedir que regiões brasileiras a fizessem
autonomamente e se desintegrassem do território nacional.

B. Embora o exclusivismo comercial tenha acabado em 1808, com a abertura dos portos às nações amigas,
somente em 7 de setembro de 1822, o Brasil deixou de ser colônia política.

C.A Revolução Liberal do Porto, de 1820, criou, tanto em Portugal quanto no Brasil, um clima de liberdade,
que favoreceu a discussão de novas ideias políticas.

D.A tentativa das Cortes de Lisboa de impor à colônia brasileira a condição de Reino Unido, por acarretar
impostos adicionais à elite local, foi o fato desencadeador da Proclamação da Independência do Brasil.

E.A derrota portuguesa da tentativa de ocupar a Banda Oriental desmoralizou D. João perante as elites
brasileiras e contribuiu para o surgimento do projeto de rompimento dos laços coloniais.

CACD 2011
6. Questão 43

Assinale a opção correta com relação ao processo de independência do Brasil.

A. Um tipo de conflito de interesses que reapareceria em outros contextos da história do Brasil, centrado
nas atribuições do Poder Executivo e do Legislativo, ocasionou a primeira grave crise política do nascente

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Estado nacional brasileiro e redundou na dissolução da assembleia constituinte encarregada de elaborar a


primeira Constituição do país.

B.O reconhecimento da independência brasileira pela Inglaterra ocorreu quase simultaneamente à decisão
dos Estados Unidos da América de reconhecer o nascimento do Estado brasileiro sob a liderança do antigo
príncipe regente português; em ambos os casos, condicionou-se o reconhecimento à abertura do mercado
brasileiro ao comércio internacional.

C. Os dois partidos políticos constituídos no início do Primeiro Reinado, o Conservador e o Liberal,


ofereceram a Dom Pedro I o apoio e a estabilidade política que desapareceu em face da violenta repressão
do governo central a movimentos separatistas como a Cabanagem e a Sabinada.

D.A emancipação política do Brasil, além de não ensejar grandes alterações na ordem econômica e social,
preservou a monarquia, em meio aos vizinhos republicanos, situação somente possível devido à existência
de uma elite homogênea, detentora de sólida base social e de um projeto de nação consensualmente
construído.

E. A Cisplatina e a Bahia foram províncias brasileiras nas quais se manifestou a resistência portuguesa, tendo
o governo de Lisboa contratado comandantes militares estrangeiros, como, por exemplo, o oficial francês
Pedro Labatut, para liderar as tropas lusas no confronto com as forças leais a Dom Pedro I.

CACD 2010
7. Questão 75

Em 1808, a Família Real portuguesa transferiu-se para o Brasil. Acerca desse tema, assinale a opção correta.

a) Entre as grandes transformações ocorridas na Colônia, destaca-se o incremento do comércio com os


Estados Unidos da América, primeira nação a reconhecer a independência do Brasil.

b) A revogação do ato que proibiu a instalação de indústrias no Brasil e a abertura dos portos simbolizaram
o fim do monopólio metropolitano.

c) Na cidade do Rio de Janeiro, transformada na capital do Império luso, foi criada a primeira universidade
nacional.

d) D. João VI elevou, de imediato, o status da Colônia, que passou a ser parte integrante do Reino Unido de
Portugal, Brasil e Algarves.

e) O retorno de D. João VI a Lisboa teve o objetivo político de reinserir Portugal no Concerto Europeu.

8. CESPE 2013 – SEE – AL

Com relação à ida da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, julgue o itens subsecutivos.
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( ) Para muitos historiadores, o fim do período colonial brasileiro ocorreu em 1808, quando da chegada da
família real ao Rio de Janeiro. No entanto, a opção pela independência formal do Brasil passou a ser
abertamente discutida apenas em 1820, com a Revolução do Porto.

( ) A abertura dos portos da América portuguesa às potências amigas foi um dos primeiros atos de D. João
VI ao chegar ao Brasil.

( ) A transferência da Corte para a América portuguesa foi aventada em diferentes crises anteriores à de
1808, como estratégia para manutenção da soberania do pequeno reino ibérico frente às potências
europeias.

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GABARITO

1. C, C 4. E, E, C, E 7. Letra B
2. X, E, C, C 5. Letra C 8. E, C, C
3. C, E, C, C 6. Letra A

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