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A formacao economica brasileira a caminho da autonomia politica:

uma analise estrutural e conjuntural do período pre-Independência

Paulo Roberto de Almeida


Publicado in Luís Valente de Oliveira e Rubens Ricupero (orgs.), A Abertura dos Portos (São
Paulo: Senac-SP, 2007; p. 256-283; ISBN: 978-85-7359-651-9).

Introdução
A vinda da família real portuguesa ao Brasil, no contexto da invasão napoleônica a Portugal,
que redundará na independência da colônia, é um resultado do Bloqueio Continental, que deriva da
guerra entre a Grã-Bretanha e a França napoleônica, depois do fracasso da Paz de Amiens (1802).
Obviamente, a independência política ocorreria mais cedo ou mais tarde – nas colônias espanholas
do Novo Mundo, a partida se dá em 1810 –, mas o processo também resulta da invasão napoleônica
na península Ibérica e o afastamento dos antigos soberanos castelhanos. O Bloqueio Continental –
aplicado em ambos os sentidos, isto é, da França contra a Grã-Bretanha e desta contra os países
aliados ou submetidos a Napoleão –1 é, assim, um elemento central na “conjuntura histórica de
transformação” que vai resultar em mudanças políticas e econômicas no mundo ibérico e no reforço
econômico da Grã-Bretanha, que consolida sua hegemonia comercial e financeira sobre os
intercâmbios mundiais pelo resto do século XIX.
Decretado por Napoleão em novembro de 1806, o bloqueio proibia o comércio entre os
portos do continente e a Inglaterra e tomava navios e mercadorias ingleses que estivessem nos portos
alcançados pela medida. Ele foi objeto de contramedidas britânicas, bastante efetivas, na medida em
que a Royal Navy detinha o controle dos mares. Portugal tergiversou o quanto pôde entre as duas

1
Já em 1803 são adotadas as primeiras medidas para aniquilar o comércio inglês no continente, ao que a
Inglaterra responde imediatamente com várias medidas retaliatórias. Os portos franceses são fechados a
todo e qualquer navio inglês, taxas exorbitantes são impostas a todos os produtos que poderiam ser
fornecidos pela Inglaterra e se proíbe a entrada de qualquer produto primário vindo das colônias inglesas.
Em 11 de novembro de 1806, o almirantado inglês proclama o bloqueio marítimo de todos os portos de
Brest até Hamburgo, ao que Napoleão responde, em Berlim, com a decretação do Bloqueio Continental
em 21 de novembro: todo súdito inglês seria tratado como prisioneiro de guerra, toda mercadoria inglesa
seria confiscada e todo navio inglês capturado. Um ano depois, em 11 de novembro de 1807, o almirantado
declara que todos os navios neutros, antes de seguir ao seu porto de destino no continente, deveriam atracar
em um porto inglês para verificação do carregamento e para adquirir uma licença de navegação a um
preço elevado. Napoleão responde, por sua vez, por um decreto de Milão, ordenando que todos os navios
neutros se dirigindo a um porto inglês poderiam ser apreendidos e nacionalizados. Cf. Louis André,
Histoire économique depuis l’Antiquité jusqu’à nos jours (Paris: Félix Alcan, 1930), p. 100. É nesse
contexto que Napoleão intima Portugal a se fechar aos navios ingleses.

1
potências, até que, em novembro de 1807, cansado das hesitações do príncipe regente, Napoleão
ordenou que um pequeno exército sob o comando de Junot iniciasse a marcha para a tomada desse
“quintal inglês” no continente. Estava dada a partida para o processo político da independência
brasileira, a concretizar-se apenas quinze anos mais tarde. Tinha também início um processo de
transformações econômicas na interface econômica do Brasil com o mundo que, contraditoriamente,
modifica muito pouco sua estrutura econômica mais profunda.
O presente texto pretende examinar a estrutura e a conjuntura econômica do Brasil pré-
Independência, colocando seu sistema econômico no contexto do mercantilismo do século XVIII e
da Revolução Industrial do início do século XIX, tratando, igualmente, das transformações já em
curso na própria colônia e daquelas provocadas pela “integração” da metrópole à colônia, aliás, a
mais importante “peça” do sistema imperial português da era moderna. Ademais das questões de
comércio internacional, o texto aborda também os pré-requisitos, em grande medida insatisfeitos,
para o deslanchar de um processo de crescimento sustentado na mais importante colônia lusa.

1. Situação econômica do Brasil Colônia, até 1808


As relações econômicas internacionais do Brasil Colônia eram dominadas, como se sabe,
pelo chamado “pacto colonial”, isto é, pelos laços de exclusividade que prendiam a colônia à
metrópole, restringidos os intercâmbios comerciais, os movimentos de capitais e de pessoas pelo
controle obrigatório da Coroa ou das companhias de comércio por ela autorizadas, geralmente sob
regime de monopólio. O domínio se estendia a todos os aspectos da vida colonial, mas foi
evidentemente no terreno econômico que as consequências foram mais fundas para o perfil
econômico futuro do Brasil, uma vez que as ideias, mesmo cerceadas, acabam circulando mais
facilmente, de que são testemunho as leituras de obras estrangeiras feitas pelos inconfidentes
mineiros, nomeadamente filósofos franceses e documentos constitucionais americanos.
Internamente, a economia brasileira atravessava uma fase de dificuldades, não apenas
conjunturais, com o esgotamento da maior parte da exploração aurífera das Minas Gerais, na
tecnologia então disponível ou naquela empregada pelos mineradores da região. A agricultura volta
a ocupar lugar de destaque, com predominância, não mais do açúcar nordestino, mas do algodão e,
crescentemente, do café. Concorrentemente, o arroz, o anil e o cacau despontam também na pauta
de exportações. O Brasil era a peça mais importante do comércio exterior de Portugal, mas não
apenas deste, pois que a economia portuguesa, em seu conjunto e, particularmente, as receitas do
Estado português eram afetadas favoravelmente pelas rendas obtidas na colônia americana. Com

2
efeito, praticamente desde o século XVI, “o Estado português obtinha a maior parte dos seus
proventos das tarifas aduaneiras e dos monopólios comerciais, que em geral eram estabelecidos
sobre os produtos ultramarinos. Calcula-se que, nos tempos de Pombal, o comércio com o Brasil
providenciava, de uma ou outra forma, quase 40% das receitas públicas”. 2
Durante o período colonial, o Brasil se constituía, efetivamente, numa das mais lucrativas
possessões do Portugal ultramarino, responsável que foi, no período anterior ao bloqueio, por mais
de 60% das reexportações de produtos vendidos às nações estrangeiras. Exportador de produtos tais
como: açúcar, fumo e algodão; grande importador de escravos, cujo comércio provavelmente
alcançava um quarto do valor importado pela colônia, o país representava um dos centros mais
importantes da atividade mercantil lusitana, que nele se abastecia em cerca de dois terços de todos
os produtos trocados com terceiros países, à exclusão do ouro e dos diamantes. Na pauta de
exportação, relativamente concentrada do final do século XVIII, figurava com destaque o açúcar e
o algodão (com 30% e 25% do total exportado, respectivamente), além do ouro (25%) e alguns
outros poucos produtos primários, entre os quais o pau-brasil, ainda objeto de monopólio real.3
Junto com a política do monopólio comercial, Portugal tinha no Brasil um mercado cativo
para sua produção manufatureira, que, antes da transferência da Corte, chegou a concentrar 93% do
total dos artigos manufaturados exportados. De fato, como confirma um historiador alemão do
século XIX,
até o fim da dominação colonial portuguesa, ficou o Brasil completamente fechado ao
comércio mundial, à imigração e mesmo à simples visita de estrangeiros, certamente para grande
infelicidade desta colônia! Porém, não devemos por isso julgar com demasiada severidade o
procedimento do governo português; pois ele não procedia pior do que era o costume geral então.
Todas as potências europeias usavam, àquela época, de um sistema colonial mesquinho,
interesseiro; elas fechavam, por princípio, as suas possessões transatlânticas ao comércio
estrangeiro.4

As medidas restritivas à fabricação local, existentes de modo geral desde o início do regime
colonial, tinham sido intensificadas no decurso do século XVIII, quando aumentaram as
necessidades financeiras da metrópole, ao mesmo tempo que diminuía correlativamente a produção

2
Cf. Jorge Miguel Viana Pedreira, Estrutura industrial e mercado colonial: Portugal e Brasil, 1780-1830
(Linda-a-Velha: Difel, 1994), p. 270, que cita dados de Vitorino de Magalhães Godinho, “Finanças
públicas e estrutura do Estado”, em Godinho, Ensaios II. Sobre a História de Portugal (2a ed. Lisboa:
1978), p. 72.
3
Cf. Arno Wehling e Maria José C. de Wehling, Formação do Brasil colonial (Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1994), p. 217.
4
Cf. Heinrich Handelmann, História do Brasil, tomo 2 (4a ed. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp,
1982) [1a ed. 1860], p. 164.

3
de ouro nas “minas gerais”. 5 As restrições às relações econômicas externas do Brasil tinham sido
impostas ainda no século anterior, com a expansão das companhias de comércio detentoras do
monopólio. Em virtude das cartas régias de 1661 e 1662, era proibido aos navios estrangeiros o
comércio com o Brasil e, vinte anos mais tarde, se interditava também às embarcações saídas do
Brasil atracar primeiro em portos estrangeiros; da mesma forma, as pessoas que deixavam o Brasil
tinham de passar primeiro por Portugal.
Do ponto de vista das relações comerciais internacionais de Portugal, o Tratado de Methuen
de 1703 transformara Lisboa em um simples entreposto aduaneiro em benefício dos comerciantes
ingleses.6 O economista historiador Celso Furtado é particularmente cáustico contra esse
instrumento da subordinação econômica portuguesa:
O pequeno desenvolvimento manufatureiro que tivera Portugal a fins do século anterior
resulta de uma política ativa que compreendera a importação de mão-de-obra especializada. O
acordo de 1703 com a Inglaterra destruiu esse começo de indústria e foi de consequências profundas
tanto para Portugal quanto para sua colônia. Houvessem chegado ao Brasil imigrantes com alguma
experiência manufatureira, e o mais provável é que as iniciativas surgissem no momento adequado,
desenvolvendo-se uma capacidade de organização técnica que a colônia não chegou a conhecer.7

Não há certeza sobre quão ativa foi a política de Portugal pré-pombalino, ou que no Brasil
colonial pudessem surgir iniciativas manufatureiras próprias, ambos os processos dependentes de
artífices especializados que Portugal estava longe de possuir. Mas o fato é que a administração

5
Como diz Rodolfo Garcia, “a legislação portuguesa, em relação à agricultura, indústria, comércio e
navegação da colônia no Brasil, é de uma complexidade desconcertante [ressaltando] a constante
intervenção do governo nos negócios que diziam respeito àquelas fontes da riqueza colonial, de que ele
afinal era quem tirava os maiores proventos”; ver Ensaio sobre a história política e administrativa do
Brasil, 1500-1810 (2a ed. Rio de Janeiro/Brasília: José Olympio/INL, 1975), p. 108.
6
O texto do Tratado de Methuen — nos termos do intercâmbio “estático” de produtos que ele previa — é tão
exemplarmente emblemático das relações econômicas desiguais que entretinham, desde longa data,
Portugal e Inglaterra, e tão revelador de diferenças estruturais entre economias situadas em extremos
opostos do processo produtivo, que David Ricardo, quase um século mais tarde, se utilizaria dele para
ilustrar sua famosa teoria das “vantagens comparativas”, segundo a qual duas economias diferentemente
dotadas realizam um comércio mutuamente benéfico em função de suas especializações naturais. Pelo seu
artigo 1o, Sua Sagrada Majestade El-Rei de Portugal prometia, “tanto em seu próprio nome como no dos
seus sucessores, admitir para sempre de aqui em diante, no reino de Portugal, os panos de lã e mais fábricas
de lanifício da Inglaterra”, enquanto, pelo artigo 2o, a Real Majestade Britânica ficava “obrigada para
sempre, de aqui em diante, de admitir na Grã-Bretanha os vinhos de Portugal [...] diminuindo ou abatendo
uma terça parte do direito de costume”; cf. Francisco Antonio Correa, História econômica de Portugal,
vol. II (Lisboa: Empresa Nacional de Publicações, 1930), pp. 44-45. Esse acordo, em vigor durante 132
anos, foi renovado pelo artigo 26 do tratado de comércio de 1810 e só foi denunciado por portaria
portuguesa de 1835, segundo alguns autores para agradar à França; cf. José Manuel Fragoso, História
diplomática de Portugal (Rio de Janeiro: Real Gabinete Português de Leitura, 1977), p. 112.
7
Cf. Celso Furtado, Formação econômica do Brasil (17a ed. São Paulo: Nacional, 1980), pp. 80-81.

4
pombalina procurou insurgir-se, a partir de 1750, contra o Tratado de Methuen. Pombal, numa
espécie de “mercantilismo esclarecido”, buscou incentivar o povoamento da colônia americana,
consolidar suas fronteiras, incrementar o comércio e diversificar a produção. A decadência da
mineração abriu espaço ao desenvolvimento da agricultura e da pecuária. O surto demográfico e o
crescimento das atividades industriais no Velho Mundo valorizaram os mercados e produtos
coloniais. O Brasil estava apto a fornecer, via Portugal, uma série de matérias-primas de crescente
demanda na Europa: cacau, couro, açúcar, tabaco, madeiras e, a partir das inovações mecânicas de
Arkwright e Cartwright, o algodão que passou a abastecer os teares ingleses que estiveram na origem
da Primeira Revolução Industrial. 8 O quadro 1 resume os fluxos das relações comerciais do Brasil
com o resto do mundo ao início da Revolução Industrial.

Quadro 1
Relações comerciais do Brasil no final do século XVIII
Portugal África ocidental Índia
Europa portuguesa Ásia
açúcar, algodão, couro, tabaco, ouro, diamantes,
Exportações ouro, diamantes, ouro, farinha couros
couros, tinturas
vinhos, azeites, escravos, especiarias,
Importações manufaturados marfim louças, mudas,
plantas
Fonte: Arno e M. J. Wehling, Formação do Brasil colonial, cit., p. 199.

A atividade econômica na colônia era ainda agravada pela intervenção do Estado, em vista
das necessidades crescentes do erário, tanto colonial como metropolitano. Não só a política
mercantilista de monopólios mantinha uma série de impostos e taxas exclusivas da Real Fazenda,

8
O açúcar, do qual o Brasil tinha sido o maior fornecedor mundial no século XVII, passou a enfrentar a
concorrência das Índias Ocidentais a partir do momento em que os holandeses, expulsos do Nordeste,
passaram a organizar sua produção em novas bases. Segundo Normano, houve igualmente uma causa
interna, da maior importância, para a decadência de sua produção. “A descoberta de minas de ouro e
diamantes na segunda metade do século XVII, culminando com o ‘rush’ de 1693, em Minas Gerais,
produziu uma intensa migração de população, desertando-se as plantações de açúcar.” No plano externo,
a “política de economia continental de Napoleão que incentivou o cultivo da beterraba, desferiu um rude
golpe no comércio do açúcar”; ver J. F. Normano, Evolução econômica do Brasil, capítulo II: “A
permanente mudança dos produtos principais” (2a ed. São Paulo: Nacional, 1975, pp. 36-68), pp. 36-38.
No que se refere ao café, apesar de presente na economia colonial a partir das primeiras plantações no
Norte do país, sua produção e exportação apenas ganhariam destaque depois de 1820, quando ele se
espalha pelo Vale do Paraíba, tornando-se, a partir de então, o sustentáculo da economia brasileira durante
mais de um século.

5
ademais da introdução de subsídios “temporários” que se tornavam permanentes (como o literário
ou o da reconstrução de Lisboa), como também a contratação da cobrança por particulares
multiplicava as oportunidades de exação fiscal. O quadro 2 apresenta a tipologia da arrecadação pelo
Estado colonial que vigorou até 1808.

Quadro 2
Tipologia da arrecadação colonial em vigor em 1808
1. Tributos
quinto, dízimas, alfandegárias, dízimos eclesiásticos, subsídios
1.1. Impostos extraordinários (consulado, subsídio para a reconstrução de Lisboa,
literário)
1.2. Taxas selos (contraprestação de serviços, provisões de mercês, passagens
de rios, guindastes da Alfândega)
2. Contratos arrematação, por particulares, da cobrança de impostos ou taxas;
arrendamento de produtos sujeitos a monopólio (pau-brasil, sal,
aguardente, salitre, pólvora e caça da baleia)
3. Donativos arrematação de cargos públicos (à vista ou com amortização),
considerados como doação do soberano
Fonte: Arno e M. J. Wehling, Formação do Brasil colonial, cit., p. 306.

2. Transformações econômicas a partir do decreto de Abertura dos Portos


Estabelecido o princípio do livre-comércio a partir do alvará régio de janeiro de 1808, tratou-
se de criar condições para a produção local e, para esta, foi prevista certa proteção contra a
concorrência estrangeira. 9 Por alvará de 1o de abril de 1808 foram eliminadas as restrições que
tinham sido impostas em 1785 à indústria no Brasil, decretando-se a liberdade de fundação de “todo
gênero de manufaturas” em qualquer parte do país, tanto aos vassalos da Coroa portuguesa como
aos estrangeiros que aqui decidissem residir. Um decreto de 11 de junho alterou a carta de 28 de
janeiro na parte relativa aos direitos alfandegários, determinando-se que as mercadorias de
propriedade dos portugueses “e por sua conta carregadas em embarcações nacionais” pagassem
apenas 16% de direitos (em lugar dos 24% fixados para as estrangeiras). Também foram isentas de
impostos as matérias-primas que tivessem de ser importadas pelas fábricas, assim como todas as

9
José da Silva Lisboa, um dos inspiradores da medida de Abertura dos Portos, escreve, nesse mesmo ano,
sua defesa dos interesses econômicos brasileiros, no livro Observações sobre o comércio franco no Brasil
(Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1808), cuja leitura dá a chave explicativa de seu outro livro, de 1810,
sobre a franquia das indústrias no Brasil; cf. Fernando Antonio Novais e José Jobson de Andrade Arruda,
“Prometeus e Atlantes na forja da nação”, introdução a José da Silva Lisboa (visconde de Cairu),
Observações sobre a franqueza da indústria, e estabelecimento de fábricas no Brasil, Biblioteca Básica
Brasileira (Brasília: Senado Federal, 1999).

6
exportações, até então submetidas a gravames. Passaram a ser concedidos privilégios aos inventores
e procurou-se favorecer a introdução de máquinas e equipamentos novos. Um primeiro exemplo de
“reserva de mercado” ficou estabelecido ao se declarar a preferência por artigos nacionais no
fornecimento de provisões para o Exército e a Marinha.10
Os reflexos da nova situação manifestaram-se de imediato na nova atividade dos portos
brasileiros e no incremento às atividades locais, como não deixou de registrar um cronista
contemporâneo:
Deste modo, não intervindo os negociantes de Lisboa e do Porto, chegavam as cousas de
fora mais baratas e saíam as da terra mais caras, do que antigamente. Por outra parte com a chegada
de muitos navios mercantes não podia haver falta dos artigos comerciais estranhos e aumentando-
se com a esperança do maior lucro a agricultura do país, devia ser grande a abundância dos gêneros
destas. Tudo assim logo sucedeu. Foi mais o tabaco da Bahia, o café do Pará e do Rio de Janeiro, o
arroz do Maranhão, o algodão deste e da Bahia, e a madeira e courama das capitanias marítimas.11

Efetivamente, os navios estrangeiros, em especial ingleses, afluíram ao porto do Rio de


Janeiro em grande número, como se pode constatar pelo quadro 3. Esses navios não apenas traziam
os mais diversos artigos estrangeiros, mas transportavam uma produção brasileira que se
diversificava crescentemente. Na verdade, a Abertura dos Portos entre 1808 e 1816 beneficiou
exclusivamente aos mercadores ingleses. “Somente após a grande pacificação, presidida por
Metternich, é que os portos brasileiros foram, de fato, abertos a todo o comércio internacional.” 12

Quadro 3
Movimento de navios no Rio de Janeiro, 1805-1820
Portugueses Estrangeiros
1805 810 —
1806 642 —
1807 777 1
1808 765 90
1809 822 83
1810 1.214 422
1811-1815 (aproximadamente mesma média anual que em 1810)
1819 1.313 350
1820 1.311 354
Fonte: R. Simonsen, História econômica do Brasil, II, cit., p. 313.

10
Mais tarde, por decreto de 23 de novembro de 1816, foi estabelecido que o comércio de cabotagem deveria
ser feito exclusivamente por embarcações nacionais.
11
De acordo com a História do Brasil desde 1807 até o presente (Lisboa, 1819), em Revista do Instituto
Histórico do Rio de Janeiro, citada por Roberto Simonsen, História econômica do Brasil, Brasiliana, tomo
II (São Paulo: Nacional, 1937), p. 258.
12
Cf. Dorival Teixeira Vieira, Evolução do sistema monetário brasileiro (São Paulo: Faculdade de Ciências
Econômicas e Administrativas da USP, 1962), p. 38.

7
Quais eram os mais importantes produtos da pauta de exportação brasileira em princípios do
século XIX? O açúcar ocupava ainda o primeiro lugar, uma cultura em franca recuperação no
Nordeste brasileiro depois da feroz concorrência antilhana exercida por holandeses, britânicos e
franceses, sobretudo depois dos acontecimentos que sacudiram o Haiti, o maior exportador no
período anterior à Revolução Francesa. Em segundo lugar vinha o algodão, concentrado no
Maranhão, seguido pelo fumo, produto estratégico no escambo negreiro. O arroz também ganhou
importância, favorecido pela Guerra da Independência dos Estados Unidos, da mesma forma que o
anil. Estavam presentes o pau-brasil, ainda monopólio da Coroa, os couros, provenientes do Sul, o
cacau do Pará, gomas, ceras e drogas do Pará e do Maranhão, óleo de baleia das províncias costeiras,
além de ouro e diamantes em quantidades reduzidas. Na verdade, ao iniciar-se o século XIX, a
economia brasileira já superara a de Portugal: mais da metade das exportações portuguesas
anteriores a 1808 era constituída de produtos brasileiros reexportados sem qualquer elaboração em
Portugal.13 O quadro 4 dá a participação dos diferentes produtos nas rendas de exportação nesse
período.

Quadro 4
Receitas de exportações no final do século XVIII (% do total)
Açúcar 30% Couros 6%
Ouro 25% Arroz 3%
Algodão 25% Pau-brasil 3%
Fonte: Arno e M. J. Wehling, Formação do Brasil colonial, cit., p. 217.

Do ponto de vista dos fluxos de comércio, a Abertura dos Portos certamente intensificou a
atividade econômica, a julgar pelo volume de intercâmbio: em 1812, as exportações totais do Brasil
representavam 4 mil contos de réis para importações de apenas 2.500; em 1822, esses valores tinham
subido para 19.700 e 22.500 contos respectivamente, numa tendência ao déficit que se manteria
pelas décadas seguintes. Os valores expressos em libras esterlinas-ouro estão contidos no quadro 5.

Quadro 5
Comércio exterior do Brasil, 1812-1822 (£ ouro)
Exportações Importações
1812 1.233.000 770.000
1816 2.330.000 2.500.000
1822 4.030.000 4.590.000
Fonte: Caio Prado Jr., História econômica do Brasil, cit., p. 140.

13
Cf. Francisco de B. B. de Magalhães Filho, História econômica (3a ed. São Paulo: Sugestões Literárias,
1975), pp. 274-278.

8
3. Efeitos do tratado de comércio de 1810
O primeiro e mais emblemático símbolo dos “tratados desiguais” do século XIX foi o acordo
de comércio e navegação celebrado entre Portugal e Inglaterra em fevereiro de 1810. Por esse acordo
de comércio, concedia-se aos ingleses a redução da taxa de entrada a 15% ad valorem, aplicável a
“todos os gêneros, mercadorias e artigos, quaisquer que sejam, da produção, manufatura, indústria
ou invenção dos domínios e vassalos de Sua Majestade Britânica [...] admitidos em todos e cada um
dos portos e domínios de Sua Alteza Real o Príncipe Regente de Portugal, tanto na Europa, como
na América, África e Ásia, quer sejam consignados a vassalos britânicos, quer a portugueses” (artigo
15), ficando as mercadorias provenientes da Inglaterra mais favorecidas que as próprias portuguesas,
que pagariam 16%. O açúcar, o café e outros gêneros coloniais ficavam reciprocamente excluídos
do comércio bilateral (artigo 20), com o que se vedava o acesso aos mercados britânicos ao essencial
da produção brasileira.14
A maior parte dos cronistas e historiadores tem palavras candentes em relação ao tratado de
comércio com a Inglaterra, a começar por um observador direto das relações bilaterais, o jornalista
Hipólito José da Costa, estabelecido em Londres desde 1808. Varnhagen consignou que o
negociador português “admitiu estipulações contrárias à dignidade nacional”.15 Segundo Rocha
Pombo, “não há dúvida que o tratado de comércio foi um erro de que se desaperceberam os
conselheiros do príncipe”. 16 Para Oliveira Lima, que reconhece no seu D. João VI no Brasil a
dificuldade de se concluir, naquelas circunstâncias, um acordo equitativo, o tratado de 1810 “foi
franca e inequivocamente favorável à Grã-Bretanha”.17 Contestando, em sua obra sobre o Império,
o princípio da “perfeita reciprocidade” de tratamento dos súditos, produtos e navios das duas nações
com respeito a quaisquer impostos, tributos e direitos alfandegários e despesas nos portos (artigos

14
Observe-se que, na primeira década do século XIX, as regiões sob dominação britânica produziam
aproximadamente 60% das exportações mundiais de açúcar e provavelmente 50% das de café;
adicionalmente, elas forneciam quase 40% do algodão importado na Grã-Bretanha; apenas nos anos 40
desse século as exportações cubanas e brasileiras de açúcar ultrapassaram as das Índias Ocidentais
britânicas; informações consignadas em David Eltis, Economic Growth and the Ending of the
Transatlantic Slave Trade (Nova York: Oxford University Press, 1987), pp. 5-6.
15
Francisco Adolpho de Varnhagen (Visconde de Porto Seguro), História geral do Brasil, antes da sua
separação e independência de Portugal (3a ed., integral; São Paulo: Melhoramentos, 1936, 5 tomos), t. 5,
p. 135, citado por Roberto Macedo, Brasil sede da monarquia, Brasil Reino (1a parte), volume 7 de
Vicente Tapajós (coord.), História administrativa do Brasil (2a ed. Brasília: Editora Universidade de
Brasília/Funcep, 1983); cf. p. 64.
16
Rocha Pombo, História do Brasil, vol. IV (Rio de Janeiro: W. M. Jackson Editores, 1935), p. 310.
17
Cf. Oliveira Lima, D. João VI no Brasil (3a ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996), p. 246.

9
3o, 4o, 5o e 7o), Lima considerou que a reciprocidade “deste regime de verdadeiro favor, pois que era
exclusivo, não passava de ilusória”, uma vez que os gêneros brasileiros análogos aos produtos
coloniais britânicos “eram aduaneiramente excluídos do mercado inglês”. 18
Lima diz que
as condições exaradas no convênio de 1810 significavam a transplantação do protetorado
britânico, cuja situação privilegiada na metrópole era consagrada na nossa esfera econômica e até
se consignava imprudentemente como perpétua. A falta de genuína reciprocidade era absoluta e
dava-se em todos os terrenos, parecendo mesmo dificílima de estabelecer-se pela carência de artigos
que se equilibrassem nas necessidades do consumo, sendo mais precisos no Brasil os artigos
manufaturados ingleses do que à Inglaterra as matérias-primas brasileiras. Dava-se, ainda, a
desigualdade na importância que respectivamente representavam suas exportações para os países
produtores, constituindo a Inglaterra o mercado quase único do Brasil, ao passo que aquela nação
dividia por muitos países os seus interesses mercantis.19

Segundo Pandiá Calógeras, que aponta o “triunfo diplomático e financeiro para as praças
exportadoras da Grã-Bretanha” e a “gravidade dos atos então subscritos”, “é inegável que foi um
erro de política econômica”. 20 Roberto Simonsen é igualmente condenatório:
Não era essa, infelizmente, a política comercial que conviria a um país como o nosso, que
apenas iniciava a sua economia independente. Tínhamos que abraçar, àquele tempo, política
semelhante à que a nação norte-americana seguiu no período de sua formação econômica.
Produtores de artigos coloniais, diante de um mundo fechado por “políticas coloniais”, tornamo-
nos, no entanto, campeões de um liberalismo econômico na América.21

Tamanho foi o impacto do tratado de fevereiro de 1810 que o príncipe regente tratou de
justificá-lo por meio de um manifesto, emitido em março: “fui servido adotar os princípios mais
demonstrados da sã economia política, quais o da liberdade e franqueza do comércio, o da
diminuição dos direitos das alfândegas, unidos aos princípios mais liberais, e de maneira que,
promovendo-se o comércio, pudessem os cultivadores do Brasil achar o melhor consumo para os
seus produtos...” Este seria, segundo dom João, “o mais essencial modo de o fazer prosperar, e de
muito superior ao sistema restrito e mercantil” do pacto colonial, “pouco aplicável a um país onde
mal podem cultivar-se por ora as manufaturas, exceto as mais grosseiras”; defendendo o sistema
liberal de comércio, ele assevera que a diminuição dos direitos de alfândega

18
Cf. Oliveira Lima, O Império brasileiro, 1822-1889 (Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1986), p.
173.
19
Cf. Oliveira Lima, D. João VI no Brasil, cit., p. 251.
20
Cf. J. Pandiá Calógeras, A política exterior do Império, vol. I: As origens (Brasília/São Paulo: Fundação
Alexandre de Gusmão/Câmara dos Deputados/Nacional, 1989), pp. 342 e 346; mas ele reconhece que o
tratado de comércio “foi vantajoso à população, que pôde adquirir utilidades por preços mais baixos”.
21
Cf. Simonsen, História econômica do Brasil, cit., p. 260.

10
há de produzir grande entrada de manufaturas estrangeiras; mas quem vende muito,
também necessariamente compra muito e para ter grande comércio de exportação, é necessário
também permitir grande importação, e a experiência vos fará ver que, aumentando-se a vossa
agricultura, não hão de arruinar-se as vossas manufaturas na sua totalidade, e se alguma houver que
se abandone, podeis estar certo de que é uma prova que esta manufatura não tinha bases sólidas,
nem dava vantagem real ao Estado. [...] Assim, [pelo sistema liberal] vereis prosperar a vossa
agricultura, progressivamente formar-se uma indústria sólida em que nada tema das rivalidades de
outras nações, levantar-se um grande comércio e uma proporcional Marinha e vireis a servir de
depósito aos imensos produtos do Brasil, que crescerão em virtude dos princípios liberais que
adotei, de que enfim resultará uma grandeza da prosperidade nacional de muito superior a toda
aquela que antes se vos podia procurar, apesar dos esforços que sempre fiz para conseguir o mesmo
fim e que eram contrariados pelo vício radical do sistema restritivo, que então se julgava favorável,
quando realmente era sobremaneira danoso à prosperidade nacional. A experiência do que sucedeu
sempre às nações, que na prática mais se adaptaram aos princípios liberais, afiançam a verdade
destes princípios.22

Após esse tratado, o comércio exterior do Brasil ficou assim organizado: ficavam livres de
direitos as mercadorias estrangeiras que já tivessem pagado taxas em Portugal, assim como os
artigos das colônias portuguesas; pagariam 24% ad valorem as mercadorias estrangeiras
transportadas diretamente em navios estrangeiros; 16% as mercadorias portuguesas e as estrangeiras
transportadas em navios portugueses; 15% as mercadorias britânicas transportadas sob pavilhão
britânico ou português. Um imposto de exportação foi também criado em 1808, mas pouco rendeu
em virtude das muitas isenções que foram feitas aos principais gêneros de exportação; o próprio
tratado de comércio anglo-lusitano “contribuiu mais para uma evasão de rendas do que para a melhor
arrecadação de impostos”, uma vez que a cobrança das taxas ad valorem se devia fazer pelo preço
das faturas, o que dava margem a fraudes.23
Do ponto de vista do interesse imediato do Brasil, o tratado teve o efeito de fazer baixar o
custo de vida. Mas, no que se refere às suas relações comerciais, ele parece ter constituído um
obstáculo ao estabelecimento de laços comerciais com outros países. Preso, como diz Oliveira Lima,
pelas “disposições leoninas do tratado de 1810”, Portugal procurou compensação ao acentuar em
sua legislação aduaneira uma tendência protecionista, manifesta na imposição, em 1818, de direitos
ampliados a todas as importações sem exceção, mesmo as da família real, “sendo declarados
suspensos por vinte anos todos os privilégios e isenções”.24

22
Transcrito em Roberto Macedo, História administrativa do Brasil, cit., pp. 68-71.
23
Cf. Dorival Teixeira Vieira, “Política financeira: o primeiro Banco do Brasil”, em Sérgio Buarque de
Holanda (coord.), História geral da civilização brasileira, tomo II: O Brasil monárquico, 1o vol.: “O
processo de emancipação” (2a ed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1965, pp. 100-118); cf. pp. 101
e 103-104.
24
Cf. Oliveira Lima, D. João VI no Brasil, cit., pp. 264-265.

11
Ao mesmo tempo, os direitos sobre os produtos portugueses baixaram de 16 para 15%,
equiparando-se, portanto, aos ingleses; eles chegaram mesmo a gozar de uma redução de 5% a título
de prêmio, “decretando-se igual favor para os gêneros estrangeiros importados em navios
portugueses”.25 Os comerciantes eram, evidentemente, obrigados a liquidar o movimento comercial
em moeda metálica, ou seja, em ouro, cujo êxodo se fazia, portanto, através dos saldos negativos do
intercâmbio. Mais tarde, a letra de câmbio emitida em libras, garantida na praça londrina, se
converteu no principal instrumento de liquidação dos pagamentos correntes no comércio.
No plano monetário, o par metálico entre a libra esterlina e a moeda portuguesa de 6$400
flutuou bastante no período joanino, oscilando em torno de 60 pence por mil-réis, mas apresentando
picos de valorização ou de baixa em função da conjuntura econômica e política em ambos os países.
Como diz o historiador Roberto Simonsen, “a libra havia se enfraquecido com as campanhas
napoleônicas; mas, depois de 1815, com o restabelecimento do padrão ouro na Inglaterra,
declinaram rapidamente as taxas de câmbio luso-brasileiras”,26 como evidenciado no quadro 6.

Quadro 6
Câmbio do pence em mil-réis, 1808-1822
1808 70 1816 56,5 a 59
1809 70 a 74 1817 57 a 68
1810 71,5 a 74,5 1818 60 a 74
1812 72 a 76 1819 59 a 73
1813 75,5 a 80 1820 54,5 a 60
1814 80 a 96 1821 48 a 54
1815 71,5 a 77 1822 47 a 51
Fonte: R. Simonsen, História econômica, II, p. 264.

O historiador econômico Denio Nogueira, avaliando o impacto real do tratado de 1810,


critica sem fundamentos a aversão de muitos historiadores brasileiros, tais como Oliveira Lima,
Roberto Simonsen, Prado Júnior, Celso Furtado ou Nícia Vilela Luz, aos chamados efeitos
desindustrializantes desse acordo. “É impossível avaliar o que teria ocorrido no Brasil, na ausência
do Tratado de Comércio e Navegação de 1810. Não é improvável, porém, que o progresso do país
se tivesse retardado ainda mais, sem qualquer benefício significativo, em termos de
industrialização”.27 Nogueira cita em seu apoio o próprio Celso Furtado, para quem

25
Ibid., p. 265.
26
Cf. Simonsen, História econômica do Brasil, cit., p. 264.
27
Vide Denio Nogueira, Raízes de uma nação: um ensaio de história sócio-econômica comparada (Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 1988), p. 193. “Em abono dessa tese, conviria lembrar que as tarifas
alfandegárias adotadas pelos Estados Unidos da América, em 1789, foram ainda mais baixas, sem contudo

12
o desenvolvimento dos EUA, a fins do século XVIII e primeira metade do XIX, constitui
um capítulo integrante do desenvolvimento da própria economia européia, sendo em muito menor
grau o resultado de medidas internas protecionistas adotadas por essa nação americana. O
protecionismo surgiu nos EUA, como sistema geral de política econômica, em etapa já bem
avançada do século XIX, quando as bases de sua economia já se haviam consolidado. 28

O próprio Roberto Simonsen chegou a reconhecer, em relação ao tratado de 1810, que,


considerada isoladamente da de Portugal, a situação comercial do Brasil lucraria com
qualquer acordo mercantil que se tornasse o complemento da profícua abertura dos seus portos ao
tráfico estrangeiro. [...] Para o Brasil, o essencial era estabelecer relações comerciais diretas com
outros países e ativá-las o mais possível, melhor lhe resultando ainda assim de toda a falta de
reciprocidade do convênio Strangford-Linhares, do que da decaída tutela nacional [isto é,
portuguesa], que obstava a qualquer desafogo econômico.29

A hipótese do protecionismo comercial, como princípio de política industrial, não poderia


ser posta para o Brasil nessa conjuntura histórica, colocado como estava numa situação de
dependência num quadro de relações privilegiadas mantidas entre Portugal e Grã-Bretanha. Essa
situação se prolongaria durante as primeiras décadas da vida independente, não sem os protestos de
uma classe política rapidamente convencida da iniquidade dos tratados comerciais.

4. Mudanças econômicas a caminho da independência


A instalação de tantos órgãos de Estado, no Brasil, a partir de 1808, a começar pelo Real
Erário – transformado em Ministério da Fazenda em 1821 –, representou, inevitavelmente, um
conjunto de mudanças institucionais que marcariam a vida econômica da nação. Para fins de defesa,
foram criadas academias militares e o Arsenal da Marinha, ademais de outras empresas sob o
patrocínio e a proteção do Estado. Entre elas avulta o Banco do Brasil, criado em 1809 para estimular
atividades econômicas, mas que se tornou o principal financiador da Corte, inclusive com

prejudicar a instalação de novas indústrias”, ibidem. Nogueira trata, em contrapartida, da “questão mais
importante, ligada ao Tratado [e que] não foi devidamente registrada pela historiografia brasileira. Trata-
se da significativa redução da receita fiscal com que a regência se defrontou, em virtude do mesmo. Ainda
assim, é pelo menos discutível que aquela conseqüência possa ser integralmente atribuída à diminuição
das alíquotas”, ibid., p. 196. Na verdade, Mircea Buescu já tinha chamado a atenção para esse fato: “Um
dos efeitos mais graves da queda das importações e da incidência aduaneira de 15% foi o impacto sobre
a receita pública, uma vez que o imposto sobre importação constituía a principal fonte da receita. Em
1808, ele representava 34% da receita — em 1820, não passava de 14%”; cf. Evolução econômica do
Brasil (2a ed. Rio de Janeiro: Apec, 1974), p. 109, sublinhado no original.
28
Cf. Celso Furtado, Formação econômica do Brasil, cit., p. 100. De fato, pela primeira tarifa norte-
americana de 1789, “os tecidos de algodão pagavam tão-somente 5% ad valorem, e a média de todas as
mercadorias era de 8,5%”; ajustes posteriores foram feitos, com o objetivo de elevar a tarifa, mas numa
época “em que a indústria têxtil norte-americana já se podia considerar consolidada”, ibidem.
29
Cf. Simonsen, História econômica do Brasil, cit., p. 257.

13
capacidade de emissão monetária, o que deu início a um vigoroso processo inflacionário que
marcaria toda a história econômica brasileira durante praticamente dois séculos. Não havia, aliás,
numerário suficiente para atender às necessidades de pagamentos e intercâmbios, o que se fazia
mediante a recunhagem de moedas espanholas, postas em circulação com a estampa do soberano.
Com déficits crônicos nas contas públicas, o tesouro real era obrigado a taxar pesadamente
as importações e até as exportações, como se lamentava, em representação ao rei dom João VI, o
tesoureiro-mor do Erário do Rio de Janeiro: “Seja-me permitido dizer a V. Alteza que esses 2% [de
imposto de exportação] devem ser abolidos. É um tributo estabelecido contra todos os princípios da
economia política, e que as nações mais esclarecidas, e que conhecem os seus verdadeiros interesses,
não têm; antes animam a exportação com prêmios”. No que se refere ao protecionismo alfandegário,
medidas adotadas em determinadas épocas para favorecer certas fábricas apresentaram
características quase mercantilistas, como não deixou de sublinhar uma estudiosa da questão, ou
seja, elas eram tomadas bem mais por razões fiscais do que por qualquer intenção de estímulo à
indústria nacional. 30
Essa é uma controvérsia constante na historiografia brasileira, com um alcance praticamente
contemporâneo, na medida em que a questão da utilização da política comercial para fins de
industrialização substitutiva permanece entranhada no imaginário nacional desde os primeiros
debates em torno da Abertura dos Portos e dos tratados de 1810, inspirados, segundo o príncipe,
pelos mais “sábios princípios de política liberal”. Não se sabe em que medida, e com que grau de
aceitação, a elite governante brasileira foi influenciada pelas ideias do visconde de Cairu, mesmo se
estudiosos da história da economia política no Brasil chegaram a ver nele um antecessor teórico de
Friedrich List, o alemão defensor da ideia da indústria infante. Tal parentesco analítico, em relação
ao autor dos Princípios de economia política (1804) e das Observações sobre a franqueza da
indústria e estabelecimento de fábrica no Brasil (1810), pode parecer indevido, sobretudo porque
Cairu defendia sem rebuços o liberalismo econômico. Essa “filiação” intelectual é ainda mais
estranha num país no qual parte da classe dominante via nas atividades agrícolas a fonte exclusiva
de todo valor, como tinham pregado, desde o século anterior, os fisiocratas. Em todo caso, Cairu

30
Cf. Nícia Vilela Luz, A luta pela industrialização do Brasil: 1808 a 1930 (2a ed. São Paulo: Alfa-Omega,
1975), p. 38.

14
não foi um simples imitador das ideias de Smith, Malthus ou Ricardo, e menos ainda um adepto do
laissez faire, laissez passer.31
O primeiro titular de uma cadeira de economia política no Brasil – nunca efetivada, é verdade
– elaborou uma consistente obra de crítica inovadora da economia política articulada essencialmente
em torno dos grandes princípios do liberalismo econômico e da liberdade de comércio, temperados,
entretanto, pela afirmação da primazia de “práticos direitos sociais” sobre os “vagos direitos
individuais”, aceitando, por exemplo, que se fizessem as necessárias restrições à liberdade natural
em nome do interesse do bem público. Cairu defendeu, sobretudo, uma política inteligente de
promoção da indústria, combinada ao desenvolvimento tecnológico e à qualificação do trabalho pelo
conhecimento. Com efeito, se, dentre os fatores de produção, os fisiocratas viam apenas a terra
como a causa principal da riqueza das nações, ao que Adam Smith agregaria o trabalho e a Escola
de Manchester, o capital, José Maria Lisboa incorporaria o elemento da inteligência.32 Os autores
comentados por Cairu, que certamente eram conhecidos dos membros da elite, foram sobretudo
Smith, Malthus, Ricardo, Quesnay, Sismondi, Say, Bentham, além de homens públicos como
Franklin e Lauderdale.33 Da mesma forma, o bispo Azeredo Coutinho abriu espaço em seu
Seminário de Olinda – formador de muitos representantes da elite brasileira em princípios do século

31
O historiador econômico português Armando Castro vê em Lisboa um “dos mais importantes
representantes do pensamento econômico luso-brasileiro”, destacando-se os seus estudos pelo fato “de
serem guiados pelo objetivo de defender os interesses próprios da burguesia brasileira em luta contra a
dominação colonial, ao contrário do que sucedeu com o seu compatriota e contemporâneo José J. da Cunha
de Azeredo Coutinho, apenas uns treze ou catorze anos mais velho do que ele”; cf. O pensamento
económico no Portugal moderno: de fins do século XVIII a começos do século XX (Venda Nova: Instituto
de Cultura Portuguesa, 1980), pp. 70-71. Para uma análise “brasileira”, ainda que politicamente motivada,
da obra do segundo economista citado, certamente importante como uma das fontes do “pensamento
econômico brasileiro” no século XIX, ver o estudo de Nelson Werneck Sodré, “Azeredo Coutinho: um
economista colonial”, em A ideologia do colonialismo: seus reflexos no pensamento brasileiro (2a ed. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965), pp. 17-37. Outro estudioso, aderindo igualmente a uma
interpretação “marxista” da obra do bispo Azeredo Coutinho, vê no entanto, em sua obra, uma
manifestação avançada do pensamento burguês e iluminista português, considerando que mesmo sua
defesa acirrada do escravismo era “uma posição mais conseqüentemente burguesa, nas condições
históricas do Brasil, ao longo da transição do século XVIII para o século XIX”; cf. Gilberto Luiz Alves,
O pensamento burguês no Seminário de Olinda, 1800-1836 (Ibitinga, SP: Humanidades, 1993), pp. 16 e
65.
32
Ver a Introdução de José Almeida a José da Silva Lisboa, visconde de Cairu, Estudos do bem comum e
economia política ou ciência das leis naturais e civis de animar e dirigir a geral indústria e promover a
riqueza nacional e prosperidade do Estado (Rio de Janeiro: Ipea/Inpes, 1975) (1a ed. 1819-1820).
33
Sabe-se, por exemplo, que, já em 1811, Bento da Silva Lisboa traduziu, no Rio de Janeiro, A riqueza das
nações, de Adam Smith; cf. António Moreira e Alcino Pedrosa, As grandes datas da história de Portugal
(2a ed. Cruz Quebrada: Editorial Notícias, 2004), p. 110.

15
XIX – ao pensamento liberal dos fisiocratas franceses e ao de Adam Smith, tendo feito largo uso
também, em seu Ensaio econômico sobre o comércio de Portugal e suas colônias, da obra do barão
de Bielfeld, Institutions politiques, a ponto de Sérgio Buarque de Holanda falar de uma verdadeira
“pilhagem” de ideias.34
Independentemente, porém, da ideologia que defendiam, tanto os adeptos do liberalismo
como os protecionistas reconhecem que os avanços alcançados nesses anos foram importantes. Caio
Prado Jr., historiador insuspeito de simpatias seja para com o Ancien Régime português, seja em
relação à nova situação de dependência criada no contexto da unificação de reinos e da preeminência
inglesa, registra, com base nos relatos de viajantes estrangeiros, que “o progresso econômico do país
é geral, e em todos os setores sente-se o influxo da grande transformação operada pela revogação da
política de restrições que até 1808 pesara sobre a colônia”. 35 Pesquisas mais recentes confirmam o
grande crescimento do mercado interno e da acumulação de capital, com base nas atividades
mercantis – sobretudo comércio de escravos – e na produção primária.36
Trata-se, claramente, de uma época de transição, não apenas entre o estatuto colonial e a
autonomia política, mas igualmente no plano econômico. A diversificação de culturas – algodão
para alimentar a Revolução Industrial inglesa, tabaco, cacau, arroz, anil, além da produção de
subsistência constituída, entre outros produtos, pela mandioca, pelo milho e pelo feijão – permite
ocupar o “hiato entre o ouro e o café”, segundo a expressão de um historiador. 37 Indústrias vão se
instalando em função de impulsos governamentais e iniciativas individuais, a um ritmo mais lento
do que seria desejável. As exportações primárias constituíam o mais importante fator de crescimento
econômico e de receitas para os agentes econômicos e o Estado, como evidenciado nas estatísticas
compiladas por Adrien Balbi, Essai statistique du Portugal et Algarves (1821).38 Mas o açúcar e o
algodão ainda respondiam por metade das exportações do Brasil, complementado pelo café, com

34
Cf. Introdução às Obras econômicas de J. J. da Cunha de Azeredo Coutinho, 1794-1804 (São Paulo:
Nacional, 1966), pp. 13-53, reproduzido em Sérgio Buarque de Holanda, Livro dos prefácios (São Paulo:
Companhia das Letras, 1996), pp. 52-98.
35
Cf. Caio Prado Jr., História econômica do Brasil (2a ed. São Paulo: Brasiliense, 1949), p. 140.
36
Ver, entre outros, os livros de João L. R. Fragoso, Homens de grossa aventura: acumulação e hierarquia
na praça mercantil do Rio de Janeiro, 1790-1830 (Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1992), e João L. R.
Fragoso e Manolo Florentino, O arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e elite
mercantil no Rio de Janeiro, c. 1790-1840 (Rio de Janeiro: Diadorim, 1993).
37
Cf. Frédéric Mauro, História econômica mundial, 1790-1970 (2a ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1976), p. 139.
38
Citado em José Gabriel de Lemos Brito, Pontos de partida para a história econômica do Brasil (3a ed. São
Paulo/Brasília: Nacional/INL, 1980) [1 a ed. 1923], pp. 272-273. No final do século XVIII, a renda geral
do quinto do ouro rendia cerca de mil contos de réis por ano; em 1808, “essa renda fizera-se inferior a
quinhentos contos... Em 1818, não chegava o ouro da Coroa a vinte arrobas sequer”; ibid., p. 385.

16
cerca de um quinto do total às vésperas da Independência. 39 Nos anos e décadas seguintes, o café
ascenderia ao primeiro posto das exportações brasileiras, alcançando, um século depois, mais de
60% das receitas de exportações.
Menos bem-sucedida foi a gestão dos recursos financeiros, posto que os gastos excessivos
da Corte redundaram na desvalorização da moeda e na própria insolvência do primeiro Banco do
Brasil. Como relatou um cronista estrangeiro, “à bela moeda de ouro de 1809 tinha sucedido a moeda
fraca de prata e esta, em 1819, se achou substituída por sua vez por miseráveis tiras de papel”.40 As
emissões do Banco do Brasil foram crescentes, de 1816 até 1825, quando foi criada uma Caixa de
Amortização e se tentou limitar a emissão de notas e se destinaram 6 mil contos de réis para o resgate
das notas no mercado, o que não impediu a liquidação do banco em 1829. No intervalo se fizeram
os primeiros experimentos de colonização dirigida, a partir do estímulo à vinda de agricultores
estrangeiros, em especial alemães e suíços. A continuidade da escravidão, porém, impediu que o
fluxo aumentasse e se tornasse o principal substituto do fator trabalho durante a maior parte do
século XIX.
Os progressos econômicos foram lentos, mas constantes, ao longo do período marcado pela
união dos reinos. Só foram ameaçados, a partir de 1820, quando, no seguimento da Revolução
Constitucionalista do Porto e da emergência de uma burguesia ativamente motivada em defender
seus interesses imediatos, as Cortes portuguesas atuaram para “recolonizar” economicamente o
Brasil. Sob veementes protestos dos representantes brasileiros,41 o regime descortinado pelos
constituintes, sob influência direta dos comerciantes portugueses, pretendia, tão-somente: reservar
à Marinha portuguesa a navegação entre todos os territórios do Reino Unido, conceder nova
exclusividade aos vinhos e aguardentes portugueses no mercado brasileiro e, reciprocamente, aos
produtos coloniais brasileiros no mercado português e isentar de tarifas todas as exportações de

39
Cf. Nathaniel H. Leff, “Economic Development in Brazil, 1822-1913”, em Stephen Haber (ed.), How Latin
America Fell Behind: Essays on the Economic Histories of Brazil and Mexico, 1800-1914 (Stanford:
Stanford University Press, 1997, pp. 34-64), p. 35.
40
Segundo Horace Say, Histoire des relations commerciales entre la France et le Brésil, citado no Relatório
de 1859 do Banco do Brasil; em Lemos Brito, Pontos de partida para a história econômica do Brasil,
cit., p. 371.
41
Os deputados brasileiros encontravam-se em situação de nítida inferioridade em relação aos representantes
portugueses, pois, dos 69 originalmente eleitos no Brasil, apenas 46 puderam participar dos trabalhos. Nas
Cortes de Lisboa, os assuntos brasileiros eram discutidos numa comissão teoricamente paritária, mas
alguns desses representantes “brasileiros” votavam manifestamente em conluio com os deputados
portugueses. Assim, é rejeitada a Universidade do Brasil, sob o argumento de “ser suficiente a existência
de escolas primárias na parte americana da monarquia”; da mesma forma, são estabelecidas juntas
governativas nas províncias brasileiras, que seriam diretamente subordinadas a Lisboa.

17
manufaturados portugueses enviados ao Brasil. A conformação, embora tentativa, de uma nova
modalidade de pacto colonial em muito acelerou o processo de independência. Com efeito, o projeto
de regulamentação das relações comerciais Brasil–Portugal, adotado no âmbito da Constituinte
lusitana, “foi a última resolução de caráter econômico tomada pela antiga metrópole em relação ao
Brasil colonial”.42 Quando ele foi aprovado, contudo, o Brasil já tinha declarado sua independência.

5. O contexto econômico desfavorável das independências ibero-americanas


Historiadores econômicos trabalhando sobre o período das independências latino-
americanas tendem a concordar em que os países da América Latina mergulharam no atraso relativo
justamente na conjuntura histórica do processo de autonomia. Há uma tendência em se acreditar
que, até esse período, as colônias ibéricas eram tão produtivas quanto suas congêneres britânicas. 43
No caso do Brasil, o colapso da economia do ouro foi responsável por um retrocesso relativo,
recuperado paulatinamente no decorrer do século XIX, mas a um ritmo insuficiente para colocá-lo
à frente da maioria dos demais países. Como em todo e qualquer processo complexo, existem, de
um lado, fatores estruturais e, de outro, elementos conjunturais, que estão na origem do atraso
relativo e do lento crescimento observado desde o processo de independência.
O fraco desempenho econômico do Brasil, no período anterior à Independência, o deixou
atrás de quase todas as demais colônias no continente, em especial a Argentina e Cuba. Em 1800, a
renda per capita do Brasil representava cerca de um terço do valor correspondente à dos Estados
Unidos. O quadro 7 traz indicações dos valores absolutos da renda per capita e da posição relativa
de alguns países ibero-americanos em relação ao valor de referência para os EUA (80 dólares
correntes), bem como o desempenho exportador para os países selecionados. Argentina e Cuba
eram, nessa época, relativamente “prósperas”. Mas esse tipo de abordagem “quantitativista” pode
esconder outros elementos em jogo que não são suficientemente “capturados” por indicadores
estatísticos que tenham expressão em valores de mercado (como a capacitação educacional, por
exemplo). Em todo caso, o Brasil tinha a menor renda per capita de todos eles, mas exibia um

42
Cf. Lemos Brito, Pontos de partida para a história econômica do Brasil, cit., p. 405. Segundo esse projeto,
os produtos estrangeiros que entrassem no Brasil passariam a pagar direitos de 55% ad valorem, ao passo
que os impostos de exportação aplicados a produtos brasileiros vendidos a terceiros países passariam a
pagar 12%; ibid., p. 403.
43
Ver, por exemplo, John H. Coatsworth, “Economic and Institutional Trajectories in Nineteenth-Century
Latin America”, em John H. Coatsworth e Alan M. Taylor (eds.), Latin America and the World Economy
Since 1800 (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1998, pp. 23-54), p. 23.

18
coeficiente de abertura externa (exportações sobre o PIB) relativamente elevado. Isto se deve,
precisamente, ao fato de que a colônia foi constituída para ser um sistema de exploração mercantil,
produtor de commodities para os mercados internacionais, como sempre sublinhou o historiador
Caio Prado Jr. Em contraste, a pequena “colônia” inglesa dos treze estados da América do Norte
atlântica serviu essencialmente como colônia de povoamento para famílias emigrantes da velha
Inglaterra.

Quadro 7
PIB per capita, % do PIB per capita dos EUA e desempenho exportador, 1800
(dólares correntes)
Países PIB per capita % dos EUA Exportação per % Export/PIB
capita
Argentina 82 102 10,03 12,2
Brasil 29 36 4,78 16,4
Chile 37 46 1,63 4,4
Cuba 90 112 18,35 20,4
México 40 50 2,11 5,2
Estados Unidos 80 100 -- --
Fonte: John H. Coatsworth: Latin America and the World Economy, 1800, cit., p. 26 e 29.

Em 1820, às vésperas de iniciar sua vida como nação independente, o Brasil dispunha de um
PIB per capita de 670 dólares, em valores de 1990.44 Esse valor representava cerca da metade da
renda média das economias “desenvolvidas” de então – países da Europa ocidental, Estados Unidos,
Canadá, Austrália –, que se situava em torno de 1.250 dólares. O valor brasileiro estava um dólar
acima do PIB per capita do Japão (669 dólares) e era 13% inferior ao do México. Deve-se observar
que, em virtude do nível ainda incipiente de industrialização, a dispersão de rendas entre os países
– ou seja, a distância entre o mais rico e o mais pobre – se situava então em um patamar relativamente
baixo (inferior a 4:1), fator que se aprofundou consideravelmente no decorrer do século XIX, com
os avanços significativos a partir da Segunda Revolução Industrial. O quadro 8 consolida esses
dados comparativos do desempenho relativo do Brasil nessa época.

44
Os dados estatísticos para a comparação entre indicadores nacionais de produto, renda, fluxos de capitais
e de comércio exterior foram consolidados segundo critérios mais ou menos homogêneos pelo historiador
econômico Angus Maddison em diversos trabalhos publicados. Ver, por exemplo, Monitoring the World
Economy, 1820-1992 (Paris: OECD, 1995). Para uma síntese desses dados, colocando o Brasil em
evidência, ver o capítulo “O Brasil no contexto econômico mundial, 1820-2006”, em meu livro O estudo
das relações internacionais do Brasil: um diálogo entre a diplomacia e a academia (Brasília: LGE, 2006),
pp. 125-156.

19
Quadro 8
PIB per capita e comparações entre países, 1820
(dólares internacionais, a preços de 1990)
Países PIB per capita Brasil = 100
Brasil 670 100
México 759 113
Estados Unidos 1.257 232
Reino Unido 1.707 254
França 1.230 183
Japão 669 99
Fonte: Angus Maddison, Monitoring the World Economy, 1820-1992, cit., pp. 20-21.

Diversos obstáculos materiais e institucionais existentes na região são responsabilizados pelo


fraco desempenho econômico exibido pelos países latino-americanos, e particularmente pelo Brasil,
no confronto com os Estados Unidos e outros países europeus. Grandes barreiras físicas e materiais
à expansão econômica, capital humano insuficiente, baixa qualidade da governança, de modo geral,
e políticas econômicas incompletas ou equivocadas, em especial no plano setorial, podem ser
considerados os principais fatores que explicam o baixo crescimento observado na maior parte do
século XIX, quando o mundo, justamente, começava a trilhar uma fase de maior crescimento e de
integração entre as principais potências econômicas, a começar pelo grande parceiro do Brasil, a
Grã-Bretanha.
Os constrangimentos físicos a uma maior integração dos mercados locais e regionais e as
ligações com os portos de exportação estão entre os primeiros fatores do lento crescimento da
riqueza: barreiras naturais, ausência de estradas, de canais e de meios de transporte eficientes e
baratos explicam em grande medida as dificuldades para a expansão adequada dessas economias,
mesmo com a existência de demanda mundial efetiva pelos produtos locais de exportação. O baixo
grau de institucionalidade governamental – com a preservação dos laços patrimonialistas,
prebendalistas e personalistas da tradição ibérica – é responsável pela baixa capacidade de iniciativa
empreendedora e pelos pequenos volumes de investimento privado: o centralismo estatal e o arbítrio
no processo decisório – inclusive no plano do Judiciário – reduziram as possibilidades de
mobilização de capitais e de formação de um mercado financeiro adequado, que fosse capaz de
garantir um processo sustentado de crescimento econômico.
O comportamento “extrativo” da maior parte dos órgãos governamentais, em nível nacional
e mesmo local, responde também pela baixa propensão à poupança e ao investimento produtivo.
Níveis notoriamente insuficientes de formação educacional elementar e a inexistência de centros de

20
estudo e de pesquisa compatíveis com as necessidades e requerimentos de uma economia suscetível
de superar a simples cópia ou importação de tecnologias estão entre os principais fatores da baixa
produtividade do trabalho humano: esse fator também explica a desigualdade persistente e o alto
grau de concentração da renda, que é histórico em toda a região. Finalmente, a preservação do
instituto da escravidão – mesmo contra a opinião de estadistas respeitáveis como José Bonifácio de
Andrada e Silva – é diretamente responsável pelos números ínfimos de “importação” de mão-de-
obra tecnicamente mais especializada, como poderiam ser os colonos europeus de rica tradição
agrícola e dotados de capacidades manufatureiras elementares.
Dos principais fatores estruturais explicativos do crescimento – isto é, do aumento da
produtividade –, a saber, progresso técnico (ou inovação tecnológica), acumulação de capital físico,
melhoria da capacitação humana (que se obtém via educação), ambiente institucional favorável e
integração aos fluxos de comércio e investimentos mundiais, ademais das economias de escala, da
propensão a mudanças estruturais e da disponibilidade (abundância ou escassez) de recursos
naturais, o Brasil – e com ele, em grande medida, outros países da América Latina – possuía alguns
deles, no início do século XIX, mas carecia terrivelmente de outros, particularmente dos mais
relevantes, como o progresso técnico e o capital humano. No plano mundial, avanços técnicos nos
transportes e nas comunicações foram intensos, a partir da Revolução Industrial, com a introdução
de novas modalidades de ambos e o barateamento do seu custo. No Brasil de 1808, o transporte de
tudo se fazia predominantemente a dorso de mula, por lentíssimos carros de bois ou sobre as costas
dos indígenas e escravos africanos. Tanto o telégrafo como as ferrovias foram introduzidos apenas
em meados do século.
A despeito de todos os países que se tornaram independentes do domínio das metrópoles
ibéricas possuírem, como os Estados Unidos recém-autônomos, recursos naturais abundantes, o
contexto institucional e, em especial, o acesso à propriedade e a liberdade de contratar e empreender
eram, obviamente, de um tipo distinto, para não dizer completamente diferentes em seu espírito e
nas manifestações práticas, determinando, desde o início, trajetórias distintas entre a nação anglo-
saxã do norte e as formações ibero-americanas do sul. No que se refere ao elemento estrutural mais
relevante para o desenvolvimento, a qualidade do capital humano, cabe registrar que a educação de
massa foi negligenciada na maior parte dos países ibero-americanos, constituindo, provavelmente,
o mais grave obstáculo ao progresso técnico e à disseminação da cultura letrada. Essa situação, no
caso do Brasil, tem origem nas medidas pombalinas contra os jesuítas, desmantelando, assim, uma
das poucas possibilidades existentes de educação elementar na colônia, fator ainda agravado pela

21
baixa predisposição do príncipe regente e de toda a elite portuguesa em criar escolas públicas de
cunho universal. De fato, a população escolarizada no Brasil pré-Independência se situava em
proporção ínfima em relação à população total, em notável contraste com a situação existente na
nova Inglaterra, já dotada de instituições de ensino superior.
No que respeita ao acesso aos recursos naturais, em primeiro lugar à terra, o contraste é
igualmente notável. As terras da América do Norte foram submetidas a formas mais ou menos
democráticas de repartição, ao passo que a concentração foi a norma no mundo ibérico. No Brasil,
o regime adotado para a concessão de sesmarias, nas capitanias gerais, era propriamente abusivo,
segundo relata um observador contemporâneo dos fatos, em 1808:
O abuso que há nesta capitania de terem alguns moradores tomado três, quatro sesmarias,
com dez, doze e mais léguas de terras, é prejudicialíssimo, não só a Sua Alteza Real mas aos povos
em geral, ao mesmo tempo que há famílias que não possuem um palmo e tudo isso com falsos
enganos feitos a S. A. R e aos seus delegados. Um homem que tinha a proteção do governo tirava
uma sesmaria em seu nome, outra em nome do filho mais velho, outras em nome da filha e do filho
que ainda estavam no berço; e deste modo há casa de quatro e mais sesmarias: este pernicioso abuso
parece se deveria evitar.45

A concentração da propriedade fundiária continuou intocada durante a maior parte do século


XIX e a única lei de terras aprovada, em 1851, serviu para concentrar ainda mais a propriedade, em
total contraste com o que ocorria contemporaneamente nos Estados Unidos.
No plano conjuntural, o contexto da independência tampouco foi favorável à consolidação
do crescimento econômico. O açúcar do Nordeste enfrentava longo ciclo de decadência, desde o
final da dominação holandesa, praticamente, processo ainda agravado a partir do surgimento de
competidores aguerridos no Caribe europeu e da oferta substitutiva da beterraba européia. Uma
pequena janela favorável abriu-se, justamente, com as guerras napoleônicas, mas, ao final desse
período, Cuba, ainda espanhola, desponta como o grande fornecedor mundial de açúcar. O café
torna-se um produto significativo na pauta exportadora do Brasil apenas a partir da terceira década
do século XIX, ao passo que o algodão enfrenta a concorrência acirrada dos produtores sulistas dos
Estados Unidos.46 Em outros itens, a produtividade brasileira era marginal, com técnicas primitivas
e ausência quase completa de financiamento adequado.

45
Citado sem identificação de fonte original em Lemos Brito, Pontos de partida para a história econômica
do Brasil, cit., p. 376.
46
Ocorre, nesse período, uma rápida emergência da produção cotonífera nos Estados Unidos, que passam de
menos de mil toneladas ao ano, ao redor de 1790, a 172 mil toneladas em 1830, ou seja, de 1% da produção
mundial a cerca de 30% (e mesmo 88%, em 1850); cf. Paul Bairoch, Victoires et déboires: histoire
économique et sociale du monde du XVIe siècle à nos jours, vol. II (Paris: Gallimard, 1997), p. 717.

22
Do lado fiscal, não é preciso lembrar a enorme carência de recursos durante o período –
resultado de uma exígua base tributável, quase toda concentrada no comércio exterior – e a
inexistência prática de meio circulante na imensa colônia, que não dispunha, como suas vizinhas
ibéricas, de reservas metálicas em abundância. Acresce a isso, o comportamento irresponsável dos
dirigentes, ao socorrer-se do Banco do Brasil ao menor sinal de necessidade de liquidez, a ponto de
deixá-lo a descoberto no momento da partida para Portugal. O novo império, aliás, já nasce
endividado no estrangeiro, ao ter de assumir as dívidas portuguesas contraídas em Londres e ao ter
de fazer novas dívidas para atender a compromissos imediatos derivados do processo de
reconhecimento da independência. 47 Finalmente, fatores que pareciam favoráveis no curto prazo, a
manutenção do regime escravo e a persistência do tráfico africano, em face da imensa penúria de
mão-de-obra, vão praticamente “congelar” o progresso técnico na produção primária e dificultar a
absorção de recursos humanos mais capacitados durante décadas a fio.

De modo geral, o Brasil não constituía, no momento da sua Independência, um sistema


econômico integrado – e, provavelmente, sequer uma unidade política consolidada, de que são
testemunhos os inúmeros impulsos autonomistas ao Sul e, sobretudo, ao Norte do país –,48 mas um
arquipélago de economias locais, fragilmente “administradas”, inclusive no plano tributário, pela
capital política. Por outro lado, os pequenos esforços “industrializantes” conduzidos no período
joanino serão descontinuados no Primeiro Império, aparentemente por desinteresse pessoal do
primeiro imperador, situação não revertida na Regência em vista dos graves conflitos políticos
vividos no país, com ameaças separatistas importantes. A política errática vai continuar durante o
Segundo Reinado, com a prática de uma defesa comercial irregular, que tinha motivações mais
fiscalistas – isto é, de arrecadação de receitas para o Estado – do que propriamente protecionistas.
Essa situação vai perdurar por praticamente um século mais, pois o impulso industrializador do
início da República se faz mantendo as mesmas “ilhas” de organização econômica local, sem
maiores vínculos financeiros ou comerciais entre elas. Assim, a despeito dos investimentos em

47
Ver o capítulo 9, “Diplomacia da dívida: o financiamento externo do Estado”, em meu livro Formação da
diplomacia econômica no Brasil: as relações econômicas internacionais no Império (2a ed. São
Paulo/Brasília: Senac/Funag, 2005), pp. 175-196.
48
Para um ensaio de história regional no contexto da autonomia e dos impulsos federalistas existentes no
Nordeste do Brasil, ver o ensaio histórico de Evaldo Cabral de Mello, A outra Independência: o
federalismo pernambucano de 1817 a 1824 (São Paulo: Editora 34, 2004).

23
infraestrutura, efetuados no decorrer do século XIX, o Brasil do início da República não exibia uma
estrutura econômica muito diferente daquela ostentada no momento da sua independência.

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[1793: Brasília, 2 de setembro de 2007, 22 p. + bibliografia e quadros estatísticos]


[Revisão ortográfica: 4 setembro 2007; revisão final: 28 setembro]

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