Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
74 Formação Econômica do Brasil “culo XIX: Renascimento Agrícola, Economia Cafeeira e Industrialização
à io O o 7
desequilíbrio em nossas contas externas. Eventuais interrupções nesses atluxos de capi. ma, o império brasileiro recém-emancipado assume com a Inglaterra uma dívida, que
tais externos implicarão graves perturbações na nossa economia”. “era na origem portuguesa, de dois milhões de libras, mantendo-se atrelado ao sistema
“bancário internacional desde então, com seguidos empréstimos tomados pelo império*,
Tabela 4.1 principal
4 mente na Inglaterra”. Segundo Déak'º, para termos uma noção comparativa da
Anos Exportação Importação dimensão dessa dívida, o início da implantação das ferrovias na Inglaterra entre 1800 e
1825 implicou um investimento total de 1,5 milhão de libras esterlinas,
1812 1.233.000 770.000 valor que
“alcança tão-somente 75% da dívida assumida pelo Brasil. O montante dessa dívida sus-
1816 2.330.000 2.500.000 ]
tentaria, ainda, cinco dos vinte anos das despesas inglesas com as Guerras Napoleônicas
1822 4.030.000 4.590.000 e era equivalente a dois terços de toda a renda anual proveniente do exterior auferida à
Fontt: PRADO JR.., Caio, História econômica do Brasil. 36. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 132. 1
época, pela Inglaterra". Os fregientes empréstimos externos tomados pelo setor públi-
“co vão implicar um serviço da dívida cada vez mais pesado: “Em meados do século, o
Serviço das dívidas já absorvia quase 40% do total da receita”".
A partir da transferência da Corte portuguesa para o Brasil e da abertura dos por- q
A balança comercial brasileira começará a produzir superávits comerciais no início
tos, a balança comercial brasileira torna-se quase que permanentemente deficitária (ver * dos anos 1860. É importante ressaltar que o grau de abertura comercial do país atinge
Tabela 4.1). Do superávit do início do século, a balança passa a apresentar crescentes 3 um terço do PIB na segunda metade do século passado". Estimativas para o balanço de
déficits: em 1821, quando se passa a ter estatísticas mais confiáveis, até 1860, essa ba- pagamentos do Brasil nesse período mostram que entre 1850 e 1889, para um superávit
lança será deficitária. Esses déficits serão cobertos com capitais estrangeiros, que come- | «comercial acumulado de 0,69 bilhão de mil-réis, tivemos um serviço da dívida de 0,78
çaram a entrar no Brasil a partir do momento em que o país é franqueado ao exterior. bilhão. As despesas com outros itens da conta serviços — fretes, seguros, gastos comi
Evidentemente, essa é uma solução provisória, pois num segundo momento o desequi- viagens ao exterior e remessas cambiais por imigrantes portugueses — são estimadas
líbrio externo se agrava com os pagamentos dos juros, amortizações e dividendos: sçom grandes dificuldades. Por exemplo, calcula-se que os gastos com viagens e remes-
dido ei Deraas
sas de imigrantes atingiram a 2,2% do produto interno no período 1853 a 1863, valo-
A econonine douto fruerê ne definido de o Afirom duo Los e arucento
ade apieo Meio Pudoido DACES Pass VB dy ata foturh.
“tes maiores que as estimativas do serviço da dívida externa'!, Wileman estima que o
otramerro der custa UU LeilivardO
cede ves egie por ce eoeti aro par pretro fal afleoe enterrando qu dies veio detnimm déficit em transações correntes para o período 1850 a 1889 foi coberto com as impor-
rações de capital, que atingiram 800 milhões de mil-réis, ou 2% do produto interno”
Os acordos comerciais assinados com a Inglaterra logo após a Independência, e pos- (ver Tabela 4.2).
teriormente estendidos a outras nações, praticamente não impunham restrições adua-
neiras à entrada de produtos estrangeiros. Esses acordos mantinham a tradição de sub-
Tabela 4.2
serviência econômica que herdamos de Portugal, desde o Tratado de Methuen, em que
um Portugal agrícola se submete a uma Inglaterra já em processo de industrialização,
passando pelo Tratado de Amizade Portugal-Inglaterra de 1810. O país emancipado vai Balança comercial Serviço da dívida Importação de capitais
manter o espírito desses tratados em suas relações com a Inglaterra e com os outros paí- -0,12 0,06 0,04
ses mais ricos. Na verdade, teremos em todo o Império o predomínio de uma política 0,05 0,06 0,04
comercial liberal, defendida, por exemplo, desde o Visconde de Cairu. Celso Furtado, ao
0,14 0,09 0,31
comparar Cairu com Alexander Hamilton, liberal norte-americano, mostra que apesar de
0,19
ambos defenderem o livre comércio, Hamilton proporá ações diretas em prol da indus- 0,12 0,10
trialização norte-americana, promovendo estímulos diretos às indústrias, mesmo 0,30 0,30 0,13
enfrentando a oposição dos pequenos agricultores. Já o Visconde de Cairu “crê supersti- 0,13 0,15 0,16
ciosamente na mão invisível e repete: deixai fazer, deixai passar e deixai vender”. Como ; 0,69 0,78 0,78
afirma Shepsle, Hamilton, no final do século XVIII, ao defender as indústrias infantes 12 70-92 0,14 0,15 0,33
estava implantando o que a partir do século XX seria chamado de políticas industriais”. | Fome GOLDSMITH, R W. Brasil 1850-1984 desentuleimento fanencerro sob um século de mflação São Paulo Harper
Além de uma política liberal que ajudará a inviabilizar a produção industrial inter- & How do Brasil, 1985
76 Formação Econômica do Brasil “Éculo XIX: Renascimento Agrícola, Economia Cafeeira e Industrialização 77
O serviço da dívida nesse período aumenta de
ênio Total Calé Açúcar Cacau Erva-mare Fumo Algodão Borracha Couros
e peles
mo quartel do século XIX, configurando o chamado imperialismo inglês. Lênin, ag 95,1 56,6 11,8 12 1,5 3,4 9,5 5,5 5,6
analisar a exportação de capitais para os países atrasados, onde as taxas de lucro e de 92,3 61,5 9,9 1,6 1,2 2,7 4,2 8,0 3,2
juros são mais elevadas, mostra como se dá a incorporação desses países no processo de
95,6 64,5 6,6 15 13 2;2 2,7 15,0 24
circulação do capitalismo mundial, agora com forte implicação financeira:
, , p graf iy , ' %
cio Exterior do Brasil, nº. 1,c. e. e nº. 12-4, do Serviço de Estatística Econômica e Financeira do Ministério da Fazenda,
N f «lag
% obeletoa tm do ventral dfatutio Pepdiç Arado Sa f oo irata dd x RR (ue ida A
ySchlicter Silva, “Tendências e características gerais do comércio exterior no século XIX”, Revista de História da Economia
pa pas EN PRE RO TRE A R ue bt el A ul DR AR 14 viu
4, ano |, jun. 1953, p. 8. Apud FAUSTO, 1994, p. 191.
Eraddtas patao POREM AN ED qua ter qe da do pa erro Potmatrcaç o ahi o rly
Hlque E) merenda ) ho cbadiio Ch tod: Voy etrboia apt ami atrito ME gS a A produção de café no início do século XIX se concentra no Vale do Paraíba, com-
portao gut etry cute venho endendo regiões do Rio de Janeiro e São Paulo. As condições climáticas e geográfi-
cdi Pontaêno de ato dC pudor o comete eA ig eram favoráveis à cultura do café, com a vantagem da proximidade do porto do Rio
de Janeiro, que facilitava a exportação da produção, apesar de o transporte entre as
A entrada da economia brasileira no século XIX dá-se, portanto, em condições fazendas e o porto ser feito inicialmente por tropas de burros. As fazendas de café man-
precárias, na medida em que nossos principais produtos de exportação — o açúcar e 6) eram a tradição da plantation, caracterizada pela grande extensão e pelo uso da mão-
algodão — precisam enfrentar forte concorrência de outras colônias e países. Essa co obra escrava. As técnicas empregadas eram rudimentares, baseadas numa agricultura
corrência aumentava por causa da baixa produtividade da nossa agricultura, e pela iné à nsiva e predatória, que se utilizava tão-somente da enxada e da foice. Tais técnicas
ficiente estrutura do transporte marítimo e de distribuição de nossa produção. Nó explicam o caráter itinerante da produção cafeeira: quando as terras se exauriam, eram
momento em que os ventos do liberalismo começam a soprar para o comércio brasileiro! ndonadas e substituídas por novas terras, que no futuro também seriam abandona-
e mundial, as possibilidades brasileiras ainda se mostram bastante limitadas. O futuro) € assim sucessivamente. Somente nas novas regiões cafeeiras do oeste paulista, por
seria sombrio se não fosse o surgimento do café como um importante produto de expor Yólta de 1870, é que seria introduzido o arado e o despolpador, promovendo uma revo-
tação, e em cuja produção teríamos vantagens comparativamente expressivas. io técnica no descascamento dos grãos”.
O café, introduzido no Brasil no começo do século XVIII, assume importânciã - No último quartel do século XIX, enquanto decaía a produção do Vale do Paraíba,
comercial no fim desse mesmo século, com a alta dos preços devida à desorganização dé Fomeça a se destacar a região produtora do Oeste Paulista. Entre as notáveis caracterís-
produção causada pelas revoltas de escravos na colônia francesa do Haiti. Na terceird! cas físicas e climáticas da região, citamos a excelente produtividade da terra roxa, cor-
década do século XIX, o café já é o terceiro produto brasileiro de exportação, atrás do) Ptela da palavra italiana rossa (vermelha). A implantação da ferrovia Santos a Jundiaí,
açúcar e algodão, respondendo por 18% das exportações! (ver Tabela 4.3). , “cessão inglesa da São Paulo Railway, que começa a operar em 1868, permite à região
O Rem ad Jum ; Bope nd eli ento Ber epttes tom de cento o foro mhul prodietor, ndo portar cu | “4 Produtora superar os obstáculos da Serra do Mar e atingir o porto de Santos, com
MM apo od UH “OA, run por E “me incremento da produtividade dos transportes. Além da Santos—Jundiaí é criada
tipo bee do 40% arroio pasa cetinçãr eme ISOO 2 D45 É Companhia Paulista, formada por capitais brasileiros ligados ao café, e as Companhias
78 ormação
Formação Econômica do Bras
Econômii :
SéPSculo XIX: ; Renascimento Aarícola, . e Industrializaçãoe
Economia Cafeeira 79
Mogiana, Ituana e Sorocabana, esta ligada ao algodão e não ao café. Cria-se na Fegiã no banqueiro dos produtores”. Alguns, como o conselheiro Antônio Prado, eram
j e
um verdadeiro mar de café, tal a sequência ininterrupta de plantações”! (ver Tabela 4.4)
veiros efetivamente. Além de grande produtor na região de Ribeirão Preto, era
à A ucádio juntamente com a família, da casa comissária Prado & Chaves, localizada
Tabela 4.4 !
Santos, € controlava um dos maiores bancos da época, o Banco do Comércio e
fadústri a de São Paulo (Comind), que viria a falir nos anos 1980.
Enquanto produtores
É
eram quase sempre brasileiros, as exportações, desde seu início, eram con-
Dentes Milhares de sacas Do empre americanas e inglesas. Era justamente no circuito da comercia-
NA ve E . np que se encontravam as maiores possibilidades de lucros, considerando-
ia 10.430 o café uma das mercadorias mais importantes em todo o comércio mundial. Esse con-
1841-50 18.367 “ole da comercialização externa por estrangeiros já havia ocorrido com o açúcar, cuja
1851-60 27.339 portação € distribuição na Europa era controlada por capitais holandeses.
1861-70 29.103
1871-80 32.509 4.2 Abolição do tráfico e a mão-de-obra imigrante
1881-90 51.631
E No início do século XIX a Inglaterra libertou os escravos em suas colônias e
necou uma campanha diplomática e, muitas vezes militar, contra o tráfico negreiro.
Fonte: PRADO JR., Caio, História econômica do Brasil. 36. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988.
80 Formação Econômica do Brasil “culo XIX: Renascimento Agrícola, Economia Cafeeira e Industrialização 81
ca Ma
Mi a a