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INa seguiiua IICLAGE QU SECULO A VII OCOITE O renascimento agricola, que vai per.

XV e XVI A partir dessa consolidação, a Inglaterra, país hegemônico, defenderá o


mitir à colônia recuperar-se da decadência do ciclo do ouro. Segundo Caio Prado Júnior
um comércio, o fim da escravidão e apoiará a libertação das colônias ibéricas. No caso
(1988), após o longo sonho dos metais e pedras preciosas, a colônia vive a sua melhor
«cileiro, à vinda da família real em 1808, fugindo da ocupação de Portugal pelas
fase no último quartel do século XVIII, num momento em que a demanda externa por
napoleônicas, introduzirá o livre-comércio, significando, na prática, o fim do
algodão aumenta para atender às necessidades da Revolução Industrial. No final do
ado colonial.
século XVIII o café começa a ser cultivado em grande escala, possibilitando antever q
Assim que desembarca nas costas brasileiras, ainda na Bahia, em sua escala para O
auspicioso futuro desse produto. A Revolução Industrial e a conjuntura política
Rio de Janeiro, o regente português, D. João VI, assina o decreto que abre os portos da
européia trarão consegiiências importantes para a colônia. Com a vinda da família real
para o Brasil, em 1808, pode-se considerar encerrado o período colonial brasileiro,
cobre a qual se apoiava o domínio colonial português. Ainda que fosse uma medida de
tamanhas serão as mudanças na economia. o
à áter provisório, fruto das circunstâncias, a sua manutenção — enquanto dura a per-
Podemos dividir o estudo do século XIX em três períodos: a era do liberalismo, de
1808 a 1850; o império escravocrata, de 1850 a 1889;€e 0 período republicano, de 1889
41 não se pode voltar atrás.
a 1990. Durante o liberalismo ocorre grande transformação nas relações econômicas
Portugal submete-se totalmente ao jugo inglês, uma vez que serão os ingleses que
internas e externas do país. As atividades econômicas externas até então eram centrali.
o comandar a luta contra os franceses, governarão o Reino libertado em 1809 e farão
zadas em Portugal que, com o pacto colonial e o exclusivo metropolitano, exercia 0
guarda do soberano português no Rio de Janeiro, onde permanecerá ancorada uma
monopólio do comércio externo da colônia. A partir de 1808, com a abertura dos por-
ivisão naval inglesa. Essa submissão política leva à submissão econômica, com a assi-
tos, o monopólio português será substituído por um quase monopólio inglês. Ocorre
ra do Tratado de Comércio e Navegação com a Inglaterra, em 1810. Com o decre-
um notável aumento do comércio internacional, em função das próprias necessidades da
de abertura dos portos fixou-se uma tarifa de importações de 24%, sendo as das mer-
presença da Corte portuguesa no país, bem como do aumento das exportações brasi-
adorias portuguesas reduzidas posteriormente para 16%. Com o tratado, as tarifas de
leiras, com o café já se transformando em importante produto de exportação nas primei-
importações para as mercadorias inglesas passam para 15%, inferiores às próprias tari-
ras décadas do século XIX.
s de importações sobre os produtos portugueses. Somente em 1816 serão equiparadas,
Na segunda metade do século, a economia do império será totalmente dominada
Embora isso pouco significasse em termos de possibilidade de concorrência efetiva dos
pela exportação cafeeira, que trará um novo equilíbrio econômico ao país. Apesar das
rodutos portugueses com os produtos ingleses. A partir do tratado de 1810, “o comér-
dificuldades advindas com a guerra do Paraguai, este será um período mais dinâmico Cio e a navegação portugueses serão praticamente excluídos do Brasil”.
que o anterior, com a transformação paulatina da mão-de-obra escrava em assalariada, o
Depois dos ingleses, o comércio externo passa, a partir da paz na Europa em 1815,
fim do tráfico de escravos e o forte crescimento da imigração no último quartel do sécu-
contar com as demais nações, especialmente com a França, ampliando os fluxos de
lo. Será, ainda, o período da consolidação econômica do centro-sul do país, revertendo
Comércio externo da ainda colônia, mas sem as amarras do monopólio português. À cen-
a polarização no norte desde o início da colônia. Será também na segunda metade do
Etalização do império português no Rio de Janeiro e a elevação do Brasil a Reino Unido
século que teremos as tentativas mais consistentes de industrialização.
de Portugal e Algarves em 1817 certamente darão impulso às atividades econômi-
No final da década de 1880 teremos o advento da República, marcada logo em seu tas da colônia, ainda mais considerando-se a precária situação de Portugal após a
início pelo encilhamento, um período de forte expansão monetária, grande especulação e invasão francesa e as lutas para a sua libertação. Esse período de transformações que se
uma tentativa notável (e depois frustrante) de salto industrial. Para a linha interpreta- inicia em 1808, apesar da importância exagerada por alguns, certamente implicou rele-
tiva do capitalismo tardio, no final do império e início da República ocorre a consoli- Nantes transformações políticas e econômicas que só poderiam ter como desfecho a
dação do capitalismo industrial no Brasil. “mancipação política do país em 1822º.
k
A abertura comercialé acarreta graves desequilíbrios
EST s a
na balança comercial, em um
4.1 A era do liberalismo: 1808 a 1850 Montante total de 2 33.923 contos de réis, sem contar as despesas com a importação de
Escravos africanos. Esses déficits serão cobertos pelos capitais externos, sobretudo
As revoluções industriais no final do século XVIII, com a consolidação do capitalis- Empréstimos públicos, que começam a afluir ao Brasil desde o início da abertura do
mo industrial, vão implicar a superação do capitalismo comercial, significando, ainda, Comércio para o exterior. Mas esses capitais produziam um equilíbrio provisório, impli-
um duro golpe sobre os impérios coloniais ibéricos, que tiveram seu apogeu nos sécu- “ando, ainda, o pagamento de juros e amortizações e assim gerando novos fatores de

74 Formação Econômica do Brasil “culo XIX: Renascimento Agrícola, Economia Cafeeira e Industrialização
à io O o 7
desequilíbrio em nossas contas externas. Eventuais interrupções nesses atluxos de capi. ma, o império brasileiro recém-emancipado assume com a Inglaterra uma dívida, que
tais externos implicarão graves perturbações na nossa economia”. “era na origem portuguesa, de dois milhões de libras, mantendo-se atrelado ao sistema
“bancário internacional desde então, com seguidos empréstimos tomados pelo império*,
Tabela 4.1 principal
4 mente na Inglaterra”. Segundo Déak'º, para termos uma noção comparativa da

Anos Exportação Importação dimensão dessa dívida, o início da implantação das ferrovias na Inglaterra entre 1800 e
1825 implicou um investimento total de 1,5 milhão de libras esterlinas,
1812 1.233.000 770.000 valor que
“alcança tão-somente 75% da dívida assumida pelo Brasil. O montante dessa dívida sus-
1816 2.330.000 2.500.000 ]
tentaria, ainda, cinco dos vinte anos das despesas inglesas com as Guerras Napoleônicas
1822 4.030.000 4.590.000 e era equivalente a dois terços de toda a renda anual proveniente do exterior auferida à
Fontt: PRADO JR.., Caio, História econômica do Brasil. 36. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 132. 1
época, pela Inglaterra". Os fregientes empréstimos externos tomados pelo setor públi-
“co vão implicar um serviço da dívida cada vez mais pesado: “Em meados do século, o
Serviço das dívidas já absorvia quase 40% do total da receita”".
A partir da transferência da Corte portuguesa para o Brasil e da abertura dos por- q
A balança comercial brasileira começará a produzir superávits comerciais no início
tos, a balança comercial brasileira torna-se quase que permanentemente deficitária (ver * dos anos 1860. É importante ressaltar que o grau de abertura comercial do país atinge
Tabela 4.1). Do superávit do início do século, a balança passa a apresentar crescentes 3 um terço do PIB na segunda metade do século passado". Estimativas para o balanço de
déficits: em 1821, quando se passa a ter estatísticas mais confiáveis, até 1860, essa ba- pagamentos do Brasil nesse período mostram que entre 1850 e 1889, para um superávit
lança será deficitária. Esses déficits serão cobertos com capitais estrangeiros, que come- | «comercial acumulado de 0,69 bilhão de mil-réis, tivemos um serviço da dívida de 0,78
çaram a entrar no Brasil a partir do momento em que o país é franqueado ao exterior. bilhão. As despesas com outros itens da conta serviços — fretes, seguros, gastos comi
Evidentemente, essa é uma solução provisória, pois num segundo momento o desequi- viagens ao exterior e remessas cambiais por imigrantes portugueses — são estimadas
líbrio externo se agrava com os pagamentos dos juros, amortizações e dividendos: sçom grandes dificuldades. Por exemplo, calcula-se que os gastos com viagens e remes-
dido ei Deraas
sas de imigrantes atingiram a 2,2% do produto interno no período 1853 a 1863, valo-
A econonine douto fruerê ne definido de o Afirom duo Los e arucento
ade apieo Meio Pudoido DACES Pass VB dy ata foturh.
“tes maiores que as estimativas do serviço da dívida externa'!, Wileman estima que o
otramerro der custa UU LeilivardO

cede ves egie por ce eoeti aro par pretro fal afleoe enterrando qu dies veio detnimm déficit em transações correntes para o período 1850 a 1889 foi coberto com as impor-
rações de capital, que atingiram 800 milhões de mil-réis, ou 2% do produto interno”
Os acordos comerciais assinados com a Inglaterra logo após a Independência, e pos- (ver Tabela 4.2).
teriormente estendidos a outras nações, praticamente não impunham restrições adua-
neiras à entrada de produtos estrangeiros. Esses acordos mantinham a tradição de sub-
Tabela 4.2
serviência econômica que herdamos de Portugal, desde o Tratado de Methuen, em que
um Portugal agrícola se submete a uma Inglaterra já em processo de industrialização,
passando pelo Tratado de Amizade Portugal-Inglaterra de 1810. O país emancipado vai Balança comercial Serviço da dívida Importação de capitais
manter o espírito desses tratados em suas relações com a Inglaterra e com os outros paí- -0,12 0,06 0,04
ses mais ricos. Na verdade, teremos em todo o Império o predomínio de uma política 0,05 0,06 0,04
comercial liberal, defendida, por exemplo, desde o Visconde de Cairu. Celso Furtado, ao
0,14 0,09 0,31
comparar Cairu com Alexander Hamilton, liberal norte-americano, mostra que apesar de
0,19
ambos defenderem o livre comércio, Hamilton proporá ações diretas em prol da indus- 0,12 0,10

trialização norte-americana, promovendo estímulos diretos às indústrias, mesmo 0,30 0,30 0,13
enfrentando a oposição dos pequenos agricultores. Já o Visconde de Cairu “crê supersti- 0,13 0,15 0,16
ciosamente na mão invisível e repete: deixai fazer, deixai passar e deixai vender”. Como ; 0,69 0,78 0,78
afirma Shepsle, Hamilton, no final do século XVIII, ao defender as indústrias infantes 12 70-92 0,14 0,15 0,33
estava implantando o que a partir do século XX seria chamado de políticas industriais”. | Fome GOLDSMITH, R W. Brasil 1850-1984 desentuleimento fanencerro sob um século de mflação São Paulo Harper
Além de uma política liberal que ajudará a inviabilizar a produção industrial inter- & How do Brasil, 1985

76 Formação Econômica do Brasil “Éculo XIX: Renascimento Agrícola, Economia Cafeeira e Industrialização 77
O serviço da dívida nesse período aumenta de

ênio Total Calé Açúcar Cacau Erva-mare Fumo Algodão Borracha Couros
e peles

85,8 18,4 30,1 0,5 0,5 2,5 20,6 0,1 13,6


Os empréstimos e o retorno sobre os investimentos são, quase sempre, garantidos 89,8 43,8 24,0 0,6 0,5 1;9 10,8 0,3 7,9
pelo governo central, mesmo quando não se trata de empréstimos tomados pelo setor 88,2 414 26,7 L,0 0,9 1,8 7,5 04 8,5
público. Estima-se que dois terços do total desses investimentos sejam ingleses, cons
90,9 48,8 BL 10 1,6 2,6 6,2 2,3 7,2
centrados nas estradas de ferro, serviços de utilidade pública e serviços financeiros. Essy
preponderância inglesa está ligada à exportação de capitais que vai caracterizar o últi 90,3 45,5 12,3 0,9 1,2 3,0 18,3 351 6,0

mo quartel do século XIX, configurando o chamado imperialismo inglês. Lênin, ag 95,1 56,6 11,8 12 1,5 3,4 9,5 5,5 5,6
analisar a exportação de capitais para os países atrasados, onde as taxas de lucro e de 92,3 61,5 9,9 1,6 1,2 2,7 4,2 8,0 3,2
juros são mais elevadas, mostra como se dá a incorporação desses países no processo de
95,6 64,5 6,6 15 13 2;2 2,7 15,0 24
circulação do capitalismo mundial, agora com forte implicação financeira:
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cio Exterior do Brasil, nº. 1,c. e. e nº. 12-4, do Serviço de Estatística Econômica e Financeira do Ministério da Fazenda,
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% obeletoa tm do ventral dfatutio Pepdiç Arado Sa f oo irata dd x RR (ue ida A
ySchlicter Silva, “Tendências e características gerais do comércio exterior no século XIX”, Revista de História da Economia
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4, ano |, jun. 1953, p. 8. Apud FAUSTO, 1994, p. 191.
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Hlque E) merenda ) ho cbadiio Ch tod: Voy etrboia apt ami atrito ME gS a A produção de café no início do século XIX se concentra no Vale do Paraíba, com-
portao gut etry cute venho endendo regiões do Rio de Janeiro e São Paulo. As condições climáticas e geográfi-
cdi Pontaêno de ato dC pudor o comete eA ig eram favoráveis à cultura do café, com a vantagem da proximidade do porto do Rio
de Janeiro, que facilitava a exportação da produção, apesar de o transporte entre as
A entrada da economia brasileira no século XIX dá-se, portanto, em condições fazendas e o porto ser feito inicialmente por tropas de burros. As fazendas de café man-
precárias, na medida em que nossos principais produtos de exportação — o açúcar e 6) eram a tradição da plantation, caracterizada pela grande extensão e pelo uso da mão-
algodão — precisam enfrentar forte concorrência de outras colônias e países. Essa co obra escrava. As técnicas empregadas eram rudimentares, baseadas numa agricultura
corrência aumentava por causa da baixa produtividade da nossa agricultura, e pela iné à nsiva e predatória, que se utilizava tão-somente da enxada e da foice. Tais técnicas
ficiente estrutura do transporte marítimo e de distribuição de nossa produção. Nó explicam o caráter itinerante da produção cafeeira: quando as terras se exauriam, eram
momento em que os ventos do liberalismo começam a soprar para o comércio brasileiro! ndonadas e substituídas por novas terras, que no futuro também seriam abandona-
e mundial, as possibilidades brasileiras ainda se mostram bastante limitadas. O futuro) € assim sucessivamente. Somente nas novas regiões cafeeiras do oeste paulista, por
seria sombrio se não fosse o surgimento do café como um importante produto de expor Yólta de 1870, é que seria introduzido o arado e o despolpador, promovendo uma revo-
tação, e em cuja produção teríamos vantagens comparativamente expressivas. io técnica no descascamento dos grãos”.
O café, introduzido no Brasil no começo do século XVIII, assume importânciã - No último quartel do século XIX, enquanto decaía a produção do Vale do Paraíba,
comercial no fim desse mesmo século, com a alta dos preços devida à desorganização dé Fomeça a se destacar a região produtora do Oeste Paulista. Entre as notáveis caracterís-
produção causada pelas revoltas de escravos na colônia francesa do Haiti. Na terceird! cas físicas e climáticas da região, citamos a excelente produtividade da terra roxa, cor-
década do século XIX, o café já é o terceiro produto brasileiro de exportação, atrás do) Ptela da palavra italiana rossa (vermelha). A implantação da ferrovia Santos a Jundiaí,
açúcar e algodão, respondendo por 18% das exportações! (ver Tabela 4.3). , “cessão inglesa da São Paulo Railway, que começa a operar em 1868, permite à região
O Rem ad Jum ; Bope nd eli ento Ber epttes tom de cento o foro mhul prodietor, ndo portar cu | “4 Produtora superar os obstáculos da Serra do Mar e atingir o porto de Santos, com
MM apo od UH “OA, run por E “me incremento da produtividade dos transportes. Além da Santos—Jundiaí é criada
tipo bee do 40% arroio pasa cetinçãr eme ISOO 2 D45 É Companhia Paulista, formada por capitais brasileiros ligados ao café, e as Companhias

78 ormação
Formação Econômica do Bras
Econômii :
SéPSculo XIX: ; Renascimento Aarícola, . e Industrializaçãoe
Economia Cafeeira 79
Mogiana, Ituana e Sorocabana, esta ligada ao algodão e não ao café. Cria-se na Fegiã no banqueiro dos produtores”. Alguns, como o conselheiro Antônio Prado, eram
j e
um verdadeiro mar de café, tal a sequência ininterrupta de plantações”! (ver Tabela 4.4)
veiros efetivamente. Além de grande produtor na região de Ribeirão Preto, era
à A ucádio juntamente com a família, da casa comissária Prado & Chaves, localizada
Tabela 4.4 !
Santos, € controlava um dos maiores bancos da época, o Banco do Comércio e
fadústri a de São Paulo (Comind), que viria a falir nos anos 1980.
Enquanto produtores
É
eram quase sempre brasileiros, as exportações, desde seu início, eram con-
Dentes Milhares de sacas Do empre americanas e inglesas. Era justamente no circuito da comercia-
NA ve E . np que se encontravam as maiores possibilidades de lucros, considerando-
ia 10.430 o café uma das mercadorias mais importantes em todo o comércio mundial. Esse con-
1841-50 18.367 “ole da comercialização externa por estrangeiros já havia ocorrido com o açúcar, cuja
1851-60 27.339 portação € distribuição na Europa era controlada por capitais holandeses.
1861-70 29.103
1871-80 32.509 4.2 Abolição do tráfico e a mão-de-obra imigrante
1881-90 51.631
E No início do século XIX a Inglaterra libertou os escravos em suas colônias e
necou uma campanha diplomática e, muitas vezes militar, contra o tráfico negreiro.
Fonte: PRADO JR., Caio, História econômica do Brasil. 36. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988.

à. maior resistência à abolição do tráfico será de Portugal e, após a independência, do


O intenso desenvolvimento da cafeicultura no Oeste paulista começa a gestar ; Bs il, em função do grande negócio que representava o comércio de escravos, um dos
chamada burguesia do café, considerando-se que, nas últimas décadas do século XIX, REnres mais rentáveis do comércio colonial, bem como da sua importância como mão-
ocorre a constituição de uma economia capitalista, baseada, inclusive, na mão-de-obra de-obra”. Apesar dos vários compromissos assumidos com a Inglaterra, somente com à
assalariada dos trabalhadores imigrantes. A partir da acumulação de capitais na agri- ifitervenção da armada inglesa, apreendendo unilateralmente navios negreiros em
cultura cafeeira, ocorrem os investimentos em ferrovias, em bancos,
lireção ao Brasil, é que será assinada em 1850 a Lei Eusébio de Queirós, que extingue
no comércio e,
finalmente, na indústria. É a formação do que Wilson Cano denominou de “complexo tráfico negreiro para o Brasil. Os dois últimos desembarques clandestinos acontecem
ra
cafeeiro”. 1855 e 1856, tendo sido a carga apreendida e os infratores punidos, e pondo fim
Apesar das vantagens da nova região produtora, os grupos sociais do Vale do efinitivamente ao tráfico de escravos africanos para o Brasil, depois de ter atingido a
Paraíba e do Oeste paulista não se diferenciavam muito, mesmo porque vários dos
ia anual de cinquenta mil escravos por ano na fase áurea que precedeu o fim do ré
3, Segundo Celso Furtado” o número de escravos em 1850 estava entre um milhão
grandes fazendeiros do Vale acabaram por se estabelecer também no Oeste paulista. À! O primeiro
E meio a dois milhões, em uma população de sete milhões de habitantes.
agricultura de plantation baseada no trabalho escravo era praticada em ambas as regiões.
tenso demográfico realizado no Brasil, em 1872, mostrou que existiam no país um mi-
A substituição do braço escravo nas lavouras paulistas deu-se paulatinamente, diante da
O e meio de escravos. |
inevitabilidade do fim da escravidão. Mesmo com o fim do tráfico negreiro, é grande,
ainda, o comércio de escravos na região açucareira do Nordeste em direção ao Centro-
| A extinção do tráfico de escravos ocasiona um profundo impacto econômico. O trá-
Sul. Assim, em 1887, pouco antes da Abolição, a população escrava da província de São:
co anual de cinquenta mil escravos era o maior negócio da época, equivalente àtotali-
(Sade das importações do país. Com a interrupção abrupta desses negócios, esses capi-
Paulo era a terceira maior do país, ficando atrás apenas de Minas Gerais e Rio de
s serão destinados a outras iniciativas empresariais, surgindo bancos, indústrias,
Janeiro.
'êmpresas de navegação a vapor etc. Há um grande aumento da circulação monetária,
Na estrutura social e econômica da população ligada ao café, aparecem com grande
impulsionada pelo direito de emissão concedido ao Banco do Brasil e pela ensiáção de
importância as figuras dos comissários e dos exportadores. Os comissários, estabeleci-
dos nos portos do Rio de Janeiro e Santos, atuavam como intermediários entre produ- títulos pelos demais estabelecimentos de crédito. Para Sérgio Buarque de Holanda” a
febre de reformas desse período não será igualada nem mesmo após o início do período
tores e exportadores, adquirindo muita importância nesse relacionamento com os fazen-
fepublicano. Isso resulta em duas crises financeiras: uma em 1857, a outra em 1864.
deiros e passando até a financiar as plantações, assumindo também o papel de inter- hMas sobram como símbolos dessa época a primeira ferrovia brasileira, inaugurada em
mediários entre estes e os bancos. Com o tempo, o comissário se transforma no ver- | 854, e as primeiras linhas telegráficas, construídas em 1852?.

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