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INSTITUTO FEDERAL DE GOIÁS

CURSO DE LICENCIATURA EM MÚSICA

GUILHERME L. NASCIMENTO

RAÍZES DA EDUCAÇÃO COLONIAL

Goiânia
Maio de 2018
GUILHERME L. NASCIMENTO

RAÍZES DA EDUCAÇÃO COLONIAL

Síntese apresentada à Profª Luciene


Mª Bastos, ministrante da disciplina
História da Educação no curso de
Licenciatura em Música.

Goiânia
Maio de 2018
A educação no Brasil, segundo Feitosa, está enraizada ao programa educativo da
Companhia de Jesus. Foram os jesuítas, provavelmente, os únicos educadores e, em suma,
influenciadores do nosso modelo cultural. Sendo aquela, a mais marcante influência externa
que se tem registro na formação social brasileira.
Em Portugal, colonialismo e cristianismo estão amalgamados de tal modo que, onde se
instalar uma colônia, instala-se uma missão e, consequentemente, o cristianismo representa a
primeira fração na edificação da pirâmide colonial brasileira, como primeiro traço de nossa
educação. Nesse aspecto, a oratória doutrinadora e educativa jesuíta, marcou veementemente
a formação social do Brasil.
Entretanto, como segunda face piramidal, razões de natureza política também se
registram no estabelecimento da Companhia de Jesus em território brasileiro. Afinal, Portugal
confiou aos jesuítas, também, a missão de proteger a unidade político-cultural em território
brasileiro, tendo esta, uma intensa ligação de apoio com o poder político. Um artífice de
reprodução das conveniências do Estado. E neste sentido, a Companhia se mostrou de grande
valor aos portugueses.

Os jesuítas não estavam servindo apenas à obra da catequese, mas


lançavam as bases da educação popular e, espalhando nas novas
gerações a mesma fé, a mesma língua e os mesmos costumes,
começavam a forjar, na unidade espiritual, a unidade política de uma
nova pátria. (AZEVEDO, apud FEITOSA, 1985, p. 111).

Dessas duas facetas de nossa educação – a procura de uma unidade religiosa e política
– percebe-se uma terceira raiz: a transplantação cultural. Tal transplantação é feita através do
processo de catequização realizado pelos jesuítas; pelo currículo escolar elaborado conforme
os padrões do Colégio de Coimbra, assim como ex-alunos da Companhia de Jesus que eram
enviados às universidades na Europa.
Esta implantação era feita de forma massiva, ocasionando em mudanças calamitosas
na cultura indígena, que sofre alterações não apenas na linguagem, mas em uma infinidade de
formas, sendo substituída gradativamente, pelos ideais jesuítas e sua concepção de vida única
para todos os povos, a mudar toda cultura aborígene.
Porém, não foi apenas a cultura do índio que sofreu alterações, mas, também, a dos
colonos. Sobretudo os que estavam ligados ao ensino, sendo reinol ou não. No fim do século
XVI, o programa de ensino dos padres jesuítas não traz mais o mesmo caráter preferencial de
catequizar e instruir o índio, desenvolvido por Pe. Manoel de Nóbrega. Longe disso, o sistema
educativo da Companhia se distancia deste formato e se volta para o ensino elitista, oriundo
da aristocracia e engenheiros do século XVI, dos burgueses do século XVII e proprietários de
mineradoras do século XVIII. Os colégios, logo, são construídos para atender e preparar as
elites da colônia.
Em menção aos aspectos referentes à transplantação supracitada e demais
consequências do contato social entre o índio sul-americano e a população ibérica, apesar da
oposição sociocultural, e de valores, aborígenes e clérigos da Companhia de Jesus aprenderam
uns com os outros.
Inicialmente, os jesuítas se empenharam em trazer do continente europeu, desde os
primórdios das missões realizadas pela Companhia, mestres nos processos artísticos e em
diversos ofícios mecânicos. Terminaram formando não apenas ótimos artífices, mas
igualmente mestres nativos, assim como ocorreu no atual Sítio Arqueológico de São Miguel
Arcanjo, onde até a segunda metade do século XVIII era uma comunidade cristã
autossustentável, com horticultura, artesanato aprimorado com características indígenas e
europeias, padres e população de origem Guarani catequizada pelos jesuítas.
Os jesuítas também tiveram a oportunidade de aprender com o nativo sobre sua
cultura, costumes e forma de vivência social. A evangelização pela pregação foi a forma do
jesuíta para civilizar o índio e minimizar o processo de degradação cultural, pois o índio
catequizado não poderia ser escravizado pelos colonos. Logo, afirmaram com toda convicção
que os nativos eram homens como o branco europeu, apesar de diferentes. Mas não eram
menos capazes de atingir a salvação eterna, e segundo Kern (2014), “O objeto era a ação
evangélica de transformação do indígena em um homem completo através de sua educação, da
evangelização e de sua subtração à escravidão. Aos olhos dos missionários europeus, o
indígena só seria um homem completo e feliz em função da conversão, objetivo último das
missões, em relação ao qual os meios temporais exerceram um mero papel auxiliar.” (p. 112-
113).
Entretanto, os missionários se depararam com a oposição ideológica por parte dos
pajés.
Aonde a Companhia de Jesus ia de encontro ao indígena, se iniciava um processo de
catequização e instrução, transformando os aldeamentos em povoados missioneiros. Kern
(2014) afirma que “Os rituais das bebedeiras cerimoniais, do canibalismo e do enterramento
em urnas de cerâmica são substituídos pelos padrões cristãos do batismo, da missa e do
enterramento em cemitérios.” (p. 110). Nesse aspecto, nota-se também o processo de
transculturação; o índio passou a viver em contato com elementos culturais cristãos e
europeus, introduzidos paulatinamente pelos jesuítas. Foram introjetando novos modelos
artísticos, uma nova organização sócio-política, transformações tecnológicas, novos rituais,
nova economia e um processo excepcional de modernização das aldeias. Mesmo assim, o
índio ainda manteve sua essência cultural, misturando as danças, as músicas, o artesanato e os
cantos oriundos da tradição indígena, sempre presentes nas festividades, acrescido aos corais,
arquitetura ibérica, missas cantadas, músicas e às coreografias da tradição teatral barroca.
A ação jesuíta no período colonial e fatores socioculturais, tanto indígenas quando
europeus, são apresentados, explicitamente, no filme “A Missão”, de Rolland Joffé. Neste, é
contextualizado a forma como o contato social entre os mesmos, não gerou mudanças apenas
no índio. No filme, o personagem Cap. Rodrigo Mendonza, interpretado por Robert de Niro,
recebe pinturas corporais oriundas da cultura Guarani.
Ao analisar de forma simplista, ocorria uma disputa entre mercenários mercadores de
escravos e jesuítas. Caso o índio chegasse a ser catequizado, não seria escravizado. Tal
ocorrência mostrada na película é retratada na cena em que Cap. Mendonza caça os índios e
em seguida, ele e mais mercenários chegam aos assentamentos coloniais espanhóis com
índios amarrados e acorrentados para serem vendidos como escravos à colônia portuguesa. E
a ação em defesa do índio pelo Pe. Gabriel, interpretado por Jeremy Irons, bradando à
Mendonza que o mesmo estava caçando acima das cachoeiras, suposto território espanhol,
onde uma missão se instalara.
Apenas sobreviveram culturalmente os que se submeteram às Reduções ou que se
esconderam em território ainda não desbravado. No desfecho do filme, índios jovens fugiram
após o ataque do exército português à Comunidade de São Carlos.
As oposições socioculturais entre bugres e jesuítas, especialmente entre o líder da tribo
e os padres é, sutilmente, demonstrada no início do filme, com o pajé quebrando o oboé do
missionário Gabriel. Assim como o processo de transculturação, onde os próprios índios
constroem moradias e capelas de sapê na aldeia e o canto orfeônico mostrado diversas vezes
cantado pelo próprio povo indígena, somado às danças oriundas da cultura Tupi-guarani para
receber o clérigo Altamiro, interpretado por Ray McAnally.
Os missionários utilizavam seu conhecimento catequético e artístico para atrair o índio
“pelo fantástico e pelo maravilhoso” (KERN, 2014, p.116), no nível tecnológico e ritualístico
representado na cena em que o missionário, tocando seu oboé, é observado pelo olhar
interessado dos índios, utilizando a música da cultura europeia como primeiro contato nesta
cena em específico. Logo, a Companhia de Jesus foi instrumento colonizador através do
ensino da cultura europeia, a priori sobre a nudez, e do ensino do latim, conjunto ao aspecto
evangelizador, que por consequência, exemplificando, resultou em um diverso sincretismo
religioso na cultura brasileira, afetando, também, a cultura negra inserida como escrava na
colônia.

FEITOSA, Aécio. Raízes da Educação no Brasil, Educação em debate, n.10, julho/dezembro, 1985.
KERN, A. A. A educação do outro: jesuítas e guaranis nas missões coloniais platinas, In BASTOS, M H. C.;
STEPHANOU, M (orgs.)2014. Histórias e memórias da educação no Brasil. Vol. 1: séculos XVI-XVIII. 6 ed.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2014, p. 108-119.

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