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ENEM

Exasiu
EXTENSIVO

Exasiu
História do Brasil Colônia I

Profe Ale Lopes

AULA 06

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AULA 05
160
estretegiavestibulares.com.br
Profe Alê Lopes
Estratégia Vestibulares – Aula 06

Sumário

Introdução .......................................................................................................................... 4
1. A chegada dos Portugueses da América .............................................................. 4
2. O sistema de exploração colonial na América Portuguesa ............................. 11
2.1 - A expedição de Martin Afonso de Souza e o início da colonização ........................... 16

3. Administração colonial ............................................................................................. 20


3.1 – Sistema de Capitanias Hereditárias............................................................................ 20
3.2 – Governo geral ............................................................................................................ 23

4. Economia, trabalho e sociedade na colônia ....................................................... 27


4.1 – A implantação de uma cultura de exportação: a cana-de-açúcar .............................. 27
4.2 – A civilização do açúcar: trabalho e sociedade ........................................................... 29
4.2.1 – Conhecendo um engenho, suas edificações e as atividades de produção do açúcar .............. 30

4.2.2 – Estrutura social açucareira ............................................................................................. 34

5. A questão da escravidão ......................................................................................... 36


5.1- A Escravidão Africana .................................................................................................. 39
5.2 – Resistência Quilombola .............................................................................................. 47

6. Índios, ou melhor, povos originários .................................................................... 53


7. Açúcar: do esplendor à crise .................................................................................. 61
7.1 – Explicando a crise do açúcar ...................................................................................... 61
7.1.1 – Mercado internacional do açúcar e de escravos ................................................................ 62

7.1.2 – União Ibérica e invasão holandesa .................................................................................. 63

7.1.3 – Brasil Holandês ............................................................................................................ 64

7.1.4 – Insurreição Pernambucana (1645-1654) ........................................................................... 66

7.1.5 – As consequências para a economia colonial ..................................................................... 69

8. Questões Essenciais – ENEM ................................................................................ 71


9. Questões para Aprofundamento ........................................................................... 75
10. Questões para Consolidação ............................................................................... 85
11. Gabarito..................................................................................................................... 95

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12. Questões Essenciais - ENEM (comentários) .................................................... 95


13. Questões Aprofundamento - (comentários)................................................. 106
14. Questões para Consolidação (comentários) ................................................... 133
15. Considerações Finais ............................................................................................ 159

Queridas e Queridos Alunos,


Seja bem-vindo e bem-vinda a mais uma aula. É sempre um grande prazer compartilhar
com vocês nosso trabalho e participar dessa caminhada até sua aprovação. É bom saber que você
avançou mais uma aula! Isso é muito bom porque você está dominando cada dia mais nossa
disciplina!

Nesta aula começamos a estudar a experiência da dominação europeia no Brasil.


Particularmente, gosto muito desse assunto porque começamos a organizar as peças do que
chamamos de “nosso país”. Vamos escrever uma biografia brasileira – que vai demandar muito da
nossa atenção. Os assuntos da aula são: a chegada dos Portugueses na América, a implantação
do sistema colonial, economia e formas de trabalho, bem como, religião e educação na colônia.

Esse é um assunto que não cai nas provas, DESPENCA!!! Fique


muitooooo esperto e esperta, porque este é um assunto “clássico”, mas que
sofreu muitas revisões históricas nos últimos tempos.

Os assuntos da aula são:

a chegada dos Portugueses na América,


a implantação do sistema colonial,
administração colonial,
economia e formas de trabalho,
aspectos culturais.

Não me canso de afirmar, para você toda questão de história é imperdível! Você precisa
estar preparado para TUDO! Não esquece: “o segrego do sucesso é a constância no objetivo”.
Vamos seguir juntos!

Se você tiver dúvidas, utilize o Fórum de Dúvidas! Eu vou te responder bem rapidinho. Ah,
não tem pergunta boba, Ok? Vamos começar? Já sabe: pega seu café e sua ampulheta. Bora!!
XVI XVII

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INTRODUÇÃO
Queridas e queridos alunos, agora começamos a estudar a história brasileira. Como dizia
“o poeta”, o Brasil não é para iniciantes. Ou seja, muito difícil de explicar, tem que ter certa
desenvoltura e um pouco de conhecimento para entender esse jeito tão peculiar do “ser
brasileiro”. Em suma é preciso muita articulação. E essa é minha proposta: desenvolver em você
a capacidade de explicar esse país tão bem que o corretor da segunda fase vai pensar estar de
frente a um manuscrito de José Murilo de Carvalho, Sérgio Buarque de Holanda ou o próprio
Gilberto Freire!
Comecemos pensando na experiência da ocupação portuguesa nesse território e o primeiro
grande produto de exportação explorado nessas terras: o açúcar.
Há quem diga que o açúcar não foi um mero produto que enriqueceu portugueses e
colonos. Foi um verdadeiro produtor de códigos, costumes e hábitos, como diriam as professoras
Lilia Schwarcz e Heloísa Starling no livro Brasil: uma Biografia. Assim, estamos diante do estudo
sobre a “civilização do açúcar”.
Ah sim, lembre-se da chegada dos europeus na América! Você já sabe muita coisa, pois já
estudou a experiência da colonização espanhola na aula anterior. Use todo esse seu conhecimento
prévio para compreender semelhanças e diferenças com a experiência portuguesa no Brasil., OK?

1. A CHEGADA DOS PORTUGUESES DA AMÉRICA


Você já sabe que o impulso do expansionismo marítimo-comercial de Portugal tem um
fundamento comercial, militar e religioso. Conquistar novas almas e novas rotas até a fonte das
especiarias são as explicações para o impulso do pioneirismo português. Se lembrarmos da aula
passada, vamos concluir que Portugal levou quase 1 século entre conquistar Ceuta (norte da
África), em 1415, e chegar à Índia (Calicute, na época), em 1498, contornando o Périplo Africano.
Esse período foi marcado por um longo processo de tentativas e erros. Muito lucro, mas, muito
prejuízo com os naufrágios. De toda forma, possibilitou o desenvolvimento tecnológico e científico
da “ciência de navegar”.
A viagem para a América, mais especificamente a expedição comandada por Dom Pedro
Álvares Cabral, mesmo com tanta experimentação, foi recheada de imagens místicas com peixes-
monstros, sereias, cachoeiras infinitas no horizonte. Uma mitologia, é verdade, corroborada por
dados da realidade, como:
• Entre 1497 e 1612, 620 navios largaram do rio Tejo.
• Desses 285 ficaram no Oriente, ou seja, NUNCA retornaram.
• 66 naufragaram.
• 22 arribaram (viraram a proa para cima).
• 6 incendiaram.
• 4 foram sequestrados por piratas inimigos.

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Meu deus, Profe, que cenário de purgatório!!!!


É, Bixo, encontrar uma sereia era lucro, nesse cenário!!!! Aliás, a obra Os Lusíadas, de Luís Vaz
de Camões, faz referência direta aos desafios dos portugueses no mar. Se tiver um tempinho dá
uma conferida na parte do Gigante Adamastor.

Assim, para os portugueses, a América era um “Novo Mundo”. Embora já conhecido –


afinal, não se acredita mais na tese do descobrimento por acaso –, o território não era
efetivamente sabido. Segundo as professoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, não visão dos
brancos europeus, era novo porque

# ausente dos mapas europeus;


# novo, porque repleto de animais e plantas desconhecidos;
# novo, porque povoado por homens estranhos, que praticavam a poligamia, andavam nus e
tinham por costume fazer a guerra e comer uns aos outros.

E em 22 de abril, a armada de Cabral avistou um grande monte, o Monte Pascoal (hoje,


Parque Nacional do Monte Pascoal, a 62 km de Porto Seguro). A reação foi de espanto, encanto
e “vontade de tomar posse”, segundo o que determinava o Tratado de Tordesilhas. Lembra dele?
Essa posse precisava ser registrada e, para tal intento, estava presente o experiente
escrivão Pero Vaz de Caminha – que escreveu a carta que serve, para Portugal, como um “atestado
de nascimento” do Brasil. Caminha escreveu uma longa, deslumbrada e exultante descrição da
“terra nova”.
Assim, a descrição do “Novo Mundo” foi recheada de mitos. Mitos não apenas sobre
monstros ou seres “de outra humanidade”, mas sobre a própria chegada dos portugueses à
América e sobre o processo de conquista das terras brasileiras. Com certeza, a Carta de Caminha
ao Rei Dom Manuel alimentou 2 mitos:

MITO 1-
Encontro MITO 2-
Pacífico Índio como
entre Índios o Bom
e Selvagem
Portugueses

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O Mito 1 contribuiu para criar a ideia de que o encontro entre portugueses e indígenas foi
amigável e, portanto, a conquista foi pacífica – diferentemente da violência perpetrada pelos
espanhóis na Mesoamérica e nos Andes e, até mesmo, diferentemente da violência que ocorria
na Europa, contra os mulçumanos, por exemplo. Um encontro, quase como um evento ecumênico
de união de todos.
O Mito 2 alimentou a ideia de que o índio brasileiro era selvagem, mas inocente, portanto,
um bom selvagem. Pacífico e amigável seria o ser a espera da conversão ao cristianismo. Esse
mito, justificava a necessidade de catequização e legitimava o trabalho dos jesuítas que para cá
vieram, a partir da década de 1530. Leia alguns trechos da Carta de Pero Vaz de Caminha, com
atenção para os grifos. Reflita sobre como o texto alimenta os dois mitos.

1
“Dali avistamos homens que andavam pela
praia, obra de sete ou oito, segundo disseram
os navios pequenos, por chegarem primeiro
(..)Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma
que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos
traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijamente sobre o
bater; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E
eles os pousaram. [...]
Quando saímos do batel, disse o Capitão que seria bom irmos
direitos à Cruz, que estava encostada a uma árvore, junto com o
rio, para se erguer amanhã, que é sexta-feira, e que nós
puséssemos todos em joelhos e a beijássemos para eles verem o
acatamento que lhe tínhamos. E assim fizemos. A esses dez ou
doze que aí estavam acenaram-lhe que fizessem assim, e foram
logo todos beijá-la. Parece-me gente de tal inocência que, se
homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, porque
Pero Vaz de Caminha lê para o comandante Pedro
Álvares Cabral, o Frei Henrique de Coimbra e o Mestre eles, segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma
João a carta que será enviada ao Rei Dom Manuel I
crença. [...]
Domingo, 26 de abril: Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão de ir ouvir
missa e pregação naquele ilhéu. (...) E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual foi dita pelo
padre Frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela voz pelos outros padres e sacerdotes,
que todos eram ali. A qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e
devoção. (..) Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos
lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação da história do Evangelho, ao
fim da qual tratou da nossa vinda e do achamento desta terra, conformando-se com o sinal da
Cruz, sob cuja obediência viemos. O que foi muito a propósito e fez muita devoção.

1
Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo (1854–1916). História do Brasil (v.1), Rio de Janeiro: Bloch,
1980

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Entre todos estes que hoje vieram, não veio mais que uma mulher moça, a qual esteve sempre à
missa e a quem deram um pano com que se cobrisse. Puseram-lho a redor de si. Porém, ao
assentar, não fazia grande memória de o estender bem, para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência
desta gente é tal que a de Adão não seria maior, quanto a vergonha. Ora veja Vossa Alteza se
quem em tal inocência vive se converterá ou não, ensinando-lhes o que pertence à sua salvação.
[...]
"Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem
lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-
Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são
muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por
causa das águas que tem!
Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve
ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter
Vossa Alteza aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição
para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa
fé.”

Mas, Profe, por que Mito? Mito não é uma coisa boa?

Porque, caríssimo aluno e aluna, se a narrativa construída foi a de um encontro pacífico


entre índios e portugueses, a realidade mostrou o oposto: conquista e genocídio. Por isso, temos
um Mito, a história contata pelos vencedores não foi a que de fato ocorreu. A narrativa construída
pelos conquistadores adquiriu caráter simbólico, independente da realidade, embora baseada
nela.
Vejamos uma informação importante sobre a ideia de “índio”2 que confronta a narrativa
mitológica, conforme o antropólogo e professor do Museu Nacional da UFRJ, Eduardo Viveiros
de Castro3:

Devemos começar então por distinguir as palavras “índio” e “indígena”, que muitos
talvez pensem ser sinônimos, ou que “índio” seja só uma forma abreviada de “indígena
”. Mas não é. Todos os índios no Brasil são indígenas, mas nem todos os indígenas que
vivem no Brasil são índios.

2
“A palavra indígena vem do latim indigĕna,ae “natural do lugar em que vive, gerado dentro da terra
que lhe e própria”, derivação do latim indu arcaico (como endo) > latim classico in- “movimento para
dentro, de dentro” + -gena derivação do radical do verbo latino gigno, is, genŭi, genĭtum, gignĕre,
“gerar”; Significa “relativo a ou população autoctone de um pais ou que neste se estabeleceu
anteriormente a um processo colonizador” ...; por extensão de sentido (uso informal), [significa] “que
ou o que e originário do pais, região ou localidade em que se encontra; nativo”. (Dicionário Eletrônico
Houaiss).
3
CASTRO, Eduardo Viveiros de. Os Involuntários da Pátria. ARACÊ – Direitos Humanos em Revista.
Ano 4, Número 5, fevereiro/2017, pp. 187-193.

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Índios são os membros de povos e comunidades que tem consciência —seja porque nunca a
perderam, seja porque a recobraram — de sua relação histórica com os indígenas que viviam
nesta terra antes da chegada dos europeus. Foram chamados de “índios” por conta do
famoso equívoco dos invasores que, ao aportarem na América, pensavam ter chegado na
Índia. “Indígena”, por outro lado, é uma palavra muito antiga, sem nada de “indiana”
nela; significa “gerado dentro da terra que lhe e própria, originário da terra em que vive”.
Há povos indígenas no Brasil, na África, na Ásia, na Oceania, e até mesmo na Europa. O
antônimo de “indígena” e “alienígena”, ao passo que o antônimo de índio, no Brasil, e
“branco”, ou melhor, as muitas palavras das mais de 250 línguas índias faladas dentro do
território brasileiro que se costumam traduzir em português por “branco”, mas que se
referem a todas aquelas pessoas e instituições que não são índias. Essas palavras indígenas
tem vários significados descritivos, mas um dos mais comuns e “inimigo”, como no caso
do yanomami nape, do kayapo kuben ou do arawete awin. Ainda que os conceitos índios
sobre a inimizade, ou condição de inimigo, sejam bastante diferentes dos nossos, nao custa
registrar que a palavra mais próxima que temos para traduzir diretamente essas palavras
indígenas seja “inimigo. Durmamos com essa. (...)
Quando perguntaram ao escritor Daniel Munduruku se ele “enquanto índio etc.”, ele
cortou no ato: “não sou índio; sou Munduruku”. Mas ser Munduruku significa saber que
existem Kayabi, Kayapo, Matis, Guarani, Tupinamba, e que esses não são Munduruku, mas
tampouco são Brancos. Quem inventou os “índios” como categoria genérica foram os
grandes especialistas na generalidade, os Brancos, ou por outra, o Estado branco, colonial,
imperial, republicano.

Apesar da chegada a uma terra com muitas riquezas naturais, como afirmou Caminha,
Portugal não alterou seu plano principal: dominar e monopolizar as rotas das especiarias para o
Oriente. Tanto que Pedro Álvares Cabral seguiu com sua esquadra em direção à Índia. Até mesmo
porque, por essas terras dos índios brasileiros, não se encontraram ouro e prata logo no início da
conquista, como nas colônias espanholas. Assim, a área reservada pelo acordo bilateral de
Tordesilhas ficou para o futuro!

Mas qual futuro, Profe? Eles não colonizaram o Brasil logo “de cara”?

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(UFU/2016)
Eles não tinham deixado a Inglaterra para escapar a toda forma de governo, mas para trocar
o que acreditavam ser um mau governo por um bom, ou seja, formado livremente por eles
mesmos. Tanto no plano político como no religioso, acreditavam que o indivíduo só poderia
se desenvolver em liberdade. Entretanto, convencidos de que a liberdade consiste em dar
ao homem a oportunidade de obedecer aos desígnios divinos, ela apenas permitia ao
indivíduo escolher o Estado que deveria governá-lo e a Igreja na qual ele iria louvar a Deus.
[...]
CRÉTÉ, Liliane. As raízes puritanas. Disponível em:
<http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/as_raizes_puritanas.html.> Acesso em:
28 de janeiro de 2016 (Adaptado).
A historiografia sobre a colonização da América costuma realçar as peculiaridades da
colonização britânica nas colônias do Norte. As diferenças, entretanto, em relação às
colonizações portuguesa e inglesa não são absolutas, pois
a) ambos os modelos de colonização eram predominantemente mercantis, ainda que a
agricultura de subsistência fosse mais presente na colonização portuguesa.
b) tanto os colonos ingleses quanto os portugueses eram profundamente marcados pelas
disputas entre as potências europeias, sendo que os portugueses eram aliados
preferenciais da França.
c) em ambas as modalidades de colonização, a administração colonial era formalmente
descentralizada, havendo espaço para uma expressiva margem de autonomia
dos colonos.
d) o sentido de missão religiosa estava presente nas duas modalidades de colonização,
refletindo a ainda forte presença do misticismo no mundo europeu.
Comentários
Trouxe essa questão para você ficar atento para tipos de questões comparativas. Nesse caso,
a questão estabelece comparações entre a colonização inglesa – influenciada pelos puritanos
- e portuguesa, influenciada pelos católicos. Apesar de algumas diferenças entre elas,
podemos afirmar ambas estavam vinculadas a uma natureza religiosa. Repara que o texto do
enunciado da questão faz referência aos puritanos quando afirma: “Tanto no plano político
como no religioso, acreditavam que o indivíduo só poderia se desenvolver em liberdade.
Entretanto, convencidos de que a liberdade consiste em dar ao homem a oportunidade de
obedecer aos desígnios divinos (...)”. Aqui fica evidente a presença religiosa no espírito
colonizador. Da mesma forma, como temos visto, desde a saída ultramarina, os católicos
portugueses faziam uma forte relação entre as investidas colonizadoras e o catolicismo. Basta
ficarmos atentos para a visão que estabeleceram sobre os índios.
Gabarito: D

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(UNICAMP/2011)
Em carta ao rei D. Manuel, Pero Vaz de Caminha narrou os primeiros contatos entre os
indígenas e os portugueses no Brasil: “Quando eles vieram, o capitão estava com um colar
de ouro muito grande ao pescoço. Um deles fitou o colar do Capitão, e começou a fazer
acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que
havia ouro na terra. Outro viu umas contas de rosário, brancas, e acenava para a terra e
novamente para as contas e para o colar do Capitão, como se dissesse que dariam ouro por
aquilo. Isto nós tomávamos nesse sentido, por assim o desejarmos! Mas se ele queria dizer
que levaria as contas e o colar, isto nós não queríamos entender, porque não havíamos de
dar-lhe!”
(Adaptado de Leonardo Arroyo, A carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo: Melhoramentos;
Rio de Janeiro: INL, 1971, p. 72-74.)
Esse trecho da carta de Caminha nos permite concluir que o contato entre as culturas
indígena e europeia foi
a) favorecido pelo interesse que ambas as partes demonstravam em realizar transações
comerciais: os indígenas se integrariam ao sistema de colonização, abastecendo as feitorias,
voltadas ao comércio do pau-brasil, e se miscigenando com os colonizadores.
b) guiado pelo interesse dos descobridores em explorar a nova terra, principalmente por
meio da extração de riquezas, interesse que se colocava acima da compreensão da cultura
dos indígenas, que seria quase dizimada junto com essa população.
c) facilitado pela docilidade dos indígenas, que se associaram aos descobridores na
exploração da nova terra, viabilizando um sistema colonial cuja base era a escravização dos
povos nativos, o que levaria à destruição da sua cultura.
d) marcado pela necessidade dos colonizadores de obterem matéria-prima para suas
indústrias e ampliarem o mercado consumidor para sua produção industrial, o que levou à
busca por colônias e à integração cultural das populações nativas.
Comentários
O direcionamento das expedições marítimas dos portugueses às Américas tinha um interesse
comercial. Os europeus, em geral, e os portugueses em específico vieram até o “Novo
Mundo” em busca de riquezas. Essa intenção está claramente explícita na carta de Pero Vaz
quando ele faz referência ao ouro e interpreta a ação dos índios aos olhos do conquistador:
“como se dissesse que dariam ouro por aquilo. Isto nós tomávamos nesse sentido, por assim
o desejarmos! “. Nesse sentido, a consequência da finalidade dos portugueses (a riqueza)
para os índios foi a violência, nas mais diversas formas. A alternativa que sintetiza essa
compreensão histórica é a B.
A alternativa A transmite a noção de amistosidade entre as partes, índios e portugueses. A
C insiste na compreensão romântica de que os índios seriam seres doces. Além disso, a C
erra ao afirmar que a base do sistema colonial foi a escravização dos povos nativos. De fato,

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os índios foram escravizados, mas a base do sistema colonial, em termos de mão de obra, foi
a escravidão dos negros africanos.
Por fim, a D exagera por colocar a industrialização em um momento em que ela ainda não
existia, por isso, é uma alternativa “anacrônica” (fora do tempo/contexto).
Gabarito: B

2. O SISTEMA DE EXPLORAÇÃO COLONIAL NA AMÉRICA


PORTUGUESA
A implantação do sistema colonial de exploração por parte de Portugal foi um processo
bastante diferente em relação ao da Espanha. Houve 2 momentos desse processo marcados por
interesses distintos de Portugal em relação à terra “descoberta” por Cabral. Além disso, os
modelos de implantação do sistema de exploração colonial também se diferenciaram. Observe o
esquema:

sem sistema de
Contrato de
1o. Momento: colonização -
concessão para
predomiou atividade
1501-1530 exploração
de reconhecimento e
extrativista
extrativismo
colonização
portuguesa Sistema
Capitanias
descentralizado de
Hereditárias
colonização
2o. Momento:
pós- 1530
Sistema centralizado
de colonização (a Governo-Geral
partir de 1572)

Apesar de, em 1500, os interesses da Coroa Lusa estarem voltados para a rota das
especiarias, nos primeiros anos após a vinda de Cabral o governo português enviou algumas
expedições de reconhecimento para vasculhar o território e garantir sua posse. O objetivo
principal era saber se aqui poderia se obter metais preciosos.
Mas a riqueza do “Novo Mundo” não era dourada e prateada, era vermelha de pau-brasil,
era verde de florestas, era translucida de uma água que não se via na Europa, era de gente e de
terra que tinham quase a mesma cor. Nossa riqueza era outra.
É importante ressaltar que nessas expedições de reconhecimento, também chamadas por
alguns historiadores de expedições pré-colonizadoras, houve um trabalho de nomear as coisas
encontradas, as localidades, os acidentes geográficos, os rios e até as pessoas que aqui viviam.
Foram 3 as expedições:

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1501 - Expedição 1503 - Expedição 1516 e 1520


Gaspar de Lemos Gonçalo Coelho Expedição Cristóvão
Facques

• Expdição de • Pareceria entre reis • Organizada para


nomeação das ilhas, e comerciantes para deter o contrabando
cabos, rios e bais do a exploração do pau- de pau-brasil por
litoral brasileiro brasil. Um desses franceses. Não foram
comerciantes era bem sucedidas
Fernão de Noronha.

Dessas expedições, o que se encontrou para explorar imediatamente foi o pau-brasil. Veja
no mapa a seguir a área de ocorrência da árvore.

A área verde no mapa representa a localização pau-


brasil, no litoral brasileiro, na época da colonização. 4

Assim, entre 1501 e 1530, o que se verificou foi uma fase


de economia extrativista. Não houve um planejamento
centralizado ou algo do tipo. Mesmo assim a exploração era
monopólio da Coroa Portuguesa, que permitia a exploração
particular por meio de contrato de concessão. A atividade
extrativista de pau-brasil foi realizada com mão de obra
indígena à base de escambo (troca de utensílios europeus,
como machado, facas, por trabalho).
Contudo, é importante ressaltar que os contratos de
concessão emitidos pela Coroa privilegiavam exploradores
portugueses. Tratava-se de uma forma de protecionismo. O
principal explorador foi Fernando de Noronha.
Outra característica fundamental sobre a colonização
portuguesa era a ideia de exclusivo metropolitano: toda
negociação, acordo, comércio, troca que envolvesse a
colônia portuguesa deveria ser decidida exclusivamente pela
metrópole. Dessa compreensão decorrerão várias formas
distintas de relação exclusiva entre a metrópole e colônia.
Pode ser que você já tenha ouvido a expressão “Pacto
Colonial” para esta explicação. Está certo também!
Contudo, não foram apenas comerciantes portugueses que se interessaram pelo produto
“cor de brasa”. Franceses, ingleses, holandeses e até espanhóis, também manifestaram desejo
pela riqueza. A monarquia mais ousada foi a da França, pois apoiou corsários franceses a fazerem

4
ALBUQUERQUE, Manuel Maurício de. et all. Atlas Histórico Escolar. Ministério da educação e Cultura/
Fundação Nacional do Material Escolar, 7ª. Edição, 1977, p. 06.

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alianças com o povo Tupinambás para explorar o pau-brasil. É do Rei francês Francisco I a famosa
frase:

“Quero ver a
cláusula do testamento de
Adão que dividiu o mundo
entre Portugal e Espanha e
me excluiu da partilha!!

Francisco I. Jean Clouet. Óleo sobre tela, 1530. Museu do Louvre, França.

Como nos informa as professoras Lilia e Heloísa, a madeira do pau-brasil era considerada
uma especiaria no Oriente. A resina dessa árvore era utilizada para tingir tecidos e a madeira para
fazer móveis finos e embarcações. Nas terras dos índios tupi, o pau-brasil era conhecido como
“ibirapitanga” – que significa “pau-vermelho”. Os europeus, ao latinizarem a palavra, chamaram-
no de brecilis, bersil, brezil, brasil, brasily, paralavras que significavam: cor de brasa ou vermelho.
Assim, desde 1512, quando o pau-brasil entrou definitivamente no mercado internacional,
a colônia portuguesa passou a ser designada por Brasil.Com efeito, meus caros e caras, o Brasil
nasceu – para o comércio mundial – vermelho!!

Os indígenas cortavam as árvores e as levavam até os navios portugueses ancorados à


beira-mar, e em troca obtinham facas, canivetes, espelhos, pedaços de tecidos e outras
quinquilharias. Em 1511 dá-se a primeira exportação do pau-brasil para Portugal na
nave Bretoa, que saiu da Bahia com destino à Lisboa. E lá se foram 5 mil toras de
madeira, macacos, saguis, gatos, muitos papagaios e quarenta indígenas que atiçaram
a curiosidade europeia5.

Mas o cenário internacional obrigava Portugal a se posicionar mais seriamente em relação


ao Brasil, a fim de garantir a posse da parte do mundo que lhe cabia, segundo o Tratado de
Tordesilhas. Observe os elementos do cenário internacional que pressionavam a Coroa
Portuguesa a agir:

5
SCHWARCZ, Lilia Moritz. e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Ed. Cia das
Letras, 2018, p. 32

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Estratégia Vestibulares – Aula 06

Para Portugal era


urgente estabelecer a colônia
e implementar o sistema de
exploração comercial. Por isso,
em 1530 começou uma nova
fase de relação entre
Metrópole e Colônia. Dessa
forma, a partir de agora,
estudaremos os aspectos
econômicos, políticos e sociais
da colonização portuguesa na
América. Esse é o momento
mais longo, porque vai até a
Independência Política, em
1822. Porém, nesta aula não
vamos tão longe, nosso bonde
vai até a estação do ciclo da
cana de açúcar.
Muita gente não gosta
desse longo período. Ocorre que despenca nos vestibulares, cara. E você é Coruja!! Então, vamos
com coragem e cabeça erguida. Não sai do foco. Nada de whats, porque enquanto você vê uma
mensagenzinha, alguém acerta uma questãozinha. Bora, Bixo!! Vejamos! Ah sim, antes uma
questão sobre o que vimos até agora:

(UNICAMP/2013)
“Quando os portugueses começaram a povoar a terra havia muitos destes índios pela costa
junto das Capitanias. Porque os índios se levantaram contra os portugueses, os governadores
e capitães os destruíram pouco a pouco, e mataram muitos deles. Outros fugiram para o
sertão, e assim ficou a costa despovoada de gentio ao longo das Capitanias. Junto delas
ficaram alguns índios em aldeias que são de paz e amigos dos portugueses.”
(Pero de Magalhães Gandavo, Tratado da Terra do Brasil, em
http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/ganda1.html. Acessado em 20/08/2012.)
Conforme o relato de Pero de Gandavo, escrito por volta de 1570, naquela época,

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a) as aldeias de paz eram aquelas em que a catequese jesuítica permitia o sincretismo


religioso como forma de solucionar os conflitos entre indígenas e portugueses.
b) a violência contra os indígenas foi exercida com o intuito de desocupar o litoral e facilitar
a circulação do ouro entre as minas e os portos.
c) a fuga dos indígenas para o interior era uma reação às perseguições feitas pelos
portugueses e ocasionou o esvaziamento da costa.
d) houve resistência dos indígenas à presença portuguesa de forma semelhante às descritas
por Pero Vaz de Caminha, em 1500
Comentários
De acordo com o documento do cronista Pero de Gandavo, os indígenas fugiam para o
interior (sertão) como forma de resistência à presença portuguesa. Desde o início do período
colonial, vários grupos se opuseram aos lusos, ocasionando diversos conflitos entre nativos e
europeus. Dessa forma, fugir para o “interior” dificultava a ação dos portugueses. Por isso, o
gabarito é a alternativa C.
A alternativa A pode pegar os mais desatentos, pois, ao longo da colonização, de fato, as
missões jesuíticas levaram a sincretismos religiosos. Porém, não dá para afirmar
categoricamente que os conflitos foram solucionados. Além disso, repare que o texto da
questão foi escrito por volta de 1570, ou seja, antes da instalação da proliferação dos
trabalhos das missões.
A B está errada porque o trecho final desloca o ciclo da mineração para um contexto em que
ele ainda não existia.
Já a D, contraria o que Caminha escreveu em sua carta.
Por fim, interessante perceber que o texto também mostra que, em muitos casos, algumas
sociedades indígenas também estabeleciam sistemas de alianças com os portugueses.
Gabarito: C

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2.1 - A EXPEDIÇÃO DE MARTIN AFONSO DE SOUZA E O INÍCIO DA COLONIZAÇÃO


6

Em 1530, a Coroa Lusa organizou a 1ª.


Expedição Colonizadora comandada por Martin
Afonso de Sá. os historiadores consideram que,
com essa expedição, iniciou-se o 2º momento da
Expedição de Martin Afonso de Souza

colonização, ou a colonização propriamente dita.


Os objetivos estabelecidos para o explorador
foram:

 Iniciar a ocupação da terra portuguesa:


povoar e explorar;
 Combater os corsários estrangeiros;
 Procurar metais preciosos;
 Sistematizar o reconhecimento do
litoral para implementar a produção de
cana-de-açúcar.

Note que entre os objetivos da expedição


colonial, 2 são de natureza econômica: procurar
metais preciosos e encontrar o melhor lugar para
o cultivo de cana de açúcar. Assim, podemos
afirmar que o sentido econômico da colonização
era encontrar uma atividade que compensasse o esforço colonizador, leia-se, o investimento.
Além disso, gerar muita riqueza e superlucros para a metrópole e suas elites. Afinal, a lógica era
mercantilista, né gente?
O economista e historiador Caio Prado Jr., em seu livro Formação do Brasil contemporâneo,
advoga a tese de que o sentido econômico do projeto colonial esteve voltado para abastecer o
mercado exterior e, assim, transferir os dividendos desse comércio para os países colonizadores:

No seu conjunto a colonização dos trópicos toma o aspecto e uma vasta empresa
colonial destinada a explorar os recursos naturais de um território virgem em proveito
do comércio europeu, é este o verdadeiro sentido da colonização tropical, de que o
Brasil é uma das resultantes[...]. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura bem como
as atividades do país. Virá o branco europeu para especular, realizar um negócio;

6
ALBUQUERQUE, Manuel Maurício de. et all. Atlas Histórico Escolar. Ministério da educação e Cultura/
Fundação Nacional do Material Escolar, 7ª. Edição, 1977, p. 08.

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inverterá seus cabedais e recrutará mão de obra que precisa: indígenas ou negros
importados7.

Perceba, portanto, que o objetivo do Rei de Portugal ao estabelecer metas para Martin
Afonso não foi desenvolver a colônia em si, mas descobrir uma atividade que pudesse pagar os
investimentos desse empreendimento bem como gerar superlucros.
É evidente, como veremos, que outras atividades econômicas acabaram criando uma
economia colonial própria, cujos lucros permaneciam na própria colônia e que, dessa forma,
possibilitavam o surgimento de grupos e interesses distintos daqueles da metrópole portuguesa.
Mesmo assim, isso não inverteu o sentido inicial da colonização e tão pouco o objetivo da
Metrópole colonizadora. Sacou?

Sobre a formação do Brasil


O pensador Caio Prado Junior tem por objetivo analisar a evolução do Brasil. Para
tanto, ele encontra o sentido geral desse processo no evento que marca a formação
do Brasil como país: a colonização. Leia um trechinho do que ele escreve:
“Se vamos a essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para
fornecer açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde, ouro e diamantes; depois, algodão e,
em seguida, café para o comércio europeu. Nada mais que isso. É com tal objetivo, objetivo
exterior, voltado para fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse
daquele comércio, que se organizavam a sociedade e a economia brasileiras [...]. Este início cujo
caráter se manterá dominante através dos três séculos (...) se agravará profunda e totalmente nas
feições e na vida do país. Haverá resultantes secundárias que tendem para algo de mais elevado;
mas elas ainda mal se fazem notar. O “sentido da evolução” brasileira que é o que estamos aqui
indagando, ainda se afirma por aquele caráter inicial da colonização. Tê-lo em vista é compreender
o essencial deste quadro que se apresenta em princípios do século passado, e que passo agora a
analisar.”8
Nesse sentido, para Caio Prado, a colonização gerou uma marca, uma cicatriz, algo do qual não
podemos nos livrar – apesar e independente dos caminhos que percorremos como nação. Em
Ciência Política, chamamos isso de path dependency, trajetória dependente. Segundo esse
conceito, cada passo dado é necessário para entender o seguinte e, além disso, cada passo dado
define, em grande medida, qual será e como será o próximo. Mudar o rumo completamente tem
um custo muito grande. Sacou?
Assim, essa perspectiva coloca para nós uma pergunta: como nosso processo de colonização pode
explicar o Brasil de hoje? Guarda a pergunta e vamos para o conteúdo, quem sabe você não se
anima a responder ao final dos nossos estudos sobre Colônia!

7
PRADO JR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1979, p. 31-32.
8
PRADO JR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1979, p. 31-32.

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Caros, essa discussão sobre o sentido da colonização –– deu margem para a definição de 2
tipos de colonização: a de exploração e a de povoamento. Vejamos:

Colônia de Exploração: voltada para produção de mercadorias


típicas de exportação. MONOCULTURA. Foco: Mercado externo.
Assim, predomínio da grande propriedade rural: LATIFÚNDIO!
Colônia de povoamento é o exato oposto da colônia de exploração:
produção voltada para o mercado interno. PLURICULTURA. Assim,
predomínio da pequena propriedade familiar.
Contudo, hoje em dia não usamos mais essas definições, de maneira
compartimentada. Se porventura aparecer na sua prova,
contextualize-a!

Mas por que, Profe Alê? Qual o problema?

Não usamos porque as pesquisas na área da História e da Economia desenvolveram outras


interpretações. Por exemplo, sabemos que nas colônias espanhola e portuguesa na América houve
exploração e povoamento ao mesmo tempo. Como seria possível explorar sem povoar?
Na América Latina (antes tida como modelo de colônia de exploração), por exemplo, foi
preciso instalar uma forte e extensa burocracia estatal para garantir a implantação e execução dos
interesses da coroa e dos setores mercantis europeus. A vinda dos jesuítas para colonizar os povos
originários também se tratou de povoamento.
Além disso, a despeito de ter se formado no Brasil uma estrutura agrária monocultora e
latifundiária voltada para exportação (plantation), houve também agricultura, pecuária e comércio
locais. Em diferentes áreas do território brasileiro se desenvolveram propriedades familiares. Veja
o que nos dizem as professoras Lilia e Heloísa sobre o assunto:

Passados os primeiros tempos das notícias desencontradas e de tantos boatos, foi


preciso garantir o achado e impedir os ataques estrangeiros. Tinha-se que povoar e
colonizar a terra, mas também encontrar algum tipo de estímulo econômico. [...] Como
se pode notar, a ideia era obter lucro com a nova terra, antes que ela se transformasse
num problema. E era esse o “sentido da colonização”: povoar, mas sempre pensando
no bem da metrópole.9 (grifos nossos)

Percebe que, nessa interpretação, povoar e explorar são dois lados da mesma moeda? Por esse
motivo, combinado com as ações sobre os índios (o que ainda veremos), parte da historiografia
também usa a expressão “conquista”.

9
SCHWARCZ, Lilia Moritz. e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Ed. Cia das
Letras, 2018, p.

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Outro exemplo, nos EUA (tido anteriormente como modelo de colônia de povoamento),
houve povoamento e exploração. Todo o sul dos EUA estava organizado por meio de grandes
propriedades territoriais, monocultoras, voltadas para o mercado externo e usando mão de obra
escrava negra. O povoamento não se deu por meio da implantação da burocracia metropolitana,
mas por meio de famílias que vieram em um empreendimento mais particular.

CONCLUSÃO: não dá para usar de maneira separada o que foi


povoamento e o que foi exploração. No final, o que diferenciou EUA e
América Latina estava baseado em outros elementos:

Empreendimento Estatal (América Latina) OU particular (EUA);


Financiamento Estatal em aliança com os setores mercantis (América Latina) OU
particular/familiar (EUA);
Cosmologia religiosa católica – uma cruzada para IMPOR o catolicismo (América
Latina) OU Cosmologia protestante – liberdade religiosa (EUA).

Portanto, a exploração do Brasil, ou conquista, foi um projeto da Coroa Portuguesa para


garantir os superlucros, expandir a fé católica, repelir outros conquistadores (franceses,
holandeses) e melhor disputar a hegemonia marítima do Atlântico. Povoar a terra era um meio
necessário para garantir tudo isso.
Para atingir esses objetivos, a Coroa precisou estabelecer um sistema político de
administração e organização colonial. Nesse sentido, a partir de 1530, predominaram 2 tipos,
como vimos no esquema do início da aula: Capitanias Hereditárias e Governo-Geral.

Essas estruturas política-organizativas foram completares e criaram um cenário


favorável ao desenvolvimento de formas específicas de relação de poder e o
desenvolvimento de estruturas sociais correspondentes.

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3. ADMINISTRAÇÃO COLONIAL
Se em 1530, o governo português mandou o expedicionário Martin Afonso de Souza iniciar
a ocupação da terra portuguesa, combater os corsários estrangeiros, procurar metais preciosos e
sistematizar o reconhecimento do litoral para implementar a produção de cana-de-açúcar,
tornava-se necessário, também, elaborar uma forma de administrar essas ações. Concorda?
Contudo, os dados historiográficos afirmam que a Coroa Portuguesa não contava com
tantos recursos acumulados para investir diretamente na colonização do Brasil. Assim, precisou
contar com recursos privados.
Para tanto, a solução encontrada foi doar terras – as sesmarias- em troca da exploração
dessas terras, de modo que parte das riquezas geradas fossem destinadas ao rei (via impostos).
Tratava-se de um sistema descentralizado de administração colonial.

Sesmaria era um pedaço de terra distribuído a um beneficiário próximo à Coroa


com o objetivo de cultivar as terras conquistadas. O ato da doação poderia ser
feito pelo capitão donatário.

A origem dessa prática de sesmaria remonta ao período final da Idade Média e às práticas
de suserania e vassalagem. A distribuição de sesmaria não garantia a propriedade, mas o usufruto.
A concessão de sesmarias foi extinta apenas em 1822, sendo a origem dos grandes latifúndios no
Brasil.

3.1 – SISTEMA DE CAPITANIAS HEREDITÁRIAS


Então, em 1534, o rei Dom João III ordenou a divisão do território em 15 partes e as
distribuísse a pessoas nomeadas por ele, os donatários. Iniciava-se, assim, o sistema de capitanias
hereditárias.
Observe a imagem a seguir. Sei que você já deve ter isso tatuado na mente, mesmo assim,
observe as relações que construí. Fica safo!

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Deveres:
Direitos Assegurar ao Carta de doação: O
Rei de Portugal donatário tinha a posse da
Capitânia, mas apenas
Distribuir terras: uma parte (pequena, nos
sesmarias. 10% dos lucros sobre limites da sua casa)
Criar Vilas TODOS os produtos
da terra tornava-se sua
propriedade.

Exercer autoridade
administrativa e O monopólio da
judicial extração do pau-
brasil
Carta Foral:
Era o documento que
Escravizar indígenas determinava esses direitos
considerados
inimigos (guerra e deveres do donatário!
justa)

Receber 5% do
comércio do pau-
brasil

# Criação de Vilas e Câmaras Municipais que era onde os “homens-bons exerciam o poder
local.
# As despesas necessárias à obra colonizadora corriam por conta e risco do donatário!

Profe, isso era uma pegadinha, não era? O cara tinha que investir em tudo, corria todos os riscos,
ficava só com 5% da exploração do pau-brasil e inda tinha que garantir o lucro do rei? Gente, o
Brasil era pior que o Brasil!!!

Brincadeiras à parte, galera, parecia piada mesmo. Por isso, o sistema de capitanias não foi
tão bem-sucedido, se analisado do ponto de vista econômico e das pretensões da Coroa
Portuguesa. Apenas duas capitanias deram certo – e por um tempo: São Vicente e Pernambuco
(mais à frente vamos voltar a falar dessas duas capitânias, segura aí!).
Na verdade, nem todos que receberam do rei a carta de doação das capitânias seguiram
adiante. Alguns nem sequer vieram à Colônia tomar posse. Daqueles que vieram, foram muitos os
obstáculos que precisaram enfrentar. Listemos alguns:

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 Isolamento das capitanias, uma sem relação com as outras. As distâncias eram enormes,
por isso, a comunicação e a circulação também eram difíceis. Esse isolamento fazia com
que as soluções para as dificuldades tivessem que ser sempre conseguidas “dentro” da
capitânia. Mas essa terra não era um vazio, né?

 Revolta e ataques dos povos indígenas. Como as capitanias, na prática, eram uma
expropriação do território indígena é evidente que muitos povos resistiram a essa ocupação
(ou invasão) e causaram verdadeiras guerras contra os colonizadores.

 Dificuldades para desenvolver a lavoura, afinal, nem todas as capitânias possuíam terras
férteis. Na verdade, os europeus ainda não conheciam muito bem qual era o produto mais
adaptado ao clima tropical e equatorial. Assim, na verdade, o problema não estava no solo,
mas no desconhecimento dos portugueses sobre o que produzir para exportar e gerar
dividendos à Coroa.

 Dificuldade de obter mão de obra para a louva e para o extrativismo.

 Tudo isso, custava muito caro. Apesar dos donatários serem pessoas da nobreza
portuguesa, nem todos possuíam grande monta de recursos para enfrentar todos os
obstáculos acima arrolados.

Apesar das adversidades, havia um ponto positivo no que se referia ao sistema de


capitanias, a saber: ele deu a base para a formação dos primeiros núcleos de povoamento, como
em São Vicente (1532), Porto Seguro (1535), Ilhéus (1537) e Santos (1545).

3.2 – GOVERNO GERAL


Assim, tendo o sistema de administração descentralizada das capitanias hereditárias tido
pouco êxito, a Coroa Portuguesa buscou uma solução diferente e mais centralizadora: a formação
de um Governo-Geral. Tratava-se da criação de um órgão central de direção e de administração
comandado por um funcionário da Coroa, nomeado pelo Rei, para ajudar os donatários e interferir
mais diretamente na implantação do sistema de exploração colonial.

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Para que você tenha uma noção dos objetivos, funções e estrutura
burocrática, observe os esqueminhas abaixo:

Governador-Geral Defesa da terra contra ataques estrangeiros


Objetivos do

Incentivo à busca de metais preciosos

Luta contra a resistência indígena

Apoio à religião cristã

Funções do Governador
Militar: comando e defesa da colônia

Administrativa: relacionamento com os donatários das capitais e


assuntos ligados às finanças

Judiciária: nesse caso, o governador podia nomear os


funcionários da justiça e também poderia mudar penalidades

Eclesiásticas: indicação e sacardotes para as Paróquias. Essa


prerrogativa era legitimada pela Igreja Católica e recebeu o nome de
PADROADO.

Ouvidor-Mor:
encarregado das funcções
judiciais
CARGOS AUXILIARES
Provedor-mor:
Governador encarregado dos assuntos
da fazenda

Capitão-mor:
encarregado da defesa do
litoral

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Os dois sistemas coexistiram. Isso acabou por gerar, em diversos momentos, um embate
entre interesses locais e metropolitanos. Em geral, o Governador Geral e seus auxiliares
enfrentavam a oposição de poderes locais, afinal, os donatários também tinham funções
administrativas e judiciárias.
Esses homens proprietários de terra, gado e escravos, chamados de “homens-bons”, se
organizavam nas “câmaras municipais”. Elas se formaram no mesmo processo de formação das
vilas (primeiros povoados). Elas organizavam a administração da vila, a arrecadação tributária, o
comércio local, as expedições de reconhecimento e expansão territorial, além do aprisionamento
indígena. Ou seja, eram uma verdadeira estrutura de poder local. Assim, os homens-bons exerciam
o poder político local.

A partir da análise dos esquemas, podemos concluir que a administração


colonial apresentou duas tendências que se revezaram ao longo do tempo:
CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO.
Em geral, a centralização ocorreu quando a metrópole queria controlar mais as
atividades coloniais e/ou aumentar a arrecadação de impostos; já a
descentralização era estimulada quando a metrópole desejava ocupar e
desenvolver regiões.
Você consegue perceber como essas duas estruturas de poder (centralizado e descentralizado)
podem gerar conflitos se não estiverem funcionando em consonância de interesses e objetivos?
Pois é, além disso, essas diferenças entre governador e homens-bons eram acentuadas devido à
ausência de um sistema de comunicação adequado. Como diria o grande filósofo Chacrinha:
“quem não se comunica, se trumbica!”
Para que você saiba mais, em 1759, o sistema de capitanias deixou de existir permanecendo
apenas o Governo – Geral, até 1808, quando a família real desembarca no Brasil. Entretanto, até
que chegue o século XVIII, muitas dessas diferenças ensejaram conflitos e revoltas, chamadas de
nativistas, as quais iremos estudar nas próximas aulas. Por hora, guarde essa reflexão geral, ok!!

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Por fim, para que você tenha uma noção de quem foram os Governadores Ferais, dá um
bizu nos caras:

•Fundação da vila de •França invade o RJ e •Expulsou os franceses

Mem de Sá - 1558-1572
Tomé de Sousa - 1549-1553

1558
Duarte da Costa - 1553-
Salvador funda a França Antártica do RJ
•Implantação da cultura •Vinda do Padre •Formação da
da cana-de-açúcar Ancheita. Confederação indígena
•Vinda Cia de Jesus •Fundação das missões dos Tamoios
(jesuítas), Padre Manoel jesuíticas e do Colégio •Início das "guerras
da Nóbrega São Paulo justas" contra os
•Conflitos entre colonos e indígenas resistentes à
jesuítas colonização e à
conversão ao
cristianismo.
• Avanço da atividade
açucareira

(UDESC/2013)
Analise as proposições sobre a administração colonial na América portuguesa, e
assinale (V) para verdadeira e (F) para falsa.
( ) Com o objetivo de diminuir as dificuldades na administração das capitanias, D. João III
implantou, na América portuguesa, um Governo-Geral que deveria ser capaz de restabelecer
a autoridade da Corte portuguesa nos domínios coloniais, centralizar as decisões e a política
colonial.
( ) A Capitania de São Vicente foi escolhida pela Coroa Portuguesa para ser a sede do
Governo, pois estava localizada em um ponto estratégico do território colonial português.
Foi nesta Capitania que se implementaram as novas políticas administrativas da Coroa com
a instalação do Governo-Geral.
( ) Tomé de Souza foi o responsável por instalar o primeiro Governo- Geral. Trouxe com ele
soldados, colonos, burocratas, jesuítas, e deu início à construção da primeira capital do Brasil:
Rio de Janeiro.
( ) A criação e instalação do Governo-Geral na América portuguesa foi uma alternativa
encontrada pela Coroa Portuguesa para organizar e ocupar a colônia, que enfrentava
dificuldades, dentre elas os constantes conflitos com os indígenas e os resultados
insatisfatórios de algumas capitanias.
Assinale a alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo:

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a) V – F – F – V
b) V – F – V – F
c) V – V – F – F
d) F – V – F – V
e) F – V – V – F
Comentários
Como vimos, o Sistema de Governo-Geral foi implantado para aprimorar o Sistema de
Capitanias Hereditárias. A Coroa visava dar resposta aos seguintes conflitos: com indígenas;
com invasões estrangeiras; fruto de fracassos em algumas Capitanias. Outra razão da nova
administração foi o objetivo centralizador, isto é, tomar conto sobre todos os assuntos da
colônia. Diante disso, a primeira afirmação é verdadeira. Já a segunda, não, pois São Vicente
estava entre as regiões que não retornavam lucro para Metrópole. Além disso, sabemos que
a primeira capital foi Salvador, ou seja, os centros dos negócios passavam pelo Nordeste,
pelo menos no início da colonização. Nesse sentido, a terceira afirmação também é falsa,
pois Rio de Janeiro foi a 2ª capital.
Por fim, a última afirmação é verdadeira. Gabarito: A

4. ECONOMIA, TRABALHO E SOCIEDADE NA COLÔNIA


Agora que estudamos os aspectos políticos e administrativos do início da colonização
portuguesa na América, podemos partir para os estudos sobre os elementos econômicos dessa
empreitada. É verdade que, como já vimos, a primeira atividade econômica na colônia foi o
extrativismo do pau-brasil. A exploração era monopólio da Coroa Portuguesa que permitia a
exploração particular por meio de contrato de concessão, realizada com mão de obra indígena à
base de escambo.
Mas você deve se lembrar, também, que o governo português, especialmente a partir de
1530, procurava alguma atividade econômica mais rentável que o pau-brasil a fim de financiar o
empreendimento colonizador e garantir a posse efetiva e sistemática da terra. Isso porque, a
concorrência com franceses, ingleses e holandeses começava a diminuir o lucro metropolitano em
relação aos negócios com as especiarias do Oriente, além de existir o risco contínuo de invasão
estrangeira no território colonial na América.

4.1 – A IMPLANTAÇÃO DE UMA CULTURA DE EXPORTAÇÃO: A CANA-DE-AÇÚCAR


Em 1530, com a expedição de Martin Afonso de Souza, chegaram as primeiras mudas da
cana-de-açúcar para o desenvolvimento da atividade açucareira. A escolha da cana se deu porque
Portugal tinha experiência desse cultivo nas ilhas africanas do Atlântico – Açores e Madeira. Além
disso, o açúcar tornara-se, na Europa, uma especiaria de luxo. Uma mesa farta de doces
açucarados era o símbolo da riqueza!!

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Dessa forma, os colonos que desembarcaram no Brasil, juntamente com Martin Afonso,
iniciaram a produção canavieira na recém fundada Vila de São Vicente. Para plantar a cana e
produzir o açúcar desenvolveram um complexo produtivo chamado “engenho de açúcar” (vamos
falar mais sobre engenhos na sequência da aula, segura aí!).
Depois do pontapé inicial na Vila
de São Vicente (atual Santos), tentou-se
produzir cana-de-açúcar em toda a
extensão do litoral brasileiro em
diferentes Capitânias. No entanto, foi no
Nordeste que a planta vingou mesmo,
pois o solo da região e as condições
climáticas eram melhores. Veja a seguir
uma lista de motivos que explicam o
sucesso do cultivo:
Na segunda metade do século XVI
a produção de cana de açúcar se
desenvolveu tanto que chamou a atenção
do Rei de Portugal, Dom Sebastião. Por
isso, a partir de 1571, o rei decretou que
o comércio colonial com o Brasil (de quem
quer que fosse) deveria ser feito
exclusivamente por navios portugueses.
Na prática, era a implantação do exclusivo metropolitano ou pacto colonial (lembra?), porque esse
monopólio comercial dava condições para Portugal controlar a economia colonial, ou seja, o Brasil
só poderia comercializar com sua metrópole.
De fato, o crescimento da produção açucareira foi tanta que Portugal monopolizou o
próprio comércio internacional dessa iguaria doce. Com isso, Portugal e seus torrões branquinhos
eram vedete no comércio internacional e nas cortes europeias.
Podemos observar esse crescimento tomando como base o número de engenhos que
surgiram em Pernambuco – principal capitânia produtora. Observe o gráfico:

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Na sequência de Pernambuco a produção se espalhou para as regiões dos atuais Rio


Grande do Norte, Pará e Bahia. E, assim, o “ouro branco” ganhava tanto “poder” que colônia e
metrópole constituíam uma relação de dependência desse produto.
Na seção seguinte vamos analisar o engenho – essa unidade produtiva que se tornou o
núcleo difusor da estrutura política, social e econômica da Colônia.

4.2 – A CIVILIZAÇÃO DO AÇÚCAR: TRABALHO E SOCIEDADE


Evidentemente, quando falamos em economia também tratamos de trabalho, uma vez que
é por meio dele que se produz riqueza, como ensinou o liberal Adam Smith. Além disso, as
relações econômicas e de trabalho estabelecem a organização dos grupos sociais.
Entendendo a sociedade dentro dessa perspectiva complexa e combinada, podemos inferir
que o primeiro grande produto de exportação, a cana-de-açúcar, foi o elemento central do
desenvolvimento da sociedade colonial. Segundo as professoras Lilia e Heloísa, trata-se da
constituição da “civilização do açúcar”. Veja o que afirmam:

A partir do século XVI a empresa colonial giraria em torno da cana: a formação de vilas
e cidades, a defesa de territórios, a divisão de propriedades, as relações com diferentes
grupos sociais e até a escolha da capital [...] A civilização do açúcar era feita de muitos
pedaços, todos dependentes entre si. Como se pode notar, é possível falar em
“civilização do açúcar, já que este invadia esferas sociais, econômicas e culturais.”
(idem, p. 67 e 72)

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Se essa tese está certa, precisamos analisar a unidade produtiva do açúcar – o engenho –
para entender as demais relações que se formaram a partir dele, pois, segundo os historiadores,
o engenho se tornou o núcleo social, administrativo e cultural da vida na colônia.

4.2.1 – Conhecendo um engenho, suas edificações e as atividades de produção do


açúcar
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O engenho era o estabelecimento onde se produzia o açúcar. Algo como o lugar em que
se encontravam os instrumentos de transformação da cana-de-açúcar em açúcar propriamente
dito. O engenho era, portanto, um espaço diferente e separado da lavoura onde se plantava a
cana.
Contudo, com o passar do tempo, engenho passou a ser a designação do complexo
açucareiro todo: a fazenda, a lavoura, os instrumentos, as edificações (como a casas, as capelas,
os espaços de negociação da produção), os locais de mando. O proprietário de tudo isso era
conhecido como “senhor de engenho”. Dá uma olhada na imagem a seguir:
Quero destacar as três edificações marcadas na imagem acima, pois, em tese, elas são
representações arquitetônicas dos principais grupos sociais: aristocracia fundiária, escravos e
clérigos.

10
ALBUQUERQUE, Manuel Maurício de. et all. Atlas Histórico Escolar. Ministério da educação e Cultura/
Fundação Nacional do Material Escolar, 7ª. Edição, 1977, p. 21.

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1- a casa-grande: casarão que ficava na área mais alta do engenho. Essa moradia, também era
chamada de solário devido à área externa ao redor da casa – um verdadeiro observatório
de onde o senhor de engenho podia avistar tudo – afinal, como diz o ditado: os olhos do
dono engordam o boi! Nela moravam o senhor de engenho, sua família biológica, os
aparentados e os agregados. Lugar que servia de hospedaria para as visitas, como padres,
aliados políticos, comerciantes – por isso, geralmente, tinham muitos quartos com janelões.
Também servia como centro administrativo dos negócios do engenho. “Escravos de casa”
trabalhavam dentro da casa-grande, cozinhando, passando, limpando, cuidando dos filhos
e das senhoras, entre outros afazeres.
2- a capela: era a Igrejinha do engenho. Quase como uma extensão da casa-grande.
Geralmente modesta, mas suficiente para realizar batizados, casamentos e velórios. Peça
fundamental desse cenário, pois recebia para a Missa de Domingo todos os grupos sociais
que orbitavam em torno do engenho e das suas atividades econômicas. Não se esqueçam
de que o catolicismo era elemento fundamental desse universo colonial.
3- a senzala: lugar onde viviam as pessoas escravizadas. Eram casinhas ou uma construção
contígua. As vezes contavam com compartimentos separados destinados a cada família,
outras vezes eram espaços coletivos e outras, ainda, separavam homens e mulheres.
Sempre rústicas, feitas de barro e telhado de sapé, bem baixa e, em geral, sem janelas. As
condições eram péssimas, pois faltavam ar e luz. Algumas não contavam com camas ou
espaço para higiene pessoal. Era comum a superlotação, pois, novos escravos ocupavam
sempre o mesmo lugar. À noite a senzala era trancada para evitar fugas e manter o regime
de descanso e trabalho. Em geral, quem controlava a senzala era o capataz (uma espécie
de “guarda” do engenho).
Dito isso sobre as edificações principais,
vamos agora ver os espaços e as formas de
produção do açúcar.
Na colônia, a lavoura da cana
ocupava uma grande porção de terra – um
latifúndio. O trabalho era realizado pelas
pessoas escravizadas – os escravos ou
cativos. Inicialmente, foram os indígenas,
depois, os africanos trazidos forçosamente.
Como afirmamos ao longo da aula, a
produção era voltada para o mercado
externo. Essas características formam o
modo de produção tipicamente colonial:
PLANTATION.

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Em geral, o cultivo da cana - o preparo da terra, a semeadura e a colheita - levava um tempo


entre 12 e 18 meses. Vejamos algumas etapas produtivas do açúcar:
Preparação da terra, que não era feita com arado, mas com enxadas. Antes usava-se o velho
método de coivara: derrubar a mata e atear o fogo. Só depois os escravos vinham com suas
enxadas e revolviam a terra.
Após 12 meses, aproximadamente, colhia-se a cana. O corte da cana era feito com facão.
Cortada, a cana seguia em carros de boi ou barcos até o engenho.
Com a chegada da cana no engenho começava-se o processo de produção açucareira. A
técnica empregada para a produção do açúcar, em geral, era muito rudimentar.
O processo de produção açucareira abrangia as seguintes etapas:

Casa da moenda:
Finalidade: moer e prensar para obter um caldo de cana, em grandes engrenagens.
Quem trabalhava: 1 feitor-pequeno, um lavadeiro e 15 escravos.

Casa das fornalhas:


Finalidade: depois de moer e prensar a cana, o caldo obtido era cozido na casa das fornalhas até
formar um caldo chamado melaço.
Quem trabalhava: 1 mestre de açúcar, 1 banqueiro, 3 caldeireiros e 28 escravos

Casa de purgar:
Finalidade: Transformar o melaço em “blocos”, a conhecida rapadura, por meio de drenagem. O
melaço ficava por duas semanas em formas de barros com furos de drenagem. Nesse momento
também se podia produzir a aguardente (cachaça).
OBS: Depois de 40 dias, três tipos de açúcar eram produzidos, a saber: escuro, mascavo e
branco.
Quem trabalhava: 1 purgador e 5 escravos.

Secagem e embalagem
Finalidade: A última parte da produção do açúcar tinha por objetivo a secagem e embalagem do
produto. Cortava-se o melaço sólido (açúcar) e separavam-se os diferentes açúcares. Após a
separação, o açúcar era batido, esfarelado e embalado.

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Quem trabalhava: 1 caixeiro e 19 escravos.

OBS: o número de trabalhadores envolvidos em cada etapa da produção dependia de diversos


fatores, como o tamanho do engenho, a quantidade da produção, o tempo de entrega, a
disponibilidade de escravos, entre outros.

Dá um buzuzinho no processo químico da produção do açúcar! Colobaração do professor


@Prazeres!!

Há uma ressalva a ser feita sobre a empresa açucareira. Não havia refinarias
de açúcar no Brasil. Essa foi uma tarefa que portugueses deixaram para
holandeses. Aliás, também é importante recordar a participação do capital
flamengo (eita, não é time, hein, é holandês) nos negócios do açúcar. Em
troca do financiamento para a instalação de engenhos, o governo português
concedeu a eles o direito de refinar e vender o açúcar brasileiro na Europa. Portanto, o capital
holandês foi fundamental para a expansão da produção e do alcance do açúcar brasileiro no
mercado internacional. Guarda isso, porque daqui a pouco vou falar mais dos holandeses.

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4.2.2 – Estrutura social açucareira


O lugar que cada grupo ocupava no complexo açucareiro definia a classe social a que a
pessoa/grupo pertencia? Essa divisão, inclusive, determinava as relações políticas e sociais entre
estes grupos. Vamos articular?
Existiam os proprietários da terra, os homens livres que prestavam algum serviço
relacionado à produção açucareira (mestre do açúcar, caixeiro, purgador, caldeiro, banqueiro,
feitos) e os escravos.
Com certeza, a figura mais poderosa dessa pirâmide social é o senhor de engenho – o
proprietário das terras, da produção e das pessoas. Além disso, como estamos discutindo nesta
aula, o proprietário da terra era uma pessoa com poderes políticos, administrativos e até judiciais.
Então, alguns historiadores afirmam que a autoridade desse senhor ultrapassava os limites de suas
terras e, assim, conseguia atingir a vila e povoados vizinhos. Com isso, ele podia estabelecer
aliados políticos por meio da distribuição de favores e privilégios.
Portanto, havia uma relação de dependência dos homens livres (e mais
pobres), escravos e até mesmo dos clérigos com o senhor de engenho. Pelo que
afirma Padre Antonil, importante cronista da época, podemos inferir que “senhor
de engenho” era tido como algo parecido a um título de nobreza – a que muitos
aspiravam, porque:

traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado de muitos. [...] Servem ao senhor de
engenho, em vários ofícios além de escravos [...] na fazenda e na moenda [...]
barqueiros, canoeiros, carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores, pescadores. Tem mais,
cada senhor destes, necessariamente, um mestre de açúcar, um purgador, um caixeiro
no engenho e outro na cidade, feitores, e para o espiritual, um sacerdote11. (grifos
nossos)

Veja que não se tratava de uma “nobreza hereditária”, como na Europa, mas “uma
aristocracia da riqueza e do poder”12. Ainda assim, muitas vezes, se auto cunhavam títulos como
conde, barão, marquês.
A marca maior desse grupo aristocrático não era o que eles faziam, mas o que NÃO faziam:
não se dedicavam ao trabalho braçal, como cuidar de uma horta de uma loja, ou até mesmo, de
realizar algum artesanato ou manufatura. Por terras tropicais, pairava o velho pensamento
medieval do trabalho como uma ordem de coisas que “naturalmente” não cabe aos senhores.
Trabalho era coisa de classes e grupos inferiores.
Os aristocratas tropicais viviam de rendimentos, aluguéis e de cargos públicos conseguidos
por meio de relações de amizade e privilégios – era o berço do patrimonialismo. Além disso,

11
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997, p. 75.
12
SCHWARCZ e STARLING, idem, p. 67.

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contavam com grande número de parentes, aparentados, agregados, criados e escravos que lhes
serviam, de algum modo, na esperança de obterem alguma oportunidade.

Cenas do cotidiano demonstram o transporte de senhores de engenho por


13escravos. Litografia de Jean-Baptiste Debret. 1834

Diversos elementos marcam as distinções entre


esses grupos como, por exemplo, o lugar de moradia
(como já vimos, a casa grande, a senzala e outras
casinhas simples que ficavam no engenho), a mobília, as
vestimentas, os cavalos sangue-puros e o letramento,
por fim, a capacidade de ser obedecido.
Quanto mais perto do núcleo do círculo - mais
perto do pai (do senhor de engenho) - mais inclusão e
privilégios. Quanto mais distante, mais excluído e
desprestigiado. Eram “os mais de dentro e os mais de
fora”!

13
Regresso a cidade de um dono de chácara. Liteira para viajar no interior, c.1834-1839. Litografia sobre
papel de Jean-Baptiste Debret. Coleção Martha e Erico Stickel / Acervo Instituto Moreira Salles.
Disponível em: https://ims.com.br/por-dentro-acervos/viagem-pitoresca-e-historica-ao-brasil/. Acesso
em 05-04-2019.

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Fique atento:
Historiadores e Cientistas Sociais chamaram essas relações sociais desenvolvidas
na colônia de mandonismo e clientelismo e os utilizaram para entender as relações
sociais e políticas no processo de formação do Brasil. Anote aí:

Mandonismo
Refere-se à existência local de estruturas oligárquicas e personalizadas de poder.
O mandonismo não é um sistema, é uma característica da política tradicional.
O mandão, o potentado, o chefe, como indivíduo, é aquele que, em função do controle de
algum recurso estratégico, em geral a posse da terra, exerce sobre a população um domínio
pessoal e arbitrário que a impede de ter livre acesso ao mercado e à sociedade política.
Existe desde o início da colonização e sobrevive ainda hoje em regiões isoladas.
A história do mandonismo confunde-se com a história da formação da cidadania.
Clientelismo
Refere-se ao poder que se baseia simplesmente na capacidade de barganhar empregos,
benefícios públicos, oportunidades em troca de favores (e hoje em dia, até voto e cargos
públicos de confiança)

5. A QUESTÃO DA ESCRAVIDÃO
Vejam, queridos e queridas alunas, é impossível falar de aristocracia descrita acima e da
atividade econômica do Brasil colônia sem falar da escravidão. Nesse sentido, a aristocracia e a
escravidão (senhores e escravos) são duas faces da mesma moeda que compõem uma estrutura
social caracterizada por Gilberto Freyre como “sociedade patriarcal”.
A expressão utilizada pelo autor em seu livro clássico Casa Grande & Senzala é “equilíbrio
de antagonismos de economia e cultura”. Uma realidade dual na qual a violência e o paternalismo
são elementos de uma mesma relação. Afinal, eu nem preciso ficar aqui descrevendo a “qualidade
da vida de um escravo” para você, né?

Mas, Profe, me explica por que esse par de opostos – paternalismo e violência?

Olha, meu querido e querida, a violência nos parece mais fácil de entender – ela é tão
cotidiana que entendemos bem as formas pelas quais ela se manifesta. Já a questão desse
paternalismo era o modo como o dono do escravo tratava algumas de “suas peças” (esse era o
modo como a pessoa escravizada era tratada no mercado). Às vezes lhe dando agrados – como
uma roupa melhor ou comida, permitindo alguma festa ou lazer, entre outros – outras vezes
atribuindo trabalhos menos pesados e mais próximos à casa-grande. Imagine um Senhor

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distribuindo prendas, vantagens, agrados, para as pessoas ao seu redor, ou seja, ele conduz as
relações sociais a partir do patrimônio como se fosse um pai sem sentimentos punindo ou
presenteando filhos.
Contudo, em diferentes situações o senhor castigava seu escravizado. O castigo físico era
absolutamente recorrente – e até mesmo aceito pela Igreja – uma vez que o suplício físico era
entendido como a salvação da alma e a correção dos vícios mundanos. De qualquer maneira, a
decisão sobre a vida e a morte do escravo estava nas mãos do seu dono.
Portanto, paternalismo não tem a ver com a relação de pai e filho carinhosa e
cuidadosa, mas de controle, dominação e submissão. Nessa sociedade patriarcal é o pai - o senhor
de engenho - que controla a vida dos escravos, mas de certa maneira, de todos aqueles que
dependem de suas decisões, incluindo sua família.

Dito isso, podemos inferir que a cor da pele é um marcador social fundamental nas relações
coloniais brasileiras, como afirmam as autoras do livro Brasil: uma biografia:
“A cor logo se tornou um marcador social fundamental; as categorizações, fluidas, variavam com
o tempo e com o lugar, além de delimitarem classificações sociais e status.14

Diferentemente da colonização espanhola, no Brasil, a mestiçagem é uma marca social, já


que não houve nenhuma norma que proibisse a relação sexual entre diferentes povos. Por isso, as
professoras Lília e Heloísa usam o termo “cartografia de tons e subtons”.
Mas nem de longe podemos afirmar que a mestiçagem gerou igualdade - ou menos
desigualdade de oportunidades. As pessoas “de cor” sofriam toda sorte de discriminação, afinal,
sua condição jurídica era de “propriedade” – escravos inferiores. Assim, o constrangimento para
a mestiçagem não era apenas jurídico, também era social.
Em geral, essas relações eram extraconjugais, jamais expostas na “missa de domingo” –
quando não, poderiam ser, inclusive, relações de exploração e violência sexual. Lembram da
personagem Bertoleza no livro O Cortiço, de Aluísio de Azevedo? Ela é a escrava-amante de João
Romão, que a engana com uma falsa carta de alforria, ao mesmo tempo que a esconde de toda a
sociedade.

Mas, Profe, os mestiços também eram escravizados?

14
SCHWARCZ, Lilia Moritz. e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Ed. Cia das
Letras, 2018, p.71.

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A depender da condição da mãe, sim! Se fossem mestiços de homens brancos com


mulheres negras escravas, elas nasceriam na condição de escravos também, afinal, os filhos de
escravas eram propriedade dos seus donos.
Contudo, é verdade que a gradação da cor da pele poderia significar outras trajetórias. Há
muitos estudos históricos na demografia, na sociologia e na economia que demonstram que
quanto mais clara é a pele da pessoa maior suas possibilidades de alçar outras ocupações,
inclusive, na época do complexo açucareiro – um trabalhador de dentro da casa, um capataz, um
entregador, um condutor de cavalos. Os mestiços podiam, também, receber alguma instrução e
trabalhar com atividades do comércio. A alforria era mais possível, portanto, para pessoas com
mais características brancas.
Vários pensadores, sobretudo na década de 1930, analisando a formação social do Brasil
chegaram à conclusão de que as relações sociais eram pautadas por uma complexidade de fatores
que incluíam questões de cunho pessoal, cultural e racial. Ou seja, no Brasil, o modo de relação
não era só racial, só cultural, só por amizades. Era a síntese de tudo isso e, em muitos sentidos,
ainda é.
É inegável os efeitos da escravidão na vida social. Ela é estruturante de todas as outras
relações que se estabeleciam na civilização do açúcar.

“Mulatos e crioulos – este último termo se referia aos escravos nascidos na


propriedade do senhor, isto é, não-africanos – eram aqueles que mais se
aproximavam do universo da casa-grande, constituindo uma espécie de elite que
realizava o trabalho doméstico e especializado, apesar de muitas veze serem
descritos como indolentes; os pardos eram julgados aptos a aprender e dominar
ofícios da cana, e os africanos, tidos por “estranhos pagãos” – na melhor das
explicações, recém-convertidos – e, com raras exceções, por perigosos e
instáveis. Com o tempo a escravidão ficaria mais e mais associada aos africanos e seus
descendentes, e se enraizaria na América portuguesa de maneira a penetrar toda a
sociedade colonial, em que cada vez mais a cor atuava como critério de status. Libertos
com mais bens logo adquiriam cativos, e o mesmo ocorria com agricultores pobres. Ter
escravos era símbolo de posse e de distinção, quase um cartão a avalizar a prosperidade e
estabilidade nessa civilização da cana.” (grifos nossos)15

15
SCHWARCZ, Lilia Moritz. e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Ed. Cia das
Letras, 2018

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5.1- A ESCRAVIDÃO AFRICANA

Mas, afinal, profe, quem era o escravo utilizado nos trabalhos do complexo açucareiro?

No início, da atividade açucareira, a mão de obra utilizada era do indígena. Segundo alguns
dados demográficos de época, entre 1560 e 1570 não havia africanos nas lavouras de cana. A mão
de obra utilizada era do escravo índio conquistado nas “guerras justas”, afinal, era uma solução
relativamente barata e disponível.

“A grande lavoura açucareira na colônia brasileira iniciou-se com o uso extensivo da


mão de obra indígena (...) Do ponto de vista dos portugueses, no período de escravidão
indígena, o sistema de relações de trabalho era algo que fora pormenorizadamente
elaborado. Tal período foi também aquele em que o contato entre os europeus e o
gentio começou a criar categorias e definições sociais e raciais que caracterizaram
continuamente a experiência colonial.”16

No entanto, a situação começou a se alterar a partir da década de 1570. Se liga nos dados
da tabela abaixo:

Proporção de trabalhadores
escravos negros na lavoura do
açucar
1638
98%
Anos

1591
37%

1574
7%

0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%


Porcentagem

O que se processou nesse período foi a substituição do trabalho livre, por exemplo, nas
tarefas mais especializadas da atividade açucareira – tal como vimos na seção anterior sobre etapas
da produção do açúcar –, para o trabalho escravo. Soma-se a isso, a ampliação dos negócios do
tráfico negreiro em si, pois ele dava muito lucro.

16
SCHWARTZ, Stuart B. Segredos Internos: Engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia
das Letras, 2005, p. 57.

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Assim, a mão de obra escrava africana, e depois os afro-brasileiros, acabou constituindo a


base das principais atividades econômicas da colônia. Aqui não me refiro apenas à economia
açucareira, que estamos estudando nesta aula, mas a outras, como a mineração, pecuária, algodão
e extrativismo vegetal.

O Tráfico Negreiro para o Brasil


2000000
1800000
1600000
1400000
1200000
1000000
800000
600000
400000
200000
0
1531-1600 1601-1700 1701-1800 1801-1855

entrada de escravos por século

Observe, no mapa a seguir, as rotas do comércio transatlântico de escravizados:

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Profe Alê, por que a mão de obra africana? Por que não continuar com os indígenas?

Veja, querido e querida, o primeiro argumento relevante é o do historiador Fernando


Novais para quem a preferência pela mão de obra africana estava relacionada com as
possibilidades de lucro advindo dessa atividade do tráfico (do comércio). Ou seja, havia um
comércio de viventes a ser explorado e que poderia ser muito rendoso. E foi!!!

Mas Profe quem ganhava com isso, os donos dos escravos? Eram eles que faziam o comércio?

Olha, o tráfico negreiro era um comércio intercontinental e oceânico realizado por grupos
específicos, muitos deles ingleses, franceses e holandeses e até mesmo as elites africanas no
Continente Africano.
Contudo, o início dessa atividade só foi possível porque portugueses estabeleceram as
feitorias no litoral da África (lembra-se disso?). Por meio dessas feitorias, estabeleceram alianças
com soberanos locais que facilitavam a escravidão comercial de povos conquistados.

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Assim, o comércio de viventes, como alguns historiadores mais recentes se referem ao


comércio ou tráfico negreiro, uniu interesses econômicos de 3 continentes: África, Europa e
América – formando um comércio triangular, que durou até o século XIX. No caso de Portugal,
parte desses lucros ia para a metrópole em forma de taxas devido ao exclusivo metropolitano.
Outro elemento fundamental para explicar os lucros desse comércio é a expectativa de vida
de um escravo, em geral, baixa – 35 anos. E sua idade produtiva começava aos 8 anos. É isso
mesmo que você leu!! Aos 8 anos! Alguns documentos de época confirmam que o menino de 8
anos já era um homem feito e preparado para o trabalho!! Assim, para o senhor de engenho, o
ideal era comprar um escravo que trabalhasse, para não “investir” em mão de obra pouco
produtiva.
Para o senhor a lógica não era exatamente comprar e vender, mas, comprar para acumular,
afinal, mais escravos mais produção e mais status social. Dessa forma, o mercado com demanda
sempre crescente estimulava a chegada de mais pessoas escravizadas trazidas da África. Estima-

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se que o tráfico atlântico implicou o deslocamento compulsório de 12 milhões e meio de homens,


mulheres e crianças da África para as Américas17.
Observe o caso de um Engenho em Sergipe do Conde para perceber essa lógica de
demanda crescente:
Outro argumento
Proporção trabalho livre e escravo no mais tradicional para
engenho do Conde explicar a preferência pela
250 mão de obra escrava negra
é o cultural: os indígenas
200
200
do sexo masculino não
150
estavam habituados ao
trabalho agrícola, pois, em
100 geral, eram as índias que o
80 realizavam. Entretanto,
50
esse argumento tradicional
13 6
0 (comum em vestibulares) já
1635 1710 é amplamente criticado
assalariado escravo por pesquisas recentes,
pois a noção de que o
índio não era compatível com trabalho agrícola, na verdade, expressa um desconhecimento mais
específico do modo de vida dos povos indígenas (no Capítulo 6, aprofundo as variáveis que
levaram à substituição da mão de obra). Dentro desse argumento mais tradicional, os africanos
trazidos à América eram agricultores e, portanto, tinham certo conhecimento técnico na lavoura.
Principalmente, porque em regiões africanas já havia a plantação do açúcar.
Por fim, mas não menos importante é o argumento exposto pela Igreja. Naquela época,
houve uma Carta Régia, de 1570, proibindo a escravidão indígena de povos que se dispusessem
à conversão ao catolicismo. Apesar de os colonos viverem em conflito com a Igreja e com o
Governo Geral por conta dessa proteção dos jesuítas, houve um desestímulo moral à escravização
dos povos indígenas. Veja o box mais abaixo.
De qualquer maneira gostaria de chamar sua atenção para o seguinte:

Quando falamos da preferência do negro em relação aos índios para o uso


sistemático da mão de obra escrava, não podemos nos esquecer das contradições e
da realidade pobre da maioria do território colonial. Concretamente isso fez com que
a escravidão indígena continuasse sendo realidade em muitos lugares, a despeito
das análises que muitos historiadores fizeram.

17
FLORENTINO, Manolo. Aspectos do tráfico negreiro na África Ocidental (c. 1500 -c.1800). In:
FRAGOSO, João & GOUVÊA, Maria F. (Org.). Coleção- O Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Ed. Civilização
Brasileira. V.1, 2018, p. 229.

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A perseguição e subjugação dos índios no sudeste do Brasil foi incentivada por autoridades
da Coroa portuguesa presentes na colônia e por agentes particulares (portugueses
endinheirados), que buscavam novos investimentos, para além do comércio da cana de açúcar.
Como a produção de açúcar das capitanias de Santo Amaro e São Vicente (territórios equivalentes
à região atual do estado de São Paulo) não conseguiam competir com o Nordeste, os paulistas
tiveram que pensar em alternativas de investimento, como: comércio de índios escravizados e
busca por metais preciosos.
Os paulistas, em particular aqueles conhecidos como “bandeirantes”, organizaram vilas e
terras agricultáveis a partir da mão de obra escrava indígena. Contudo, tiveram que sair do litoral
e adentrar o planalto em busca de riquezas, de índios e terras mais agricultáveis.
Além disso, alguns historiadores afirmam que apesar do grande aporte de africanos
escravizados nas lavouras de açúcar, bem como em outras atividades, a mão de obra indígena
continuou sendo utilizada. Assim, o que se processou foi uma diferenciação das tarefas a serem
cumpridas por negros e por índios. Vale ficar de olho nessas pesquisas mais recentes.

A cultura escravagista legitimada pelo Estado e pela Igreja Católica


Lembra-se de que uma das tensões na Península Ibérica foi a relação entre católicos e
mulçumanos? Durante o processo de reconquista da Península Ibérica, a escravização de
populações mulçumanas passou a ser uma prática comum dos reinados, segundo a noção de
“guerra justa”. Nesses termos, a Coroa portuguesa nasceu com um pé na cultura escravagista,
pois passou a legitimar a escravização dos não-cristãos. Dessa forma, tanto as monarquias, quanto
a Igreja, alimentaram o trabalho forçado do “outro”. Para ambos, a escravidão era necessária e
justa, pois a infidelidade religiosa era a base da justificação, um argumento conveniente que
transitou dos mouros para os negros africanos.
Um argumento bíblico, muito popular, era a ideia da maldição divina. Por meio dela, a escravidão
era fruto do pecado de Adão e Eva, primeiros pais dos homens segundo a doutrina católica. Outra
justificativa religiosa era aquela que apontava os africanos como descendentes de Caim. Este
personagem bíblico, que matou o próprio irmão por ciúmes recebeu de Deus, ao ser amaldiçoado,
uma marca no corpo para que não morresse e pudesse viver em constante expiação de seu
pecado. Ligou-se, a posteriori, a negritude dos africanos à marca cutânea imposta por Deus a
Caim. Essa ideia se combina ade guerra justa, pois os inimigos devem ser escravizados, pois deve-
se preservar-lhe a vida – uma vez que esta tem natureza divina. Só Deus decide sobre vida e morte.
Assim, escravidão é preservação do dom divino da vida e não condenação eterna.

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A partir da expansão ultramarina no norte da África, a prática da escravidão se ampliou. Em 1452


uma bula papal legitimou a escravidão dos não-cristãos e, em 1455, o papado reafirmou essa
posição com a autorização específica sobre africanos e asiáticos.
Por isso, à medida que os portugueses avançavam nas rotas marítimas ao longo da costa africana
o número de escravizados aumentava. Isso porque, para estabelecerem as feitorias em territórios
como, Madeira, Cabo Verde, Moçambique, muitos negros africanos foram forçados a trabalhar
para os portugueses (construções de fortificações, por exemplo).
Nesse contexto, os portugueses que conquistaram as terras conhecidas como América
portuguesa, já desembarcaram com uma mentalidade escravagista. Do primeiro contato com os
índios em diante, tudo foi uma questão de tática e estratégia militar de dominação. Tanto foi que
o professor João Pacheco de Oliveira18 estabelece duas situações iniciais de representação dos
índios pelos portugueses, tal como afirmei no início da aula (a questão do Mito):
Primeira: os índios muito bem tratados e exibidos nas cortes europeias com simpatia e tolerância.
A representação positiva dos autóctones ficou marcada pela carta de Caminha.
Segunda: os índios tratados a partir da perspectiva da “guerra de conquista”. Aqui as relações
entre índios e portugueses passaram a ser distintas do momento anterior. “Portugal não quer mais
ter puramente parceiros comerciais ou aliados, mas sim vassalos (...). Para isso há que ter em suas
mãos o governo dos índios e a soberania exclusiva do território, expulsando os rivais franceses e
implantando modalidades estáveis de geração de riquezas, as quais propiciem aos moradores uma
relativa autonomia face ao Tesouro Real. A materialização dessa nova forma econômica é o
estabelecimento de lavouras de cana e engenhos em terras doadas, enquanto sesmarias, aos
colonos por El Rey ou pelo seu representante, o governador”19.

Antes de finalizarmos esta abordagem crítica sobre a sociedade escravocrata que se formou
no Brasil, vejamos uma referência bibliográfica e uma questão de prova:
A Igreja apoiou a escravidão. Através da bula papal Dum diversas, de 1452, o papado concedeu
aos portugueses o direito de atacar, conquistar e submeter pagãos e sarracenos [mulçumanos],
tomando seus bens e reduzindo-os à escravidão perpétua. A bula Romanus pontifex, de 1455,
ampliou o território de atuação dos portugueses, incluindo Marrocos e as Índias. Várias outras bulas
ratificaram ou ampliaram os poderes concedidos aos portugueses no sentido de converter homens
à fé católica, escraviza-los e comercializá-los.
(VAINFAS, Ronaldo (dir.). Dicionário do Brasil colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000. P. 205)

18
OLIVEIRA, João Pacheco. Os indígenas na fundação da colônia: uma abordagem crítica. In: FRAGOSO,
João. GOUVÊA, Maria de Fátima (Org.). Coleção – O Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Ed. Civilização
Brasileira. V. 1. 2018, pp 167-228.
19
Idem, p. 207.

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(UEFS/2018)
A igualdade de interesses agrários e escravocratas que através dos séculos XVI e XVII
predominou na colônia, toda ela dedicada com maior ou menor intensidade à cultura do
açúcar, não a perturbou tão profundamente, como à primeira vista parece, a descoberta das
minas ou a introdução do cafeeiro. Se o ponto de apoio econômico da aristocracia colonial
deslocou-se da cana-de-açúcar para o ouro e mais tarde para o café, manteve-se o
instrumento de exploração: o braço escravo.
(Gilberto Freyre. Casa-Grande & Senzala, 1989.)
O excerto descreve o complexo funcionamento do Brasil durante a colônia e o Império. Uma
de suas consequências para a história brasileira foi
a) a utilização de um mesmo padrão tecnológico nas sucessivas fases da produção de
mercadorias de baixo custo.
b) a existência de uma produção de mercadorias inteiramente voltada para o abastecimento
do mercado interno.
c) a liberdade de decisão política do grupo dominante local enriquecido com a exploração
de riquezas naturais.
d) a ausência de diferenças regionais econômicas e culturais durante o período colonial e
imperial.
e) a manutenção de determinadas relações sociais num quadro de modificações do centro
dinâmico da economia.
Comentários
Independentemente do ciclo econômico adotado no Brasil – açúcar, ouro ou café), a relação
de trabalho escolhida foi a mesma, isto é, o trabalho escravo. Assim, as relações sociais se
perpetuaram ao longo do tempo.
A alternativa A não pode ser porque a tipo de tecnologia empregada no processo de
produção do açúcar foi um e no café, por exemplo, foi outro.
A B está erra porque, como vimos, as atividades economias, dentro da exclusivo
metropolitano, estavam voltadas para fora. Ainda dentro da relação com a Metrópole, não é
possível falar em “liberdade de decisão política do grupo dominante local”, pois a
administração colonial fazia exercer o poder da Coroa. A C está errada.
A D também está errada porque entre Nordeste e Sudeste brasileiro, por exemplo, havia
muitas diferenças. No caso da sociedade açucareira, como vimos, o processo foi
predominante no Nordeste.
Gabarito: E

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5.2 – RESISTÊNCIA QUILOMBOLA


Tendo em mente a dimensão da exploração e da violência que acompanharam o processo de
colonização e formação do Brasil, devemos observar, também, as formas de resistência. Mas não
apenas como resistiram à violência, porque, como ensinou Gilberto Freyre, por aqui a
sociabilidade é um complexo que envolve relações pessoais, cultura, raça e muita, muita
negociação. Um equilíbrio de contrastes, evidentemente, deixou marcas da influência de todos
esses povos que participaram ativamente da formação do país. Vejamos um pouco mais sobre
essa história.

Em 1741, o Rei de Portugal expediu um Alvara Real que determinava a punição de negros
aquilombados, isto é, afrodescendentes que fugiam e se abrigavam em quilombos. O texto régio
dizia,

Eu El Rei faço saber aos que este Alvará em forma


de Lei virem, que sendo-se presentes os insultos,
que no Brasil cometerem os escravos fugitivos, a que
vulgarmente chamam quilombolas (...). Hei por bem,
que a todos os Negros, que forem achados em
Quilombos, estando neles voluntariamente, se lhes
ponha fogo uma marca em uma espádua [ombro]
Quilombo tem o significado com a letra F, que para efeito haverá nas Câmaras;
de esconderijo, palavra e se quando se for executar esta pena, for achado já
derivada de quimbundo com a mesma marca, se lhe cortará uma orelha, tudo
(esconderijo na língua dos por simples mandato do Juiz de Fora, ou Ordinário
ambundos, grupo étnico da Terra, ou do Ouvidor da Comarca, sem processo
banto de Angola). algum, e só pela notoriedade do fato, logo que do
Quilombo for trazido, antes de entrar para a cadeia.

Repare como era perversa e cruel a perseguição sobre os negros africanos e seus
descendentes. O final do texto ainda enfatiza que nenhum capturado teria direito a um
“processo”. Bastava um “capitão do mato” capturar um fugitivo para que ele sofresse a pena da
marcação do “F” no ombro ou a da mutilação da orelha.
Pois bem, querido e querida aluna, se essa ordem real, datada de meados do século XVIII,
expressava o tratamento para com os negros, você imagine as barbaridades cometidas pelos
portugueses, e demais europeus proprietários de terras, logo no começo da colonização no século
XVI? Primeiro, a opressão e a exploração recaíram sobre os índios, depois, sobre os negros
escravizados oriundos da África. Como vimos anteriormente, a proibição da escravização dos
índios em 1570 e, principalmente, com as possibilidades de lucro via tráfico negreiro, começou

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um processo de substituição da mão de obra indígena pela dos africanos aprisionados em seus
territórios, deslocados para o Brasil e escravizados.
Agora, vejamos algumas formas de resistência dos negros frente ao racismo estrutural
presente no sistema colonial do Brasil. Contudo, lembremos alguns pontos do panorama sobre as
condições de vida e de trabalho forçado dos africanos transferidos para a América Portuguesa
entre os séculos XVI e XVII:

 Trabalho no plantio, em média 13 horas por dia;


 Trabalho no corte e moagem da cana de açúcar, em
média 18 horas por dia;
 A moradia eram as senzalas: fechadas, escuras, sem
condições de higiene e saneamento básico;
 Viviam vigiados sob a ameaça de armas;
 Castigos como prática de punição, tais como:
 Chicotadas com couro cru;
 Aprisionamento em tronco;
 “vira-mundo” (instrumento que prendia pés e mãos);
 “gargalheira” (instrumento que imobilizava o pescoço);
 Mordaça e máscara;

20

Diante da condição escrava, os africanos trazidos para o Brasil, bem como seus
descendentes, não ficaram passivos. Reagiram de diferentes maneiras, em grande parte, sempre
para amenizar as dores físicas e mentais do trabalho escravo.
A partir dos estudos bibliográficos, é possível listar algumas formas de resistência:

Algumas mulheres, para evitar que seus filhos nascessem naquele mundo, provocavam
abortos. Ao mesmo tempo que essa ação significava uma resistência, também expressava
uma violência contra o corpo dessas mulheres negras;
Outra “auto violência” corporal era o suicídio;

20
Disponível em:
http://www.campanha.mg.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1431:tronco--
instrumento-de-castigo&catid=455:semana-de-museus&Itemid=248. Acesso em: 06/04/2019.

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Sabotagens nos engenhos por meio de destruição de plantações, instrumentos e,


principalmente, da moenda;
Emboscadas e ataques surpresas à elite branca (senhores de engenho). Nesses ataques,
promovidos por ex-escravos, as casas-grandes eram saqueadas e os canaviais e depósitos
postos em chama.
Negociações com senhores de engenho para obtenção de melhores condições de vida,
como alimentos, vestuário e moradia;
Fugas dos engenhos, tanto individuais, quanto coletivas. Estas, por sinal, merecem atenção
especial pois resultaram na formação dos Quilombos.

Os escravos que conseguiam fugir dos engenhos começaram a organizar comunidades em


regiões afastadas da zona de controle dos colonos e da Coroa. A esses agrupamentos de negros
livres se denominou Quilombos ou Mocambos.
Durante muitos anos, a resistência quilombola marcou a história dos negros na América
portuguesa. Muitos quilombos, além de receber negros que fugiam da dominação do sistema
escravista, chegaram reunir índios e até brancos descontentes com as imposições do governo
português.

A vida nos quilombos era baseada na agricultura e em pequenas trocas


comerciais com comerciantes e taberneiros das proximidades. A depender da
localidade, poderiam ainda fazer mineração e cerâmica.

Com a formação dos Quilombos, a preocupação dos senhores de engenho e da Coroa era
com a disseminação de ideias insurrecionais, contrárias, portanto, ao sistema escravista.

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O Quilombo dos Palmares se destacou na resistência negra. Localizado em uma região da


capitania de Pernambuco, começou a ser
organizado em 1580 e foi destruído por
colonos e pela Coroa portuguesa em 1694.
Ganga Zumba e Zumbi se destacaram entre
os líderes de Palmares. O primeiro,
governou de 1656 a 1678 e, Zumbi,
governou de 1678 até a queda do
quilombo.
Zumbi era sobrinho de Ganga
Zumba e articulou a derrubada do tio por
considerar que a política de Ganga Zumba
de aproximação com os brancos não
condizia com a ideia de liberdade do negro.
Zumba chegou a firmar um acordo com o
governador de Pernambuco que previa a
libertação dos negros nascidos em
Palmares, mas em troca, os fugitivos mais
recentes no Quilombo deveriam ser
devolvidos. Zumbi não concordou com essa
proposta e liderou uma rebelião contra o
então chefe. Era o acordo de Cacau.

Em novembro de 1678, Ganga-Zumba foi a Recife assinar o acordo. No acordo


foi cedido região de Cucaú, distante 32 km de Sirinhaém. Ali poderiam
estabelecer ''comércio e trato'' com os moradores da região e um lugar onde
pudessem viver ''sujeitos às disposições'' da autoridade da capitania. Mas a
promessa de entregar os escravos que dali em diante fugissem e fossem para
Palmares foi interpretada por muitos palmarinos como traição. A população do
maior quilombo se dividia. Gamba Zumba morreu envenenado e, por fim, o próprio
governador não respeitou o acordo de paz e invadiu Cacau 3 anos mais tarde.

O bandeirante Domingos Jorge Velho foi contratado para destruir Palmares. Em 1692, em
uma primeira tentativa, Jorge Velho e seus aliados cercaram Palmares, mas os quilombolas
venceram o confronto. Dois anos depois, em 1694, Jorge Velho, com mais 6 mil soldados
conseguiram vencer Palmares. Zumbi escapou, mas foi pego em 1695. Após ser preso, foi morto
e sua cabeça ficou estiada em praça pública em Recife.

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A organização dos quilombos se multiplicou em muitas regiões do país e, até hoje, existem as
assim denominadas “comunidades quilombolas”. Algumas conseguiram o direito ao
reconhecimento da terra que seus antepassados escravos conquistaram e outra, não. Por sinal, a
nossa atual Constituição, a Constituição Federal de 1988, prevê o direito à terra aos descendentes
de quilombolas.

(UDESC/2014)
Os anúncios publicados em diferentes jornais que circularam no Brasil, durante o século XIX,
a respeito dos anúncios de fugas e/ou vendas de negros cativos, constituem documentos
importantes para a escrita da História, pois permitem verificar o perfil do escravo que fugia,
o cotidiano da escravidão, dentre outras questões. O levantamento realizado no quadro
abaixo sobre anúncios de escravos publicados no jornal O Universal (Ouro Preto/MG), entre
1825 e 1831, permite algumas inferências sobre a história da escravidão.

Analise as proposições, considerando as informações do quadro acima e a história da


escravidão no Brasil.
I. O quadro fornece informações importantes sobre sexo e etnia, por exemplo, dos 116
escravos fugidos mais de 90% eram africanos, e mais de 80% do sexo masculino.
II. A maioria de homens, entre os fugitivos nos anúncios, não deve ser explicada somente
pelo fato de que eram predominantes no conjunto da escravaria, outras questões devem ser
observadas para além dos números como, por exemplo, as relações familiares,
principalmente a existência de crianças que dependiam das mulheres, dentre outros fatores
que merecem estudos auxiliares.
III. A publicação de inúmeros anúncios de fuga permite inúmeras inferências, a mais óbvia
deve-se à negação do cativeiro, a uma forma de recobrar o domínio de suas vidas, haja vista
que o sistema lhes negava tal domínio.

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IV. Menos de 7% das mulheres cativas fugiam, segundo os anúncios publicados, o que se
explica pelo fato de os homens serem a maioria no conjunto dos escravos, e, considerando-
se a questão de gênero, serem mais corajosos e propensos ao risco da fuga.
a) Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.
b) Somente as afirmativas II e IV são verdadeiras.
c) Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas I e IV são verdadeiras.
e) Todas as afirmativas são verdadeiras.
Comentários
A questão da escravidão e da resistência dos escravos é algo que estudaremos ao longo do
Brasil colônia. Dessa forma, você precisa se acostumar com a cobrança geral sobre essa
temática nos vestibulares. Para tanto, o treino deve começar desde as primeiras abordagens
sobre a escravidão no Brasil, mesmo que a questão faça referência a períodos mais adiante
na histórica, como esta questão da UDESC de 2014. Dá para resolver sem termos noção
profunda dos acontecimentos do século XIX, por exemplo. Veja só:
O item I é sobre a interpretação da Tabela. Na afirmativa I, afirma-se que dos 116 escravos
fugidos 90% são africanos, olhando a tabela, no entanto, verifica-se que destes 116 apenas
57 são africanos, ou seja, em torno de 50%. O item está errado. Com isso, já descartamos as
alternativas E, D e A.
O item II está correto, pois ela não fecha uma interpretação generalizante sobre os dados,
apenas sugere que pode haver inúmeras razões para que os dados sejam tais como
apresentados. Os dados quantitativos não permitem uma qualificação global das explicações
mais profundas sobre as fugas, embora tendências possam ser anunciadas, como faz o item
II.
Já a alternativa III, apresenta uma razão comum sobre o porquê os escravizados fugiam. Ora,
como temos visto nesta aula, a tendência histórica indica que a submissão a maus tratos e
opressão não é tolerada sem resistências. Tal afirmativa, diferentemente da anterior já é mais
fácil de ser universalizada, pois há um dado histórico sobre isso. Até por esse motivo fiz
questão de trazer essa cobrança da UDESC para essa aula, pois você deve se preocupar, ao
longo dos estudos, em analisar as tendências históricas. Sacou?
O item IV está errado, pois faz uma suposição de gênero sobre a falta de coragem das
mulheres para fugir. Repare que os dados não permitem afirmar isso. Por exemplo, as
mulheres podiam evitar fugas porque, em sua maioria, tinham crianças ou bebês, fato que
coloria em risco a vida de ambas em uma estratégia de fuga pelas matas.
De toda forma, perceba que a temática da resistência, fugas, condição do escravo, é algo
muito importante para os estudos para as provas de vestibular.
Gabarito: C

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6. ÍNDIOS, OU MELHOR, POVOS ORIGINÁRIOS


Diante da cultura escravista já presente na sociedade branca europeia, a extração do pau-
brasil - único recurso lucrativo disponível no Brasil conquistado - necessitava de mão de obra.
Tanto para explorá-lo (cortar, carregar, preparar e embarcar), quanto para organizar um
povoamento português capaz de conter invasões estrangeiras (como a dos franceses e
holandeses), a mão de obra indígena foi estratégica. Claro, estratégica do ponto de vista do
colonizador branco português.

Em linhas gerais, durante os séculos XVI e XVII, o modo de inserir os cerca de 2,5 milhões de índios
do litoral brasileiro no processo de colonização consistiu, basicamente, em três métodos:

• O primeiro consistia na escravização pura e simples, na base da força, empregada


normalmente pelos colonos. Para tanto, os colonizadores lançavam mão de alianças com
etnias indígenas inimigas entre si, de modo que – de aliança em aliança- desarticulavam
qualquer resistência unificada dos índios contra os invasores portugueses. Por sinal, esse
tipo de estratégia foi a adotada na América Espanhola;
• O segundo era o estímulo à criação de um campesinato indígena por meio da aculturação
e destribalização, as quais eram praticadas primeiramente pelos jesuítas, e depois pelas
demais ordens religiosas;
• O terceiro consistia na busca da integração gradual do índio como trabalhador assalariado,
medida adotada tanto por leigos como pelos religiosos. O início desse processo foi
marcado pelo escambo, a troca de utensílios europeus por trabalho indígena no corte e
carregamento do pau brasil.

Com a crescente resistência dos povos indígenas, a política indigenista ficou caracterizada pelo
seguinte dualismo:

• Conquista militar e escravização dos índios;


• Conversão dos índios ao cristianismo e consequente subordinação.
Os jesuítas foram os europeus que mais pressionaram a Coroa e os colonos a tratarem os
índios como filhos de Deus, o “bom selvagem” visto no começo da aula. Dessa forma, por um
lado, atuaram para a liberdade dos índios e contra o aprisionamento. Por outro, os jesuítas foram
abnegados conversores da subjetividade indígena. Assim como os clérigos atuantes nas colônias
espanholas, como vimos na Aula 05, os jesuítas no Brasil quiseram ampliar o número de fiéis, pois
concebiam a cultura ameríndia como inferior e pagã.

No processo de evangelização, os jesuítas fizeram duas tentativas:

Converter índios em suas próprias aldeias. Ações com menor resultado de conversão;
Converter índios em aldeamento construídos pelas missões de evangelização, as
chamadas reduções. Essa ação rendeu mais resultados para os jesuítas.

AULA 06 HB: Colônia I


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Dessa forma, à luz dos ensinamentos do antropólogo Antônio Carlos de Souza Lima
(professor UFRJ)21, você deve ter em mente que, do ponto de vista político, a ação colonizadora
de “conquista” significou:

1) a conquista como uma modalidade de guerra, em que domínio sobre


populações reduzidas pela força militar, suas terras, seus recursos naturais
foram apropriados num processo no qual a aliança com parte das
populações habitantes dos espaços a serem incorporados, e todo um
aparato que hoje chamaríamos de “meios de comunicação”, tiveram tanta
ou mais importância que a violência física;
2) a conquista não foi somente guerra e destruição (violência aberta, portanto); mas implicou
em produção de novas relações/identidades sociais, isto é, também se apresentou como
violência simbólica;
3) no caso dos povos presentes na porção do continente invadida pelos portugueses,
devemos falar no plural - em conquistas -, pois, ao contrário do México ou do Peru, onde os
espanhóis lutaram contra estruturas de poder com um modo de centralização similar a
algumas existentes no passado mediterrâneo, os dispositivos políticos dos índios brasileiros
eram muito distintos.

No contexto da pregação cristã em terras indígenas, ao mesmo tempo que índios eram
catequizados, eles também mantinham suas identidades culturais originárias. Com isso, muitos
sincretismos religiosos foram formados, à revelia do controle da catequização dos jesuítas. Na
prática, era uma forma de resistirem tanto à violência física da escravização, quanto à violência
subjetiva da catequização. Como as reduções acabavam se transformando em locais protegidos,
muitos índios passavam a viver sob a tutela dos jesuítas.

A mistura entre a cultura cristã e a indígena produziu visões de mundo, formas de pensar própria
das etnias indígenas, baseadas na resistência contra o europeu opressor e explorador, um
verdadeiro sincretismo.

Para você ter uma ideia, em 1580, no Recôncavo Baiano, ocorreu uma grande insurreição
indígena. Até os jesuítas ficaram surpresos. Antônio, um índio educado por jesuítas, reuniu vários
índios escravizados para anunciar a profecia da Terra sem Mal. Essa terra seria um lugar distante

21
LIMA, Antonio Carlos de Souza. Um olhar sobre a presença das populações nativas na Invenção do
Brasil. IN: Aracy Lopez da Silva; Luiz Donisetti Benzi Grupioni. (Org.). A QUESTÃO INDÍGENA NA SALA
DEAULA. NOVOS SUBSÍDIOS PARA PROFESSORES DE 1º E 2º GRAUS. 1 ed. BRASÍLIA: MEC, 1995, p.
407-419

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dos engenhos e das brutalidades dos senhores. A revolta foi brutalmente massacrada por tropas
portugueses da região nordeste. Por sinal, no nordeste do Brasil colônia, o período de 1540 até
1570 marcou o apogeu da escravidão indígena nos engenhos, especialmente naqueles localizados
em Pernambuco e na Bahia, como vimos anteriormente.
A Coroa portuguesa publicou uma ordem de proibição da escravização dos povos nativos,
em 1570, lembra? Isso ocorreu devido a:
➢ resistência indígena à escravização
➢ diminuição exponencial da população indígena (vítimas das doenças e do trabalho
escravo extenuante)
➢ resistência dos jesuítas
➢ necessidade de os negócios da Coroa (lucro) serem ampliados a partir do tráfico
negreiro
É importante ressaltar que essa ordem teve mais eficácia no nordeste do Brasil, nas terras
dos grandes engenhos de açúcar e pouca no sudeste e sul.
A perseguição e subjugação dos índios no sudeste do Brasil foi incentivada por autoridades
da Coroa portuguesa presentes na colônia e por agentes particulares (portugueses
endinheirados), que buscavam novos investimentos, para além do comércio da cana de açúcar.
Como a produção de açúcar das capitanias de Santo Amaro e São Vicente (territórios equivalentes
à região atual do estado de São Paulo) não conseguiam competir com o Nordeste, os paulistas
tiveram que pensar em alternativas de investimento, como: comércio de índios escravizados e
busca por metais preciosos.
Os paulistas, em particular aqueles conhecidos como “bandeirantes”, organizaram vilas e
terras agricultáveis a partir da mão de obra escrava indígena. Contudo, tiveram que sair do litoral
e adentrar o planalto em busca de riquezas, de índios e terras mais agricultáveis. Por isso, esses
colonizadores europeus passaram a ser conhecidos como “sertanistas”, da qual “bandeirante” é
uma variante.
O centro desse movimento de interiorização dos conquistadores foi a vila de São Paulo,
fundada pelos jesuítas em 1554. Nessa região, a escravização indígena foi empregada em setores
específicos da agricultura, como na plantação do trigo. Esse produto era comercializado com
outras regiões, como a do Rio de Janeiro. O interessante é que essa situação gerava um conflito
entre bandeirantes e jesuítas – que combatiam a escravização indígena – e, posteriormente, com
a Coroa (Metrópole), quando ela passou a proibir a mão de obra escrava indígena, em 1570.
Muitos aldeamentos (as reduções) eram atacados por bandeirantes.

 Em linhas gerais, os bandeirantes paulistas:


 ignoravam a proibição da captura e do tráfico de índios;
 ignoravam o papel das reduções jesuítas;
 ignoravam as demarcações do Tratado de Tordesilhas, pois as expedições sertanistas
acabavam estabelecendo domínios em terras espanholas.

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Por volta de 1640, os jesuítas das terras do sul, sudeste e centro-oeste, juntamente com os
indígenas, conseguiram resistir e impuseram derrotas aos bandeirantes. Dessa forma, o
fornecimento de mão de obra para a economia da capitania de São Vicente foi estagnado,
dificultando ainda mais a vida econômica de uma região marginal na economia açucareira.
Diante dessa derrota, os bandeirantes passaram a ser contratados para destruir e
desarticular os quilombos do Nordeste. Um desses contratados para agir no Nordeste foi o
bandeirante Domingo Jorge Velho, que recebeu uma fortuna em troca de dizimar o Quilombo
dos Palmares. Com seis mil homens (a maioria brancos paulistas e mamelucos, isto é, homens com
ascendência europeia e indígena), após cercarem Palmares, a resistência quilombola foi derrotada
em janeiro/fevereiro de
1694.
Outra região que
sofreu com a chegada do
modo de vida colonial
escravista foi Maranhão e
Grão-Pará. Como a
produção canavieira
também não encontrou
solo favorável nessas
terras, as alternativas
foram os comércios de
índios escravizados e de
produtos da terra. Os
colonizadores
aproveitaram-se da
exploração das chamadas
“drogas do sertão” da
Floresta Amazônica
(produtos in natura para remédios, temperos e tinturaria). A mão de obra empregada nesse tipo
de atividade foi a escrava indígena.
A título de reforço, lembre-se de que outra violência empregada contra os índios foi a
disseminação de doenças. Tanto os colonos europeus, quanto os aldeamentos jesuíticos
contribuíram para a propagação da varíola, da gripe, dentre outras doenças não típicas dos povos
nativos. Em 1562, em nome da “Guerra Justa”, o Governador Mem de Sá se dirigiu com um
exército até o litoral norte da Bahia e parte de Pernambuco para conter uma revolta dos caetés.
Depois de submetidos, esses índios sofreram com a epidemia de varíola. Cerca de 70 mil deles
morreram nesse momento.

AULA 06 HB: Colônia I


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 Em resposta à deterioração das condições de vida, seja nas aldeias (vilas ou reduções), seja
fruto das perseguições, os índios responderam de muitas formas
 fugas para regiões mais interioranas;
 conflitos físicos contra os conquistadores.
 Cercamento de aldeias e ataques a engenhos;
 Alianças com europeus rivais, por exemplo, Tupinambás aliaram-se com franceses para
combater os portugueses

Entretanto, as resistências indígenas não foram suficientes para conter as baixas. Conforme
compilação de dados governamentais, o balanço histórico da população indígena é percebido nos
seguintes números:

Os Tupinambás ganharam destaque na preocupação da Coroa Portuguesa. Além de, em


certas ocasiões se aliarem aos franceses, eles realmente colocavam em risco os planos da
Metrópole. Foram diretamente citados nas ordens do Rei de Portugal aos Governadores para que
todos os Tupinambás fossem “castigados com muito rigor (...) distraindo-lhes suas aldeias e
povoações e matando e cativando aquela parte deles que vos parecer que basta para seu castigo
e exemplo”22.

22
OLIVEIRA, João Pacheco. Op. Cit., p. 183.

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(UNICAMP/2019)
Entre os séculos XVII e XVIII, o nheengatu se tornou a língua de comunicação interétnica
falada por diversos povos da Amazônia. Em 1722, a Coroa exortou os carmelitas e os
franciscanos a capacitarem seus missionários a falarem esta língua geral amazônica tão
fluentemente como os jesuítas, já que em 1689 havia determinado seu ensino aos filhos de
colonos.
(Adaptado de José Bessa Freire, Da “fala boa” ao português na Amazônia brasileira.
Ameríndia, Paris, n. 8, 1983, p.25.)
Com base na passagem acima, assinale a alternativa correta.
a) Os jesuítas criaram um dicionário baseado em línguas indígenas entre os séculos XVI e XIX,
que foi amplamente usado na correspondência e na administração colonial nos dois lados do
Atlântico.
b) O texto permite compreender a necessidade de o colonizador português conhecer e
dominar a língua para poder disciplinar os índios em toda a Amazônia durante o período
pombalino e no século XIX.
c) O aprendizado dessa língua associava-se aos projetos de colonização, visando ao controle
da mão de obra indígena pelos agentes coloniais, como missionários, colonos e autoridades.
d) A experiência do nheengatu desapareceu no processo de exploração da mão de obra
indígena na Amazônia e em função da interferência da Coroa, que defendia o uso da língua
portuguesa.
Comentários

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Estratégia Vestibulares – Aula 06

Para exercer o controle sobre os povos das Américas colonizados, os europeus lançaram mão
do aprendizado das línguas nativas para melhor compreender e penetrar no meio indígena.
Com efeito, esse “aprendizado” das línguas fez parte das estratégias de dominação. Dentre
os agentes europeus que buscaram estabelecer comunicações a partir das línguas nativas,
destacaram-se os missionários. Por sinal, foi a partir desse tipo de prática que os índios
também foram alvos do processo de catequização (conversão ao catolicismo).
A alternativa A está errada, pois o trecho “amplamente usado na correspondência e na
administração colonial nos dois lados do Atlântico” indica, equivocadamente, a oficialização
das línguas nativas. Algo que seria, no mínimo, uma heresia do ponto de vista religioso. A
escrita e a linguagem em geral são fontes fundamentais para projetos de dominação. Por
isso, o português foi mantido nas correspondências oficiais.
A alternativa B restringe a estratégia de dominação por meio da língua a um período
pequeno da história do Brasil, quando, na verdade, a prática foi empenhada desde o século
XVI. O próprio texto dá um destaque ao século XVII.
A letra C é o nosso Gabarito.
A letra D contradiz os argumentos do próprio texto motivador da questão, segundo o qual a
Coroa portuguesa estimulou (“exortou”) os missionários a se empenharem na língua nativa.
Gabarito: C

Os conflitos em torno da questão indígena no Brasil continuam até hoje, principalmente


aqueles relacionados à demarcação de terras.23

A demarcação é um tipo de política pública que procura preservar áreas originárias


de diversas etnias. Porém, sabemos que o crescente desmatamento provocado por madeireiras e
pela indústria de papel, as devastações feitas pelo “agronegócio”, as mineradoras, dentre outras
empresas despreocupadas com questões ambientais e com os povos originários, tornam o conflito
pela terra mais intenso.
Essa discussão atual com olhares para o passado é muito importante e pode cair no seu
vestibular de diferentes formas, principalmente porque, segundo o Comitê de Direitos Humanos
da ONU,

[...] a cultura se manifesta sob várias formas, inclusive no que diz respeito a um modo
de vida especificamente relacionado ao uso de recursos associados à terra, em especial

23
Se você tiver interesse de saber mais sobre a questão indígena no Brasil, entre no portal da Fundação
Nacional do Índio, a FUNAI, uma entidade do Governo Federal. Já para saber como as etnias atuais
buscam se auto afirmar e construir suas identidades, veja os Raps:
https://www.youtube.com/watch?v=oLbhGYfDmQg e
https://www.youtube.com/watch?v=hyyBB_xf3jo.

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no caso de povos indígenas. Esse direito pode incluir atividades tradicionais, como
pesca ou caça”.

HQ indígena
Lançada em outubro de 2016 pela editora Elefante, e assinada pelo desenhista Vitor
Flynn Paciornik, a HQ “Xondaro” conta a história de um protesto da aldeia Guarani Krukuto,
etnia localizada na grande São Paulo. Este HQ também fala sobre a mitologia e história dos
Guarani.

Rádio Yandê
Essa rádio está no ar, via web e diferentes mídias sociais, desde 2013. É uma rádio
composta por programadores, diretores, radialistas, jornalistas, todos indígenas. Um dos
objetivos dos programas é combater estereótipos formado em torno da figura do índio. A palavra
“yandê”, de acordo com uma das fundadoras, Renata Machado, jornalista da etnia tupinambá,
vem da língua tupi. Dependendo do contexto, yandê pode significar tanto “você” quanto
“nosso” e “nós”. O slogan adotado é “a rádio de todos nós”. Um dos o “Papo na Rede”, em que
indígenas de diferentes etnias e até de outros países conversam sobre variedades e seu cotidiano,
via Google Hangouts, com correspondentes, coordenadores e colaboradores da rádio.

Pensando nessas questões, trouxe para você refletir dois fatos atuais que expressam a resistência
e a busca pela identidade indígena a partir de novas tecnologias, ou seja, a persistência dos índios.

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7. AÇÚCAR: DO ESPLENDOR À CRISE


Desde que se começou a produzir açúcar na colônia, no início do século XVI, o Brasil tornou-
se o maior produtor e exportador desse produto.
De fato, o século XVI marco o esplendor da
economia açucareira. Comerciantes
portugueses, holandeses, colonos senhores de
engenho, bem como outros países de maneira
indireta, beneficiaram-se grandemente do
comércio internacional dessa mercadoria. A
proliferação dos engenhos, no Brasil, era uma
demonstração de um lucrativo negócio.
O professor Stuart B.
Schwartz24, afirma que esse rápido
crescimento da produção
açucareira parece estar vinculado
a dois fatores macroeconômicos.

7.1 – EXPLICANDO A CRISE DO AÇÚCAR


A partir do século XVII o cenário mudou. Houve uma expressiva queda nas exportações do
açúcar brasileiro, o que gerou uma crise da economia colonial. Observe na tabela os dados que
demonstram esse declínio.

24
SCHWART.Stuart B. O Brasil Colonial, c. 1580-1750: as grandes lavouras e as periferias. In (org)
BETHELL, Leslie. História da América Latina: América Latina colonial. Volume II. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo/USP; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. Pp. 339-422.

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O professor Schwartz explica que, a longo prazo, as questões de perdas e lucros da


produção voltada para o mercado externo, como o açúcar, são vulneráveis a pelo menos por 3
elementos:
 movimento de oferta e demanda do produto
 cenário da política internacional
 Questões locais no centro produtor
Levando em consideração esse esquema lógico, vamos à análise que procura explicar por
que, no século XVII, a produção açucareira no Brasil passou do esplendor à decadência. Vejamos.

7.1.1 – Mercado internacional do açúcar e de escravos


No começo do século XVII, com a expansão do século XVI, houve o aumento da oferta do
produto no mercado. Isso tornava o produto cada vez mais barato. Além disso, o aumento da
produção do açúcar fez aumentar a demanda por escravos, por isso, veremos que ao longo do
século XVII ocorreu o aumento expressivo do preço de cada escravo. E o que isso tem a ver, você
poderia me perguntar.
A questão é que o escravo representava o maior custo da produção açucareira. Baseado
nos números de João André Antonil, o professor Schwartz afirma que o preço de cada escravo
quadruplicou. Portanto, o custo da produção aumentava. Qual a conclusão, meus caros?

“Pode-se dizer, de modo geral que, o Brasil defrontou-se com custos crescentes e
preços declinantes para o seu açúcar.”
(SCHWATZ, idem, p. 367-368)

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É verdade que a partir de 1620 os valores do açúcar começaram a subir na Europa. No


entanto, as questões políticas internacionais com grandes consequências para as questões locais
na colônia não contribuíam para a retomada dos lucros da empresa açucareira na América
Portuguesa.

Vamos aos fatos!

7.1.2 – União Ibérica e invasão holandesa


A União ibérica é o nome que se dá para o momento histórico em que houve união das
coroas portuguesa e espanhola, entre 1580 e 1640.

Mas Alê, o que aconteceu para unificar as coroas? Foi um casamento? Uma crise sucessória,
o que rolou?

Em 1578, morreu o último rei da Dinastia dos Avis – Dom Sebastião. Na verdade, ele sumiu
durante a conhecida Batalha de Alcácer-Quibir, contra os mouros no norte da África. Seu corpo
nunca foi encontrado. Como o jovem rei não deixou herdeiros, seu tio-avô, o Cardeal dom
Henrique, governou Portugal. Dois anos depois morreu e não deixou herdeiros.
Então, em 1580, o rei da Espanha, considerando-se herdeiro legítimo do trono de Portugal
(porque era um neto e um dos reis portugueses), invadiu Portugal e o submeteu. Nesse cenário
prometeu:
autonomia para a Coroa, que seria governada por um regente.
não interferência na colônia portuguesa.

Mas o que vimos foi diferente. Os conflitos políticos internacionais nos quais a Espanha
estava envolvida acabaram surtindo efeito na América Portuguesa. Refiro-me às disputas entre a
Espanha e a Holanda. Esta estava em plena luta pela independência em relação ao domínio
espanhol sobre seu território.

Já está imaginando os rolos que podem ser gerados? Lembra do papel da Holanda na economia
açucareira de Portugal no Brasil? Pois, então....

Diante dessa disputa entre espanhóis e flamengos, uma das medidas do governo espanhol
de Felipe II foi excluir a Holanda do negócio açucareiro do Brasil. Assim, isso afetou diretamente
as relações comerciais entre Portugal e Holanda, sacaram?

Meu deus, Alê, mas quem iria refinar o açúcar brasileiro?

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Pois é, Bixo, se fosse só esse problema estava bom. A questão é que a Holanda não podia
deixar passar em branco, já que ela dependia da produção do açúcar para manter suas divisas.
Nesse começo de século XVII, ela não produzia açúcar, apenas transportava e refinava. Como você
deve saber a essa altura da aula, produzir cana-de-açúcar era um negócio complexo e custoso.
Assim, o que a Holanda resolveu fazer?

INVADIR O BRASIL!!!!!

Perceberam qual era a intenção da Holanda? Ocupar o lugar de Portugal no mercado


mundial, ocupando suas feitorias, colônias e controlando o comércio com a Índia.
Portanto, as pretensões não se restringiam à América Portuguesa, mas às possessões de
Portugal de modo geral. Por isso, antes de invadir o Brasil, os holandeses pilharam a costa africana
e criaram a Companhia das Índias Orientais – empresa privada e pública que tinha por objetivo
controlar e monopolizar as atividades comerciais com o Oriente. Anos depois, em 1621 fundaram
a Companhia das Índias Ocidentais, com o mesmo formato, porém, para monopolizar o comércio
com a África e América.
Para o Brasil tratava-se apenas de ser explorado por outra potência, ou seja, uma substituição
de quem manda.

Bem, profe, a pergunta é: deu certo?

A Holanda delegou a Companhia das Índias Ocidentais a tarefa de invadir o nordeste


brasileiro – já que em Pernambuco e na Bahia encontravam-se as principais zonas produtoras de
açúcar. Veja a cronologia dos ataques:

7.1.3 – Brasil Holandês


O estabelecimento dos holandeses ocorreu em Pernambuco, a capitania mais importante em
função do açúcar. Em 1630, 56 navios chegaram ao litoral expulsaram o então governador da
capitania, Matias Albuquerque. Este fugiu para o interior e se estabeleceu no Arraial de Bom Jesus.

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A partir desse Arraial pode-se dizer que a tática de resistência contra os holandeses foi a de
guerrilha. Até 1635 a resistência deu trabalho aos holandeses, depois, foram mais dois anos para
que, a partir de 1637, a Companhia das Índias Ocidentais conquistasse a região e organizasse a
administração do território conquistado. Então, anote aí: entre 1637 e 1644 os holandeses
reinaram na região pernambucana.
Para essa empreitada, chegou ao Brasil o conde João Maurício de Nassau-Siegen, que foi
nomeado governador-geral do Brasil Holandês. Com o objetivo de pacificar e retomar os negócios
lucrativos, sua administração ficou marcada pelo seguinte:
• Reativação econômica: concessão de créditos aos senhores de engenho, inclusive
portugueses, a partir do dinheiro da Companhia das Índicas Ocidentais.
• Tolerância religiosa: a religião oficial dos holandeses era o calvinismo. Assim, para ampliar
as possibilidades de pacificação, essa medida amenizou conflitos com portugueses e
espanhóis católicos e com outras religiões.
• Reforma urbanística: Recife foi repaginado, um grande investimento arquitetônico, com
construção de casas, pontes, ruas, saneamento básico, dentre outras obras de
infraestrutura.
• Estímulo à vida cultural: foi uma época em que diversos pintores retrataram a economia
açucareira e o esplendor de Pernambuco, segundo a visão pintada nos quadros.

Quem foi Nassau?


Sua origem é alemã, de família nobre, porém, foi nos Países Baixos (Holanda) que Johann Moritz
von Nassau-Siegen (1604-1679), mais conhecido como João Mauricio de Nassau-Siegen, ganhou
notoriedade. Nassau recebeu uma educação humanista e baseada na religião protestante.
A partir dos 16 anos de idade foi morar nos Países Baixos onde iniciou a carreira militar. No
exército holandês, ele exerceu a função de “alferes de cavalaria”. Se destacou nas operações e
campanhas na Guerra dos Oitenta Anos (1568-1648), contra a Espanha e pela independência das
regiões dos Países Baixos. Com destaque, em 1636 ele liderou a reconquista do castelo
Schenkenschans, o qual estava sob domínio dos espanhóis. Seu nome passou a ser motivo de
orgulho para os holandeses e, com pouco mais de 30 anos de idade, assumiu o comando dos
negócios da Companhia das Índias Ocidentais no nordeste brasileiro.
Como recompensa dos serviços prestados, Nassau recebeu do rei do Sacro Império Romano-
Germânico, em 1652, o título de príncipe. Aposentou-se da vida militar, em 1675.

Como tudo o que é bom dura pouco, Nassau se desentendeu com a Companhia das Índias
Ocidentais. Perdeu o cargo de governador-geral em 1644 e voltou para Europa.
A saída de Nassau praticamente coincide com a reconquista de Portugal, em 1640, pelos
portugueses. Ainda sob a administração de Nassau, os portugueses buscaram um acordo de paz
com os holandeses, um acordo de 10 anos. Mas, três elementos influenciam na quebra do acordo:
• A saída de Nassau, em 1644, do comando da administração de Pernambuco.

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• A pressão da Companhia das Índias Ocidentais para que os engenhos produzissem


mais, pagassem mais impostos e liquidassem as dívidas dos créditos anteriormente
concedidos.
• Iniciou da intolerância religiosa, proibindo católicos de praticarem livremente a
religião.
Neste cenário conflituoso, os portugueses e os luso-brasileiros a luta pela expulsão dos
holandeses.

7.1.4 – Insurreição Pernambucana (1645-1654)


A Insurreição Pernambucana foi a guerra que garantiu a restauração do território colonial
para a Coroa portuguesa. Por meio de uma longa guerra que uniu colonos, índios, negros libertos,
senhores de engenho, foi possível expulsar os Holandeses do Brasil, em 1954.
Além do que expliquei acima, vamos sistematizar as causas em outras palavras:
 especulações extorsivas praticadas por comerciantes estrangeiros – em cenário de queda
internacional do preço do açúcar;
 insolvência das dívidas de luso-brasileiros que passaram a ser cobrados intensamente;
 antagonismo religioso entre católicos e calvinistas, exacerbado após a partida de Nassau;
 negação da prometida participação dos colonos pernambucanos nos governos locais.

Observe a Cronologia da Guerra que expulsou os Holandeses do Brasil

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“Nestes montes, brancos, negros e índios, irmanados por um só ideal, o de defender a pátria
contra o invasor holandês, por duas vezes, derrotaram poderosa força de um exército muito
superior em efetivo, em armamento e em equipamento.” – Exército Brasileiro

Começo essa parte com uma citação do Exército para você entender o sentido histórico que
a Corporação atribui a esse evento: uma unidade de todas as raças (tropas patriotas) para
defender a pátria. É claro que não tínhamos pátria e nem exército, mas é uma experiência
“protonacionalista” – defesa militar do território. Guardem isso. As Batalhas de Guararapes foram
fundamentais para expulsar os holandeses do Brasil.

Veja os principais comandantes, suas origens étnicas que respaldam a interpretação que traz a
citação do Exército brasileiro.

Capitão
Felipe Camarão (índio) Henrique Dias (negro)
Antonio Dias Cardoso (branco)

Observe a descrição feita da região onde ocorreram as batalhas:

Nós estamos no interior do Parque Histórico Nacional dos Guararapes, no município de Jaboatão
dos Guararapes, mais precisamente no Mirante, no Morro do Oitizeiro, o qual se estende até o
Oceano Atlântico. Entre a mata do Morro do Oitizeiro e o alagadiço próximo ao mar, encontramos
uma estreita passagem denominada de Boqueirão. Na nossa frente está o Monte de Telégrafo. À
retaguarda destaca-se o Morro do Outeiro ou atual Morro da Igreja. Entre o Monte do Telégrafo
e o Morro do Outeiro, identificamos o Córrego da Batalha. Além do Monte do Telégrafo, ligando
a cidade do Recife aos Montes Guararapes, encontramos a Estrada da Batalha, a qual se dirige
para o interior do Boqueirão.

Batalha do Monte das Tabocas


Apesar de Guararapes ser o confronto mais lembrado, vale destacar a Batalha do
Montes das Tabocas, pois foi o primeiro enfrentamento entre tropas da Companhia
das Índias e a resistência pernambucana. Ela ocorreu em agosto de 1645 e
demonstrou a habilidade da força militar luso-brasileira em emboscar o inimigo aproveitando as
vantagens do terreno. Mas, o grande destaque foi para os civis e para escravos, o povo mesmo.
No ápice do confronto, após dias de avanços e retrocessos, a batalha virou corpo a corpo. O povo

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começou a aparecer, escravos também entrar com flechas, instrumentos de trabalho, e, no final,
os holandeses foram derrotados, tiveram que fugir.

A rendição holandesa ocorreu após acordos de paz entre Portugal e Holanda. O último
acordo, de 1669, estabeleceu que, em troca do Nordeste brasileiro e de algumas possessões na
África, os holandeses receberiam como pagamento o equivalente a 63 toneladas de ouro.

(FUVEST 1995)
Foram, respectivamente, fatores importantes na ocupação holandesa no Nordeste do Brasil
e na sua posterior expulsão:
a) o envolvimento da Holanda no tráfico de escravos e os desentendimentos entre Maurício
de Nassau e a Companhia das Índias Ocidentais.
b) a participação da Holanda na economia do açúcar e o endividamento dos senhores de
engenho com a Companhia das Índias Ocidentais.
c) o interesse da Holanda na economia do ouro e a resistência e não aceitação do domínio
estrangeiro pela população.
d) a tentativa da Holanda em monopolizar o comércio colonial e o fim da dominação
espanhola em Portugal.
e) a exclusão da Holanda da economia açucareira e a mudança de interesses da Companhia
das Índias Ocidentais.
Comentário
Olha só, eu escolhi essa questão para mostrar para reforçar com você o modo de resolvê-la.
São 2 perguntas em 1. Fatores para a ocupação do território colonial pela Holanda e, depois,
os motivos da sua expulsão. Aqui você precisava conhecer um pouco sobre a história da
relação entre Holanda e Portugal durante o Período da União Ibérica. O que causou a invasão
da Holanda foi sua participação no comércio do açúcar e, com a União Ibérica, o fim dessa
parceria. A expulsão se deu porque a Holanda, por meio da companhia de Comércio das
Índias Ocidentais, pressionou os senhores de engenho endividados com os bancos
holandeses.
Gabarito: B

AULA 06 HB: Colônia I


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Agora, como esse capítulo da História do Brasil é importante, convém trazer


para nosso conhecimento uma passagem reflexiva do historiador Boris Fausto
que, eventualmente, pode virar questão de prova. Olha só o que ele indica:

Uma pergunta que sempre surge quando se estuda a presença holandesa no Brasil é a seguinte: o
destino do país seria diferente se tivesse ficado nas mãos da Holanda e não de Portugal?
Não há uma resposta segura para essa questão, pois ela envolve uma conjectura, uma possibilidade
que não se tornou real. Quando se compara o governo de Nassau com a rudeza lusa e a natureza
muitas vezes predatória de sua colonização, a resposta parece ser positiva. Mas convém lembrar
que Nassau representava apenas uma tendência e a Companhia das Índias outra, mais próxima do
estilo do empreendimento colonial português. Vista a questão sob esse ângulo, e quando se
constata o que aconteceu nas colônias holandesas da Ásia e das Antilhas, as dúvidas crescem. A
colonização dependeu menos da nacionalidade do colonizador e mais do tipo de
colonização implantado. Os ingleses, por exemplo, estabeleceram colônias bem diversas nos
Estados Unidos e na Jamaica. Nas mãos de portugueses ou holandeses, com matizes certamente
diversos, o Brasil teria mantido a mesma condição de colônia de exploração integrada no sistema
colonial.
(FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 1995, pp. 89-90)

7.1.5 – As consequências para a economia colonial


Para a economia açucareira, na América Portuguesa, a União Ibérica e os consequentes
conflitos com a Holanda foi um desastre. O saldo geral foi a diminuição das exportações de açúcar
e a perda da liderança no mercado mundial. O Brasil nunca mais foi o mesmo no sistema de
comercio atlântico.
Portugal também nunca mais foi o mesmo, veremos que ele passará para uma posição de
dependência e submissão em relação a outros países que, nesses 60 anos, alçaram voos e
ocuparam o espaço outrora monopolizado pelos pioneiros portugueses. Veremos esse assunto na
próxima aula
Abaixo trago para vocês uma lista das perdas que Portugal e Brasil tiveram nesse período,
segundo artigo do professor da Universidade de Yale, Stuart B. Schwartz:

❖ Entre 1624 e 1628: perda de inúmeras safras de cana de açúcar


❖ Entre 1630 e 1639: perda de 199 navios portugueses
❖ Entre 1647 e 1648: perda de 220 navios portugueses e destruição de 23 engenhos
❖ Entre 1645 e 1654: incêndio de canaviais e engenhos. Desativação de 65 de 49 engenhos
em Pernambuco
❖ 1650: Redução da capacidade produtiva. Estimava-se que Pernambuco tinha capacidade
para produzir 25 mil caixas de açúcar. Mas só produziu 6 mil caixas

Além disso, quero ressaltar que a Holanda passou a produzir cana-de-açúcar nas Ilhas
Antilhanas. Durante o tempo em que a Companhia das Índias Ocidentais permaneceu ocupando

AULA 06 HB: Colônia I


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o nordeste brasileiro, ela aprendeu e aprimorou as técnicas necessárias para desenvolver um


engenho. Assim, detentores do conhecimento sobre todas as fases dos negócios do açúcar
(produção, refino e comercialização), os Holandeses passaram a vende-lo mais barato que aquele
produzido no Brasil. A Holanda saiu, levou o conhecimento da produção e, também, os recursos
econômicos que sempre foram necessários para o funcionamento dos engenhos.
Realmente, as duas décadas finais do século XVII foram um cenário triste para a colônia
portuguesa na América. A decadência do açúcar representou a decadência da própria colônia.
Conforme leciona Schwartz,

Na verdade, a década de 1680 assinalou uma redução profunda das fortunas oriundas
da economia açucareira do Brasil. A colônia foi assolada por grave seca que durou de
1681 a 1684, por surtos de varíola de 1682 a 1684 e por uma epidemia de febre
amarela[..]. Além desses problemas, houve uma crise no mundo atlântico após 1680.
Em 1687, João Peixoto da Veiga escreveu seu famoso “memorial”, onde identifica os
problemas da agricultura brasileira e prevê a ruína da colônia [...].25

Na próxima aula veremos como o Governo Português tentou recuperar a economia e os


impactos dessas medidas no Brasil.
Bem, queridas e queridos alunos chegamos ao final da nossa aula sobre a chegada dos
portugueses na América, a implantação do sistema de exploração colonial português e o
desenvolvimento da civilização do açúcar.
Assim, mergulhamos em experiências ocorridas entre o início do século XVI até o final do
século XVII. Anota no seu controle de temporalidade.
É isso, fico por aqui. Você segue até a última questão, HEIN! Aproveita TODOS os
comentários, porque foram pensados em cada detalhe para ensinar o conteúdo e, também, nas
melhores formas de respondê-las! E lembrando: esse assunto despenca no seu vestibular!!!
Espero por você no Fórum de Dúvidas, se elas aparecerem!
Um beijo, um abraço apertado e um suspiro dobrado de amor sem fim!
Alê

25
SCHWARTZ, S.B. op. Cit, p. 370.

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8. QUESTÕES ESSENCIAIS – ENEM


(ENEM 2021)

TEXTO I

EIGENHEER, E. M. Lixo: a limpeza urbana através dos tempos. Porto Alegre: Gráfica Palloti,
2009.

TEXTO II

A repugnante tarefa de carregar lixo e os dejetos da casa para as praças e praias era
geralmente destinada ao único escravo da família ou ao de menor status ou valor. Todas as noites,
depois das dez horas, os escravos conhecidos popularmente como “tigres” levavam tubos ou
barris de excremento e lixo sobre a cabeça pelas ruas do Rio.

KARASCH, M. C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro, 1808-1850. Rio de Janeiro: Cia das
Letras, 2000.

A ação representada na imagem e descrita no texto evidencia uma prática do cotidiano nas
cidades no Brasil nos séculos XVIII e XIX caracterizada pela

a) valorização do trabalho braçal.

b) reiteração das hierarquias sociais.

c) sacralização das atividades laborais.

d) superação das exclusões econômicas.

e) ressignificação das heranças religiosas.

(ENEM 2021)

AULA 06 HB: Colônia I


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Profe Alê Lopes
Estratégia Vestibulares – Aula 06

“De um lado, ancorados pela prática médica europeia, por outro, pela terapêutica indígena,
com seu amplo uso da flora nativa, os jesuítas foram os reais iniciadores do exercício de uma
medicina híbrida que se tornou marca do Brasil colonial. Alguns religiosos vinham de Portugal já
versados nas artes de curar, mas a maioria aprendeu na prática diária as funções que deveriam ser
atribuídas a um físico, cirurgião, barbeiro ou boticário”.

GURGEL, C. Doenças e curas: o Brasil nos primeiros séculos. São Paulo: Contexto, 2010
(adaptado).

Conforme o texto, o que caracteriza a construção da prática medicinal descrita é a

a) adoção de rituais místicos.

b) rejeição dos dogmas cristãos.

c) superação da tradição popular.

d) imposição da farmacologia nativa.

e) conjugação de saberes empíricos.

(ENEM 2021)

Alguns escravos morreram em consequência da violência essencial à sua captura na África,


muitos outros nas jornadas entre os lugares que habitavam no interior e os portos dos oceanos
Atlântico e Índico, ou enquanto aguardavam o embarque, muito mais ainda no mar, outros nos
mercados de escravos brasileiros, e mais ainda durante o processo de ajustamento físico e mental
ao sistema escravista no Brasil.

CONRAD, R. E. Tumbeiros: o tráfico de escravos para o Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1985.

As formas de violência relacionadas ao tráfico negreiro no Brasil colonial destacadas no


texto derivam da

a) intensificação do expansionismo ultramarino.

b) exploração das atividades indígenas.

c) supressão da catequese jesuítica.

d) extinção dos contratos comerciais.

e) contração da economia ibérica.

(ENEM digital 2020)


Associados a atividades importantes e variadas na evolução das sociedades americanas
modernas, os africanos conseguiram impor sua marca nas línguas, culturas, economias, além

AULA 06 HB: Colônia I


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Profe Alê Lopes
Estratégia Vestibulares – Aula 06

de participar, quase invariavelmente, na composição étnica das comunidades do Novo


Mundo. A sua influência alcançou mais fortemente as regiões do latifúndio agrícola, em
comunidades cujo desenvolvimento ocorreu às margens do Atlântico e do mar das Antilhas,
do sudeste dos Estados Unidos até a porção nordeste do Brasil, e ao longo das costas do
Pacífico, na Colômbia, no Equador e no Peru.
KNIGHT, F. W. A diáspora africana. In: AJAYI, J. F. A. (Org.). História geral da África: África
do século XIX à década de 1880. Brasília: Unesco, 2010 (adaptado).
Uma das contribuições da diáspora descrita no texto para o continente americano foi o(a)
a) fim da escravidão indígena.
b) declínio de monoculturas locais.
c) introdução de técnicas produtivas.
d) formação de sociedades estamentais.
e) desvalorização das capitanias hereditárias.
(ENEM 2020)
Porque todos confessamos não se poder viver sem alguns escravos, que busquem a lenha e
a água, e façam cada dia o pão que se come, e outros serviços que não são possíveis
poderem-se fazer pelos Irmãos Jesuítas, máxime sendo tão poucos, que seria necessário
deixar as confissões e tudo mais. Parece-me que a Companhia de Jesus deve ter e adquirir
escravos, justamente, por meios que as Constituições permitem, quando puder para nossos
colégios e casas de meninos.
LEITE, S. História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1938 (adaptado).
O texto explicita premissas da expansão ultramarina portuguesa ao buscar justificar a
a) propagação do ideário cristão.
b) valorização do trabalho braçal.
c) adoção do cativeiro na Colônia.
d) adesão ao ascetismo contemplativo,
e) alfabetização dos indígenas nas Missões.
(ENEM 2019)
O processamento da mandioca era uma atividade já realizada pelos nativos que viviam no
Brasil antes da chegada de portugueses e africanos. Entretanto, ao longo do processo de
colonização portuguesa, a produção da farinha foi aperfeiçoada e ampliada, tornando-se
lugar-comum em todo o território da colônia portuguesa na América. Com a consolidação
do comércio atlântico em suas diferentes conexões, a farinha atravessou os mares e chegou
aos mercados africanos.

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BEZERRA, N. R. Escravidão, farinha e tráfico atlântico: um novo olhar sobre as relações


entre o Rio de Janeiro e Benguela (1790-1830). Disponível em: www.bn.br. Acesso em: 20
ago. 2014 (adaptado).
Considerando a formação do espaço atlântico, esse produto exemplifica historicamente a
a) difusão de hábitos alimentares.
b) disseminação de rituais festivos.
c) ampliação dos saberes autóctones.
d) apropriação de costumes guerreiros.
e) diversificação de oferendas religiosas.
(ENEM 2018)
Outra importante manifestação das crenças e tradições africanas na Colônia eram os objetos
conhecidos como “bolsas de mandinga”. A insegurança tanto física como espiritual gerava
uma necessidade generalizada de proteção: das catástrofes da natureza, das doenças, da má
sorte, da violência dos núcleos urbanos, dos roubos, das brigas, dos malefícios de feiticeiros
etc. Também para trazer sorte, dinheiro e até atrair mulheres, o costume era corrente nas
primeiras décadas do século XVIII, envolvendo não apenas escravos, mas também homens
brancos.
CALAINHO, D. B. Feitiços e feiticeiros. In: FIGUEIREDO, L. História do Brasil para
ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013 (adaptado).
A prática histórico-cultural de matriz africana descrita no texto representava um(a)
a) expressão do valor das festividades da população pobre.
b) ferramenta para submeter os cativos ao trabalho forçado.
c) estratégia de subversão do poder da monarquia portuguesa.
d) elemento de conversão dos escravos ao catolicismo romano.
e) instrumento para minimizar o sentimento de desamparo social.
(ENEM 2013)
Seguiam-se vinte criados custosamente vestidos e montados em soberbos cavalos; depois
destes, marchava o Embaixador do Rei do Congo magnificamente ornado de seda azul para
anunciar ao Senado que a vinda do Rei estava destinada para o dia dezesseis. Em resposta
obteve repetidas vivas do povo que concorreu alegre e admirado de tanta grandeza.
“Coroação do Rei do Congo em Santo Amaro”, Bahia apud DEL PRIORE, M. Festas e utopias
no Brasil colonial. In: CATELLI JR., R. Um olhar sobre as festas populares brasileiras. São
Paulo: Brasiliense, 1994 (adaptado).
Originária dos tempos coloniais, a festa da Coroação do Rei do Congo evidencia um
processo de

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a) exclusão social.
b) imposição religiosa.
c) acomodação política.
d) supressão simbólica.
e) ressignificação cultural.

9. QUESTÕES PARA APROFUNDAMENTO


(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Ale Lopes)
“Objetivando regulamentar a atividade criatória, em 1688, a coroa portuguesa decretou
alvará proibindo a criação de gado em uma área de dez léguas do Recôncavo Baiano. Essa
determinação demonstrava a força política dos produtores de cana (...) na medida em que
garantiram para si terras livres próximas ao litoral, delas afastando a criação bovina. (...) o
aumento dos rebanhos era correspondente à ampliação das áreas pastoris, alargando o
mapa geográfico da ocupação da ocupação do gado. Diante disso, dilatou-se a [distância]
entre o litoral e o sertão, com o contato comercial entre ambos se estruturando em torno
das feiras, apontando o caráter efetivamente mercantil que passou a ter a pecuária. Uma das
consequências imediatas desse processo foi o da formação, por parte dos colonizadores, de
uma vastíssima rede de propriedades: as fazendas de gado. (...)”
AQUINO, J. R. et al. Sociedade Brasileira: uma história através de movimentos sociais. Rio
de Janeiro: Record, 1999.
O texto trata de um período em que
a) a economia colonial continuou sendo exclusivamente dedicada à produção e exportação
de açúcar, que sabotou outras iniciativas.
b) o açúcar foi totalmente substituído pela pecuária na região nordeste da América
portuguesa, o que gerou a substituição da escravidão indígena pela africana.
c) a rivalidade entre pecuaristas e produtores de cana provocou a eclosão de uma guerra civil
entre recifenses e olindenses pelo status de capital da capitânia.
d) os nativos foram integrados à economia colonial, pois já eram exímios criadores de gado,
o que proporcionou a formação de uma elite indígena no Nordeste.
e) a crise do açúcar abriu oportunidade para a ascensão da pecuária no Nordeste, mas não
foi o suficiente para eclipsar a importância dos produtores de cana.
(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)
“[Os portugueses] que se submeteram à nossa obediência são os principais fatores da cultura
da terra; alguns permanecem na antiga posse dos engenhos, outros compram muito dos
engenhos confiscados. Ainda outros são lavradores de canaviais ou servem nos ofícios
necessários ao movimento dos engenhos, entre os quais os ofícios para cujo desempenho

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não se apresentou até agora nenhum holandês, [...]. Os portugueses são também zelosos no
cultivo dos seus canaviais e graças a eles a agricultura do país progrediu, se bem que, a não
ser poucas vezes, se veja algum deles fazer por suas próprias mãos algum trabalho; sabem,
porém, fazer trabalhar seus negros”.
DUSSEN, Adriaen van der. Relatório sobre as capitanias conquistadas no Brasil pelos
holandeses [1639]. Rio de Janeiro: IAA, 1947, p. 85-86.
Com base no relatório do conselheiro da Companhia das Índias Ocidentais sobre as
capitanias conquistadas no Brasil, assinale a alternativa correta:
a) Como não dominavam o processo de produção de açúcar e falharam em cooptar os
colonos portugueses, os holandeses se retiraram em pouco tempo do Nordeste.
b) Os holandeses empreenderam uma política de aliança com colonos portugueses
remanescentes, fornecendo-lhes de empréstimos e instituindo a tolerância religiosa.
c) Os portugueses recusavam-se a fazer negócios ou trabalhar para a companhia holandesa
independente da oferta feita a eles, dificultando a estadia dos invasores.
d) Os portugueses se mostraram resistente ao domínio holandês, pois a escravidão africana
foi abolida gerando um grande prejuízo econômico aos proprietários de engenho.
(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)

O pintor, desenhista e gravador holandês Frans Janszoon Post foi um dos primeiros artistas
europeus a retratar paisagens do Brasil, no período colonial. Assim, como outros documentos, os
quadros e pinturas são considerados fontes históricas que carregam características próprias do
contexto em que foram produzidos. Analisando-os é possível captar visões de mundo que
circulavam nas sociedades de seu tempo.

Carro de bois, 1638, Frans Janzroon Post.

A representação de Post

a) é isenta de interesses econômicos, expressando a contemplação ingênua e bucólica da


paisagem.

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b) compõe uma pintura informativa e serena, mas carregada de elementos pitorescos.

c) reflete os valores liberais e protestantes dos holandeses, que pretendiam descolonizar o


Nordeste.

d) introduz o uso do realismo na construção de uma crítica social por meio da arte.

e) expressa o ideal romântico de arte e beleza através da utilização de cores frias e


equilibradas.

(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)


“O ciclo da guerra na sociedade tupinambá era dotado de ritmo regular: os ritos
estabeleciam com precisão o que os indivíduos deviam fazer no curso dos acontecimentos e
situações sociais, que se desenrolassem entre a determinação do ataque e a consumação do
sacrifício dos inimigos aprisionados. A rigor, todas as atividades guerreiras faziam parte de u
conjunto de ritos, organicamente integrados e interdependentes. Nele também se
integravam os ritos de sacrifício do inimigo, de antropofagia [...].”
FERNANDES, Florestan. A função social da guerra na sociedade tupinambá. São Paulo:
Pioneira, 1970, p. 67.
A guerra era uma das preocupações centrais dos tupinambás e equivalia a um ritual que
representava o meio de
a) sobreviver através do canibalismo devido à escassez de outras fontes de proteína.
b) alcançar um estado divino, no qual se reinaria sobre os demais grupos humanos.
c) mergulhar o mundo em um estado de barbaridade e violência sem fim.
d) destruição dos valores e crenças das culturas dos colonizadores europeus.
e) vingança, controle dos inimigos e absorção de suas melhores características.
(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)
“Em 1763, a capital do Vice-Reinado foi transferida de Salvador para o Rio [de Janeiro]. As
duas cidades tinham aproximadamente a mesma população (cerca de quarenta mil
habitantes), mas uma coisa era ser a capital e, outra, apenas a principal cidade do Nordeste.”
FAUTOS, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2008, p. 99.
A transferência da capital da América portuguesa para o Rio de Janeiro se deu em função
do deslocamento do eixo econômico da colônia da
a) extração de borracha na Amazônia para a criação de gado no Sul.
b) coleta de drogas do sertão no Norte para a economia cafeeira em São Paulo.
c) economia açucareira centrada no Nordeste para a mineração no Sudeste.
d) pecuária estabelecida no Centro-Oeste para a plantação de mate no Sul.

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e) produção de tabaco na Bahia para o cultivo de mandioca em Minas Gerais.


(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Ale Lopes)
“Nossa milícia, Senhor, é diferente da regular que se observa em todo o mundo.
Primeiramente nossas tropas com que vamos à conquista do gentio bravo desse vastíssimo
sertão não são de gente matriculada no livro de Vossa Majestade, nem obrigada por soldo,
nem por pagamento de munição.”
Carta de Domingos Jorge Velho ao rei de Portugal, em 1694.
A partir da missiva podemos afirmar que o bandeirantismo se caracterizava pelo(a):
a) convívio pacífico com os indígenas do sertão.
b) rejeição completa de financiamento estatal.
c) autonomia das tropas arregimentadas em relação à Coroa.
d) despreparo técnico dos bandeirantes.
e) preocupação exclusiva com a busca por ouro.

(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)


“[...] ordenei ora de mandar fazer uma fortaleza e povoação grande e forte na Bahia de
Todos os Santos por ser para isso o mais conveniente lugar que há nas ditas terras do Brasil,
para dali se dar favor e ajuda às outras povoações e se ministrar justiça e prover nas coisas
que cumprem a meu serviço e aos negócios de minha fazenda, e a bem das partes e pela
muita confiança que tenho em Tomé de Souza, fidalgo de minha casa, que nas coisas de que
o encarregar me saberá bem servir e o fará com o cuidado e diligência que se dele espera,
e como o até aqui tem feito nas coisas do meu serviço de que foi encarregado, hei por bem
e me apraz de lhe fazer mercê dos cargos de capitão da povoação e terras da dita Bahia de
Todos os Santos e de governador-geral do dito Brasil por tempo de três anos e com
quatrocentos mil reais de ordenado em cada um ano, pagos à custa de minha fazenda”.
D. JOÃO III. Carta de nomeação de Tomé de Souza [7 jan. 1549]. In: INÁCIO, Inés da
Conceição; LUCA, Tania Regina de. Documentos do Brasil colonial. São Paulo: Ática, 1993,
p. 53.
A criação do Governo Geral para gerir a América portuguesa esteve ligada
a) ao sucesso da maioria das capitanias hereditárias na produção e exportação de açúcar.
b) à diminuição das guerras contra as populações indígenas, cuja maioria se submeteu
aos portugueses ou se isolou.
c) à vinda dos primeiros missionários franciscanos, que trabalhariam na conversão dos
nativos, mantendo uma parceria com a coroa.
d) à descoberta de vastos depósitos de ouro em Minas Gerais pelos bandeirantes
paulistas.

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e) ao acirramento da competição mundial, com o consequente crescimento das incursões


estrangeiras no Brasil.
(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)

A aparição da cultura ceramista entre os grupos humanos que habitavam a região do atual
Brasil pode ser considerada um marco civilizatório da pré-história brasileira porque

a) indicava que já havia tido contato entre indígenas e europeus antes da modernidade,
quando estes últimos trouxeram parte de seu conhecimento avançado para o continente
americano.

b) é uma evidência de que os povos pré-históricos passavam por um processo de


sedentarização e revolução agrícola, o que gerou a necessidade de armazenas alimentos entre
outras necessidades.

c) representava uma forma sofisticada de resistência cultural contra a colonização


portuguesa, que além de transformar os nativos em mão de obra, obrigava-os a adotar a cultura
lusitana.

d) é um indício que a civilização andina estendia seu domínio até o litoral brasileiro,
exercendo tanto influência política e econômica quanto cultura, de modo que a arte ceramista de
difundiu por todo o continente.

e) tem datação muito recente, demonstrando que os nativos viviam como caçadores-
coletores por todo o território brasileiro até a chegada dos europeus na modernidade.

(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)

EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ENGENHOS DE AÇÚCAR EM CADA CAPITANIA

CAPITANIA 1570 1583 1612 1629

Pará, Ceará, - - - -
Maranhão

Rio Grande - - 1 -

Paraíba - - 12 24

Itamaracá 1 - 10 18

Pernambuco 23 66 99 150

Sergipe - - 1 -

Bahia 18 33 50 8

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Ilheús 8 3 5 4

Porto 5 1 1 -
Seguro

Espírito 1 6 8 8
Santo

Rio de - 3 114 60
Janeiro

São Vicente, 4 6 - -
Santo Amaro

BETHENCOURT, F.; CHAUDUHURI, K. História da Expansão Portuguesa. Lisboa: Círculo


de Leitores, 1998, p. 316.

Com base nos dados apresentados, é que correto afirmar que, nos primeiros séculos da
América portuguesa, o desenvolvimento da economia açucareira

a) prosperou nas capitanias do Nordeste, onde não apenas o clima era propício para o
cultivo da cana, como também era mais conveniente para as rotas marítimas.

b) prevaleceu na região Centro-Oeste, de ocupação mais antiga e onde a oferta de mão de


obra indígena passível de escravização era alta.

c) foi responsável pela ascensão de São Vicente à capitânia mais rentável da colônia,
integrando-a ao comércio exterior e ao tráfico de africanos.

d) possibilitou a ocupação do Sul da colônia, onde os nativos já tinham experiência com a


plantação de cana e tabaco, gêneros lucrativos no mercado internacional.

e) manteve-se a partir das relações de escambos entre indígenas e portugueses, que dessa
forma organizavam um uma troca de mercadorias por trabalho.

(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Alê Lopes)


Entre 1630 e 1654 o Brasil esteve sob a administração holandesa em parte significativa do
nordeste do território. Atente para o que se diz a seguir sobre esse período:
I – A invasão holandesa relacionou-se ao processo de segmentação dos Países Baixos, que
estavam sob domínio espanhol, e à hegemonia da União Ibérica.
II – apesar de ter sido marcada por anos de conflito, a permanência dos holandeses também
encontrou períodos de relativa paz nos quais foi possível implementar uma administração
modernizante para os padrões da época.

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III – o domínio holandês foi viabilizado porque foi criada a Companhia das Índias Ocidentais,
empresa que pretendia fundar uma colônia holandesa na América para controlar os centros
produtores de açúcar.
Está correto o que se afirma em
a) I, II e III.
b) II e III apenas.
c) I e III apenas.
d) I e II apenas.
(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Ale Lopes)
Não só esses gêneros poderiam neste novo mundo descoberto assegurar o suficiente para
enriquecer todo o orbe, como muitos outros que, mesmo em menor quantidade, não deixariam
de ajudar o enriquecimento da Coroa Real. Tais são o algodão, que se colhe abundantemente; o
urucum, do qual se extrai um excelente corante; o açafrão, muito apreciado pelos estrangeiros; a
canafístula; a salsaparrilha; os óleos, que competem com os melhores bálsamos para a cura de
feridas; as gomas e resinas perfumadas; a pita, da qual se obtém uma fibra de excelente qualidade
e que cresce em grande abundância; e muitos outros produtos que a cada dia a necessidade e a
cobiça hão de descobrir [...]
(Cristóbal Acuña. “Novo descobrimento do grande rio das Amazonas”, 1641)
O texto de época descreve a
a) a formação de cooperativas jesuíticas.
b) a busca por prata nos Andes da América Espanhola.
c) o inventário da Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e do Maranhão.
d) a expedição francesa que, após a expulsão dos franceses da França Antártica, fundou a
França Equinocial.
e) busca por produtos extrativistas dotados de potencial valor econômico por parte dos
colonizadores.
(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Alê Lopes)
As esculturas abaixo fazem parte do conjunto Passos da Paixão, de autoria de Antonio
Francisco Lisboa, o Aleijadinho, um dos grandes escultores do barroco mineiro. Na cena,
temos representado Jesus carregando a cruz, rodeado de soldados romanos.

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Cristo com cruz às costas, parte do conjunto Passos da Paixão, 1796-1799, de Antonio
Francisco Lisboa (Aleijadinho).
Analise as quatro afirmações abaixo, a respeito do barroco mineiro e a atividade mineradora
no Brasil.
I. O trabalho de Aleijadinho floresceu no momento de maior lucratividade da mineração no
Brasil ao mesmo tempo que era marcado pelo fervor religioso da Contrarreforma.
II. Na cena retratada pelas esculturas acima, podemos notar a preocupação barroca com a
representação do movimento, sobretudo no tratamento dado ao panejamento do manto e
da túnica. Todo o interesse de Aleijadinho na teatralidade do momento representado
explicita essa preocupação.
III. No final do século XVIII, a mineração estava em declínio, graças ao esgotamento das
jazidas de ouro. Isso não impediu que grandes Igrejas e obras de arte fossem financiadas.
IV. Os artistas mineiros se empenharam em copiar completamente o barroco europeu,
enfatizando o caráter emotivo e intuitivo nas obras. Utilizando-se exclusivamente de
mármore como matéria-prima, os escultores imprimiam mais sentimento a expressões
humanas aproveitando deformações e tons mais carregados.
Estão corretas apenas as afirmações
a) I e IV.
b) II, III e IV.
c) I e II.
d) I, II e III.
e) II e III.
(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Ale Lopes)

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Salvador e Recôncavo dependiam do sertão. Salvador necessitava da carne que o sertão


fornecia. Carne, couro e sebo eram usados na cidade e no campo, e os engenhos precisavam
igualmente de bois para transporte, muitos também como força motriz. Grandes boiadas
percorriam, às vezes, sessenta quilômetros por dia, com destino às feiras na orla do
Recôncavo, onde um ativo comércio tinha lugar. A primeira dessas feiras foi Capoame,
estabelecida por Francisco Dias d’Avila em 1614.
(SCHWARTZ, 1995, p. 88)
A atividade econômica descrita no texto, demonstra, em relação à economia do açúcar,
a) oposição.
b) competição.
c) complementariedade.
d) substituto perfeito.
e) alternativa mais rentável.
(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Ale Lopes)
“Embora certas pinturas rupestres talvez tenham sido realizadas já no período anterior, a
maioria dos grafismos encontrados nos abrigos data provavelmente dos últimos seis milênios
antes da era cristã. Com certeza não eram obras de ‘arte’ no sentido que damos hoje à
palavra. É claro que durante todos esses milênios e em tantos lugares, algumas pessoas
podem ter deixado simples graffiti, e outros desenhos talvez fossem feitos para fins
decorativos. No entanto o mais provável é que a maioria dos grafismos tenha sido feita como
afirmação de etnicidade, expressão de uma crença, ato mágico, proclamação política de
status, trato, posse”.
PROUS, André. O Brasil antes dos brasileiros: a Pré-história do nosso país. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2006, pp. 72-73.

A arte rupestre no Brasil,


a) apresenta maior concentração no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.
Grande parte dessas figuras é constituída por figuras animais e geométricas, sobretudo
pássaros.
b) são encontradas em apenas dezoito sítios arqueológicos na Amazônia. Em geral, pinturas
e gravuras são encontradas em abrigos, nas grutas mais afastadas dos rios.
c) é fácil de se preservar, pois está distribuída em locais de difícil acesso e de pouca exposição
às intempéries. Exemplo disso é o Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí.
d) é muito variada e não foi totalmente mapeada ainda. Todavia, as evidências conhecidas
até agora atestam que foi uma forma de expressão muito rica para as populações pré-
históricas de todo o Brasil.
e) tem datação muito recente, demonstrando que essa forma de expressão é tardia na
América do Sul, comparada ao norte do continente, onde há pinturas de 48 mil anos atrás.

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(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Ale Lopes)


As invasões holandesas em territórios do Império português tiveram como consequência
a) a valorização do açúcar brasileiro no mercado internacional, pois os holandeses perderam
sua única colônia açucareira.
b) a forte concorrência do açúcar das Antilhas, quebra do monopólio português no comércio
transatlântico de escravos e crescimento da influência inglesa.
c) diminuíram a importância do Brasil como colônia e fonte de riquezas para o Império
português.
d) tornou o Atlântico Norte a principal base da colonização e exploração portuguesa.
e) obrigou d. João IV, rei português, a romper os laços comerciais e diplomáticos com a
Inglaterra.
(Estratégia Vestibulares/2021/profe. Alê Lopes)

Monumentos amanhecem pichados em São Paulo, Veja, 30 de setembro de 2016.


Disponível em: https://veja.abril.com.br/brasil/monumentos-amanhecem-pichados-em-sao-paulo/

A partir da fotografia e de seus conhecimentos sobre monumentos históricos, assinale a


alternativa correta.
a) O monumento, diferente do documento, é algo que a sociedade não escolhe lembrar, mas
é obrigada pela imposição da maioria. Isso explica a retaliação de uma pequena parcela da
população a alguns monumentos.
b) As estátuas e monumento estão alheios a quaisquer disputas ideológicas e políticas. Eles
marcam a identidade fundamental e imutável de um povo. Portanto, a fotografia registra um
ato de vandalismo de estrangeiros contra a identidade nacional.
c) Em geral, os monumentos e estátuas são algo que a sociedade quer esquecer. Assim, a
intervenção posterior à sua construção, como no caso da fotografia acima, revela como o
que se quer esquecer é “digerido” pelas próximas gerações.

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d) Os monumentos são algo voluntariamente selecionado pela sociedade para lembrar o


passado que ela escolheu lembrar. Eles permeiam as formas de lembrar o passado e de
compreender o presente. Seus significados são sempre passíveis de disputas.

10. QUESTÕES PARA CONSOLIDAÇÃO


(UEL/2018)
Leia o trecho do poema a seguir.
— Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a cota menor
que tiraste em vida.
— É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
neste latifúndio.
— Não é cova grande.
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
(MELO NETO, J. C. Morte e Vida Severina. Universidade da Amazônia, NEAD – Núcleo de
Educação à Distância. p.21-13. Disponível em: <www.nead.unama.br>. Acesso em: 28 ago.
2017).
O poema trata da relação entre o homem e a terra no Brasil. Com base nos conhecimentos
sobre propriedade e usos da terra, assinale a alternativa correta.
a) No decorrer do segundo Reinado, a Lei de Terras, promulgada em 1850, possibilitou o
livre acesso das terras devolutas aos primeiros imigrantes europeus, garantindo-lhes a
sobrevivência.
b) Na Colônia, as terras doadas como sesmarias garantiam privilégios aos senhores de
engenho, mas restringiam a prática de certas atividades econômicas.
c) No Império, formaram-se os primeiros quilombos cuja propriedade dessas terras foi
reconhecida legalmente durante a primeira República.
d) Em 1964, João Goulart realizou desapropriações das pequenas propriedades no entorno
das metrópoles para o cultivo de sobrevivência por parte dos trabalhadores.
e) No governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), retomou-se a política econômica
de estatização das propriedades agrícolas resultando em elevadas taxas de crescimento
econômico.
(UEL 2012)

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Oceanos abrigaram, uniram e separaram povos no decorrer do tempo. Representações


artísticas, literárias, cartográficas e narrativas históricas sobre os oceanos contribuíram para
ampliar a sua compreensão.
Com base no enunciado e nos conhecimentos históricos, considere as afirmativas a seguir.
I. Grande parte das terras banhadas pelo Mediterrâneo, denominado Mare Nostrum pelos
antigos romanos, foi por eles colonizada no decorrer do seu Império.
II. Os portugueses, nos séculos XV e XVI, dominaram oceanos com caravelas e conhecimentos
náuticos, anotando, em suas viagens, as rotas marítimas.
III. As narrativas sobre as criaturas míticas que habitavam os oceanos apavoraram o homem
no período medieval, retardando as Grandes Navegações.
IV. No período colonial brasileiro, os holandeses, através de seus empreendimentos de
navegação, conquistaram a capitania do Rio de Janeiro, por meio século.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
b) Somente as afirmativas II e III são corretas.
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
(UNICENTRO 2014)
Uma das tentativas de colonização do Brasil recém-descoberto foi o estabelecimento das
capitanias hereditárias. Das quinze capitanias, apenas duas cumpriram sua missão de
exploração das novas terras.
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, essas capitanias.
a) Itamaracá e Pernambuco.
b) Itamaracá e São Vicente.
c) Pernambuco e São Vicente.
d) Pernambuco e São Tomé.
e) São Tomé e São Vicente
(UNICENTRO 2012)
O termo “etnocentrismo”, aplicado ao conhecimento histórico, significa
a) direcionamento do estudo para uma única etnia, dominante ou não.
b) estudo das etnias que compõem a formação cultural de determinado povo.
c) abordagem dos povos primitivos que se constituíram como base de uma civilização.

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d) interpretação da história sob o ponto de vista de uma etnia considerada dominante e


superior.
e) conhecimento da distribuição geográfica e demográfica das etnias que sobrevivem em
uma população de determinada região.
(UNICENTRO 2011)
A agressividade registrada contra as populações indígenas do litoral das terras do Brasil, por
parte dos conquistadores portugueses, resultava, dentre outras questões,
a) da disputa pelas áreas de escambo do pau-brasil entre portugueses e indígenas.
b) da aliança entre os povos indígenas e as populações quilombolas contra a invasão dos
portugueses.
c) da divulgação do protestantismo entre os indígenas, como resultado da ação missionária
dos protestantes franceses.
d) do etnocentrismo, sentimento baseado na ideia de superioridade cultural do
conquistador, frente ao conquistado, considerado inferior.
e) da antropofagia generalizada praticada pelos povos indígenas contra os conquistadores
portugueses.
(UECE/2019)
Antes da chegada dos portugueses às terras americanas,
a) havia dois grupos étnicos habitando a região hoje chamada Brasil: os Tupis e os Tapuias.
b) uma variedade de comunidades nativas, etnicamente diferentes, espalhava-se pelo
território da futura América portuguesa.
c) falavam-se alguns poucos dialetos, variantes de uma mesma língua geral, o Nheengatu,
apesar de existir um grande número de grupos indígenas.
d) havia uma só sociedade indígena vivendo em harmonia, igualitarismo e paz; desconhecia-
se a violência da guerra, trazida para cá pelos europeus.
(UECE/2018)
“(...) trocar manufaturas baratas por negros na costa ocidental da África; permutar os negros
por matérias-primas nas colônias americanas: por fim, vender as matérias primas na Europa
a altos preços, ou seja, a dinheiro contado. Comércio de resultados fantásticos em que o
lucro nunca ficava por menos de 300% e podia em certos casos render até 600%”.
FREITAS, Décio. O escravismo brasileiro. 2.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. p.24.
Esse sistema de comércio que foi fundamental para a colonização brasileira por custear a
Coroa portuguesa através da sua taxação é conhecido como sistema

a) de comércio liberal.
b) de comércio quadrangular.

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c) internacional de comércio livre.


d) de comércio triangular.
(UECE/2017)
Leia atentamente os seguintes excertos:
“[...] uma das principais causas da dizimação dos índios, afora as doenças trazidas pelos
europeus, foram os massacres e a eliminação deliberada dos nativos pelos portugueses. Isso
resultou no fato de que apenas aproximadamente 300.000 índios, cerca de 5 por cento dos
6 milhões que compunham a população indígena em 1500, sobreviveriam para as
“comemorações” dos quinhentos anos da chegada de Cabral a suas terras”. JANCSÓ, István
(Coord.) Rebeldes brasileiros – homens e mulheres que desafiam o poder. São Paulo: Casa
Amarela, [s.d.]. fasc. 9. p. 261 (Caros amigos)
“Entre os dias 26 de março e 22 de abril [de 2016], os indígenas Aponuyre, Genésio, Isaías e
Assis Guajajara, todos da Terra Indígena (TI) Arariboia, no Maranhão, foram assassinados.
Com pouca fiscalização e sem sinal de investigação dos culpados, os indígenas Guajajara que
vivem na área – já demarcada e habitada também por índios Awá isolados – sofrem com a
constante pressão de madeireiros e temem por sua segurança”. COMISSÃO PASTORAL DA
TERRA - CPT. Em um mês, quatro indígenas Guajajara foram assassinados no Maranhão.
Publicado em 27 de abril de 2016. Acessado em 11 de maio de 2017. Disponível em:
https://www.cptnacional.org.br/index.php/publicacoes/noticias/conflitos-nocampo/3191-
em-um-mes-quatroindigenas-guajajara-foram-assassinados-no-maranhao
Considerando os excertos acima, é correto afirmar que
a) os conflitos que ainda ocorrem entre indígenas e população não indígena se dão
exclusivamente pela ação predatória, promovida pelos índios, sobre os recursos naturais
protegidos por lei.
b) as tensões geradoras dos massacres e a dizimação da população nativa brasileira ainda
perduram nos tempos atuais, apesar da atual proteção do Estado sobre as populações
indígenas.
c) o interesse dos capitalistas em obter maiores lucros com a exploração da terra dos índios
e de seus recursos nunca foi motivação para os conflitos que dizimaram e ainda diminuem a
população indígena.
d) os eventos de violência contra a população indígena, em diversas áreas do país, se dão
porque essa população não é aceita pelo Estado quando tenta integrar-se ao modelo social,
justo e inclusivo, do mundo civilizado.
(UECE/2017)
Leia atentamente os excertos a seguir:
“Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é
possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente. E do modo com
que se há com eles, depende tê-los bons ou maus para o serviço”;

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(André João Antonil. Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas. Belo Horizonte.
Itatiaia, 1982. p. 89.)
“A democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-entendido. Uma aristocracia rural e
semifeudal importou-a e tratou de acomodá-la, onde fosse possível, aos seus direitos ou
privilégios, os mesmos privilégios que tinham sido, no Velho Mundo, o alvo da luta da
burguesia contra os aristocratas”.
(Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. Rio de janeiro. José Olímpio editora, 1984. p.
119.)
Considerando os vários aspectos da formação social do Brasil, pode-se afirmar corretamente
que os dois trechos acima tratam
a) da inclusão do negro e do pobre no processo democrático que rompeu com os direitos e
privilégios das classes dominantes.
b) da integração social ocorrida ainda na colonização com o processo de miscigenação étnica
que tornou iguais todos os brasileiros.
c) da condição de exploração e exclusão a que estava sujeita uma parcela significativa da
população brasileira em razão dos interesses das elites.
d) da perfeita inclusão dos negros libertos e da população pobre em geral na sociedade
brasileira, com a criação da República e da democracia no Brasil.
(UECE/2015)
A compreensão cristã do encontro dos portugueses com os primeiros habitantes da América
teve forte conotação maniqueísta: de um lado estava o bem, simbolizado pelos europeus na
sua suposta busca pelo paraíso; de outro, o mal, representado pelos indígenas e suas práticas
diabólicas.
Analise as afirmações abaixo acerca dessa compreensão.
I. Tal compreensão foi alimentada por considerações imprecisas de alguns viajantes que
classificavam de “demoníacas” certas práticas culturais dos povos americanos.
II. A leitura das práticas dos povos americanos pelos europeus aliou a ideia da conquista de
novas terras com o desejo de levar a palavra de Deus àquelas criaturas “demonizadas”.
III. O pensamento cristão português dissociava-se das ideias e políticas expansionistas; desse
modo, a propagação da fé era desvinculada da empresa marítima.
É correto o que se afirma em
a) I, II e III.
b) II e III apenas.
c) I e III apenas.
d) I e II apenas.
(UDESC/2017)

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“A unidade básica de resistência no sistema escravista, seu aspecto típico, foram as fugas.
(...) Fugas individuais ocorrem em reação a maus tratos físicos ou morais, concretizados ou
prometidos, por senhores ou prepostos mais violentos. Mas outras arbitrariedades, além da
chibata, precisam ser computadas. Muitas fugas tinham por objetivo refazer laços afetivos
rompidos pela venda de pais, esposas e filhos. (...) No Brasil, a condenação [da escravidão]
só ganharia força na segunda metade do século, quando o país independente, fortemente
penetrado por ideias e práticas liberais, se integra ao mercado internacional capitalista. (...)
“Tirar cipó” – isto é, fugir para o mato – continuou durante muito tempo como sinónimo de
evadir-se, como aparece no romance A carne, de Júlio Ribeiro. Mas as fugas, como
tendência, não se dirigem mais simplesmente para fora, como antes; se voltam para dentro,
isto é, para o interior da própria sociedade escravista, onde encontram, finalmente, a
dimensão política de luta pela transformação do sistema. “O não quero dos cativos”, nesse
momento, desempenha papel decisivo na liquidação do sistema, conforme analisou o
abolicionista Rui Barbosa”.
REIS, João José. SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São
Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 62-66-71.

De acordo com os autores do texto, João José Reis e Eduardo Silva, assinale a
alternativa incorreta.
a) As fugas de escravos entre os séculos XVI e XIX tiveram motivações diversas, entre elas o
tráfico interprovincial.
b) Durante o século XIX, a luta dos escravos pela liberdade não se dava somente pela fuga
coletiva para a formação de quilombos.
c) As cidades, no século XIX, tornaram-se espaços significativos para as lutas pela abolição.
d) Os escravos foram agentes da história, e não apenas força de trabalho.
e) A naturalização do sistema escravista se manteve estável durante o período colonial e o
imperial.
(UDESC 2013)
Analise as proposições sobre a administração colonial na América portuguesa, e assinale (V)
para verdadeira e (F) para falsa.
( ) Com o objetivo de diminuir as dificuldades na administração das capitanias, D. João III
implantou, na América portuguesa, um Governo-Geral que deveria ser capaz de restabelecer
a autoridade da Corte portuguesa nos domínios coloniais, centralizar as decisões e a política
colonial.
( ) A Capitania de São Vicente foi escolhida pela Coroa Portuguesa para ser a sede do
Governo, pois estava localizada em um ponto estratégico do território colonial português.
Foi nesta Capitania que se implementaram as novas políticas administrativas da Coroa com
a instalação do Governo-Geral.

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( ) Tomé de Souza foi o responsável por instalar o primeiro Governo- Geral. Trouxe com ele
soldados, colonos, burocratas, jesuítas, e deu início à construção da primeira capital do Brasil:
Rio de Janeiro.
( ) A criação e instalação do Governo-Geral na América portuguesa foi uma alternativa
encontrada pela Coroa Portuguesa para organizar e ocupar a colônia, que enfrentava
dificuldades, dentre elas os constantes conflitos com os indígenas e os resultados
insatisfatórios de algumas capitanias.
Assinale a alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo:
a) V – F – F – V
b) V – F – V – F
c) V – V – F – F
d) F – V – F – V
e) F – V – V – F
(UDESC 2013)
Sobre a população nativa do território brasileiro, no século XVI, assinale a alternativa
incorreta.
a) Quando os portugueses chegaram ao litoral atlântico sul-americano ele já era ocupado por
mais de mil povos seminômades que viviam da caça, da pesca, da coleta e da agricultura.
b) Estudos apontam que os grupos indígenas que habitavam o território, que hoje é o Brasil,
quando da chegada dos portugueses, eram passivos e ingênuos, por isso sua dominação e
seu controle foi relativamente tranquilo para Portugal.
c) Estudos apontam que os tupi-guaranis são originários da região amazônica, mas o
crescimento da população e as mudanças ambientais, dentre outros motivos, forçaram-nos
a abandonar suas terras e partir em direção ao litoral.
d) Quando os portugueses chegaram ao território, que hoje é o Brasil, os tupis ocupavam
quase toda a faixa costeira entre os atuais estados do Ceará e São Paulo, enquanto que os
guaranis localizavam-se mais ao Sul.
e) Os tupis do litoral foram os primeiros povos nativos a tomar contato com os europeus.
Formavam o grupo mais numeroso, por isso, muitas vezes, a imagem do tupi é confundida
como se representasse todos os indígenas do território brasileiro.
(UNITAU 2018)
O açúcar foi o principal produto brasileiro de exportação durante a época colonial. Mesmo
durante o auge da exploração do ouro, quando o Brasil encheu os cofres europeus e ajudou
a impulsionar a Revolução Industrial na Inglaterra, o valor das exportações de açúcar excedeu
o de qualquer outro produto.

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Assinale a alternativa que apresenta o(s) mecanismo(s) empregado(s), na economia colonial,


para favorecer esse quadro.
a) A imigração maciça de portugueses para trabalhar nas terras interiores da colônia.
b) A utilização predominante da mão de obra indígena nas lavouras açucareiras.
c) O incentivo dado pela coroa portuguesa à adoção do trabalho assalariado livre.
d) A adoção da mão de obra escrava africana e o pacto colonial.
e) O predomínio de pequenas propriedades rurais produzindo açúcar para exportação.
(UNITAU 2017)
O Cristianismo chegou ao Brasil com a conquista colonial, associado à exploração
metropolitana. A Igreja desempenhou, assim, um importante papel no processo de
colonização, promovendo a transformação do modo de vida indígena e a sua adaptação às
formas culturais europeias. Dentre as medidas adotadas pelos religiosos para promover esse
processo, é INCORRETO destacar:
a) A criação dos aldeamentos, onde os índios das mais diferentes tribos eram reunidos,
recebiam a catequese e eram batizados, tornando-se cristãos.
b) O combate ao nomadismo e a imposição do trabalho agrícola aos índios, com uma nova
divisão de tarefas entre homens e mulheres.
c) A obrigação do uso de vestimentas, enquanto, anteriormente, os índios exibiam as marcas
da sua cultura no próprio corpo.
d) O estabelecimento de escolas para os nativos, de modo a alfabetizá-los, com o objetivo
de torná-los funcionários da administração colonial.
e) A organização do tempo, com a Igreja instalada no centro do aldeamento e o sino
regrando a vida dos nativos em relação ao trabalho, à catequese e ao lazer.
(UNITAU 2016)
O dia 20 de novembro foi instituído como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A
data foi escolhida por ser o dia da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. Sobre
Zumbi e o Quilombo dos Palmares, pode-se afirmar que
a) no período do Brasil Império, Zumbi simbolizou a luta do negro contra a escravidão,
mobilizando todos os grupos marginalizados.
b) Zumbi morreu muito tempo após o fim do Quilombo dos Palmares. Depois de preso, foi
levado ao Rio de Janeiro, sendo morto e exposto em praça púbica.
c) o quilombo liderado por Zumbi constituía uma forma de resistência ao sistema escravista,
e era o principal responsável pela preservação da cultura africana no Brasil.
d) apesar da curta existência, menos de cinquenta anos, o Quilombo dos Palmares ficou
bastante conhecido por ter resistido durante décadas contra os ataques da Coroa
Portuguesa e dos holandeses.

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e) a relação do Quilombo dos Palmares com a presença dos holandeses no Nordeste se


caracterizou pelo investimento do governo holandês no Quilombo, para fortalecê-lo e fazer
frente à Coroa Portuguesa.
(IFPE – 2020/1)
Não se pode dizer que os senhores fossem cidadãos. Eram, sem dúvida, livres, votavam e
eram votados nas eleições municipais. Eram os “homens bons” do período colonial. Faltava-
lhes, no entanto, o próprio sentido da cidadania, a noção de igualdade de todos perante a
lei. Eram simples potentados que absorviam parte das funções do Estado, sobretudo as
funções judiciárias. Em suas mãos, a justiça, que, como vimos, é a principal garantia dos
direitos civis, e que se tornava simples instrumento do poder pessoal. O poder do governo
terminava na porteira das grandes fazendas.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 14ª ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2011 (adaptado). 41.
A partir da leitura do e analisando o processo histórico da cidadania no Brasil, desde o
período colonial até o presente, é CORRETA a seguinte afirmação:
a) a cidadania brasileira foi construída já no período colonial, tendo senhores de engenho,
homens livres e proprietários, logo, “homens bons”, à frente das Câmaras Municipais,
assumindo as funções do Estado português, em geral, autoritário e centralizador.
b) ao longo de mais de 500 anos, a cidadania, no Brasil, foi uma construção histórica que
buscou conciliar os diversos grupos sociais e étnicos que habitaram o território, pautando-se
no respeito às diferenças e na mestiçagem de nosso povo, marca de nossa identidade
nacional.
c) ao longo de mais de 500 anos de história brasileira, o processo de construção da cidadania
foi impactado seja pela escravidão, seja pela grande propriedade rural, dificultando o
exercício de direitos civis básicos e a participação política de grande parte da população.
d) a condição de proprietário rural e a cor branca, no Brasil, nunca foram características
consideradas importantes como critérios de distinção para o exercício da cidadania, seja pelo
Estado português, seja, depois, pelo Estado Nacional brasileiro.
e) os “homens bons” que assumiram papéis de relevo nas Câmaras Municipais da Colônia
distinguiam-se dos demais por qualidades morais, comumente associadas ao bom
tratamento para com os escravos e dependentes em geral, e ao sentimento de coletividade.
(IFNMG/2019)
Sobre a exploração do trabalho escravo no Brasil, leia as afirmações seguintes e marque
aquela que estiver INCORRETA.
a) Os indígenas, por serem preguiçosos e protegidos pelos jesuítas, não foram escravizados
no Brasil após o Período Pré-Colonial.
b) Os quilombos e o uso da capoeira, enquanto arte marcial, representam algumas das
manifestações de resistência dos negros contra a escravidão.

AULA 06 HB: Colônia I


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c) O tráfico negreiro da África para o Brasil era considerado uma atividade comercial que
rendia recursos econômicos não apenas ao traficante, mas também à Coroa Portuguesa.
d) Na região sul do Brasil, marcada pela pecuária, a exploração do trabalho escravo foi
menor, quando comparada a outras regiões onde predominou a agricultura.
(IFBA – 2018)
Que Deus entendeu de dar
A primazia
Pro bem, pro mal
Primeira mão na Bahia
Primeira missa
Primeiro índio abatido também
Que Deus deu
Que Deus entendeu de dar
Toda magia
Pro bem, pro mal
Primeiro chão da Bahia
Primeiro carnaval
Primeiro pelourinho também
Gilberto Gil, Toda menina baiana. In.: CD Realce,
Warner: 1979. Trecho disponível em https://www.letras.mus.br/gilberto-gil/46249. Acesso
em 24 jul 2017.
Com base no trecho da música acima, é possível afirmar historicamente que:
a) A primeira missa na Bahia foi feita pelos portugueses com o intuito de converter os índios
ao catolicismo e assim evitar que fosse feita uma guerra contra eles.
b) Para o bem ou para o mal, a Bahia foi o primeiro local no Brasil em que os portugueses
colocaram suas mãos.
c) O carnaval sempre foi feito durante as festas profanas que acontecem ao redor das festas
religiosas católicas. Assim, esse texto seria uma metáfora para entender as contradições do
Brasil: carnavalesco e religioso.
d) Deus seria a entidade que moveria a história dos homens. Os homens apenas
reproduziriam as suas vontades. A vontade de Deus, “pro bem ou pro mal”, espalhou o
cristianismo pelo mundo, uma das principais instituições colonialistas dos séculos XV até os
dias atuais.

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e) Ao destacar o abate indígena, o pelourinho e as missas religiosas, o autor chama atenção


para o caráter violento da colonização brasileira.

11. GABARITO
1. B 23. B
2. E 24. D
3. A 25. B
4. C 26. D
5. C 27. C
6. A 28. D
7. E 29. D
8. E 30. B
9. E 31. D
10. B 32. B
11. B 33. C
12. E 34. D
13. C 35. E
14. C 36. A
15. E 37. B
16. B 38. D
17. A 39. D
18. A 40. C
19. E 41. C
20. E 42. A
21. C 43. E
22. D

12. QUESTÕES ESSENCIAIS - ENEM (COMENTÁRIOS)


(ENEM 2021)

TEXTO I

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EIGENHEER, E. M. Lixo: a limpeza urbana através dos tempos. Porto Alegre: Gráfica Palloti,
2009.

TEXTO II

A repugnante tarefa de carregar lixo e os dejetos da casa para as praças e praias era
geralmente destinada ao único escravo da família ou ao de menor status ou valor. Todas as noites,
depois das dez horas, os escravos conhecidos popularmente como “tigres” levavam tubos ou
barris de excremento e lixo sobre a cabeça pelas ruas do Rio.

KARASCH, M. C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro, 1808-1850. Rio de Janeiro: Cia das
Letras, 2000.

A ação representada na imagem e descrita no texto evidencia uma prática do cotidiano nas
cidades no Brasil nos séculos XVIII e XIX caracterizada pela

a) valorização do trabalho braçal.

b) reiteração das hierarquias sociais.

c) sacralização das atividades laborais.

d) superação das exclusões econômicas.

e) ressignificação das heranças religiosas.

Comentários
Atenção ao período e local abordados: séculos XVIII e XIX no Rio de Janeiro. Esse período
é marcado pela intensificação da importação de escravizados africanos no Brasil, impulsionada
principalmente pela extração aurífera em Minas Gerais durante o século XVIII. Esta atividade
também provocou a transferência da capital da América portuguesa de Salvador para o Rio de
Janeiro, devido à sua proximidade com a região mineradora, dando-lhe maior vantagem como
porto privilegiado para a exportação do ouro. Assim, o Sudeste começa a se tornar o principal
polo econômico da colônia. Por outro lado, à medida que o ouro se torna mais escasso, as riquezas
obtidas com sua extração vão sendo reinvestida nos negócios que sempre deram certo na
colonização: latifúndio exportador (pecuarista ou agricultor) e tráfico de escravizados. No raiar o

AULA 06: HB - Colônia I 96


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século XIX, o Sudeste já competia com o Nordeste na produção açucareira, principalmente o Rio
de Janeiro. E gradativamente a cafeicultura vai se popularizando entre os grandes fazendeiros
cariocas e paulistas conforme a demanda por café cresce na Europa. Quando mais as lavouras se
espalham e crescem de tamanho, mais escravizados são importados. Vale dizer que as primeiras
décadas do século XIX foram o período no qual mais se importou cativos no Brasil a ponto dos
historiadores chamarem o fenômeno de “segunda escravidão”. Com tanto escravizados chegando
ao país, eles também encontraram uso nas zonas urbanas, principalmente nas cidades portuárias
onde os fazendeiros e pecuaristas agenciavam suas exportações. Entretanto, nas cidades os
cativos eram empregados em uma variedade maior de trabalhos. De qualquer forma, nas
atividades de limpeza e descarte do lixo não havia grandes diferenças entre ambientes urbanos e
rurais. Como a imagem e o texto nos mostram, eram os cativos que cuidavam dessas tarefas.
Sabendo disso, vejamos o que caracteriza a prática descrita:
a) Incorreta. Na sociedade escravista brasileira o trabalho braçal era extremamente
desvalorizado, tido como algo degradante e humilhante. Por isso, qualquer atividade manual,
inclusive a coleta e descarte de lixo, eram reservados preferencialmente aos escravizados, que
estavam na base da pirâmide social, destituídos de direitos políticos, civis e sociais. Na sua
ausência, eram os trabalhadores pobres que faziam essas funções.
b) Correta! Reiteração significa reafirmação. E como disse, os escravizados estavam na base
da pirâmide social do Brasil colonial e imperial. Logo, não é de se estranhar que sejam eles que
ficam encarregados das tarefas consideradas degradantes pela sociedade da época, como a
coleta e descarte do lixo.
c) Incorreta, pela mesma razão que a letra “b”. Nunca esqueça que na sociedade escravista
brasileira qualquer atividade laboral era considerada degradante, digna das camadas mais baixas
da hierarquia social, enquanto o ócio era sinal de riqueza e prestígio.
d) Incorreta. Se há reiteração das hierarquias sociais, as exclusões econômicas também são
reafirmadas. É pelo seu papel na economia que os escravizados estão na base da pirâmide social
do Brasil colonial e imperial. Juridicamente, eles eram considerados mercadorias, passíveis de
serem empregados, comprados e vendidos ao bel prazer de seus proprietários.
e) Incorreta. As religiosidades da época não são abordadas nem pela imagem, nem pelo
texto.
Gabarito: B

(ENEM 2021)

“De um lado, ancorados pela prática médica europeia, por outro, pela terapêutica indígena,
com seu amplo uso da flora nativa, os jesuítas foram os reais iniciadores do exercício de uma
medicina híbrida que se tornou marca do Brasil colonial. Alguns religiosos vinham de Portugal já
versados nas artes de curar, mas a maioria aprendeu na prática diária as funções que deveriam ser
atribuídas a um físico, cirurgião, barbeiro ou boticário”.

AULA 06: HB - Colônia I 97


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GURGEL, C. Doenças e curas: o Brasil nos primeiros séculos. São Paulo: Contexto, 2010
(adaptado).

Conforme o texto, o que caracteriza a construção da prática medicinal descrita é a

a) adoção de rituais místicos.

b) rejeição dos dogmas cristãos.

c) superação da tradição popular.

d) imposição da farmacologia nativa.

e) conjugação de saberes empíricos.

Comentários
Em primeiro lugar, note que a questão tem como tema a construção prática medicinal
durante o Brasil colonial, ou seja, entre o longo período de 1500 a 1822. Esse processo foi tão
marcado pela diversidade quanto a variedade de povos que entraram em contato durante a
colonização da América portuguesa. Em outras palavras, saberes indígenas, africanos e europeus
foram conjugados pelos agentes que lidavam com as práticas curativas, que podiam envolver
misticismo, religião e experimentação prática. A medicina científica, elaborada a partir das
instituições e seus cursos superiores, só começou a se tornar hegemônica a partir do século XIX,
inclusive na Europa. No Brasil, o contraste entre medicinas tradicionais e a moderna foram sentidos
com maior intensidade na Primeira República (1889-1930), quando se intensifica as medidas de
higienização dos espaços urbanos e campanhas de vacinação obrigatória. Portanto, no período
colonial as medicinas tradicionais predominavam, mesmo entre as elites. Note, então, que o texto
aborda especificamente os jesuítas europeus e colonos portugueses que migravam para o Brasil
e que eram versados na medicina, ofício que aprenderam na prática diária. Com isso em mente,
vejamos:
a) Incorreta. Embora rituais místicos pudessem estar vinculados às práticas da cura por esses
agentes, não é isso que o trecho enfatiza.
b) Incorreta. Em nenhum momento é afirmado que os dogmas cristãos eram abandonados,
por mais “híbridas” que fossem essas práticas medicinais. Inclusive, é dito que os jesuítas estavam
em os primeiros agentes coloniais que praticavam esse tipo de medicina.
c) Incorreta. Essa medicina “híbrida” fazia parte das tradições populares.
d) Incorreta. Na verdade, é importante ressaltar que por mais híbrida que fosse a medicina
pratica no período colonial, as concepções europeias sobre cura e farmacologia que eram
impostas, assim como qualquer outro aspecto da cultura. Pense que mesmo em um processo de
dominação há uma troca entre dominadores e dominados, uma troca desigual, mas ainda sim uma
troca. É isso que caracteriza o hibridismo nas práticas de cura construídas durante a colonização.

AULA 06: HB - Colônia I 98


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e) Correta! Empírico é todo o conhecido construído a partir da experiência, da prática, da


materialidade. Ora, é justamente esse tipo de aprendizado que o texto da ênfase ao falar que a
maioria os praticantes coloniais de medicina aprendeu o que sabia na prática diária.
Gabarito: E

(ENEM 2021)

Alguns escravos morreram em consequência da violência essencial à sua captura na África,


muitos outros nas jornadas entre os lugares que habitavam no interior e os portos dos oceanos
Atlântico e Índico, ou enquanto aguardavam o embarque, muito mais ainda no mar, outros nos
mercados de escravos brasileiros, e mais ainda durante o processo de ajustamento físico e mental
ao sistema escravista no Brasil.

CONRAD, R. E. Tumbeiros: o tráfico de escravos para o Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1985.

As formas de violência relacionadas ao tráfico negreiro no Brasil colonial destacadas no


texto derivam da

a) intensificação do expansionismo ultramarino.

b) exploração das atividades indígenas.

c) supressão da catequese jesuítica.

d) extinção dos contratos comerciais.

e) contração da economia ibérica.

Comentários
Em primeiro lugar, repare que o tema da questão é o tráfico internacional de escravos
africanos durante o Brasil colonial (1500-1822). Lembre-se que que a importação de africanos para
o Brasil teve início por volta da década de 1570, cerca quarenta anos depois de a economia
açucareira e a escravidão indígena estarem sendo praticadas na colônia. Naquele momento, a
Coroa e a burguesia mercantil portuguesa viu vantagens na montagem do grande sistema que se
tornou o tráfico de africanos entre a África e o Brasil. Esse comércio de pessoas se tornou um dos
pilares da economia colonial, tão importante quanto a própria produção de açúcar ou, mais tarde,
a extração de ouro e a cafeicultura. Entretanto, o tráfico infligia uma série de violências aos
escravizados, como o próprio texto descreveu bem. Sabendo disso, vejamos do que derivam essas
formas de violência relacionadas ao tráfico negreiro:
a) Correta! Como eu disse, o tráfico se tornou um negócio tão importante quanto as
atividades coloniais mais lucrativas. Isso porque essas atividades completava o comércio triangular
entre Portugal, África e Brasil que sustentava todo o sistema colonial. No Brasil, era produzido
açúcar para ser vendido na Europa por Portugal; Portugal produzia mercadorias manufaturadas
que eram trocadas na África, junto de algumas mercadorias brasileiras secundárias (tabaco,

AULA 06: HB - Colônia I 99


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cachaça, mandioca, etc.), por escravos. Os cativos adquiridos no continente africano, então, eram
vendidos no Brasil para serem empregados na produção de açúcar, entre outras atividades. E
assim a roda girava. Portanto, quanto mais o Império português se expandia, maior era a demanda
por escravizados, o que intensificava o tráfico e as violências geradas por ele.
b) Incorreta. Na verdade, conforme o tráfico negreiro se intensificava e se difundia no Brasil,
menor era a recorrência à exploração das atividades indígenas. Inclusive, na mesma época que o
tráfico teve início, a Coroa portuguesa proibiu a escravidão indígena.
c) Incorreta. Os jesuítas se mantiveram no Brasil até 1759, mais da metade do período de
existência do tráfico. E sua expulsão dos territórios portugueses não estava diretamente
relacionada ao tráfico, cuja a demanda crescia naquele momento e seria ainda maior nas primeiras
décadas do século XIX.
d) Incorreta. Os contratos comerciais não foram extintos.
e) Incorreta. Pelo contrário, o tráfico crescia quanto mais crescia a economia ibérica
(Portugal e Espanha) que detinha duas das maiores colônias importadoras de cativos africanos
naquele momento: Brasil e Cuba.
Gabarito: A

(ENEM digital 2020)


Associados a atividades importantes e variadas na evolução das sociedades americanas
modernas, os africanos conseguiram impor sua marca nas línguas, culturas, economias, além
de participar, quase invariavelmente, na composição étnica das comunidades do Novo
Mundo. A sua influência alcançou mais fortemente as regiões do latifúndio agrícola, em
comunidades cujo desenvolvimento ocorreu às margens do Atlântico e do mar das Antilhas,
do sudeste dos Estados Unidos até a porção nordeste do Brasil, e ao longo das costas do
Pacífico, na Colômbia, no Equador e no Peru.
KNIGHT, F. W. A diáspora africana. In: AJAYI, J. F. A. (Org.). História geral da África: África
do século XIX à década de 1880. Brasília: Unesco, 2010 (adaptado).
Uma das contribuições da diáspora descrita no texto para o continente americano foi o(a)
a) fim da escravidão indígena.
b) declínio de monoculturas locais.
c) introdução de técnicas produtivas.
d) formação de sociedades estamentais.
e) desvalorização das capitanias hereditárias.
Comentários:

A Diáspora Africana ocorreu dentro da Idade Moderna, baseado na economia conhecida como
“Mercantilismo Colonial”. Assim, era empregado nas colônias americanas mencionadas no texto,
o sistema de Plantation, onde ele se caracterizava pela exploração monocultora em grandes

AULA 06: HB - Colônia I 100


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latifúndios de matérias primas com a mão de obra escrava, para a exportação de produtos para
as metrópoles europeias. O texto também menciona que os africanos deixaram marcas profundas
na América, em todas as dimensões da vida social: música, comida, religião, cultura, artes,
economia, a introdução de técnicas produtivas, etc.

Desse jeito, vejamos qual dessas características está relacionado com texto:

a) Incorreto. A escravidão indígena passou a ser substituída gradativamente pela escravidão


africana, ao passo que as sociedades indígenas iam sendo dizimadas, porém a escravização dos
povos originários não teve um fim com a ascensão da outra.

b) Incorreto. As monoculturas locais prosperaram durante o período colonial, principalmente nas


áreas mencionadas no excerto.

c) Correto. O advento das populações africanas trouxe para o continente americano uma serie de
hábitos e práticas que modificaram radicalmente os aspectos produtivos da vida na América.

d) Incorreto. As sociedades americanas não eram estamentais, apesar da dificuldade de ascensão


social.

e) Incorreto. Não é em nenhum momento desvalorizado as capitanias hereditárias no texto.

Gabarito: C

(ENEM 2020)
Porque todos confessamos não se poder viver sem alguns escravos, que busquem a lenha e
a água, e façam cada dia o pão que se come, e outros serviços que não são possíveis
poderem-se fazer pelos Irmãos Jesuítas, máxime sendo tão poucos, que seria necessário
deixar as confissões e tudo mais. Parece-me que a Companhia de Jesus deve ter e adquirir
escravos, justamente, por meios que as Constituições permitem, quando puder para nossos
colégios e casas de meninos.
LEITE, S. História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1938 (adaptado).
O texto explicita premissas da expansão ultramarina portuguesa ao buscar justificar a
a) propagação do ideário cristão.
b) valorização do trabalho braçal.
c) adoção do cativeiro na Colônia.
d) adesão ao ascetismo contemplativo,
e) alfabetização dos indígenas nas Missões.
Comentários:

AULA 06: HB - Colônia I 101


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O texto aborda o Período Colonial e suas relações com a Igreja Católica. Ele ressalta e defende à
utilização da mão de obra escrava pelos jesuítas em seus colégios e casas de meninos. Isso
evidencia a adoção e consolidação do trabalho cativo na Colônia, uma vez que os jesuítas eram
agentes colonizadores também – devido à catequização indígena – por parte de Portugal, que
concedeu a Companhia de Jesus, total liberdade para agir em conjunto com os colonos que aqui
vieram.

Visto isso, o texto explicita uma das premissas da expansão marítima portuguesa, que é justificado
por uma das alternativas. Vejamos qual é a justificativa:

a) Incorreto. A propagação do ideário cristão é uma dessas premissas das expansões portuguesas,
porém não trata a justificação das ações empregadas nas colônias.

b) Incorreto. Não há uma valoração do trabalho braçal e sim uma justificativa para manter os povos
locais como escravos.

c) Correto. O texto aborda explicar a utilização de cativeiros pelos padres nas colônias.

d) Incorreto. Não é falado sobre ascetismo contemplativo no texto.

e) Incorreto. A alfabetização dos indígenas nas Missões não é mencionada no excerto.

Gabarito: C

(ENEM 2019)
O processamento da mandioca era uma atividade já realizada pelos nativos que viviam no
Brasil antes da chegada de portugueses e africanos. Entretanto, ao longo do processo de
colonização portuguesa, a produção da farinha foi aperfeiçoada e ampliada, tornando-se
lugar-comum em todo o território da colônia portuguesa na América. Com a consolidação
do comércio atlântico em suas diferentes conexões, a farinha atravessou os mares e chegou
aos mercados africanos.
BEZERRA, N. R. Escravidão, farinha e tráfico atlântico: um novo olhar sobre as relações
entre o Rio de Janeiro e Benguela (1790-1830). Disponível em: www.bn.br. Acesso em: 20
ago. 2014 (adaptado).
Considerando a formação do espaço atlântico, esse produto exemplifica historicamente a
a) difusão de hábitos alimentares.
b) disseminação de rituais festivos.
c) ampliação dos saberes autóctones.
d) apropriação de costumes guerreiros.
e) diversificação de oferendas religiosas.
Comentários:

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A alimentação brasileira é a resultante de diversas incorporações culturais que se modificaram e


se transformaram ao longo do tempo. Assim, entre os hábitos alimentares presentes hoje entre os
brasileiros, há um sincretismo de muitas culturas diferentes, indo desde a europeia, a indígena e
a africana. O consumo da farinha de mandioca, por exemplo, é um costume originalmente
indígena e que se difundiu pelo território, para além das culturas nativas durante o Período
Colonial. Nessa época, devido as expansões marítimas portuguesas, e a dominação e conquistas
dos continentes africanos e americano, isso possibilitou que civilizações muito diferentes
entrassem em contato devido ao comércio atlântico. Podemos identificar no consumo da
mandioca, e de sua farinha, uma forma de relação social uma vez que foi incorporado pelo branco
português ao seu cardápio e espalhado por suas colônias ao redor do mundo.

Dessa forma, vejamos qual alternativa melhor se encaixa com o texto:

a) Correta. Como abordado, a interações entre os povos de originários com os europeus e os


africanos, fez com que houvesse uma difusão dos seus hábitos alimentares. Outro prato típico
brasileiro, fruto dessa difusão é a feijoada.

b) Incorreta. Os rituais festivos não estão sendo abordado no texto acima

c) Incorreta. Não houve uma ampliação dos saberes autóctones, houve uma disseminação e fusão
de elementos alimentícios já praticado nas terras americanas com os hábitos praticados em outras
partes do mundo.

d) Incorreta. A questão não trata dos costumes sociais envolvendo a guerra.

e) Incorreta. O excerto não menciona a religiosidade como tema principal do texto.

Gabarito: A

(ENEM 2018)
Outra importante manifestação das crenças e tradições africanas na Colônia eram os objetos
conhecidos como “bolsas de mandinga”. A insegurança tanto física como espiritual gerava
uma necessidade generalizada de proteção: das catástrofes da natureza, das doenças, da má
sorte, da violência dos núcleos urbanos, dos roubos, das brigas, dos malefícios de feiticeiros
etc. Também para trazer sorte, dinheiro e até atrair mulheres, o costume era corrente nas
primeiras décadas do século XVIII, envolvendo não apenas escravos, mas também homens
brancos.
CALAINHO, D. B. Feitiços e feiticeiros. In: FIGUEIREDO, L. História do Brasil para
ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013 (adaptado).
A prática histórico-cultural de matriz africana descrita no texto representava um(a)
a) expressão do valor das festividades da população pobre.
b) ferramenta para submeter os cativos ao trabalho forçado.
c) estratégia de subversão do poder da monarquia portuguesa.

AULA 06: HB - Colônia I 103


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d) elemento de conversão dos escravos ao catolicismo romano.


e) instrumento para minimizar o sentimento de desamparo social.
Comentários:

Na época Moderna, com as Grandes Navegações, os portugueses se aventuraram nos mares para
alcançar as “Índias”, para que pudessem comercializar as especiarias orientais (objetos de luxo na
Europa). Então, para alcançar o Oriente, a Coroa portuguesa iniciou uma série de viagens
marítimas ao redor da costa ocidental africana. Os navegantes estabeleciam feitorias (entrepostos
comerciais) nas regiões costeiras e comercializavam com os povos locais. Porém, com o passar do
tempo, os negros começaram a serem retirados dos seus núcleos sociais na África e levados para
América, para trabalharem como escravos. O que houve nesse tempo foi um processo de
dominação cultural, política e religiosa desses povos que eram considerados pagãos, por isso
deveriam redimir os seus pecados se subjugando as populações brancas europeias. Quando
chegavam no Brasil, os africanos não eram amparados na sociedade brasileira, e sofriam com os
maus tratos excessivos, com as exaustivas horas de trabalho e a inferiorização de suas etnias.
Assim, os escravos criaram formas de resistência que faziam referência a sua própria cultura, como
a bolsa de mandinga citada no texto. Além disso, o excerto apresenta as crenças religiosas como
forma de proteção, sendo utilizadas não somente por negros e escravos, mas também por
brancos, o que revela a complexidade da cultura brasileira.

Desse jeito, vejamos com a alternativa que condiz com o texto:

a) Incorreto. O texto não se trata das festividades da população pobre, e sim da população de
origem africana, que passou a ser empregada por outros grupos sociais também.

b) Incorreto. No texto nada está relacionado as ferramentas de submissão dos cativos ao trabalho
escravo.

c) Incorreto. Não tem a ver com as estratégias de subversão de poder da monarquia lusitana.

d) Incorreto. Pelo contrário era uma prática de matriz cultura africana, portanto não católica.

e) Correto. Quando chegaram ao Brasil, os africanos não tiveram nenhum amparo social e
submetidos a uma opressão extremamente cruel, porém que não apagou os traços culturais
desses povos que para o Brasil vieram.

Gabarito: E

(ENEM 2013)
Seguiam-se vinte criados custosamente vestidos e montados em soberbos cavalos; depois
destes, marchava o Embaixador do Rei do Congo magnificamente ornado de seda azul para
anunciar ao Senado que a vinda do Rei estava destinada para o dia dezesseis. Em resposta
obteve repetidas vivas do povo que concorreu alegre e admirado de tanta grandeza.

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“Coroação do Rei do Congo em Santo Amaro”, Bahia apud DEL PRIORE, M. Festas e utopias
no Brasil colonial. In: CATELLI JR., R. Um olhar sobre as festas populares brasileiras. São
Paulo: Brasiliense, 1994 (adaptado).
Originária dos tempos coloniais, a festa da Coroação do Rei do Congo evidencia um
processo de
a) exclusão social.
b) imposição religiosa.
c) acomodação política.
d) supressão simbólica.
e) ressignificação cultural.
Comentários:

O Congado, ou Festa do Rei Congo, é um movimento de sincretismo religioso realizado no Brasil


desde os tempos coloniais. Ele foi trazido pela população do grande Reino do Congo, um dos
maiores e mais organizados povos que viviam na África Central Ocidental, e que a partir do século
XVI, passou a sofrer com as perseguições portuguesas aos seus habitantes, e serem levados a
força ao continente americano. Sobre a festa em si, ela é uma mistura de cultos católicos e
africanos, na qual se comemora, ao mesmo tempo, a vida de São Benedito, o encontro de Nossa
Senhora do Rosário e a vida do negro Chico-Rei. A festa da Coroação é uma importante
manifestação cultural brasileira devido ao seu processo de ressignificação cultural de festas
africanas.

Desta maneira, somente uma alternativa pode ser considerada correta, com em relação ao
processo que essa prática sofreu:

a) Incorreto. Pelo contrário, essa festividade foi incorporada a cultura brasileira e a toda sociedade
brasileira por meio do sincretismo cultural.

b) Incorreto. Não houve uma imposição religiosa, e sim uma ressignificação dessa festa.

c) Incorreto. Não tem a ver com política.

d) Incorreto. Não houve uma supressão simbólica, e sim um destaque, mesmo que ele não seja
mais como era feito nas suas terras de origem.

e) Correto. Como mencionado, a incorporação dos elementos africanos e europeu possibilitou


uma difusão e ressignificação da prática.

Gabarito: E

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13. QUESTÕES APROFUNDAMENTO - (COMENTÁRIOS)


(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Ale Lopes)
“Objetivando regulamentar a atividade criatória, em 1688, a coroa portuguesa decretou
alvará proibindo a criação de gado em uma área de dez léguas do Recôncavo Baiano. Essa
determinação demonstrava a força política dos produtores de cana (...) na medida em que
garantiram para si terras livres próximas ao litoral, delas afastando a criação bovina. (...) o
aumento dos rebanhos era correspondente à ampliação das áreas pastoris, alargando o
mapa geográfico da ocupação da ocupação do gado. Diante disso, dilatou-se a [distância]
entre o litoral e o sertão, com o contato comercial entre ambos se estruturando em torno
das feiras, apontando o caráter efetivamente mercantil que passou a ter a pecuária. Uma das
consequências imediatas desse processo foi o da formação, por parte dos colonizadores, de
uma vastíssima rede de propriedades: as fazendas de gado. (...)”
AQUINO, J. R. et al. Sociedade Brasileira: uma história através de movimentos sociais. Rio
de Janeiro: Record, 1999.
O texto trata de um período em que
a) a economia colonial continuou sendo exclusivamente dedicada à produção e exportação
de açúcar, que sabotou outras iniciativas.
b) o açúcar foi totalmente substituído pela pecuária na região nordeste da América
portuguesa, o que gerou a substituição da escravidão indígena pela africana.
c) a rivalidade entre pecuaristas e produtores de cana provocou a eclosão de uma guerra civil
entre recifenses e olindenses pelo status de capital da capitânia.
d) os nativos foram integrados à economia colonial, pois já eram exímios criadores de gado,
o que proporcionou a formação de uma elite indígena no Nordeste.
e) a crise do açúcar abriu oportunidade para a ascensão da pecuária no Nordeste, mas não
foi o suficiente para eclipsar a importância dos produtores de cana.
Comentários
Atenção a data e ao espaço citados: 1688, na Capitânia da Bahia, durante o Brasil Colônia.
O século XVII na América portuguesa é mercado pela diversificação das atividades
econômicas e pela expansão da ocupação portuguesa nos sertões brasileiros. Isto gerou uma
série de conflitos entre os próprios colonos e entre estes e os espanhóis, que, pelo Tratado
de Tordesilhas (1494), eram os legítimos donos de grande parte do interior e do sul do atual
território brasileiro. Entretanto, para não fugir do tema, recorde-se que as atividades que
começavam a disputar os investimentos com a produção açucareira eram: plantação de
tabaco; pecuária bovina e de muares; mineração; bandeirantismo; e a extração de gêneros
silvestres (drogas do sertão). Com isso em mente, vejamos o que caracterizava o período
abordado:

AULA 06: HB - Colônia I 106


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a) Incorreta. Como acabei de dizer e o próprio texto enfatiza, a economia colonial estava
passando por um processo de diversificação. É evidente que houve resistência da elite
açucareira, mas mesmo mantendo sua influência, ela não tinha poder suficiente para impedir
esse processo e surgimento de novas atividades econômicas. Afinal, também dependia delas
até certo ponto. O tabaco, por exemplo, servia de moeda de troca na compra de
escravizados africanos, enquanto o gado e os muares eram essenciais para o transporte de
mercadorias e pessoas e para a produção de ferramentas, roupas e carne para alimentação.
b) Incorreta. Em meados do século XVII, a atividade açucareira entrou em declínio devido à
concorrência do açúcar antilhano, mas a pecuária nordestina se fortaleceu, embora voltada
para a subsistência. Esta atividade se estendeu da Capitania do Maranhão, penetrando pelo
sertão, até as margens do rio São Francisco. Contudo, no século XVIII, a pecuária entrou em
decadência no Nordeste, pois não conseguiu superar a concorrência dos pecuaristas no
centro e no sul da colônia, que atendiam à demanda na região mineradora. Assim, como
bem informa o texto, os pecuaristas nordestinos tiveram certa prosperidade, mas não foram
capazes de superar a importância do açúcar e de seus produtores na economia e política
coloniais. Ainda, é preciso dizer que a escravidão indígena foi substituída pela africana em
vista da introdução dos engenhos de açúcar na colônia. Isto porque o tráfico internacional
de escravizados era um negócio lucrativo por si só e, combinado à produção e exportação
de açúcar, formava-se um ciclo econômico que se autoalimentava.
c) Incorreta. Na verdade, Recife e Olinda estavam localizadas na Capitânia de Pernambuco,
não da Bahia. Além disso, o conflito entre os habitantes das duas localidades era um reflexo
da rivalidade entre a elite açucareira olindense e os comerciantes recifenses. Inicialmente,
estes queriam apenas mais autonomia para si, buscando elevar Recife à categoria de vila,
desmembrando-se de Olinda. Em 1709, a Coroa portuguesa emitiu ordem criando a vila de
Santo Antônio do Recife. A reação dos senhores de engenho olindense foi violenta, dando
início à Guerra dos Mascates, que durou de 1710 a 1711.
d) Incorreta. Os nativos não conheciam o gado bovino, que foi introduzido em 1534 por
Martim Afonso de Souza, na capitânia de São Vicente. Anos depois, Tomé de Souza levou-o
para a Bahia, porque os engenhos de açúcar necessitavam de bois como alimento, de couro
para a fabricação de roupas e utensílios domésticos, como tração animal para as moendas,
para os carros de boi que transportavam a cana. No início, os rebanhos pertenciam aos
senhores de engenho. Com o passar do tempo, o gado foi sendo deslocado cada vez mais
para longe. A principal razão desse deslocamento estava associada ao uso inadequado e
intensivo das terras que esgotava rapidamente o solo. Assim, gradativamente, os novos
campos para as lavouras foram abertos substituíram os pastos e expulsaram o gado para
mais longe, adentrando o interior do Nordeste. Assim, vemos que a pecuária não teve nada
a ver com a formação de uma elite indígena.
e) Correta! Foi o que expliquei na justificativa da letra “b”.
Gabarito: E

(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)

AULA 06: HB - Colônia I 107


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“[Os portugueses] que se submeteram à nossa obediência são os principais fatores da cultura
da terra; alguns permanecem na antiga posse dos engenhos, outros compram muito dos
engenhos confiscados. Ainda outros são lavradores de canaviais ou servem nos ofícios
necessários ao movimento dos engenhos, entre os quais os ofícios para cujo desempenho
não se apresentou até agora nenhum holandês, [...]. Os portugueses são também zelosos no
cultivo dos seus canaviais e graças a eles a agricultura do país progrediu, se bem que, a não
ser poucas vezes, se veja algum deles fazer por suas próprias mãos algum trabalho; sabem,
porém, fazer trabalhar seus negros”.
DUSSEN, Adriaen van der. Relatório sobre as capitanias conquistadas no Brasil pelos
holandeses [1639]. Rio de Janeiro: IAA, 1947, p. 85-86.
Com base no relatório do conselheiro da Companhia das Índias Ocidentais sobre as
capitanias conquistadas no Brasil, assinale a alternativa correta:
a) Como não dominavam o processo de produção de açúcar e falharam em cooptar os
colonos portugueses, os holandeses se retiraram em pouco tempo do Nordeste.
b) Os holandeses empreenderam uma política de aliança com colonos portugueses
remanescentes, fornecendo-lhes de empréstimos e instituindo a tolerância religiosa.
c) Os portugueses recusavam-se a fazer negócios ou trabalhar para a companhia holandesa
independente da oferta feita a eles, dificultando a estadia dos invasores.
d) Os portugueses se mostraram resistente ao domínio holandês, pois a escravidão africana
foi abolida gerando um grande prejuízo econômico aos proprietários de engenho.
Comentários
A questão aborda o período em que o Nordeste brasileiro foi ocupado pelos holandeses, o que
se deu entre 1635 e 1648. A invasão foi motivada pela incorporação de Portugal e suas colônias
aos domínios espanhóis devido à União Ibérica (1580-1640). Na época, os holandeses já estavam
em guerra com a Espanha, da qual tentavam se tornar independentes politicamente. Por isso,
passaram a atacar as colônias e espanholas e, agora, também as portuguesas. Eles tinham dois
objetivos básicos: prejudicar a Espanha; e conseguir colônias para si, obtendo fornecedores
privilegiados de matérias-primas valiosas no mercado europeu, como o açúcar. Porém, os
holandeses desconheciam as técnicas e saberes necessários à produção do açúcar. Por isso,
tiveram que recorrer aos colonos portugueses remanescentes após a conquista do território.
Sobre isso, vejamos o que é correto afirmar:
a) Incorreta. Eles não falharam em cooptar os colonos portugueses, pelo menos não por alguns
anos. Note que o relatório foi feito em 1639, como consta na referência bibliográfica abaixo do
texto. Nesse período, o administrador holandês responsável pelo Nordeste brasileiro era Maurício
Nassau, função que assumira desde 1637. Ele aplicou uma série de reformas urbanas e
institucionais que modernizaram o sistema colonial. Além disso, foi bem sucedido em angariar a
cooperação dos grandes proprietários portugueses, fornecendo-lhes empréstimos. No entanto,
em 1645, ele foi deposto do cargo devido à discordâncias com a diretoria da Companhia das
Índias Ocidentais (WIC). A partir de então, a companhia passou a pressionar os colonos

AULA 06: HB - Colônia I 108


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portugueses a pagarem os empréstimos realizados nos últimos anos. Assim, gerou-se a


insatisfação que acabaria nos conflitos armados que expulsaram os holandeses em 1648.
b) Correta! No século XVII, a Holanda era um conjunto de principados, cidades-Estados e
confederações burguesas. A maioria delas eram de orientação liberal e protestante. Por isso, a
tolerância religiosa já era instituída nos territórios e passou a valer no Nordeste brasileiro. Não
promover perseguições religiosa aos católicos, como os portugueses, contribuiu para que não se
nutrisse um ódio mais consistente aos invasores. Contudo, o mais importante foi realmente os
empréstimos e a política econômica realizados por Maurício de Nassau. Essas estratégias
garantiram a cooperação dos portugueses na produção de açúcar por um longo tempo, mas com
a saída de Nassau isso acabou, como disse antes.
c) Incorreta. Como disse acima, os portugueses remanescentes acabaram cedendo e cooperando
com os holandeses graças à política econômica e de tolerância religiosa empreendida por estes
últimos.
d) Incorreta. Os holandeses não aboliram a escravidão. Inclusive, eles também invadiram e
conquistaram domínios portugueses na África, importantes portos pelos quais os escravos eram
comercializados. Controlando pontos estratégicos do tráfico e um território produtor de um
gênero lucrativo, os holandeses mantiveram o sistema de produção de grande latifúndio e mão
de obra escrava. A resistência dos portugueses só se radicalizou quando a WIC passou a pressionar
para obter o pagamento dos empréstimos.
Gabarito: B

(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)

O pintor, desenhista e gravador holandês Frans Janszoon Post foi um dos primeiros artistas
europeus a retratar paisagens do Brasil, no período colonial. Assim, como outros documentos, os
quadros e pinturas são considerados fontes históricas que carregam características próprias do
contexto em que foram produzidos. Analisando-os é possível captar visões de mundo que
circulavam nas sociedades de seu tempo.

Carro de bois, 1638, Frans Janzroon Post.

A representação de Post

AULA 06: HB - Colônia I 109


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a) é isenta de interesses econômicos, expressando a contemplação ingênua e bucólica da


paisagem.

b) compõe uma pintura informativa e serena, mas carregada de elementos pitorescos.

c) reflete os valores liberais e protestantes dos holandeses, que pretendiam descolonizar o


Nordeste.

d) introduz o uso do realismo na construção de uma crítica social por meio da arte.

e) expressa o ideal romântico de arte e beleza através da utilização de cores frias e


equilibradas.

Comentários
A questão aborda o período em que o Nordeste brasileiro foi ocupado pelos holandeses, o que
se deu entre 1635 e 1648. A invasão foi motivada pela incorporação de Portugal e suas colônias
aos domínios espanhóis devido à União Ibérica (1580-1640). Na época, os holandeses já estavam
em guerra com a Espanha, da qual tentavam se tornar independentes politicamente. Por isso,
passaram a atacar as colônias e espanholas e, agora, também as portuguesas. Eles tinham dois
objetivos básicos: prejudicar a Espanha; e conseguir colônias para si, obtendo fornecedores
privilegiados de matérias-primas valiosas no mercado europeu, como o açúcar. Após
conquistarem parte de territórios do litoral dos atuais estados de Pernambuco, Paraíba e Rio
Grande do Norte, os holandeses começaram a instalar sua empresa colonial, apropriando-se das
estruturas da economia açucareira já instalada, inclusive buscando cooptar colonos portugueses
remanescentes a manter seus negócios na região. O quadro exposto pelo enunciado data do
período da administração do conde Maurício de Nassau, que governou o Brasil holandês entre
1637 e 1644. Nassau trouxe consigo uma missão artística e científica composta por vários
estudiosos e artistas holandeses para estudar e retratar as novas possessões holandesas. Frans
Post foi um desses artistas. Ele se concentrou em pintar as paisagens nordestinas. Com isso em
mente, vejamos o que é correto afirmar sobre a pintura selecionada:
a) Incorreta. A intenção da missão artística e científica era estudar o território conquistado para
informar as autoridades metropolitanas na Holanda a respeito das potencialidades econômicas da
região.
b) Correta! Como falei acima, a intenção do grupo de Post era informar as autoridades
metropolitanas sobre as potencialidades econômicas da região. Repare na pintura como o artista
se preocupou em retratar: os trabalhadores utilizados na produção açucareira e os meios de
transporte da mercadoria (o carro de bois em primeiro plano); um engenho ao fundo, principal
unidade de produção da mercadoria mais importante da região, o açúcar; o rio São Francisco, que
atravessa a pintura e ganha destaque, por ser um importante recurso geográfico para a economia
local; a vasta paisagem que se perde no horizonte indicando que ainda há muito a ser explorado.
Entretanto, por mais objetiva que a obra de Post possa parecer, ela não está isenta de carregar
traços que dizem mais a respeito da visão de mundo do artista do que do mundo que ele retrata.
As cores mais ou menos homogêneas de tons rebaixados dizem mais respeito às técnicas mais

AULA 06: HB - Colônia I 110


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difundidas na pintura holandesa do que à paisagem retratada. A grandiosidade da paisagem que


Post tenta capturar também revela a forma como os europeus viam a América: como um lugar
onde a natureza se sobrepunha à civilização de forma esmagadora.
c) Incorreta. Os holandeses não pretendiam descolonizar o Nordeste brasileiro. Pelo contrário,
pretendiam estabelecer seu próprio domínio colonial da região. A missão artística e científica
servia exatamente para estudar o local para aproveitar todo seu potencial econômico.
d) Incorreta. Esse tipo de realismo só foi concebido a partir do final do século XIX.
e) Incorreta. O romantismo é um movimento artístico surgido no século XIX. Além disso, ele não
se caracterizava pelo uso de cores frias e equilibradas. Era um movimento que desafia padrões e
regras formais muito acadêmicas, próprias do neoclassicismo. Nesse sentido, abusava de cores
vivas e quentes, sem dar tanta atenção a contornos perfeitos, com o fim de transmitir maior
emoção e sentimentalismo.
Gabarito: B

(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)


“O ciclo da guerra na sociedade tupinambá era dotado de ritmo regular: os ritos
estabeleciam com precisão o que os indivíduos deviam fazer no curso dos acontecimentos e
situações sociais, que se desenrolassem entre a determinação do ataque e a consumação do
sacrifício dos inimigos aprisionados. A rigor, todas as atividades guerreiras faziam parte de u
conjunto de ritos, organicamente integrados e interdependentes. Nele também se
integravam os ritos de sacrifício do inimigo, de antropofagia [...].”
FERNANDES, Florestan. A função social da guerra na sociedade tupinambá. São Paulo:
Pioneira, 1970, p. 67.
A guerra era uma das preocupações centrais dos tupinambás e equivalia a um ritual que
representava o meio de
a) sobreviver através do canibalismo devido à escassez de outras fontes de proteína.
b) alcançar um estado divino, no qual se reinaria sobre os demais grupos humanos.
c) mergulhar o mundo em um estado de barbaridade e violência sem fim.
d) destruição dos valores e crenças das culturas dos colonizadores europeus.
e) vingança, controle dos inimigos e absorção de suas melhores características.
Comentários
O tema da questão são os povos indígenas que habitavam o território brasileiro no período
da chegada dos portugueses e sua colonização da região, a partir do século XVI. A população
nativa equivalia a cerca de três milhões de pessoas e havia uma grande diversidade de etnias,
línguas e níveis de domínio tecnológico. Alguns grupos eram nômades, vivendo da caça, da
pesca e da coleta, enquanto outros eram sedentários e viviam da agricultura de batata-doce,
raízes e algumas frutas. Não há vestígios de sociedades rigidamente estratificadas e
hierarquizadas, que dispusessem de estruturas complexas e centralizadas de poder.

AULA 06: HB - Colônia I 111


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Estratégia Vestibulares – Aula 06 – Colônia I

Entretanto, não quer dizer que não tenha havido tentativas de unificar vastos territórios sob
o comando de um grupo. De qualquer forma, a questão aborda especificamente os povos
tupinambás. Eles são originários do Recôncavo Baiano, mas espelharam por boa parte do
litoral brasileiro dando origem a outros povos que se fixaram mais ao sul, como os tamoios
que habitavam a região entre São Sebastião e Cabo Frio, no Sudeste. Curiosamente, mesmo
compartilhando a mesma língua, origem e costumes, as relações entre as tribos tupinambás
frequentemente eram conflituosas, o que tornou a guerra um elemento marcante de sua
cultura. Com base nisso, vejamos o ritual de guerra representava para os tupinambás:
a) Incorreta. De fato, os vencedores das guerras costumavam canibalizar o inimigo vencido.
Contudo, essa prática não era realizada por mera questão de sobrevivência ou necessidades
alimentares, como veremos mais adiante.
b) Incorreta. Sem dúvidas era um ritual que envolvia crenças religiosas, porém não com o
objetivo de tornar-se divino.
c) Incorreta. Isso seria uma visão preconceituosa da cultura tupinambá. Inclusive, foi como os
europeus interpretaram esses costumes quando chegaram na América. Para os tupinambás,
no entanto, isso não era uma barbaridade e tinham um significado mais amplo.
d) Incorreta. A guerra já era praticada entre os tupinambás antes da chegada dos
colonizadores. Portanto, esse ritual não era desempenhado apenas quando o inimigo era
europeu, mas também em conflitos entre os próprios tupinambás.
e) Correta! No fim das contas, a guerra tinha mesmo um sentido de fazer justiça e de punir o
inimigo, em geral pela morte de parentes e entes queridos. Ainda, resultava na submissão
desse inimigo ao domínio do vencedor. Por fim, o ritual de antropofagia (canibalismo) dos
membros mais fortes (o líder e/ou os guerreiros) da comunidade vencida pelos vencedores
era um meio de absorver suas qualidades, fortalecendo a si mesmo.
Gabarito: E

(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)


“Em 1763, a capital do Vice-Reinado foi transferida de Salvador para o Rio [de Janeiro]. As
duas cidades tinham aproximadamente a mesma população (cerca de quarenta mil
habitantes), mas uma coisa era ser a capital e, outra, apenas a principal cidade do Nordeste.”
FAUTOS, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp, 2008, p. 99.
A transferência da capital da América portuguesa para o Rio de Janeiro se deu em função
do deslocamento do eixo econômico da colônia da
a) extração de borracha na Amazônia para a criação de gado no Sul.
b) coleta de drogas do sertão no Norte para a economia cafeeira em São Paulo.
c) economia açucareira centrada no Nordeste para a mineração no Sudeste.
d) pecuária estabelecida no Centro-Oeste para a plantação de mate no Sul.
e) produção de tabaco na Bahia para o cultivo de mandioca em Minas Gerais.

AULA 06: HB - Colônia I 112


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Estratégia Vestibulares – Aula 06 – Colônia I

Comentários
Em primeiro lugar, repare no ano citado pelo texto para a transferência da capital colonial:
1763. Então, lembre-se que no século XVIII a colonização já era um projeto consolidado no Brasil,
que era um dos maiores produtores de açúcar do mundo. Entretanto, a colônia também já
apresentava certa diversidade regional no que diz respeito a economia. Havia também o cultivo
de tabaco, mandioca e mate, além da pecuária bovina e equina. Por outro lado, era comum a
extração de algumas especiarias silvestre encontradas nas matas brasileiras. Ainda, no final do
século XVII havia sido descoberto minas de ouro que provocaram uma grande migração para a
colônia e uma série de reformas nas instituições administrativas para controlar essa exploração.
Sabendo desses fatores, vejamos de e para quais atividade e região o eixo econômico se deslocou
gerando a transferência da capital colonial no século XVIII:
a) Incorreta. No século XVIII, a extração de borracha ainda não era praticada, o que só teve
início no século XIX. Desde o século XVII, a Amazônia foi sendo explorada e colonizada em função
das drogas do sertão, especiarias silvestres encontradas na flora local, como o cravo, a pimenta,
o cacau, o anil, o urucum e a castanha-do-pará. O desenvolvimento dessa economia não provocou
a transferência da capital do Brasil de Salvador para o Rio de Janeiro, mas sim a separação
administrativa da região Norte do resto da colônia, por meio da criação do Estado do Maranhão
e Grão-Pará, em 1621.
b) Incorreta. Como vimos, a economia extrativista no Norte não teve a haver com a
transferência da capital do Brasil, mas sim com a criação de uma nova zona administrativa na
colônia. Por outro lado, a economia cafeeira ainda não tinha sido desenvolvida no século XVIII na
América portuguesa, o que só começou a acontecer no século XIX, principalmente após a
independência do Brasil.
c) Correta! Desde o século XVI, o açúcar era o principal produto exportado pela América
portuguesa, sendo a base de sua economia. A produção estava centrada na região Nordeste, à
qual a cana-de-açúcar se adaptava bem e onde havia portos bem localizados para o comércio com
a Europa e a África. Entretanto, ao longo do século XVII, a economia açucareira sofreu vários
abalos decorrentes das invasões holandesas e da fundação de colônias açucareiras de outras
nações europeias no Caribe que aumentaram a concorrência internacional. Enquanto isso, no final
daquele mesmo século, bandeirantes paulistas encontraram ouro na região de Minas Gerais. Isso
provocou uma grande migração para a região, sua ocupação e exploração de forma acelerada e
desordenada. Eventualmente, a metrópole conseguiu impor seu controle sobre a mineração, que
se tornou a atividade mais lucrativa na América portuguesa. Com isso, o eixo econômico se
deslocou para o Sudeste. Por sua vez, era mais vantajoso que a capital da colônia ficasse em um
porto mais próximo da região mineradora, para melhor controlar circulação e exportação do ouro.
d) Incorreta. O Centro-Oeste era a região menos colonizada do Brasil. Sua ocupação foi
iniciada em função da extração aurifica, conforme foram encontradas mais jazidas de ouro nos
territórios dos atuais estados de Goiás e Mato Grosso. Contudo, quando as reservas minerais se
esgotavam era comum os colonos migrarem de volta para sua terra natal ou para uma outra região
mais promissora. Alguns poucos ficavam para viver da agricultura ou pecuária voltadas para
subsistência. Quanto ao Sul da colônia, a colonização foi iniciada pela instalação de missões

AULA 06: HB - Colônia I 113


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Estratégia Vestibulares – Aula 06 – Colônia I

jesuítas que aldeavam os indígenas, que, no entanto, foram massacradas por expedições de
bandeirantes. Algumas povoações restaram desses movimentos, sobrevivendo da pecuária e do
cultivo de erva-mate. Quando a mineração despontou no Sudeste, o Sul se tornou seu principal
fornecedor de gados, muares e produtos derivados, como o couro. Mesmo assim, não era a
principal atividade econômica da América portuguesa a ponto de demandar que a capital ficasse
mais próxima dela.
e) Incorreta. O tabaco era uma produção secundária, cujo produto servia de moeda de
troca no tráfico de escravizados na África. O que mantinha a capital na Bahia era sua importância
na economia açucareira e sua localização estratégica para a navegação. Por outro lado, a mandioca
era cultivada em todo o território nacional, mas para consumo interno, não representando um
produto lucrativo que provocaria a transferência da capital.
Gabarito: C

(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Ale Lopes)


“Nossa milícia, Senhor, é diferente da regular que se observa em todo o mundo.
Primeiramente nossas tropas com que vamos à conquista do gentio bravo desse vastíssimo
sertão não são de gente matriculada no livro de Vossa Majestade, nem obrigada por soldo,
nem por pagamento de munição.”
Carta de Domingos Jorge Velho ao rei de Portugal, em 1694.
A partir da missiva podemos afirmar que o bandeirantismo se caracterizava pelo(a):
a) convívio pacífico com os indígenas do sertão.
b) rejeição completa de financiamento estatal.
c) autonomia das tropas arregimentadas em relação à Coroa.
d) despreparo técnico dos bandeirantes.
e) preocupação exclusiva com a busca por ouro.

Comentários
Note que o tema da questão o bandeirantismo, um movimento de expedições organizadas pelos
habitantes da Capitânia de São Vicente, no Brasil, ao longo dos séculos XVII e XVIII. Essas
expedições adentravam o interior da colônia em busca de basicamente três coisas: metais
preciosos; indígenas para escravizar; ou gêneros silvestres comercializáveis. Além disso, também
eram contratados para atacar quilombos e recuperar escravizados fugidos. O texto destacado é
um trecho da carta de um líder bandeirante, em 1694. Naquele momento, a bandeira de
Domingos Jorge Velho estava na Capitânia de Pernambuco, pois havia sido contratada para
combater o famoso Quilombo dos Palmares, o que realizou com sucesso, inclusive capturando
uma de suas principais lideranças: Zumbi. Conhecendo esse contexto, vejamos o que podemos
afirmar sobre os bandeirantes com base nessa carta:

AULA 06: HB - Colônia I 114


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Estratégia Vestibulares – Aula 06 – Colônia I

a) Incorreta. A relação dos bandeirantes com os indígenas era extremamente complexa. Por um
lado, os habitantes de São Vicente se miscigenavam a gerações com os nativos locais que a eles
se aliavam, devido a distância da capitânia em relação à metrópole e os custos altos de transporte,
o que resultava no isolamento daquela região. Inclusive, isso dificultou até mesmo a prosperidade
econômica da capitânia, que recebeu poucos investimentos e atenção da Coroa na instalação da
empresa açucareira, diferente de Pernambuco e Bahia. Assim, não restou muitas opções aos
colonos paulistas a não ser se misturar com os nativos, para conhecer a região e aprender a
sobreviver nela. Por outro lado, esse isolamento e a desvantagem econômica também dificultaram
a aquisição de escravizados africanos pelos paulistas, pois eram muito caros. Por isso, esses
colonos decidiram fazer uso da escravidão indígena, mais acessível, uma vez que era só se fazer
um acordo com alguma tribo local que tivesse prisioneiros de guerra ou adentrar no sertão para
apresar nativos. De uma forma ou de outra, os bandeirantes paulistas acabavam tendo um grande
convívio com os indígenas, incorporando muitos de seus costumes. Vale dizer que eles até falavam
mais tupi do que português. No entanto, esse convívio frequentemente envolvia violência e isso
fica evidente no trecho da carta que diz as tropas bandeirantes iam “à conquista do gentio bravo
desse vastíssimo sertão”. “Gentio” e “bravo” eram adjetivos comumente usados para designar
povos pagãos, mas principalmente indígenas que ainda não tinham sido escravizados ou
assimilados pela sociedade colonial, justamente aqueles com os quais os bandeirantes mais
entravam em conflito.
b) Incorreta. Como disse antes, era comum os bandeirantes serem contratados para destruir
quilombos e capturar escravizados fugidos. Pois bem, não era raro que o contratante fosse a Coroa
ou as autoridades coloniais. No próprio caso da guerra contra Palmares, foi o Governador Geral
do Brasil que contratou a bandeira de Domingos Jorge Velho para combater o quilombo. Por seu
turno, a Coroa também contratou muitos bandeirantes para procurar metais preciosos no interior
da América portuguesa. Essas eram as chamadas bandeiras de prospecção.
c) Correta! As bandeiras eram organizadas por particulares, isto é, pelos próprios colonos,
justamente porque nos primeiros séculos de colonização a Coroa não se importava tanto com o
sudeste da América portuguesa. Por mais que o Estado eventualmente os contratassem para
missões específicas, como a busca por ouro ou a destruição de quilombos, quem comandava e
organizava as tropas eram os próprios bandeirantes. Isso fica evidente quando Domingos Jorge
Velho fala que suas tropas “não são de gente matriculada no livro de Vossa Majestade, nem
obrigada por soldo, nem por pagamento de munição”.
d) Incorreta. O preparo técnico dos bandeirantes variava de expedição para expedição. Alguns
deles eram mais ricos, outros mais pobres. No caso de Domingos Jorge Velho, ele tinha uma das
bandeiras mais famosas e bem sucedidas da época, frequentemente procurada por fazendeiros e
pela própria Coroa para prestar serviços. Por isso, no seu caso, podemos concluir que despreparo
técnico não fosse um problema. Além disso, é evidente que na carta ele buscou se gabar que não
necessitava do governo para ter soldo ou munições, pois tinha seus próprios meios de conseguir
tais coisas de forma autônoma.
e) Incorreta. Como mencionei no comentário, os bandeirantes podiam ter vários objetivos, entre
os quais a busca pelo ouro. Ressalto também no trecho aqui exposto não se menciona nada sobre

AULA 06: HB - Colônia I 115


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o ouro e, sabendo que naquele ano Domingos Jorge Velho estava em Pernambuco para combater
Palmares, fica evidente que o metal valioso não era sua única preocupação.
Gabarito: C

(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)


“[...] ordenei ora de mandar fazer uma fortaleza e povoação grande e forte na Bahia de
Todos os Santos por ser para isso o mais conveniente lugar que há nas ditas terras do Brasil,
para dali se dar favor e ajuda às outras povoações e se ministrar justiça e prover nas coisas
que cumprem a meu serviço e aos negócios de minha fazenda, e a bem das partes e pela
muita confiança que tenho em Tomé de Souza, fidalgo de minha casa, que nas coisas de que
o encarregar me saberá bem servir e o fará com o cuidado e diligência que se dele espera,
e como o até aqui tem feito nas coisas do meu serviço de que foi encarregado, hei por bem
e me apraz de lhe fazer mercê dos cargos de capitão da povoação e terras da dita Bahia de
Todos os Santos e de governador-geral do dito Brasil por tempo de três anos e com
quatrocentos mil reais de ordenado em cada um ano, pagos à custa de minha fazenda”.
D. JOÃO III. Carta de nomeação de Tomé de Souza [7 jan. 1549]. In: INÁCIO, Inés da
Conceição; LUCA, Tania Regina de. Documentos do Brasil colonial. São Paulo: Ática, 1993,
p. 53.
A criação do Governo Geral para gerir a América portuguesa esteve ligada
a) ao sucesso da maioria das capitanias hereditárias na produção e exportação de açúcar.
b) à diminuição das guerras contra as populações indígenas, cuja maioria se submeteu
aos portugueses ou se isolou.
c) à vinda dos primeiros missionários franciscanos, que trabalhariam na conversão dos
nativos, mantendo uma parceria com a coroa.
d) à descoberta de vastos depósitos de ouro em Minas Gerais pelos bandeirantes
paulistas.
e) ao acirramento da competição mundial, com o consequente crescimento das incursões
estrangeiras no Brasil.

Comentários

Em primeiro lugar, repare na data em que o documento apresentado foi escrito: 1549, portanto,
século XVI. O tema específico é a criação do Governo Geral para administrar a colônia portuguesa
na América: o Estado do Brasil. Fazia quase cinco décadas que os portugueses começaram a
explorar o território brasileiro. Até a década de 1530, predominou uma colonização menos
sistemática, com o estabelecimento de algumas feitorias e fortes em pontos estratégicos na costa
brasileira. A partir delas, os primeiros colonos tanto defendiam as novas terras de invasões
estrangeiras, quanto negociavam ou guerreavam com as nações indígenas nativas. A economia
estabelecida entre os grupos mais abertos à negociação era feita a base do escambo. Entretanto,

AULA 06: HB - Colônia I 116


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na década de 1530, foram criadas as capitanias hereditárias. A intenção era melhor explorar a
terra, por meio da produção agrícola em larga escala de um produto muito valioso no mercado
europeu: o açúcar. Assim, o rei concedia um quinhão de terra (a capitania) a um fidalgo ou burguês
de sua corte que tivesse recursos para investir nele. Porém, isso não foi o suficiente para despontar
uma colonização sistemática, com um maior controle da Coroa sobre a colônia. Por isso, em 1548
foi criado o Governo Geral e um ano depois era nomeado Tomé de Souza para comandá-lo. Agora,
vejamos ao que isso estava ligado:

a) Incorreta. Como mencionei antes, a instituição das capitanias hereditárias não foi suficiente para
explorar o máximo do potencial das novas terras. Somente as capitanias de São Vicente e
Pernambuco haviam prosperado naquelas duas décadas antes da criação do Governo Geral. A
maioria dos capitães donatários nem sequer se interessaram em conhecer suas novas terras, pois
o investimento necessário era muito grande e o retorno muito incerto. Apesar disso e da criação
da nova instância de poder na colônia, o sistema de capitanias hereditários continuou até o final
do século XVIII, quando foi extinto. Todavia, os capitães respondiam ao governador geral.

b) Incorreta. Pelo contrário, muitas nações indígenas persistiram lutando para impedir o avanço
português no continente. Justamente por isso, elas representavam uma ameaça tão grande de
perder as novas terras quanto a possibilidade de outra nação europeia vir e conquistar tudo.
Assim, o Governo-Geral também representava um esforço em dar mais coesão administrativa e
militar para combater os nativos insubmissos.

c) Incorreta. Na verdade, junto com Tomé de Souza veio a primeira missão jesuíta, não franciscana.
Chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega, os jesuítas tinham a função de converter os nativos ao
cristianismo, educar os colonos e auxiliar na administração colonial.

d) Incorreta. O ouro só foi encontrado em Minas Gerais no final do século XVII, muitas décadas
depois do Governo Geral ter sido criado. Por outro lado, em 1545, os espanhóis encontraram
vastos depósitos de prata na Bolívia. Isso fez com que a Coroa acreditasse mais na hipótese de
também no Brasil haver reservas naturais de metais preciosos. Portanto, era necessário assegurar
o domínio sobre a região e aperfeiçoar sua administração como se deu com a criação do Governo
Geral.

e) Correta! Até aqui já vimos que a criação do Governo Geral teve mais de uma motivação: o
fracasso da maioria das capitanias hereditárias; o aumento das guerras com os indígenas; a
descoberta de prata pelos espanhóis; e a vinda da primeira missão jesuíta. Aqui temos mais uma,
que também já havia mencionado na letra “b”: a competição com outras nações europeias.
Conforme a notícia de novas terras ricas em recursos naturais se espalhava, outros países europeus
se interessaram em tentar realizar semelhante empreendimento. França, Holanda e Inglaterra
começaram a tentar se apoderar de terras que supostamente pertenciam à portugueses e
espanhóis. Estes últimos também disputavam a posse nos territórios fronteiriços entre suas
colônias na América do Sul.

Gabarito: E

AULA 06: HB - Colônia I 117


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(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)

A aparição da cultura ceramista entre os grupos humanos que habitavam a região do atual
Brasil pode ser considerada um marco civilizatório da pré-história brasileira porque

a) indicava que já havia tido contato entre indígenas e europeus antes da modernidade,
quando estes últimos trouxeram parte de seu conhecimento avançado para o continente
americano.

b) é uma evidência de que os povos pré-históricos passavam por um processo de


sedentarização e revolução agrícola, o que gerou a necessidade de armazenas alimentos entre
outras necessidades.

c) representava uma forma sofisticada de resistência cultural contra a colonização


portuguesa, que além de transformar os nativos em mão de obra, obrigava-os a adotar a cultura
lusitana.

d) é um indício que a civilização andina estendia seu domínio até o litoral brasileiro,
exercendo tanto influência política e econômica quanto cultura, de modo que a arte ceramista de
difundiu por todo o continente.

e) tem datação muito recente, demonstrando que os nativos viviam como caçadores-
coletores por todo o território brasileiro até a chegada dos europeus na modernidade.

Comentários
A ocupação humana do território brasileiro é, pelo menos, anterior a 12 mil anos atrás,
considerando os sítios arqueológicos conhecidos hoje pelos pesquisadores. Objetos e materiais
feitos com cerâmica encontrados nesses lugares indicam essa técnica surgiu entre esses grupos
entre 5 e 4 mil anos atrás. Sabendo disso, vejamos por que isso significa um marco na civilização
pré-histórica brasileira:
a) Incorreta. Não há contatos comprados entre europeus e indígenas americanos antes do período
moderno. As civilizações, técnicas e modos de vida desenvolvidos na América antes disso são fruto
da cultura dos próprios nativos que ocupavam o continente a milhares de anos.
b) Correta! Por volta de 5 mil anos atrás, diferentes grupos humanos que habitavam o território
brasileiro começaram a cultivar produtos agrícolas, o que possibilitou sua fixação em determinadas
áreas. A necessidade de armazenar a produção agrícola a médio e longo prazo provavelmente
proporcionou o desenvolvimento da cultura cerâmica. Não só a armazenagem de comida seria
revolucionada, mas também o próprio preparo dos alimentos, com a confecção de panelas e
outros utensílios que permitiam melhor cozinha-los. Entretanto, a cerâmica ganhou muitos outros
usos nessas sociedades pré-histórica, como na sua aplicação para confecção de urnas funerárias,
o que sugere um novo comportamento em relação à morte. Por todas essas razões, o advento da
cerâmica entre as populações nativas representa um marco civilizatório em sua história.

AULA 06: HB - Colônia I 118


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Estratégia Vestibulares – Aula 06 – Colônia I

c) Incorreta, pela mesma razão que a letra “a”. No período abordado pela questão, os portugueses
não tinham chegado a América ainda. Nem sequer existia Portugal como um país. Lembre-se,
estamos falamos da pré-história.
d) Incorreta. Há muitos debates sobre a influência das civilizações andinas (ancestrais dos incas)
no desenvolvimento cultural dos demais povos durante a pré-história sul-americana. Entretanto,
há evidência que os grupos humanos que habitavam a Amazônia elaboraram uma cultura
ceramistas de forma autônoma aos grupos andinos.
e) Incorreta. Apesar de muitos grupos ainda viverem como caçadores-coletores quando os
europeus chegaram ao continente americano, na modernidade, havia muitas civilizações
organizadas de outras maneiras desde o período pré-histórico. Como disse antes, por volta de 5
mil anos atrás ocorreu um processo de sedentarização em muitos grupos que passaram a praticar
agricultura. Isso proporcionou a eles que se fixassem, desenvolvessem novas técnicas e materiais
com os recursos disponíveis. Com isso, as sociedades cresciam e sua organização se tornava mais
estratificada.
Gabarito: B

(Estratégia Vestibulares/2021/Profe. Alê Lopes)

EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE ENGENHOS DE AÇÚCAR EM CADA CAPITANIA

CAPITANIA 1570 1583 1612 1629

Pará, Ceará, - - - -
Maranhão

Rio Grande - - 1 -

Paraíba - - 12 24

Itamaracá 1 - 10 18

Pernambuco 23 66 99 150

Sergipe - - 1 -

Bahia 18 33 50 8

Ilheús 8 3 5 4

Porto 5 1 1 -
Seguro

Espírito 1 6 8 8
Santo

AULA 06: HB - Colônia I 119


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Rio de - 3 114 60
Janeiro

São Vicente, 4 6 - -
Santo Amaro

BETHENCOURT, F.; CHAUDUHURI, K. História da Expansão Portuguesa. Lisboa: Círculo de


Leitores, 1998, p. 316.

Com base nos dados apresentados, é que correto afirmar que, nos primeiros séculos da
América portuguesa, o desenvolvimento da economia açucareira

a) prosperou nas capitanias do Nordeste, onde não apenas o clima era propício para o
cultivo da cana, como também era mais conveniente para as rotas marítimas.

b) prevaleceu na região Centro-Oeste, de ocupação mais antiga e onde a oferta de mão de


obra indígena passível de escravização era alta.

c) foi responsável pela ascensão de São Vicente à capitânia mais rentável da colônia,
integrando-a ao comércio exterior e ao tráfico de africanos.

d) possibilitou a ocupação do Sul da colônia, onde os nativos já tinham experiência com a


plantação de cana e tabaco, gêneros lucrativos no mercado internacional.

e) manteve-se a partir das relações de escambos entre indígenas e portugueses, que dessa
forma organizavam um uma troca de mercadorias por trabalho.

Comentários
Em primeiro lugar, preste atenção no detalhe que o enunciado já nos comunicou o tema da
questão: o desenvolvimento da economia açucareira nos primeiros séculos de colonização da
América portuguesa. Portanto, falamos do período que abarca os séculos XVI e XVII,
aproximadamente. Mais especificamente, a tabela apresenta dados referentes aos anos 1570,
1583, 1612 e 1629, período que corresponde ao auge da produção exportação de açúcar no Brasil
colonial. Assim, temos o número de engenhos de açúcar em cada capitania, em cada um dos anos
citados. Desde já, é interessante notar que as três capitânias com mais engenhos são Pernambuco,
Bahia e Rio de Janeiro. Agora, vejamos é correto afirmar sobre esse processo:
a) Correta! De fato, a tabela comprova a grande maioria dos engenhos esteve localizada nas
capitanias nordestinas (Pernambuco, Bahia, Ilhéus, Itamaracá e Paraíba). A cana se mostrou bem
adaptável ao clima nordestino e a região estava posicionada em um local estratégico. Correntezas
marítimas e de vento proporcionaram que rotas marítimas fossem traçadas de modo que o
Nordeste era um ponto obrigatório na circulação entre Portugal, África e Brasil.
b) Incorreta. A ocupação da região Centro-Oeste se deu posteriormente em relação ao Nordeste
e o Sudeste, conforme se buscava por mais jazidas de ouro no interior da colônia. No final do

AULA 06: HB - Colônia I 120


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século XVII, as primeiras jazidas foram encontradas em Minas Gerais. Nos anos seguintes e ao
longo do século XVIII, territórios dos atuais estados de Tocantins, Mato Grosso e Goiás também
foram ocupados em decorrência da mineração.
c) Incorreta. São Vicente era uma das capitanias menos prósperas e rentáveis da colônia.
Realmente, no século XVI houve um esforço em instalar empresas açucareiras na região. Contudo,
a distância em relação à metrópole contribuiu para reduzir o empenho da Coroa em tornar esse
projeto efetivo. O Nordeste era muito mais vantajoso, do ponto de vista da monarquia e dos
investidores, como expliquei na letra “a”. Assim, os habitantes de São Vicente se dedicaram a uma
produção agrícola de médio e pequeno porte, voltada para gêneros de subsistência (mandioca,
milho, feijão etc.) que era comercializados com outras regiões da colônia. A precariedade da
colonização em São Vicente também fez com que muitos de seus habitantes se dedicassem ao
bandeirantismo; expedições autônomas que entravam nos sertões em busca de ouro, indígenas
para escravizar ou gêneros silvestres comercializáveis.
d) Incorreta. Os nativos brasileiros não tinham experiências prévias com o cultivo de cana de
açúcar. Além disso, o que motivou a ocupação do sul foram um misto de fatores, entre os quais:
missões jesuítas de aldeamento de indígenas; expedições bandeirantes que se fixaram pelo
caminho; colonos dedicados a criação de gado e muares.
e) Incorreta. As relações de escambo entre indígenas e portugueses prevaleceram somente
durante a primeira fase de colonização, entre 1500 e 1530, aproximadamente. A década de 1530
marca justamente o início dos esforços em fazer da América portuguesa um polo produtor de
açúcar. É nesse momento que são instituídas as Capitanias Hereditárias e os primeiros engenhos
são construídos. A partir de então, os portugueses passaram a escravizar indígenas em grandes
quantidades para servirem de mão de obra no cultivo de cana e na produção de açúcar. Na década
de 1570, os nativos começaram a ser substituídos pelos escravizados africanos nos engenhos mais
prósperos quando o tráfico internacional de escravizado passou a parecer altamente lucrativo para
os comerciantes portugueses.
Gabarito: A

(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Alê Lopes)


Entre 1630 e 1654 o Brasil esteve sob a administração holandesa em parte significativa do
nordeste do território. Atente para o que se diz a seguir sobre esse período:
I – A invasão holandesa relacionou-se ao processo de segmentação dos Países Baixos, que
estavam sob domínio espanhol, e à hegemonia da União Ibérica.
II – apesar de ter sido marcada por anos de conflito, a permanência dos holandeses também
encontrou períodos de relativa paz nos quais foi possível implementar uma administração
modernizante para os padrões da época.
III – o domínio holandês foi viabilizado porque foi criada a Companhia das Índias Ocidentais,
empresa que pretendia fundar uma colônia holandesa na América para controlar os centros
produtores de açúcar.
Está correto o que se afirma em

AULA 06: HB - Colônia I 121


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a) I, II e III.
b) II e III apenas.
c) I e III apenas.
d) I e II apenas.
Comentários
Todas as afirmações estão corretas.
I – A União Ibérica foi a unidade político e territorial construída pelo reino da Espanha entre
1580 e 1640, uma dominação que abarcou o reino português, a Espanha, parte dos Países
Baixos e outro territórios na própria Europa . Até então, os portugueses mantinham relações
amistosas e de comércio com os holandeses. Contudo, a partir do momento em que a União
Ibérica foi formada, a administração colonial portuguesa no Brasil passou a sofrer imposições
dos espanhóis. Como havia uma disputa entre holandeses e espanhóis pelo domínio da
região dos Países Baixos, uma das medidas da União Ibérica no Brasil foi cortar laços
comercias com holandeses. Em resposta, o Brasil colônia possou a ser alvo de incursões
militares dos flamengos, claro, com objetivos econômicos em função da expansão do açúcar.
II – correto, sendo que essa relativa paz ocorreu entre 1637 e 1643, durante a administração
de Maurício de Nassau. Ele realizou uma série de reformas em Pernambuco e priorizou
consideravelmente os principais núcleos urbanos — Recife e Olinda.
III – correto, pois além da disputa territorial e das desavenças com os espanhóis, os
holandeses também tinham interesses comerciais que precisavam ser melhor organizados, o
que foi viabilizado pela Companhia. Vale lembrar que a Companhia também atuou no
mercado de escravos.
Gabarito: A

(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Ale Lopes)


Não só esses gêneros poderiam neste novo mundo descoberto assegurar o suficiente para
enriquecer todo o orbe, como muitos outros que, mesmo em menor quantidade, não deixariam
de ajudar o enriquecimento da Coroa Real. Tais são o algodão, que se colhe abundantemente; o
urucum, do qual se extrai um excelente corante; o açafrão, muito apreciado pelos estrangeiros; a
canafístula; a salsaparrilha; os óleos, que competem com os melhores bálsamos para a cura de
feridas; as gomas e resinas perfumadas; a pita, da qual se obtém uma fibra de excelente qualidade
e que cresce em grande abundância; e muitos outros produtos que a cada dia a necessidade e a
cobiça hão de descobrir [...]
(Cristóbal Acuña. “Novo descobrimento do grande rio das Amazonas”, 1641)
O texto de época descreve a
a) a formação de cooperativas jesuíticas.
b) a busca por prata nos Andes da América Espanhola.

AULA 06: HB - Colônia I 122


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c) o inventário da Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e do Maranhão.


d) a expedição francesa que, após a expulsão dos franceses da França Antártica, fundou a
França Equinocial.
e) busca por produtos extrativistas dotados de potencial valor econômico por parte dos
colonizadores.

Comentários
a) errado, pois os jesuítas faziam aldeamentos com vistas à catequização.
b) falso, pois os produtos extrativistas listados pertencem à região amazônica.
c) atenção, errado, pois esta companhia foi criada em 1755 por articulações do Marques de
Pombal. Repare que o texto de época é de 1641.
d) errado, pois, apesar de os franceses, de fato, terem fundado a cidade de São Luís (atual
capital do Maranhão), em 1612, na região que ficou conhecida como França Equinocial, eles
também forma expulsos dessa área em 1615.
e) correto. Esses produtos coletados ficaram conhecidos como drogas do sertão, e se
tornaram importantes fontes de renda, monopolizada pela metrópole portuguesa no final do
século XVII. As expressão drogas do sertão era usada para caracterizar produtos florestais no
interior da região, representaram o primeiro esforço para extrair as especiarias lucrativas da
floresta no período colonial na Amazônia.
Gabarito: E

(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Alê Lopes)


As esculturas abaixo fazem parte do conjunto Passos da Paixão, de autoria de Antonio
Francisco Lisboa, o Aleijadinho, um dos grandes escultores do barroco mineiro. Na cena,
temos representado Jesus carregando a cruz, rodeado de soldados romanos.

AULA 06: HB - Colônia I 123


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Cristo com cruz às costas, parte do conjunto Passos da Paixão, 1796-1799, de Antonio
Francisco Lisboa (Aleijadinho).
Analise as quatro afirmações abaixo, a respeito do barroco mineiro e a atividade mineradora
no Brasil.
I. O trabalho de Aleijadinho floresceu no momento de maior lucratividade da mineração no
Brasil ao mesmo tempo que era marcado pelo fervor religioso da Contrarreforma.
II. Na cena retratada pelas esculturas acima, podemos notar a preocupação barroca com a
representação do movimento, sobretudo no tratamento dado ao panejamento do manto e
da túnica. Todo o interesse de Aleijadinho na teatralidade do momento representado
explicita essa preocupação.
III. No final do século XVIII, a mineração estava em declínio, graças ao esgotamento das
jazidas de ouro. Isso não impediu que grandes Igrejas e obras de arte fossem financiadas.
IV. Os artistas mineiros se empenharam em copiar completamente o barroco europeu,
enfatizando o caráter emotivo e intuitivo nas obras. Utilizando-se exclusivamente de
mármore como matéria-prima, os escultores imprimiam mais sentimento a expressões
humanas aproveitando deformações e tons mais carregados.
Estão corretas apenas as afirmações
a) I e IV.
b) II, III e IV.
c) I e II.
d) I, II e III.
e) II e III.
Comentários

AULA 06: HB - Colônia I 124


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O Barroco, surgido na Europa no início do século XVII, foi um estilo de reação contra o
classicismo do Renascimento, cujas bases conceituais giravam em torno da simetria, da
proporcionalidade e da contenção, racionalidade e equilíbrio formal. Assim, a estética
barroca primou pela assimetria, pelo excesso, pela expressividade e pela irregularidade.
Além de uma tendência puramente estética, esses traços constituíram uma verdadeira forma
de vida e deram o tom a toda a cultura do período, uma cultura que enfatizava o contraste,
o conflito, o dinâmico, o dramático, o grandiloquente, a dissolução dos limites, junto com
um gosto acentuado pela opulência de formas e materiais, tornando-se um veículo perfeito
para a Igreja Católica da Contrarreforma e as monarquias absolutistas em ascensão
expressarem visivelmente seus ideais de glória e afirmarem seu poder político. O fervor
religioso da Contrarreforma cruzou o Atlântico e chegou ao Brasil, trazendo para cá a arte
emotiva e intuitiva do barroco europeu. O Nordeste e Minas Gerais foram os dois grandes
centros do barroco brasileiro, que em cada um deles adquiriu características peculiares.
I. Falsa. Apesar de ser considerado o maior representante do barroco no Brasil colonial,
movimento marcado pela Contrarreforma, quando Aleijadinho finaliza a obra destacada no
final do século XVIII, quando as minas já estavam se esgotando, portanto, esse não foi o
momento de sua maior lucratividade. Na verdade, as poucas jazidas que restavam foram se
concentrando nas mãos dos proprietários mais ricos, que também começaram a investir na
aquisição de latifúndios e na instalação de grandes plantações e/ou na criação de gado para
exportação. Justamente por ser o final do século XVIII um período de declínio da extração
aurífera e de concentração de riquezas, as elites mineiras investiram pesadamente na
construção de templos e Igrejas como forma de ostentar seu poder e explicitar sua diferença
em relação ao resto da população.
II. Verdadeira! A obra de Aleijadinho mistura diversos estilos barrocos, além de concentrar
obras de expressividade acentuada. Devemos ressaltar que a estética barroca foi o veículo
perfeito para a Igreja Católica da Contrarreforma, arte baseada na assimetria, no excesso, na
irregularidade e nos contrastes. Para além da estética, esses traços simbolizavam uma cultura
e uma sociedade marcada pelo conflito, com obras que destacam o dinâmico, o dramático,
o grandiloquente, a dissolução dos limites, junto com um gosto acentuado pela opulência
de formas e materiais. Vale mencionar que a representação do movimento era algo que os
renascentistas não conseguiram aperfeiçoar, apesar de todo desenvolvimento quanto nos
estudos de perspectiva, simetria e harmonia. Por isso, essa foi uma das principais tarefas que
os artistas barrocos se dedicaram.
III. Verdadeira! No século XVIII as construções religiosas ganhavam destaque na região de
Minas Gerais e, graças ao ouro, elas se tornavam cada vez mais suntuosas. Contudo, no final
desse século, como já mencionei, as jazidas estavam se esgotando, o que intensificou a
concentração de riqueza e as desigualdades sociais. Assim, as elites procuraram investir ainda
mais na arte barroca como forma de ostentação.
IV. Falsa. O barroco no Brasil adquiriu características locais, logo, não pode ser caracterizado
como uma cópia perfeita do movimento europeu. Inclusive, a obra de Aleijadinho apresenta
uma mescla de vários estilos barrocos, gerando uma identidade singular. A razão disso

AULA 06: HB - Colônia I 125


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também era a grande dificuldade de importar materiais estrangeiros em Minas Gerais,


distante do litoral. O artista utilizou, sobretudo, pedra-sabão, material brasileiro, para
produzir suas obras. Outros elementos que os artistas mineiros utilizavam era a madeira e o
ouro, para revestir igrejas e altares de famílias ricas. Os materiais alternativos usados pelos
mineiros proporcionaram que as deformações do barroco europeu dessem lugar a figuras
mais simples, joviais e de tons menos carregados.
Portanto, a alternativa correta é a letra “e”.
Gabarito: E

(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Ale Lopes)


Salvador e Recôncavo dependiam do sertão. Salvador necessitava da carne que o sertão
fornecia. Carne, couro e sebo eram usados na cidade e no campo, e os engenhos precisavam
igualmente de bois para transporte, muitos também como força motriz. Grandes boiadas
percorriam, às vezes, sessenta quilômetros por dia, com destino às feiras na orla do
Recôncavo, onde um ativo comércio tinha lugar. A primeira dessas feiras foi Capoame,
estabelecida por Francisco Dias d’Avila em 1614.
(SCHWARTZ, 1995, p. 88)
A atividade econômica descrita no texto, demonstra, em relação à economia do açúcar,
a) oposição.
b) competição.
c) complementariedade.
d) substituto perfeito.
e) alternativa mais rentável.
Comentários
Com as restrições da Coroa portuguesa ao desenvolvimento do mercado interno e de
produtos que desconsiderassem o “exclusivo comercial”, a faixa colonial litorânea passou a ser
ultrapassada para que, mais para o interior, se desenvolvessem atividades econômicas que
ajudassem no processo de colonização. Lembre-se: o Rei de Portugal, em Carta Régia de 1701,
determinou a proibição da criação de gado em uma faixa de dez léguas, a partir do litoral
brasileiro. Nessa toada, a pecuária passou a ser desenvolvida no sertão. E qual era o objetivo
econômico dessa atividade? Aproveitar a economia do açúcar e abastecer o complexo de relações
sociais que se expandiu e produziu riquezas por meio da economia do açúcar. Dessa forma, por
exemplo, o abastecimento de alimentos bovinos nos engenhos provinha da atividade pecuária
que, em certo sentido, se desenvolveu às margens da atividade principal açucareira. Então, repare,
não se tratou de uma competição (alterativa B), tampouco oposição (alternativa A), já que a
pecuária “buscava” o dinheiro que era gerado pelo processo de exploração da cana de açúcar.
Assim, podemos relacionar “gado e açúcar” como atividades complementares, sendo que uma (o
açúcar) “puxou” o desenvolvimento da outra. Além disso, não podemos pensar em “substituo

AULA 06: HB - Colônia I 126


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perfeito” porque o açúcar era destinado ao mercado externo, já o gado e produtos periféricos
(couro) eram para abastecer o mercado interno, embora certos produtos fossem para Portugal.
Gabarito: C

(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Ale Lopes)


“Embora certas pinturas rupestres talvez tenham sido realizadas já no período anterior, a
maioria dos grafismos encontrados nos abrigos data provavelmente dos últimos seis milênios
antes da era cristã. Com certeza não eram obras de ‘arte’ no sentido que damos hoje à
palavra. É claro que durante todos esses milênios e em tantos lugares, algumas pessoas
podem ter deixado simples graffiti, e outros desenhos talvez fossem feitos para fins
decorativos. No entanto o mais provável é que a maioria dos grafismos tenha sido feita como
afirmação de etnicidade, expressão de uma crença, ato mágico, proclamação política de
status, trato, posse”.
PROUS, André. O Brasil antes dos brasileiros: a Pré-história do nosso país. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2006, pp. 72-73.

A arte rupestre no Brasil,


a) apresenta maior concentração no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.
Grande parte dessas figuras é constituída por figuras animais e geométricas, sobretudo
pássaros.
b) são encontradas em apenas dezoito sítios arqueológicos na Amazônia. Em geral, pinturas
e gravuras são encontradas em abrigos, nas grutas mais afastadas dos rios.
c) é fácil de se preservar, pois está distribuída em locais de difícil acesso e de pouca exposição
às intempéries. Exemplo disso é o Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí.
d) é muito variada e não foi totalmente mapeada ainda. Todavia, as evidências conhecidas
até agora atestam que foi uma forma de expressão muito rica para as populações pré-
históricas de todo o Brasil.
e) tem datação muito recente, demonstrando que essa forma de expressão é tardia na
América do Sul, comparada ao norte do continente, onde há pinturas de 48 mil anos atrás.
Comentários
Em primeiro lugar, lembre-se que as artes rupestres são uma forma de expressão das sociedades
Pré-históricas. No caso da América, estamos falando todo o período que antecede as civilizações
que os europeus encontraram quando chegaram ao continente, no século XV. A arte rupestre é
bastante diversa, podendo ser encontrada em variados sítios arqueológicos no Brasil e no mundo.
Pode se manifestar na forma de pinturas ou gravuras em diferentes superfícies encontradas no
meio natural; em abrigos, em cavernas e grutas, ou ar livre; em locais de fácil ou difícil acesso. O
que costuma estar representado nelas também varia conforme tempo, região e cultura. Há casos
em que apenas figuras geométricas são retratadas, enquanto outras misturam elementos
animalescos e humanoides. Tendo isso em mente, vejamos qual alternativa está correta:

AULA 06: HB - Colônia I 127


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a) Incorreta. A maior concentração de arte rupestre no Brasil se encontra no Parque Nacional Serra
da Capivara, no estado do Piauí. A maioria dessas figuras é constituída por grupos de figuras
humanas em ações diversas, como caças, corridas, lutas e cerimônias. Igualmente, há
representações mais recentes, formadas por muitas figuras de pássaros, figuras humanas e de
animais estilizadas, figuras semi-humanas, além de numerosas impressões de mãos.
b) Incorreta. A Amazônia brasileira também é rica em sítios arqueológicos de arte rupestre.
Existem mais de trezentos sítios. Entre eles, 111 estão localizados no estado do Pará. As gravuras
rupestres amazônicas são mais comuns às margens dos rios e em trechos de cachoeiras, enquanto
as pinturas se encontram em abrigos, grutas e paredões. Os pesquisadores acreditam que a
proximidade com fontes de água sugere que este elemento era ingrediente importante no
processo criativo. Nessas pinturas e gravuras predominam figuras humanas e formas geométricas.
c) Incorreta. Por estar exposta em grutas, paredões e encostas ao ar livre, a arte rupestre está mais
vulnerável à depredação que a maioria dos sítios arqueológicos. Uma das maiores dificuldades
para preservar este tipo de patrimônio é que muitas vezes estão em locais de difícil acesso ou
isolados. No caso do Parque Nacional Serra da Capivara, existe um esforço constante contra a
depredação, provocada não apenas pelas mãos humanas, mas pelas forças da natureza.
d) Correta! Repare que o texto destacado pela questão ressalta principalmente essa diversidade,
que também confirmamos ao justificar o erro das alternativas anteriores. Infelizmente, há pouco
investimento na pesquisa arqueológica no Brasil e o equipamento necessário para este
procedimento é bem caro. Por isso, essas investigações andam a passos de tartaruga. Ainda há
muito para se mapear, mas o que já é evidente é que o atual território brasileiro já era habitado a
milênios antes de Cristo. Mais que isso, essas populações eram organizadas socialmente e se
expressavam por meio da arte visual, com múltiplos estilos e significados.
e) Incorreta. O debate sobre a longevidade da ocupação humana na América e como o gênero
homo chegou a esse continente são de longa data. Lembra-se que havia as teorias do Estreito de
Bering e a das navegações pelo Pacífico? Então, representando uma terceira linha de
argumentação, o pesquisador brasileiro Walter Neves defende que houve diversas ondas
migratórias para a América, ocorridas em datas diferentes e compostas por grupos oriundos tanto
da Ásia quando da Oceania. Atualmente, já se reconhece que existem sítios pré-históricos mais
antigos no nosso continente, com datações de 17 mil (Pensilvânia-EUA) e 25 mil (Santa Elina-MG)
anos atrás. Ainda, segundo Niède Gudon, no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí, os
vestígios encontrados datam de pelo menos 48 mil anos atrás, o que representariam os vestígios
mais antigos da presença humana na América.
Gabarito: D

(Estratégia Vestibulares/2021/Professora Ale Lopes)


As invasões holandesas em territórios do Império português tiveram como consequência
a) a valorização do açúcar brasileiro no mercado internacional, pois os holandeses perderam
sua única colônia açucareira.

AULA 06: HB - Colônia I 128


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b) a forte concorrência do açúcar das Antilhas, quebra do monopólio português no comércio


transatlântico de escravos e crescimento da influência inglesa.
c) diminuíram a importância do Brasil como colônia e fonte de riquezas para o Império
português.
d) tornou o Atlântico Norte a principal base da colonização e exploração portuguesa.
e) obrigou d. João IV, rei português, a romper os laços comerciais e diplomáticos com a
Inglaterra.
Comentários
Antes de mais nada, quero destacar que as invasões holandesas aos territórios portugueses
tiveram início no final do século XVI, quando Portugal foi incorporado pela Espanha, formando a
União Ibérica. Como holandeses já estavam em guerra contra os espanhóis, decidiram atacar as
possessões coloniais portuguesas para prejudicar a Espanha. Eles também tinham o objetivo de
assumir o controle sobre os entrepostos mais importantes, sobretudo aqueles que eram pontos
de compra e venda de escravizados africanos. Além disso, quando invadiram a Bahia e, depois
Pernambuco, no século XVII, os holandeses pretendiam entrar no ramo de produção e exportação
de açúcar para concorrer com o produto brasileiro. Eles conseguiram ocupar a região Nordeste
do Brasil entre 1637 e 1649. Também conquistaram Luanda e o Forte de São Jorge da Mina, na
África. Quando os portugueses retomaram sua independência em relação a Espanha, começaram
a negociar a devolução de seus territórios tomados pela Holanda. No entanto, brasileiros e
colonos portugueses não esperaram as formalizações e se levantaram contra os holandeses,
saindo vitoriosos em 1649. No entanto, a economia do Império português não seria mais a mesma
depois disso. Considerando essas informações, vejamos qual alternativa apresenta corretamente
uma ou mais consequências das invasões holandesas:
a) Incorreta. Na verdade, os holandeses também estabeleceram colônias na América Central,
usando as técnicas que aprenderam em Pernambuco. Além deles, também ingleses, espanhóis e
franceses entraram no ramo de produção de açúcar para exportação, praticado em colônias na
América. Com isso, o açúcar brasileiro passou a ter que competir com outros produtos, o que
desvalorizou seu preço no mercado internacional.
b) Correta! Explicamos a concorrência das Antilhas na letra “a”. Quando às demais, os holandeses
usaram São Jorge da Mina – que os portugueses não conseguiram reconquistar – como porta de
entrada no tráfico transatlântico de escravos. Por seu turno, diante do crescimento da rivalidade
anglo-holandesa, d. João IV encontrou na Inglaterra o suporte diplomático que lhe permitiu
garantir a independência política em relação a Espanha e a restauração de seu império
ultramarino. Em contrapartida, Portugal passou inteiramente para a alçada do poder inglês,
dependência que se acentuaria na passagem do século XVII para o XVIII.
c) Incorreta. Na verdade, o cenário criado pelas guerras imperiais também reservava um novo
papel para a colônia portuguesa na América. O enfraquecimento de Portugal e do seu comércio
com o Oriente, em razão das guerras, alçou o Brasil como a principal fonte de riquezas do Império
português.

AULA 06: HB - Colônia I 129


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d) Incorreta. Na verdade, foi o Atlântico Sul que acabou tornando-se a base do Império lusitano.
Os custos da restauração desse império colonial no Brasil e em Angola foram financiados quase
inteiramente com recursos obtidos da exploração do comércio de escravos. Mesmo com a
concorrência do açúcar antilhano, o Atlântico Sul tornou-se o novo sustentáculo dos portugueses
por meio do vínculo entre Brasil, Portugal e Angola.
e) Incorreta, pois contraria o que disse na justificativa da letra “b”.
Gabarito: B

(Estratégia Vestibulares/2021/profe. Alê Lopes)

Monumentos amanhecem pichados em São Paulo, Veja, 30 de setembro de 2016.


Disponível em: https://veja.abril.com.br/brasil/monumentos-amanhecem-pichados-em-sao-paulo/

A partir da fotografia e de seus conhecimentos sobre monumentos históricos, assinale a


alternativa correta.
a) O monumento, diferente do documento, é algo que a sociedade não escolhe lembrar, mas
é obrigada pela imposição da maioria. Isso explica a retaliação de uma pequena parcela da
população a alguns monumentos.
b) As estátuas e monumento estão alheios a quaisquer disputas ideológicas e políticas. Eles
marcam a identidade fundamental e imutável de um povo. Portanto, a fotografia registra um
ato de vandalismo de estrangeiros contra a identidade nacional.
c) Em geral, os monumentos e estátuas são algo que a sociedade quer esquecer. Assim, a
intervenção posterior à sua construção, como no caso da fotografia acima, revela como o
que se quer esquecer é “digerido” pelas próximas gerações.
d) Os monumentos são algo voluntariamente selecionado pela sociedade para lembrar o
passado que ela escolheu lembrar. Eles permeiam as formas de lembrar o passado e de
compreender o presente. Seus significados são sempre passíveis de disputas.
Comentários

AULA 06: HB - Colônia I 130


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Estratégia Vestibulares – Aula 06 – Colônia I

Na fotografia, vemos o Monumento às Bandeiras, uma obra em homenagem aos bandeirantes


que exploraram os sertões brasileiros durante os séculos XVII e XVIII. A autoria é de Victor
Brecheret e foi inaugurada no ano de 1953, fazendo parte das comemorações do IV Centenário
da cidade de São Paulo. O bandeirantismo era a prática de expedições ao interior da América
Portuguesa, realizadas pelos paulistas. Estes habitavam territórios das antigas capitânias de São
Vicente e Santo Amaro, que deram origem mais tarde à capitânia de São Paulo. Essa região da
colônia era bem menos próspera, comparada ao Nordeste onde a economia açucareira ia de vento
em polpa. Essa diferença se deu principalmente pela distância em relação à metrópole. O
Nordeste era bem mais próximo de Portugal e está em uma localização estratégica para as rotas
marítimas entre o reino, a África (onde se conseguia os cativos) e a América portuguesa. A
distância do sudeste contribuía para o encarecimento dos custos de deslocamento, naquela época
feito apenas por navios a vela. Assim, a economia paulista inicialmente se voltou para a
subsistência. Poucas propriedades rurais chegavam se quer à metade do tamanho dos engenhos
baianos e pernambucanos. Por essa razão, os paulistas também não tinham recursos para comprar
escravizados africanos e se voltaram para a escravização de indígenas. É aqui que os bandeirantes
entram.
Após a descoberta de minas de prata na Bolívia pelos espanhóis, os paulistas passaram a
entrar nas matas e sertões em busca de basicamente três coisas: metais preciosos; gêneros
silvestres comercializáveis; e indígenas para escravizar e vender. Ironicamente, os bandeirantes
eram em grande parte mestiços de portugueses e nativos do litoral, miscigenação que resultou
dos primeiros contatos ao longo do século XVI, no litoral de São Paulo. Os primeiros colonizadores
europeus dessa região, aliaram-se a chefes indígenas locais para ter acesso a escravizados e outros
produtos naturais. Consequentemente, muitos elementos da cultura nativa foram incorporados
pelos paulistas ao longo dos anos, como a língua tupi e certos hábitos alimentares. Essa
incorporação foi essencial, pois, como os paulistas tinham pouco contato e ajuda da metrópole,
eles precisaram “se virar com o que tinham” ali mesmo, com os recursos locais e o conhecimento
nativo sobre como sobreviver na região. Mas cuidado, não pense que essa miscigenação foi
pacífica e harmoniosa. Se alguns grupos portugueses se aliaram a certas nações indígenas, tal
aliança sempre era feita para derrotar um outro, ou vários outros, grupos nativos que seriam
reduzidos à escravidão.
De qualquer forma, os bandeirantes nunca tiveram uma boa relação com a Coroa, com a
Igreja, com os indígenas ou com os africanos que foram trazidos. Durante o Império, eles
praticamente foram esquecidos. Todavia, com a instalação da República, uma nova preocupação
surgiu entre os ideólogos da nação. Em meio a um contexto de instabilidade política e econômica,
com muitas revoltas ocorrendo por todo o território nacional, era preciso criar uma identidade
brasileira que desse conta de dar legitimidade ao governo e amenizar as tensões regionais. De
modo geral, buscou-se elencar episódios e figuras míticas do passado para forjar um senso de
continuidade da formação nacional do Brasil, ou melhor da República brasileira. A inconfidência
mineira e Tiradentes se tornaram símbolos nacionais nessa época. Contudo, havia particularidades
regionais na construção dessa identidade. Em São Paulo, por exemplo, os intelectuais e estadistas
buscaram no bandeirante a representação de um mito fundador da identidade paulista. Eles
teriam sido os corajosos exploradores que levaram a civilização e progresso ao interior do Brasil,

AULA 06: HB - Colônia I 131


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sem os quais nunca atingiria as atuais fronteiras nacionais. Essa narrativa teve força ainda por
muitos anos após a proclamação da República, o que explica a construção do Monumento às
Bandeiras, em 1953. O curioso é que na fotografia exposta pelo enunciado o monumento foi alvo
de uma intervenção artística em 2016, considerados por muitos na época como um ato de
vandalismo. Considerando que a figura do bandeirante foi algo selecionado para representar a
identidade paulista num determinado contexto histórico e a fotografia tirada em momento
posterior, vamos avaliar as alternativas:
a) Incorreta. Monumento e documento são coisas diferentes, apesar de terem similaridade. O
primeiro é algo que é voluntariamente selecionado pela sociedade para lembrar o passado
que ela escolheu lembrar. O segundo é entendido pelos historiadores como registro do
passado como um todo, ou melhor, registro do passado que não necessariamente é aquele
escolhido como passado ideal pela sociedade. Mesmo assim, o documento em alguma
medida é um monumento, pois nenhum registro é completamente imparcial, mas foge de
uma seleção mais controlada por parte da sociedade.
b) Incorreta. Em primeiro lugar, tatue isso na sua mente: nenhuma identidade é imutável!!!
Identidade estão em constante construção, pois estão relacionadas com a tradição herdada
e com a experiência vivida, que está sempre em mudança. Por outro lado, monumentos e
estátuas não estão alheios a disputas políticas e ideológicas, eles são parte delas. A
delimitação do que é monumento, do que é ou não patrimônio, é algo seletivo, ou seja,
escolhe somente os pontos do passado que se quer lembrar e rejeita outros. Isso faz com
que a ideia de patrimônio cultural não possa ser a mesma para todo o mundo, uma vez que
dependente de diferentes contextos nacionais. Cada cultura tem sua própria noção de
patrimônio, que molda a ação estatal que seleciona os monumentos. Aliás, não há
necessariamente consenso dentro de uma mesma cultura e país sobre o que deve ser
lembrado, sobre quais monumentos construir, pois isso depende dos interesses dos grupos
políticos e sociais em disputa. Ou seja, não havia como definir por si só se o resultado da
intervenção artística foi um ato de grupos estrangeiros ou nacionais. Inclusive, foi apurado
depois que os autores eram militantes brasileiros que questionavam a memória dos
bandeirantes como heróis nacionais.
c) Incorreta. Como disse antes, o monumento não é algo que se quer esquecer, mas algo que
se querer lembrar! É uma forma de quem tem poder na sociedade eleger marcos
importantes para sua versão oficial da história, a qual deve legitimar esse poder.
d) Correta! De acordo com o que comentei na alternativa “b”, enquanto patrimônios culturais,
os monumentos são uma das formas das pessoas e da sociedade se relacionar com o
passado e com o presente. Trata-se de escolher o que e como lembrar para legitimar uma
versão dos fatos. Portanto, esses objetos são sempre alvos das disputas políticas e
ideológicas nos diferentes contextos históricos em que existem. O Monumento à Bandeira
é um ótimo exemplo. Criado em um momento no qual os bandeirantes eram vistos como
heróis da civilização e progresso de São Paulo e do Brasil, no século XXI passou a ter sua
legitimidade intensamente questionada. Podemos relacionar com essa mudança de visão
sobre essas figuras a crescente organização do movimento negro e indígena desde os

AULA 06: HB - Colônia I 132


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governos militares, que resultaram na promulgação das leis 10.639, de 2003, e 11.645, de
2008. Elas definem como obrigatório o ensino das histórias e culturas indígenas, africanas
e afro-brasileira nas escolas, o que proporcionou a ampla divulgação do papel dos
bandeirantes no genocídio e exploração desses povos.
Gabarito: D

14. QUESTÕES PARA CONSOLIDAÇÃO (COMENTÁRIOS)


(UEL/2018)
Leia o trecho do poema a seguir.
— Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a cota menor
que tiraste em vida.
— É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
neste latifúndio.
— Não é cova grande.
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
(MELO NETO, J. C. Morte e Vida Severina. Universidade da Amazônia, NEAD – Núcleo de
Educação à Distância. p.21-13. Disponível em: <www.nead.unama.br>. Acesso em: 28 ago.
2017).
O poema trata da relação entre o homem e a terra no Brasil. Com base nos conhecimentos
sobre propriedade e usos da terra, assinale a alternativa correta.
a) No decorrer do segundo Reinado, a Lei de Terras, promulgada em 1850, possibilitou o
livre acesso das terras devolutas aos primeiros imigrantes europeus, garantindo-lhes a
sobrevivência.
b) Na Colônia, as terras doadas como sesmarias garantiam privilégios aos senhores de
engenho, mas restringiam a prática de certas atividades econômicas.
c) No Império, formaram-se os primeiros quilombos cuja propriedade dessas terras foi
reconhecida legalmente durante a primeira República.
d) Em 1964, João Goulart realizou desapropriações das pequenas propriedades no entorno
das metrópoles para o cultivo de sobrevivência por parte dos trabalhadores.
e) No governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), retomou-se a política econômica
de estatização das propriedades agrícolas resultando em elevadas taxas de crescimento
econômico.

AULA 06: HB - Colônia I 133


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Comentários

Desde o início da colonização do Brasil pelos portugueses, no século XVI, um tipo de específico
de relação com a terra seria estabelecido: a da grande propriedade rural monocultora, voltada
para exportação. As vilas e povoados eram mais pontos de encontro para a política local entre os
fazendeiros e seus subordinados do que um lugar de habitação. Assim, tanto a população livre
quanto os escravizados eram dependentes dos senhores de engenho e grandes proprietários para
ter a acesso à terra. Era comum os fazendeiros permitirem seus subordinados e cativos a ocupar
um pequeno lote de sua vasta propriedade para plantar gêneros para sua própria alimentação e
subsistência. Os únicos que fugiam dessa lógica de divisão de terras eram os indígenas
independentes e os quilombolas que viviam fora dos domínios portugueses. Apesar de, na história
recente do Brasil, a propriedade privada da terra e de imóveis ter se democratizado mais, ainda
vivemos em um país com uma desigualdade muito grande em relação à propriedade da terra com
grandes números de moradores de rua e sem-teto. Além disso, em algumas regiões rurais a lógica
do grande latifúndio de repartir uma porção menor para os empregados fazerem uso (não possuir
de fato) ainda é corrente.
As alternativas apresentam alguns eventos bem posteriores ao início da colonização do Brasil,
contudo, como você verá, a avaliação de cada uma das afirmações nos ajudará a fixar como foi o
início dessa relação com a terra.
a) Incorreta. A Lei de Terras de 1850 dificultou o acesso à terra por imigrantes e libertos
pobres.
b) Correta! A afirmação complementa o que explicamos no comentário sobre a repartição das
terras feita pelo senhor. Veja, essa terra que era repartida muitas vezes não chega nem a
1/5 da propriedade fundiária do senhor. Era só para os empregados e escravizados
plantarem e criarem o que precisavam para se alimentar mesmo. Contudo, havia algumas
condições para a pessoa receber essa permissão de uso. Em geral, os senhores restringiam
o tipo de coisa que podia ser plantado ali, seja porque algum outro gênero fosse prejudicial
à cana, seja por preconceitos culturais. Além disso, os senhores usavam essa repartição de
terras como moeda de influência. Em outras palavras, eles procuravam dar mais concessões
aos dependentes e escravizados mais leais com os quais simpatizava.
c) Incorreta. Os primeiros quilombos são tão antigos quanto a própria escravidão no Brasil.
Desde que os primeiros escravizados chegaram, eles e seus descendentes desenvolveram
várias formas de resistência para sobreviver a ou fugir da escravidão. Por aqui a
sociabilidade é um complexo que envolve relações pessoais, cultura, raça e muita, muita
negociação. Além da fuga e da formação de quilombos (também chamados de mocambos),
podemos citar: abortos voluntários para evitar que seus filhos nascessem na condição de
escravizados; suicídio; sabotagens nos engenhos por meio de destruição de plantações,
instrumentos e da moenda; emboscadas e ataques surpresa à feitores, senhores e seus
familiares ou à elite branca em geral; negociações com os senhores para obtenção de
melhores condições de vida, como alimentos, vestuário e moradia. Você deve estar se
perguntando: “mas eles não eram escravos? Como conseguiam negociar? Imagine que
nesses primeiros séculos de colonização, sobretudo nos grandes engenhos, havia muito
mais escravizados que portugueses. Os africanos eram traficados em grandes quantidades

AULA 06: HB - Colônia I 134


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e os senhores engenhos tinham interesse em acumular o máximo de cativos que podiam,


pois isso se refletia no aumento da produção e do prestígio social. Além disso, os engenhos
eram distantes uns dos outros, alguns a centenas ou milhares de quilômetros distantes dos
centros administrativos, onde as poucas tropas residiam. Portanto, apesar de ter armas de
fogo, cavalos e alguns feitores, nem sempre isso era força suficiente para combater uma
revolta de centenas de cativos. Por isso, alguns senhores se mostravam mais ou menos
dispostos a negociar com os escravizados fazendo algumas concessões pontuais. Enfim, as
fugas podiam ser individuais e coletivas. Nem sempre o(s) fugitivo(s) ia para ou fundava um
quilombo. Por vezes, mudava de cidade, buscava se passar por liberto ou se submeter a
outro senhor considerado mais “justo”. As possibilidades eram muitas num território tão
vasto como o Brasil. Por sua vez, durante muitos anos, a resistência quilombola marcou a
história dos negros na América portuguesa. Muitos quilombos, além de receber negros que
fugiam da dominação do sistema escravista, chegaram a reunir índios e até brancos
descontentes com as imposições do governo português. A vida nos quilombos era baseada
na agricultura e em pequenas trocas comerciais com comerciantes e taberneiros das
proximidades. A depender da localidade, poderiam ainda fazer mineração e cerâmica.
Muitas comunidades quilombolas continuaram existindo após o fim da escravidão, mas só
começaram a ser devidamente reconhecidas pelo Estado a partir da Constituição de 1988.
d) Incorreta. Goulart tinha planos de reforma agrária tanto no campo quanto nas cidades,
contudo seu projeto nunca saiu do papel, pois sofreu um golpe que o tirou da presidência
e instaurou uma ditadura militar, em 1964.
e) Incorreta. O governo de FHC é marcado por privatizações de empresas estatais.
Gabarito: B

(UEL 2012)
Oceanos abrigaram, uniram e separaram povos no decorrer do tempo. Representações
artísticas, literárias, cartográficas e narrativas históricas sobre os oceanos contribuíram para
ampliar a sua compreensão.
Com base no enunciado e nos conhecimentos históricos, considere as afirmativas a seguir.
I. Grande parte das terras banhadas pelo Mediterrâneo, denominado Mare Nostrum pelos
antigos romanos, foi por eles colonizada no decorrer do seu Império.
II. Os portugueses, nos séculos XV e XVI, dominaram oceanos com caravelas e conhecimentos
náuticos, anotando, em suas viagens, as rotas marítimas.
III. As narrativas sobre as criaturas míticas que habitavam os oceanos apavoraram o homem
no período medieval, retardando as Grandes Navegações.
IV. No período colonial brasileiro, os holandeses, através de seus empreendimentos de
navegação, conquistaram a capitania do Rio de Janeiro, por meio século.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.
b) Somente as afirmativas II e III são corretas.

AULA 06: HB - Colônia I 135


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c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.


d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
Comentários
Esta questão nos dá oportunidade de revisar alguns conteúdos sobre Antiguidade, Idade Média
e Moderna e, assim, fazer uma reflexão sobre as rotas marítimas e a importância dos oceanos nos
contatos entre as civilizações humanas. Essas rotas eram um dos elementos mais marcantes dos
contextos estudados. Lembre-se, na aula 02, aprendemos sobre a expansão romana sobre o mar
Mediterrâneo, durante do período da República. Esse movimento tinha o objetivo de assegurar o
monopólio romano sobre o comércio praticado pelas águas mediterrâneas, que ligavam Europa,
África e Oriente. Na Aula 03 vimos sobre os renascimentos urbano e comercial da Europa, quando
os limites da sociedade feudal estavam sendo tensionados e novas classes sociais baseadas numa
economia mercantil estavam se formando. Graças às Cruzadas, cidades europeias, sobretudo as
italianas, reassumiram controle sobre pontos importantes do comércio no Mar Mediterrâneo
perdidos para outros povos desde a queda do Império Romano, assim conectando-se aos
mercados do oriente por meio de rotas marítimas. Na Aula 04, estudamos o renascimento cultural,
a revolução científica, as reformas protestantes e a consolidação das monarquias absolutistas,
todos processos que estavam relacionados com a mudança do eixo econômico da Europa de
feudal para mercantil. Por fim, nas Aulas 05 e 06 acabamos de ver sobre como algumas nações
europeias sentiram a necessidade de encontrar novas rotas comerciais até os mercados orientais
e, se possível, buscar novos mercados. Trata-se das grandes navegações e do início do processo
de colonização, acontecimentos que consolidaram a economia mercantilista baseada nas viagens
oceânicas. Com isso em mente, vejamos:
I. Verdadeira! O Mediterrâneo começou a ser colonizado pelos romanos durante a
República, o que se consolidou com o Império.
II. Verdadeira! Os portugueses foram os primeiros a desbravarem as rotas oceânicas no
século XV, descobrindo novos caminhos até o Oriente e iniciando a colonização do
Brasil. Tudo isso estava ligado às ambições mercantilistas dos comerciantes e da
monarquia lusitana. Uma série de motivos deu mais oportunidades aos portugueses de
serem pioneiros nessa expansão. Entre eles: sua posição geográfica estratégica, voltada
para o Oceano Atlântico; havia interesse de grupos mercantis em ampliar sua área de
atuação comercial; Portugal era um reino centralizado e absolutista desde o século XIV;
e a pretensão de expansão religiosa, deriva da Guerra de Reconquista, isto é, como
Portugal foi um reino de unificou em oposição aos muçulmanos e vitória sobre estes, a
motivação religiosa continuava sendo importante para legitimar a monarquia. Uma
quarta razão que explica parcialmente o pioneirismo português é o fato de a Península
Ibérica ter sido ocupada por fenícios, na antiguidade, e pelos muçulmanos, durante a
Idade Média. Os primeiros foram exímios navegadores e chegaram a monopolizar o
comércio no Mar Mediterrâneo. Os segundos desenvolveram a matemática, a geometria
e a astronomia, áreas essenciais para o aperfeiçoamento da navegação. Portanto,

AULA 06: HB - Colônia I 136


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mesmo que tenha o reino cristão de Portugal tenha prevalecido, muito do conhecimento
e da cultura dos demais povos que lá viveram anteriormente foi preservado, seja na
cultura popular, seja nas bibliotecas e acervos públicos e particulares.
III. Verdadeira! Mitos, lendas e a própria religião cristã povoavam o imaginário dos
europeus dessa época e isso se refletia na forma como eles lidavam e representavam o
mundo. As grandes navegações são um bom exemplo disso, pois os europeus
precisaram vencer o medo causado por fábulas sobre determinadas partes dos mares
serem habitadas por monstros ou serem palco de fenômenos sobrenaturais. Um bom
exemplo disso é a história do navegador Gil Eanes que foi o primeiro português a ousar
navegar além do Cabo Bojador, em 1434. Antes deles, todos evitavam passar dali, pois
acreditava-se que depois do cabo, localizado no que é hoje o Saara Ocidental,
começava o Mar Tenebroso, onde a água fumegava sob o sol, imensas serpentes
comeriam os desgraçados que caíssem no oceano, o ar seria envenenado, os brancos
virariam pretos, haveria cobras com rostos humanos, gigantes, dragões e canibais com
a cabeça no ventre. A cartografia europeia também era marcada por esse imaginário,
mas sofreu grandes transformações a partir do século XV, aproximadamente. Até então,
os mapas eram marcados por uma mentalidade medieval, fortemente influenciada pela
religião, pelo mito e pela fantasia. Os territórios eram retratados de forma plana e
figuras míticas eram colocadas por toda a parte, sobretudo nas menos conhecidas. Com
o contato maior com outras culturas, como os muçulmanos e os asiáticos graças às
Cruzadas e aos renascimentos urbano, comercial e cultural, novos saberes e obras da
antiguidade passaram a circular na Europa. Houve uma revolução científica, na qual
ciências como a matemática, a geometria, a astronomia, a anatomia e a química foram
amplamente desenvolvidas. O método experimental, a observação e a análise crítica
foram eleitos como critérios e procedimentos próprios para a compreensão da natureza
e do mundo. Essas mudanças na mentalidade europeia influenciaram profundamente a
cartografia, que gradativamente vai perdendo seus elementos mais fantásticos. Os
monstros se tornam mais raros, os mapas passam a considerar a esfericidade da Terra,
mapas-múndi se tornam mais frequentes, entre outras mudanças. Não pense que essa
mudança foi imediata e contrastante. Na verdade, era comum uma mesma pessoa
buscar a comprovação experimental de certos fenômenos e crer em determinados mitos
e lendas sobre regiões longínquas. O próprio Cristóvão Colombo era uma pessoa
mesclava as duas formas de pensar daquela época.
IV. Falsa. Na verdade, os holandeses conquistaram a capitânia de Pernambuco, mantendo
controle sobre o local entre 1630 e 1654.
Portanto, a alternativa correta é a letra “d”.
Gabarito: D

(UNICENTRO 2014)

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Uma das tentativas de colonização do Brasil recém-descoberto foi o estabelecimento das


capitanias hereditárias. Das quinze capitanias, apenas duas cumpriram sua missão de
exploração das novas terras.
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, essas capitanias.
a) Itamaracá e Pernambuco.
b) Itamaracá e São Vicente.
c) Pernambuco e São Vicente.
d) Pernambuco e São Tomé.
e) São Tomé e São Vicente
Comentários
A década de 1530 marca o início do segundo momento de colonização portuguesa na América.
A principal mudança foi a implantação do sistema de Capitânias Hereditárias, repartindo a América
portuguesa em territórios independentes entre si, mas todos submetidos à Coroa. Essa mudança
na administração colonial teve cinco motivações principais: a concorrência internacional; a
contestação acerca do Tratado de Tordesilhas; a descoberta do ouro e prata na América do Sul;
a diminuição dos preços e lucros com as especiarias orientais; as ameaças de invasão estrangeira
no território colonial. Para Portugal era urgente estabelecer a colônia e implementar o sistema de
exploração comercial. Por isso, em 1530 começou uma nova fase de relação entre Metrópole e
Colônia.
A estratégia principal consistia em incentivar a produção de cana-de-açúcar voltada para a
exportação. O rei português concedeu cada capitânia a um donatário, que era autoridade máxima
na política, economia e justiça representando diretamente o monarca. O cargo era hereditário.
Assim, vemos que a administração da colônia era descentralizada, pois os donatários não tinham
que responder a nenhuma autoridade intermediária. Contudo, nem todas as capitânias
conseguiram ser bem-sucedidas na empresa do açúcar, devido aos custos que isso demandava.
As que mais deram certo foram a de Pernambuco e, em menor escala, a de São Vicente. Portanto,
já podemos marcar a alternativa “c” como correta. Mas só para complementar, os problemas que
levaram à criação desse sistema não haviam sido completamente solucionados. Por isso, em 1548
foi criado o Governo Geral que passou a ser a autoridade máxima na colônia, à qual os donatários
deveriam responder. O primeiro governador chegou ao Brasil em 1549, acompanhado de jesuítas,
tropas, e mais funcionários metropolitanos e instalaram a capital e sede do governo em Salvador.
Portanto, uma administração centralizada passou a ser adotada.
Gabarito: C

(UNICENTRO 2012)
O termo “etnocentrismo”, aplicado ao conhecimento histórico, significa
a) direcionamento do estudo para uma única etnia, dominante ou não.
b) estudo das etnias que compõem a formação cultural de determinado povo.

AULA 06: HB - Colônia I 138


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c) abordagem dos povos primitivos que se constituíram como base de uma civilização.
d) interpretação da história sob o ponto de vista de uma etnia considerada dominante e
superior.
e) conhecimento da distribuição geográfica e demográfica das etnias que sobrevivem em
uma população de determinada região.
Comentários
Aqui temos uma questão conceitual. Como você já sabe, no estudo da história costumamos usar
conceitos para interpretar fenômenos e acontecimentos. O conceito de etnocentrismo é essencial
para o estudo da colonização do Brasil, apesar de designar uma atitude e forma de pensar mais
antiga que a chegada dos europeus, inerente a todos os povos. A palavra que lhe dá nome deriva
da fusão entre “etnia” e “centro”, ou seja, é a tendência que um indivíduo ou povo tem de
interpretar o mundo e lidar com o outro considerando sua própria cultura como superior ou
melhor. Segundo, Kalina V. Silva e Maciel H. Silva,
“Os estudiosos da cultura compreendem que os povos forjam visões de
mundo peculiares, que marcam a sua identidade de povo. Mas quando um
determinado grupo, com traços culturais característicos e uma visão de
mundo própria entra em contato com outro grupo que apresenta práticas
culturais distintas, o estranhamento e o medo são as reações mais comuns. O
etnocentrismo nasce exatamente desse contato, quando a diferença é
compreendida em termos de ameaça à identidade cultural.
De modo simples, o etnocentrismo pode ser definido como uma visão de
mundo fundamentada rigidamente nos valores e modelos de uma dada
cultura; por ele, o indivíduo julga e atribui valor à cultura do outro a partir de
sua própria cultura. Tal situação dá margem a vários equívocos, preconceitos
e hierarquias, que levam o indivíduo a considerar sua cultura a melhor ou
superior. Nesse sentido, a diferença cultural percebida rapidamente se
transforma em hierarquia. O outro, só compreendido de maneira superficial,
é então usualmente designado como ‘selvagem’, ‘bárbaro’ ou não humano.
Em linhas gerais, é difícil para qualquer indivíduo se despojar dos
preconceitos arraigados em sua cultura e tentar compreender a cultura do
outro em seus próprios termos. Essa seria uma atitude não etnocêntrica, pois
faria uso da relativização, que é o oposto do etnocentrismo. No entanto, o
mais comum é o indivíduo tomar suas representações, sua linguagem, seus
valores, para falar sobre o que é esse ‘outro’. Não dá a palavra para o outro,
porque considera sua cultura a detentora da palavra”.
(SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. – 2.ed.,
2ª reimpressão. – São Paulo: Contexto, 2009.)

Veja, não confunda etnocentrismo com racismo, apesar de ambos estarem relacionamos. O
racismo é uma ideologia e sistema de dominação imposto pelos europeus a partir da colonização
dos demais continentes por eles. Com isso, os brancos impuseram uma hierarquia social baseada

AULA 06: HB - Colônia I 139


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principalmente na raça e na genética, classificando arbitrariamente os demais povos humanos


como inferiores, legitimando sua dominação. Portanto, o racismo é um tipo de etnocentrismo,
uma derivação, um caso específico: do da relação dos europeus com os demais povos do mundo
na Idade Moderna e Contemporânea. Por sua vez, o etnocentrismo, como a citação demonstra, é
algo mais amplo e universal, muito mais antigo. As civilizações antigas como Roma, Grécia, China,
Suméria, Israel, eram mais propensas a escravizarem os estrangeiros, os outros, pois consideravam
outras culturas inferiores a suas. Contudo, podemos dizer que o ápice do etnocentrismo seria
mesmo entre os séculos XV e XIX, verificado no contato entre europeus e os vários povos da
América, da Ásia e da África. Portanto, também na história da colonização do Brasil e de sua
formação como país independente, o etnocentrismo é um elemento fundador.
Então, podemos concluir que a alternativa correta é a letra “d”.
Gabarito: D

(UNICENTRO 2011)
A agressividade registrada contra as populações indígenas do litoral das terras do Brasil, por
parte dos conquistadores portugueses, resultava, dentre outras questões,
a) da disputa pelas áreas de escambo do pau-brasil entre portugueses e indígenas.
b) da aliança entre os povos indígenas e as populações quilombolas contra a invasão dos
portugueses.
c) da divulgação do protestantismo entre os indígenas, como resultado da ação missionária
dos protestantes franceses.
d) do etnocentrismo, sentimento baseado na ideia de superioridade cultural do
conquistador, frente ao conquistado, considerado inferior.
e) da antropofagia generalizada praticada pelos povos indígenas contra os conquistadores
portugueses.
Comentários
Como os demais europeus que chegaram à América nos séculos XV e XVI, os portugueses tinham
uma visão eurocêntrica sobre tudo que encontraram aqui. Em outras palavras, eles viam a si
mesmo, a sua sociedade e cultura, como mais desenvolvidos que os povos recém-conhecidos, que
eram considerados primitivos pelos conquistadores. A isso, damos também o nome de
etnocentrismo. Seu maior interesse no novo território era a implantação do mercantilismo,
principalmente a produção agrícola, monocultora, em larga escala voltada para a exportação. A
mão-de-obra mais utilizada foi a de indígenas escravizados.
Apesar do processo de conquista ter sido longo, a historiografia costuma afirmar que as décadas
iniciais do processo de colonização são cruciais para o desenrolar da história. Nos primeiros 50
anos o saldo foi de dizimação. Nesse contexto, podemos destacar 5 formas de violência utilizadas
pelos europeus para estabelecerem a dominação sobre os povos originários: violência cultural
(impor religião, língua, costumes, mudança de local de moradia); violência das armas (uso de
pólvora, armas de aço, cavalos); violência das doenças contagiosas (sarampo, tifo, tétano,

AULA 06: HB - Colônia I 140


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coqueluche, varíola); estímulo das violências entre os povos indígenas; violência da escravidão e
do trabalho forçado. Com isso em mente, vejamos:
a) Incorreta. Não havia uma disputa entre portugueses e indígenas sobre o pau-brasil em si,
pois quando este produto era o mais extraído pelos portugueses, estes contavam com a
cooperação de algumas tribos para realizar a extração. Essa cooperação era por meio do
escambo. A violência entre os dois povos se intensificou a partir do momento que os
portugueses começaram a tentar ocupar a terra, instalar a estrutura açucareira e escravizar
indígenas.
b) Incorreta. A resistência de indígenas e quilombolas só ocorreu porque a violência dos
portugueses ocorreu em primeiro lugar.
c) Incorreta. Não houve divulgação de protestantismo entre os indígenas brasileiros nos
primeiros séculos de colonização.
d) Correta!
e) Incorreta. A antropofagia não era praticada apenas contra os portugueses, mas contra os
adversários em geral. Além disso, a agressividade dos portugueses contra os indígenas,
como vimos, é consequência do etnocentrismo europeu, que considerada os nativos e sua
cultura inferiores. A antropofagia era uma entre várias práticas culturais que causavam
estranhamento, medo ou repulsa dos europeus.
Gabarito: D

(UECE/2019)
Antes da chegada dos portugueses às terras americanas,
a) havia dois grupos étnicos habitando a região hoje chamada Brasil: os Tupis e os Tapuias.
b) uma variedade de comunidades nativas, etnicamente diferentes, espalhava-se pelo
território da futura América portuguesa.
c) falavam-se alguns poucos dialetos, variantes de uma mesma língua geral, o Nheengatu,
apesar de existir um grande número de grupos indígenas.
d) havia uma só sociedade indígena vivendo em harmonia, igualitarismo e paz; desconhecia-
se a violência da guerra, trazida para cá pelos europeus.
Comentários

A letra A está erra porque havia muito mais do que dois grupos étnicos. Os índios brasileiros
estavam divididos em tribos, de acordo com o tronco linguístico ao qual pertenciam: tupi-guaranis
(região do litoral), macro-jê ou tapuias (região do Planalto Central), aruaques ou aruak (Amazônia)
e caraíbas ou karib (Amazônia). Com isso, também podemos eliminar a letra D.

A letra C também está errada, pois havia inúmeros dialetos.

Gabarito: B

AULA 06: HB - Colônia I 141


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(UECE/2018)
“(...) trocar manufaturas baratas por negros na costa ocidental da África; permutar os negros
por matérias-primas nas colônias americanas: por fim, vender as matérias primas na Europa
a altos preços, ou seja, a dinheiro contado. Comércio de resultados fantásticos em que o
lucro nunca ficava por menos de 300% e podia em certos casos render até 600%”.
FREITAS, Décio. O escravismo brasileiro. 2.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. p.24.
Esse sistema de comércio que foi fundamental para a colonização brasileira por custear a
Coroa portuguesa através da sua taxação é conhecido como sistema

a) de comércio liberal.
b) de comércio quadrangular.
c) internacional de comércio livre.
d) de comércio triangular.
Comentários
Esse é o tipo de questão conceitual, ou seja, não dá para buscar erros nas demais alternativas.
Ou você sabe, ou não sabe. Até dá para eliminar a alternativa A e C, por exemplo, se você
pensar que o liberalismo e o livre comércio foram fenômeno mais característicos dos séculos
XVIII e XIX, mais distantes, portanto, da ideia de mercantilismo. De toda forma, você precisaria
entender de conceitos.
Veja, o comércio de viventes, como alguns historiadores mais recentes se referem ao comércio
ou tráfico negreiro, uniu interesses econômicos de 3 continentes: África, Europa e América –
formando um comércio triangular, que durou até o século XIX. No caso de Portugal, parte
desses lucros ia para a metrópole em forma de taxas devido ao exclusivo metropolitano.
Gabarito: D

(UECE/2017)
Leia atentamente os seguintes excertos:
“[...] uma das principais causas da dizimação dos índios, afora as doenças trazidas pelos
europeus, foram os massacres e a eliminação deliberada dos nativos pelos portugueses. Isso
resultou no fato de que apenas aproximadamente 300.000 índios, cerca de 5 por cento dos
6 milhões que compunham a população indígena em 1500, sobreviveriam para as
“comemorações” dos quinhentos anos da chegada de Cabral a suas terras”. JANCSÓ, István
(Coord.) Rebeldes brasileiros – homens e mulheres que desafiam o poder. São Paulo: Casa
Amarela, [s.d.]. fasc. 9. p. 261 (Caros amigos)
“Entre os dias 26 de março e 22 de abril [de 2016], os indígenas Aponuyre, Genésio, Isaías e
Assis Guajajara, todos da Terra Indígena (TI) Arariboia, no Maranhão, foram assassinados.
Com pouca fiscalização e sem sinal de investigação dos culpados, os indígenas Guajajara que
vivem na área – já demarcada e habitada também por índios Awá isolados – sofrem com a
constante pressão de madeireiros e temem por sua segurança”. COMISSÃO PASTORAL DA

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TERRA - CPT. Em um mês, quatro indígenas Guajajara foram assassinados no Maranhão.


Publicado em 27 de abril de 2016. Acessado em 11 de maio de 2017. Disponível em:
https://www.cptnacional.org.br/index.php/publicacoes/noticias/conflitos-nocampo/3191-
em-um-mes-quatroindigenas-guajajara-foram-assassinados-no-maranhao
Considerando os excertos acima, é correto afirmar que
a) os conflitos que ainda ocorrem entre indígenas e população não indígena se dão
exclusivamente pela ação predatória, promovida pelos índios, sobre os recursos naturais
protegidos por lei.
b) as tensões geradoras dos massacres e a dizimação da população nativa brasileira ainda
perduram nos tempos atuais, apesar da atual proteção do Estado sobre as populações
indígenas.
c) o interesse dos capitalistas em obter maiores lucros com a exploração da terra dos índios
e de seus recursos nunca foi motivação para os conflitos que dizimaram e ainda diminuem a
população indígena.
d) os eventos de violência contra a população indígena, em diversas áreas do país, se dão
porque essa população não é aceita pelo Estado quando tenta integrar-se ao modelo social,
justo e inclusivo, do mundo civilizado.
Comentários
Questão bastante atual e pode cair algum tipo de referência aos conflitos indígenas de hoje
relacionando-os com o início do Brasil colônia. Por isso, se liga!!!
A alternativa A está errada porque não são os índios que promovem a ação predatório, mas os
não índios que possuem interesses materiais, como a busca por minérios, nas terras. Dessa
maneira, também podemos eliminar a alternativa C. A B está correta porque, como os textos
mostram, os massacres aos índios permanecem. Você poderia ficar em dúvidas sobre a parte
da proteção do Estado. Saiba que a atual Constituição da República possuiu todo um capítulo
dedicado à questão indígena e diversos dispositivos que obrigam o Estado a proteger os índios.
Temos, também, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) como órgão governamental para
desenvolver políticas específicas de proteção aos índios.
Gabarito: B

(UECE/2017)
Leia atentamente os excertos a seguir:
“Os escravos são as mãos e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil não é
possível fazer, conservar e aumentar fazenda, nem ter engenho corrente. E do modo com
que se há com eles, depende tê-los bons ou maus para o serviço”;
(André João Antonil. Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas. Belo Horizonte.
Itatiaia, 1982. p. 89.)

AULA 06: HB - Colônia I 143


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“A democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-entendido. Uma aristocracia rural e


semifeudal importou-a e tratou de acomodá-la, onde fosse possível, aos seus direitos ou
privilégios, os mesmos privilégios que tinham sido, no Velho Mundo, o alvo da luta da
burguesia contra os aristocratas”.
(Sérgio Buarque de Holanda. Raízes do Brasil. Rio de janeiro. José Olímpio editora, 1984. p.
119.)
Considerando os vários aspectos da formação social do Brasil, pode-se afirmar corretamente
que os dois trechos acima tratam
a) da inclusão do negro e do pobre no processo democrático que rompeu com os direitos e
privilégios das classes dominantes.
b) da integração social ocorrida ainda na colonização com o processo de miscigenação étnica
que tornou iguais todos os brasileiros.
c) da condição de exploração e exclusão a que estava sujeita uma parcela significativa da
população brasileira em razão dos interesses das elites.
d) da perfeita inclusão dos negros libertos e da população pobre em geral na sociedade
brasileira, com a criação da República e da democracia no Brasil.
Comentários
Os dois textos indicam elementos importantes da formação da sociedade brasileira: a
exploração da elite detentora do poder econômico e político diante da grande maioria de
pessoas excluídas e marginalizadas. Portanto, são textos críticos ao processo histórico
brasileiro. Dessa forma, as alternativas que sugerem uma inclusão sem a devida
problematização histórica estão erradas, como a A, a B e a D. Como notamos hoje, o Brasil
ainda não rompeu com seu passado colonial.
Gabarito: C

(UECE/2015)
A compreensão cristã do encontro dos portugueses com os primeiros habitantes da América
teve forte conotação maniqueísta: de um lado estava o bem, simbolizado pelos europeus na
sua suposta busca pelo paraíso; de outro, o mal, representado pelos indígenas e suas práticas
diabólicas.
Analise as afirmações abaixo acerca dessa compreensão.
I. Tal compreensão foi alimentada por considerações imprecisas de alguns viajantes que
classificavam de “demoníacas” certas práticas culturais dos povos americanos.
II. A leitura das práticas dos povos americanos pelos europeus aliou a ideia da conquista de
novas terras com o desejo de levar a palavra de Deus àquelas criaturas “demonizadas”.
III. O pensamento cristão português dissociava-se das ideias e políticas expansionistas; desse
modo, a propagação da fé era desvinculada da empresa marítima.
É correto o que se afirma em

AULA 06: HB - Colônia I 144


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a) I, II e III.
b) II e III apenas.
c) I e III apenas.
d) I e II apenas.
Comentários
Boa questão para lembrarmos da Carta de Caminha e dos mitos que já foram descontruídos
acerca da saga portuguesa até conquistar o Brasil. Como vimos, o desconhecido alimentou
diversos tipos de histórias sobre as dificuldades de se chegar às terras que viriam a ser
conhecidas como o Brasil. A presença de elementos religiosos do cristianismo foram
fundamentais para construir a ideia de que o empreendimento, além de lucro, era feito em
nome de Deus. A própria ideia de catequização dos índios por serem considerados “puros” fez
com que a igreja católica possuísse grande interesse em expandir sua fé para as novas terras
conquistadas. Assim, o item III está errado.
Gabarito: D

(UDESC/2017)
“A unidade básica de resistência no sistema escravista, seu aspecto típico, foram as fugas.
(...) Fugas individuais ocorrem em reação a maus tratos físicos ou morais, concretizados ou
prometidos, por senhores ou prepostos mais violentos. Mas outras arbitrariedades, além da
chibata, precisam ser computadas. Muitas fugas tinham por objetivo refazer laços afetivos
rompidos pela venda de pais, esposas e filhos. (...) No Brasil, a condenação [da escravidão]
só ganharia força na segunda metade do século, quando o país independente, fortemente
penetrado por ideias e práticas liberais, se integra ao mercado internacional capitalista. (...)
“Tirar cipó” – isto é, fugir para o mato – continuou durante muito tempo como sinónimo de
evadir-se, como aparece no romance A carne, de Júlio Ribeiro. Mas as fugas, como
tendência, não se dirigem mais simplesmente para fora, como antes; se voltam para dentro,
isto é, para o interior da própria sociedade escravista, onde encontram, finalmente, a
dimensão política de luta pela transformação do sistema. “O não quero dos cativos”, nesse
momento, desempenha papel decisivo na liquidação do sistema, conforme analisou o
abolicionista Rui Barbosa”.
REIS, João José. SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São
Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 62-66-71.

De acordo com os autores do texto, João José Reis e Eduardo Silva, assinale a
alternativa incorreta.
a) As fugas de escravos entre os séculos XVI e XIX tiveram motivações diversas, entre elas o
tráfico interprovincial.
b) Durante o século XIX, a luta dos escravos pela liberdade não se dava somente pela fuga
coletiva para a formação de quilombos.
c) As cidades, no século XIX, tornaram-se espaços significativos para as lutas pela abolição.

AULA 06: HB - Colônia I 145


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d) Os escravos foram agentes da história, e não apenas força de trabalho.


e) A naturalização do sistema escravista se manteve estável durante o período colonial e o
imperial.
Comentários
Veja que a questão nos pede a alternativa incorreta. Esse tipo de questão pega muita gente
apressada. Com isso, a alternativa E é a única que destoa de uma análise coerente do trecho
apresentado no enunciado da questão. O sistema escravista não foi algo estável com a
alternativa E afirma. As fugas, as resistências, os quilombos, foram sinais de que os
escravizados não aceitavam a condição de forma passiva.
Chamo sua atenção para a alternativa D. Esta remete a um grande debate que a historiografia
brasileira já fez e, de certa forma, já superou que é: como contar a história dos negros?
Antigamente, os livros de ensino traziam os negros só como força de trabalho e depois, como
libertos após a abolição em 1888. Hoje em dia, tal como pontuamos na aula, ressaltam-se os
aspectos que demonstram que a população negra teve voz, teve fala, resistiu, ou seja, também
foi sujeito nessa história e não apenas objeto.
Gabarito: E

(UDESC 2013)
Analise as proposições sobre a administração colonial na América portuguesa, e assinale (V)
para verdadeira e (F) para falsa.
( ) Com o objetivo de diminuir as dificuldades na administração das capitanias, D. João III
implantou, na América portuguesa, um Governo-Geral que deveria ser capaz de restabelecer
a autoridade da Corte portuguesa nos domínios coloniais, centralizar as decisões e a política
colonial.
( ) A Capitania de São Vicente foi escolhida pela Coroa Portuguesa para ser a sede do
Governo, pois estava localizada em um ponto estratégico do território colonial português.
Foi nesta Capitania que se implementaram as novas políticas administrativas da Coroa com
a instalação do Governo-Geral.
( ) Tomé de Souza foi o responsável por instalar o primeiro Governo- Geral. Trouxe com ele
soldados, colonos, burocratas, jesuítas, e deu início à construção da primeira capital do Brasil:
Rio de Janeiro.
( ) A criação e instalação do Governo-Geral na América portuguesa foi uma alternativa
encontrada pela Coroa Portuguesa para organizar e ocupar a colônia, que enfrentava
dificuldades, dentre elas os constantes conflitos com os indígenas e os resultados
insatisfatórios de algumas capitanias.
Assinale a alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo:
a) V – F – F – V
b) V – F – V – F

AULA 06: HB - Colônia I 146


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c) V – V – F – F
d) F – V – F – V
e) F – V – V – F
Comentários
A implantação do sistema colonial de exploração por parte de Portugal foi um processo bastante
diferente em relação ao da Espanha. Houve 2 momentos desse processo marcados por interesses
distintos de Portugal em relação à terra “descoberta” por Cabral. Além disso, os modelos de
implantação do sistema de exploração colonial também se diferenciaram. O primeiro vai de 1501
a 1530 e o segundo de 1530 a 1822. No primeiro, o que se verificou foi uma fase de economia
extrativista. Não houve um planejamento centralizado ou algo do tipo. Mesmo assim a exploração
era monopólio da Coroa Portuguesa, que permitia a exploração particular por meio de contrato
de concessão. A atividade extrativista de pau-brasil foi realizada com mão de obra indígena à base
de escambo (troca de utensílios europeus, como machado, facas, por trabalho). Contudo, é
importante ressaltar que os contratos de concessão emitidos pela Coroa privilegiavam
exploradores portugueses. Tratava-se de uma forma de protecionismo. O principal explorador foi
Fernando de Noronha. Outra característica fundamental sobre a colonização portuguesa era a
ideia de exclusivo metropolitano: toda negociação, acordo, comércio, troca que envolvesse a
colônia portuguesa deveria ser decidida exclusivamente pela metrópole. Dessa compreensão
decorrerão várias formas distintas de relação exclusiva entre a metrópole e colônia. Pode ser que
você já tenha ouvido a expressão “Pacto Colonial” para esta explicação. Está certo também!
A década de 1530 marca o início do segundo momento de colonização portuguesa na América.
A principal mudança foi a implantação do sistema de Capitânias Hereditárias, repartindo a América
portuguesa em territórios independentes entre si, mas todos submetidos à Coroa. Essa mudança
na administração colonial teve cinco motivações principais: a concorrência internacional; a
contestação acerca do Tratado de Tordesilhas; a descoberta do ouro e prata na América do Sul;
a diminuição dos preços e lucros com as especiarias orientais; as ameaças de invasão estrangeira
no território colonial. Para Portugal era urgente estabelecer a colônia e implementar o sistema de
exploração comercial. Por isso, em 1530 começou uma nova fase de relação entre Metrópole e
Colônia.
A estratégia principal consistia em incentivar a produção de cana-de-açúcar voltada para a
exportação. O rei português concedeu cada capitânia a um donatário, que era autoridade máxima
na política, economia e justiça representando diretamente o monarca. O cargo era hereditário.
Assim, vemos que a administração da colônia era descentralizada, pois os donatários não tinham
que responder a nenhuma autoridade intermediária. Contudo, nem todas as capitânias
conseguiram ser bem-sucedidas na empresa do açúcar, devido aos custos que isso demandava.
As que mais deram certo foram a de Pernambuco e a de São Vicente. Para completar, os
problemas que levaram à criação desse sistema não haviam sido completamente solucionados.
Por isso, em 1548 foi criado o Governo Geral que passou a ser a autoridade máxima na colônia, à
qual os donatários deveriam responder. O primeiro governador chegou ao Brasil em 1549,
acompanhado de jesuítas, tropas, e mais funcionários metropolitanos e instalaram a capital e sede

AULA 06: HB - Colônia I 147


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do governo em Salvador. Portanto, uma administração centralizada passou a ser adotada. Com
isso, já podemos analisar as alternativas:
 Verdadeira! Está de acordo com o comentário.
 Falsa. O local escolhido para ser capital e sede do Governo Geral foi Salvador, na Bahia.
São Vicente não tinha uma localização estratégica para o comércio português, pois era
muito distante da Península Ibérica, enquanto o nordeste brasileiro era bem mais próximo.
 Falsa. A única coisa errada é que afirma que a capital escolhida foi o Rio de Janeiro, quando
na verdade foi Salvador, como já dissemos acima. Entretanto, em 1763, a capital foi
transferida para o Rio de Janeiro, pois este era bem mais próximo de Minas Gerais, o novo
principal polo econômico da América portuguesa devido à mineração de ouro e diamante.
 Verdadeira! Também está de acordo com o comentário.
Gabarito: A

(UDESC 2013)
Sobre a população nativa do território brasileiro, no século XVI, assinale a alternativa
incorreta.
a) Quando os portugueses chegaram ao litoral atlântico sul-americano ele já era ocupado por
mais de mil povos seminômades que viviam da caça, da pesca, da coleta e da agricultura.
b) Estudos apontam que os grupos indígenas que habitavam o território, que hoje é o Brasil,
quando da chegada dos portugueses, eram passivos e ingênuos, por isso sua dominação e
seu controle foi relativamente tranquilo para Portugal.
c) Estudos apontam que os tupi-guaranis são originários da região amazônica, mas o
crescimento da população e as mudanças ambientais, dentre outros motivos, forçaram-nos
a abandonar suas terras e partir em direção ao litoral.
d) Quando os portugueses chegaram ao território, que hoje é o Brasil, os tupis ocupavam
quase toda a faixa costeira entre os atuais estados do Ceará e São Paulo, enquanto que os
guaranis localizavam-se mais ao Sul.
e) Os tupis do litoral foram os primeiros povos nativos a tomar contato com os europeus.
Formavam o grupo mais numeroso, por isso, muitas vezes, a imagem do tupi é confundida
como se representasse todos os indígenas do território brasileiro.
Comentários
Quando os portugueses chegaram ao Brasil no final do século XV, havia mais de mil grupos
indígenas que, somados, totalizavam algo entre 2 e 4 milhões de indivíduos. Os tupis-guaranis
habitavam o litoral e tinham uma língua e culturas similares, embora fossem formados por diversos
grupos, como os tupinambás nos litorais baiano e carioca, os potiguaras e os caetés no Nordeste,
os guaranis, na porção meridional do território e no atual Rio Grande do Sul. Portanto, por “tupi-
guarani” devemos entender não somente um povo, mas uma grande nação, uma “macro-etnia”,
ou uma matriz cultural composta por vários povos com costumes, língua (tupi), religião e ancestrais

AULA 06: HB - Colônia I 148


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em comum. Os falantes de tupi eram a etnia mais numerosa encontrada em praticamente todas
as regiões do Brasil e em alguns outros países da América do Sul, como o Paraguai e o Uruguai.
Entretanto, não existiam apenas os tupis-guaranis. Havia uma infinidade de outras etnias falantes
de tantas outras línguas de diferentes troncos linguísticos e matrizes culturais diversas. Os
portugueses recém-chegados passaram a chamar genericamente todos os povos que não falavam
tupi de tapuia. Portanto, este nome é ainda mais inexato do que “tupi-guarani”, pois é uma
classificação dada pelos europeus a uma variedade de povos que não tinham muitas coisas em
comum para além de não falar tupi. Esses grupos costumavam habitar o interior do Brasil. Entre
eles podemos citar: os xavantes e os botocudos no interior da Bahia; os aimorés no Espírito Santo;
os goitacás no Rio de Janeiro; os guaianás em São Paulo; entre outros. Então, vamos ver as
alternativas. Mas lembre-se: devemos identificar a alternativa errada! Vejamos:
a) Correta!
b) Incorreta. As diferentes etnias e grupos nativos tiveram reações diversas aos portugueses e
demais europeus. Alguns se aliaram a eles, na esperança de derrotar outros grupos nativos
rivais. Outros fizeram guerra violenta contra os conquistadores, ainda mais quando estes
começaram a escravizar os indígenas. A escravidão indígena foi a principal força de trabalho
utilizada em toda a colônia até a década de 1570, quando os africanos escravizados
passaram a ser preferidos nos grandes engenhos do Nordeste. Contudo, nas regiões menos
prósperas da colônia, os indígenas continuaram sendo usados como escravizados. Há
registros de muitas revoltas dos nativos para se libertar dessa condição.
c) Correta! Lembra-se das teorias sobre a ocupação humana da América na pré-história, do
Estreito de Bering e das navegações pelo pacífico? Então, em ambas as teorias, acredita-
se o litoral brasileiro foi um dos últimos espaços a serem ocupados. No caso da hipótese
da migração pelo Alasca e a gradual descida para a América do Sul, esses primeiros
migrantes teriam que passar antes pela Amazônia de qualquer forma. No caso da hipótese
das navegações pelo Pacífico, os migrantes teriam aportado na costa oeste da América do
Sul, ocupando primeiros os Andes e posteriormente migrando para o Centro Oeste
brasileiro, para a Amazônia e para o Nordeste. Somente depois desses movimentos, os
migrantes teriam descido para as regiões mais sul e litorâneas. Portanto, a história tupi se
enquadra em ambas.
d) Correta! Mas lembre-se que essas eram etnias “aparentadas”, falavam a mesma língua e
descendiam dos mesmos ancestrais.
e) Correta!
Gabarito: B

(UNITAU 2018)
O açúcar foi o principal produto brasileiro de exportação durante a época colonial. Mesmo
durante o auge da exploração do ouro, quando o Brasil encheu os cofres europeus e ajudou
a impulsionar a Revolução Industrial na Inglaterra, o valor das exportações de açúcar excedeu
o de qualquer outro produto.

AULA 06: HB - Colônia I 149


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Assinale a alternativa que apresenta o(s) mecanismo(s) empregado(s), na economia colonial,


para favorecer esse quadro.
a) A imigração maciça de portugueses para trabalhar nas terras interiores da colônia.
b) A utilização predominante da mão de obra indígena nas lavouras açucareiras.
c) O incentivo dado pela coroa portuguesa à adoção do trabalho assalariado livre.
d) A adoção da mão de obra escrava africana e o pacto colonial.
e) O predomínio de pequenas propriedades rurais produzindo açúcar para exportação.
Comentários
O desenvolvimento da economia açucareira no Brasil teve início a partir de 1530, com a adoção
de uma colonização mais sistemática do território com a intenção de defender a posse portuguesa
e fomentar o desenvolvimento econômico, por meio da criação das capitânias hereditárias e,
pouco tempo depois, do Governo Geral. Essa economia funcionava com base nos princípios
mercantilistas, os quais balança comercial favorável, exclusivo metropolitano (pacto colonial),
protecionismo e intervenção estatal. Tratava-se de produzir açúcar em grandes quantidades para
ser vendido no mercado internacional, sendo que a colônia só poderia negociar seus produtos
com intermédio da metrópole. Por fim, vale destacar que o trabalho empregado nesses grandes
latifúndios de cana era escravizado. Até a década de 1570 predominou a mão de obra indígena,
mas a partir desse momento os cativos africanos e o tráfico transatlântico de escravizados ganha
mais espaço, tornando-se predominantes nas regiões mais lucrativas da colônia (Bahia e
Pernambuco). Sabendo disso, vejamos:
a) Incorreta. Não houve imigração massiva nesse momento. Na verdade, era difícil até mesmo
incentivar os donatários a se estabelecer na colônia devido aos riscos da viagem e os custos
para construir uma empresa açucareira. Além disso, haviam os indígenas que podiam se
revoltar e matar os colonos. A Coroa buscava incentivar a imigração do excedente
populacional, mas não alcança uma grande quantidade, não nesses primeiros séculos de
colonização.
b) Incorreta. Como dissemos acima, a mão de obra indígena só predominou até os anos 1570,
sendo progressivamente substituída pelos escravizados africanos nas regiões mais
prósperas da colônia.
c) Incorreta. Não havia tal incentivo.
d) Correta! Está de acordo com o comentário.
e) Incorreta. A Coroa privilegiou incentivar o grande latifúndio, não as pequenas
propriedades.
Gabarito: D

(UNITAU 2017)
O Cristianismo chegou ao Brasil com a conquista colonial, associado à exploração
metropolitana. A Igreja desempenhou, assim, um importante papel no processo de

AULA 06: HB - Colônia I 150


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colonização, promovendo a transformação do modo de vida indígena e a sua adaptação às


formas culturais europeias. Dentre as medidas adotadas pelos religiosos para promover esse
processo, é INCORRETO destacar:
a) A criação dos aldeamentos, onde os índios das mais diferentes tribos eram reunidos,
recebiam a catequese e eram batizados, tornando-se cristãos.
b) O combate ao nomadismo e a imposição do trabalho agrícola aos índios, com uma nova
divisão de tarefas entre homens e mulheres.
c) A obrigação do uso de vestimentas, enquanto, anteriormente, os índios exibiam as marcas
da sua cultura no próprio corpo.
d) O estabelecimento de escolas para os nativos, de modo a alfabetizá-los, com o objetivo
de torná-los funcionários da administração colonial.
e) A organização do tempo, com a Igreja instalada no centro do aldeamento e o sino
regrando a vida dos nativos em relação ao trabalho, à catequese e ao lazer.
Comentários
ATENÇÃO! A questão pede para identificar a alternativa errada. Não se esqueça! Como o
enunciado já disse, de fato, o cristianismo cumpriu papel importante na colonização da América
portuguesa. Na verdade, a religião cristã era fundamental para a legitimidade da monarquia
portuguesa como um todo, pois esta ascendeu ao poder graças a suas vitórias contra os
muçulmanos que ocupavam a Península Ibérica. Assim, os reis portugueses continuaram usando a
religião como uma justificativa para a necessidade de conquistar novos territórios e povos, para
convertê-los ao cristianismo. Esses feitos garantiram aos reis portugueses a simpatia do Papa, que
lhes concedeu plenos poderes religiosos nomear clérigos, alterar e vetar dogmas, assim como
administrar a Contrarreforma dentro de seus territórios ultramarinos. Essas concessões são
chamadas de Padroado e beneplácito régio. Religião e Estado estavam tão interligados no estado
absolutista português que o pagamento do clero era feito pelo tesouro real.
Mas voltando para a colonização, a ação dos religiosos se deu por meio das ordens
regulares, principalmente a Companhia de Jesus, os famosos jesuítas. Esses clérigos condenavam
a escravidão indígena e vinham para o Brasil para fundar aldeamentos nos quais os indígenas
seriam agrupados, evangelizados e civilizados. Nem sempre esse aldeamento era pacífico e
envolvia uso da força, da violência e do trabalho compulsório, contudo era um regime diferente
da escravidão propriamente dita na qual o indivíduo era reduzido a condição de propriedade.
Enfim, os religiosos, então, tiveram um papel muito importante pois cumpriam a função de
converter os nativos e, posteriormente, os escravizados africanos para torna-los mais submissos à
ordem europeia. Entretanto, no caso dos jesuítas, os missionários costumavam entrar em conflito
com os colonos leigos por serem contra a escravidão dos nativos, defendendo o modelo de
aldeamento. Houve momentos que os jesuítas pegaram em armas para defender os indígenas das
expedições bandeirantes escravizadoras, nos séculos XVII e XVIII, como veremos na Aula 07 com
mais detalhes. Por ora, o que dissemos até aqui já é o suficiente para avaliar as alternativas.
Vejamos:

AULA 06: HB - Colônia I 151


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a) Correta! Está de acordo com o comentário.


b) Correta! O aldeamento, chamado de missão ou redução, era como uma vila portuguesa,
de aspecto rural e economia agrária, em geral voltado para subsistência, mas alguns
missionários administraram verdadeiros latifúndios competindo com os colonos. De
qualquer forma, a proposta principal do aldeamento era civilizar os indígenas, ensinando-
lhes os modos de vida e trabalho europeus, ou seja, vida sedentária dedicada ao trabalho,
com hierarquias sociais, raciais e de gênero bem determinadas.
c) Correta! Os europeus em geral e os clérigos em especial tinham uma noção de pudor bem
diferente dos nativos, usando bem mais roupas, o que foi imposto aos indígenas, sobretudo
nos aldeamentos, para “cobrir suas vergonhas”, como se dizia na época.
d) Incorreta. Não foram criadas escolas e a intenção nunca foi alfabetizar os indígenas, apenas
catequizá-los e discipliná-los para o trabalho e a submissão à colonização. Além disso, os
nativos não eram incorporados à administração colonial institucionalizada. Até mesmo
brancos nascidos no Brasil tinha dificuldade em assumir cargos nas instituições
administrativas, como precaução dos portugueses.
e) Correta! A percepção do tempo muda de época para época, mas também de sociedade
para sociedade mesmo ambas existindo no mesmo contexto histórico. Essa percepção
depende de fatores culturais e do modo de vida que as pessoas praticam. Logo, não é difícil
imaginar que os nativos lidavam com o tempo de outra forma, não o vendo de forma linear
e progressiva como os europeus. Justamente por isso, o tempo também se tornou alvo das
estratégias de dominação pelos europeus.

Gabarito: D

(UNITAU 2016)
O dia 20 de novembro foi instituído como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A
data foi escolhida por ser o dia da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares. Sobre
Zumbi e o Quilombo dos Palmares, pode-se afirmar que
a) no período do Brasil Império, Zumbi simbolizou a luta do negro contra a escravidão,
mobilizando todos os grupos marginalizados.
b) Zumbi morreu muito tempo após o fim do Quilombo dos Palmares. Depois de preso, foi
levado ao Rio de Janeiro, sendo morto e exposto em praça púbica.
c) o quilombo liderado por Zumbi constituía uma forma de resistência ao sistema escravista,
e era o principal responsável pela preservação da cultura africana no Brasil.
d) apesar da curta existência, menos de cinquenta anos, o Quilombo dos Palmares ficou
bastante conhecido por ter resistido durante décadas contra os ataques da Coroa
Portuguesa e dos holandeses.

AULA 06: HB - Colônia I 152


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e) a relação do Quilombo dos Palmares com a presença dos holandeses no Nordeste se


caracterizou pelo investimento do governo holandês no Quilombo, para fortalecê-lo e fazer
frente à Coroa Portuguesa.
Comentários
Antes de mais nada, é importante destacar que os escravizados africanos e seus descendentes
desenvolveram várias formas de resistência para sobreviver a ou fugir da escravidão. Por aqui a
sociabilidade é um complexo que envolve relações pessoais, cultura, raça e muita, muita
negociação. Além da fuga e da formação de quilombos (também chamados de mocambos),
podemos citar: abortos voluntários para evitar que seus filhos nascessem na condição de
escravizados; suicídio; sabotagens nos engenhos por meio de destruição de plantações,
instrumentos e da moenda; emboscadas e ataques surpresa à feitores, senhores e seus familiares
ou à elite branca em geral; negociações com os senhores para obtenção de melhores condições
de vida, como alimentos, vestuário e moradia. Você deve estar se perguntando: “mas eles não
eram escravos? Como conseguiam negociar? Imagine que nesses primeiros séculos de
colonização, sobretudo nos grandes engenhos, havia muito mais escravizados que portugueses.
Os africanos eram traficados em grandes quantidades e os senhores engenhos tinham interesse
em acumular o máximo de cativos que podiam, pois isso se refletia no aumento da produção e do
prestígio social. Além disso, os engenhos eram distantes uns dos outros, alguns a centenas ou
milhares de quilômetros distantes dos centros administrativos, onde as poucas tropas residiam.
Portanto, apesar de ter armas de fogo, cavalos e alguns feitores, nem sempre isso era força
suficiente para combater uma revolta de centenas de cativos. Por isso, alguns senhores se
mostravam mais ou menos dispostos a negociar com os escravizados fazendo algumas concessões
pontuais. Bom, mas foquemos na forma de resistência que é tema da questão: as fugas e os
quilombos! As fugas podiam ser individuais e coletivas. Nem sempre o(s) fugitivo(s) ia para ou
fundava um quilombo. Por vezes, mudava de cidade, buscava se passar por liberto ou se submeter
a outro senhor considerado mais “justo”. As possibilidades eram muitas num território tão vasto
como o Brasil.
Por sua vez, durante muitos anos, a resistência quilombola marcou a história dos negros na
América portuguesa. Muitos quilombos, além de receber negros que fugiam da dominação do
sistema escravista, chegaram a reunir índios e até brancos descontentes com as imposições do
governo português. A vida nos quilombos era baseada na agricultura e em pequenas trocas
comerciais com comerciantes e taberneiros das proximidades. A depender da localidade,
poderiam ainda fazer mineração e cerâmica.
Com a formação dos Quilombos, a preocupação dos senhores de engenho e da Coroa era com a
disseminação de ideias insurrecionais, contrárias, portanto, ao sistema escravista. O Quilombo dos
Palmares se destacou na resistência negra. Localizado em uma região da capitania de
Pernambuco, começou a ser organizado em 1580 e foi destruído por colonos e pela Coroa
portuguesa no começo do século XVIII. Ganga Zumba e Zumbi se destacaram entre os líderes de
Palmares. O primeiro, governou de 1656 a 1678 e, Zumbi, governou de 1678 até a sua morte.
Zumbi era sobrinho de Ganga Zumba e articulou a derrubada do tio por considerar que a política
de Ganga Zumba de aproximação com os brancos não condizia com a ideia de liberdade do negro.

AULA 06: HB - Colônia I 153


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Zumba chegou a firmar um acordo com o governador de Pernambuco que previa a libertação dos
negros nascidos em Palmares, mas em troca, os fugitivos mais recentes no Quilombo deveriam
ser devolvidos. Zumbi não concordou com essa proposta e liderou uma rebelião contra o então
chefe. Como já adiantei acima, o bandeirante Domingos Jorge Velho foi contratado para destruir
Palmares. Em 1692, em uma primeira tentativa, Jorge Velho e seus aliados cercaram Palmares,
mas os quilombolas venceram o confronto. Dois anos depois, em 1694, Jorge Velho, com mais 6
mil soldados conseguiram vencer Palmares. Zumbi escapou, mas foi pego em 1695. Após ser
preso, foi morto e sua cabeça ficou estiada em praça pública em Recife. Apesar disso, os
sobreviventes conseguiram se deslocar e reorganizar Palmares na Serra da Barriga, mas com
menos força do que sob as antigas lideranças. Mesmo assim, durou até meados do século XVIII.
A organização dos quilombos se multiplicou em muitas regiões do país e, até hoje, existem as
assim denominadas “comunidades quilombolas”. Algumas conseguiram o direito ao
reconhecimento da terra que seus antepassados escravos conquistaram e outra, não. Por sinal, a
nossa atual Constituição, a Constituição Federal de 1988, prevê o direito à terra aos descendentes
de quilombolas. Agora vejamos:
a) Incorreta. Zumbi e Palmares se tornaram símbolo da luta antirracista no século XX, com a
fundação do Movimento Negro unificado, nos anos 1970.
b) Incorreta. Zumbi foi morto em 1695 e teve sua cabeça exposta em Recife. O Quilombo dos
Palmares continuou existindo mesmo após a sua morte, apenas sendo completamente
dispersado em meados do século XVIII.
c) Correta! Devido à grande intensidade do tráfico de africanos para o Brasil nesse período, a
maioria dos escravizados aqui residentes tinha nascido na África, portanto, ainda
recordavam bem de suas culturas e tentavam reproduzi-las aqui na colônia. Vale ressaltar
que, nos séculos XVI e XVII, a maioria dos cativos trazidos para o Brasil era originário da
África Central, região dos atuais Angola, Congo e Gabão. Ou seja, a afinidade cultural entre
os cativos dessa época era grande, muitos falavam as mesmas línguas ou similares, além de
compartilharem crenças religiosas e concepções de mundo. No caso do Quilombo dos
Palmares, o mesmo se verifica. Era uma sociedade formada majoritariamente por africanos
que tentavam reproduzir a organização política de seus povos originais. Por isso, alguns
historiadores defendem que Palmares era um reino africano no Brasil.
d) Incorreta. Palmares durou mais de cem anos. Como vimos, as primeiras tentativas de
formação de um quilombo na Serra da Barriga datam da década de 1580. Por outro lado,
Palmares conheceu seu fim por volta dos anos 1720/1730, quando os últimos
remanescentes foram dispersos por bandeirantes paulistas.
e) Incorreta. A relação com os holandeses também foi intensa e permeada de violência e
perseguição.
Gabarito: C

(IFPE – 2020/1)

AULA 06: HB - Colônia I 154


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Não se pode dizer que os senhores fossem cidadãos. Eram, sem dúvida, livres, votavam e
eram votados nas eleições municipais. Eram os “homens bons” do período colonial. Faltava-
lhes, no entanto, o próprio sentido da cidadania, a noção de igualdade de todos perante a
lei. Eram simples potentados que absorviam parte das funções do Estado, sobretudo as
funções judiciárias. Em suas mãos, a justiça, que, como vimos, é a principal garantia dos
direitos civis, e que se tornava simples instrumento do poder pessoal. O poder do governo
terminava na porteira das grandes fazendas.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 14ª ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2011 (adaptado). 41.
A partir da leitura do e analisando o processo histórico da cidadania no Brasil, desde o
período colonial até o presente, é CORRETA a seguinte afirmação:
a) a cidadania brasileira foi construída já no período colonial, tendo senhores de engenho,
homens livres e proprietários, logo, “homens bons”, à frente das Câmaras Municipais,
assumindo as funções do Estado português, em geral, autoritário e centralizador.
b) ao longo de mais de 500 anos, a cidadania, no Brasil, foi uma construção histórica que
buscou conciliar os diversos grupos sociais e étnicos que habitaram o território, pautando-se
no respeito às diferenças e na mestiçagem de nosso povo, marca de nossa identidade
nacional.
c) ao longo de mais de 500 anos de história brasileira, o processo de construção da cidadania
foi impactado seja pela escravidão, seja pela grande propriedade rural, dificultando o
exercício de direitos civis básicos e a participação política de grande parte da população.
d) a condição de proprietário rural e a cor branca, no Brasil, nunca foram características
consideradas importantes como critérios de distinção para o exercício da cidadania, seja pelo
Estado português, seja, depois, pelo Estado Nacional brasileiro.
e) os “homens bons” que assumiram papéis de relevo nas Câmaras Municipais da Colônia
distinguiam-se dos demais por qualidades morais, comumente associadas ao bom
tratamento para com os escravos e dependentes em geral, e ao sentimento de coletividade.
Comentários:
Essa é uma questão complicada já que não se limita apenas a um tempo histórico. O que a banca
quer saber do aluno é se ele consegue estabelecer uma relação entre os atores políticos da colônia
brasileira, com o que aconteceu ao longo dos anos, tudo isso em torno da ideia de cidadania. Na
verdade, o texto tece uma crítica e um paralelismo com a ideia de que os “homens bons” não são
exclusivos do período colonial. O autor se refere aos presidentes das Câmaras Municipais: homens
brancos, da elite latifundiária, que possuíam o controle da justiça local, dos rumos econômicos de
cada região além de, serem os responsáveis por resguardar toda uma estrutura de desigualdade
sustentada pela escravidão e apagamento do indígena.
Direcionando-nos para as alternativas, podemos excluir “e” e “a”. Os responsáveis locais pelas
Câmaras Municipais não possuíam nenhum poder sobre o Estado Colonial, sendo apenas uma
parte da estrutura administrativa do Império Português, e no caso, apenas na ordem econômica e

AULA 06: HB - Colônia I 155


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administrativa, e que mesmo assim, era ineficiente. Assim como, não existia uma ideia de
coletividade e “bondade” com o negro, uma vez que tal sistema precisava ser coercitivo e propor
uma ideia de ameaça. Sempre é bom lembrar que muitas dessas regiões tinham presença
majoritária de negros escravizados, o que demonstra a eficácia punitiva e de medo de tal poder.
Como a alternativa “b” pontua, de fato o processo de cidadania seja do Brasil ou em qualquer
parte do mundo é pautado na construção histórica dos diversos agentes presentes, porém, em
nenhum momento houve uma harmonização de direitos e oportunidades iguais entre todos, sejam
dos indígenas, mortos ou afastados de suas localidades originais, ou do negro, que passou mais
tempo servindo do que possuindo protagonismo social. O que faz descartar a alternativa “d”, ser
branco no Brasil é um privilégio e um atestado contra qualquer desconfiança na ordem jurídica,
política, econômica e de segurança pública, portanto, somos um país que historicamente
privilegiou um tipo de fenótipo, o que começou e se sedimentou no período colonial.
Assim a alternativa correta é a “c”. A constituição da cidadania no Brasil é um reflexo das
constantes arbitrariedades existentes no processo colonial, seja na implementação de um Estado
sustentado pela escravidão, onde, ainda vive à custa de tal passado, ou na expropriação de terras
indígenas, que ocasionou uma distribuição de terras desigual, baseada em privilégios, na cor e
nos compadrios locais.
Gabarito: C

(IFNMG/2019)
Sobre a exploração do trabalho escravo no Brasil, leia as afirmações seguintes e marque
aquela que estiver INCORRETA.
a) Os indígenas, por serem preguiçosos e protegidos pelos jesuítas, não foram escravizados
no Brasil após o Período Pré-Colonial.
b) Os quilombos e o uso da capoeira, enquanto arte marcial, representam algumas das
manifestações de resistência dos negros contra a escravidão.
c) O tráfico negreiro da África para o Brasil era considerado uma atividade comercial que
rendia recursos econômicos não apenas ao traficante, mas também à Coroa Portuguesa.
d) Na região sul do Brasil, marcada pela pecuária, a exploração do trabalho escravo foi
menor, quando comparada a outras regiões onde predominou a agricultura.
Comentários:
Quando temos uma questão de achar a alternativa incorreta temos que sempre nos atentar em
possíveis pegadinhas que as afirmações apresentam. Assim, vamos observar cada uma das
alternativas que são colocadas como corretas.
A alternativa “b” está correta quanto a afirmação, uma vez que tal arte pode ser vista como dança,
luta e representação de uma identidade de grupo, sendo uma luta típica do Brasil, e que se tornou
um símbolo de resistência e representatividade. A possível origem da capoeira remonta a diversas
hibridações que ocorreram, supostamente, no Quilombo dos Palmares, na atual Alagoas. O que

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gera a dúvida é a nomeação da capoeira como uma arte marcial, já que tal nomeação é um termo
empregado normalmente ao Kung Fu, Judô e Tae-kwon-do e não a capoeira.
A alternativa “c” está correta no conteúdo. De fato, o processo de escravidão que ocorreu no
Brasil atingiu entre os séculos XV e XVIII uma lucrativa forma de absorção de lucros, seja de
maneira direta ou indireta: de maneira direta, já que os traficantes e donos das regiões de
comercialização faturavam na venda e troca da mercadoria que era o negro. E indiretamente, uma
vez que tal escravo era uma mão de obra barata seja para o senhor de engenho, ou para a coroa,
que lucrava com os impostos e com o que era produzido a partir de tal prática de trabalho.
E a alternativa “d” talvez possa confundir um pouco o aluno na hora da resolução. Construiu-se
no nosso imaginário que o negro não foi presente na região sul do país, o que é nada mais nada
menos que uma forma de racismo velado em nossa sociedade, que cristalizou que os estados do
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná são o berço da cultura europeia no Brasil, lar de uma
cultura branca.
Porém, é totalmente errado. Primeiramente tal região foi palco de várias subetnias tupi, e
principalmente, guarani que interferiram e muito em toda a ação de tropeiragem na região, e
inclusive, foi localização de uma das principais regiões de catequização no Brasil. Além do
indígena, temos uma presença grande de negros nessas regiões, principalmente no Rio Grande
do Sul, em que os primeiros núcleos de escravidão são datados de 1717, na participação não só
de lavoura e pecuária, como em toda a atividade social. Isso se altera com o processo de imigração
que não só ocasiona um embranquecimento, como apaga e o exclui da sociedade. Na atualidade,
no Censo de 2017, 26% da população rio grandense se declara negro, isso sem contar os pardos.
Assim a alternativa que não possui nada correto é a “a”. Essa construção preconceituosa e racista
foi posta como algo necessário, na justificativa que em tese o negro era apto ao trabalho por ser
forte e alienada a organização, bem como, era um ser sem alma, diferente do indígena, visto como
possível alma a ser “educada” nos preceitos católicos. Se formos analisar, por exemplo, a
construção do Estado de São Paulo e do Rio de Janeiro, essa ideia de que o indígena foi a base
da sociedade está totalmente acompanhada da concepção que isso só foi possível, graças a
catequização.
Gabarito: A

(IFBA – 2018)
Que Deus entendeu de dar
A primazia
Pro bem, pro mal
Primeira mão na Bahia
Primeira missa
Primeiro índio abatido também
Que Deus deu

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Que Deus entendeu de dar


Toda magia
Pro bem, pro mal
Primeiro chão da Bahia
Primeiro carnaval
Primeiro pelourinho também
Gilberto Gil, Toda menina baiana. In.: CD Realce,
Warner: 1979. Trecho disponível em https://www.letras.mus.br/gilberto-gil/46249. Acesso
em 24 jul 2017.
Com base no trecho da música acima, é possível afirmar historicamente que:
a) A primeira missa na Bahia foi feita pelos portugueses com o intuito de converter os índios
ao catolicismo e assim evitar que fosse feita uma guerra contra eles.
b) Para o bem ou para o mal, a Bahia foi o primeiro local no Brasil em que os portugueses
colocaram suas mãos.
c) O carnaval sempre foi feito durante as festas profanas que acontecem ao redor das festas
religiosas católicas. Assim, esse texto seria uma metáfora para entender as contradições do
Brasil: carnavalesco e religioso.
d) Deus seria a entidade que moveria a história dos homens. Os homens apenas
reproduziriam as suas vontades. A vontade de Deus, “pro bem ou pro mal”, espalhou o
cristianismo pelo mundo, uma das principais instituições colonialistas dos séculos XV até os
dias atuais.
e) Ao destacar o abate indígena, o pelourinho e as missas religiosas, o autor chama atenção
para o caráter violento da colonização brasileira.
Comentários:
A música quando utilizada dentro de uma questão pode despertar duas sensações: a primeira é
se eu não conheço a canção, o que devo fazer? Bem se não for uma prova prática de música, a
única coisa que a banca quer saber de você é interpretar historicamente a canção proposta. A
segunda sensação é se identificar com a música, e no caso, se você conhece a canção além da
letra, a melodia te ajuda a entender as intencionalidades que a letra possui.
No caso da canção Toda Menina Baiana, de autoria de Gilberto Gil, foi lançada em 1979, dentro
do álbum Realce. Nela podemos perceber que Gil está inferindo que a personalidade baiana
carrega muito além de carga genética individualizada. Ser baiano é ter a herança de todo um
passado de opressão colonial e de construções de diversas hierarquias construídas por minoria
branca. Assim, ele argumenta que para o bem ou para o mal, foi em terras baianas que Portugal
teve o primeiro contato, a primeira missa, a primeira morte de um indígena pelo homem branco;
além de ser o destino primaz dos primeiros navios negreiros vindo da região da Nigéria (Lagos) e

AULA 06: HB - Colônia I 158


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o antigo Reino de Gana (São Jorge da Mina) e do Reino de Daomé (São João da Ajuda, atual
Benin), que por consequência, foi o primeiro pelourinho e lugar da primeira morte de um negro.
Ou seja, Gilberto Gil propõe uma reflexão de que nossa experiência histórica não pode ser fixa no
presente, pois, indiretamente, somos reflexos de diversas ações passadas, e que no caso do
baiano, ele pontua que tal região e tal povo foram as “cobaias” da ambição e violência
portuguesa, por bem e pro mal, o que torna a alternativa correta a “e”.
Não pode ser a alternativa “a” ou “d” exatamente por que o trecho da canção não se direciona a
questão católica, além do que, a missão evangelizadora não tinha compromisso de apaziguar um
conflito entre europeus e indígenas, bem como, a música em nenhum momento está querendo se
referir a religião católica, como já dissemos acima. Não poderia ser a “c”, já que não há menção a
esse paralelo entre carnaval e religioso, sendo o carnaval citado como arranjo melódico e de
composição com a temática visual do assunto.
A questão que mais poderia estar correta seria a “b” porém, possui alguns erros quase invisíveis.
Realmente a Bahia foi o primeiro espaço onde os portugueses chegaram e de certa maneira
puseram suas “mãos”, mas, não é isso que a letra da música quer dizer. A canção está se
direcionando aquilo que dissemos acima, de todo a violência e os efeitos ainda presentes na
constituição, do que Gil define, de menina baiana.
Gabarito: E

15. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Queridos e queridas,
Esperam que tenham ido muito bem nessa lista de exercícios. Lembre-se de que seus
acertos precisam ser pelos motivos corretos. Volte nos seus erros e reveja os tópicos.
E não esquece: cada dia, cada hora, cada minuto que você se envolve com a tarefa de
adquirir mais conhecimento, gravar mais uma informação, colar mais um post it é uma riqueza
infinita. Ninguém tira de você aquilo que está acumulado: o seu capital cultural. S2

Não esqueça do mantra: Não existe solução mágica, mas existem estratégias
que, se utilizadas com afinco e dedicação, podem realizar sonhos. Nós estamos
JUNTOS nesse caminho!!! Contem comigo, meus querida e querido alunos.

Utilize o Fórum de Dúvidas. Eu responderei suas perguntas com esmero.


E não se esqueça de que não existe dúvida boba. Quanto mais você pergunta, mais conversamos
e mais você sintetiza o conteúdo, certo!

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Também me procure nas redes sociais. Lá tem


dicas preciosas para te ajudar na sua preparação.
Um grande abraço estratégico,
Alê Lopes

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