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Aula 06 —HB:

Livro DigitalI
Colônia
Curso de História
para ENEM 2020

Prof. Marco Túlio

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SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................................... 3
1. A chegada dos Portugueses na América ........................................................... 4
2. O sistema de exploração colonial na América Portuguesa................................ 8
2.1 - A expedição de Martin Afonso de Souza e o início da colonização ........................... 13
3. Administração colonial .................................................................................. 16
3.1 – Sistema de Capitanias Hereditárias ......................................................................... 16
3.2 – Governo geral ......................................................................................................... 18
4. Economia, trabalho e sociedade na colônia ................................................... 22
4.1 – A implantação de uma cultura de exportação: a cana-de-açúcar ............................. 23
4.2 – A civilização do açúcar: trabalho e sociedade .......................................................... 24
4.2.1 – Conhecendo um engenho, suas edificações e as atividades de produção do açúcar............................... 25
4.2.2 – Trabalho escravo e Tráfico de viventes ................................................................................................ 28
4.2.3 – Estrutura social açucareira .................................................................................................................. 36

5. Índios e Negros: resistência e persistência ..................................................... 41


5.1 – Índios, ou melhor, povos originários ....................................................................... 42
5.2 – Resistência Quilombola .......................................................................................... 49
6. Açúcar: do esplendor à crise ............................................................................... 52
6.1 – Explicando a crise do açúcar ................................................................................... 53
7. Lista de Questões ............................................................................................... 58
7.1. Gabarito ................................................................................................................... 70
8. Questões comentadas ........................................................................................ 71
Considerações Finais ...................................................... Erro! Indicador não definido.

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Queridas e Queridos Alunos,


Seja bem-vindo e bem-vinda a mais uma aula. É sempre um grande prazer compartilhar com
vocês nosso trabalho e participar dessa caminhada até sua aprovação. É bom saber que você
avançou mais uma aula! Isso é muito bom porque você está dominando cada dia mais nossa
disciplina!
Nesta aula começamos a estudar a experiência da dominação europeia no Brasil.
Particularmente, gosto muito desse assunto porque começamos a organizar as peças do que
chamamos de “nosso país”. Vamos escrever uma biografia brasileira – que vai demandar muito da
nossa atenção. Os assuntos da aula são: a chegada dos Portugueses na América, a implantação do
sistema colonial, economia e formas de trabalho, bem como, religião e educação na colônia.
Esse é um assunto que não cai na prova.
DESPENCA!!! Fique muitooooo esperto e esperta, porque
este é um assunto “clássico”, mas que sofreu muitas
revisões históricas nos últimos tempos. Pode ser que você
tenha aprendido conceitos em desuso, como por exemplo:
colônia de exploração e povoamento. Eu coloquei algumas questões mais antigas, para que você
possa perceber essas mudanças.
Não me canso de afirmar, para você toda questão de história é imperdível! Você precisa
estar preparado para TUDO! Não esquece: “o segrego do sucesso é a constância no objetivo”. Vamos
seguir juntos!
Se você tiver dúvidas, utilize o Fórum de Dúvidas! Eu vou te responder bem rapidinho. Ah,
não tem pergunta boba, Ok? Vamos começar? Já sabe: pega seu café e sua ampulheta. Bora!!
XVI XVII

INTRODUÇÃO
Queridas e queridos alunos, agora começamos a estudar a história brasileira. Como dizia “o
poeta”, o Brasil não é para iniciantes. Ou seja, muito difícil de explicar, tem que ter certa
desenvoltura e um pouco de conhecimento para entender esse jeito tão peculiar do “ser brasileiro”.
Em suma é preciso muita articulação. E essa é minha proposta: desenvolver em você a capacidade
de explicar esse país tão bem que o corretor da segunda fase vai pensar estar de frente a um
manuscrito de José Murilo de Carvalho, Sérgio Buarque de Holanda ou o próprio Gilberto Freire!
Comecemos pensando na experiência da ocupação portuguesa nesse território e o primeiro
grande produto de exportação explorado nessas terras: o açúcar. Há quem diga que o açúcar não
foi um mero produto que enriqueceu portugueses e colonos. Foi um verdadeiro produtor de
códigos, costumes e hábitos, como diriam as professoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling no livro
Brasil: uma Biografia. Assim, estamos diante do estudo sobre a “civilização do açúcar”.

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Ah sim, lembre-se da chegada dos Europeus na América! Você já sabe muita coisa, pois já
estudou a experiência da colonização espanhola na aula anterior. Use todo esse seu conhecimento
prévio para compreender semelhanças e diferenças com a experiência portuguesa no Brasil., OK?

1. A CHEGADA DOS PORTUGUESES NA AMÉRICA


Você já sabe que o impulso do expansionismo marítimo-comercial de Portugal tem um
fundamento comercial, militar e religioso. Conquistar novas almas e novas rotas até a fonte das
especiarias são as explicações para o impulso do pioneirismo português. Se lembrarmos da aula
passada, vamos concluir que Portugal levou quase 1 século entre conquistar Ceuta (norte da África),
em 1415, e chegar à Índia (Calicute, na época), em 1498, contornando o Périplo Africano. Esse
período foi marcado por um longo processo de tentativas e erros. Muito lucro, mas, também, muito
prejuízo com os naufrágios. De toda forma, possibilitou o desenvolvimento tecnológico e científico
da “ciência de navegar”.
A viagem para a América, mais especificamente a expedição comandada por Dom Pedro
Álvares Cabral, mesmo com tanta experimentação, foi recheada de imagens místicas com peixes-
monstros, sereias, cachoeiras infinitas no horizonte. Uma mitologia, é verdade, corroborada por
dados da realidade, como:
• Entre 1497 e 1612, 620 navios largaram do rio Tejo.
• Desses 285 ficaram no Oriente, ou seja, NUNCA retornaram.
• 66 naufragaram.
• 22 arribaram (viraram a proa para cima).
• 6 incendiaram.
• 4 foram sequestrados por piratas inimigos.

Meu deus, Profe, que cenário de purgatório!!!!


É, Bixo, encontrar uma sereia era lucro, nesse cenário!!!! Aliás, a obra Os Lusíadas, de Luís Vaz
de Camões, faz referência direta aos desafios dos portugueses no mar. Se tiver um tempinho dá uma
conferida na parte do Gigante Adamastor.
Assim, para os portugueses, a América era um “Novo Mundo”. Embora já conhecido – afinal,
não se acredita mais na tese do descobrimento por acaso –, o território não era efetivamente sabido.
Segundo as professoras Lilia Schwarcz e Heloisa Starling, não visão dos brancos europeus, era novo
porque
ausente dos mapas europeus; novo, porque repleto de animais e plantas desconhecidos; novo, porque
povoado por homens estranhos, que praticavam a poligamia, andavam nus e tinham por costume fazer
a guerra e comer uns aos outros.
E em 22 de abril, a armada de Cabral avistou um grande monte, o Monte Pascoal (hoje, Parque
Nacional do Monte Pascoal, a 62 km de Porto Seguro). A reação foi de espanto, encanto e “vontade
de tomar posse”, segundo o que determinava o Tratado de Tordesilhas. Lembra dele?
Essa posse precisava ser registrada e, para tal intento, estava presente o experiente escrivão
Pero Vaz de Caminha – que escreveu a carta que serve, para Portugal, como um “atestado de

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nascimento” do Brasil. Conforme escrevem as professoras, Caminha escreveu uma longa,


deslumbrada e exultante descrição da “terra nova”.
Assim, a descrição do “Novo Mundo” foi recheada de mitos. Mitos não apenas sobre monstros
ou seres “de outra humanidade”, mas sobre a própria chegada dos portugueses à América e sobre
o processo de conquista das terras brasileiras. Com certeza, a Carta de Caminha ao Rei Dom Manuel
alimentou 2 mitos:

MITO 1-
Encontro MITO 2-
Pacífico Índio como
entre Índios o Bom
e Selvagem
Portugueses

O Mito 1 contribuiu para criar a ideia de que o encontro entre portugueses e indígenas foi
amigável e, portanto, a conquista foi pacífica – diferentemente da violência perpetrada pelos
espanhóis na Mesoamérica e nos Andes e até mesmo diferentemente da violência que ocorria na
Europa, contra os mulçumanos, por exemplo. Um encontro, quase como um evento ecumênico de
união de todos.
O Mito 2 alimentou a ideia de que o índio brasileiro era selvagem, mas inocente, portanto, um
bom selvagem. Pacífico e amigável seria o ser a espera da conversão ao cristianismo. Esse mito,
justificava a necessidade de catequização e legitimava o trabalho dos jesuítas que para cá vieram, a
partir da década e 1530. Leia alguns trechos da Carta de Pero Vaz de Caminha, com atenção para os
grifos. Reflita sobre como o texto alimenta os dois mitos.

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Pero Vaz de Caminha lê para o comandante 1 “Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou
Pedro Álvares Cabral, o Frei Henrique de
Coimbra e o Mestre João a carta que será oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro
enviada ao Rei Dom Manuel I
(..)Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas
vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos
rijamente sobre o bater; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os
arcos. E eles os pousaram. [...]
Quando saímos do batel, disse o Capitão que seria bom irmos
direitos à Cruz, que estava encostada a uma árvore, junto com o rio, para
se erguer amanhã, que é sexta-feira, e que nós puséssemos todos em
joelhos e a beijássemos para eles verem o acatamento que lhe tínhamos.
E assim fizemos. A esses dez ou doze que aí estavam acenaram-lhe que
fizessem assim, e foram logo todos beijá-la. Parece-me gente de tal
inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos,
porque eles, segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma
crença. [...]
Domingo, 26 de abril: Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão de ir ouvir missa e
pregação naquele ilhéu. (...) E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual foi dita pelo padre Frei
Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela voz pelos outros padres e sacerdotes, que todos eram ali.
A qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção. (..) Acabada a missa,
desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e
proveitosa pregação da história do Evangelho, ao fim da qual tratou da nossa vinda e do achamento desta
terra, conformando-se com o sinal da Cruz, sob cuja obediência viemos. O que foi muito a propósito e fez
muita devoção.
Entre todos estes que hoje vieram, não veio mais que uma mulher moça, a qual esteve sempre à missa
e a quem deram um pano com que se cobrisse. Puseram-lho a redor de si. Porém, ao assentar, não fazia
grande memória de o estender bem, para se cobrir. Assim, Senhor, a inocência desta gente é tal que a de
Adão não seria maior, quanto a vergonha. Ora veja Vossa Alteza se quem em tal inocência vive se converterá
ou não, ensinando-lhes o que pertence à sua salvação. [...]
"Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha
vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho,
porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira
é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!
Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser
a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. E que não houvesse mais do que ter Vossa Alteza
aqui esta pousada para essa navegação de Calicute bastava. Quanto mais, disposição para se nela cumprir
e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber, acrescentamento da nossa fé.”

Mas, Profe, por que Mito? Mito não é uma coisa boa?
Porque, caríssimo aluno e aluna, se a narrativa construída foi a de um encontro pacífico entre
índios e portugueses, mas a realidade mostrou o oposto: conquista e genocídio. Por isso, temos um

1
Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo (1854–1916). História do Brasil (v.1), Rio de Janeiro: Bloch,
1980

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Mito, a história contata pelos vencedores não foi a que de fato ocorreu. A narrativa construída pelos
conquistadores adquiriu caráter simbólico, independente da realidade, embora baseada nela.
Vejamos uma informação importante sobre a ideia de “índio” 2 que confronta a narrativa
mitológica, conforme o antropólogo e professor do Museu Nacional da UFRJ, Eduardo Viveiros de
Castro3:
Devemos começar então por distinguir as palavras “índio” “indígena”, que muitos talvez pensem ser
sinônimos, ou que “índio” seja só uma forma abreviada de “indígena”. Mas não é. Todos os índios no Brasil
são indígenas, mas nem todos os indígenas que vivem no Brasil são índios.
Índios são os membros de povos e comunidades que tem consciência —seja porque nunca a perderam, seja
porque a recobraram — de sua relação histórica com os indígenas que viviam nesta terra antes da chegada dos
europeus. Foram chamados de “índios” por conta do famoso equívoco dos invasores que, ao aportarem na
América, pensavam ter chegado na Índia. “Indígena”, por outro lado, é uma palavra muito antiga, sem nada
de “indiana” nela; significa “gerado dentro da terra que lhe e própria, originário da terra em que vive”. Há
povos indígenas no Brasil, na África, na Ásia, na Oceania, e até mesmo na Europa. O antônimo de “indígena”
e “alienígena”, ao passo que o antônimo de índio, no Brasil, e “branco”, ou melhor, as muitas palavras das
mais de 250 línguas índias faladas dentro do território brasileiro que se costumam traduzir em português por “
branco”, mas que se referem a todas aquelas pessoas e instituições que não são índias. Essas palavras
indígenas tem vários significados descritivos, mas um dos mais comuns e “inimigo”, como no caso do
yanomami nape, do kayapo kuben ou do arawete awin. Ainda que os conceitos índios sobre a inimizade, ou
condição de inimigo, sejam bastante diferentes dos nossos, nao custa registrar que a palavra mais próxima que
temos para traduzir diretamente essas palavras indígenas seja “inimigo. Durmamos com essa. (...)
Quando perguntaram ao escritor Daniel Munduruku se ele “enquanto índio etc.”, ele cortou no ato: “não
sou índio; sou Munduruku”. Mas ser Munduruku significa saber que existem Kayabi, Kayapo, Matis, Guarani,
Tupinamba, e que esses não são Munduruku, mas tampouco são Brancos. Quem inventou os “índios” como
categoria genérica foram os grandes especialistas na generalidade, os Brancos, ou por outra, o Estado branco,
colonial, imperial, republicano.

Apesar da chegada a uma terra com muitas riquezas naturais, como afirmou Caminha, Portugal
não alterou seu plano principal: dominar e monopolizar as rotas das especiarias para o Oriente.
Tanto que Pedro Álvares Cabral seguiu com sua esquadra em direção à Índia. Até mesmo porque,
por essas terras dos índios brasileiros, não se encontraram ouro e prata logo no início da conquista,
como nas colônias espanholas. Assim, a área reservada pelo acordo bilateral de Tordesilhas ficou
para o futuro!
Mas qual futuro, Profe? Eles não colonizaram o Brasil logo “de cara”?

2
“A palavra indígena vem do latim indigĕna,ae “natural do lugar em que vive, gerado dentro da terra
que lhe e própria”, derivação do latim indu arcaico (como endo) > latim classico in- “movimento para
dentro, de dentro” + -gena derivação do radical do verbo latino gigno, is, genŭi, genĭtum, gignĕre,
“gerar”; Significa “relativo a ou população autoctone de um pais ou que neste se estabeleceu
anteriormente a um processo colonizador” ...; por extensão de sentido (uso informal), [significa] “que
ou o que e originário do pais, região ou localidade em que se encontra; nativo”. (Dicionário Eletrônico
Houaiss).
3
CASTRO, Eduardo Viveiros de. Os Involuntários da Pátria. ARACÊ – Direitos Humanos em Revista.
Ano 4, Número 5, fevereiro/2017, pp. 187-193.

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2. O SISTEMA DE EXPLORAÇÃO COLONIAL NA AMÉRICA PORTUGUESA


A implantação do sistema colonial de exploração por parte de Portugal foi um processo bastante
diferente em relação ao da Espanha. Houve 2 momentos desse processo marcados por interesses
distintos de Portugal em relação à terra “descoberta” por Cabral. Além disso, os modelos de
implantação do sistema de exploração colonial também se diferenciaram. Observe o esquema:

sem sistema de colonização -


1o. Momento: predomiou atividade de Contrato de concessão para
1501-1530 reconhecimento e exploração extrativista
estrativismo

colonização portuguesa
Sistema descentralizado de
Capitanisas Hereditárias
colonização

2o. Momento:
pós- 1530
Sistema centralizado de
colonização (a partir de Governo-Geral
1572)

Apesar de, em 1500, os interesses da Coroa Lusa estarem voltados para a rota das especiarias,
nos primeiros anos após a vinda de Cabral, o governo português enviou algumas expedições de
reconhecimento para vasculhar o território e garantir sua posse. O objetivo principal era saber se
aqui poderia se obter metais preciosos.
Mas, a riqueza do “Novo Mundo” não era dourada e prateada, era vermelha de pau-brasil, era
verde de florestas, era translucida de uma água que não se via na Europa, era de gente e de terra
que tinham quase a mesma cor. Nossa riqueza era outra.
É importante ressaltar que nessas expedições de reconhecimento, também chamadas por
alguns historiadores de expedições pré-colonizadoras, houve um trabalho de nomear as coisas
encontradas, as localidades, os acidentes geográficos, os rios e até as pessoas que aqui viviam.
Foram 3 as expedições:

1501 - Expedição 1503 - Expedição 1516 e 1520


Gaspar de Lemos Gonçalo Coelho Expedição Cristóvão
Facques

• Expdição de • Pareceria entre reis • Organizada para


nomeação das ilhas, e comerciantes para deter o contrabando
cabos, rios e bais do a exploração do pau- de pau-brasil por
litoral brasileiro brasil. Um desses franceses. Não foram
comerciantes era bem sucedidas
Fernão de Noronha.

Dessas expedições, o que se encontrou para explorar imediatamente foi o pau-brasil. Veja no
mapa a seguir a área de ocorrência da árvore.

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A área verde, no mapa, representa a


localização pau-brasil, no litoral brasileiro, na época da
colonização.

Assim, entre 1501 e 1530, o que se verificou foi uma fase de


economia extrativista. Não houve um planejamento
centralizado ou algo do tipo. Mesmo assim a exploração era
monopólio da Coroa Portuguesa, que permitia a exploração
particular por meio de contrato de concessão. A atividade
extrativista de pau-brasil foi realizada com mão de obra
indígena à base de escambo (troca de utensílios europeus,
como machado, facas, por trabalho).
Contudo, é importante ressaltar que os contratos de
concessão emitidos pela Coroa privilegiavam exploradores
portugueses. Tratava-se de uma forma de protecionismo.
O principal explorador foi Fernando de Noronha.
Outra característica fundamental sobre a colonização
portuguesa era a ideia de exclusivo metropolitano: toda
negociação, acordo, comércio, troca que envolvesse a
colônia portuguesa deveria ser decidida exclusivamente
pela metrópole. Dessa compreensão decorrerá várias
formas distintas de relação exclusiva entre a metrópole e
colônia. Pode ser que você já tenha ouvido a expressão “Pacto Colonial” para esta explicação. Está
certo também!
Não foram apenas comerciantes portugueses que se interessaram pelo produto “cor de brasa”.
Franceses, ingleses, holandeses e até espanhóis, também manifestaram desejo pela riqueza. A
monarquia mais ousada foi a da França, pois apoiou corsários franceses a fazerem alianças com o
povo Tupinambás para explorar o pau-brasil. É do Rei francês Francisco I a famosa frase:

4
ALBUQUERQUE, Manuel Maurício de. et all. Atlas Histórico Escolar. Ministério da educação e Cultura/
Fundação Nacional do Material Escolar, 7ª. Edição, 1977, p. 06.

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“Quero ver a
cláusula do testamento
de Adão que dividiu o
mundo entre Portugal e
Espanha e me excluiu da
partilha!!

Francisco I. Jean Clouet. Óleo sobre tela, 1530. Museu do Louvre, França.

Como nos informa as professoras Lilia e Heloísa, a madeira do pau-brasil era considerada uma
especiaria no Oriente. A resina dessa árvore era utilizada para tingir tecidos e a madeira para fazer
móveis finos e embarcações. Nas terras dos índios tupi, o pau-brasil era conhecido como
“ibirapitanga” – que significa “pau-vermelho”. Os europeus, ao latinizarem a palavra, chamaram-no
de brecilis, bersil, brezil, brasil, brasily, paralavras que significavam: cor de brasa ou vermelho.
Assim, desde 1512, quando o pau-brasil entrou definitivamente no mercado internacional, a
colônia portuguesa passou a ser designada por Brasil.Com efeito, meus caros e caras, o Brasil nasceu
– para o comércio mundial – vermelho!!

Os indígenas cortavam as árvores e as levavam até os navios portugueses ancorados à beira-mar, e em


troca obtinham facas, canivetes, espelhos, pedaços de tecidos e outras quinquilharias. Em 1511 dá-se
a primeira exportação do pau-brasil para Portugal na nave Bretoa, que saiu da Bahia com destino à
Lisboa. E lá se foram 5 mil toras de madeira, macacos, saguis, gatos, muitos papagaios e quarenta
indígenas que atiçaram a curiosidade europeia5.

Mas, o cenário internacional obrigava Portugal a se posicionar mais seriamente em relação ao


Brasil, a fim de garantir a posse da parte do mundo que lhe cabia, segundo o Tratado de Tordesilhas.
Observe os elementos do cenário internacional que pressionavam a Coroa Portuguesa a agir:

5
SCHWARCZ, Lilia Moritz. e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Ed. Cia das
Letras, 2018, p. 32

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Para Portugal era urgente


estabelecer a colônia e implementar
o sistema de exploração comercial.
Por isso, em 1530 começa uma nova
fase de relação entre Metrópole e
Colônia. Dessa forma, a partir de
agora, estudaremos os aspectos
econômicos, políticos e sociais da
colonização portuguesa na América.
Esse é o momento mais longo,
porque vai até a Independência
Política, em 1822. Porém, nesta aula
não vamos tão longe, nosso bonde
vai até a estação do ciclo da cana de
açúcar.
Muita gente não gosta desse
longo período. Ocorre que despenca
na prova, cara. E você é Coruja!!
Então, vamos com coragem e cabeça erguida. Não sai do foco. Nada de whats, porque enquanto
você vê uma mensagenzinha, alguém acerta uma questãozinha. Bora, Bixo!! Vejamos! Ah sim, antes
uma questão sobre o que vimos até agora:

(FUVEST 2016)
Eu por vezes tenho dito a V. A. aquilo que me parecia acerca dos negócios da França, e isto por
ver por conjecturas e aparências grandes aquilo que podia suceder dos pontos mais aparentes,
que consigo traziam muito prejuízo ao estado e aumento dos senhorios de V. A. E tudo se
encerrava em vós, Senhor, trabalhardes com modos honestos de fazer que esta gente não
houvesse de entrar nem possuir coisa de vossas navegações, pelo grandíssimo dano que daí se
podia seguir.
Serafim Leite. Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil, 1954.
O trecho acima foi extraído de uma carta dirigida pelo padre jesuíta Diogo de Gouveia ao Rei
de Portugal D. João III, escrita em Paris, em 17/02/1538. Seu conteúdo mostra
a) a persistência dos ataques franceses contra a América, que Portugal vinha tentando
colonizar de modo efetivo desde a adoção do sistema de capitanias hereditárias.
b) os primórdios da aliança que logo se estabeleceria entre as Coroas de Portugal e da França
e que visava a combater as pretensões expansionistas da Espanha na América.

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c) a preocupação dos jesuítas portugueses com a expansão de jesuítas franceses, que, no Brasil,
vinham exercendo grande influência sobre as populações nativas.
d) o projeto de expansão territorial português na Europa, o qual, na época da carta, visava à
dominação de territórios franceses tanto na Europa quanto na América.
e) a manifestação de um conflito entre a recém-criada ordem jesuíta e a Coroa portuguesa em
torno do combate à pirataria francesa.
Comentário
Essa é uma questão de interpretação do texto. Contudo, textos de época podem ser de difícil
entendimento devido ao estilo da época, assim, conhecer o conteúdo se torna fundamental
para desvendar o texto com mais destreza e confiança.
Como o texto afirma no trecho “eu por vezes tenho dito a V. A. aquilo que me parecia acerca
dos negócios da França, e isto por ver por conjecturas e aparências grandes aquilo que podia
suceder dos pontos mais aparentes, que consigo traziam muito prejuízo ao estado”, podemos
inferir que se trata das preocupações com as tentativas de invasão da França na América
Portuguesa.
Você deve se lembrar que a Monarquia francesa foi uma das que mais questionou o Tratado
de Tordesilhas e, por isso, estimulou a ação de corsários e planejou algumas invasões ao
território colonial, em aliança com os índios Tupinambás.
Esse risco de invasões estrangeiras ameaçam a legitimidade e a consolidação da posse, por
isso, a partir de 150 Portugal começou um processo sistemático de ocupação colonial.
Assim, o gabarito é a letra A. As demais não podem ser corretas, uma vez que Portugal e França
não fizeram aliança contra espanhóis; os jesuítas franceses não estiveram no Brasil; Portugal
não tinham pretensões anexionistas em relação às colônias francesas – que, na verdade, só se
formaram tardiamente – e, por fim, jesuítas e coroa portuguesa repudiavam a pirataria, até
mesmo porque era um desrespeito ao Tratado de Tordesilhas, legitimado pela Igreja.
Gabarito: A

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2.1 - A EXPEDIÇÃO DE MARTIN AFONSO DE SOUZA E O INÍCIO DA COLONIZAÇÃO


6

Em 1530, a Coroa Lusa organizou a 1ª. Expedição


Colonizadora comandada por Martin Afonso de Sá. os
historiadores consideram que, com essa expedição, iniciou-se o
2º momento da colonização, ou a colonização propriamente

Expedição de Martin
dita. Os objetivos estabelecidos para o explorador foram:

Afonso de Souza
1- Iniciar a ocupação da terra portuguesa: povoar e
explorar;
2- Combater os corsários estrangeiros;
3- Procurar metais preciosos;
4- Sistematizar o reconhecimento do litoral para
implementar a produção de cana-de-açúcar.
Note que entre os objetivos da expedição colonial, 2 são de
natureza econômica: procurar metais preciosos e encontrar o
melhor lugar para o cultivo de cana de açúcar. Assim, podemos afirmar que o sentido econômico
da colonização era encontrar uma atividade que compensasse o esforço colonizador, leia-se, o
investimento. Além disso, gerar muita riqueza e superlucros para a metrópole e suas elites. Afinal,
a lógica era mercantilista, né gente?
O economista e historiador Caio Prado Jr., em seu livro Formação do Brasil contemporâneo,
advoga a tese de que o sentido econômico do projeto colonial esteve voltado para abastecer o
mercado exterior e, assim, transferir os dividendos desse comércio para os países colonizadores:
No seu conjunto a colonização dos trópicos toma o aspecto e uma vasta empresa colonial destinada a explorar os recursos
naturais de um território virgem em proveito do comércio europeu, é este o verdadeiro sentido da colonização tropical, de
que o Brasil é uma das resultantes[...]. Tudo se disporá naquele sentido: a estrutura bem como as atividades do país. Virá o
branco europeu para especular, realizar um negócio; inverterá seus cabedais e recrutará mão de obra que precisa:
indígenas ou negros importados7.

Perceba, portanto, que o objetivo do Rei de Portugal ao estabelecer metas para Martin Afonso
não foi desenvolver a colônia em si, mas descobrir uma atividade que pudesse pagar os
investimentos desse empreendimento bem como gerar superlucros.
É evidente, como veremos, que outras atividades econômicas acabaram criando uma economia
colonial própria, cujos lucros permaneciam na própria colônia e que, dessa forma, possibilitavam o
surgimento de grupos e interesses distintos daqueles da metrópole portuguesa. Mesmo assim, isso
não inverteu o sentido inicial da colonização e tão pouco o objetivo da Metrópole colonizadora.
Sacou?

6
ALBUQUERQUE, Manuel Maurício de. et all. Atlas Histórico Escolar. Ministério da educação e Cultura/
Fundação Nacional do Material Escolar, 7ª. Edição, 1977, p. 08.
7
PRADO JR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1979, p. 31-32.

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O pensador Caio Prado Junior tem por objetivo analisar a evolução do Brasil. Para tanto, ele encontra
o sentido geral desse processo no evento que marca a formação do Brasil como país: a colonização.
Leia um trechinho do que ele escreve:
“Se vamos a essência da nossa formação, veremos que na realidade nos constituímos para fornecer
açúcar, tabaco, alguns outros gêneros; mais tarde, ouro e diamantes; depois, algodão e, em seguida,
café para o comércio europeu. Nada mais que isso. É com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para
fora do país e sem atenção a considerações que não fossem o interesse daquele comércio, que se
organizavam a sociedade e a economia brasileiras [...]. Este início cujo caráter se manterá dominante
através dos três séculos (...) se agravará profunda e totalmente nas feições e na vida do país. Haverá
resultantes secundárias que tendem para algo de mais elevado; mas elas ainda mal se fazem notar.
O “sentido da evolução” brasileira que é o que estamos aqui indagando, ainda se afirma por aquele
caráter inicial da colonização. Tê-lo em vista é compreender o essencial deste quadro que se
apresenta em princípios do século passado, e que passo agora a analisar.”8
Nesse sentido, para Caio Prado, a colonização gerou uma marca, uma cicatriz, algo do qual não
podemos nos livrar – apesar e independente dos caminhos que percorremos como nação. Em
Ciência Política, chamamos isso de path dependency, trajetória dependente. Segundo esse conceito,
cada passo dado é necessário para entender o seguinte e, além disso, cada passo dado define, em
grande medida, qual será e como será o próximo. Mudar o rumo completamente tem um custo
muito grande. Sacou?
Assim, essa perspectiva coloca para nós uma pergunta: como nosso processo de colonização pode
explicar o Brasil de hoje?
Guarda a pergunta e vamos para o conteúdo, quem sabe você não se anima a responder ao final
dos nossos estudos sobre Colônia!
Caros, essa discussão sobre o sentido da colonização –– deu margem para a definição de 2 tipos
de colonização: a de exploração e a de povoamento. Vejamos:
 Colônia de Exploração: voltada para produção de
mercadorias típicas de exportação. MONOCULTURA. Foco:
Mercado externo. Assim, predomínio da grande propriedade
rural: LATIFÚNDIO!
 Colônia de povoamento é o exato oposto da colônia de
exploração: produção voltada para o mercado interno.
PLURICULTURA. Assim, predomínio da pequena propriedade
familiar.

8
PRADO JR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1979, p. 31-32.

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Contudo, hoje em dia não usamos mais essas definições, de maneira


compartimentada. Se porventura aparecer na sua prova, contextualize-a!
Mas, por que, Profe Alê? Qual o problema?
Não usamos porque as pesquisas na área da História e da Economia desenvolveram outras
interpretações. Por exemplo, sabemos que nas colônias espanhola e portuguesa, na América, houve
exploração e povoamento ao mesmo tempo. Como seria possível explorar sem povoar?
Na América Latina (antes tida como modelo de colônia de exploração), por exemplo, foi preciso
instalar uma forte e extensa burocracia estatal para garantir a implantação e execução dos
interesses da coroa e dos setores mercantis europeus. A vinda dos jesuítas para colonizar os povos
originários também se tratou de povoamento.
Além disso, a despeito de ter se formado no Brasil uma estrutura agrária monocultora e
latifundiária voltada para exportação (plantation), houve também agricultura, pecuária e comércio
locais. Em diferentes áreas do território brasileiro se desenvolveram propriedades familiares. Veja
o que nos dizem as professoras Lilia e Heloísa sobre o assunto:
Passados os primeiros tempos das notícias desencontradas e de tantos boatos, foi preciso garantir o
achado e impedir os ataques estrangeiros. Tinha-se que povoar e colonizar a terra, mas também
encontrar algum tipo de estímulo econômico. [...] Como se pode notar, a ideia era obter lucro com a
nova terra, antes que ela se transformasse num problema. E era esse o “sentido da colonização”:
povoar, mas sempre pensando no bem da metrópole.9 (grifos nossos)

Percebe que, nessa interpretação, povoar e explorar são dois lados da mesma moeda? Por esse
motivo, combinado com as ações sobre os índios (o que ainda veremos), parte da historiografia
também usa a expressão “conquista”.
Outro exemplo, nos EUA (tido anteriormente como modelo de colônia de povoamento), houve
povoamento e exploração. Todo o sul dos EUA estava organizado por meio de grandes propriedades
territoriais, monocultoras, voltadas para o mercado externo e usando mão de obra escrava negra.
O povoamento não se deu por meio da implantação da burocracia metropolitana, mas por meio de
famílias que vieram em um empreendimento mais particular.
CONCLUSÃO: não dá para usar de maneira separada o que foi povoamento e o que foi exploração.
No final, o que diferenciou EUA e América Latina estava baseado em outros elementos:
 Empreendimento Estatal (América Latina) OU particular (EUA);
 Financiamento Estatal em aliança com os setores mercantis (América
Latina) OU particular/familiar (EUA);
 Cosmologia religiosa católica – uma cruzada para IMPOR o catolicismo
(América Latina) OU Cosmologia protestante – liberdade religiosa (EUA).

9
SCHWARCZ, Lilia Moritz. e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Ed. Cia das
Letras, 2018, p.

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Portanto, a exploração do Brasil, ou conquista, foi um projeto da Coroa Portuguesa para garantir
os superlucros, expandir a fé católica, repelir outros conquistadores (franceses, holandeses) e
melhor disputar a hegemonia marítima do Atlântico. Povoar a terra era um meio necessário para
garantir tudo isso.
Para atingir esses objetivos, a Coroa precisou estabelecer um sistema político de administração
e organização colonial. Nesse sentido, a partir de 1530, predominou 2 tipos, como vimos no
esquema do início da aula: Capitanias Hereditárias e Governo-Geral.

Essas estruturas política-organizativas foram completares e criaram um cenário favorável ao


desenvolvimento de formas específicas de relação de poder e o desenvolvimento de estruturas
sociais correspondentes.

3. ADMINISTRAÇÃO COLONIAL
Se em 1530, o governo português mandou o expedicionário Martin Afonso de Souza iniciar a
ocupação da terra portuguesa, combater os corsários estrangeiros, procurar metais preciosos e
sistematizar o reconhecimento do litoral para implementar a produção de cana-de-açúcar, tornava-
se necessário, também, elaborar uma forma de administrar essas ações, concorda?
Contudo, os dados historiográficos afirmam que a Coroa Portuguesa não contava com tantos
recursos acumulados para investir diretamente na colonização do Brasil. Assim, precisou contar com
recursos privados. Para tanto, a solução encontrada foi doar terras – as sesmarias- em troca de que
elas fossem exploradas e, parte das riquezas geradas, destinadas via impostos ao rei. Tratava-se de
um sistema descentralizado de administração colonial.

Sesmaria era um pedaço de terra distribuído a um beneficiário


próximo à Coroa com o objetivo de cultivar as terras conquistadas.
A origem dessa prática de sesmaria remonta ao período final da Idade
Média e às práticas de suserania e vassalagem. A distribuição de
sesmaria não garantia a propriedade, mas o usufruto. A concessão de
sesmarias foi extinta apenas em 1822, sendo a origem dos grandes latifúndios no Brasil.

3.1 – SISTEMA DE CAPITANIAS HEREDITÁRIAS


Então, em 1534, o rei Dom João III ordenou a divisão do território em 15 partes e as distribuísse
a pessoas nomeadas por ele, os donatários. Iniciava-se, assim, o sistema de capitanias hereditárias.
Observem a imagem a seguir. Sei que vocês já devem ter isso tatuado na mente, mesmo assim,
observem as relações que fui construindo. Fica safo!

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10

Deveres:
Direitos Assegurar ao
Rei de Portugal
Distribuir terras:
sesmarias. 10% dos lucros sobre
Criar Vilas TODOS os produtos
da terra

Exercer autoridade
administrativa e O monopólio da
judicial extração do pau-
brasil

Escravizar indígenas
considerados
inimigos (guerra
justa) Carta de doação: O
donatário tinha a posse da
Capitânia, mas apenas uma
Receber 5% do parte (pequena) tornava-se sua
comércio do pau-
brasil propriedade.

As despesas necessárias à obra colonizadora corriam por conta e risco do donatário!

Profe, isso era uma pegadinha, não era? O cara tinha que investir em tudo,
corria todos os riscos, ficava só com 5% da exploração do pau-brasil e inda
tinha que garantir o lucro do rei? Gente, o Brasil era pior que o Brasil!!!

Brincadeiras à parte, galera, parecia piada mesmo. Por isso, o sistema de capitanias não foi tão
bem-sucedido, se analisado do ponto de vista econômico e das pretensões da Coroa Portuguesa.
Apenas duas capitanias deram certo – e por um tempo: São Vicente e Pernambuco (mais à frente
vamos voltar a falar dessas duas capitânias, segura aí!).
Na verdade, nem todos que receberam do rei a carta de doação das capitânias seguiram adiante.
Alguns nem sequer vieram à Colônia tomar posse. Daqueles que vieram, foram muitos os obstáculos
que precisaram enfrentar. Listemos alguns:

10
ALBUQUERQUE, Manuel Maurício de. et all. Atlas Histórico Escolar. Ministério da educação e Cultura/
Fundação Nacional do Material Escolar, 7ª. Edição, 1977

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• Isolamento das capitanias, uma sem relação com as outras. As distâncias eram
enormes, por isso, a comunicação e a circulação também eram difíceis. Esse
isolamento fazia com que as soluções para as dificuldades tivessem que ser
sempre conseguidas “dentro” da capitânia. Mas essa terra não era um vazio, ne.

• Revolta e ataques dos povos indígenas. Como as capitanias, na prática, se tratavam


de uma expropriação do território indígena é evidente que muitos povos
resistiram a essa ocupação (ou invasão) e causaram verdadeiras guerras contra os
colonizadores.

• Dificuldades para desenvolver a lavoura, afinal, nem todas as capitânias possuíam


terras férteis. Na verdade, os europeus ainda não conheciam muito bem qual era
o produto mais adaptado ao clima tropical e equatorial. Assim, na verdade, o
problema não estava no solo, mas no desconhecimento dos portugueses sobre o
que produzir para exportar e gerar dividendos à Coroa.

• Dificuldade de obter mão de obra para a louva e para o extrativismo.

• Tudo isso, custava muito caro. Apesar dos donatários serem pessoas da nobreza
portuguesa, nem todos possuíam grande monta de recursos para enfrentar todos
os obstáculos acima arrolados.

Apesar das adversidades, havia um ponto positivo no que se referia ao sistema de capitanias, a
saber: ele deu a base para a formação dos primeiros núcleos de povoamento, como em São Vicente
(1532), Porto Seguro (1535), Ilhéus (1537) e Santos (1545).

3.2 – GOVERNO GERAL


Assim, tendo o sistema de administração descentralizada das capitanias hereditárias tido pouco
êxito, a Coroa Portuguesa buscou uma solução diferente e mais centralizadora: a formação de um
Governo-Geral. Tratava-se da criação de um órgão central de direção e de administração
comandado por um funcionário da Coroa, nomeado pelo Rei, para ajudar os donatários e interferir
mais diretamente na implantação do sistema de exploração colonial.
Para que você tenha uma noção dos objetivos, funções e estrutura burocrática, observe os
esqueminhas abaixo:

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Governador-Geral
Defesa da terra contra ataques estrangeiros
Objetivos do
Incentivo à busca de metais preciosos

Luta contra a resistência indígena

Apoio à religião cristã

Funções do Governador
Militar: comando e defesa da colônia

Administrativa: relacionamento com os donatários das capitais e


assuntos ligados às finanças

Judiciária: nesse caso, o governador podia nomear os


funcionários da justiça e também poderia mudar penalidades

Eclesiásticas: indicação e sacardotes para as Paróquias. Essa


prerrogativa era legitimada pela Igreja Católica e recebeu o nome de
PADROADO.

Ouvidor-Mor:
encarregado das funcções
judiciais
CARGOS AUXILIARES
Provedor-mor:
Governador encarregado dos assuntos
da fazenda

Capitão-mor:
encarregado da defesa do
litoral

Os dois sistemas coexistiram. Isso acabou por gerar, em diversos momentos, um embate entre
interesses locais e metropolitanos. Em geral o Governador Geral e seus auxiliares enfrentavam a

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oposição de poderes locais, afinal, os donatários também tinham funções administrativas e


judiciárias.
Esses homens proprietários de terra, gado e escravos, chamados de “homens-bons”, se
organizavam nas “câmaras municipais”. Elas se formaram no mesmo processo de formação das vilas
(primeiros povoados). Elas organizavam a administração da vila, a arrecadação tributária, o
comércio local, as expedições de reconhecimento e expansão territorial, além da de aprisionamento
indígena. Ou seja, eram uma verdadeira estrutura de poder local. Assim, os homens-bons exerciam
o poder político local.

A partir da análise dos esquemas, podemos concluir que a administração


colonial apresentou duas tendências que se revezaram ao longo do tempo:
CENTRALIZAÇÃO E DESCENTRALIZAÇÃO.
Em geral, a centralização ocorreu quando a metrópole queria controlar mais
as atividades coloniais e/ou aumentar a arrecadação de impostos; já a descentralização era estimulada
quando a metrópole desejava ocupar e desenvolver regiões.
Você consegue perceber como essas duas estruturas de poder (centralizado e descentralizado)
podem gerar conflitos se não estiverem funcionando em consonância de interesses e objetivos? Pois
é, além disso, essas diferenças entre governador e homens-bons eram acentuadas devido à ausência
de um sistema de comunicação adequado. Como diria o grande filósofo Chacrinha: “quem não se
comunica, se estrumbica!”
Para que você saiba mais, em 1759, o sistema de capitanias deixou de existir permanecendo apenas
o Governo – Geral, até 1808, quando a família real desembarca no Brasil. Entretanto, até que chegue
o século XVIII, muitas dessas diferenças ensejaram conflitos e revoltas, chamadas de nativistas, as
quais iremos estudar nas próximas aulas. Por hora, guarde essa reflexão geral, ok!!

Por fim, para que você tenha uma noção de quem foram os governadores gerais, dá um bizu nos
caras:

•Fundação da vila de •França invade o RJ e funda a •Expulsou os franceses do RJ


Mem de Sá - 1558-1572
1553

1558
Tomé de Sousa - 1549-

Duarte da Costa - 1553-

Salvador França Antártica •Formação da Confederação


•Implantação da cultura da •Vinda do Padre Ancheita. indígena dos Tamoios
cana-de-açúcar •Fundação das missões •Início das "guerras justas"
•Vinda Cia de Jesus (jesuítas), jesuíticas e do Colégio São contra os indígenas
Padre Manoel da Nóbrega Paulo resistentes à colonização e à
•Conflitos entre colonos e conversão ao cristianismo.
jesuítas • Avanço da atividade
açucareira

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(FUVEST 2003)
Os portugueses chegaram ao território, depois denominado Brasil, em 1500, mas a
administração da terra só foi organizada em 1549. Isso ocorreu porque, até então,
a) os índios ferozes trucidavam os portugueses que se aventurassem a desembarcar no litoral,
impedindo assim a criação de núcleos de povoamento.
b) a Espanha, com base no Tratado de Tordesilhas, impedia a presença portuguesa nas
Américas, policiando a costa com expedições bélicas.
c) as forças e atenções dos portugueses convergiam para o Oriente, onde vitórias militares
garantiam relações comerciais lucrativas.
d) os franceses, aliados dos espanhóis, controlavam as tribos indígenas ao longo do litoral bem
como as feitorias da costa sul-atlântica.
e) a população de Portugal era pouco numerosa, impossibilitando o recrutamento de
funcionários administrativos.
Comentário
A questão quer saber sobre a primeira fase da implantação do sistema de exploração colonial
na América Portuguesa. Você poderia me perguntar se o certo, para falar do início da
colonização no Brasil, não seria falar sobre o ano de 1530 com a expedição de Martin Afonso e
com a divisão do Brasil em Capitanias Hereditárias. Sim. Mas, também é importante desvendar
a visão da FUVEST. Nesse caso, implicitamente ela está se referindo ao modelo centralizado de
administração, a saber: O Governo-Geral, lembra-se? De qualquer modo, isso não altera a
prioridade econômica de Portugal na primeira metade do século XVI: consolidar seu domínio
da Ásia, devido ao comércio de especiarias. Isso ocorreu, sobretudo, porque as expedições de
reconhecimento até 1530 não demonstraram a existência de metais preciosos. Não houve, no
começo esse trucidamento mencionado, apesar de não ter sido absolutamente pacífico. Aqui
podemos pensar em diferentes formas de violência, tal como vivenciaram espanhóis e os povos
originários daquelas regiões.
Os espanhóis não proibiram os portugueses de explorar as áreas definidas pelo Tratado de
Tordesilhas como sendo sua possessão, tanto que Portugal estabeleceu a exploração de pau-
brasil e depois dividiu o território em capitanias hereditárias.
Está corretíssimo, por tudo o que explicamos antes.
Os franceses não eram aliados dos espanhóis, ao contrário. Os franceses tentaram invadir a
colônia e, para isso, fizeram alianças com os índios tupinambás.
Apesar da pequena população, foi possível administrar com funcionários da corte, vários
grupos que vieram tentar a sorte e, sobretudo, com a migração forçada de milhões de africanos
escravizados.
Gabarito: C
(FUVEST 2000)
Ocupações dos vereadores de Salvador, Bahia, 1680-1729

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(S. B. Schwartz, Cia das Letras, 1995)


O conjunto de dados da tabela anterior mostra que um grupo exerceu o controle da Câmara
Municipal de Salvador, ou seja, que um grupo governou a "vila" durante o período, haja vista
a função desta instituição na colônia. Trata-se do grupo formado pelos
a) senhores de engenho e comerciantes.
b) senhores de engenho e lavradores de cana.
c) homens ligados às atividades econômicas urbanas.
d) burgueses, pelos "não identificados" e por lavradores de cana.
e) proprietários de terra em geral.
Comentário
Uma questão boa de interpretação de tabela. As três primeiras tabelas demonstram os três
principais grupos que dominavam as câmaras municipais: senhores de engenho, lavradores de
cana (aqueles que tem terras, plantam, mas não tem as máquinas para processar a cana de
açúcar) e os comerciantes que apenas tem terras ( pelo gráfico não é possível inferir o que era
produzido nela). De todo forma, o que esses 3 grupos têm em comum: são proprietários de
terras. Por isso, segundo o historiador Stuart Schwartz havia uma conveniência de interesses
entre eles. Logo o item a ser assinalado só pode ser E.
Gabarito: E

4. ECONOMIA, TRABALHO E SOCIEDADE NA COLÔNIA


Agora que estudamos os aspectos políticos e administrativos da colonização portuguesa na
América, podemos partir para os estudos sobre os elementos econômicos dessa empreitada. É
verdade que, como já vimos, a primeira atividade econômica na colônia foi o extrativismo do pau-
brasil. A exploração era monopólio da Coroa Portuguesa que permitia a exploração particular por
meio de contrato de concessão, realizada com mão de obra indígena à base de escambo.
Mas, você deve se lembrar, também, que o governo português, especialmente a partir de 1530,
procurava alguma atividade econômica mais rentável que o pau-brasil a fim de financiar o
empreendimento colonizador e garantir a posse efetiva e sistemática da terra. Isso porque, a
concorrência com franceses, ingleses e holandeses começava a diminuir o lucro metropolitano em

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relação aos negócios com as especiarias do Oriente, além de existir o risco contínuo de invasão
estrangeira no território colonial na América.

4.1 – A IMPLANTAÇÃO DE UMA CULTURA DE EXPORTAÇÃO: A CANA-DE-AÇÚCAR


Assim, em 1530, com a expedição de Martin Afonso de Souza chegaram as primeiras mudas da
cana-de-açúcar para o desenvolvimento da atividade açucareira. A escolha da cana se deu porque
Portugal tinha experiência desse cultivo nas ilhas africanas do Atlântico – Açores e Madeira. Além
disso, o açúcar tornara-se, na Europa, uma especiaria de luxo. Uma mesa farta de doces açucarados
era o símbolo da riqueza!!
Dessa forma, os colonos que desembarcaram no Brasil, juntamente com Martin Afonso,
iniciaram a produção canavieira na recém fundada Vila de São Vicente. Para plantar a cana e
produzir o açúcar desenvolveram um complexo produtivo chamado “engenho de açúcar” (vamos
falar mais sobre engenhos na sequência da aula, segura aí!).
Depois do pontapé inicial na Vila de São Vicente (atual Santos), tentou-se produzir cana-de-
açúcar em toda a extensão do litoral brasileiro em diferentes Capitânias. No entanto, foi no Nordeste
que a planta vingou mesmo, pois o solo da região e as condições climáticas eram melhores. Veja a
seguir uma lista de motivos que explicam o sucesso do cultivo:
Na segunda metade do século XVI a
produção de cana de açúcar se desenvolveu
tanto que chamou a atenção do Rei de
Portugal, Dom Sebastião. Por isso, a partir de
1571, o rei decretou que o comércio colonial
com o Brasil (de quem quer que fosse)
deveria ser feito exclusivamente por navios
portugueses. Na prática, era a implantação do
exclusivo metropolitano ou pacto colonial
(lembra?), porque esse monopólio comercial
dava condições a Portugal de controlar a
economia colonial, ou seja, o Brasil só poderia
comercializar com sua metrópole.
De fato, o crescimento da produção
açucareira foi tanta, no Brasil, que Portugal
monopolizou o próprio comércio
internacional dessa iguaria doce. Assim,
Portugal e seus torrões branquinhos eram vedete no comércio internacional e nas cortes europeias.
Podemos observar esse crescimento tomando como base o número de engenhos que
surgiram em Pernambuco – principal capitânia produtora. Observe o gráfico:

HB: Colônia I 23
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Na sequência de Pernambuco
a produção se espalhou para as
regiões dos atuais Rio Grande do
Norte, Pará e Bahia. E, assim, o “ouro
branco” ganhava tanto “poder” que
colônia e metrópole constituíam
uma relação de dependência desse
produto.
Na seção seguinte vamos
analisar o engenho – essa unidade
produtiva que se tornou o núcleo
difusor da estrutura política, social e econômica da Colônia.

4.2 – A CIVILIZAÇÃO DO AÇÚCAR: TRABALHO E SOCIEDADE

Evidentemente, quando falamos em economia também tratamos de trabalho, uma vez que
é por meio dele que se produz riqueza, como ensinou o liberal Adam Smith. Além disso, as relações
econômicas e de trabalho estabelecem a organização dos grupos sociais.
Entendendo a sociedade dentro dessa perspectiva complexa e combinada, podemos inferir
que o primeiro grande produto de exportação, a cana-de-açúcar, foi o elemento central do
desenvolvimento da sociedade colonial. Segundo as professoras Lilia e Heloísa, trata-se da
constituição da “civilização do açúcar”. Veja o que afirma:

A partir do século XVI a empresa colonial giraria em torno da cana: a formação de vilas e cidades, a
defesa de territórios, a divisão de propriedades, as relações com diferentes grupos sociais e até a
escolha da capital [...] A civilização do açúcar era feita de muitos pedaços, todos dependentes entre si.
Como se pode notar, é possível falar em “civilização do açúcar, já que este invadia esferas sociais,
econômicas e culturais.” (idem, p. 67 e 72)

Se essa tese está certa, precisamos analisar a unidade produtiva do açúcar – o engenho – para
entender as demais relações que se formaram a partir dele, pois, segundo os historiadores, o
engenho se tornou o núcleo social, administrativo e cultural da vida na colônia.

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4.2.1 – Conhecendo um engenho, suas edificações e as atividades de produção do açúcar


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O engenho era o estabelecimento onde se produzia o açúcar. Algo como o lugar em que se
encontravam os
instrumentos de
transformação
da cana-de-
açúcar em
açúcar
propriamente
dito. O engenho
era, portanto,
um espaço
diferente e
separado da
lavoura onde se
plantava a cana.
Contudo, com o
passar do
tempo,
engenho passou
a ser a
designação do complexo açucareiro todo: a fazenda, a lavoura, os instrumentos, as edificações
(como a casas, as capelas, os espaços de negociação da produção), os locais de mando. O
proprietário de tudo isso era conhecido como “senhor de engenho”. Dá uma olhada na imagem a
seguir:
Quero destacar as três edificações marcadas na imagem acima, pois, em tese, elas são
representações arquitetônicas dos principais grupos sociais: aristocracia fundiária, escravos e
clérigos.
1- a casa-grande: casarão que ficava na área mais alta do engenho. Essa moradia, também era
chamada de solário devido à área externa ao redor da casa – um verdadeiro observatório de
onde o senhor de engenho podia avistar tudo – afinal, como diz o ditado: os olhos do dono
engordam o boi! Nela moravam o senhor de engenho, sua família biológica, os
aparentados e os agregados. Lugar que servia de hospedaria para as visitas, como padres,
aliados políticos, comerciantes – por isso, geralmente, tinham muitos quartos com janelões.
Também servia como centro administrativo dos negócios do engenho. “Escravos de casa”
trabalhavam dentro da casa-grande, cozinhando, passando, limpando, cuidando dos filhos e
das senhoras, entre outros afazeres.
2- a capela: era a Igrejinha do engenho. Quase como uma extensão da casa-grande. Geralmente
modesta, mas suficiente para realizar batizados, casamentos e velórios. Peça fundamental
desse cenário, pois recebia para a Missa de Domingo todos os grupos sociais que orbitavam

11
ALBUQUERQUE, Manuel Maurício de. et all. Atlas Histórico Escolar. Ministério da educação e Cultura/
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em torno do engenho e das suas atividades econômicas. Não se esqueçam de que o


catolicismo era elemento fundamental desse universo colonial.
3- a senzala: lugar onde viviam as pessoas escravizadas. Eram casinhas ou uma construção
contígua. As vezes contavam com compartimentos separados destinados a cada família,
outras vezes eram espaços coletivos e outras, ainda, separavam homens e mulheres. Sempre
rústicas, feitas de barro e telhado de sapé, bem baixa e, em geral, sem janelas. As condições
eram péssimas, pois faltavam ar e luz. Algumas não contavam com camas ou espaço para
higiene pessoal. Era comum a superlotação, pois, novos escravos ocupavam sempre o mesmo
lugar. À noite a senzala era trancada para evitar fugas e manter o regime de descanso e
trabalho. Em geral, quem controlava a senzala era o capataz (uma espécie de “guarda” do
engenho).
Dito isso sobre as edificações principais, vamos
agora ver os espaços e as formas de produção do
açúcar.
Na colônia, a lavoura da cana ocupava uma
grande porção de terra – um latifúndio. O trabalho
era realizado pelas pessoas escravizadas – os
escravos ou cativos. Inicialmente, foram os
indígenas, depois, os africanos trazidos
forçosamente. Como afirmamos ao longo da aula, a
produção era voltada para o mercado externo.
Essas características formam o modo de produção
tipicamente colonial: PLANTATION.

Em geral, o cultivo da cana - o preparo da terra, a semeadura e a colheita - levava um tempo


entre 12 e 18 meses. Vejamos algumas etapas produtivas do açúcar:
Preparação da terra, que não era feita com arado, mas com enxadas. Antes usava-se o velho
método de coivara: derrubar a mata e atear o fogo. Só depois os escravos vinham com suas
enxadas e revolviam a terra.
Após 12 meses, aproximadamente, colhia-se a cana. O corte da cana era feito com facão.
Cortada, a cana seguia em carros de boi ou barcos até o engenho.
Com a chegada da cana no engenho começava-se o processo de produção açucareira. A
técnica empregada para a produção do açúcar, em geral, era muito rudimentar.
O processo de produção açucareira abrangia as seguintes etapas:

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Casa da moenda:
Finalidade: moer e prensar para obter um caldo de cana, em grandes engrenagens.
Quem trabalhava: 1 feitor-pequeno, um lavadeiro e 15 escravos.

Casa das fornalhas:


Finalidade: depois de moer e prensar a cana, o caldo obtido era cozido na casa das
fornalhas até formar um caldo chamado melaço.
Quem trabalhava: 1 mestre de açúcar, 1 banqueiro, 3 caldeireiros e 28 escravos

Casa de purgar:
Finalidade: Transformar o melaço em “blocos”, a conhecida rapadura, por meio de
drenagem. O melaço ficava por duas semanas em formas de barros com furos de
drenagem. Nesse momento também se podia produzir a aguardente (cachaça).
OBS: Depois de 40 dias, três tipos de açúcar eram produzidos, a saber: escuro, mascavo
e branco.
Quem trabalhava: 1 purgador e 5 escravos.

Secagem e embalagem
Finalidade: A última parte da produção do açúcar tinha por objetivo a secagem e
embalagem do produto. Cortava-se o melaço sólido (açúcar) e separavam-se os
diferentes açúcares. Após a separação, o açúcar era batido, esfarelado e embalado.
Quem trabalhava: 1 caixeiro e 19 escravos.

OBS: o número de trabalhadores envolvidos em cada etapa da produção dependia de


diversos fatores, como o tamanho do engenho, a quantidade da produção, o tempo de
entrega, a disponibilidade de escravos, entre outros.

Dá um buzuzinho no processo químico da produção do açúcar! Colobaração do professor


@Prazeres!!

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Há uma ressalva a ser feita sobre a empresa açucareira. Não havia


refinarias de açúcar no Brasil. Essa foi uma tarefa que portugueses
deixaram para holandeses. Aliás, também é importante recordar a
participação do capital flamengo (eita, não é time, hein, é holandês) nos negócios do açúcar. Em
troca do financiamento para a instalação de engenhos, o governo português concedeu a eles o
direito de refinar e vender o açúcar brasileiro na Europa. Portanto, o capital holandês foi
fundamental para a expansão da produção e do alcance do açúcar brasileiro no mercado
internacional. Guarda isso, porque daqui a pouco vou falar mais dos holandeses.

4.2.2 – Trabalho escravo e Tráfico de viventes

Quem era o escravo utilizado nos trabalhos do complexo açucareiro? No início, da atividade
açucareira, a mão de obra utilizada era do indígena. Segundo alguns dados demográficos de época,
entre 1560 e 1570 não havia africanos nas lavouras de cana. A mão de obra utilizada era do escravo
índio conquistado nas “guerras justas”, afinal, era uma solução relativamente barata e disponível.
No entanto, a situação começou a se alterar a partir da década de 1570. Se liga nos dados
da tabela abaixo:

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Proporção de trabalhadores
escravos negros na lavoura do
açucar
1638
98%
Anos

1591
37%

1574
7%

0% 20% 40% 60% 80% 100% 120%


Porcentagem

O que se processou nesse período foi a substituição do trabalho livre, por exemplo nas tarefas
mais especializadas da atividade açucareira – tal como vimos na seção anterior sobre etapas da
produção do açúcar –, para o trabalho escravo.
Assim, a mão de obra escrava africana, e depois os afro-brasileiros, acabou constituindo a base
das principais atividades econômicas da colônia. Aqui não me refiro apenas à economia açucareira,
que estamos estudando nessa aula, mas a outras, como a mineração, pecuária, algodão e
extrativismo vegetal.

O Tráfico Negreiro para o Brasil


2000000
1800000
1600000
1400000
1200000
1000000
800000
600000
400000
200000
0
1531-1600 1601-1700 1701-1800 1801-1855

entrada de escravos por século

Observe no mapa a seguir a localidade para onde iam os escravos trazidos


para o Brasil:

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Profe Alê, por que a mão


de obra africana? Por que
não continuar com os
indígenas

Veja, querido e querida, o


primeiro argumento relevante é o
do historiador Fernando Novais
para quem a preferência pela
mão de obra africana estava
relacionada com as
possibilidades de lucro advindo
dessa atividade. Ou seja, havia um
comércio de viventes a ser
explorado e que poderia ser muito
rendoso. E foi!!!

Mas, Profe, quem ganhava com isso, os donos dos escravos? Eram eles que faziam o comércio?

Olha, o tráfico
negreiro era um comércio
intercontinental e oceânico
realizado por grupos
específicos, muitos deles
ingleses, franceses e
holandeses, inclusive.
Contudo, o início dessa
atividade só foi possível
porque portugueses
estabeleceram as feitorias
no litoral da África (lembra-
se disso?). Por meio dessas
feitorias, estabeleceram
alianças com soberanos
locais que facilitavam a
escravidão comercial de
povos conquistados.
Assim, o comércio de viventes, como alguns historiadores mais recentes se referem ao
comércio ou tráfico negreiro, uniu interesses econômicos de 3 continentes: África, Europa e
América – formando um comércio triangular, que durou até o século XIX. No caso de Portugal, parte
desses lucros ia para a metrópole em forma de taxas devido ao exclusivo metropolitano.

HB: Colônia I 30
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Outro elemento fundamental para explicar os lucros desse comércio é a expectativa de vida
de um escravo, em geral, baixa – 35 anos. E sua idade produtiva começava aos 8 anos. É isso mesmo
que você leu!! Aos 8 anos! Alguns documentos de época confirmam que o menino de 8 anos já era
um homem feito e preparado para o trabalho!! Assim, para o senhor de engenho, o ideal era
comprar um escravo que trabalhasse, para não “investir” em mão de obra pouco produtiva.
Para o senhor a lógica não era exatamente comprar e vender, mas, comprar para acumular,
afinal, mais escravos mais produção e mais status social. Dessa forma, o mercado com demanda
sempre crescente estimulava a chegada de mais pessoas escravizadas trazidas da África. Estima-se
que o tráfico atlântico implicou o deslocamento compulsório de 12 milhões e meio de homens,
mulheres e crianças da África para as Américas12.
Observe o caso de um Engenho em Sergipe do Conde para perceber essa lógica de demanda
crescente:
Outro argumento mais
Proporção trabalho livre e escravo no tradicional para explicar a
engenho do Conde preferência pela mão de
250 obra escrava negra é o
cultural: os indígenas do
200 sexo masculino não
200
estavam habituados ao
150
trabalho agrícola, pois, em
100 geral, eram as índias que o
realizavam. Entretanto,
80
50 esse argumento tradicional
13 6 (comum em vestibulares) já
0
1635 1710
é amplamente criticado por
pesquisas recentes, pois a
assalariado escravo
noção de que o índio não
era compatível com
trabalho agrícola, na verdade, expressa um desconhecimento mais específico do modo de vida dos
povos indígenas (no Capítulo 6, aprofundo as variáveis que levaram à substituição da mão de obra).
Dentro desse argumento mais tradicional, os africanos trazidos à América eram agricultores e,
portanto, tinham certo conhecimento técnico na lavoura. Principalmente, porque em regiões
africanas já havia a plantação do açúcar.
Por fim, mas não menos importante é o argumento exposto pela Igreja. Naquela época,
como veremos no Capítulo seguinte, houve uma Carta Régia, de 1570, proibindo a escravidão
indígena de povos que se dispusessem à conversão ao catolicismo. Apesar de os colonos viverem
em conflito com a Igreja e com o Governo Geral por conta dessa proteção dos jesuítas, houve um
desestímulo moral à escravização dos povos indígenas.
De qualquer maneira gostaria de chamar sua atenção para o seguinte:

12
FLORENTINO, Manolo. Aspectos do tráfico negreiro na África Ocidental (c. 1500 -c.1800). In:
FRAGOSO, João & GOUVÊA, Maria F. (Org.). Coleção- O Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Ed. Civilização
Brasileira. V.1, 2018, p. 229.

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Quando falamos da preferência do negro em relação aos índios para o uso sistemático da mão de
obra escrava, não podemos nos esquecer das contradições e da realidade pobre da maioria do
território colonial. Concretamente isso fez com que a escravidão indígena continuasse sendo
realidade em muitos lugares, a despeito das análises que muitos historiadores fizeram.
A perseguição e subjugação dos índios no sudeste do Brasil foi incentivada por autoridades
da Coroa portuguesa presentes na colônia e por agentes particulares (portugueses endinheirados),
que buscavam novos investimentos, para além do comércio da cana de açúcar. Como a produção
de açúcar das capitanias de Santo Amaro e São Vicente (territórios equivalentes à região atual do
estado de São Paulo) não conseguiam competir com o Nordeste, os paulistas tiveram que pensar
em alternativas de investimento, como: comércio de índios escravizados e busca por metais
preciosos.
Os paulistas, em particular aqueles conhecidos como “bandeirantes”, organizaram vilas e
terras agricultáveis a partir da mão de obra escrava indígena. Contudo, tiveram que sair do litoral
e adentrar o planalto em busca de riquezas, de índios e terras mais agricultáveis.
Além disso, alguns historiadores afirmam que apesar do grande aporte de africanos
escravizados nas lavouras de açúcar, bem como em outras atividades, a mão de obra indígena
continuou sendo utilizada. Assim, o que se processou foi uma diferenciação das tarefas a serem
cumpridas por negros e por índios. Vale ficar de olho nessas pesquisas mais recentes.

Lembra-se de que uma das tensões na Península Ibérica foi a relação entre católicos e mulçumanos?
Durante o processo de reconquista da Península Ibérica, a escravização de populações mulçumanas
passou a ser uma prática comum dos reinados, segundo a noção de “guerra justa”. Nesses termos,
a Coroa portuguesa nasceu com um pé na cultura escravagista, pois passou a legitimar a
escravização dos não-cristãos. Dessa forma, tanto as monarquias, quanto a Igreja, alimentaram o
trabalho forçado do “outro”. Para ambos, a escravidão era necessária e justa.
Um argumento, muito popular, era a ideia da maldição divina. Por meio dela, a escravidão era fruto
do pecado de Adão e Eva, primeiros pais dos homens segundo a doutrina católica. Outra justificativa
religiosa era aquela que apontava os africanos como descendentes de Caim. Este personagem
bíblico, que matou o próprio irmão por ciúmes recebeu de Deus, ao ser amaldiçoado, uma marca no
corpo para que não morresse e pudesse viver em constante expiação de seu pecado. Ligou-se, a
posteriori, a negritude dos africanos à marca cutânea imposta por Deus a Caim. Essa ideia se
combina ade guerra justa, pois os inimigos devem ser escravizados, pois deve-se preservar-lhe a vida
– uma vez que esta tem natureza divina. Só Deus decide sobre vida e morte. Assim, escravidão é
preservação do dom divino da vida e não condenação eterna
A partir da expansão ultramarina no norte da África, a prática da escravidão se ampliou. Em 1452
uma bula papal legitimou a escravidão dos não-cristãos e, em 1455, o papado reafirmou essa
posição com a autorização específica sobre africanos e asiáticos.

HB: Colônia I 32
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Por isso, à medida que os portugueses avançavam nas rotas marítimas ao longo da costa africana o
número de escravizados aumentava. Isso porque, para estabelecerem as feitorias em territórios
como, Madeira, Cabo Verde, Moçambique, muitos negros africanos foram forçados a trabalhar para
os portugueses (construções de fortificações, por exemplo).
Nesse contexto, os portugueses que conquistaram as terras conhecidas como América portuguesa,
já desembarcaram com uma mentalidade escravista. Do primeiro contato com os índios em diante,
tudo foi uma questão de tática e estratégia militar de dominação. Tanto foi que o professor João
Pacheco de Oliveira13 estabelece duas situações iniciais de representação dos índios pelos
portugueses, tal como afirmei no início da aula (a questão do Mito):
Primeira: os índios muito bem tratados e exibidos nas cortes europeias com simpatia e tolerância. A
representação positiva dos autóctones ficou marcada pela carta de Caminha.
Segunda: os índios tratados a partir da perspectiva da “guerra de conquista”. Aqui as relações entre
índios e portugueses passaram a ser distintas do momento anterior. “Portugal não quer mais ter
puramente parceiros comerciais ou aliados, mas sim vassalos (...). Para isso há que ter em suas mãos
o governo dos índios e a soberania exclusiva do território, expulsando os rivais franceses e
implantando modalidades estáveis de geração de riquezas, as quais propiciem aos moradores uma
relativa autonomia face ao Tesouro Real. A materialização dessa nova forma econômica é o
estabelecimento de lavouras de cana e engenhos em terras doadas, enquanto sesmarias, aos
colonos por El Rey ou pelo seu representante, o governador”14.

(FUVEST 2012)
Os indígenas foram também utilizados em determinados momentos, e sobretudo na fase
inicial [da colonização do Brasil]; nem se podia colocar problema nenhum de maior ou melhor
“aptidão” ao trabalho escravo (...). O que talvez tenha importado é a rarefação demográfica
dos aborígines, e as dificuldades de seu apresamento, transporte, etc. Mas na “preferência”
pelo africano revela-se, mais uma vez, a engrenagem do sistema mercantilista de colonização;
esta se processa num sistema de relações tendentes a promover a acumulação primitiva de
capitais na metrópole; ora, o tráfico negreiro, isto é, o abastecimento das colônias com
escravos, abria um novo e importante setor do comércio colonial, enquanto o apresamento
dos indígenas era um negócio interno da colônia. Assim, os ganhos comerciais resultantes da
preação dos aborígines mantinham-se na colônia, com os colonos empenhados nesse “gênero
de vida”; a acumulação gerada no comércio de africanos, entretanto, fluía para a metrópole;
realizavam-na os mercadores metropolitanos, engajados no abastecimento dessa
“mercadoria”. Esse talvez seja o segredo da melhor “adaptação” do negro à lavoura ...

13
OLIVEIRA, João Pacheco. Os indígenas na fundação da colônia: uma abordagem crítica. In: FRAGOSO,
João. GOUVÊA, Maria de Fátima (Org.). Coleção – O Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Ed. Civilização
Brasileira. V. 1. 2018, pp 167-228.
14
Idem, p. 207.

HB: Colônia I 33
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escravista. Paradoxalmente, é a partir do tráfico negreiro que se pode entender a escravidão


africana colonial, e não o contrário.
Fernando A. Novais. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial. São Paulo: Hucitec,
1979, p. 105. Adaptado.
Nesse trecho, o autor afirma que, na América portuguesa,
a) os escravos indígenas eram de mais fácil obtenção do que os de origem africana, e por isso
a metrópole optou pelo uso dos primeiros, já que eram mais produtivos e mais rentáveis.
b) os escravos africanos aceitavam melhor o trabalho duro dos canaviais do que os indígenas,
o que justificava o empenho de comerciantes metropolitanos em gastar mais para a obtenção,
na África, daqueles trabalhadores.
c) o comércio negreiro só pôde prosperar porque alguns mercadores metropolitanos
preocupavam-se com as condições de vida dos trabalhadores africanos, enquanto que outros
os consideravam uma “mercadoria”.
d) a rentabilidade propiciada pelo emprego da mão de obra indígena contribuiu decisivamente
para que, a partir de certo momento, também escravos africanos fossem empregados na
lavoura, o que resultou em um lucrativo comércio de pessoas.
e) o principal motivo da adoção da mão de obra de origem africana era o fato de que esta
precisava ser transportada de outro continente, o que implicava a abertura de um rentável
comércio para a metrópole, que se articulava perfeitamente às estruturas do sistema de
colonização.
Comentário
Questão clássica sobre a preferência do negro em relação ao indígena no processo de
constituição da mão de obra escrava. Se você não soubesse o conteúdo, até poderia responder
por meio da interpretação do texto, pois o autor deixa claro e explicito que o tráfico negreiro
é parte do sistema mercantilista e responsável por promover acúmulo de capitais na
metrópole. Para o autor “é a partir do tráfico negreiro que se pode entender a escravidão
africana colonial, e não o contrário”. Vale a pena lembrar que o processo de colonização
denominado como de “exploração” (sistema de exploração colonial) baseia-se no monopólio
e nas práticas mercantilistas, preocupadas em gerar riquezas exclusivas para a metrópole.
Assim, você só se confundiria se não lesse direito o texto da questão e, ao mesmo tempo, não
soubesse da perspectiva tratada por Fernando Novaes e Caio Prado Junior, para os quais a
preferência da escravidão negra está diretamente relacionada com as possibilidades de
ampliar os lucros da metrópole. O fato de ser um comércio oceânico faz com que parte dessa
renda seja transferida da África e América para metrópole. O comércio da escravidão indígena,
que também existia, mantinha o dinheiro na colônia. Além disso, vale lembrar que existiram
obstáculos morais e religiosos para o aprisionamento indígena.
Sabendo disso e lendo direitinho o texto, você assinalaria o item E eliminaria os demais itens
pelos seguintes motivos:
a-Porque não foram os indígenas os preferidos para realizar a escravidão em larga escala,
embora saibamos que os povos autóctones ou originários também foram escravizados, pelo

HB: Colônia I 34
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menos aqueles considerados selvagens, bravos ou gentios (sinônimo para designar índios
rebeldes e contrários à catequização, exploração e ocupação de suas terras).
b-Essa tese da melhor adaptabilidade dos africanos para o trabalho nas lavouras é, em alguma
medida, usada como argumento complementar. Embora, hoje em dia, muitas pesquisas
demonstrem que os povos originários no Brasil cultivassem a lavoura também. Alguns
historiadores colocam o critério do sexo para diferenciar indígenas e africanos. No primeiro
caso, as indígenas eram mais habituadas à lavoura e os portugueses queriam mão de obra
masculina. De toda forma, você excluiria o item por meio da acareação entre essa perspectiva
explicativa e o texto.
c-Não havia essa concepção diferente entre mercadores que humanizavam os africanos e
outros que os objetificavam.
d-Não foi o alto preço do escravo indígena que possibilitou o comércio negreiro, segundo o
texto. Além do mais, como já mencionamos, o valor do escravo índio era inferiores ao do
escravo negro, especialmente a partir do século XVII.
Gabarito: E
____________________________________________________________________________
(FUVEST 2006)
"O que mais espanta os Índios e os faz fugir dos Portugueses, e por consequência das igrejas,
são as tiranias que com eles usam, obrigando-os a servir toda sua vida como escravos,
apartando mulheres de maridos, pais de filhos, ferrando-os, vendendo-os, etc. [...] estas
injustiças foram a causa da destruição das igrejas..."
Padre José de Anchieta, na segunda metade do século XVI.
A partir do texto, é correto afirmar que
a) a defesa dos indígenas feita por Anchieta estava relacionada a problemas de ordem pessoal
entre ele e os colonizadores da capitania de São Paulo.
b) a escravidão dos índios, a despeito das críticas de Anchieta, foi uma prática comum durante
o período colonial, estimulada pela Coroa portuguesa.
c) os conflitos entre jesuítas e colonizadores foram constantes em várias regiões, tais que:
Maranhão, São Paulo e Missões dos Sete Povos do Uruguai.
d) a posição de defesa dos indígenas, assumida por Anchieta, foi isolada nas Américas, tanto
na Portuguesa quanto na Espanhola.
e) a defesa dos jesuítas foi assumida pela Coroa nos episódios em que essa ordem religiosa
lutou por interesses antagônicos aos dos colonizadores.
Comentário
Essa questão não é difícil, mas é chata. Ela tem informações que facilmente confunde os
estudantes. Tem minúcias que precisavam ser lembradas para chegar ao item certo, pois
aparentemente tem muitos itens corretos.
A lógica geral é: Índios não podem ser escravizados, apenas catequizados. Mas se foram
resistentes, pode-se aplicar a ideia de guerra justa, lembram-se?

HB: Colônia I 35
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Assim, o Decreto Régio que proibia a escravidão indígena criava duas categorias de índios: o
bom selvagem e o gentio, bravo ou selvagem. Estes poderiam ser aprisionados.
Mesmo com isso, os jesuítas portugueses combatiam os maus-tratos praticados pelos colonos.
Mais ainda, denunciavam os abusos cometidos contra os aldeamentos indígenas criados e
controlados pelos jesuítas. Em geral, os colonos invadiam e destruíam as aldeias para
aprisionar e vender escravos para trabalharem como escravos, a despeito da lei.
Evidentemente isso causou muitos conflitos entre colonos e jesuítas. Vamos aos itens para ver
o que está certo mesmo:
a- Não existe problema de ordem pessoal entre o Padre Anchieta. O problema é religioso,
econômico e político.
b- Item correto, segue a generalidade e ressalta que apesar da defesa do Padre, a escravidão
existia.
c- Item muito chato, pode ser que muita gente tenha ficado em dúvida entre a B e a C. Mas
aqui é a pegada. Missão de sete Povos do Uruguai, mais conhecido por nós como Sete
Povos das Missões, era um complexo de aldeamento de jesuítas espanhóis. Portanto, o
texto de Padre Anchieta não se refere a esse acontecimento, embora seja verdadeiro que
bandeirantes destruíram com muita violência esse aldeamento indígena.
d- A posição de Anchieta não foi pessoal, insisto. Para lembra-los da aula anterior falamos
bastante de Frei Bartolomeu de Las Casas e mesmo do frei João André Antonil. Foram
vários os clérigos que denunciaram a violência da colonização.
e- Infelizmente, a história conta que apesar do decreto real de proibição da escravidão
indígena, a Coroa nunca saiu na defesa inconteste dos indígenas. Ao contrário, fazia
“vistas-grossas” a essa falta de cumprimento das leis por parte dos colonos. Pensa que é
de hoje que a justiça é seletiva, amigo, não é não!
Gabarito: B

4.2.3 – Estrutura social açucareira

Você percebeu: o lugar que cada grupo ocupava no complexo açucareiro definia a classe
social a que a pessoa/grupo pertencia? Essa divisão, inclusive, determina as relações políticas e
sociais entre estes grupos. Vamos articular?
Existiam os proprietários da terra, os homens livres que prestavam algum serviço
relacionado à produção açucareira (mestre do açúcar, caixeiro, purgador, caldeiro, banqueiro,
feitos) e os escravos.
Com certeza, a figura mais poderosa dessa pirâmide social é o senhor de engenho – o
proprietário das terras, da produção e das pessoas. Além disso, como estamos discutindo nessa aula,
o proprietário da terra era uma pessoa com poderes políticos, administrativos e até judiciais.
Então, alguns historiadores afirmam que a autoridade desse senhor ultrapassava os limites de suas
terras e, assim, conseguia atingir a vila e povoados vizinhos. Com isso, ele podia estabelecer aliados
políticos por meio da distribuição de favores e privilégios.

HB: Colônia I 36
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Portanto, havia uma relação de dependência dos homens livres (e mais pobres), escravos e
até mesmo dos clérigos com o senhor de engenho. Pelo que afirma Padre Antonil, importante
cronista da época, podemos inferir que “senhor de engenho” era tido como algo parecido a um
título de nobreza – a que muitos aspiravam porque:
traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado de muitos. [...] Servem ao senhor de engenho, em vários ofícios além de
escravos [...] na fazenda e na moenda [...] barqueiros, canoeiros, carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores, pescadores. Tem
mais, cada senhor destes, necessariamente, um mestre de açúcar, um purgador, um caixeiro no engenho e outro na cidade,
feitores, e para o espiritual, um sacerdote15. (grifos nossos)

Veja que não se tratava de uma “nobreza hereditária”, como na Europa, mas “uma aristocracia
da riqueza e do poder”16. Ainda assim, muitas vezes auto cunhavam títulos como conde, barão,
marquês.
A marca maior desse grupo aristocrático não era o que eles faziam, mas o que NÃO faziam:
não se dedicavam ao trabalho braçal, como cuidar de uma horta de uma loja, ou até mesmo, de
realizar algum artesanato ou manufatura. Por terras tropicais, pairava o velho pensamento medieval
do trabalho como uma ordem de coisas que “naturalmente” não cabe aos senhores. Trabalho era
coisa de classes e grupos inferiores.
Os aristocratas tropicais
viviam de rendimentos, aluguéis e
de cargos públicos conseguidos por
meio de relações de amizade e
privilégios – era o berço do
patrimonialismo. Além disso,
contavam com grande número de
parentes, aparentados, agregados,
criados e escravos que lhes
serviam, de algum modo, na
esperança de obterem alguma
oportunidade.

15
ANTONIL, André João. Cultura e opulência do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1997, p. 75.
16
SCHWARCZ e STARLING, idem, p. 67.

HB: Colônia I 37
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17

Cenas do cotidiano demonstram o transporte de senhores de engenho por


escravos. Litografia de Jean-Baptiste Debret. 1834

Diversos elementos marcam as distinções entre esses grupos, como por exemplo, o lugar de
moradia (como já vimos, a casa grande, a senzala e outras casinhas simples que ficavam no
engenho), a mobília, as vestimentas, os cavalos sangue-puros e o letramento, por fim, a capacidade
de ser obedecido.
Quanto mais perto do núcleo do círculo - mais perto do pai (do senhor de engenho) - mais
inclusão e privilégios. Quanto mais distante, mais excluído e desprestigiado. Eram “os mais de
dentro e os mais de fora”!
Assim, é impossível falar de aristocracia sem falar da escravidão. São duas faces da mesma
moeda que compõem uma estrutura social caracterizada por Gilberto Freyre como “sociedade
patriarcal”.
A expressão utilizada pelo autor em seu livro clássico Casa Grande & Senzala é “equilíbrio de
antagonismos de economia e cultura”. Uma realidade dual na qual a violência e o paternalismo
são elementos de uma mesma relação. Afinal, eu nem preciso ficar aqui descrevendo a “qualidade
da vida de um escravo” para você, né?

Mas, Profe, me explica por que esse par de opostos – paternalismo e violência?
Olha, meu querido e querida, a violência nos parece mais fácil de entender – ela é tão cotidiana
que entendemos bem as formas pelas quais ela se manifesta. Já a questão desse paternalismo era

17
Regresso a cidade de um dono de chácara. Liteira para viajar no interior, c.1834-1839. Litografia sobre papel
de Jean-Baptiste Debret. Coleção Martha e Erico Stickel / Acervo Instituto Moreira Salles. Disponível em:
https://ims.com.br/por-dentro-acervos/viagem-pitoresca-e-historica-ao-brasil/. Acesso em 05-04-2019.

HB: Colônia I 38
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o modo como o dono do escravo tratava algumas de “suas peças” (esse era o modo como a pessoa
escravizada era tratada no mercado). As vezes lhe dando agrados – como uma roupa melhor ou
comida, permitindo alguma festa ou lazer, entre outros – outras vezes, atribuindo trabalhos menos
pesados e mais próximos à casa-grande.
Contudo, em diferentes situações o senhor castigava seu escravo. O castigo físico era
absolutamente recorrente – e até mesmo aceito pela Igreja – uma vez que o suplício físico era
entendido como a salvação da alma e a correção dos vícios mundanos. De qualquer maneira, a
decisão sobre a vida e a morte do escravo estava nas mãos do seu dono.
Portanto, paternalismo não tem a ver com a relação de pai e filho (carinhosa e cuidadosa),
mas de controle, dominação e submissão. Nessa sociedade patriarcal é o pai - o senhor de engenho
- que controla a vida dos escravos, mas de certa maneira, de todos aqueles que dependem de suas
decisões.

Dito isso, podemos inferir que a cor da pele é um marcador social fundamental nas
relações coloniais brasileiras, como afirmam as autoras do livro Brasil: uma biografia:

“A cor logo se tornou um marcador social fundamental; as categorizações, fluidas,


variavam com o tempo e com o lugar, além de delimitarem classificações sociais e
status.18
Diferentemente da colonização espanhola, no Brasil, a mestiçagem é uma marca social, já
que não houve nenhuma norma que proibisse a relação sexual entre diferentes povos. Por isso, as
professoras Lília e Heloísa usam o termo “cartografia de tons e subtons”.
Mas, nem de longe podemos afirmar que a mestiçagem gerou igualdade - ou menos
desigualdade de oportunidades. As pessoas “de cor” sofriam toda sorte de discriminação, afinal, sua
condição jurídica era de “propriedade” – escravos inferiores. Assim, o constrangimento para a
mestiçagem não era apenas jurídico, também social.
Em geral, essas relações eram extraconjugais, jamais expostas na “missa de domingo” –
quando não, poderiam ser, inclusive, relações de exploração e violência sexual. Lembram da
personagem Bertoleza no livro O Cortiço, de Aluísio de Azevedo? Ela é a escrava-amante de João
Romão, que a engana com uma falsa carta de alforria, ao mesmo tempo que a esconde de toda a
sociedade.
Mas Profe, os mestiços também eram escravizados?
A depender da condição da mãe, sim! Se fossem mestiços de homens brancos com mulheres
negras escravas, elas nasceriam na condição de escravos também, afinal, os filhos de escravas eram
propriedade dos seus donos.
Contudo, é verdade que a gradação da cor da pele poderia significar outras trajetórias. Há
muitos estudos históricos na demografia, na sociologia e na economia que demonstram que quanto
mais clara é a pele da pessoa maior suas possibilidades de alçar outras ocupações, inclusive, na

18
SCHWARCZ, Lilia Moritz. e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Ed. Cia das
Letras, 2018, p.71.

HB: Colônia I 39
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época do complexo açucareiro – um trabalhador de dentro da casa, um capataz, um entregador,


um condutor de cavalos. Os mestiços podiam, também, receber alguma instrução e trabalhar com
atividades do comércio. A alforria era mais possível, portanto, para pessoas com mais características
brancas.
Vários pensadores, sobretudo na década de 1930, analisando a formação social do Brasil
chegaram à conclusão de que as relações sociais eram pautadas por uma complexidade de fatores
que incluíam questões de cunho pessoal, cultural e racial. Ou seja, no Brasil, o modo de relação não
era só racial, só cultural, só por amizades. É a síntese de tudo isso.
Apesar disso, é inegável os efeitos da escravidão na vida social. Ela é estruturante de todas
as outras relações que se estabeleciam na civilização do açúcar.

“Mulatos e crioulos – este último termo se referia aos escravos


nascidos na propriedade do senhor, isto é, não-africanos – eram
aqueles que mais se aproximavam do universo da casa-grande,
constituindo uma espécie de elite que realizava o trabalho doméstico
e especializado, apesar de muitas veze serem descritos como indolentes; os pardos eram
julgados aptos a aprender e dominar ofícios da cana, e os africanos, tidos por “estranhos pagãos”
– na melhor das explicações, recém-convertidos – e, com raras exceções, por perigosos e
instáveis. Com o tempo a escravidão ficaria mais e mais associada aos africanos e seus
descendentes, e se enraizaria na América portuguesa de maneira a penetrar toda a sociedade
colonial, em que cada vez mais a cor atuava como critério de status. Libertos com mais bens
logo adquiriam cativos, e o mesmo ocorria com agricultores pobres. Ter escravos era símbolo de
posse e de distinção, quase um cartão a avalizar a prosperidade e estabilidade nessa civilização
da cana.” (grifos nossos)19

(FUVEST 2011)
É assim extremamente simples a estrutura social da colônia no primeiro século e meio de
colonização. Reduz-se em suma a duas classes: de um lado os proprietários rurais, a classe
abastada dos senhores de engenho e fazenda; doutro, a massa da população espúria dos
trabalhadores do campo, escravos e semilivres. Da simplicidade da infraestrutura econômica–
a terra, única força produtiva, absorvida pela grande exploração agrícola – deriva a da estrutura
social: a reduzida classe de proprietários e a grande massa, explorada e oprimida. Há
naturalmente no seio desta massa gradações, que assinalamos. Mas, elas não são, contudo
bastante profundas para se caracterizarem em situações radicalmente distintas.
Caio Prado Jr., Evolução política do Brasil. 20ª ed. São Paulo: Brasiliense, p.28-29, 1993 [1942].

19
SCHWARCZ, Lilia Moritz. e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Ed. Cia das
Letras, 2018

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Neste trecho, o autor observa que, na sociedade colonial,


a) só havia duas classes conhecidas, e que nada é sabido sobre indivíduos que porventura
fizessem parte de outras.
b) havia muitas classes diferentes, mas só duas estavam diretamente ligadas a critérios
econômicos.
c) todos os membros das classes existentes queriam se transformar em proprietários rurais,
exceto os pequenos trabalhadores livres, semilivres ou escravos.
d) diversas classes radicalmente distintas umas das outras compunham um cenário complexo,
marcado por conflitos sociais.
e) a população se organizava em duas classes, cujas gradações internas não alteravam a
simplicidade da estrutura social.
Comentário
Outra questão que mobiliza uma tese clássica sobre a estrutura colonial brasileira. No mesmo
estilo da anterior, era possível respondê-la com uma boa interpretação do texto, de um grande
historiador brasileiro, que adota o conceito de “classe social” na análise da estrutura colonial
do Brasil, entendendo-a dividida entre senhores e escravos, apesar da existência de setores
intermediários.
Caio Prado utiliza a perspectiva do materialismo histórico dialético para mostrar que a
estrutura escravista da sociedade torna a relação entre os grupos ou classes sociais mais
simplificada porque se generaliza o uso da escravidão que, progressivamente, ocupou funções
outrora realizadas por trabalhadores livres. Assim, as classes fundamentais seria proprietário
do engenho e escravos do engenho. Apesar disso, em nenhum momento ele deixa de
reconhecer os grupos intermediários que compõem a sociedade colonial.
Portanto, o gabarito é letra E e as demais estão incorretas pois negam essa formulação. Veja
por que os itens abaixo não poderiam ser assinalados:
Existiam vários grupos sociais e não apenas duas classes ligadas a critérios econômicos, como
afirmam os itens A e B. Nem todos queriam tornar-se senhores de engenho, como colocado
no item C, embora muitos todos quisessem melhores condições de vida e oportunidades. Por
fim, existem diversos grupos sociais, mas apenas 2 classes profundamente distintas: senhores
e escravos. Sobre conflitos está correto afirmar, mas a primeira parte do item, anula a parte
correta a
Gabarito: E

5. ÍNDIOS E NEGROS: RESISTÊNCIA E PERSISTÊNCIA


Bem, agora que você tem dimensão da exploração e da violência que acompanharam o
processo de colonização e formação do Brasil, podemos começar a ver algumas formas de
resistência. Mas não apenas como resistiram à violência, porque, como ensinou Gilberto Freyre, por
aqui a sociabilidade é um complexo que envolve relações pessoais, cultura, raça e muita, muita
negociação. Um equilíbrio de contrastes, evidentemente, deixou marcas da influência de todos

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esses povos que participaram ativamente da formação do país. Vejamos um pouco mais sobre essa
história.
Nessa seção, vamos puxar um pouco mais essas histórias para você entender a importância
das formas de resistências e as culturas indígena e afrodescendentes diante do sistema escravista.
Culturas que, diga-se de passagem, persistem até os dias atuais e que influenciaram sobremaneira
a formação do Brasil.

5.1 – ÍNDIOS, OU MELHOR, POVOS ORIGINÁRIOS


Diante da cultura escravista já presente na sociedade branca europeia, a extração do pau-
brasil - único recurso lucrativo disponível no Brasil conquistado - necessitava de mão de obra. Tanto
para explorá-lo (cortar, carregar, preparar e embarcar), quanto para organizar um povoamento
português capaz de conter invasões estrangeiras (como a dos franceses e holandeses), a mão de
obra indígena foi estratégica. Claro, estratégica do ponto de vista do colonizador branco português.
Em linhas gerais, durante os séculos XVI e XVII, o modo de inserir os cerca de 2,5 milhões de
índios do litoral brasileiro no processo de colonização consistiu, basicamente, em três métodos.
• O primeiro consistia na escravização pura e simples, na base da força, empregada
normalmente pelos colonos. Para tanto, os colonizadores lançavam mão de alianças com
etnias indígenas inimigas entre si, de modo que – de aliança em aliança- desarticulavam
qualquer resistência unificada dos índios contra os invasores portugueses. Por sinal, esse tipo
de estratégia foi a adotada na América Espanhola;
• O segundo era o estímulo à criação de um campesinato indígena por meio da aculturação
e destribalização, as quais eram praticadas primeiramente pelos jesuítas, e depois pelas
demais ordens religiosas;
• O terceiro consistia na busca da integração gradual do índio como trabalhador assalariado,
medida adotada tanto por leigos como pelos religiosos. O início desse processo foi marcado
pelo escambo, a troca de utensílios europeus por trabalho indígena no corte e carregamento
do pau brasil.
Com a crescente resistência dos povos indígenas, a política indigenista ficou caracterizada pelo
seguinte dualismo:
• Conquista militar e escravização dos índios;
• Conversão dos índios ao cristianismo e consequente subordinação.
Os jesuítas foram os europeus que mais pressionaram a Coroa e os colonos a tratarem os índios
como filhos de Deus, o “bom selvagem” visto no começo da aula. Dessa forma, por um lado, atuaram
para a liberdade dos índios e contra o aprisionamento. Por outro, os jesuítas foram abnegados
conversores da subjetividade indígena. Assim como os clérigos atuantes nas colônias espanholas,
como vimos na Aula 05, os jesuítas no Brasil quiseram ampliar o número de fiéis, pois concebiam a
cultura ameríndia como inferior e pagã.
No processo de evangelização, os jesuítas fizeram duas tentativas:
Converter índios em suas próprias aldeias. Ações com menor resultado de conversão;

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Converter índios em aldeamento construídos pelas missões de evangelização, as


chamadas reduções. Essa ação rendeu mais resultados para os jesuítas.
Dessa forma, à luz dos ensinamentos do antropólogo Antônio Carlos de Souza Lima (professor
UFRJ)20, você deve ter em mente que, do ponto de vista político, a ação colonizadora de “conquista”
significou:

1) a conquista como uma modalidade de


guerra, em que domínio sobre populações reduzidas
pela força militar, suas terras, seus recursos naturais
foram apropriados num processo no qual a aliança
com parte das populações habitantes dos espaços a
serem incorporados, e todo um aparato que hoje
chamaríamos de “meios de comunicação”, tiveram
tanta ou mais importância que a violência física;

2) a conquista não foi somente guerra e destruição


(violência aberta, portanto); mas implicou em produção de novas
relações/identidades sociais, isto é, também se apresentou como
violência simbólica;

3) no caso dos povos presentes na porção do continente invadida pelos


portugueses, devemos falar no plural - em conquistas -, pois, ao contrário do
México ou do Peru, onde os espanhóis lutaram contra estruturas de poder com
um modo de centralização similar a algumas existentes no passado
mediterrâneo, os dispositivos políticos dos índios brasileiros eram muito
distintos.
No contexto da pregação cristã em terras indígenas, ao mesmo tempo que índios eram
catequizados, eles também mantinham suas identidades culturais originárias. Com isso, muitos
sincretismos religiosos foram formados, à revelia do controle da catequização dos jesuítas. Na
prática, era uma forma de resistirem tanto à violência física da escravização, quanto à violência
subjetiva da catequização. Como as reduções acabavam se transformando em locais protegidos,
muitos índios passavam a viver sob a tutela dos jesuítas.
A mistura entre a cultura cristã e a indígena produziu visões de mundo, formas de pensar
própria das etnias indígenas, baseadas na resistência contra o europeu opressor e explorador, um
verdadeiro sincretismo.
Para você ter uma ideia, em 1580, no Recôncavo Baiano, ocorreu uma grande insurreição
indígena. Até os jesuítas ficaram surpresos. Antônio, um índio educado por jesuítas, reuniu vários

20
LIMA, Antonio Carlos de Souza. Um olhar sobre a presença das populações nativas na Invenção do
Brasil. IN: Aracy Lopez da Silva; Luiz Donisetti Benzi Grupioni. (Org.). A QUESTÃO INDÍGENA NA SALA
DEAULA. NOVOS SUBSÍDIOS PARA PROFESSORES DE 1º E 2º GRAUS. 1 ed. BRASÍLIA: MEC, 1995, p.
407-419

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índios escravizados para anunciar a profecia da Terra sem Mal. Essa terra seria um lugar distante
dos engenhos e das brutalidades dos senhores. A revolta foi brutalmente massacrada por tropas
portugueses da região nordeste. Por sinal, no nordeste do Brasil colônia, o período de 1540 até 1570
marcou o apogeu da escravidão indígena nos engenhos, especialmente naqueles localizados em
Pernambuco e na Bahia, como vimos anteriormente.
A Coroa portuguesa publicou uma ordem de proibição da escravização dos povos nativos, em
1570, lembra? Isso ocorreu devido a:
➢ resistência indígena à escravização
➢ diminuição exponencial da população indígena (vítimas das doenças e do trabalho
escravo extenuante)
➢ resistência dos jesuítas
➢ necessidade de os negócios da Coroa (lucro) serem ampliados a partir do tráfico
negreiro
É importante ressaltar que essa ordem teve mais eficácia no nordeste do Brasil, nas terras
dos grandes engenhos de açúcar e pouca no sudeste e sul.
A perseguição e subjugação dos índios no sudeste do Brasil foi incentivada por autoridades
da Coroa portuguesa presentes na colônia e por agentes particulares (portugueses endinheirados),
que buscavam novos investimentos, para além do comércio da cana de açúcar. Como a produção
de açúcar das capitanias de Santo Amaro e São Vicente (territórios equivalentes à região atual do
estado de São Paulo) não conseguiam competir com o Nordeste, os paulistas tiveram que pensar
em alternativas de investimento, como: comércio de índios escravizados e busca por metais
preciosos.
Os paulistas, em particular aqueles conhecidos como “bandeirantes”, organizaram vilas e
terras agricultáveis a partir da mão de obra escrava indígena. Contudo, tiveram que sair do litoral e
adentrar o planalto em busca de riquezas, de índios e terras mais agricultáveis. Por isso, esses
colonizadores europeus passaram a ser conhecidos como “sertanistas”, da qual “bandeirante” é
uma variante.
O centro desse movimento de interiorização dos conquistadores foi a vila de São Paulo,
fundada pelos jesuítas em 1554. Nessa região, a escravização indígena foi empregada em setores
específicos da agricultura, como na plantação do trigo. Esse produto era comercializado com outras
regiões, como a do Rio de Janeiro. O interessante é que essa situação gerava um conflito entre
bandeirantes e jesuítas – que combatiam a escravização indígena – e, posteriormente, com a Coroa
(Metrópole), quando ela passou a proibir a mão de obra escrava indígena, em 1570. Muitos
aldeamentos (as reduções) eram atacados por bandeirantes.
Em linhas gerais, os bandeirantes paulistas:

➢ ignoravam a proibição da captura e do tráfico de índios;


➢ ignoravam o papel das reduções jesuítas;
➢ ignoravam as demarcações do Tratado de Tordesilhas, pois as expedições sertanistas
acabavam estabelecendo domínios em terras espanholas.

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Por volta de 1640, os jesuítas das terras do sul, sudeste e centro-oeste, juntamente com os
indígenas, conseguiram resistir e impuseram derrotas aos bandeirantes. Dessa forma, o
fornecimento de mão de obra para a economia da capitania de São Vicente foi estagnado,
dificultando ainda mais a vida econômica de uma região marginal na economia açucareira.
Diante dessa derrota, os
bandeirantes passaram a ser
contratados para destruir e
desarticular os quilombos
do Nordeste. Um desses
contratados para agir no
Nordeste foi o bandeirante
Domingo Jorge Velho, que
recebeu uma fortuna em
troca de dizimar o Quilombo
dos Palmares. Com seis mil
homens (a maioria brancos
paulistas e mamelucos, isto
é, homens com ascendência
europeia e indígena), após
cercarem Palmares, a
resistência quilombola foi
derrotada em janeiro/fevereiro de 1694.
Outra região que sofreu com a chegada do modo de vida colonial escravista foi Maranhão
e Grão-Pará. Como a produção canavieira também não encontrou solo favorável nessas terras, as
alternativas foram os comércios de índios escravizados e de produtos da terra. Os colonizadores
aproveitaram-se da exploração das chamadas “drogas do sertão” da Floresta Amazônica (produtos
in natura para remédios, temperos e tinturaria). A mão de obra empregada nesse tipo de atividade
foi a escrava indígena.
A título de reforço, lembre-se de que outra violência empregada contra os índios foi a
disseminação de doenças. Tanto os colonos europeus, quanto os aldeamentos jesuíticos
contribuíram para a propagação da varíola, da gripe, dentre outras doenças não típicas dos povos
nativos. Em 1562, em nome da “Guerra Justa”, o Governador Mem de Sá se dirigiu com um exército
até o litoral norte da Bahia e parte de Pernambuco para conter uma revolta dos caetés. Depois de
submetidos, esses índios sofreram com a epidemia de varíola. Cerca de 70 mil deles morreram nesse
momento.
Em resposta à deterioração das condições de vida, seja nas aldeias (vilas ou reduções), seja
fruto das perseguições, os índios responderam de muitas formas:
• fugas para regiões mais interioranas;
• conflitos físicos contra os conquistadores.
• Cercamento de aldeias e ataques a engenhos;
• Alianças com europeus rivais, por exemplo, Tupinambás aliaram-se com franceses para
combater os portugueses

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Entretanto, as resistências indígenas não foram suficientes para conter as baixas. Conforme
compilação de dados governamentais, o balanço histórico da população indígena é percebido nos
seguintes números:

Os Tupinambás ganharam destaque na preocupação da Coroa Portuguesa. Além de, em


certas ocasiões se aliarem aos franceses, eles realmente colocavam em risco os planos da
Metrópole. Foram diretamente citados nas ordens do Rei de Portugal aos Governadores para que
todos os Tupinambás fossem “castigados com muito rigor (...) distraindo-lhes suas aldeias e
povoações e matando e cativando aquela parte deles que vos parecer que basta para seu castigo e
exemplo”21.

(FUVEST 2000)
Durante o período colonial, o Estado português deu suporte legal a guerras contra povos
indígenas do Brasil, sob diversas alegações; derivou daí a guerra justa, que fundamentou:
a) o genocídio dos povos indígenas, que era, no fundo, a verdadeira intenção da Igreja, do
Estado e dos colonizadores.
b) a criação dos aldeamentos pelos jesuítas em toda a colônia, protegendo os indígenas dos
portugueses.
c) o extermínio dos povos indígenas do sertão quando, no século XVII, a lavoura açucareira aí
penetrou depois de ter ocupado todas as áreas litorâneas.

21
OLIVEIRA, João Pacheco. Op. Cit., p. 183.

HB: Colônia I 46
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d) a escravização dos índios, pois, desde a antiguidade, reconhecia-se o direito de matar o


prisioneiro de guerra, ou escravizá-lo.
e) uma espécie de "limpeza étnica", como se diz hoje em dia, para garantir o predomínio do
homem branco na colônia.
Comentário
Lembra-se de que uma das tensões na Península Ibérica foi a relação entre católicos e
mulçumanos? Durante o processo de reconquista da Península Ibérica, a escravização de
populações mulçumanas passou a ser uma prática comum dos reinados, segundo a noção de
“guerra justa”. Nesses termos, a Coroa portuguesa nasceu com um pé na cultura escravagista,
pois passou a legitimar a escravização dos não-cristãos. Dessa forma, tanto as monarquias,
quanto a Igreja, alimentaram o trabalho forçado do “outro”. Para ambos, a escravidão era
necessária e justa.
Um argumento, muito popular, era a ideia da maldição divina. Por meio dela, a escravidão era
fruto do pecado de Adão e Eva, primeiros pais dos homens segundo a doutrina católica. Essa
ideia se combina a de guerra justa, pois os inimigos devem ser escravizados, pois deve-se
preservar-lhe a vida – uma vez que esta tem natureza divina. Só Deus decide sobre vida e
morte. Assim, escravidão é preservação do dom divino da vida e não condenação eterna.
A partir da expansão ultramarina no norte da África, a prática da escravidão se ampliou. Em
1452 uma bula papal legitimou a escravidão dos não-cristãos e, em 1455, o papado reafirmou
essa posição com a autorização específica sobre africanos e asiáticos.
Nesse contexto, os portugueses que conquistaram as terras conhecidas como América
portuguesa, já desembarcaram com uma mentalidade escravista. Estabelece-se duas
situações distintas de representação dos índios pelos portugueses:
Primeira: os índios muito bem tratados e exibidos nas cortes europeias com simpatia e
tolerância. A representação positiva dos autóctones ficou marcada pela carta de Caminha.
Segunda: os índios tratados a partir da perspectiva da “guerra de conquista”. Aqui as relações
entre índios e portugueses passaram a ser distintas do momento anterior. “Portugal não quer
mais ter puramente parceiros comerciais ou aliados, mas sim vassalos (...). Para isso há que ter
em suas mãos o governo dos índios e a soberania exclusiva do território, expulsando os rivais
franceses e implantando modalidades estáveis de geração de riquezas, as quais propiciem aos
moradores uma relativa autonomia face ao Tesouro Real. A materialização dessa nova forma
econômica é o estabelecimento de lavouras de cana e engenhos em terras doadas, enquanto
sesmarias, aos colonos por El Rey ou pelo seu representante, o governador” 22
Portanto, o conceito de “guerra justa” foi empregado, durante a colonização portuguesa do
Brasil, para justificar a captura, o aprisionamento e a escravização de indígenas. Assim, a guerra
justa, segundo os colonizadores – em especial amparados por uma argumentação católica –
era natural porque representava a dominação de uma raça inferior (os indígenas) por outra
superior (os europeus).

22
Idem, p. 207.

HB: Colônia I 47
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Gabarito: D

Os conflitos em torno da questão indígena no Brasil continuam até hoje, principalmente


aqueles relacionados à demarcação de terras.23
A demarcação é um tipo de política pública que procura preservar áreas originárias de
diversas etnias. Porém, sabemos que o crescente desmatamento provocado por madeireiras e pela
indústria de papel, as devastações feitas pelo “agronegócio”, as mineradoras, dentre outras
empresas despreocupadas com questões ambientais e com os povos originários, tornam o conflito
pela terra mais intenso.
Essa discussão atual com olhares para o passado é muito importante e pode cair no seu vestibular
de diferentes formas, principalmente porque, segundo o Comitê de Direitos Humanos da ONU,
[...] a cultura se manifesta sob várias formas,
inclusive no que diz respeito a um modo de vida
especificamente relacionado ao uso de recursos
associados à terra, em especial no caso de povos
indígenas. Esse direito pode incluir atividades
tradicionais, como pesca ou caça”.

Pensando nessas questões, trouxe


para você refletir dois fatos atuais
que expressam a resistência e a
busca pela identidade indígena a
partir de novas tecnologias, ou seja, a
persistência dos índios.

Rádio Yandê HQ indígena


Essa rádio está no ar, via web e diferentes mídias sociais, desde 2013. Lançada em outubro
É uma rádio composta por programadores, diretores, radialistas, jornalistas, de 2016 pela editora Elefante,
todos indígenas. Um dos objetivos dos programas é combater estereótipos e assinada pelo desenhista
formado em torno da figura do índio. A palavra “yandê”, de acordo com uma Vitor Flynn Paciornik, a HQ
das fundadoras, Renata Machado, jornalista da etnia tupinambá, vem da “Xondaro” conta a história de
língua tupi. Dependendo do contexto, yandê pode significar tanto “você”
um protesto da aldeia Guarani
quanto “nosso” e “nós”. O slogan adotado é “a rádio de todos nós”. Um dos
Krukuto, etnia localizada na
o “Papo na Rede”, em que indígenas de diferentes etnias e até de outros
países conversam sobre variedades e seu cotidiano, via Google Hangouts, grande São Paulo. Este HQ
com correspondentes, coordenadores e colaboradores da rádio. também fala sobre a mitologia
e história dos Guarani.

© 2019 | Todos os direitos


23
Se você tiver interesse de saber mais sobre a questão indígena no Brasil,deste
entre material
no portal são
da Fundação
Nacional do Índio, a FUNAI, uma entidade do Governo Federal. Já para saber reservados
como ao
as NEXO
etnias atuais
buscam se auto afirmar e construir suas identidades,
JORNALveja os
LTDA., conforme Raps:
a
https://www.youtube.com/watch?v=oLbhGYfDmQg e
https://www.youtube.com/watch?v=hyyBB_xf3jo.
Lei nº 9.610/98. A sua
publicação, redistribuição,
HB: Colônia I transmissão e reescrita sem 48
www.estrategiavestibulares.com.br autorização prévia é 99
proibida.
Prf. Marco Túlio
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5.2 – RESISTÊNCIA QUILOMBOLA


Em 1741, o Rei de Portugal expediu um Alvara Real que determinava a punição de negros
aquilombados, isto é, afrodescendentes que fugiam e se abrigavam em quilombos. O texto régio
dizia,

Eu El Rei faço saber aos que este Alvará em forma de


Lei virem, que sendo-se presentes os insultos, que no
Brasil cometerem os escravos fugitivos, a que
vulgarmente chamam quilombolas (...). Hei por bem,
que a todos os Negros, que forem achados em
Quilombos, estando neles voluntariamente, se lhes
Quilombo tem o ponha fogo uma marca em uma espádua [ombro]
significado de esconderijo, com a letra F, que para efeito haverá nas Câmaras; e
palavra derivada de se quando se for executar esta pena, for achado já
quimbundo (esconderijo na com a mesma marca, se lhe cortará uma orelha,
língua dos ambundos, grupo tudo por simples mandato do Juiz de Fora, ou
étnico banto de Angola). Ordinário da Terra, ou do Ouvidor da Comarca, sem
processo algum, e só pela notoriedade do fato, logo
que do Quilombo for trazido, antes de entrar para a
cadeia.
Repare como era perversa e cruel a perseguição sobre os negros africanos e seus
descendentes. O final do texto ainda enfatiza que nenhum capturado teria direito a um “processo”.
Bastava um “capitão do mato” capturar um fugitivo para que ele sofresse a pena da marcação do
“F” no ombro ou a da mutilação da orelha.
Pois bem, querido e querida aluna, se essa ordem real, datada de meados do século XVIII,
expressava o tratamento para com os negros, você imagine as barbaridades cometidas pelos
portugueses, e demais europeus proprietários de terras, logo no começo da colonização no século
XVI? Primeiro, a opressão e a exploração recaíram sobre os índios, depois, sobre os negros
escravizados oriundos da África. Como vimos anteriormente, a proibição da escravização dos índios
em 1570 e, principalmente, com as possibilidades de lucro via tráfico negreiro, começou um
processo de substituição da mão de obra indígena pela dos africanos aprisionados em seus
territórios, deslocados para o Brasil e escravizados.
Agora, vejamos algumas formas de resistência dos negros frente ao racismo estrutural
presente no sistema colonial do Brasil. Contudo, lembremos alguns
pontos do panorama sobre as condições de vida e de trabalho
forçado dos africanos transferidos para a América Portuguesa entre
os séculos XVI e XVII:

Trabalho no plantio, em média 13 horas por dia;


Trabalho no corte e moagem da cana de açúcar, em média 18
horas por dia;

HB: Colônia I 49
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A moradia eram as senzalas: fechadas, escuras, sem condições de higiene e saneamento


básico;
Viviam vigiados sob a ameaça de armas;
Castigos como prática de punição, tais como:
Chicotadas com couro cru;
Aprisionamento em tronco;
“vira-mundo” (instrumento que prendia pés e mãos);
“gargalheira” (instrumento que imobilizava o pescoço);
Mordaça e máscara;
24

Diante da condição escrava, os africanos trazidos para o Brasil, bem como seus descendentes,
não ficaram passivos. Reagiram de diferentes maneiras, em grande parte, sempre para amenizar as
dores físicas e mentais do trabalho escravo. A partir dos estudos bibliográficos, é possível listar
algumas formas de resistência:

✓ Algumas mulheres, para evitar que seus filhos nascessem naquele mundo,
provocavam abortos. Ao mesmo tempo que essa ação significava uma resistência,
também expressava uma violência contra o corpo dessas mulheres negras;
✓ Outra “auto violência” corporal era o suicídio;
✓ Sabotagens nos engenhos por meio de destruição de plantações, instrumentos e,
principalmente, da moenda;
✓ Emboscadas e ataques surpresas à elite branca (senhores de engenho). Nesses
ataques, promovidos por ex-escravos, as casas-grandes eram saqueadas e os
canaviais e depósitos postos em chama.
✓ Negociações com senhores de engenho para obtenção de melhores condições de
vida, como alimentos, vestuário e moradia;
✓ Fugas dos engenhos, tanto individuais, quanto coletivas. Estas, por sinal,
merecem atenção especial pois resultaram na formação dos Quilombos.
Os escravos que conseguiam fugir dos engenhos começaram a organizar comunidades em
regiões afastadas da zona de controle dos colonos e da Coroa. A esses agrupamentos de negros
livres se denominou Quilombos ou Mocambos.
Durante muitos anos, a resistência quilombola marcou a história dos negros na América
portuguesa. Muitos quilombos, além de receber negros que fugiam da dominação do sistema
escravista, chegaram reunir índios e até brancos descontentes com as imposições do governo

24
Disponível em:
http://www.campanha.mg.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1431:tronco--
instrumento-de-castigo&catid=455:semana-de-museus&Itemid=248. Acesso em: 06/04/2019.

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português. A vida nos quilombos era baseada na agricultura e em pequenas trocas comerciais com
comerciantes e taberneiros das proximidades. A depender da localidade, poderiam ainda fazer
mineração e cerâmica.
Com a formação dos Quilombos, a preocupação dos senhores de engenho e da Coroa era
com a disseminação de ideias insurrecionais, contrárias, portanto, ao sistema escravista.
O Quilombo dos Palmares se destacou na resistência negra. Localizado em uma região da
capitania de Pernambuco, começou a ser organizado em 1580 e foi destruído por colonos e pela
Coroa portuguesa em 1694. Ganga Zumba e Zumbi se destacaram entre os líderes de Palmares. O
primeiro, governou de 1656 a 1678 e, Zumbi, governou de 1678 até a queda do quilombo. Zumbi
era sobrinho de Ganga Zumba e articulou a derrubada do tio por considerar que a política de Ganga
Zumba de aproximação com os brancos não condizia com a ideia de liberdade do negro. Zumba
chegou a firmar um acordo com o governador de Pernambuco que previa a libertação dos negros
nascidos em Palmares, mas em troca, os fugitivos mais recentes no Quilombo deveriam ser
devolvidos. Zumbi não concordou com essa proposta e liderou uma rebelião contra o então chefe.
Como já adiantei acima, o bandeirante Domingos Jorge Velho foi contratado para destruir
Palmares. Em 1692, em uma primeira tentativa, Jorge Velho e seus aliados cercaram Palmares, mas
os quilombolas venceram o confronto. Dois anos depois, em 1694, Jorge Velho, com mais 6 mil
soldados conseguiram vencer Palmares. Zumbi escapou, mas foi pego em 1695. Após ser preso, foi
morto e sua cabeça ficou estiada em praça pública em Recife.

A organização dos quilombos se multiplicou em muitas regiões do país e, até hoje,


existem as assim denominadas “comunidades quilombolas”. Algumas conseguiram o
direito ao reconhecimento da terra que seus antepassados escravos conquistaram e
outra, não. Por sinal, a nossa atual Constituição, a Constituição Federal de 1988, prevê o
direito à terra aos descendentes de quilombolas.

(FUVEST 1989)
Entre as várias formas de resistência do negro ao regime escravista no Brasil Colonial
encontramos os quilombos. Palmares, o maior exemplo de grande quilombo, possuía uma
organização econômica que apresentava as seguintes características:
a) agricultura policultora como principal atividade, organizada com base num sistema de
sesmarias semelhante ao dos engenhos, que visava o consumo local e a comercialização do
excedente.

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b) agricultura monocultora, que visava a comercialização, a caça, pesca, coleta e criação de


gado para o consumo interno.
c) agricultura policultora realizada em pequenos roçados das famílias, e um sistema de
trabalho cooperativo que produzia excedentes comercializados na região, além da extração
vegetal e da criação para a subsistência.
d) atividades extrativas, pecuária bovina e caprina para atender o consumo local, e fabricação
de farinha, aguardente e azeite para a comercialização.
e) criação de animais, caça, pesca e coleta para a subsistência, e agricultura monocultora que
concorria com a produção dos engenhos.
Comentário
Para responder essa questão você deve lembrar da lógica dos Quilombos em oposição ao
sistema escravagista. Dessa forma, tudo o que formava os pilares da plantation estava negado
nos Quilombos. Assim, todas as alternativas que afirmam que a agricultura dos Quilombos era
a monocultura estão erradas, alternativas b) e e). A afirmação a) está errada porque não havia
a distribuição de terras, segundo a prática de sesmarias, tal como nas relações políticas e
institucionais das capitanias hereditárias. A alternativa d) sugere uma prática de comercio
muito ampla pelos quilombolas e incluiu um produto não comercializado, o azeite. Vimos que
as poucas relações comerciais dos quilombolas eram com populações do entorno e de forma
muito restrita. Esta ponderação do raio de comércio dos produtos quilombolas está bem
colocada na alternativa c). Além disso, esse item traz outras informações corretas a respeito
dos Quilombos.
Gabarito: C

6. AÇÚCAR: DO ESPLENDOR À CRISE


Desde que se começou a produzir
açúcar na colônia, no início do século
XVI, o Brasil tornou-se o maior produtor
e exportador desse produto. De fato, o
século XVI marco o esplendor da
economia açucareira. Comerciantes
portugueses, holandeses, colonos
senhores de engenho, bem como outros
países de maneira indireta,
beneficiaram-se grandemente do
comércio internacional dessa
mercadoria. A proliferação dos
engenhos, no Brasil, era uma
demonstração de um lucrativo negócio.

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O professor Stuart B. Schwartz25, afirma que esse rápido crescimento da produção açucareira
parece estar vinculada a dois fatores macroeconômicos:

6.1 – EXPLICANDO A CRISE DO AÇÚCAR


A partir do século XVII o cenário mudou.
Houve uma expressiva queda nas exportações
do açúcar brasileiro, o que gerou uma crise da
economia colonial. Observe na tabela abaixo
os dados que demonstram esse declínio:
O professor Schwartz explica que, a longo
prazo, as questões de perdas e lucros da
produção voltada para o mercado externo,
como o açúcar, são vulneráveis a pelo menos
por 3 elementos:

➢ O movimento de oferta e demanda do produto


➢ O cenário da política internacional
➢ Questões locais no centro produtor
Levando em consideração esse esquema lógico, vamos à análise que procura explicar por que, no
século XVII, a produção açucareira no Brasil passou do esplendor à decadência. Vejamos.

6.1.1 – Mercado internacional do açúcar e de escravos


No começo do século XVII, com a expansão do século XVI, houve o aumento da oferta do produto
no mercado. Isso tornava o produto cada vez mais barato. Além disso, o aumento da produção do
açúcar fez aumentar a demanda por escravos, por isso, veremos que ao longo do século XVII ocorreu
o aumento expressivo do preço de cada escravo. E o que isso tem a ver, você poderia me perguntar.
A questão é que o escravo representava o maior custo da produção açucareira. Baseado nos
números de João André Antonil, o professor Schwartz, afirma que o preço de cada escravo
quadruplicou. Portanto, o custo da produção aumentava. Qual a conclusão, meus caros?

25
SCHWART.Stuart B. O Brasil Colonial, c. 1580-1750: as grandes lavouras e as periferias. In (org)
BETHELL, Leslie. História da América Latina: América Latina colonial. Volume II. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo/USP; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. Pp. 339-422.

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“Pode-se dizer, de
modo geral que, o
Brasil defrontou-se
com custos crescentes
e preços declinantes
para o seu açúcar.”
(SCHWATZ, idem, p.
367-368)

É verdade que a partir de 1620 os valores do açúcar começaram a subir na Europa. No entanto,
as questões políticas internacionais com grandes consequências para as questões locais na colônia
não contribuíam para a retomada dos lucros da empresa açucareira na América Portuguesa.
Vamos aos fatos!
6.1.2 – União Ibérica e invasão holandesa
A União ibérica é o nome que se dá para o momento histórico em que houve união das coroas
portuguesa e espanhola, entre 1580 e 1640.

Mas Alê, o que aconteceu para unificar as coroas? Foi um casamento? Uma crise
sucessória, o que rolou?
Em 1578, morreu o último rei da Dinastia dos Avis – Dom Sebastião. Na verdade, ele sumiu
durante a conhecida Batalha de Alcácer-Quibir, contra os mouros no norte da África. Seu corpo
nunca foi encontrado. Como o jovem rei não deixou herdeiros, seu tio-avô, o Cardeal dom Henrique,
governou Portugal. Dois anos depois morreu. Mas, também, não deixou herdeiros.
Então, em 1580, o rei da Espanha, considerando-se herdeiro legítimo do trono de Portugal
(porque era um neto e um dos reis portugueses), invadiu Portugal e o submeteu. Nesse cenário
prometeu:
autonomia para a Coroa, que seria governada por um regente.
não interferência na colônia portuguesa.
Mas, o que vimos foi diferente. Os conflitos políticos internacionais nos quais a Espanha
estava envolvida acabaram surtindo efeito na América Portuguesa. Refiro-me às disputas entre
a Espanha e a Holanda. Esta estava em plena luta pela independência em relação ao domínio
espanhol sobre seu território.

Já está imaginando os rolos que podem ser gerados? Lembra do papel da Holanda na
economia açucareira de Portugal no Brasil? Pois, então....
Diante dessa disputa entre espanhóis e flamengos, uma das medidas do governo espanhol
de Felipe II foi excluir a Holanda do negócio açucareiro do Brasil. Assim, isso afetou diretamente as
relações comerciais entre Portugal e Holanda, sacaram?

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Meu deus, Alê, mas quem iria refinar o açúcar brasileiro?

Pois é, Bixo, se fosse só esse problema estava bom. A questão é que a Holanda não poderia
deixar passar em branco, já que ela dependia da produção do açúcar para manter suas divisas. Nesse
começo de século XVII, ela não produzia açúcar, apenas transportava e refinava. Como você deve
saber a essa altura da aula, produzir cana-de-açúcar era um negócio complexo e custos. Assim, o
que a Holanda resolver fazer?
INVADIR O BRASIL!!!!!
Perceberam qual era a intenção da Holanda? Ocupar o lugar de Portugal no mercado
mundial, ocupando suas feitorias, colônias e controlando o comércio com a Índia.
Portanto, as pretensões não se restringiam à América Portuguesa, mas às possessões de
Portugal de modo geral. Por isso, antes de invadir o Brasil, os holandeses pilharam a costa africana
e criaram a Companhia das Índias Orientais – empresa privada e pública que tinha por objetivo
controlar e monopolizar as atividades comerciais com o Oriente. Anos depois, em 1621 fundaram a
Companhia das Índias Ocidentais, com o mesmo formato, porém, para monopolizar o comércio com
a África e América.
Para o Brasil tratava-se apenas de ser explorado por outra potência, ou seja, uma
substituição de quem manda.

Bem, profe, a pergunta é: deu certo?

A Holanda delegou a Companhia das Índias Ocidentais a tarefa de invadir o nordeste


brasileiro – já que em Pernambuco e na Bahia encontravam-se as principais zonas produtoras de
açúcar. Veja a cronologia dos ataques:

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(FUVEST 1995)
Foram, respectivamente, fatores importantes na ocupação holandesa no Nordeste do Brasil e
na sua posterior expulsão:
a) o envolvimento da Holanda no tráfico de escravos e os desentendimentos entre Maurício
de Nassau e a Companhia das Índias Ocidentais.
b) a participação da Holanda na economia do açúcar e o endividamento dos senhores de
engenho com a Companhia das Índias Ocidentais.
c) o interesse da Holanda na economia do ouro e a resistência e não aceitação do domínio
estrangeiro pela população.
d) a tentativa da Holanda em monopolizar o comércio colonial e o fim da dominação espanhola
em Portugal.
e) a exclusão da Holanda da economia açucareira e a mudança de interesses da Companhia
das Índias Ocidentais.

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Comentário
Olha só, eu escolhi essa questão para mostrar para reforçar com você o modo de resolvê-la.
São 2 perguntas em 1. Fatores para a ocupação do território colonial pela Holanda e, depois,
os motivos da sua expulsão. Aqui você precisava conhecer um pouco sobre a história da relação
entre Holanda e Portugal durante o Período da União Ibérica. O que causou a invasão da
Holanda foi sua participação no comércio do açúcar e, com a União Ibérica, o fim dessa
parceria. A expulsão se deu porque a Holanda, por meio da companhia de Comércio das Índias
Ocidentais, pressionou os senhores de engenho endividados com os bancos holandeses.
Gabarito: B
6.1.3 – As consequências para a economia colonial
Para a economia açucareira, na América Portuguesa, a União Ibérica e os consequentes
conflitos com a Holanda foi um desastre. O saldo geral foi a diminuição das exportações de açúcar
e a perda da liderança no mercado mundial. O Brasil nunca mais foi o mesmo no sistema de
comercio atlântico.
Portugal também nunca mais foi o mesmo, veremos que ele passará para uma posição de
dependência e submissão em relação a outros países que, nesses 60 anos, alçaram voos e ocuparam
o espaço outrora monopolizado pelos pioneiros portugueses. Veremos esse assunto na próxima aula
Abaixo trago para vocês uma lista das perdas que Portugal e Brasil tiveram nesse período,
segundo artigo do professor da Universidade de Yale, Stuart B. Schwartz:
❖ Entre 1624 e 1628: perda de inúmeras safras de cana de açúcar
❖ Entre 1630 e 1639: perda de 199 navios portugueses
❖ Entre 1647 e 1648: perda de 220 navios portugueses e destruição de 23 engenhos
❖ Entre 1645 e 1654: incêndio de canaviais e engenhos. Desativação de 65 de 49
engenhos em Pernambuco
❖ 1650: Redução da capacidade produtiva. Estimava-se que Pernambuco tinha
capacidade para produzir 25 mil caixas de açúcar. Mas só produziu 6 mil caixas.

Além disso, quero ressaltar que a Holanda passou a produzir cana-de-açúcar nas Ilhas
Antilhanas. Durante o tempo em que a Companhia das Índias Ocidentais permaneceu ocupando o
nordeste brasileiro, eles aprenderam e aprimoraram as técnicas necessárias para desenvolver um
engenho. Assim, detentores do conhecimento sobre todas as fases dos negócios do açúcar
(produção, refino e comercialização), os Holandeses passaram a vende-lo mais barato que aquele
produzido no Brasil. A Holanda saiu, levou o conhecimento da produção e, também, os recursos
econômicos que sempre foram necessários para o funcionamento dos engenhos.
Realmente, as duas décadas finais do século XVII foram um cenário triste para a colônia
portuguesa na América. A decadência do açúcar representou a decadência da própria colônia.
Conforme leciona Schwartz,
Na verdade, a década de 1680 assinalou uma redução profunda das fortunas oriundas da economia açucareira
do Brasil. A colônia foi assolada por grave seca que durou de 1681 a 1684, por surtos de varíola de 1682 a 1684
e por uma epidemia de febre amarela[..]. Além desses problemas, houve uma crise no mundo atlântico após

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1680. Em 1687, João Peixoto da Veiga escreveu seu famoso “memorial”, onde identifica os problemas da
agricultura brasileira e prevê a ruína da colônia [...].26
Na próxima aula veremos como o Governo Português tentou recuperar a economia e os
impactos dessas medidas no Brasil.
Bem, queridas e queridos alunos chegamos ao final da nossa aula sobre a chegada dos
portugueses na América, a implantação do sistema de exploração colonial português e o
desenvolvimento da civilização do açúcar.
Assim, mergulhamos em experiências ocorridas entre o início do século XVI até o final do
século XVII. Anota no seu controle de temporalidade.
É isso, fico por aqui. Você segue até a última questão, HEIN! Aproveita TODOS os
comentários, porque foram pensados em cada detalhe para ensinar o conteúdo e, também, nas
melhores formas de respondê-las! E lembrando: esse assunto despenca no
seu vestibular!!!
Espero por você no Fórum de Dúvidas, se elas aparecerem!
Um beijo, um abraço apertado e um suspiro dobrado de amor sem fim!
Alê 😊

7. LISTA DE QUESTÕES

(UNICAMP – 2020)
Na América Portuguesa do século XVI, a política europeia para os indígenas pressupunha
também a existência de uma política indígena frente aos europeus, já que os Tamoios e os
Tupiniquins tinham seus próprios motivos para se aliarem aos franceses ou aos portugueses.
(Adaptado de Manuela Carneiro da Cunha, Introdução a uma história indígena. São Paulo:
Companhia das Letras/Fapesp, 1992, p. 18.)
Com base no excerto e nos seus conhecimentos sobre os primeiros contatos entre europeus e
indígenas no Brasil, assinale a alternativa correta.
a) A população ameríndia era heterogênea e os conflitos entre diferentes grupos étnicos
ajudaram a definir, de acordo com suas próprias lógicas e interesses, a dinâmica dos seus
contatos com os europeus.
b) O fato de Tamoios e Tupiniquins serem grupos aliados contribuiu para neutralizar as disputas
entre franceses e portugueses pelo controle do Brasil, pelo papel mediador que os nativos
exerciam.

26
SCHWARTZ, S.B. op. Cit, p. 370.

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c) Os indígenas, agentes de sua história, desde cedo souberam explorar as rivalidades entre os
europeus e mantê-los afastados dos seus conflitos interétnicos, anulando o impacto da
presença portuguesa.
d) As etnias indígenas viviam em harmonia umas com as outras e em equilíbrio com a natureza.
Esse quadro foi alterado com a chegada dos europeus, que passaram a incentivar os conflitos
interétnicos para estabelecer o domínio colonial.
(UNICAMP/2019)
As plantações de mandioca encontradas pelas saúvas cortadeiras nas roças indígenas eram
apenas uma entre várias outras. Em muitas situações, a composição química das folhas
favorecia a escolha de outras plantas e a folhagem da mandioca era cortada apenas quando as
preferidas das saúvas não eram suficientes. Já na agricultura comercial, machados e foices de
ferro permitiam abrir clareiras em uma escala maior, resultando em grande homogeneidade
da flora. Nas lavouras de mandioca de finais do século XVII e do início do século XVIII, as folhas
da mandioca tornavam-se uma das poucas opções das formigas. Depois de mais algumas
colheitas, a infestação das formigas tornava-se insuportável, por vezes causando o completo
despovoamento humano da área.

(Adaptado de Diogo Cabral, 'O Brasil é um grande formigueiro’: território, ecologia e a história ambiental da América
Portuguesa – parte 2. HALAC - História Ambiental Latinoamericana y Caribeña. Belo Horizonte, v. IV, n. 1, p. 87-113, set.
2014-fev. 2015.)

A partir da leitura do texto e de seus conhecimentos sobre História do Brasil Colônia, assinale
a alternativa correta.
a) A principal diferença entre as lavouras indígenas e a agricultura comercial colonial estava no
uso de queimadas pelos europeus, o que não era praticado pelas populações autóctones.
b) Comparadas à mandioca cultivada pelos indígenas, as novas espécies de mandioca trazidas
da Europa eram menos resistentes às formigas cortadeiras, e por isso mais susceptíveis à
infestação.
c) Os colonizadores introduziram no território colonial novas espécies de mandioca e milho,
que desequilibraram o sistema agrícola ameríndio, baseado no sistema rotativo de plantação.
d) A agricultura comercial tendia à homogeneização da flora nas lavouras da América
Portuguesa, combinando tradições europeias de plantio com práticas indígenas.
(UNICAMP – 2018)
As plantações de mandioca encontradas pelas saúvas cortadeiras nas roças indígenas eram
apenas uma entre várias outras. Em muitas situações, a composição química das folhas
favorecia a escolha de outras plantas e a folhagem da mandioca era cortada apenas quando as
preferidas das saúvas não eram suficientes. Já na agricultura comercial, machados e foices de
ferro permitiam abrir clareiras em uma escala maior, resultando em grande homogeneidade
da flora. Nas lavouras de mandioca de finais do século XVII e do início do século XVIII, as folhas
da mandioca tornavam-se uma das poucas opções das formigas. Depois de mais algumas
colheitas, a infestação das formigas tornava-se insuportável, por vezes causando o completo
despovoamento humano da área. (Adaptado de Diogo Cabral, 'O Brasil é um grande
formigueiro’: território, ecologia e a história ambiental da América Portuguesa – parte 2.

HB: Colônia I 59
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HALAC - História Ambiental Latinoamericana y Caribeña. Belo Horizonte, v. IV, n. 1, p. 87-113,


set. 2014-fev. 2015.)
A partir da leitura do texto e de seus conhecimentos sobre História do Brasil Colônia, assinale
a alternativa correta.
A) A principal diferença entre as lavouras indígenas e a agricultura comercial colonial estava
no uso de queimadas pelos europeus, o que não era praticado pelas populações autóctones.
B) Comparadas à mandioca cultivada pelos indígenas, as novas espécies de mandioca trazidas
da Europa eram menos resistentes às formigas cortadeiras, e por isso mais susceptíveis à
infestação.
C) Os colonizadores introduziram no território colonial novas espécies de mandioca e milho,
que desequilibraram o sistema agrícola ameríndio, baseado no sistema rotativo de plantação.
D) A agricultura comercial tendia à homogeneização da flora nas lavouras da América
Portuguesa, combinando tradições europeias de plantio com práticas indígenas.
(UNICAMP – 2016)
Os estudos históricos por muito tempo explicaram as relações entre Portugal e Brasil por meio
da noção de pacto colonial ou exclusivo comercial. Sobre esse conceito, é correto afirmar que:
A) Trata-se de uma característica central do sistema colonial moderno e um elemento
constitutivo das práticas mercantilistas do Antigo Regime, que considera fundamental a
dinâmica interna da economia colonial.
B) Definia-se por um sistema baseado em dois polos: um centro de decisão, a metrópole, e
outro subordinado, a colônia. Esta submetia-se à primeira através de uma série de mecanismos
político-institucionais.
C) Em mais de uma ocasião, os colonos reclamaram e foram insubordinados diante do pacto
colonial, ao exigirem sua presença e atuação nas Cortes dos reis ou ao pedirem a presença do
Marquês de Pombal na colônia.
D) A noção de pacto colonial é um projeto embrionário de Estado que acomodava as tensões
surgidas entre os interesses metropolitanos e coloniais, ao privilegiar as experiências do “viver
em colônia”.
(UNICAMP – 2015)
Engenheiros, naturalistas, matemáticos e artistas, sob o mecenato de Nassau, investigaram a
natureza e transformaram a paisagem nordestina. Recife tornou-se uma das cidades mais
importantes da América, com modernas pontes e prédios. Além do incentivo à arte, o governo
[de Nassau] promulgou leis que eram iguais para todos, impedindo injustiças contra os antigos
habitantes. (Ronald Raminelli, Invasões Holandesa”, em Ronaldo Vainfas (dir.), Dicionário do
Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 315.)
As transformações durante o governo de Maurício de Nassau (1637-1645), em Pernambuco,
são exemplos de um contexto em que
a) o mecenato e a aplicação de leis idênticas para holandeses e luso-brasileiros eram uma
continuidade do modelo renascentista, representando um período de modernização da região.

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b) houve dinamização da economia açucareira na região, com a reativação de engenhos e


perdão de dívidas dos antigos proprietários, impulsionando a remodelação da cidade de Recife.
c) houve a aplicação de princípios mercantilistas para a obtenção de lucros e a perseguição,
por parte dos holandeses calvinistas, a judeus, cristãos-novos e católicos.
d) as expedições dos artistas e cientistas tinham o propósito de retratar a paisagem e
identificar potencialidades econômicas da região, pois o açúcar estava em declínio no comércio
internacional.
(FUVEST 2020)
As tentativas holandesas de conquista dos territórios portugueses na América tinham por
objetivo central
(A) a apropriação do complexo açucareiro escravista do Atlântico Sul, então monopolizado
pelos portugueses.
(B) a formação de núcleos de povoamento para absorverem a crescente população protestante
dos Países Baixos.
(C) a exploração das minas de ouro recém‐descobertas no interior, somente acessíveis pelo
controle de portos no Atlântico.
(D) a ocupação de áreas até então pouco exploradas pelos portugueses, como o Maranhão e
o Vale Amazônico.
(E) a criação de uma base para a ocupação definitiva das áreas de mineração da América
espanhola.
(FUVEST 2015)
A colonização, apesar de toda violência e disrupção, não excluiu processos de reconstrução e
recriação cultural conduzidos pelos povos indígenas. É um erro comum crer que a história da
conquista representa, para os índios, uma sucessão linear de perdas em vidas, terras e
distintividade cultural. A cultura xinguana – que aparecerá para a nação brasileira nos anos
1940 como símbolo de uma tradição estática, original e intocada – é, ao inverso, o resultado
de uma história de contatos e mudanças, que tem início no século X d.C. e continua até hoje.
FAUSTO Carlos. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
Com base no trecho acima, é correto afirmar que
a) o processo colonizador europeu não foi violento como se costuma afirmar, já que ele
preservou e até mesmo valorizou várias culturas indígenas.
b) várias culturas indígenas resistiram e sobreviveram, mesmo com alterações, ao processo
colonizador europeu, como a xinguana.
c) a cultura indígena, extinta graças ao processo colonizador europeu, foi recriada de modo
mitológico no Brasil dos anos 1940.
d) a cultura xinguana, ao contrário de outras culturas indígenas, não foi afetada pelo processo
colonizador europeu.
e) não há relação direta entre, de um lado, o processo colonizador europeu e, de outro, a
mortalidade indígena e a perda de sua identidade cultural.
(FUVEST 2014)

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O tráfico de escravos africanos para o Brasil


a) teve início no final do século XVII, quando as primeiras jazidas de ouro foram descobertas
nas Minas Gerais.
b) foi pouco expressivo no século XVII, ao contrário do que ocorreu nos séculos XVI e XVIII, e
foi extinto, de vez, no início do século XIX.
c) teve início na metade do século XVI, e foi praticado, de forma regular, até a metade do século
XIX.
d) foi extinto, quando da Independência do Brasil, a despeito da pressão contrária das regiões
auríferas.
e) dependeu, desde o seu início, diretamente do bom sucesso das capitanias hereditárias, e,
por isso, esteve concentrado nas capitanias de Pernambuco e de São Vicente, até o século
XVIII.
(FUVEST 2014)
Não há trabalho, nem gênero de vida no mundo mais parecido à cruz e à paixão de Cristo, que
o vosso em um destes engenhos [...]. A paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte
foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós
despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em
tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe
a vossa imitação, que, se for acompanhada de paciência, também terá merecimento e
martírio[...]. De todos os mistérios da vida, morte e ressurreição de Cristo, os que pertencem
por condição aos pretos, e como por herança, são os mais dolorosos.
P. Antônio Vieira, “Sermão décimo quarto”. In: I. Inácio & T. Lucca (orgs.). Documentos do Brasil
colonial. São Paulo: Ática, 1993, p.73􀍲75.
A partir da leitura do texto acima, escrito pelo padre jesuíta Antônio Vieira em 1633, pode-se
afirmar, corretamente, que, nas terras portuguesas da América,
a) a Igreja Católica defendia os escravos dos excessos cometidos pelos seus senhores e os
incitava a se revoltar.
b) as formas de escravidão nos engenhos eram mais brandas do que em outros setores
econômicos, pois ali vigorava uma ética religiosa inspirada na Bíblia.
c) a Igreja Católica apoiava, com a maioria de seus membros, a escravidão dos africanos,
tratando, portanto, de justificá-la com base na Bíblia.
d) clérigos, como P. Vieira, se mostravam indecisos quanto às atitudes que deveriam tomar em
relação à escravidão negra, pois a própria Igreja se mantinha neutra na questão.
e) havia formas de discriminação religiosa que se sobrepunham às formas de discriminação
racial, sendo estas, assim, pouco significativas.
(FUVEST 2013)
V – O samba
À direita do terreiro, adumbra-se* na escuridão um maciço de construções, ao qual às vezes
recortam no azul do céu os trêmulos vislumbres das labaredas fustigadas pelo vento. (...)

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É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome que tem um grande pátio cercado de senzalas,
às vezes com alpendrada corrida em volta, e um ou dois portões que o fecham como praça
d’armas.
Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo chão, que ela cobriu de brasido e cinzas, dançam
os pretos o samba com um frenesi que toca o delírio. Não se descreve, nem se imagina esse
desesperado saracoteio, no qual todo o corpo estremece, pula, sacode, gira, bamboleia, como
se quisesse desgrudar-se.
Tudo salta, até os crioulinhos que esperneiam no cangote das mães, ou se enrolam nas saias
das raparigas. Os mais taludos viram cambalhotas e pincham à guisa de sapos em roda do
terreiro. Um desses corta jaca no espinhaço do pai, negro fornido, que não sabendo mais como
desconjuntar-se, atirou consigo ao chão e começou de rabanar como um peixe em seco. (...)
José de Alencar, Til.
(*) “adumbra-se” = delineia-se, esboça-se.
Considerada no contexto histórico a que se refere Til, a desenvoltura com que os escravos, no
excerto, se entregam à dança é representativa do fato de que
a) a escravidão, no Brasil, tal como ocorreu na América do Norte e no Caribe, foi branda.
b) se permitia a eles, em ocasiões especiais e sob vigilância, que festejassem a seu modo.
c) teve início nas fazendas de café o sincretismo das culturas negra e branca, que viria a
caracterizar a cultura brasileira.
d) o narrador entendia que o samba de terreiro era, em realidade, um ritual umbandista
disfarçado.
e) foi a generalização, entre eles, do alcoolismo, que tornou antieconômica a exploração da
mão de obra escrava nos cafezais paulistas.
(FUVEST 2013)
A população indígena brasileira aumentou 150% na década de 1990, passando de 294 mil
pessoas para 734 mil, de acordo com uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento médio anual foi de 10,8%, quase seis vezes maior
do que o da população brasileira em geral. http://webradiobrasilindigena.wordpress.com,
21/11/2007.
A notícia acima apresenta
a) dado pouco relevante, já que a maioria das populações indígenas do Brasil encontra-se em
fase de extinção, não subsistindo, inclusive, mais nenhuma população originária dos tempos
da colonização portuguesa da América.
b) discrepância em relação a uma forte tendência histórica observada no Brasil, desde o século
XVI, mas que não é uniforme e absoluta, já que nas últimas décadas não apenas tais populações
indígenas têm crescido, mas também o próprio número de indivíduos que se autodenominam
indígenas.

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c) um consenso em torno do reconhecimento da importância dos indígenas para o conjunto


da população brasileira, que se revela na valorização histórica e cultural que tais elementos
sempre mereceram das instituições nacionais.
d) resultado de políticas públicas que provocaram o fim dos conflitos entre os habitantes de
reservas indígenas e demais agentes sociais ao seu redor, como proprietários rurais e
pequenos trabalhadores.
e) natural continuidade da tendência observada desde a criação das primeiras políticas
governamentais de proteção às populações indígenas, no começo do século XIX, que
permitiram a reversão do anterior quadro de extermínio observado até aquele momento.
(FUVEST 2011)
Quando os Holandeses passaram à ofensiva na sua Guerra dos Oitenta Anos pela
independência contra a Espanha, no fim do século XVI, foi contra as possessões coloniais
portuguesas, mais do que contra as espanholas, que os seus ataques mais fortes e mais
persistentes se dirigiram. Uma vez que as possessões ibéricas estavam espalhadas por todo o
mundo, a luta subsequente foi travada em quatro continentes e em sete mares e esta luta
seiscentista merece muito mais ser chamada a Primeira Guerra Mundial do que o holocausto
de 1914-1918, a que geralmente se atribui essa honra duvidosa. Como é evidente, as baixas
provocadas pelo conflito ibero-holandês foram em muito menor escala, mas a população
mundial era muito menor nessa altura e a luta indubitavelmente mundial.
Charles Boxer, O império marítimo português, 1415-1825. Lisboa: Edições 70, s.d., p.115.
Podem-se citar, como episódios centrais dessa “luta seiscentista”, a
a) conquista espanhola do México, a fundação de Salvador pelos portugueses e a colonização
holandesa da Indonésia.
b) invasão holandesa de Pernambuco, a fundação de Nova Amsterdã (futura Nova York) pelos
holandeses e a perda das Molucas pelos portugueses.
c) presença holandesa no litoral oriental da África, a fundação de Olinda pelos portugueses e
a
colonização espanhola do Japão.
d) expulsão dos holandeses da Espanha, a fundação da Colônia do Sacramento pelos
portugueses e a perda espanhola do controle do Cabo da Boa Esperança.
e) conquista holandesa de Angola e Guiné, a fundação de Buenos Aires pelos espanhóis e a
expulsão dos judeus de Portugal.
(FUVEST 2010)
Os primeiros jesuítas chegaram à Bahia com o governador-geral Tomé de Sousa, em 1549, e
em pouco tempo se espalharam por outras regiões da colônia, permanecendo até sua
expulsão, pelo governo de Portugal, em 1759. Sobre as ações dos jesuítas nesse período, é
correto afirmar que
a) criaram escolas de arte que foram responsáveis pelo desenvolvimento do barroco mineiro.

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b) defenderam os princípios humanistas e lutaram pelo reconhecimento dos direitos civis dos
nativos.
c) foram responsáveis pela educação dos filhos dos colonos, por meio da criação de colégios
secundários e escolas de “ler e escrever”.
d) causaram constantes atritos com os colonos por defenderem, esses religiosos, a preservação
das culturas indígenas.
e) formularam acordos políticos e diplomáticos que garantiram a incorporação da região
amazônica ao domínio português.
(FUVEST 2007)
No Brasil, os escravos
1. trabalhavam tanto no campo quanto na cidade, em atividades econômicas variadas.
2. sofriam castigos físicos, em praça pública, determinados por seus senhores.
3. resistiam de diversas formas, seja praticando o suicídio, seja organizando rebeliões.
4. tinham a mesma cultura e religião, já que eram todos provenientes de Angola.
5. estavam proibidos pela legislação de efetuar pagamento por sua alforria.
Das afirmações apresentadas, são verdadeiras apenas
a) 1, 2 e 4.
b) 3, 4 e 5.
c) 1, 3 e 5.
d) 1, 2 e 3.
e) 2, 3 e 5.
(FUVEST 2007)
Este quadro, pintado por Franz Post por volta
de 1660, pode ser corretamente relacionado
a) à iniciativa pioneira dos holandeses de
construção dos primeiros engenhos no
Nordeste.
b) à riqueza do açúcar, alvo principal do
interesse dos holandeses no Nordeste.
c) à condição especial dispensada pelos
holandeses aos escravos africanos.
d) ao início da exportação do açúcar para a Europa por determinação de Maurício de Nassau.
e) ao incentivo à vinda de holandeses para a constituição de pequenas propriedades rurais.
(FUVEST 2001)
"Eu, el-rei D. João lII, faço saber a vós, Tomé de Sousa, fidalgo da minha casa que ordenei
mandar fazer nas terras do Brasil uma fortaleza e povoação grande e forte na Baía de Todos-
os-Santos. (...)Tenho por bem enviar-vos por governador das ditas terras do Brasil."

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"Regimento de Tomé de Sousa", 1549


As determinações do rei de Portugal estavam relacionadas
a) à necessidade de colonizar e povoar o Brasil para compensar a perda das demais colônias
agrícolas portuguesas do Oriente e da África.
b) aos planos de defesa militar do império português para garantir as rotas comerciais para a
Índia, Indonésia, Timor, Japão e China.
c) a um projeto que abrangia conjuntamente a exploração agrícola, a colonização e a defesa
do território.
d) aos projetos administrativos da nobreza palaciana visando à criação de fortes e feitorias
para atrair missionários e militares ao Brasil.
e) ao plano de inserir o Brasil no processo de colonização escravista semelhante ao
desenvolvido na África e no Oriente.
(FUVEST 2001)
Gabriel Soares, um oficial português, escreveu em 1587 sobre os índios Guaianá: "É gente de
pouco trabalho(...); se encontram com gente branca, não fazem nenhum dano, antes boa
companhia, e quem acerta de ter um escravo guaianá não espera dele nenhum serviço, porque
é gente folgazã de natureza e não sabe trabalhar." O texto expressa
a) a diferença entre as concepções de trabalho do mundo europeu e das culturas indígenas.
b) o preconceito racial que coibiu formas de miscigenação cultural na colônia.
c) a ineficiência do ensino dos missionários ministrado aos grupos indígenas sem tradição
agrícola.
d) o argumento básico para se elaborarem leis, proibindo a escravização indígena na colônia.
e) a forma usual de resistência indígena para evitar a dominação cultural e a escravização.
(FUVEST 2000)
No que diz respeito à combinação entre capital, tecnologia e organização, a lavoura açucareira
implantada pelos portugueses no Brasil seguiu um modelo empregado anteriormente
a) no Norte da África e no Caribe.
b) no Mediterrâneo e nas ilhas africanas do Atlântico.
c) no sul da Itália e em São Domingos.
d) em Chipre e em Cuba.
e) na Península Ibérica e nas colônias holandesas.

(FUVEST 1999)
Segundo as pesquisas mais recentes, pode-se afirmar, em relação aos quilombos coloniais
brasileiros, que os mesmos:
a) distinguiam-se pelo isolamento, pela marginalização, sem nenhum vínculo com os arredores
que os cercavam;

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b) eram de caráter predominantemente agrícola, sobrevivendo do que plantavam e do que


teciam;
c) eram habitados exclusivamente por escravos fugidos, constituindo-se em verdadeiros
Estados teocráticos;
d) dedicavam-se, alguns, à agricultura, outros, à mineração, outros, ainda, ao pastoreio,
articulando-se com os núcleos vizinhos através do comércio;
e) existiram apenas durante o século XVII, tendo Palmares como eixo central.
(FUVEST 1999)
Quanto à utilização da mão de obra durante o primeiro século da colonização, na região
Nordeste do Brasil, pode-se afirmar que
a) o escravo africano foi utilizado, preponderantemente, desde a fase do escambo do pau-
brasil;
b) as tribos tupis realizavam o comércio das madeiras com os franceses, ao passo que aimorés
e os nagôs plantavam gêneros alimentícios para os jesuítas e colonos;
c) desde o final do século XVI até o início do XVII, negros e indígenas coexistiam nas
propriedades açucareiras realizando, por vezes, tarefas diferenciadas;
d) as principais atividades econômicas nesse período tinham como base o trabalho familiar e
a mão de obra livre;
e) a falência do escambo do pau-brasil redundou em utilização exclusiva do indígena na cultura
açucareira e na criação do gado, até o final do século XVI.
(FUVEST 1997)
No Brasil colonial, a escravidão caracterizou-se essencialmente
a) por sua vinculação exclusiva ao sistema agrário exportador.
b) pelo incentivo da Igreja e da Coroa à escravidão de índios e negros.
c) por estar amplamente distribuída entre a população livre, constituindo a base econômica da
sociedade.
d) por destinar os trabalhos mais penosos aos negros e os mais leves aos índios.
e) por impedir a emigração em massa de trabalhadores livres para o Brasil.
(FUVEST 1996)
Sobre a presença francesa na baía de Guanabara (1557-1560), podemos dizer que foi:
a) apoiada por armadores franceses católicos que procuravam estabelecer no Brasil a
agroindústria açucareira.
b) um desdobramento da política francesa de luta pela liberdade nos mares e assentou-se
numa exploração econômica do tipo da feitoria comercial.
c) um protesto organizado pelos nobres franceses huguenotes, descontentes com a Reforma
Católica implementada pelo Concílio de Trento.
d) uma alternativa de colonização muito mais avançada do que a portuguesa, porque os
huguenotes que para cá vieram eram burgueses ricos.

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e) parte de uma política econômica francesa levada a cabo pelo Estado com intuito de criar
companhias de comércio.
(FUVEST 1996)
Em 1694, uma expedição chefiada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho foi encarregada
pelo governo metropolitano de destruir o quilombo de Palmares. Isto se deu porque:
a) os paulistas, excluídos do circuito da produção colonial centrada no Nordeste, queriam aí
estabelecer pontos de comércio, sendo impedidos pelos quilombos.
b) os paulistas tinham prática na perseguição de índios, os quais aliados aos negros de Palmares
ameaçavam o governo com movimentos milenaristas.
c) o quilombo desestabilizava o grande contingente escravo existente no Nordeste,
ameaçando a continuidade da produção açucareira e da dominação colonial.
d) os senhores de engenho temiam que os quilombolas, que haviam atraído brancos e mestiços
pobres, organizassem um movimento de independência da colônia.
e) os aldeamentos de escravos rebeldes incitavam os colonos à revolta contra a metrópole
visando trazer novamente o Nordeste para o domínio holandês.
(FUVEST 1995)
Foram características dominantes da colonização portuguesa na América:
a) pequenas unidades de produção diversificada, comércio livre e trabalho compulsório.
b) grandes unidades produtivas de exportação, monopólio do comércio e escravidão.
c) pacto colonial, exploração de minérios e trabalho livre.
d) latifúndio, produção monocultora e trabalho assalariado de indígenas.
e) exportação de matérias-primas, minifúndio e servidão.
(FUVEST 1995)
Sobre o Tratado de Tordesilhas, assinado em 7 de junho de 1494, pode-se afirmar que
objetivava:
a) demarcar os direitos de exploração dos países ibéricos, tendo como elemento propulsor o
desenvolvimento da expansão comercial marítima.
b) estimular a consolidação do reino português, por meio da exploração das especiarias
africanas e da formação do exército nacional.
c) impor a reserva de mercado metropolitano, por meio da criação de um sistema de
monopólios que atingia todas as riquezas coloniais.
d) reconhecer a transferência do eixo do comércio mundial do Mediterrâneo para o Atlântico,
depois das expedições de Vasco da Gama às Índias.
e) reconhecer a hegemonia anglo-francesa sobre a exploração colonial, após a destruição da
Invencível Armada de Felipe II, da Espanha.
(FUVEST 1995)

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"Na primeira carta disse a V. Rev. a grande perseguição que padecem os índios, pela cobiça
dos portugueses em os cativarem. Nada há de dizer de novo, senão que ainda continua a
mesma cobiça e perseguição, a qual cresceu ainda mais.
No ano de 1649 partiram os moradores de São Paulo para o sertão, em demanda de uma nação
de índios distantes daquela capitania muitas léguas pela terra adentro, com a intenção de os
arrancarem de suas terras e os trazerem às de São Paulo, e aí se servirem deles como
costumam."
(Pe. Antônio Vieira, CARTA AO PADRE PROVINCIAL, 1653, Maranhão.)
Este documento do Padre Antônio Vieira revela:
a) que tanto o padre Vieira como os demais jesuítas eram contrários à escravidão dos indígenas
e dos africanos, posição que provocou conflitos constantes com o governo português.
b) um dos momentos cruciais da crise entre o governo português e a Companhia de Jesus, que
culminou com a expulsão dos jesuítas do território brasileiro.
c) que o ponto fundamental dos confrontos entre os padres jesuítas e os colonos referia-se à
escravização dos indígenas e, em especial, à forma de atuar dos bandeirantes.
d) um episódio isolado da ação do padre Vieira na luta contra a escravização indígena no Estado
do Maranhão, o qual se utilizava da ação dos bandeirantes para caçar os nativos.
e) que os padres jesuítas, em oposição à ação dos colonos paulistas, contavam com o apoio do
governo português na luta contra a escravização indígena.
(FUVEST 1990)
A produção de açúcar, no Brasil colonial:
a) possibilitou o povoamento e a ocupação de todo o território nacional, enriquecendo grande
parte da população.
b) praticada por grandes, médios e pequenos lavradores, permitiu a formação de uma sólida
classe média rural.
c) consolidou no Nordeste uma economia baseada no latifundiário monocultor e escravocrata
que atendia aos interesses do sistema português.
d) desde o início garantiu o enriquecimento da região Sul do país e foi a base econômica de
sua hegemonia na República.
e) não exigindo muitos braços, desencorajou a importação de escravos, liberando capitais para
atividades mais lucrativas.
(FUVEST 1989)
Entre as várias formas de resistência do negro ao regime escravista no Brasil Colonial
encontramos os quilombos. Palmares, o maior exemplo de grande quilombo, possuía uma
organização econômica que apresentava as seguintes características:
a) agricultura policultora como principal atividade, organizada com base num sistema de
sesmarias semelhante ao dos engenhos, que visava o consumo local e a comercialização do
excedente.

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b) agricultura monocultora, que visava a comercialização, a caça, pesca, coleta e criação de


gado para o consumo interno.
c) agricultura policultora realizada em pequenos roçados das famílias, e um sistema de
trabalho cooperativo que produzia excedentes comercializados na região, além da extração
vegetal e da criação para a subsistência.
d) atividades extrativas, pecuária bovina e caprina para atender o consumo local, e fabricação
de farinha, aguardente e azeite para a comercialização.
e) criação de animais, caça, pesca e coleta para a subsistência, e agricultura monocultora que
concorria com a produção dos engenhos.
(FUVEST 1988)
Na engrenagem do sistema mercantilista de colonização do Brasil, fez-se opção pela mão de
obra africana porque o tráfico negreiro:
a) contribuía para o apresamento indígena como negócio interno da colônia.
b) estimulava a utilização de mão de obra de fácil acesso e baixa rentabilidade econômica.
c) atendia às pressões exercidas pelos ingleses em relação à troca da produção açucareira pelo
fornecimento de negros.
d) abria novo e importante setor do comércio para os mercadores metropolitanos.
e) era elemento fundamental no processo de expansão econômica do mercado interno
brasileiro.

7.1. GABARITO

1- A 14- D
2- D 15- B
3- D 16- C
4- B 17- A
5- A 18- B
6- A 19- D
7- B 20- C
8- C 21- C
9- C 22- B
10- B 23- C
11- B 24- B
12- B 25- A
13- C 26- C

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27- C 29- D
28- C

8. QUESTÕES COMENTADAS

(UNICAMP – 2020)
Na América Portuguesa do século XVI, a política europeia para os indígenas pressupunha
também a existência de uma política indígena frente aos europeus, já que os Tamoios e os
Tupiniquins tinham seus próprios motivos para se aliarem aos franceses ou aos portugueses.
(Adaptado de Manuela Carneiro da Cunha, Introdução a uma história indígena. São Paulo:
Companhia das Letras/Fapesp, 1992, p. 18.)
Com base no excerto e nos seus conhecimentos sobre os primeiros contatos entre europeus e
indígenas no Brasil, assinale a alternativa correta.
a) A população ameríndia era heterogênea e os conflitos entre diferentes grupos étnicos
ajudaram a definir, de acordo com suas próprias lógicas e interesses, a dinâmica dos seus
contatos com os europeus.
b) O fato de Tamoios e Tupiniquins serem grupos aliados contribuiu para neutralizar as disputas
entre franceses e portugueses pelo controle do Brasil, pelo papel mediador que os nativos
exerciam.
c) Os indígenas, agentes de sua história, desde cedo souberam explorar as rivalidades entre os
europeus e mantê-los afastados dos seus conflitos interétnicos, anulando o impacto da
presença portuguesa.
d) As etnias indígenas viviam em harmonia umas com as outras e em equilíbrio com a natureza.
Esse quadro foi alterado com a chegada dos europeus, que passaram a incentivar os conflitos
interétnicos para estabelecer o domínio colonial.
Comentários:
O texto pontua um fator muito importante dentro da formação indígena brasileira. Os povos
nativos em território local possuíam diferenças grandes em variados aspectos, como modo de
pintura, sacralização de determinados ritos ou até mesmo deuses e lendas, línguas diferentes e
modos distintos de organização, porém, o que era comum era a vida nômade. Muitas das brigas que
envolviam esses povos estavam na busca ou proteção territorial, em que ocasionou um processo de
aprisionamento ou mesmo de morte do inimigo. Assim, antes de tudo todo o povo indígena no Brasil
foi e ainda é, lutador da causa territorial. Como o texto indica a união de Tupiniquins e Tamoios, que
englobam a etnia Tupinambá, que é uma derivação do Tupi, se aliaram ao francês com o único

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intuito de defesa territorial, como uma espécie de armistício que interrompeu possíveis conflitos.
Dado este contexto podemos nos direcionar as alternativas.
A alternativa “b” se encontra incorreta, já que os portugueses ou franceses não postularam
em nenhum momento acordos pelo território em questão, e onde, os povos indígenas citados
também não construíram nenhuma mediação nesse conflito. Também é errado dizer que os
indígenas souberam explorar as rivalidades entre os europeus, uma vez que, o que ocorreu foi o
inverso, onde, tal tática foi inclusive empregada também na África. Assim como a “d” está errada,
já que a construção de que os indígenas no período colonial eram “irmãos” é uma construção
estereotipada sobre a docilidade do indígena.
Assim a alternativa correta é a “a”, em que as diferenças entre os grupos organizaram ora
apoio aos europeus, ou apoio entre os próprios indígenas contra os europeus.
Gabarito: A

(UNICAMP/2019)
As plantações de mandioca encontradas pelas saúvas cortadeiras nas roças indígenas eram
apenas uma entre várias outras. Em muitas situações, a composição química das folhas
favorecia a escolha de outras plantas e a folhagem da mandioca era cortada apenas quando as
preferidas das saúvas não eram suficientes. Já na agricultura comercial, machados e foices de
ferro permitiam abrir clareiras em uma escala maior, resultando em grande homogeneidade
da flora. Nas lavouras de mandioca de finais do século XVII e do início do século XVIII, as folhas
da mandioca tornavam-se uma das poucas opções das formigas. Depois de mais algumas
colheitas, a infestação das formigas tornava-se insuportável, por vezes causando o completo
despovoamento humano da área.

(Adaptado de Diogo Cabral, 'O Brasil é um grande formigueiro’: território, ecologia e a história ambiental da América
Portuguesa – parte 2. HALAC - História Ambiental Latinoamericana y Caribeña. Belo Horizonte, v. IV, n. 1, p. 87-113, set.
2014-fev. 2015.)

A partir da leitura do texto e de seus conhecimentos sobre História do Brasil Colônia, assinale
a alternativa correta.
a) A principal diferença entre as lavouras indígenas e a agricultura comercial colonial estava no
uso de queimadas pelos europeus, o que não era praticado pelas populações autóctones.
b) Comparadas à mandioca cultivada pelos indígenas, as novas espécies de mandioca trazidas
da Europa eram menos resistentes às formigas cortadeiras, e por isso mais susceptíveis à
infestação.
c) Os colonizadores introduziram no território colonial novas espécies de mandioca e milho,
que desequilibraram o sistema agrícola ameríndio, baseado no sistema rotativo de plantação.
d) A agricultura comercial tendia à homogeneização da flora nas lavouras da América
Portuguesa, combinando tradições europeias de plantio com práticas indígenas.
Comentários
Durante o Brasil Colônia a produção agrícola colonizadora estava preocupada em produzir para
gerar lucros. Dessa forma, era preciso grandes extensões de terra e plantações para a manutenção
da economia agroexportadora dentro da relação comercial colônia e Metrópole. Assim, a principal

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diferença entre a plantação indígena e a europeia não era o uso de queimadas, mas o modo de
organização da produção em si. Os nativos não produziam para a comercialização, logo, mantinham
plantações voltadas para a subsistência e, muitas vezes, diversificadas. Já os portugueses, por
exemplo, priorizavam a monocultura em grandes extensões de terra.
Dessa forma, a alternativa A está errada.
De toda forma, a título de curiosidade, saiba que os índios, até hoje, utilizam a técnica do fogo,
porém não como os brancos faziam nos canaviais. Veja:
Um dos estudos mais detalhados sobre o uso do fogo no cerrado e nas capoeiras brasileiras, é o
do etnobotânico Darrel Posey (1987: 180), realizado com os Kayapó, que demonstra, ao contrário
da crença generalizada, o cuidado extremo na manipulação indígena do fogo. A roça é preparada
a partir da abertura de clareiras, formando corredores, seguindo-se a queimada, controlada, para
evitar o excesso de calor e o dano às raízes, previamente plantadas. Caso o uso do fogo fosse
descontrolado, os índios estariam destruindo seu próprio esforço de roçar e plantar, inclusive o
plantio de longo prazo. O fogo é usado pelos índios no cerrado, e mais de uma vez. No início,
ateiam fogo controlado para a abertura dos terrenos de plantio e posteriormente a prática é
repetida em menor escala, como uma técnica integrada ao conjunto de sua orientação no manejo
dos recursos, com objetivos de fertilização e abertura de espaços reservados aos cultivos
selecionados.
Os Xavante também usavam o fogo como tática de guerra. Orlando Villas-Bôas relata como, em
sua pioneira expedição Roncador-Xingú, os índios cercaram por várias vezes os 14 sertanistas, e o
alívio que era encontrar abrigo em um curso d'água (OESP, 12 jul. 2000: D5)27.

Essa técnica de “fogo controlado”, diferentemente da empregada nas grandes plantações


comerciais tinha um nome e uma finalidade. Conhecida como agricultura de coivara, ou corte e
queima, a coivara é caracterizada pela derrubada e queima da matéria vegetal da floresta como
forma de aproveitar os nutrientes disponibilizados ao solo na forma de cinzas, uma adaptação a
solos relativamente pobres das áreas florestais28.
Quanto à alternativa B, o texto do enunciado da questão não estabelece uma relação de comparação
entre folhas de mandioca nativa e “trazidas pelos portugueses”: “as folhas da mandioca tornavam-
se uma das poucas opções das formigas”. Ou seja, devido à prática da monocultura de grandes
extensões, não havia muito opção para as formigas.
Além disso, a mandioca, considerada uma das principais fontes de alimentação desde o início da
colonização, é um produto tipicamente brasileiro29. Quando os europeus desembarcaram no
continente americano, no século XV, os ameríndios já haviam domesticado a mandioca há pelo
menos 8.000 anos. Por esse motivo, a C está errada.
Por fim, a D é o nosso Gabarito.

27
LEONEL, Mauro. O uso do fogo: o manejo indígena e a piromania da monocultura. Estud. av. [online]. 2000, vol.14, n.40
[cited 2019-08-05], pp.231-250. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
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SILVA, Henrique Ataide da; MURRIETA, Rui Sérgio Sereni. Mandioca, a rainha do Brasil? Ascensão e
queda da Manihot esculenta no estado de São Paulo. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências
Humanas, v. 9, n. 1, p. 37-60, jan.-abr. 2014.
29
OLIVEIRA, Marcelo Almeida. As roças brasileiras, do período colonial à atualidade: caracterização histórica e formal de uma
categoria tipológica. Varia hist. [online]. 2012, vol.28, n.48 [cited 2019-08-05], pp.755-780. Available from:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752012000200013&lng=en&nrm=iso>. ISSN 0104-
8775. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-87752012000200013.

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Gabarito: D
(UNICAMP – 2018)
As plantações de mandioca encontradas pelas saúvas cortadeiras nas roças indígenas eram
apenas uma entre várias outras. Em muitas situações, a composição química das folhas
favorecia a escolha de outras plantas e a folhagem da mandioca era cortada apenas quando as
preferidas das saúvas não eram suficientes. Já na agricultura comercial, machados e foices de
ferro permitiam abrir clareiras em uma escala maior, resultando em grande homogeneidade
da flora. Nas lavouras de mandioca de finais do século XVII e do início do século XVIII, as folhas
da mandioca tornavam-se uma das poucas opções das formigas. Depois de mais algumas
colheitas, a infestação das formigas tornava-se insuportável, por vezes causando o completo
despovoamento humano da área. (Adaptado de Diogo Cabral, 'O Brasil é um grande
formigueiro’: território, ecologia e a história ambiental da América Portuguesa – parte 2.
HALAC - História Ambiental Latinoamericana y Caribeña. Belo Horizonte, v. IV, n. 1, p. 87-113,
set. 2014-fev. 2015.)
A partir da leitura do texto e de seus conhecimentos sobre História do Brasil Colônia, assinale
a alternativa correta.
A) A principal diferença entre as lavouras indígenas e a agricultura comercial colonial estava
no uso de queimadas pelos europeus, o que não era praticado pelas populações autóctones.
B) Comparadas à mandioca cultivada pelos indígenas, as novas espécies de mandioca trazidas
da Europa eram menos resistentes às formigas cortadeiras, e por isso mais susceptíveis à
infestação.
C) Os colonizadores introduziram no território colonial novas espécies de mandioca e milho,
que desequilibraram o sistema agrícola ameríndio, baseado no sistema rotativo de plantação.
D) A agricultura comercial tendia à homogeneização da flora nas lavouras da América
Portuguesa, combinando tradições europeias de plantio com práticas indígenas.
Comentários:
O texto em questão aponta para uma mudança ambiental causada no cultivo da mandioca.
A mandioca foi e ainda é um tubérculo comum e necessário dentro da dieta brasileira, e que no
período colonial foi base alimentar tanto de indígenas como dos lusos brasileiros. Como indicado no
trecho, a escolha dos melhores produtos era direcionada na escolha das formigas, que apenas iam
à direção das melhores. Porém, com o tempo, dentro do processo acelerado de plantio e colheita
tal ambientação natural foi deixada de lado, prevalecendo toda e qualquer mandioca, sobrando as
formigas apenas as folhas, porém, a aceleração foi tão grande que as saúvas passaram a ocupar toda
a terra, o que ocasionava os deslocamentos de tal região.
Isso mostra como desde o período colonial, em ações pequenas do cotidiano, como a
alimentação e o trato com a terra, alteraram condições de relação entre os seres humanos e o
ecossistema. Assim, a questão exige do aluno perceber as diferenças ou semelhanças entre o
processo de plantio indígena e o europeu. A opção “a” possui um equívoco ao postular que a
queimada não era utilizada dentro da agricultura indígena. As rotações de terras dos indígenas
ocorriam exatamente quando não mais fazia sentido produzir em determinada região, em que, o
uso da queima no solo pouco a pouco “adoecia” a terra, que com o desgaste impulsionava a

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mudança de ambiente. Porém é bom deixar claro que o processo de queimada indígena era
localizado em sua zona, diferente do europeu, que atingia grandes zonas de produção agrícola.
A alternativa “b” não possui sentido já que a mandioca é um produto endêmico da América,
não existindo uma variedade existente na Europa, que consumiam mais a batata. Assim como a
opção “c” onde o milho também não era um gênero europeu, e que pelo contrário gerou no europeu
a necessidade de se adaptar tanto ao milho como mandioca. Portanto a questão correta é a “d”,
onde a agricultura empreendida pelos portugueses e outros europeus, estabeleceu pouco a pouco
a construção de grandes latifúndios e consequentemente a alteração tanto da dieta como da flora
nas lavouras.
Gabarito: D

(UNICAMP – 2016)
Os estudos históricos por muito tempo explicaram as relações entre Portugal e Brasil por meio
da noção de pacto colonial ou exclusivo comercial. Sobre esse conceito, é correto afirmar que:
A) Trata-se de uma característica central do sistema colonial moderno e um elemento
constitutivo das práticas mercantilistas do Antigo Regime, que considera fundamental a
dinâmica interna da economia colonial.
B) Definia-se por um sistema baseado em dois polos: um centro de decisão, a metrópole, e
outro subordinado, a colônia. Esta submetia-se à primeira através de uma série de mecanismos
político-institucionais.
C) Em mais de uma ocasião, os colonos reclamaram e foram insubordinados diante do pacto
colonial, ao exigirem sua presença e atuação nas Cortes dos reis ou ao pedirem a presença do
Marquês de Pombal na colônia.
D) A noção de pacto colonial é um projeto embrionário de Estado que acomodava as tensões
surgidas entre os interesses metropolitanos e coloniais, ao privilegiar as experiências do “viver
em colônia”.
Comentários:
O Pacto Colonial é o principal “acordo” entre a colônia e a metrópole. Tal documento se
insere dentro da lógica das Grandes Navegações e foi um instrumento eficaz dentro do pensamento
mercantilista, assim tudo que fosse produzido dentro da colônia deveria ter como único destino a
metrópole, que, além disso, atribuía impostos sejam em transportes ou nos engenhos. Por mais que
a metrópole vendesse produtos para o consumo local, não existia, porém, uma troca igual dentro
do campo econômico. O Pacto Colonial, portanto, impedia qualquer troca comercial com outra
nação, com possibilidade de represálias fortes contra quem rompesses com o pacto.
Assim em nenhum momento a metrópole incentivava um dinamismo interno dentro da
colônia, já que a ideia única era a de exploração e de exclusividade comercial, o que construiu uma
profunda desigualdade de condições, principalmente nos homens livres e escravos, sendo estes
últimos explorados até o século XIX, o que exclui a opção “a”. Durante o processo colonial,
principalmente no período final do ciclo do açúcar o descontentamento com a Coroa era comum, o
que fez surgirem movimentos contrários a Portugal. Assim em nenhum momento os lusos brasileiros
ou os brasileiros queriam estar inclusos na Coroa Portuguesa, e muito menos queriam a vinda de
Marques de Pombal, o que faz a “c” errada.

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Portanto, tal pacto não possuía o interesse desenvolvimento local, pelo menos o social e
político, já que a única premissa que ele desenvolveu foi a criação de um espaço ou zona de
exploração da condição humana, principalmente de negros e indígenas, bem como, colocou os lusos
brasileiros em uma condição que não eram nem portugueses, e muito menos donos de uma
liberdade separada do crivo jurídico e administrativo português, o que nos faz anular a alternativa
“d”. Assim a alternativa correta é a “b”, em que o que ocorria eram dois polos: o de imposição,
domínio e poder, estabelecido pela metrópole, e o de subordinação, aceitação e ser explorado
representado pela colônia.
Gabarito: B

(UNICAMP – 2015)
Engenheiros, naturalistas, matemáticos e artistas, sob o mecenato de Nassau, investigaram a
natureza e transformaram a paisagem nordestina. Recife tornou-se uma das cidades mais
importantes da América, com modernas pontes e prédios. Além do incentivo à arte, o governo
[de Nassau] promulgou leis que eram iguais para todos, impedindo injustiças contra os antigos
habitantes. (Ronald Raminelli, Invasões Holandesa”, em Ronaldo Vainfas (dir.), Dicionário do
Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001, p. 315.)
As transformações durante o governo de Maurício de Nassau (1637-1645), em Pernambuco,
são exemplos de um contexto em que
a) o mecenato e a aplicação de leis idênticas para holandeses e luso-brasileiros eram uma
continuidade do modelo renascentista, representando um período de modernização da região.
b) houve dinamização da economia açucareira na região, com a reativação de engenhos e
perdão de dívidas dos antigos proprietários, impulsionando a remodelação da cidade de Recife.
c) houve a aplicação de princípios mercantilistas para a obtenção de lucros e a perseguição,
por parte dos holandeses calvinistas, a judeus, cristãos-novos e católicos.
d) as expedições dos artistas e cientistas tinham o propósito de retratar a paisagem e
identificar potencialidades econômicas da região, pois o açúcar estava em declínio no comércio
internacional.
Comentários:
O texto observa o período conhecido como Brasil Holandês, quando, tropas de tal país invade
e instala diversas modificações dentro do contexto da União Ibérica. Quando Felipe II assume as
duas coroas, indiretamente, também herda todo o território português no Brasil. Porém, a Holanda
se viu prejudicada, já que possuía com Portugal profundo laço econômico e político, já que todo o
açúcar produzido no Brasil era refinado pela Holanda, inimiga da Espanha.
Assim, sob o comando de Mauricio de Nassau, na região de Recife, Pernambuco, se inicia uma
série de mudanças para a efetivação de uma colônia holandesa em território português, como o
incentivo à produção de açúcar, já que durante o processo de conquista do território, o principal
produto que buscavam decaiu, o que fez aumentar o incentivo de financiamentos aos senhores de
engenho; outra medida foi o estímulo a agricultura de subsistência, como a mandioca (produto
culturalmente impregnado na cultura nordestina), o que visava diminuir os custos de importação de
manufaturados, mas acima de tudo isso, visava erradicar a possibilidade de falta de alimento entre
os mais pobres, que passariam a consumir um produto barato e produzido no próprio território;

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além disso, foi no período de Nassau que ocorreu um processo de tolerância religiosa,
principalmente entre católicos e protestantes, além de ser o lar da primeira sinagoga nas Américas.
Mas o grande legado do período holandês está na arquitetura empregada em Pernambuco,
principalmente na cidade de Recife. Tal projeto só foi possível pelo projeto e ousadia de promover
tal medida, bem como, na possibilidade de possuir investimentos para tal empreitada. Tal período
ainda surte efeitos na formação cultural recifense, como em certos hábitos e nomes, o próprio nome
Wanderlei é uma declinação do nome Van Der Ley, comum na Holanda.
Agora vamos nos direcionar ao que nos está sendo perguntado: o que pode ter incentivado
tais transformações no governo de Mauricio de Nassau. Por mais que houvesse o perdão de dívidas
e a reativação dos engenhos, em nenhum momento tal lucro foi utilizado no processo de
revitalização de Recife, o que anula a “b”. Também não pode ser a “c”, pois, não houve perseguições
religiosas em seu período de governo, como dissemos acima. E seria errado dizer que as pesquisas
empregadas dentro do seu período foram com o intuito de buscar soluções para o açúcar, já que tal
produto era o principal motivo para que os holandeses brigassem pela sua posse territorial, sendo
uma das bases econômicas dos flamengos.
Assim, a alternativa correta se torna a “a”, pois, foi um governo pautado na ideia de uma
equidade de tratos entre holandeses e os locais (luso brasileiro) com incentivos altos da Coroa
Holandesa para a modernização da cidade de Recife, reformas estas, que até hoje são legado para
a capital de Pernambuco, sendo Nassau um nome mitificado da história local.
Gabarito: A

(FUVEST 2020)
As tentativas holandesas de conquista dos territórios portugueses na América tinham por
objetivo central
(A) a apropriação do complexo açucareiro escravista do Atlântico Sul, então monopolizado
pelos portugueses.
(B) a formação de núcleos de povoamento para absorverem a crescente população protestante
dos Países Baixos.
(C) a exploração das minas de ouro recém‐descobertas no interior, somente acessíveis pelo
controle de portos no Atlântico.
(D) a ocupação de áreas até então pouco exploradas pelos portugueses, como o Maranhão e
o Vale Amazônico.
(E) a criação de uma base para a ocupação definitiva das áreas de mineração da América
espanhola.
Comentários:
No contexto da União Ibérica, o momento histórico em que houve união das coroas portuguesa e
espanhola, entre 1580 e 1640, a Holanda invadiu a colônia portuguesa, mais precisamente a
Capitânia de Pernambuco. Mas, por quê?
Vejam, os conflitos políticos internacionais nos quais a Espanha estava envolvida acabaram
surtindo efeito na América Portuguesa. Refiro-me às disputas entre a Espanha e a Holanda.

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Diante dessa disputa entre espanhóis e flamengos, uma das medidas do governo ibérico de Felipe
II foi excluir a Holanda do negócio açucareiro do Brasil. Assim, isso afetou diretamente as relações
comerciais entre Portugal e Holanda
Contudo, as pretensões não se restringiam à América Portuguesa, mas às possessões de Portugal
de modo geral. Por isso, antes de invadir o Brasil, os holandeses pilharam a costa africana e
criaram a Companhia das Índias Orientais – empresa privada e pública que tinha por objetivo
controlar e monopolizar as atividades comerciais com o Oriente.
Anos depois, em 1621 fundaram a Companhia das Índias Ocidentais, com o mesmo formato,
porém, para monopolizar o comércio com a África e América. Nesse sentido, o gabarito é
alternativa A. Todas as demais alternativas dizem respeito a atividades econômicas as quais a
Holanda não se envolveu.
Gabarito: A

(FUVEST 2015)
A colonização, apesar de toda violência e disrupção, não excluiu processos de reconstrução e
recriação cultural conduzidos pelos povos indígenas. É um erro comum crer que a história da
conquista representa, para os índios, uma sucessão linear de perdas em vidas, terras e
distintividade cultural. A cultura xinguana – que aparecerá para a nação brasileira nos anos
1940 como símbolo de uma tradição estática, original e intocada – é, ao inverso, o resultado
de uma história de contatos e mudanças, que tem início no século X d.C. e continua até hoje.
FAUSTO Carlos. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
Com base no trecho acima, é correto afirmar que
a) o processo colonizador europeu não foi violento como se costuma afirmar, já que ele
preservou e até mesmo valorizou várias culturas indígenas.
b) várias culturas indígenas resistiram e sobreviveram, mesmo com alterações, ao processo
colonizador europeu, como a xinguana.
c) a cultura indígena, extinta graças ao processo colonizador europeu, foi recriada de modo
mitológico no Brasil dos anos 1940.
d) a cultura xinguana, ao contrário de outras culturas indígenas, não foi afetada pelo processo
colonizador europeu.
e) não há relação direta entre, de um lado, o processo colonizador europeu e, de outro, a
mortalidade indígena e a perda de sua identidade cultural.
Comentário

Uma questão fácil que requer do aluno um conhecimento crítico sobre a história indígena, inclusive
suas formas de resistência em relação à violência cometida pelo colonizador. O texto deixa claro
que, apesar da violência da colonização portuguesa, a cultura indígena sobreviveu no Brasil. Mais
que isso, fala em processos de reconstrução e recriação cultural. Afinal, as experiências de encontros
entre povos distintos transformam uns aos outros criando sínteses de si mesmas. Nesse sentido, o
item A está incorreto porque nega a violência da colonização – lembre-se que falamos que isso é um
mito. O item C e D não estão corretos, pois, a cultura indígena continua existindo e foi afetada sim
pelo processo colonizador. Por fim o item E, também, é uma afirmação que nega a violência da

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colonização, o que já falamos ser uma narrativa mítica.


Para deixar claro, cultura xinguana é cultura dos povos Xingu.
Gabarito: B

(FUVEST 2014)
O tráfico de escravos africanos para o Brasil
a) teve início no final do século XVII, quando as primeiras jazidas de ouro foram descobertas
nas Minas Gerais.
b) foi pouco expressivo no século XVII, ao contrário do que ocorreu nos séculos XVI e XVIII, e
foi extinto, de vez, no início do século XIX.
c) teve início na metade do século XVI, e foi praticado, de forma regular, até a metade do século
XIX.
d) foi extinto, quando da Independência do Brasil, a despeito da pressão contrária das regiões
auríferas.
e) dependeu, desde o seu início, diretamente do bom sucesso das capitanias hereditárias, e,
por isso, esteve concentrado nas capitanias de Pernambuco e de São Vicente, até o século
XVIII.
Comentário
Questão conteudista. Você deveria saber o período de duração, a abrangência da escravidão e a
relação com aspectos da economia no Brasil para falar sobre o tráfico negreiro, ou comércio negreiro
ou de escravos. Vamos analisar item a item:
A- O início está errado, pois a escravidão negra iniciou-se no século XVI, com a produção do
açúcar.
B- A escravidão e o comércio de escravos NÃO foram pouco expressivos no século XVII, ao
contrário. Como vimos, houve ampliação da vinda de pessoas escravizadas da África.
C- A associação de datas está correta: o tráfico começa com o Ciclo do Açúcar, no século XVI, e
termina em 1850 (século XIX), com a Lei Eusébio de Queiroz.
D- O tráfico não foi extinto em 1822, mas em 1850
E- O erro do item E é colocar a Capitânia de São Vicente no mesmo patamar da de Pernambuco.
Como sabemos, a Capitânia de São Vicente entrou em decadência e os engenhos foram
fechados. Havia muita dificuldade de se enviar escravos negros para essa região, por isso,
inclusive, a região se especializou na atividade de apresamento indígena.
Por fim, quero chamar que tenha cuidado para não tratar como sinônimo a escravidão e o tráfico
negreiro porque a escravidão continuou existindo apesar das leis abolicionistas, o que veremos
nas aulas seguintes.
Gabarito: C

(FUVEST 2014)
Não há trabalho, nem gênero de vida no mundo mais parecido à cruz e à paixão de Cristo, que
o vosso em um destes engenhos [...]. A paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte
foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós

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despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em
tudo. Os ferros, as prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe
a vossa imitação, que, se for acompanhada de paciência, também terá merecimento e
martírio[...]. De todos os mistérios da vida, morte e ressurreição de Cristo, os que pertencem
por condição aos pretos, e como por herança, são os mais dolorosos.
P. Antônio Vieira, “Sermão décimo quarto”. In: I. Inácio & T. Lucca (orgs.). Documentos do Brasil
colonial. São Paulo: Ática, 1993, p.73􀍲75.
A partir da leitura do texto acima, escrito pelo padre jesuíta Antônio Vieira em 1633, pode-se
afirmar, corretamente, que, nas terras portuguesas da América,
a) a Igreja Católica defendia os escravos dos excessos cometidos pelos seus senhores e os
incitava a se revoltar.
b) as formas de escravidão nos engenhos eram mais brandas do que em outros setores
econômicos, pois ali vigorava uma ética religiosa inspirada na Bíblia.
c) a Igreja Católica apoiava, com a maioria de seus membros, a escravidão dos africanos,
tratando, portanto, de justificá-la com base na Bíblia.
d) clérigos, como P. Vieira, se mostravam indecisos quanto às atitudes que deveriam tomar em
relação à escravidão negra, pois a própria Igreja se mantinha neutra na questão.
e) havia formas de discriminação religiosa que se sobrepunham às formas de discriminação
racial, sendo estas, assim, pouco significativas.
Comentário

A Coroa portuguesa nasceu com um pé na cultura escravagista, pois passou a legitimar, em conjunto
com a Igreja, a escravização dos não-cristãos. Dessa forma, tanto as monarquias, quanto a Igreja,
alimentaram o trabalho forçado do “outro”.

O argumento, muito popular, era a ideia da maldição divina. Por meio dela, a escravidão era fruto
do pecado de Adão e Eva, primeiros pais dos homens segundo a teologia. Outra justificativa religiosa
era aquela que apontava os africanos como descendentes de Caim. Este personagem bíblico, que
matou o próprio irmão por ciúmes recebeu de Deus, ao ser amaldiçoado, uma marca no corpo para
que não morresse e pudesse viver em constante expiação de seu pecado. Ligou-se, a posteriori, a
negritude dos africanos à marca cutânea imposta por Deus a Caim. Essa ideia se combina ade guerra
justa, pois os inimigos devem ser escravizados, pois deve-se preservar-lhe a vida – uma vez que esta
tem natureza divina. Só Deus decide sobre vida e morte. Assim, escravidão é preservação do dom
divino da vida. A partir da expansão ultramarina no norte da África, a prática da escravidão se
ampliou. Em 1452 uma bula papal legitimou a escravidão dos não-cristãos e, em 1455, o papado
reafirmou essa posição com a autorização específica sobre africanos e asiáticos.

A partir da expansão ultramarina no norte da África, a prática da escravidão se ampliou. Em 1452


uma bula papal legitimou a escravidão dos não-cristãos e, em 1455, o papado reafirmou essa
posição com a autorização específica sobre africanos e asiáticos.

O texto é bem claro: o padre jesuíta usa do exemplo de Cristo para justificar a condição dos escravos
na Colônia portuguesa.

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Só tome cuidado. Não necessariamente as justificativas religiosas baseavam-se na Bíblia, mas na


interpretação de histórias bíblicas. Mas, o item correto está assim. Mesmo assim, podemos
confirmar que é certa mesmo por meio da exclusão das demais.

A igreja não condenava a escravização de pessoas não-cristãs, especialmente africanos. Também,


não era neutra sobre esse assunto. Além disso, as formas de discriminação religiosa não eram
secundárias, como afirma o item E. Basta lembrarmos do Tribunal da santa Inquisição em plena
operação nesse contexto.

Gabarito: C

(FUVEST 2013)
V – O samba
À direita do terreiro, adumbra-se* na escuridão um maciço de construções, ao qual às vezes
recortam no azul do céu os trêmulos vislumbres das labaredas fustigadas pelo vento. (...)
É aí o quartel ou quadrado da fazenda, nome que tem um grande pátio cercado de senzalas,
às vezes com alpendrada corrida em volta, e um ou dois portões que o fecham como praça
d’armas.
Em torno da fogueira, já esbarrondada pelo chão, que ela cobriu de brasido e cinzas, dançam
os pretos o samba com um frenesi que toca o delírio. Não se descreve, nem se imagina esse
desesperado saracoteio, no qual todo o corpo estremece, pula, sacode, gira, bamboleia, como
se quisesse desgrudar-se.
Tudo salta, até os crioulinhos que esperneiam no cangote das mães, ou se enrolam nas saias
das raparigas. Os mais taludos viram cambalhotas e pincham à guisa de sapos em roda do
terreiro. Um desses corta jaca no espinhaço do pai, negro fornido, que não sabendo mais como
desconjuntar-se, atirou consigo ao chão e começou de rabanar como um peixe em seco. (...)
José de Alencar, Til.
(*) “adumbra-se” = delineia-se, esboça-se.
Considerada no contexto histórico a que se refere Til, a desenvoltura com que os escravos, no
excerto, se entregam à dança é representativa do fato de que
a) a escravidão, no Brasil, tal como ocorreu na América do Norte e no Caribe, foi branda.
b) se permitia a eles, em ocasiões especiais e sob vigilância, que festejassem a seu modo.
c) teve início nas fazendas de café o sincretismo das culturas negra e branca, que viria a
caracterizar a cultura brasileira.
d) o narrador entendia que o samba de terreiro era, em realidade, um ritual umbandista
disfarçado.
e) foi a generalização, entre eles, do alcoolismo, que tornou antieconômica a exploração da
mão de obra escrava nos cafezais paulistas.
Comentário

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O romance de José de Alencar retrata a linguagem e os costumes da vida rural do século XIX, 1872,
com enredo ambientado na região de Piracicaba.
Em alguns momentos e sempre sob a vigilância de seus senhores, os africanos e seus descendentes
aproveitavam alguns episódios da tradição judaico-católica para celebrar os eventos que
marcavam a sua própria cultura, de que são exemplos a congada e o lundu. Para os senhores e
autoridades coloniais, isso estabelecia a segurança de que os escravos e libertos tinham aderido ao
catolicismo e para os africanos, servia para usufruírem de um momento de liberdade, ainda que
temporária, e afirmarem sua própria história e cultura.
Isso pode ser estendido para outras festas religiosas. Mas também o carnaval tem essa relação. São
duas as questões aqui: Primeiro é o controle que os senhores continuam exercendo sobre seus
escravos mesmo nos festejos. Segundo é sincretismo religioso e a formação de uma nova cultura
fruto dessa integração e mistura.
Assim, é correta a alternativa B, uma vez que a escravidão não foi branda (item a), o sincretismo não
se iniciou nas lavouras de café, mas na de cana de açúcar (item c). O item D faz uma inferência que
não pode ser feita a partir do trecho do texto apresentado. O item E foi feita em um momento de
surrealismo do elaborador, porque não dá nem para explicar de tão errado.
Gabarito: B

(FUVEST 2013)
A população indígena brasileira aumentou 150% na década de 1990, passando de 294 mil
pessoas para 734 mil, de acordo com uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento médio anual foi de 10,8%, quase seis vezes maior
do que o da população brasileira em geral. http://webradiobrasilindigena.wordpress.com,
21/11/2007.
A notícia acima apresenta
a) dado pouco relevante, já que a maioria das populações indígenas do Brasil encontra-se em
fase de extinção, não subsistindo, inclusive, mais nenhuma população originária dos tempos
da colonização portuguesa da América.
b) discrepância em relação a uma forte tendência histórica observada no Brasil, desde o século
XVI, mas que não é uniforme e absoluta, já que nas últimas décadas não apenas tais populações
indígenas têm crescido, mas também o próprio número de indivíduos que se autodenominam
indígenas.
c) um consenso em torno do reconhecimento da importância dos indígenas para o conjunto
da população brasileira, que se revela na valorização histórica e cultural que tais elementos
sempre mereceram das instituições nacionais.
d) resultado de políticas públicas que provocaram o fim dos conflitos entre os habitantes de
reservas indígenas e demais agentes sociais ao seu redor, como proprietários rurais e
pequenos trabalhadores.
e) natural continuidade da tendência observada desde a criação das primeiras políticas
governamentais de proteção às populações indígenas, no começo do século XIX, que
permitiram a reversão do anterior quadro de extermínio observado até aquele momento.

HB: Colônia I 82
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Comentário
A questão faz uma comparação entre dois momentos históricos antagônicos em relação à
população indígena no Brasil. O primeiro, que estende-se do século XIX até meados do século
XX, a tendência é de redução populacional, devido a alguns fatores, como: a violência da
conquista portuguesa, a introdução de doenças europeias e a introdução do trabalho
compulsório (escravidão) e do latifúndio, que transformaram de modo substancial o estilo de
vida indígena, contribuindo para o extermínio da população ameríndia. O segundo momento,
que se estende da metade do século XX aos dias atuais, a tendência é para uma elevação
populacional. Um dos motivos desta transformação relaciona-se com a Constituição de 1988,
que, entre outros direitos, garantiu aos indígenas a demarcação e a posse das reservas. Com
este direito garantido, a população passou a crescer, pois as reservas permitem a manutenção
da cultura e da forma de viver dos indígenas. A seguir, veja o artigo que trata especificamente
dos direitos indígenas na atual Constituição Federal
NO TÍTULO VIII - "DA ORDEM SOCIAL"
CAPÍTULO VII – "DOS íNDIOS"
Artigo 231 - São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas,
crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam,
competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
1. São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos
recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural,
segundo seus usos, costumes e tradições.
2. As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente,
cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios, dos lagos nelas existentes.
3. O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra
das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivadas com autorização do Congresso
Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados
das lavras, na forma de lei.
4. As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas são
imprescritíveis.
5. É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, ad referendum do
Congresso Nacional, em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no
interesse da soberania do País, após deliberação do Congresso, garantindo em qualquer hipótese, o
retorno imediato logo que cesse o risco.
6. São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação,
o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do
solo, dos rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante
interesse público da União, segundo o que dispuser lei complementar, não gerando a

HB: Colônia I 83
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nulidade e a extinção do direito à indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei,
quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé.
7. Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, 3 e 4.
Artigo 232 – Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para
ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público
em todos os atos do processo.
Fonte: Constituição Federal de 1988.
Disponível em: https://www.senado.leg.br/atividade/const/constituicao-federal.asp
Gabarito: B

(FUVEST 2011)
Quando os Holandeses passaram à ofensiva na sua Guerra dos Oitenta Anos pela
independência contra a Espanha, no fim do século XVI, foi contra as possessões coloniais
portuguesas, mais do que contra as espanholas, que os seus ataques mais fortes e mais
persistentes se dirigiram. Uma vez que as possessões ibéricas estavam espalhadas por todo o
mundo, a luta subsequente foi travada em quatro continentes e em sete mares e esta luta
seiscentista merece muito mais ser chamada a Primeira Guerra Mundial do que o holocausto
de 1914-1918, a que geralmente se atribui essa honra duvidosa. Como é evidente, as baixas
provocadas pelo conflito ibero-holandês foram em muito menor escala, mas a população
mundial era muito menor nessa altura e a luta indubitavelmente mundial.
Charles Boxer, O império marítimo português, 1415-1825. Lisboa: Edições 70, s.d., p.115.
Podem-se citar, como episódios centrais dessa “luta seiscentista”, a
a) conquista espanhola do México, a fundação de Salvador pelos portugueses e a colonização
holandesa da Indonésia.
b) invasão holandesa de Pernambuco, a fundação de Nova Amsterdã (futura Nova York) pelos
holandeses e a perda das Molucas pelos portugueses.
c) presença holandesa no litoral oriental da África, a fundação de Olinda pelos portugueses e
a
colonização espanhola do Japão.
d) expulsão dos holandeses da Espanha, a fundação da Colônia do Sacramento pelos
portugueses e a perda espanhola do controle do Cabo da Boa Esperança.
e) conquista holandesa de Angola e Guiné, a fundação de Buenos Aires pelos espanhóis e a
expulsão dos judeus de Portugal.
Comentário
Questão conteudista da FUVEST. O aluno deveria saber as consequências da união Ivérica no que se
refere à postura da Holanda em ocupar o espaço econômico de Portugal, uma vez que se encontrava
submetido à Coroa Espanhola.

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Apesar desse conhecimento obrigatório, as diversas alternativas, com muitas e variadas


informações, coloca o estudante em dúvida. A “Guerra do Açúcar” envolveu a Espanha e Holanda.
Como Portugal e suas colônias estavam sob domínio espanhol – União Ibérica – foram diretamente
afetados, destacando a invasão da região nordeste a partir de Pernambuco.
Contudo, como vimos na aula, a Holanda não se limitou a invadir o Brasil e montar “colônias
holandesas”. Ela se lançou no domínio de outras possessões do Império português, como as feitorias
na África e Ásia.
Dito isso, vejamos item por item:
a- O ponto incorreto é a fundação de Salvador. Isso de fato ocorrei no século XVI, mas não está
no contexto da invasão holandesa.
b- No item B está tudo correto. Sobre a
fundação de Nova York, nas 13 Colônias
Americanas, veremos nas aulas seguintes. De fato,
a Holanda invadiu o nordeste brasileiro sendo a
primeira tentativa em 1624 e depois em 1630.
Sobre a Ilha Molucas, na Indonésia, quero trazer
algumas informações muito conteudistas e
detalhistas que o aluno precisava ter noção para
responder com tranquilidade e segurança esse
item:
Sobre as Ilhas Molucas.
São Ilhas que atualmente pertencem à Indonésia.
No século XVI eram conhecidas como “berço das especiarias”, pois eram as únicas que
forneciam a noz-moscada e cravinho (cravo-da-índia). Portugal, Inglaterra, França e Holanda
tinham interesse na área.
Como o Tratado de Tordesilhas não estabelecida os limites e as possessões no Pacífico, Portugal
e Espanha entraram em conflito por essa Ilhas. Assim, em 1529 assinaram o Tratado de
Saragoça. Por ele se reviram os marcos territoriais do Tratado de Tordesilhas e deram a
possessão à Espanha, que a cedeu em troca de 125 quilos de ouro, aproximadamente.
Medições posteriores comprovaram que, pelo antemeridiano de Tordesilhas, as Ilhas Molucas
bem como as Filipinas, encontravam-se em território pertencente a Portugal, o que de pouco
adiantou já que durante o século XVII essas disputadas ilhas acabariam em mãos holandesas em
troca das “capitanias da Nova Holanda” no Brasil - Itamaracá, Paraíba e Pernambuco. Portanto,
no contexto das lutas pela reconquista do território colonial português, entre 1645 e 1654.
A perda das Molucas também representou o enfraquecimento de Portugal e o início da expansão
do poderio da Holanda no sudeste asiático.
Veja o mapa de época ao lado:
30

30
Fonte: Willem Janszoon Blaeu (1571-1638) [Public domain], <a
href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Willem_Blaeu00.jpg">via Wikimedia Commons</a>.
Acessado em 07-04-2019.

HB: Colônia I 85
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c- A Holanda se limitou a ocupar a parte ocidental da África e foi Portugal o principal país
europeu a estabelecer contato, comércio e a expandir o cristianismo no Japão.
d- Os holandeses não investiram contra as possessões espanholas, mas portuguesas.
e- Os judeus não foram expulsos de Portugal no século XVI.
Gabarito: B

(FUVEST 2010)
Os primeiros jesuítas chegaram à Bahia com o governador-geral Tomé de Sousa, em 1549, e
em pouco tempo se espalharam por outras regiões da colônia, permanecendo até sua
expulsão, pelo governo de Portugal, em 1759. Sobre as ações dos jesuítas nesse período, é
correto afirmar que
a) criaram escolas de arte que foram responsáveis pelo desenvolvimento do barroco mineiro.
b) defenderam os princípios humanistas e lutaram pelo reconhecimento dos direitos civis dos
nativos.
c) foram responsáveis pela educação dos filhos dos colonos, por meio da criação de colégios
secundários e escolas de “ler e escrever”.
d) causaram constantes atritos com os colonos por defenderem, esses religiosos, a preservação
das culturas indígenas.
e) formularam acordos políticos e diplomáticos que garantiram a incorporação da região
amazônica ao domínio português.
Comentário
Apesar de a fama dos jesuítas do período colonial no Brasil dar-se pelo trabalho de catequese junto
aos indígenas, eles também se destacam por terem sido os principais protagonistas do ensino
durante o período, fundando e administrando colégios católicos e, assim, promovendo a educação
dos filhos dos colonos e estabelecendo uma padronização do ensino em toda a colônia.
A Fundação do Colégio São Paulo por Padre Anchieta e Padre Manuel da Nobrega é o exemplo
clássico e pioneiro dessa atividade. Assim, o gabarito é a letra C.
Por que os demais itens estão incorretos?
Porque,
a- O barroco é fruto da mineração, como vermos na próxima aula.
b- Não defenderam os princípios humanistas, pelo contrário. Lembram-se que a Companhia de
Jesus foi criada no contexto das ações da contrarreforma católica para converter as pessoas
ao cristianismo?
c- Está correto.
d- Os jesuítas não defenderam a preservação da cultura indígena. Os conflitos com os colonos
tinham motivação no aprisionamento indígena para impor-lhes trabalho escravo.
e- A incorporação da Amazônia não foi mediada pelos Jesuítas.
Gabarito: C

(FUVEST 2007)
No Brasil, os escravos

HB: Colônia I 86
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1. trabalhavam tanto no campo quanto na cidade, em atividades econômicas variadas.


2. sofriam castigos físicos, em praça pública, determinados por seus senhores.
3. resistiam de diversas formas, seja praticando o suicídio, seja organizando rebeliões.
4. tinham a mesma cultura e religião, já que eram todos provenientes de Angola.
5. estavam proibidos pela legislação de efetuar pagamento por sua alforria.
Das afirmações apresentadas, são verdadeiras apenas
a) 1, 2 e 4.
b) 3, 4 e 5.
c) 1, 3 e 5.
d) 1, 2 e 3.
e) 2, 3 e 5.
Comentário
Queridos, vou criar mais uma categoria de questão: FUVEST papai-noel!! Porque está é presente de
Natal, fala sério. Os africanos escravizados trabalhavam no campo, na cidade, recebiam castigo e
resistiam de diferentes maneiras. Além disso, poderiam SIM comprar sua alforria e, por fim, não
eram apenas de Angola. Os africanos eram provenientes de diferentes partes do continente. Nesse
sentido, apenas os itens 3 e 4 estão incorretos e não devem ser assinalados.

Gabarito: D

(FUVEST 2007)
Este quadro, pintado por Franz Post por volta
de 1660, pode ser corretamente relacionado
a) à iniciativa pioneira dos holandeses de
construção dos primeiros engenhos no
Nordeste.
b) à riqueza do açúcar, alvo principal do
interesse dos holandeses no Nordeste.
c) à condição especial dispensada pelos
holandeses aos escravos africanos.
d) ao início da exportação do açúcar para a Europa por determinação de Maurício de Nassau.
e) ao incentivo à vinda de holandeses para a constituição de pequenas propriedades rurais.
Comentário
Veja, a questão dá duas informações para você responder à questão: a data 660 e a
imagem, sendo que a imagem não tem legenda. Logo, é um comando genérica da qual não
conseguimos extrair informações muito específicas. Pelos itens, também podemos saber que se
trata de algo relacionado com a Holanda. Os alunos mais sagazes saberiam também que o pinto da
obra é um holandês (uau, essa é para nerds, né ). Vamos aos itens:

HB: Colônia I 87
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a- Os pioneiros na construção dos engenhos de açúcar foram os portugueses, embora


muitos deles tenham usado recursos financeiros da Holanda para tanto.
b- Item B é genérico, mas não tem nadinha que se contraponha às informações que temos
sobre o período, bem como sobre os dados trazidos pela questão.
c- Holandeses não dispensaram atenção especial nenhuma aos escravos. Continuaram na
mesma, quando não muito mais violentados.
d- A exportação do açúcar começou cm portugueses. Maurício de Nassau foi um
administrador holandês que governou durante a ocupação desse país no Brasil.
e- Aqui você dá uma gargalhada, né. Afinal, Holandeses invadiram o Brasil durante o
período da União Ibérica e fundaram várias “colônias” holandesas, como a “Nova
Holanda, nome dado à Pernambuco.
Gabarito: B

(FUVEST 2001)
"Eu, el-rei D. João lII, faço saber a vós, Tomé de Sousa, fidalgo da minha casa que ordenei
mandar fazer nas terras do Brasil uma fortaleza e povoação grande e forte na Baía de Todos-
os-Santos. (...)Tenho por bem enviar-vos por governador das ditas terras do Brasil."
"Regimento de Tomé de Sousa", 1549
As determinações do rei de Portugal estavam relacionadas
a) à necessidade de colonizar e povoar o Brasil para compensar a perda das demais colônias
agrícolas portuguesas do Oriente e da África.
b) aos planos de defesa militar do império português para garantir as rotas comerciais para a
Índia, Indonésia, Timor, Japão e China.
c) a um projeto que abrangia conjuntamente a exploração agrícola, a colonização e a defesa
do território.
d) aos projetos administrativos da nobreza palaciana visando à criação de fortes e feitorias
para atrair missionários e militares ao Brasil.
e) ao plano de inserir o Brasil no processo de colonização escravista semelhante ao
desenvolvido na África e no Oriente.
Comentário
Questão clássica, pois explora o conhecimento dos alunos sobre os motivos que levaram a cora a
estabelecer o Governo Geral. Você teria que perceber a data – 1549 – instalação do primeiro
Governo Geral, cujo governador foi Tomé de Sousa. Vamos relembrar:
Tendo o sistema de administração descentralizada das capitanias hereditárias tido pouco êxito, a
Coroa Portuguesa buscou uma solução diferente e mais centralizadora: a formação de um
Governo-Geral. Tratava-se da criação de um órgão central de direção e de administração
comandado por um funcionário da Coroa, nomeado pelo Rei, para ajudar os donatários e interferir
mais diretamente na implantação do sistema de exploração colonial.
Para que você tenha uma noção dos objetivos, funções e estrutura burocrática, observe o esquema:

HB: Colônia I 88
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Logo, meu querido e querida, sabendo disso você só poderia anotar o item C.
Gabarito: C

(FUVEST 2001)
Gabriel Soares, um oficial português, escreveu em 1587 sobre os índios Guaianá: "É gente de
pouco trabalho(...); se encontram com gente branca, não fazem nenhum dano, antes boa
companhia, e quem acerta de ter um escravo guaianá não espera dele nenhum serviço, porque
é gente folgazã de natureza e não sabe trabalhar." O texto expressa
a) a diferença entre as concepções de trabalho do mundo europeu e das culturas indígenas.
b) o preconceito racial que coibiu formas de miscigenação cultural na colônia.
c) a ineficiência do ensino dos missionários ministrado aos grupos indígenas sem tradição
agrícola.
d) o argumento básico para se elaborarem leis, proibindo a escravização indígena na colônia.
e) a forma usual de resistência indígena para evitar a dominação cultural e a escravização.
Comentário
Bem, é um texto preconceituoso, sem dúvida, como afirma o item B, mas isso não coibiu a
miscigenação, além disso, como vocês viram ao longo da aula, os povos originários tem sim
tradição agrícola, portanto, não era uma questão de não saber plantar, como infere o item C. O
texto nada menciona sobre normas e leis, mas sobre costumes. Além do que este não foi um
argumento para proibir a escravidão indígena, por isso, o item D é incorreto. Por fim, não
trabalhar não era uma forma usual de resistir. A resistência era com enfrentamento direto. Assim,
o item correto é o A, ou seja, o texto demonstra que existiam concepções distintas de tempo, de
trabalho, de valores. Assim, os portugueses e os indígenas estavam o tempo todo comparando
suas culturas. Os europeus, além de compararem estabeleciam critérios de superioridade e
inferioridade sempre no sentido de afirmar o eurocentrismo.
Gabarito: A

(FUVEST 2000)
No que diz respeito à combinação entre capital, tecnologia e organização, a lavoura açucareira
implantada pelos portugueses no Brasil seguiu um modelo empregado anteriormente
a) no Norte da África e no Caribe.

HB: Colônia I 89
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b) no Mediterrâneo e nas ilhas africanas do Atlântico.


c) no sul da Itália e em São Domingos.
d) em Chipre e em Cuba.
e) na Península Ibérica e nas colônias holandesas.
Comentário
Galera, questão conteudista de novo. O modelo de produção açucareira estava desenvolvido onde
antes de ser implantada no Brasil? Mediterrâneo, especialmente, na Sicília. E nas ilhas africanas do
Atlântico.
Em 1530, com a expedição de Martin Afonso de Souza chegaram no Brasil as primeiras mudas
da cana-de-açúcar para o desenvolvimento da atividade açucareira. A escolha da cana se deu
porque Portugal tinha experiência desse cultivo nas ilhas africanas do Atlântico – Açores e Madeira.
Além disso, o açúcar tornara-se, na Europa, uma especiaria de luxo. Uma mesa farta de doces
açucarados era o símbolo da riqueza!!
Dessa forma, os colonos que desembarcaram no Brasil, juntamente com Martin Afonso,
iniciaram a produção canavieira na recém fundada Vila de São Vicente. Para plantar a cana e
produzir o açúcar desenvolveram um complexo produtivo chamado “engenho de açúcar” (vamos
falar mais sobre engenhos na sequência da aula, segura aí!).
O primeiro engenho da colônia foi o Engenho São Jorge dos Erasmos. Hoje em dia, este Engenho
é Monumento Nacional pertencente à USP e fica situado na cidade de Santos.
Gabarito: B

(FUVEST 1999)
Segundo as pesquisas mais recentes, pode-se afirmar, em relação aos quilombos coloniais
brasileiros, que os mesmos:
a) distinguiam-se pelo isolamento, pela marginalização, sem nenhum vínculo com os arredores
que os cercavam;
b) eram de caráter predominantemente agrícola, sobrevivendo do que plantavam e do que
teciam;
c) eram habitados exclusivamente por escravos fugidos, constituindo-se em verdadeiros
Estados teocráticos;
d) dedicavam-se, alguns, à agricultura, outros, à mineração, outros, ainda, ao pastoreio,
articulando-se com os núcleos vizinhos através do comércio;
e) existiram apenas durante o século XVII, tendo Palmares como eixo central.
Comentário
Quilombo tem o significado de esconderijo, palavra derivada do termo quimbundo
(esconderijo na língua dos ambundos, grupo étnico banto de Angola). Os escravos que conseguiam
fugir dos engenhos começaram a organizar comunidades em regiões afastadas da zona de controle
dos colonos e da Coroa. A esses agrupamentos de negros livres se denominou Quilombos ou
Mocambos.

HB: Colônia I 90
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Durante muitos anos, a resistência quilombola marcou a história dos negros na América
portuguesa. Muitos quilombos, além de receber negros que fugiam da dominação do sistema
escravista, chegaram reunir índios e até brancos descontentes com as imposições do governo
português. A vida nos quilombos era baseada na agricultura e em pequenas trocas comerciais com
comerciantes e taberneiros das proximidades, além de cerâmica e mineração quando possível.
Dito isso, podemos excluir os itens A, B, D e E, pois, apresentam informações contrárias ao
que acabamos de mencionar.
Gabarito: D

(FUVEST 1999)
Quanto à utilização da mão de obra durante o primeiro século da colonização, na região
Nordeste do Brasil, pode-se afirmar que
a) o escravo africano foi utilizado, preponderantemente, desde a fase do escambo do pau-
brasil;
b) as tribos tupis realizavam o comércio das madeiras com os franceses, ao passo que aimorés
e os nagôs plantavam gêneros alimentícios para os jesuítas e colonos;
c) desde o final do século XVI até o início do XVII, negros e indígenas coexistiam nas
propriedades açucareiras realizando, por vezes, tarefas diferenciadas;
d) as principais atividades econômicas nesse período tinham como base o trabalho familiar e
a mão de obra livre;
e) a falência do escambo do pau-brasil redundou em utilização exclusiva do indígena na cultura
açucareira e na criação do gado, até o final do século XVI.
Comentário
Essa é uma questão excelente para fixarmos a localização de índios e negros na estrutura produtiva
no período que estamos estudando – o primeiro século da colonização (século XVI). Vamos item a
item:
a- A fase de extrativismo do pau-brasil foi preponderante mão de obra indígena e não africana.
Item incorreto.
b- Este item sofre de muitos problemas. Os tupis não cortavam madeira para os franceses, os
nagôs são africanos e não plantavam para os jesuítas e, por fim, os aimorés foram
considerados gentios. Item muito errado!
c- Item corretíssimo. Negros e indígenas coexistiram no primeiro século da colonização. O que
houve, nesse momento, foi uma diferenciação das atividades realizadas entre eles.
d- Item erradíssimo. Vamos lá, qual o sistema produtivo implantado na colônia a partir da
produção de açúcar? PLANTATION! Na colônia, a lavoura da cana ocupava uma grande
porção de terra – um latifúndio. O trabalho era realizado pelas pessoas escravizadas – os
escravos ou cativos. Inicialmente, foram os indígenas, depois, os africanos trazidos
forçosamente. Como afirmamos ao longo da aula, a produção era voltada para o mercado
externo. Essas características formam o modo de produção tipicamente colonial:
PLANTATION.
e- Não houve falência do escambo do pau-brasil. A implantação da lavoura do açúcar se deu,
entre outros motivos, para garantir a posse da terra e impedir invasão de estrangeiros.

HB: Colônia I 91
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Gabarito: C

(FUVEST 1997)
No Brasil colonial, a escravidão caracterizou-se essencialmente
a) por sua vinculação exclusiva ao sistema agrário exportador.
b) pelo incentivo da Igreja e da Coroa à escravidão de índios e negros.
c) por estar amplamente distribuída entre a população livre, constituindo a base econômica da
sociedade.
d) por destinar os trabalhos mais penosos aos negros e os mais leves aos índios.
e) por impedir a emigração em massa de trabalhadores livres para o Brasil.
Comentário:
Questão interessante para reforçarmos alguns conceitos. Como se caracteriza a escravidão colonial,
no Brasil?
Item a – A escravidão não se desenvolveu somente no sistema agrário exportador, como veremos
ao longo das aulas de história brasileira.
Item b – Já falamos que a Igreja não justificava a escravidão negra, mas não admitia a escravidão
contra os índios. A Coroa, por sua vez, incentivava a escravidão negra e dividia índios em duas
categorias: os “gentios” e os “bons selvagens”. Aos primeiros estava reservada a catequização, aos
segundos à guerra justa. Item incorreto.
Item c – Este é o item correto, embora seja um pouco confuso dizer que a escravidão está distribuída
entre a população livre. O que nos deixa mais seguros é a afirmação de que era a base econômica
da sociedade o que está correto, uma vez que todas as atividades poderiam ser realizadas por
escravos, além de que a escravidão era uma das atividades econômicas mais rentáveis.
Item d – A divisão das atividades não se estabelecia por meio da dificuldade de cada trabalho. Os
índios trabalhavam em atividades de expedição, guerras, culturas locais. Ou seja, elementos dos
quais eles eram especialistas.
Item e – a escravidão serviria para impedir a emigração (saída) de trabalhadores livres? Não, né!
Gabarito: C

(FUVEST 1996)
Sobre a presença francesa na baía de Guanabara (1557-1560), podemos dizer que foi:
a) apoiada por armadores franceses católicos que procuravam estabelecer no Brasil a
agroindústria açucareira.
b) um desdobramento da política francesa de luta pela liberdade nos mares e assentou-se
numa exploração econômica do tipo da feitoria comercial.
c) um protesto organizado pelos nobres franceses huguenotes, descontentes com a Reforma
Católica implementada pelo Concílio de Trento.
d) uma alternativa de colonização muito mais avançada do que a portuguesa, porque os
huguenotes que para cá vieram eram burgueses ricos.
e) parte de uma política econômica francesa levada a cabo pelo Estado com intuito de criar
companhias de comércio.

HB: Colônia I 92
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Comentário:
Outra questão da FUVEST que serve para reforçarmos conteúdo. Por ser aberta, precisamos analisar
item por item.
Antes, vamos lembrar que a Monarquia Francesa foi uma das que mais criticou o Tratado de
Tordesilhas e, por isso, tomou várias atitudes contra a divisão do “Novo Mundo” entre Portugal e
Espanha. Assim, apoiou corsários e a pirataria saqueando navios de Portugal e da Espanha. Outra
ação foi invadir o território brasileiro diversas vezes, fazendo aliança com indígenas.
Nesse sentido o item mais correto seria o B, apesar de colocar que a França lutava pela liberdade
dos mares. Cuidado, como estudamos muito sobre França como um símbolo de liberdade, não
confunda com liberalismo, ok. O que acontecia era uma disputa para ver quais Coroas conseguiria
monopolizar rotas e portos. Era um tempo de concorrência entre as monarquias, disputas,
protecionismo e controle de mercado. Todos os outros pontos estão incorretos porque são
construções inventadas. Não teve huguenotes ricos que vieram para o Brasil desenvolver uma
colonização mais avançada (item D); não havia nem a tentativa de instalar uma agroindústria
açucareira (item A) e nem uma companhia de comércio. Embora protestantes franceses estivessem
incomodados com o Concílio de Trento, isso não está relacionado com a invasão francesa no Brasil.
Gabarito: B

(FUVEST 1996)
Em 1694, uma expedição chefiada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho foi encarregada
pelo governo metropolitano de destruir o quilombo de Palmares. Isto se deu porque:
a) os paulistas, excluídos do circuito da produção colonial centrada no Nordeste, queriam aí
estabelecer pontos de comércio, sendo impedidos pelos quilombos.
b) os paulistas tinham prática na perseguição de índios, os quais aliados aos negros de Palmares
ameaçavam o governo com movimentos milenaristas.
c) o quilombo desestabilizava o grande contingente escravo existente no Nordeste,
ameaçando a continuidade da produção açucareira e da dominação colonial.
d) os senhores de engenho temiam que os quilombolas, que haviam atraído brancos e mestiços
pobres, organizassem um movimento de independência da colônia.
e) os aldeamentos de escravos rebeldes incitavam os colonos à revolta contra a metrópole
visando trazer novamente o Nordeste para o domínio holandês.
Comentário
Diante da condição escrava, os africanos trazidos para o Brasil, bem como seus descendentes,
não ficaram passivos. Reagiram de diferentes maneiras, em grande parte, sempre para amenizar as
dores físicas e mentais do trabalho escravo. A partir dos estudos bibliográficos, é possível listar
algumas formas de resistência:
Algumas mulheres, para evitar que seus filhos nascessem naquele mundo, provocavam abortos. Ao
mesmo tempo que essa ação significava uma resistência, também expressava uma violência contra
o corpo dessas mulheres negras;
Outra “auto violência” corporal era o suicídio;

HB: Colônia I 93
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Sabotagens nos engenhos por meio de destruição de plantações, instrumentos e, principalmente,


da moenda;
Emboscadas e ataques surpresas à elite branca (senhores de engenho). Nesses ataques,
promovidos por ex-escravos, as casas-grandes eram saqueadas e os canaviais e depósitos postos em
chama.
Negociações com senhores de engenho para obtenção de melhores condições de vida, como
alimentos, vestuário e moradia;
Fugas dos engenhos, tanto individuais, quanto coletivas. Estas, por sinal, merecem atenção
especial pois resultaram na formação dos Quilombos.
Os escravos que conseguiam fugir dos engenhos começaram a organizar comunidades em
regiões afastadas da zona de controle dos colonos e da Coroa. A esses agrupamentos de negros
livres se denominou Quilombos ou Mocambos.
Durante muitos anos, a resistência quilombola marcou a história dos negros na América
portuguesa. Muitos quilombos, além de receber negros que fugiam da dominação do sistema
escravista, chegaram reunir índios e até brancos descontentes com as imposições do governo
português. A vida nos quilombos era baseada na agricultura e em pequenas trocas comerciais com
comerciantes e taberneiros das proximidades. A depender da localidade, poderiam ainda fazer
mineração e cerâmica.
Com a formação dos Quilombos, a preocupação dos senhores de engenho e da Coroa era
com a disseminação de ideias insurrecionais, contrárias, portanto, ao sistema escravista.
Por isso, o bandeirante Domingos Jorge Velho foi contratado para destruir Palmares. Em
1692, em uma primeira tentativa, Jorge Velho e seus aliados cercaram Palmares, mas os quilombolas
venceram o confronto. Dois anos depois, em 1694, Jorge Velho, com mais 6 mil soldados
conseguiram vencer Palmares. Zumbi escapou, mas foi pego em 1695. Após ser preso, foi morto e
sua cabeça ficou estiada em praça pública em Recife. Era preciso produzir medo e terror para
controlar os escravos rebelados.
Assim, o item correto é C. Veja os elementos errados nos demais itens:
A – Não há relação entre os quilombos e a impossibilidade de expansão dos negócios dos
paulistas.
B – Item louco, só o que tenho a dizer. Movimentos milenaristas? Paulistas aliados a negros?
Pula o item....
C – Certíssimo. a disseminação dos quilombos ameaçava a economia açucareira por dois
motivos: pelo seu exemplo de resistência e porque gerava um custo excedente porque o senhor
precisava repor aquele escravo. No sistema escravista isso é um problema econômico.
D – Independência da colônia no século XVII? Um pouco anacrônico esse argumento.
E – Não corresponde à realidade. Colonos e metropolitanos atuaram conjuntamente contra
os Quilombos.
Gabarito: C

(FUVEST 1995)

HB: Colônia I 94
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Foram características dominantes da colonização portuguesa na América:


a) pequenas unidades de produção diversificada, comércio livre e trabalho compulsório.
b) grandes unidades produtivas de exportação, monopólio do comércio e escravidão.
c) pacto colonial, exploração de minérios e trabalho livre.
d) latifúndio, produção monocultora e trabalho assalariado de indígenas.
e) exportação de matérias-primas, minifúndio e servidão.
Comentário

Essa questão serve para relembrarmos a composição do sistema de plantation.

Grandes propriedadeds rurais: Latifúndio.

Produção monocultora voltado para mercado externo.

Uso de mão de obra escrava.

Gabarito: B

(FUVEST 1995)
Sobre o Tratado de Tordesilhas, assinado em 7 de junho de 1494, pode-se afirmar que
objetivava:
a) demarcar os direitos de exploração dos países ibéricos, tendo como elemento propulsor o
desenvolvimento da expansão comercial marítima.
b) estimular a consolidação do reino português, por meio da exploração das especiarias
africanas e da formação do exército nacional.
c) impor a reserva de mercado metropolitano, por meio da criação de um sistema de
monopólios que atingia todas as riquezas coloniais.
d) reconhecer a transferência do eixo do comércio mundial do Mediterrâneo para o Atlântico,
depois das expedições de Vasco da Gama às Índias.
e) reconhecer a hegemonia anglo-francesa sobre a exploração colonial, após a destruição da
Invencível Armada de Felipe II, da Espanha.
Comentário

Gente essas vocês carecas de saber. Um acordo bilateral entre Portugueses e Espanhóis que
determinava as possessões mundiais. Estabelecido no contexto da expansão marítimo comercial.

Gabarito: A

(FUVEST 1995)
"Na primeira carta disse a V. Rev. a grande perseguição que padecem os índios, pela cobiça
dos portugueses em os cativarem. Nada há de dizer de novo, senão que ainda continua a
mesma cobiça e perseguição, a qual cresceu ainda mais.

HB: Colônia I 95
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No ano de 1649 partiram os moradores de São Paulo para o sertão, em demanda de uma nação
de índios distantes daquela capitania muitas léguas pela terra adentro, com a intenção de os
arrancarem de suas terras e os trazerem às de São Paulo, e aí se servirem deles como
costumam." (Pe. Antônio Vieira, CARTA AO PADRE PROVINCIAL, 1653, Maranhão.)
Este documento do Padre Antônio Vieira revela:
a) que tanto o padre Vieira como os demais jesuítas eram contrários à escravidão dos indígenas
e dos africanos, posição que provocou conflitos constantes com o governo português.
b) um dos momentos cruciais da crise entre o governo português e a Companhia de Jesus, que
culminou com a expulsão dos jesuítas do território brasileiro.
c) que o ponto fundamental dos confrontos entre os padres jesuítas e os colonos referia-se à
escravização dos indígenas e, em especial, à forma de atuar dos bandeirantes.
d) um episódio isolado da ação do padre Vieira na luta contra a escravização indígena no Estado
do Maranhão, o qual se utilizava da ação dos bandeirantes para caçar os nativos.
e) que os padres jesuítas, em oposição à ação dos colonos paulistas, contavam com o apoio do
governo português na luta contra a escravização indígena.
Comentário

Questão clássica que aborda três elementos fundamentais:

1- Se a igreja era contra a escravidão negra. (a) Não.

2- Se a ação de denúncia do padre é isolada ou coletiva (d) Coletiva.

3- Se a coroa apoiava os jesuítas em oposição aos colonos. (e) Não apoiava. Fazia “a egípcia”

Assim, o centro do conflito entre jesuítas e colonos era “escravização dos indígenas e, em especial,
à forma de atuar dos bandeirantes”. Item correto C.

Gabarito: C

(FUVEST 1990)
A produção de açúcar, no Brasil colonial:
a) possibilitou o povoamento e a ocupação de todo o território nacional, enriquecendo grande
parte da população.
b) praticada por grandes, médios e pequenos lavradores, permitiu a formação de uma sólida
classe média rural.
c) consolidou no Nordeste uma economia baseada no latifundiário monocultor e escravocrata
que atendia aos interesses do sistema português.
d) desde o início garantiu o enriquecimento da região Sul do país e foi a base econômica de
sua hegemonia na República.
e) não exigindo muitos braços, desencorajou a importação de escravos, liberando capitais para
atividades mais lucrativas.

HB: Colônia I 96
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Comentário

Questão para martelar na sua cabeça o conceito de plantation que caracterizou a produção
açucareira no Nordeste brasileiro: monocultura, produzida para exportação e com mão de obra
escrava. Assim, o item correto é C.

Vejamos agora os elementos que justificam os erros nos demais itens:

Item a: açúcar possibilitou o povoamento do litoral e, no máximo do agreste. Jamais o interior


TODO.

Item b: Não se formou classe média, mas, um núcleo homogêneo de grandes proprietários de terra
e escravos.

Item d: O açúcar se desenvolveu no Nordeste. Assim, não houve enriquecimento do Sul com açúcar.
Além disso, o açúcar não foi elemento da base econômica da República, mas o café.

Item e: o açúcar estimulou a demanda do comércio negreiro e não o contrário.

Gabarito: C

(FUVEST 1989)
Entre as várias formas de resistência do negro ao regime escravista no Brasil Colonial
encontramos os quilombos. Palmares, o maior exemplo de grande quilombo, possuía uma
organização econômica que apresentava as seguintes características:
a) agricultura policultora como principal atividade, organizada com base num sistema de
sesmarias semelhante ao dos engenhos, que visava o consumo local e a comercialização do
excedente.
b) agricultura monocultora, que visava a comercialização, a caça, pesca, coleta e criação de
gado para o consumo interno.
c) agricultura policultora realizada em pequenos roçados das famílias, e um sistema de
trabalho cooperativo que produzia excedentes comercializados na região, além da extração
vegetal e da criação para a subsistência.
d) atividades extrativas, pecuária bovina e caprina para atender o consumo local, e fabricação
de farinha, aguardente e azeite para a comercialização.
e) criação de animais, caça, pesca e coleta para a subsistência, e agricultura monocultora que
concorria com a produção dos engenhos.
Comentário
Olha só gente, tema recorrente: formas de resistência contra a escravidão. No caso, Quilombo dos
Palmares. Mais uma vez. Mas, é uma pergunta bem específica, pois pergunta-se sobre como o
quilombo e sustentava. Desenvolvia-se agricultura diversificada necessária para abastecer o
quilombo. Geralmente era organizado por família. Também faziam o extrativismo vegetal e, em
algumas situações chegaram a comercializar excedentes. A forma mais eficaz e lucrativa de
proteção, entretanto, era a formação da rede de parceiros econômicos, incluindo outros roceiros,

HB: Colônia I 97
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garimpeiros, pescadores, mascates e quitandeiros, indígenas e soldados desertores, além de


escravos ao ganho, aqueles que compravam a alforria dos senhores.
Nos itens da questão, há uma mistura de coisas certas com erradas, o que confunde o leitor e exige
uma leitura atenta de cada item. Nesse caso, você deve achar o erro existente nas questões e
eliminá-la. Vamos fazer isso juntos!
a- A produção não era organizada como sesmarias. Você lembra o que era? Sesmaria era um
pedaço de terra distribuído a um beneficiário próximo à Coroa com o objetivo de cultivar as
terras conquistadas. A origem dessa prática de sesmaria remonta ao período final da Idade
Média e às práticas de suserania e vassalagem. A distribuição de sesmaria não garantia a
propriedade, mas o usufruto. A concessão de sesmarias foi extinta apenas em 1822, sendo a
origem dos grandes latifúndios no Brasil. Você acha que um quilombo conseguiria se
organizar como uma sesmaria?
b- Agricultura não era monocultora, mas policultura. Para responder essa questão você deve
lembrar da lógica dos Quilombos em oposição ao sistema escravagista. Dessa forma, tudo o
que formava os pilares da plantation estava negado nos Quilombos. Assim, todas as
alternativas que afirmam que a agricultura dos Quilombos era a monocultura estão erradas
c- Todos os itens corretos.
d- Não havia atividade pecuária nos quilombos, especialmente, a caprina. Além disso, o item
sugere uma prática de comercio muito ampla pelos quilombolas e incluiu um produto não
comercializado, o azeite. Vimos que as poucas relações comerciais dos quilombolas eram com
populações do entorno e de forma muito restrita. Esta ponderação do raio de comércio dos
produtos quilombolas está bem colocada na alternativa c).
e- É de rir imaginar que a agricultura de um quilombo poderia concorrer com a de um engenho.
Além disso, outra vez, os quilombos produziam diversamente e não um único produto.
Gabarito: C

(FUVEST 1988)
Na engrenagem do sistema mercantilista de colonização do Brasil, fez-se opção pela mão de
obra africana porque o tráfico negreiro:
a) contribuía para o apresamento indígena como negócio interno da colônia.
b) estimulava a utilização de mão de obra de fácil acesso e baixa rentabilidade econômica.
c) atendia às pressões exercidas pelos ingleses em relação à troca da produção açucareira pelo
fornecimento de negros.
d) abria novo e importante setor do comércio para os mercadores metropolitanos.
e) era elemento fundamental no processo de expansão econômica do mercado interno
brasileiro.
Comentário
Está vendo como os temas se repetem ao longo dos anos. Muda a forma de perguntar, mas o
assunto é o mesmo. Essa, de novo, cobra o conhecimento da tese clássica de Caio Prado Jr.
sobre o sentido da colonização: engrenagem fundamental do mercantilismo!

HB: Colônia I 98
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Nesse contexto entra o argumento de Fernando Novais para quem a preferência pela mão de
obra escrava negra ocorria devido a oportunidade dessa atividade se tornar central no
comércio transatlântico. Assim, qual item você responderia? C, é claro, né, Corujá!
Relembrando para você tatuar na mente:
O tráfico negreiro adquiriu uma rentabilidade significativa para a economia do sistema
colonial. Por isso, ele passou a ser prioridade da Coroa portuguesa. Dessa forma, a alternativa
b) está equivocada. Já a d) expressa uma colocação correta, ou seja, a finalidade comercial da
compra e venda de escravos. Com relação aos ingleses, veremos que eles se posicionaram
contrário ao tráfico negreiro, por isso, a pressão da Inglaterra foi no sentido de eliminação
dessa prática comercial. As alternativas e) e a) são interessantes porque chamam a atenção
para o desenvolvimento do mercado interno da colônia. Vimos que o foco do sistema de
plantation, no qual a mão de obra escrava era a base, foi o mercado externo e não o interno.
Além disso, o tráfico negreiro atuou como substituição da mão de obra indígena e não seu
reforço. Assim, alternativas e) e a) estão erradas.
Gabarito: D

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