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1- A Motivação Para Missões

Você é salvo e está na igreja hoje por causa de algum missionário que veio ao Brasil. A história da
evangelização do Brasil está intimamente ligada à chegada de missionários estrangeiros no país. Estes
lançaram as bases da Igreja Evangélica e iniciaram um movimento de conversões; multiplicaram o número
de pessoas salvas de algumas centenas para milhares, centenas de milhares e, finalmente, a milhões de
brasileiros. Cada um de nós deve a nossa evangelização a pessoas que vieram de outras culturas,
principalmente norteamericana e europeia. Somos frutos de projetos missionários que se iniciaram há
mais de cem anos ou há apenas alguns anos atrás.

Regiões inteiras têm se aberto ao Evangelho nas últimas décadas. Há algumas décadas atrás, grandes
blocos de países estavam praticamente isolados dos esforços evangelísticos.

Países dos blocos comunista (União Soviética, China, Europa do leste, Cuba e muitos outros lugares) e
muçulmano (Oriente Médio, África do Norte e outros locais) formavam regiões onde a proclamação do
Evangelho era proibida e rara. Hoje, em muitos destes países, principalmente nos do antigo bloco
soviético, o Evangelho tem uma penetração relativamente mais fácil. Mesmo nos países onde ainda existe
proibição têm-se desenvolvido estratégias para a sua propagação.

Há mais cristãos indo a um número maior de lugares, aprendendo mais línguas, traduzindo a Bíblia para
um maior número de línguas e implantando mais igrejas nestas últimas décadas do que em qualquer
outro período da história humana.

Quem é missionário? Às vezes ouvimos que todos os cristãos são missionários. Em um sentido amplo, do
ponto de vista do envolvimento com missões ou da necessidade de todos levarem o Evangelho às pessoas,
isto pode ser verdade. Neste sentido, missionário é alguém enviado pela igreja para pregar o Evangelho
a outros povos de cultura e língua diferentes.

Quando nos referimos a missões e missionários, estamos falando da tarefa de comunicar o Evangelho
transculturalmente.

Por que as missões transculturais são necessárias? Será que é mesmo necessário nos preocuparmos com
a evangelização de outros povos?

Razões para se envolver com missões:

1- O caráter de Deus: Seu amor e Sua santidade. O amor de Deus contempla o mundo todo (Jo 3:16),
o que O levou a enviar Seu Filho para morrer pelos pecados de pessoas que compõem todos os
povos do mundo. O amor de Cristo nos constrange a levarmos as Boas-Novas a todos os povos. A
santidade de Deus exige que Ele seja justo e que condene todo pecador. É preciso anunciar o
Evangelho a todos os povos para que escapem desta condenação.

2- O mandamento de Cristo: Jo 20:21.


3- A impulso do Espírito Santo: At 1:8; 4:20.

4- A condição dos perdidos: Lc 16:23-28.


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Resultados do envolvimento missionário:
• O comprometimento de uma igreja com missões é o seu termômetro espiritual (exemplo: Igreja
de Corinto vs. Igreja de Antioquia). Quando se preocupa somente consigo mesma, a igreja se torna
egoísta e destituída da visão de um mundo perdido. Quando a igreja se mobiliza para cooperar em
levar o Evangelho a todos os povos, ela está cumprindo um dos propósitos de Deus para a igreja.
O povo se desperta, a igreja cresce espiritualmente e aumenta a sua generosidade. A igreja que
contribui generosamente para missões nunca terá falta em casa.

• O envolvimento de todos gera mais recursos para a evangelização mundial:


– Recursos humanos: quanto mais igrejas e indivíduos se despertam para as necessidades
dos povos sem Cristo, mais pessoas ouvem e respondem ao chamado do Mestre para
missões transculturais. Maior é o recrutamento de novos missionários. Não há somente
novos missionários, mas também voluntários que se disponibilizam para levantar recursos,
orar, cuidar da parte administrativa, das comunicações, divulgação etc.
– Recursos financeiros: quanto maior o número de igrejas envolvidas, maior será o
levantamento de recursos financeiros para a realização da obra de missões transculturais.
– Recursos tecnológicos: o envolvimento de todos gera mais recursos tecnológicos.
Voluntários desenvolvem vídeos de divulgação e ajudam a montar sites na internet,
projetos humanitários etc.

• Purifica os valores do cristão:


– Buscar em primeiro lugar o Reino de Deus (Mt 6:33).
– Priorizar os valores eternos: almas em vez de bens materiais.
– Disponibilizar o nosso tempo, nossos bens e nossa família para a obra de Deus.
– Cooperar para alcançarmos o mundo todo.

• Aumenta o envolvimento no evangelismo local. A sensibilização para os povos sem Cristo nos deixa
mais atentos às pessoas sem Cristo em nossa família, em nossa vizinhança, no nosso trabalho e na
escola.

Como participar da tarefa missionária?


• Todo indivíduo é importante.

Exemplo: a multiplicação dos pães (Mt 14:13-21): – Nós fazemos a nossa pequena parte; – Deus
multiplica os resultados.

• Oração
– Somente a intervenção sobrenatural do Espírito Santo pode realizar a tarefa. O ser humano
não tem capacidade de convencer povos de diferentes culturas e nem poder para
transformar vidas.
– Intercessão por mais obreiros – Mt 9:38. Jesus ordenou que orássemos para que Deus
mande mais obreiros. Ele ligou a oração à quantidade suficiente de obreiros para realizar
a tarefa. A oração de alguma forma impulsiona Deus a agir.

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– Oração eficaz necessita de informações atualizadas sobre as necessidades existentes.
Precisamos nos informar sobre o que está acontecendo no campo onde já existem
missionários trabalhando. Precisamos pesquisar povos ainda não alcançados pelo
Evangelho e conhecer suas necessidades. Quanto mais informações tivermos, mais
eficazes serão as nossas orações.

• Ensino sobre missões. Podemos participar da tarefa missionária passando para outras pessoas
aquilo que aprendemos. Quanto mais as pessoas estiverem informadas sobre missões, mais se
envolverão. Precisamos ensinar:
– Princípios bíblicos relativos a missões; – As necessidades espirituais do mundo; – Como
cada um pode participar na tarefa.

• Aumentar nosso investimento financeiro. Cada um de nós tem capacidade para aumentar sua
contribuição financeira para o sustento de missões. Você contribui financeiramente para missões
transculturais? Se a sua afirmação for positiva, que porcentagem de sua renda vai para missões?

• Recrutar novos missionários. Outra maneira de participar desta tarefa de missões é recrutar novos
missionários.
– Na igreja – devemos sempre desafiar a igreja a considerar missões transculturais como uma
das possibilidades da vontade de Deus para a vida de cada cristão.
– Adotar missionários. Quando a igreja local não tem seus próprios missionários, pode criar
parcerias com outros missionários que necessitem de sustento.

A URGÊNCIA do envolvimento missionário: Posição da


Posição da
Acréscimo este Totais até o
Evangelização Acréscimo hoje
ano presente
Mundial Hoje
Aumento da população mundial 6.923.470.000
209.129 45.246.024
(quase 7 bilhões)
Pessoas ouvindo e crendo no
Evangelho 23.033 4.998.298 764.591.069

Pessoas ouvindo e não crendo no


Evangelho 54.752 17.477.706 2.675.742.800

Pessoas sem uma boa oportunidade


80.542 22.770.020 3.483.137.165
de ouvir o Evangelho

• Todos os dias, milhares de pessoas estão morrendo sem Cristo.


• O tempo útil em que podemos trabalhar está se acabando. Devemos dar os nossos melhores anos.
• Cristo vai voltar em breve e as oportunidades se acabarão.

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2- A BASE BÍBLICA DE MISSÕES

Missões não têm origem no homem – é uma iniciativa divina.


Apesar da rebelião do homem, Deus ama as pessoas que criou e busca salvar e restaurar os perdidos. Para
tanto, criou um plano de redenção para a humanidade. Ele Se revelou a algumas pessoas que escolheu e
as incumbiu de levar ao restante da humanidade as Boas Novas do Seu plano de salvação. Ele conclama
os que Lhe pertencem a comunicarem o Evangelho. O tema de missões não aparece apenas no Novo
Testamento, mas em toda a Bíblia, desde Gênesis. Apenas algumas destas ocorrências serão examinadas
a seguir.

ANTIGO TESTAMENTO
• Deus chamou Abraão e lhe fez promessas (Gn 12:1-3). Entre estas promessas estava a de abençoar
todas as famílias (nações) da terra através de Abraão (Gn 18:18; 22:17-18). Esta promessa foi
repetida aos seus descendentes imediatos: Isaque (Gn 26:4) e Jacó (Gn 28:14).

• Deus escolheu a nação de Israel (Êx 6:7; Dt 7:6-8) e alguns indivíduos (Moisés, Josué, Davi, os
profetas etc) para trabalhar através deles.

• A nação de Israel deveria ser um reino de sacerdotes (Êx 19:6) e uma nação santa (ou separada).
A função do sacerdote era interceder pelo povo e apresentá-lo a Deus. Os israelitas, como nação,
deveriam exercer esta função de intermediários junto a Deus e ser o exemplo de como Ele
desejava que seu povo vivesse (1Rs 8:4143). Infelizmente o povo de Israel não cumpriu totalmente
esse propósito.

• Deus mostrou Seu poder através dos israelitas (Js 4:23-24), apesar de ser uma nação pequena. O
êxodo do povo de Israel do Egito estabeleceu a reputação de Deus entre todos os povos da região
(Js 2:8-9). A sua ajuda e proteção aos hebreus era um sinal da grandeza e majestade do Senhor.
Os povos viam isso e tremiam.

• Deus também estendeu Sua mão a outras nações e povos.


o Raabe era cananeia, mas foi poupada da destruição de Jericó. o Rute era moabita, mas
foi usada para integrar a descendência de Jesus. o Naamã era sírio, mas foi curado
milagrosamente de uma doença incurável.
o Os ninivitas, através da pregação de Jonas, tiveram a chance de se arrependerem do
mal que faziam e Deus adiou a punição que havia preparado para eles.

• O Templo foi construído também para que os estrangeiros o usassem como さ Iasa de o ヴ ação
ざ – Is 56:6-7; 1Rs 8:43.

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• Profecia de Isaías sobre o Servo do Senhor (Jesus) – Is 42:6-7 (será luz para os gentios); 43:9-12
(todas as nações e povos se congregam); 45:22-23 (a salvação é para todos da terra e Ele será
glorificado em toda a terra); 49:6 (será luz para os gentios e trará salvação até as extremidades da
terra); 60:3 (as nações se encaminham para a luz) e 66:18-19 (Deus ajuntará as nações e as línguas
para contemplar a Sua glória e escolherá alguns para serem missionários – anunciando entre as
nações a glória dEle).

• O testemunho de Nabucodonosor, rei pagão, quanto ao Senhor Deus (Dn 2:47; 4:1-3 e 34-35).

• Os Salmos estão repletos de referências às nações e ao projeto de Deus para todos os povos (Sl
22:27-28; 47:1-2; 7-8; 65:5; 67:1-7; 98:2-4). Deus tinha a intenção de que o Seu nome fosse
glorificado entre todos os povos (Sl 18:49; 46:10; 48:10; 57:911; 66;1-4; 72:17-19; 86:9; 96:1-3;
100:1; 108:3-5; 113:4; 117:1).

NOVO TESTAMENTO
Ministério de Jesus
• João 10:14-17 – さ Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim,
assim como o Pai me conhece a mim, e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas. Ainda
tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz;
então, haverá um rebanho e um pastor. Por isso, o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para
a reassumir.ざ. As ovelhas ケ ue ミ ão são さ deste ap ヴ isIo ざ ふ os judeus ぶ são os ge ミ tios,
isto é, todos ケ ue ミ ão são judeus. Jesus pretendia fazer de todas as Suas ovelhas (judeus e gentios)
um só rebanho e Ele seria o Supremo Pastor sobre todas as ovelhas.

• Durante seu ministério terreno, Jesus cuidou de muitos que não eram judeus. Apesar de Seu
enfoque principal ter sido o povo judeu, Ele ministrou a pessoas de outras etnias também: à
mulher samaritana (Jo 4), à mulher siro-fenícia (cananeia –Mc 7:26-30), a um surdo e gago do
território de Decápolis (Mc 7:31-36) e a um gadareno (geraseno) endemoninhado (Lc 8:26-36).

A Grande Comissão
Muito mais poderia ser dito a respeito do ministério de Jesus e de como estendeu a mão aos gentios, no
entanto, as referências mais marcantes de Jesus a respeito da missão do cristão para alcançar as nações
se encontram no que é conhecido como さ A G ヴ a ミ de Co マ issão ざ. Temos cinco versões, uma em
cada Evangelho e mais uma no livro de Atos:
• Mateus 28:18-20 – A Grande Comissão tem o respaldo da autoridade de Jesus. Missão não é
realizada devido à nossa presunção ou iniciativa, mas sob a autoridade e ordem de Jesus. A única
ordem dada aqui (no grego ぶ é さ fazei discípulos ざ. Os discípulos são formados ao ir a todas as
nações e estas devem ser ensinadas. A atividade missionária será realizada com a presença e ajuda
de Cristo até ao fim desta era.
• Marcos 16:15 – O さ ide ざ, neste versículo, é u マ a o ヴ de マ. Deve マ os i ヴ さ por todo o mundo
ざ p ヴ ega ミ do o Evangelho a todos, sem distinção de etnia, condição socioeconômica ou religião.

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• Lucas 24:44-49 – A missão é realizada em nome de Cristo e o conteúdo é a pregação da
necessidade de arrependimento para remissão de pecados. Esta pregação deve se ヴ feita さ a
todas as nações ざ.
• João 20:21b – Somos enviados pelo próprio Jesus Cristo. O modelo é o envio dEle pelo Pai.
• Atos 1:8 – A missão é realizada através do poder do Espírito Santo que nos capacita a sermos Suas
testemunhas. A amplitude do nosso testemunho deve ser tanto local, quanto regional, nacional e
até aos locais mais longínquos do planeta.

Atos e as Epístolas
• O livro de Atos (história dos primeiros 30-35 anos da Igreja) nos mostra a Grande Comissão sendo
cumprida pelos discípulos pelo poder do Espírito Santo.
• A partir do dia de Pentecostes, a igreja em Jerusalém começou a se multiplicar rapidamente. Já no
primeiro dia três mil pessoas se converteram e foram batizadas (At 2:41). Logo o número subiu
para cinco mil (At 4:4) e a cada dia mais pessoas eram acrescentadas (At 5:14; 6:7; 9:31; 12:24).
• Com a perseguição, os cristãos se espalham principalmente para outros lugares da Judeia e da
Samaria (At 8:1). Por toda parte aonde iam, os cristãos pregavam a Palavra (At 8:4). Filipe, Pedro
e João evangelizaram a região da Samaria (At 8:5-25).
• Pedro é enviado a Cesareia para pregar o Evangelho aos gentios da casa do centurião romano
Cornélio. Nesta ocasião Pedro reconhece que Deus não faz acepção de pessoas e que o Evangelho
é para todas as nações (At 10:34-35).
• A evangelização não ficou somente no âmbito da Samaria, mas se expandiu até a Fenícia, Chipre e
Antioquia, na Síria. No início esta evangelização era feita somente para outros judeus (At 11:19-
20), mas em Antioquia começaram a evangelizar também os gentios (gregos). Muitos se
converteram em Antioquia e uma igreja multiétnica se desenvolveu (At 11:21 e 24; 13:1). Esta
igreja tornou-se missionária, enviando seus líderes em viagens missionárias por outras nações (At
13:2-3).
• Estas viagens missionárias de Paulo e seus companheiros, com a pregação do Evangelho, resultam
em conversões e na implantação de igrejas por toda a Ásia Menor (hoje Turquia), Europa (hoje
Grécia) e ilhas do Mediterrâneo (Chipre e Creta).
• Finalmente os missionários chegam a Roma, capital do Império Romano, onde já existe uma igreja.
• Igrejas em cidades como Filipos, Tessalônica e Éfeso passam a ser igrejas missionárias.

Princípios da Expansão Missionária:


• Identificação com os perdidos: os missionários neotestamentários buscavam os perdidos onde
estavam.
• Ligação estreita co マ u マ a igreja さ e ミ viadora ざ: os missionários voltavam à igreja enviadora e
prestavam contas do trabalho realizado (At 14:26-28).

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• Prioridade para as cidades importantes: Paulo e sua equipe de missionários escolheram
estrategicamente evangelizar as cidades do Império Romano que eram grandes centros de
administração, economia, cultura e religião.
• Batismo, discipulado e envolvimento dos convertidos: em praticamente todas as cidades por onde
passaram pregando o Evangelho, pessoas se converteram, foram batizadas, discipuladas e
lideranças locais foram escolhidas (At 14:21-23).
• Liderança em equipe: Paulo trabalhou em equipe. Muitos foram os seus
companheiros e ajudantes: Barnabé, Silas, Timóteo, Tito, Lucas, Priscila, Áquila e outros (ver
também At 20:4).

O Evangelho é para todos os povos:

• Jesus é o único meio de salvação para todas as pessoas em todos os lugares (Jo 14:6; At 4:12; 1Tm
2:5-7).

• O Evangelho traz salvação a todos os que creem, tanto judeus quanto gentios (Rm 1:16; 9:13).

• Fomos feitos embaixadores de Cristo para trazer reconciliação a todos (2Co 5:17-21).

• Para que o Evangelho seja eficaz, é necessário que seja pregado por pessoas enviadas para esse
fim (Rm 10:14-15).

• Todas as nações (povos) e todas as línguas adorarão ao Senhor Jesus (Fp 2:9-11; Ap 5:9-10; 7:9-
10).

3- A História de Missões
A história de missões é muito extensa e intrigante. É impossível contar todas as histórias de todos os povos
e movimentos missionários nestes últimos dois milênios. O que vamos tentar fazer é um breve resumo
destes acontecimentos, sendo necessário deixar de relatar muitos detalhes.

Winter salienta que ao longo de toda a história da propagação da Palavra de Deus e da expansão do
Cristianismo, isto nem sempre se deu pela obediência voluntária de Seu povo. Mesmo quando o povo de
Deus não se mobilizou para levar a Palavra transculturalmente, Ele ainda agiu para que os povos do
mundo O conhecessem. Winter fala de quatro mecanismos que Deus tem usado através da histó ヴ ia pa
ヴ a leva ヴ a sua さ história ざ aos confins da terra.

1. Ida voluntária (pessoas que intencionalmente saem de sua cultura para levar a Palavra de Deus a
outra cultura).
2. Ida involuntária (pessoas que foram deslocadas involuntariamente e desta forma levaram a
Palavra de Deus consigo).
3. Vinda voluntária (pessoas de outras culturas que vieram para dentro da cultura do povo de Deus
e ali ficaram conhecendo a Sua Palavra).

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4. Vinda involuntária (pessoas que foram deslocadas involuntariamente para dentro da cultura do
povo de Deus e ali ficaram conhecendo a Sua Palavra).

O quadro da página seguinte ilustra como em todas as épocas Deus tem Se utilizado destes quatro
mecanismos para Se fazer conhecer pelos povos da terra.

IGREJA ATÉ OS ERA MISSIONÁRIA


MECANISMO ANTIGO TESTAMENTO NOVO TESTAMENTO
ANOS 1.800 MODERNA

• Abraão para • Jesus em • Patrício para • William Carey


Canaã Samaria a Irlanda e outros missionários
• Os profetas • Pedro e • Celtas da 1a Era
menores pregaram a Cornélio peregrinam • Hudson
outras nações próximas • Paulo e pela Inglaterra e Taylor e os
Ida voluntária de Israel Europa
Barnabé em viagens missionários da 2a Era
Centrífuga • Fa ヴ iseus: さ missionárias • Frades vão • Terceira Era
rodeais o mar e a terra • testemunho para
(Expansiva) até o presente
para fazer um prosélito de outros cristãos na China, Índia, Japão e
ざ Babilônia, Roma, América
(Mt 23:15) Chipre etc. • Morávios vão
para a América do
Norte

• José vendido • A perseguição aos • Úlfila foi • Soldados


como escravo ao Egito cristãos os forçou a vendido como cristãos que lutaram
testemunha ao Faraó deixar a Palestina e escravo aos godos ao redor do mundo
• Noemi foram dispersos por • o bispo Ário voltaram para
testemunha a Rute em todo Império Romano quando exilado foi começar 150 novas
Moabe por causa da e até mais adiante. às regiões dos godos agências
fome • Cristãos missionárias
• Jonas – o capturados • Cristãos
missionário relutante a convertem os ugandenses fugindo
Ida Nínive vikings das atrocidades em
involuntária • a menina • Soldados seu país foram parar
Centrífuga hebraica cristãos foram em outras partes da
enviados por Roma África
(Expansiva) levada à casa de
Naamã à Inglaterra, • Cristãos
Espanha etc. coreanos fugiram
• os exilados
hebreus testificam na • Peregrinos para o sul, onde
Babilônia (Daniel, e puritanos que haviam poucos
Ester) foram forçados a ir cristãos e mais tarde
• Jeremias como para a América do foram enviados para
profeta às nações Norte trabalhar na Arábia
evangelizaram os Saudita, Irã e outros
indígenas ali países.

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• O sírio Naamã • Magos saíram • Os godos • Influxo de turistas,
veio ver Eliseu do invadem a Roma estudantes e pessoas
• A Rainha de Oriente para ir a Judá cristã e de negócios no
Sabá (Mt 2) aprendem sobre a fé Ocidente
Vinda
veio à corte de • Gregos cristã cristianizado
voluntária
Salomão procuraram Jesus • Vikings
Centrípeta invadem a Europa
• Rute escolheu • Cornélio
(Atração) deixar mandou chamar Pedro cristã e
Moabe para ir a Judá • Um eventualmente se
macedônio chama convertem
Paulo

• O rei da Assíria • O exército romano • Escravos foram • Refugiados


trouxe povos pagãos ocupou e infiltrou a trazidos da África políticos (países
Vinda para habitar em Israel comunistas, ditaduras
região da Galileia para as Américas
involuntária (2Re 17) etc.)
Centrípeta • Refugiados
de guerras,
(Atração)
desastres naturais
etc.

Existem muitas maneiras de se classificar a história de missões e da propagação do Evangelho pelo mundo
todo. Usaremos aqui uma classificação de Bill Jones, que divide a história da propagação do Cristianismo
em quatro períodos:

1. Período romano (33-476 d.C.)


2. Período medieval (476-1.517 d.C.)
3. Período da Reforma (1.517-1.792 d.C.)
4. Período moderno (1.792 até o presente)

Período romano (33-476 d.C.)

Constantino
reúne o
Concílio de Bizantina se
Úlfilas
Niceia torna
1a 2a 3a inicia
Fim da Martírio Edito de devido ao Constantinopla, Patrício Queda
viagem viagem viagem sua
Ascensão Era de Milão de capital do chega à de
de de de ensino de missão
(30/33) Apostólica Policarpo Constantino Império Irlanda Roma
Paulo Paulo Paulo Ário que aos
(100) (156) (313) Romano (432) (476)
(4849) (5052) (5357) dizia godos
Oriental
que Jesus (341)
(330)
não era
Deus (325)

Vimos que Jesus deixou uma missão aos Seus discípulos para que fossem testemunhas em Jerusalém,
Judeia, Samaria e até os confins da terra. Os discípulos tinham uma missão bastante abrangente. A Bíblia
não nos informa sobre o ministério de todos os discípulos/apóstolos após o dia de Pentecostes, mas a
tradição nos informa que cada um deles exerceu um ministério em regiões bem distantes da Palestina,
onde pregaram o Evangelho e estabeleceram igrejas.

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O apóstolo Paulo se converteu e foi em especial comissionado por Deus para a pregação do Evangelho
entre os gentios, principalmente onde o Evangelho ainda não havia chegado (veja At 22:12-15, 21; Rm
15:15-16, 21). A estratégia utilizada por Paulo foi a de formar uma equipe com vários colaboradores. Ele
fez várias viagens, passando tanto por locais pioneiros, onde o Evangelho ainda não havia sido pregado,
como também voltando às cidades anteriormente evangelizadas para ensinar e encorajar os fiéis.
Havendo uma sinagoga nas cidades onde ainda não havia uma igreja, Paulo ali entrava para explicar as
Escrituras aos judeus que já possuíam certo conhecimento da Palavra de Deus. Invariavelmente ele era
expulso da sinagoga e voltava sua atenção para a pregação aos gentios (os povos que não eram judeus).
Com os convertidos da localidade,uma igreja local era assim estabelecida e ele continuava sua viagem.

Em alguns locais Paulo passou mais tempo ensinando e preparando líderes para continuar a tarefa de
evangelização e pastoreio do rebanho local (Antioquia, Éfeso, Corinto etc). Fica claro que sua estratégia
era primeiramente alcançar as cidades mais importantes, estabelecendo ali uma igreja forte, de onde o
restante da região pudesse ser alcançado.
Úlfilas foi um dos maiores missionários da Igreja antiga. Seu ministério foi entre os godos, u マ a et ミ ia さ
Há ヴ Ha ヴ a ざ, que vivia fora do Império Romano onde é hoje a Romênia. Ele nasceu em 311 d.C. e foi
criado na cultura pagã dos godos. Acredita-se que sua mãe fosse gótica e seu pai, um cristão da Capadócia
que fora levado cativo por uma invasão gótica. Quando tinha pouco mais de vinte anos foi enviado a
Constantinopla para trabalhar no serviço diplomático. Durante os anos em que ali esteve, foi influenciado
pelo Bispo Eusébio, um ariano, passando, então, a divulgar a doutrina ariana.

Aos trinta anos, depois de passar quase dez anos em Constantinopla, Úlfilas foi consagrado bispo aos
godos que viviam ao norte do Rio Danúbio. Aparentemente já existiam alguns cristãos, pois, do contrário,
ele não teria sido nomeado bispo. Entretanto, o interesse maior de Úlfilas era a evangelização e ele o fez
durante 40 anos. Seu trabalho foi bem-sucedido, mas marcado por muita perseguição. Sua maior obra foi
a tradução da Bíblia para a língua nativa dos godos. A língua era oral, portanto Úlfilas precisou
primeiramente desenvolver um alfabeto para, então, começar a tradução. Esta foi a primeira ou talvez a
segunda vez de que se tem notícias de um missionário cristão ter desenvolvido um alfabeto para poder
traduzir as Escrituras. Úlfilas morreu aos 70 anos de idade e seus sucessores continuaram a tarefa da
evangelização dos godos.

Patrício (São Patrício: 389-461 d.C.) não era nem católico romano e nem irlandês, no entanto, seu nome
está estreitamente ligado ao catolicismo irlandês. Foi canonizado pela Igreja Católica Romana cerca de
duzentos anos após sua morte para influenciar a Igreja Celta a se unir à Igreja Romana. Patrício nasceu
em família cristã na província romana da Bretanha em 389 d.C. Seu pai era diácono e seu avô, sacerdote
na Igreja Celta. Isto se deu antes da dominação romana, quando a maioria do clero era casada. Quando
ainda jovem, sua cidade foi invadida por um grupo de irlandeses e a maior parte dos meninos foi
sequestrada e vendida como escravos, incluindo Patrício. Durante seis anos cuidou de uma manada de
porcos.

Apesar de nascido em família cristã, Patrício não tinha uma fé pessoal em Deus. Durante os anos de
escravidão, passou a refletir sobre sua condição espiritual e consequentemente sua vida mudou.
Conseguiu fugir de seu senhor e voltar à Bretanha. De lá Patrício foi para a Ilha de São Honorato, na costa
da Riviera francesa, onde ficou recluso em um monastério durante algum tempo. De volta à Bretanha
relata ter sido chamado por Deus para voltar à Irlanda.

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Quando chegou à Irlanda em 432 d.C., existiam alguns cristãos isolados, mas a grande maioria deles era
pagã: adoravam o sol, a lua, o vento, a água, o fogo e as rochas, acreditando que toda sorte de bons e
maus espíritos habitavam as árvores e os montes. A magia e o sacrifício (incluindo o sacrifício humano)
faziam parte dos ritos religiosos praticados pelos druidas e sacerdotes pagãos.

Patrício morreu em 461, após 30 anos de evangelização, deixado 200 igrejas organizadas e cerca de
100.000 batizados. A religião druida sofreu um sério revés e foi substituída pelo Cristianismo.

Durante o período de domínio romano, a Igreja obteve um forte crescimento, como se lê nos testemunhos
de Justo Mártir (150 d.C.), Tertuliano (200 d.C.), Orígenes (250 d.C.) e na citação abaixo, de Eusébio (325
d.C.):
Ao final do período romano, a Igreja Cristã se estendia do Mediterrâneo à Índia.

Período medieval (476-1517 d.C.)


Fatos (476) (800) (962) A (1260) (1269) Kublai (1300) (1492) (1517)
históricos queda Carlos coroação Marco Polo Khan pede Início da Colombo parte as 95
de Magno de Oto vai à China. missionários Renascen rumo à teses de
Roma coroado inicia o ça América Lutero
imperador Santo
Império
Romano
Celtas (563) (718)
(500800) Columba Bonifácio
chega à chega à
Inglaterra Alemanha
Nestorianos
(480-1250)
Ortodoxos (869) (885)
(800-1100) Morre Morre
Cirilo Metódius
Católicos (1209) (1215) (1315)
(1209 em Francisco de Surgimento Martírio
diante) Assis funda a da ordem de
Ordem dos Raymond
Franciscana dominicanos Lull

Islã (622 em (732) (1095) (1291) Film (1453) (1492)


diante) Batalha de Início das das Crusades Constantinopla Mouros
Tours; Crusades passa a ser expulsos
mouros Istambul da
derrotados Espanha

Precursores (1170) Peter (1385) (1415) John


da Reforma Waldo Morre Huss é
Protestante John queimado
Wycliffe

Os três impérios principais deste período foram:


• o islâmico (de 622 até depois de 1517 d.C.),
• o oriental (Bizantino, grego – 476-1453 d.C.) e
o ocidental (germânico) o Carlos Magno (800-846 d.C.) – seus filhos dividiram o império
em três partes (basicamente França, Alemanha e norte da Itália), o Santo Império
Romano (962 d.C. em diante) – a facção alemã.
11
Durante este período da história houve quatro movimentos missionários que são dignos de nota.

1. A Igreja Celta
O fato de os monges itinerantes celtas terem evangelizado boa parte da Bretanha e da Europa Central e
Ocidental é uma das grandes façanhas missionárias de todos os tempos. Os irlandeses nunca foram
conquistados pelos romanos, mas se tornaram os instrumentos pelos quais muitos dos invasores do
Império foram evangelizados. Um Cristianismo celta vibrante surgiu na Irlanda e não era dependente do
favor imperial para sua sobrevivência, sendo independente do Papa em Roma, tanto em estrutura quanto
em doutrina. A igreja celta reteve algum fervor do Cristianismo apostólico em sua visão missionária, que
foi perdida pelos centros de poder do mundo cristão. Apesar de independente de Roma, duzentos anos
após o Concílio de Whitby em 664 d.C., a autoridade papal começou a se impor adotando dois dos heróis
do Cristianismo celta.

A. Columba (São Columba) – Da Irlanda à Inglaterra


Um dos missionários celtas mais famosos foi Columba, nascido em família nobre irlandesa em 521
d.C. e criado na fé cristã. Ainda jovem entrou para um monastério e foi ordenado diácono e depois
sacerdote. Seu zelo evangelístico tornou-se logo evidente, sendo responsável pela implantação de
várias igrejas e monastérios na Irlanda. Apesar de ser considerado santo, era também briguento.
Envolveu-se em uma batalha contra o rei, onde morreram 5.000 homens. Em 563 d.C., aos 42 anos
de idade, fugiu da Irlanda e jurou converter o mesmo número de almas quanto daqueles que
haviam perdido a vida em batalha.

Columba causou grande impacto na Bretanha, estabelecendo-se na Ilha de Iona, na costa da


Escócia, onde construiu um monastério. Ali preparou evangelistas que saíram pregando o
Evangelho, construindo igrejas e outros monastérios. O próprio Columba saía em viagens
evangelísticas, quando muitos se convertiam. Como Patrício, também precisou enfrentar a magia
dos druidas com o poder de Deus.

B. Bonifácio – da Irlanda à Alemanha


Bonifácio foi pregar aos povos germânicos pagãos. Empregou um estilo agressivo, desafiando os
seus deuses, demolindo altares, cortando árvores sagradas e construindo igrejas em locais
considerados santos pelos pagãos. Bonifácio se comunicava na língua do povo. Trouxe freiras da
Inglaterra, construiu monastérios e
recrutou monges entre o povo local. Seu sustento, em ofertas, vinha da Irlanda, para onde também
enviava relatórios.

2. A Igreja Nestoriana
Poucos conhecem a história da expansão missionária desenvolvida por estes cristãos. No ano 1.000, os
nestorianos haviam se espalhado da Síria ao Irã e Iêmen, atravessando em seguida a Ásia Central, a
Mongólia, o Tibet, a China e partes da Índia, Tailândia e Burma. Seus números chegavam a 12 milhões de
membros associados a igrejas em 250 dioceses. No século 13 havia 72 patriarcas metropolitanos e 200
bispos na China e regiões adjacentes. Representavam 24% dos cristãos da época e formavam 6% da
população da Ásia.

12
Nestório foi bispo de Constantinopla até ser excomungado por heresia em 430 d.C. em um sínodo em
Roma. As razões de sua excomunhão não foram somente teológicas, mas também culturais e políticas.
Este foi um período de disputa teológica intensa quanto à relação do divino e do humano na pessoa do
Senhor Jesus Cristo. O Credo Niceno definiu Jesus como sendo tanto divino quanto humano. Os
monofisitas (como os da Igreja Ortodoxa Copta no Egito e na Etiópia) enfatizavam o aspecto divino de
Cristo e os nestorianos, o Seu aspecto humano. Os nestorianos efetivamente criam que Jesus era
constituído de duas pessoas e que Suas naturezas divina e humana nunca se uniram.

Devido a esta posição teológica foram considerados hereges e banidos do Império Romano, fugindo para
o Iraque e o Irã. Nem todos os cristãos destes países mantinham esta crença, mas o restante dos cristãos
os ignorou, considerando-os hereges. A partir de 640 d.C. e durante 600 anos pouco se soube no Ocidente
o que ocorria no Oriente por causa da barreira muçulmana.

Apesar das dificuldades que enfrentava, a Igreja Nestoriana se dispôs a atravessar cadeias montanhosas
(as mais altas do mundo) em longas e extenuantes viagens para pregar o Evangelho. Levou consigo muito
conhecimento bíblico e teológico, estabeleceu monastérios missionários semelhantes aos da Igreja Celta
e aprenderam várias línguas novas, para as quais traduziram as Escrituras.

Este movimento entrou em declínio e, em 1500 d.C., quase não existia mais. O que aconteceu?
Internamente a Igreja sofreu com o formalismo (ritualismo), o sincretismo (mistura com outras religiões)
e o conformismo com o mundo. Externamente o movimento sofreu muita pressão política e religiosa dos
imperadores taoístas da China, dos muçulmanos e dos mongóis que sistematicamente exterminavam os
cristãos. Hoje permanece apenas um remanescente apático e passivo deste cristãos, com menos de 200
mil membros nos países do Oriente.

3. A Igreja Ortodoxa
É a igreja associada à capital oriental do Império Romano (Constantinopla), que oficialmente separou-se
da igreja ocidental (Roma) em 1054 d.C. Os missionários ortodoxos mais famosos foram dois irmãos:
Constantino (conhecido mais tarde como Cirilo, 825-869 d.C.) e Metódius (c. 815-885 d.C.).

Esta foi uma época em que religião e política se misturavam muito e houve intensa disputa entre as igrejas
Ocidental (Roma) e Oriental (Constantinopla). O rei da Bulgária pediu missionários a Roma e o rei da
Morávia (Eslováquia) pediu missionários à Igreja Oriental. Léo III enviou os irmãos Constantino e
Metódius. Antes mesmo de partirem de Constantinopla, haviam tomado a decisão de que a evangelização
seria feita na língua eslava e assim desenvolveram um alfabeto para a língua que serve de base para as
línguas eslavas até os dias de hoje.

Roma insistia no uso do latim como a única língua a ser usada na liturgia. A vantagem foi a unidade que
trouxe à igreja. A desvantagem é que o povo quase nada compreendia nos cultos. Já a atitude da Igreja
Oriental foi totalmente diferente, encorajando os povos a usarem a língua materna e a construírem uma
igreja dentro de sua própria cultura e língua. A influência da língua grega sempre foi profunda, mas a
liberdade dada às igrejas regionais contribuiu para manter a unidade da Igreja Ortodoxa.

As sementes lançadas pelos irmãos Constantino e Metódius, fizeram brotar e formaram uma árvore que
cresceu a partir da Bulgária, passando pelos países eslovacos, Rússia e parte da Romênia.

13
4. A Igreja Católica Romana
A Igreja Ocidental, sob a liderança papal, estava mais inclinada a disseminar o Cristianismo pela pressão
política e ação militar do que pela evangelização através da pregação do Evangelho. Este padrão surgiu
durante a Idade Média e após a queda do Império Romano Ocidental. O desafio do poderio muçulmano
reforçou esta atitude, pois os muçulmanos haviam tomado todas as terras cristãs do Oriente Médio e da
África do Norte e estavam constantemente ameaçando a Europa. O resultado trágico deste pensamento
culminou na crueldade das Cruzadas contra o Islã na Palestina e a Inquisição contra muçulmanos, judeus
e, mais tarde, contra protestantes.

O Islã foi um desafio ao Cristianismo. Seu fundador, Maomé, nasceu em Meca em 570 d.C. Os árabes
adoravam centenas de deuses. Maomé teve uma experiência religiosa da qual disse ter recebido uma
visão do anjo Gabriel, que o comissionou a pregar contra a idolatria. Em três anos conseguiu poucos
adeptos e teve que fugir em 622 d.C. para Medina devido a fúria da população com a sua pregação. Esta
data marca o início do Islamismo. Maomé roubava caravanas rica e, com isso, formou um exército; voltou
à sua cidade natal e a conquistou. Destruiu todos os ídolos da Kaaba, menos uma pedra preta.

Maomé continuou pregando e, com sua vitória em Meca, seus ensinamentos se espalharam rapidamente.
Quando morreu, em 632 d.C., toda a Arábia havia aceitado seus ensinos. O Islamismo se alastrou
rapidamente, em especial através da conquista militar. Antes do ano 700 os muçulmanos já haviam
conquistado a Palestina, tornando Jerusalém uma das três cidades sagradas do Islamismo, juntamente
com Meca e Medina, na Arábia. A conquista continuou por todo o norte da África, avançando em seguida
pela Espanha e Portugal (mouros). O avanço foi contido no sul da França na Batalha de Tours em 732
(foram expulsos somente em 1492). Um novo avanço foi realizado pelo Oriente através da conquista de
Constantinopla (nome foi mudado para Istambul). A conquista da Europa foi contida nas portas de Viena
em 1529. A conquista da Ásia foi contida em 1564 d.C.

Foram batalhas sangrentas que serviram para aumentar uma inimizade entre as duas religiões que
perdura até os dias de hoje.

Esforços missionários neste período incluíram Francisco de Assis (1181-1226), que, antes do final das
cruzadas, foi em amor pregar ao sultão muçulmano. Raymond Lull (1232-1315) foi um monge franciscano
que dedicou toda sua vida à evangelização dos muçulmanos.

Um religioso francês do final do século XII, Peter Waldo, pregava uma mensagem de arrependimento e
vida simples. Criticava a elite da Igreja Católica por considerá-la corrupta e discordava de muitas de suas
práticas. Traduziu sem autorização a Bíblia para a língua da povo, pois somente o latim era autorizado.
Sua mensagem foi bem aceita pelo povo da França, Espanha, Itália e Alemanha. A Igreja Católica
excomungou os waldenses, como eram chamados os seguidores de Peter Waldo, e os perseguiu,
massacrando a maioria. Somente conseguiram sobreviver alguns poucos nos Alpes Italianos.

Na Boêmia, John Huss foi influenciado pelos escritos de John Wycliffe e veio a enxergar as inconsistências
entre a doutrina católica e a Bíblia, passando a criticar a Igreja Católica. Escreveu muitos artigos e pregou
incansavelmente contra os abusos da Igreja. Em 1415, ele foi sentenciado pela Igreja Católica e condenado
a morrer na fogueira.

14
Período da Reforma (1517-1792 d.C.)

1. A expansão católica
Vários fatores contribuíram para a expansão católica. As ordens monásticas, principalmente os
franciscanos, dominicanos e jesuítas, supriram um exército de missionários e uma estrutura eficiente para
o envio e controle deste contingente. A descoberta das Américas e da rota ao sul da África dando acesso
à Ásia, juntamente com o domínio marítimo da Espanha e de Portugal, possibilitaram a evangelização
mundial. O terceiro fator foi o choque sofrido na Europa pela Reforma Protestante, que impulsionou os
países católicos a conquistarem outros territórios.

1517 As Peregrinos Puritanos 1705 1732 Grande 1792


95 teses (Separatistas (da Igreja fundação Moravianos Avivamento William
de Lutero da Igreja da da da Missão iniciam Carey
PROTESTANTES Inglaterra) Inglaterra) Danish- missão parte
Haile para a
Índia

ORTODOXOS

1534 1847 1549 1593


Inácio de Bartolomeu Francisco Mateo
Loyola de las Casas Xavier no Ricci na
funda a deixa a Japão China
Ordem dos América (Jesuíta) (Jesuíta);
CATÓLICOS Jesuítas (Dominicano) Roberto
de Nobili
na Índia
(Jesuíta)

1529
Avanço de
Suleiman o
Magnífico
contido em
MUÇULMANOS Viena

A expansão católica se deu também por meio de interesses políticos, comerciais e econômicos. Os meios
de evangelização e conversão de povos indígenas das Américas, África e Ásia pela força e pela intimidação
eram muitas vezes escandalosos, mas produziram resultados. Espanha e Portugal chegaram a ter 1% de
sua população envolvida com a evangelização além-mar. A expansão católica diminuiu durante os séculos
XVII e XVIII, mas voltou a crescer nos séculos XIX e XX.

Mais uma vez vemos que a estrutura monástica iniciou e sustentou o esforço missionário, principalmente
as ordens que deliberadamente se estruturaram para serem móveis e para treinarem monges para pregar
e converter os pagãos (e hereges).

2. A Reforma: o nascimento do Protestantismo pela Reforma impulsionasse as igrejas protestantes da


Europa a levarem o Evangelho até os confins da terra durante um período de exploração e colonização
mundial que se iniciou para volta de 1500. Mas este não foi o caso. [...] Por que as igrejas protestantes
demoraram tanto para iniciar o seu programa マ issio ミ á ヴ io?ざ

Razões:

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▪ Teológica: os líderes acreditavam que a Grande Comissão fosse somente para os apóstolos.
▪ Eclesiástica: as igrejas eram pequenas e tinham muito conflito interno.
▪ Geográfica: o isolamento da Europa protestante dos campos missionários. A evangelização ficou
mais por conta dos países católicos da Espanha e Portugal.
▪ Estrutural: os protestantes não possuiam ordens monásticas como as dos monges católicos.

3. Os movimentos missionários que lançaram as bases para o movimento moderno de missões

A. O movimento pietista. Foi somente no século XVIII que os Protestantes começaram a acordar para
a sua responsabilidade de evangelização daqueles sem o conhecimento do Evangelho. Entre os
primeiros a reconhecerem esta responsabilidade encontramos os pietistas luteranos Philip
Spencer (1635-1705) e Hermann Francke (1663-1727). Francke, professor na Universidade de
Halle, transformou a universidade em escola de treinamento para evangelismo e missões.

O Rei Ferdinand IV da Dinamarca pediu ajuda à Universidade de Halle para o envio de missionários
às regiões da costa sudeste da Índia, controladas por ele. Desta iniciativa nasceu a Missão Danish-
Halle em 1705. Os primeiros missionários a chegarem à Índia foram Bartholomew Ziezenbaleg e
Henry Plütschau. O mais famoso dentre eles foi Christian Frederick Schwartz que chegou à Índia
em 1750 e ali permaneceu por 49 anos .

B. O movimento missionário morávio. Este segundo movimento está ligado ao primeiro por suas
raízes pietistas e por seu fundador, Nicholas Ludwig Von Zinzendorf, ter estudado na Universidade
de Halle, tendo Francke como seu professor. Von Zinzendorf era de família abastada e foi o líder
missionário que mais fez para avançar a causa de missões protestantes durante o século XVIII.

Em 1722, Von Zinzendorf deu abrigo em sua propriedade de Herrenhut, na Saxônia, Alemanha, a
um grupo de protestantes fugitivos de perseguição religiosa na Morávia. Em 13 de agosto de 1727,
durante um culto dos refugiados, um avivamento espiritual teve início. Estabeleceram naquela
noite uma vigília de oração a favor do mundo que funcionou ininterruptamente (24 horas por dia,
7 dias por semana) durante mais de 100 anos.

Em 1731 Von Zinzendorf se encontrou com duas pessoas da Groenlândia e um escravo caribenho
que lhe pediram missionários para suas terras de origem. No ano seguinte os morávios enviaram
missionários para as Ilhas Virgens e no ano seguinte para a Groenlândia. Nos próximos anos
missionários foram enviados para muitas outras regiões, incluindo a América do Norte, Suriname,
África do Sul, Algéria, China e Pérsia. A paixão por missões era tanta que alguns até se vendiam
como escravos para alcançarem terras distantes. Dentro de pouco tempo havia três missionários
no
campo para cada morávio que ficara em Herrenhut. Em 20 anos enviaram mais missionários do
que os protestantes haviam enviado nos 200 anos anteriores.

C. O Grande Avivamento – movimento evangélico avivalista. No século XVIII houve um grande


avivamento evangélico que teve início na Inglaterra e continuou na América do Norte. Este
avivamento trouxe um grande número de conversões genuínas e mudanças morais palpáveis na
sociedade.

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Os pregadores mais influentes na Inglaterra foram John Wesley (1703-1791) e George Whitefield
(1714-1770). Na América do Norte foram Whitefield e Jonathan Edwards (1703-1756).

Desde os anos de universidade, John Wesley, dedicou-se a uma vida piedosa rigorosa de oração e
estudo bíblico juntamente com um pequeno grupo de colegas.

Apesar de sua dedicação e esforço, Wesley só veio a entender o Evangelho da graça através de um
contato com missionários morávios a bordo de um navio que fazia a travessia do Oceano Atlântico
da Inglaterra para a América do Norte.

Wesley viajava milhares de quilômetros por ano a cavalo e pregava 3-4 vezes por dia, isto durante
40 anos. Ele reunia os convertidos na estrutura de acolhimento e obras sociais que a Igreja
Metodista havia criado. Neste período esta igreja foi uma das mais dinâmicas na expansão do
Reino de Deus para o mundo inteiro. O Grande Avivamento despertou milhares de pessoas para
as necessidades do mundo e muitos dos influenciados formaram a base para o movimento
moderno de missões.

Período moderno (1792 até o presente)

Este período pode ser analisado por muitos ângulos. Usaremos a abordagem feita por Ralph Winter, que
divide estes mais de 200 anos em três eras.

Primeira Era (1792-1910) Segunda Era (1865-1980)


Terceira Era (1934 até o
presente)

Foco central Regiões costeiras Interior Povos

Pioneiros William Carey Hudson Taylor Cameron Townsend,


Donald McGavran e Ralph Winter

Principal Base de Apoio Europa Estados Unidos Terceiro mundo

Movimentos estudantis Student Volunteer Movement


Society of the Brethren SFMF (1936);
(Haystack Prayer meeting) Urbana (1946)

Novas agências missionárias ABCFM, LMS, BMS SIM, AIM, CIM Wycliffe, Pioneers, Frontiers

1. Primeira Era: regiões costeiras (1792-1910)


A grande figura missionária deste período foi William Carey e a atuação da Sociedade
Missionária Batista. Foi um período em que predominaram as missões denominacionais e as longas
viagens por mar e terra para campos missionários distantes. As comunicações eram difíceis. Missionários
na China tinham que esperar em média um ano para receber resposta de uma carta enviada à Europa.
Não é de se admirar que as ilhas e as regiões costeiras foram muitas vezes o alvo maior da evangelização
neste período.

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William Carey (1761-1834) se converteu aos 20 anos de idade e logo foi consagrado pastor de uma igreja
rural na Inglaterra. Ganhava a vida como sapateiro e lia todos os livros que conseguia, principalmente os
que continham descrições de outros países e povos. Pelas suas leituras ele foi construindo um mapa em
um mural e anotando todas as informações que conseguia. Como autodidata aprendeu latim, grego,
hebraico, italiano, francês e holandês. Em 1792 escreveu um livreto de 87 páginas: Uma enquete da
obrigação do cristão em usar todos os meios possíveis para a conversão dos pagãos (título abreviado).

No mesmo ano da publicação deste livro foi formada a Sociedade Missionária Batista e Carey foi
voluntário para ir a campo como o primeiro missionário. Ele encontrou muitas dificuldades para partir,
incluindo a recusa inicial de sua esposa em acompanhá-lo. Carey finalmente partiu em junho de 1793 para
a Índia, onde suas atividades foram inúmeras.

2. Segunda Era: interior (1865-1980)


Uma nova visão, um novo paradigma e uma nova forma de trabalhar seriam necessários para que o
Evangelho fosse pregado em regiões ainda não alcançadas. Uma das principais características de missões
nesta era foi a da penetração geográfica com o desejo de pregar o Evangelho a cada pessoa. Uma ênfase
menor foi dada ao discipulado e à implantação de igrejas. Outra característica foi o recrutamento de
pessoas comuns sem a mesma instrução teológica dos pastores ordenados.

Esta nova dimensão do movimento missionário, aliado ao colonialismo, à maior facilidade para viajar, ao
avivamento espiritual e ao declínio de outras religiões mundiais, levou a uma expansão da evangelização
para regiões ainda não alcançadas pelo Evangelho. O sucesso desta onda foi de tamanha proporção que
havia uma expectativa de se poder terminar a evangelização mundial até o final do século XIX. O lema da
época era: A evangelização do mundo nesta geração. Este otimismo acabou sendo um pouco exagerado.
Na época não se sabia que existiam cerca de 6.500 línguas faladas no mundo e que apenas 537 delas
possuíam alguma porção das Escrituras traduzidas. O total de cristãos protestantes na América Latina,
África e Ásia em 1900 era de cerca de 4 milhões, ou seja, apenas 0,4% da população total destes
continentes, com 8-9 mil missionários tentando alcançá-los.

Outro fator importante deste período foi o Movimento Estudantil Voluntário. Em 1883-84, um grupo de
sete seminaristas de Cambridge (Inglaterra) respondeu ao chamado para missões. Após terminar o
seminário, visitou muitas igrejas na Inglaterra e incendiou o coração dos fiéis para a obra missionária. Em
1885, o grupo partiu para a China. Muitos outros estudantes se entregaram à obra missionária e foram
ao campo nos anos seguintes.

Nos Estados Unidos um movimento semelhante se espalhou pelas universidades. Nos anos de 1886-87
um total de 2.106 universitários se entregaram à obra missionária e até 1945 o movimento havia enviado
20.500 universitários.

3. Terceira Era: povos não alcançados (1934 a presente)


Esta era teve iniciou com o trabalho de Cameron Townsend e Donald McGavran. Townsend enfatizou os
grupos linguísticos que ainda não possuíam a Bíblia em sua língua. A primeira abordagem foi
etnolinguística (agrupamentos definidos pelas diferenças linguísticas ou étnicas) e a segunda foi
sociocultural (agrupamentos definidos levando-se em consideração preconceitos e tradições culturais
sutis). Vários foram os fatores que trouxeram desafios à obra missionária durante o século XX: explosão

18
demográfica, ressurgimento das religiões não cristãs, tensões econômicas entre ricos e pobres,
surgimento da teologia liberal e libertacionista, guerras mundiais e governos totalitários.

Cameron Townsend (1896-1982) tornou-se missionário através do Movimento Estudantil Voluntário. Em


1917 foi para a Guatemala para vender Bíblias em espanhol. Lá percebeu que muitas etnias indígenas no
país não possuíam língua escrita, não eram alfabetizadas e também não possuíam a Bíblia em espanhol.
A partir de 1919 Cameron dedicou 10 anos ao aprendizado da língua Cakchiquel, desenvolveu um alfabeto
e então traduziu a Bíblia naquela língua. Sua visão foi a de repetir este procedimento com tantas outras
línguas que ainda não possuíam a Bíblia. Em 1934 ele fundou a Missão Wycliffe Bible Translators (Missão
Wycliffe para a Tradução da Bíblia) que finalmente se tornou a maior missão evangélica, com quase 5.000
missionários, e que efetuou a tradução da Bíblia para centenas de línguas. A Igreja começou a mudar sua
visão de missões como sendo por região geográfica para uma visão de missões por grupos culturais e
linguísticos.

4- O Plano de Missões

O Alvo de Missões:
Evangelismo
Ensino
Obras sociais
Estabelecimento de igrejas locais

1. Evangelismo
Evangelismo no campo missionário é anunciar as boas novas de salvação àqueles de outra cultura e
língua.
Fases do evangelismo (nossa parte):
• O testemunho: a demonstração do Cristianismo em ação através de nossas vidas. Existe uma
fase de preparação do coração das pessoas. A maioria delas não dará ouvidos imediatamente
a algum estrangeiro que venha falando de uma religião diferente. É necessário ganhar a
confiança e a credibilidade das pessoas antes que estejam prontas para ouvir o Evangelho. O
testemunho de uma vida íntegra, com as evidências do fruto do Espírito fala mais alto que as
palavras do missionário. A demonstração de amor pelo povo conquista o seu coração.

• A proclamação: comunicando verbalmente (de forma oral ou por escrito) o plano da salvação.
Para uma comunicação eficaz, vários fatores precisam ser levados em consideração:
o A proclamação na língua materna do ouvinte é sempre mais eficaz e mais impactante.
o Não basta traduzir para outra língua o que queremos dizer; devemos nos certificar de que
as palavras possuam o mesmo sentido.

• A persuasão: procurar convencer da verdade do Evangelho. Não basta comunicar


corretamente a mensagem de maneira a ser entendida; é necessário trabalhar para persuadir
a pessoa de que o que dizemos é a verdade. Na realidade, somente o Espírito de Deus pode
convencer alguém da verdade (Jo 16:8), mas geralmente Ele usa Seus servos como

19
instrumentos para que isto ocorra (At 18:28; Tt 1:9). Não é nossa responsabilidade converter
a pessoa (esta responsabilidade pertence ao Espírito Santo), mas é sermos fiéis na pregação
da Palavra.

2. Ensino – é de grande importância ensinar e fortalecer os novos convertidos.


• Uma vez que o Evangelho é ouvido e que haja um interesse ou ocorra uma conversão, devemos
ensinar o que ensina a Palavra de Deus.
• Jesus ensinou a multidão e Seus discípulos, dando-lhes também esta mesma tarefa. Paulo ensinava
nas sinagogas, nas casas e mentoreava vários obreiros, deixando-lhes instruções de que estes
também deveriam passar adiante os mesmos ensinamentos. Veja Mt 28:20; Jo 8:31; Ef 4:11-12; Cl
1:28 e 2Tm 2:2, dentre outros.
• O ensino exerce a função de desenvolver o amadurecimento espiritual e multiplicar novos
convertidos.
• Para que o Corpo de Cristo funcione bem, deve haver na igreja um equilíbrio entre evangelismo e
ensino.

3. Obras sociais – a igreja deve estar envolvida com a sociedade ao seu redor (Tg 2:14-16).
• As obras sociais podem ser uma forma de evangelização. Estas obras podem construir pontes que
se tornarão plataformas para evangelização.
• Obras sociais podem ajudar a restabelecer a justiça social na comunidade e trazer grandes
benefícios a indivíduos e a comunidades inteiras, fazendo uma grande diferença.
• Uma forma de demonstrarmos o amor de Cristo é através de obras sociais (Mt 25:35-46).

4. Estabelecimento de igrejas locais


Quando a obra missionária produz convertidos, um local onde se congregar se faz necessário. Todo
cristão deve fazer parte de uma igreja local, pois geralmente é na igreja que a comunhão e o ensino
são realizados. Vemos o exemplo do apóstolo Paulo que estabeleceu igrejas por onde passava
evangelizando (At 14:21-23).

O resultado de missões: uma Igreja autóctone:


O resultado de um projeto missionário bem executado, que alcança todos os alvos enumerados acima,
leva à implantação de uma igreja bíblica que terá recursos próprios para alcançar o restante da sua cultura
com o Evangelho de Jesus Cristo. Uma igreja autóctone é uma igreja formada não de estrangeiros, mas
por pessoas nativas da cultura local. Esta igreja autóctone apresenta algumas características desejáveis:

• Governo próprio: não depende da missão que a estabeleceu.


o A liderança da igreja é formada por pessoas que pertencem à cultura local.
o O modelo de liderança deve ser tanto bíblico quanto adaptado às condições locais.
o A igreja local toma suas próprias decisões sem ser dependente de estrangeiros. Isto não
significa que a igreja não possa consultar irmãos de outras culturas.

20
• Auto-sustentável o A igreja local não depende das finanças da missão para a sua sobrevivência e
funcionamento. o A igreja local pode entrar em parceria com igrejas ou organizações de outras
culturas com a finalidade de facilitar e acelerar projetos de evangelização.

• Multiplicadora o Capaz de evangelizar e ganhar almas. o Capaz de implantar novas igrejas.


o Capaz de fazer missões.

O modelo bíblico nos relacionamentos entre indivíduos e igrejas não é nem de dependência cega e nem
de independência, mas de interdependência, como nos ensina a analogia do corpo humano. Cada
membro possui dons e função dentro do Corpo de Cristo. Se cooperarmos e trabalharmos em união,
poderemos alcançar muito mais pelo Reino de Deus.

Características da atividade missionária


Usando-se princípios bíblicos, ao empreendermos um projeto missionário, observamos várias
características desejáveis na atividade missionária:

1. Transcultural
A atividade missionária não se dá somente na mesma cultura do missionário, mas principalmente ao
se atravessar barreiras culturais e linguísticas. É entrar em uma cultura diferente da sua, onde se fala
uma língua diferente da sua. Não é simplesmente atravessar as fronteiras de um país a outro. Por
exemplo, sair do Brasil e ir para os Estados Unidos evangelizar brasileiros e implantar uma igreja com
cultos em português não é fazer missões transculturais. Isto nada mais é que evangelismo para
pessoas de sua mesma cultura, apesar de se estar rodeado por outra cultura e língua.

Outro fator transcultural é que precisa haver uma contextualização do Evangelho e da Igreja. O
Evangelho precisa ser proclamado de forma relevante dentro daquela cultura. A Igreja tem que ser
relevante dentro daquela cultura, suprindo as necessidades das pessoas inseridas naquele contexto.
Por exemplo, um missionário brasileiro não deve ir à África ou à Ásia e realizar cultos no mesmo
modelo aos quais se habituou no Brasil (inclusive com músicas traduzidas do português). A música, as
orações, o estilo de pregação, a maneira de se vestir e sentar-se na igreja deve ser de acordo com a
cultura.

Às vezes a atividade missionária em outra cultura envolve a tradução da Bíblia, quando esta não estiver
disponível na língua materna local.

2. Internacional
Missões transculturais não é dever somente de países ricos, mas o dever dos povos de todos os países
que já receberam o Evangelho. A Grande Comissão é um empreendimento internacional. Nenhum
país ou países têm o monopólio desta tarefa.
A terceira maior igreja evangélica no mundo é a brasileira (atrás somente dos Estados Unidos e da
China).

O maior crescimento na área de envio de missionários ocorre hoje nos países em desenvolvimento. O
número de missionários desses países já é igual ou maior que o número de missionários de países

21
desenvolvidos. O Brasil ocupa entre a terceira e a quarta posição no número de envio de missionários
transculturais.

3. Cooperativa
Fazer missões requerem pessoas com uma variedade de dons espirituais, profissões e habilidades. O
esforço missionário precisa ser um trabalho de equipe, trabalhando tanto no campo quanto na base
de apoio – na(s) igreja(s) que envia(m). É necessário contar com pessoas com capacidade para pregar
e ensinar, com habilidade linguística para tradução da Bíblia, músicos, pessoas capacitadas em
aconselhamento, técnicos em informática, pessoas capazes de trabalhar com finanças, técnicos em
mídia (fazer vídeos, apresentações em PowerPoint etc), arrecadadores de fundos etc.

O apóstolo Paulo sempre trabalhou em equipe. Tinha colaboradores com os quais viajava; alguns que
enviava para lugares onde não ele poderia estar; e ainda outros que ficavam para trás cumprindo
tarefas importantes (exemplo: Áquila e Priscila). Além destas pessoas, Paulo contava também com o
apoio de várias igrejas, como a de Antioquia da Síria e a da Macedônia.

Cooperação envolve planejamento e coordenação, dentro da igreja e com outras igrejas. Poucas são
as igrejas que possuem os recursos humanos e materiais para manterem sozinhas um projeto
missionário. Geralmente é necessário a cooperação de várias igrejas parceiras (formando ou não uma
associação). A cooperação permite que igrejas menores possam se envolver de forma significativa no
esforço missionário e o resultado sempre será maior do que qualquer uma das igrejas poderia realizar
sozinha. Uma agência missionária pode ser muito útil na coordenação e no planejamento por sua
experiência adquirida e por sua especialização.

4. Integral
O trabalho missionário deve se preocupar com as necessidades existentes em todas as áreas do ser
humano: espirituais, físicas, psicológicas e sociais.
• Espirituais: evangelismo, ensino bíblico, formação de líderes.
• Físicas: questões de saúde (preventivas e curativas), econômicas, ajuda humanitária em situações
de catástrofe.
• Psicológicas: educação, aconselhamento, recuperação de viciados etc.
• Sociais: ajuda com projetos de desenvolvimento da comunidade, justiça social, ajuda na resolução
de problemas familiares etc.

Jesus nos deu o exemplo de um ministério integral.

5- A IGREJA ENVIADORA

Missões diz respeito à expansão global da Igreja. A responsabilidade pelo suprimento dos recursos
humanos e materiais para a expansão do Evangelho é principalmente da igreja local. Todas as igrejas
locais têm potencial para serem igrejas enviadoras.

Responsabilidades dos líderes

22
1. Pastor: o apoio e entusiasmo do pastor são imprescindíveis. O envolvimento da igreja com um
projeto missionário depende muito de seu posicionamento frente ao projeto. A igreja seguirá a
visão e a liderança do pastor.
2. Diretoria: a diretoria pode dar uma grande contribuição ao estabelecer diretrizes para o
envolvimento da igreja no projeto missionário. Ela pode estabelecer alvos financeiros, escolher
projetos de parceiria, etc.
3. Ministério ou comitê de missões. Toda igreja deve ter um ministério ou comitê de missões que
cuide dos detalhes do envolvimento da igreja durante o ano.
– Na escolha dos membros do comitê, deve-se colocar pessoas que possuem uma paixão pelas
almas perdidas de outros povos e que também têm algum conhecimento sobre missões.
– Uma das funções do comitê é o planejamento para envolvimento total dos membros nos
projetos missionários da igreja. Várias atividades podem ser organizadas para que isto ocorra:
o Poucos minutos em que informações são passadas à igreja apresentando algum povo,
necessidade ou notícias do campo. o Organização de uma conferência missionária anual.
o Organização de um culto com ênfase missionária. o Eventos para levantar recursos: lava-
carros, refeição (churrasco, pizza, feijoada, etc.), cantina, bazar, feira de artesanato, etc.
o Organização de sustento regular: ofertas mensais (seja por meio de carnês, de boletos etc).
o Promoção de oração regular por missões e pelos missionários sustentados pela igreja.
– Cada membro do comitê se responsabiliza por uma área. Possíveis áreas de responsabilidade:
o Eventos
o Correspondência com missionários e igrejas parceiras (ou missão) o Educação missionária:
informar a igreja da base bíblica de missões e da obrigação de cada cristão no seu
envolvimento pessoal
o Finanças
o Organização de viagens missionárias
o Oração
o Divulgação do trabalho desenvolvido pelo missionário, das necessidades dos povos não
alcançados

Responsabilidades da Igreja Local:


1. Educação missionária da igreja 2. Identificação e treinamento de novos missionários 3. Sustento em
oração 4. Sustento financeiro 5. Cuidados para com o missionário

1. Educação missionária da igreja


A igreja local tem, entre suas funções, a do ensino de seus membros. Existem muitos assuntos
diferentes que devem ser abordados pela igreja e entre estes está a necessidade de ensinar a igreja o
que a Bíblia ensina sobre missões. O ensino pode ser feito de diferentes maneiras e para grupos
distintos. Aqui estão algumas sugestões:
• Pregação e cultos com ênfase missionária;
• Momentos missionários, clips e vídeos mostrando os campos missionários;
• Escola Bíblica Dominical (EBD) e Escola Bíblica de Férias (EBF);
• Apresentação do trabalho por missionários em divulgação;
• Disponibilizar livros sobre missões na biblioteca da igreja;
23
• Mapas e cartazes mostrando localização e ministérios dos missionários;
• Conferência missionária anual;
• Viagens missionárias: visita de membros aos campos missionários.

2. Identificação e treinamento de novos missionários


A igreja local deve manter diante da congregação a necessidade de obreiros no campo missionário e
identificar aqueles que respondem ao chamado de Deus para serem missionários. Estes candidatos
devem receber um treinamento teológico geral e outro específico para missões. É também importante
que o candidato esteja envolvido com os ministérios da igreja. Alguém que não demonstre desejo de
trabalhar na igreja local não deve ser considerado para o campo missionário. Ações práticas da igreja
local:
• Orar pelo chamamento de obreiros (Mt 9:38);
• Compartilhar as necessidades específicas do campo missionário;
• Encorajar os membros a usarem seus dons e talentos para a obra do Senhor;
• Orientar e ajudar na procura ou escolha de um centro de treinamento apropriado;
• Seleção de agência missionária.

3. Sustento em Oração
A oração é uma atividade missionária da igreja muito importante. Motivos de oração:
• Pelo chamamento de obreiros;
• Pelas decisões que os missionários precisam tomar no campo;
• Pelas necessidades espirituais, emocionais e físicas dos missionários;
• Pela salvação de almas – para que o Espírito Santo prepare os corações;
• Pelos novos convertidos e pela igreja no campo;

Onde orar:
• Nos cultos principais da igreja (demonstrando prioridade);
• Reuniões de oração;
• Grupos pequenos;
• Em família;
• Individualmente.

4. Sustento financeiro
A noção de que as ofertas missionárias podem prejudicar a saúde financeira da igreja é um mito. Na
verdade, funciona de modo inverso. Quanto mais a igreja olha para fora de si mesma e contribui para
missões, maior é a bênção financeira da igreja. Quando a igreja está motivada e envolvida em missões,
a contribuição financeira não se torna difícil (Mt 6:20-21). As diretrizes da igreja decidem de que forma
o dinheiro arrecadado será utilizado.

Diversos sistemas que podem ser adotados pela igreja local para financiar missões:
24
• Percentual pré-estabelecido com base nas entradas da igreja;
• Quantia fixa pré-estabelecida das entradas da igreja;
• Uma oferta missionária anual;
• Compromissos individuais (compromissos mensais de contribuição assumidos por membros
da igreja).

Necessidades financeiras para o envio de missionários:


• Material de divulgação de missões e do trabalho do missionário;
• Custeio de divulgação (inclusive o deslocamento para igrejas parceiras);
• Salário do missionário (com encargos sociais);
• Plano de saúde;
• Plano de previdência;
• Passaporte e despesas com vistos de entrada;
• Passagens aéreas;
• Alojamento no campo (compra inicial de móveis);
• Transporte;
• Estudo da língua;
• Educação dos filhos;
• Métodos evangelísticos;
• Local de reunião;
• Equipamento;
• Bíblias e literatura de apoio;

5. Cuidados para com o Missionário


A igreja que envia um missionário transcultural ao campo faz um alto investimento. Cuidar bem do
missionário é cuidar deste investimento. Além do mais, a igreja precisa cuidar do missionário por ser
uma pessoa que precisa de cuidados especiais. Estes cuidados começam aqui, antes do seu envio,
continuam durante o tempo de sua permanência no campo e não terminam durante o retorno do
missionário para férias e divulgação. Além dos cuidados que toda igreja precisa ter com seus obreiros,
existem algumas necessidades que são específicas devido à natureza singular do trabalho
transcultural. É necessário ficar atento a estas particularidades.

Antes da partida para o campo:


• Preparação transcultural;
• Documentação (passaporte, visto de entrada no país, histórico escolar dos filhos, procuração
para alguém resolver negócios em sua ausência etc);
• Apoio para divulgação em outras igrejas parceiras (transporte, material de divulgação);

25
• Avaliação médica, exames, vacinas, etc;
• Pesquisa de método para remessa de dinheiro ao exterior;
• Necessidade de aprendizado do inglês;

No campo:
• Envio de necessidades pessoais (dependendo do local em que o missionário for viver, é
provável que não tenha acesso a certos materiais);
• Envio de ajuda para os projetos sociais desenvolvidos pelo missionário;
• Encorajamento (correspondência, revistas, livros, CDs);
• Supervisão:
o Adaptação cultural do missionário; o Progresso no aprendizado da língua;
o Desenvolvimento do projeto missionário anteriormente traçado; o Uso dos
recursos financeiros; o Manutenção de sua vida espiritual; o Relacionamento
com a equipe missionária e com a liderança.

Durante divulgação:
• Alojamento;
• Tratamentos (médico, dentário);
• Integração com igreja;
• Ajuda com divulgação;
• Reciclagem (cursos, seminários, retiros etc.). Em campo, o missionário passa pela experiência
de sempre dar, dar, dar, sem ter muitas oportunidades de receber e de さ recarregar suas
baterias ざ.
• Prestação de contas:
o Trabalho desenvolvido; o Vida pessoal (integridade, problemas familiares,
vida espiritual etc); o Financeiro (uso dos recursos, orçamento etc);

6 – O MISSIONÁRIO

Definição
Todo cristão deve testemunhar de Cristo. Guiados pela seleção do Espírito Santo, a Igreja de Antioquia
comissionou Paulo e Barnabé e os enviou a campo como missionários. Podemos então dizer que um
missionário é alguém selecionado e enviado pela Igreja para evangelizar outros povos.

Chamado e seleção
O missionário deve ter uma convicção íntima de que foi chamado por Deus para uma obra missionária.
Esta convicção íntima deve ser suficiente para mantê-lo no campo mesmo nos dias mais difíceis, em que
enfrenta cansaço, desânimo, perseguição, choque cultural, dificuldades de adaptação, solidão, saudades

26
e tantos outros sentimentos e empecilhos. Só a certeza de que se está no lugar certo, colocado ali por um
Deus que sabe todas as coisas, pode manter a fidelidade do missionário à tarefa para a qual Deus o
chamou. O chamado pode ser um pouco vago, mas é necessário confiar que, à medida que o tempo se
aproxima, Deus mostrará os detalhes da missão que lhe foi confiada.

Ao sentir-se chamado, o candidato deve examinar cuidadosamente sua motivação para seguir em missão.
Seria mesmo um desejo ardente de ver outros povos se entregando ao Senhor Jesus Cristo? Ou a
motivação seria de orgulho espiritual, reconhecimento, desejo de aventura ou algum outro motivo
egoísta? Se estiver certo de que sua motivação é nobre, o candidato deve então manter-se desimpedido
para que Deus possa usá-lo facilmente. Ficar desimpedido significa ter um cônjuge com as mesmas
convicções, estar livre de dívidas, de prestações e de obrigações de longo prazo que poderiam impedir a
sua saída para o campo missionário.

O candidato já deve estar engajado no serviço em sua igreja local e ter paixão pelas almas de sua própria
comunidade. Quem não trabalha e não testemunha na sua comunidade não o fará no campo missionário.
Em seguida, o candidato deve começar a se informar sobre a região para a qual ele sente ter um chamado
e dar início à sua preparação. Esta preparação inclui uma formação teológica, uma formação específica
em missões e instrução e experiência transcultural. A igreja local deve estar envolvida e acompanhando
todo este processo. Cabe à igreja a confirmação do chamado missionário. O pastor, os professores e
irmãos espiritualmente maduros que conhecem bem o candidato serão chaves no processo de
confirmação de seu chamado.

Qualificações do candidato a missionário


Não se pode aceitar o envio de qualquer pessoa da igreja ao campo missionário. O candidato deve
apresentar qualificações em várias áreas:
• Espiritual
– Caráter cristão, integridade, maturidade espiritual;
– Conhecer a Deus e manejar bem a Palavra (2Tm 2:15);
– Paixão pelo Reino de Deus;
• Social
– Ter iniciativa para fazer contatos sociais;
– Bom relacionamento com as pessoas;
– Testemunho de boa conduta;
• Acadêmica
– Escola teológica e/ou missionária
– Treinamento profissional (quando o projeto missionário for especializado; por exemplo,
projeto social na área de saúde);
– Estudo de línguas (às vezes o exige-se o conhecimento do inglês antes de partir para o
campo);
• Física
– Boa saúde;

27
– Boa forma física para suportar o estresse e eventualmente as condições adversas do
campo;
• Emocional / psicológica
– Equilíbrio emocional;
– Resistência emocional;

Preparação
• Orientação e informação
– Orientação dada pela agência missionária quanto aos procedimentos e documentação
necessários;
– Orientação no campo quanto ao trabalho já em fase de desenvolvimento; estratégias de
evangelização;
– Informações quanto ao país, povo e costumes, religião local, clima, etc; – Providências
quanto ao visto de viagem e vacinas.
• Divulgação
– Procurar igrejas parceiras;
– Buscar apoio em oração e financeiro;

Relacionamentos
Uma das principais causas de fracasso no trabalho missionário com abandono do campo está ligada aos
problemas de relacionamentos. O missionário precisa estar preparado para isto e a igreja deve
supervisionar esta área.

• Relacionamento com as igrejas:


– Igrejas parceiras. Imagine uma pessoa descendo dentro de um poço profundo e escuro,
presa a uma corda segurada por outras pessoas. Sua vida depende destas pessoas. Seu
retorno à superfície também depende delas. O missionário é aquele que está descendo no
poço e as igrejas os que estão segurando a corda. Sem o sustento das igrejas o missionário
não tem condições de realizar seu trabalho. É essencial que o missionário cultive um bom
relacionamento com suas igrejas parceiras. Para isto, é preciso prestar atenção à
comunicação e correspondência, postagem de notícias em blogs, relatórios, prestação de
contas etc. A qualidade do seu sustento financeiro e em oração estará diretamente
relacionado à qualidade de seu relacionamento com os parceiros e com a comunicação.
– Igrejas no campo missionário. O missionário deve também cultivar um bom
relacionamento com as igrejas evangélicas já existentes no campo missionário (quando
houver). É preciso lembrar que ele é o estrangeiro, um hóspede, aquele que vem de fora.
As igrejas locais existem em uma cultura diferente daquela do missionário. Ele deve tentar
entendê-las e serví-las e nunca controlá-las.

• Relacionamento com outros missionários:

28
– Muitas vezes o missionário no campo se encontra num círculo restrito de pessoas de
mesma cultura: sua equipe. Quando há poucas pessoas convivendo juntas em um mesmo
espaço e dividindo responsabilidades, as oportunidades para atritos e mal-entendidos são
muitas. As pressões da vida em outra cultura, por vezes hostil, aliadas às expectativas de
resultados aumenta a probabilidade de desentendimentos. O missionário tem que ter
muita sabedoria, tranquilidade e domínio próprio para evitar situações desagradáveis e
saber resolver as diferenças. Infelizmente, é nessa área que os missionários mais têm
problemas de relacionamento e o que precipita o seu abandono do campo.
– O convívio dos missionários no campo será sempre observado de perto pelas pessoas da
cultura local. A demonstração do amor cristão nos relacionamentos entre missionários é
um testemunho importante do que é ser discípulo de Jesus Cristo.

• Relacionamentos com pessoas em outra cultura. A manutenção de relacionamentos cristãos


saudáveis com pessoas na cultura hóspede é um fator importante no estabelecimento de
confiança e, consequentemente, na aceitação da pregação do Evangelho.

• Relacionamentos com a família:


– Viver em outra cultura pode trazer dois extremos nos relacionamentos familiares do
missionário: distanciamento ou aproximação. Ao serem confrontados com dificuldades e
se sentindo sós em uma cultura estranha, os membros da família podem se aproximar mais
e depender mais uns dos outros, mas, às vezes, as dificuldades podem fazer com que os
membros da família comecem a culpar uns aos outros e a se distanciarem.
– Problemas relacionados com a educação dos filhos é um dos grandes dilemas que a família
missionária enfrenta. A solução para o problema da escolaridade pode levar a escolhas que
trazem uma maior separação entre pais e filhos.

7 – O CAMPO MISSIONÁRIO

Crescimento da População Mundial

A população do mundo tem crescido de forma exponencial nos dois últimos séculos. A projeção é a de
que continuará a crescer em ritmo acelerado. Para 2025 está previsto uma população mundial de 8,5
bilhões de pessoas e 9,2 bilhões para 2050. Noventa e cinco porcento do crescimento será na Ásia, África
e América Latina. Metade da população mundial estará concentrada em quatro países: China, Índia,
Estados Unidos da América e Rússia. Mais de metade da população mundial já vive em regiões urbanas.
Dois bilhões de pessoas estão subnutridas. Jesus nos disse que さ O campo é o mundo ざ (Mt 13:38a).

Povos não alcançados


Como foi mencionado anteriormente, precisamos concentrar nossos esforços evangelísticos nos povos e
não nos países. さ Povos ざ são agrupamentos com a mesma língua, os mesmos costumes e uma história
comum. Se todos os cristãos evangelizassem somente as pessoas que pertencem ao seu povo, a maior
parte da população mundial ficaria sem o Evangelho. Os povos não alcançados são principalmente os

29
chineses, muçulmanos, hindus, budistas e os povos tribais. A maioria destes está na janela 10/40, uma
faixa do globo terrestre que vai do oeste da África à Ásia, onde vivem mais de três bilhões de pessoas e
onde se concentram 80% dos pobres da terra e os adeptos das três maiores religiões não-cristãs:
hinduísmo, budismo e o islã.

Dados de 2010 reconhecem 340 etnias indígenas no Brasil, com uma população de 616 mil pessoas. Destas,
228 são bem conhecidas, 27 estão isoladas e 10, parcialmente isoladas; 182 etnias têm uma presença
missionária, 150 têm uma igreja local e somente 51 destas etnias têm uma liderança indígena.

Noventa e cinco etnias indígenas no Brasil ainda aguardam a evangelização. Há 10 línguas indígenas com
clara necessidade de um projeto de tradução da Bíblia. Somente 3 línguas possuem a Bíblia completa em
sua língua e 32, o Novo Testamento.

As 258 Tribos Indígenas Brasileiras


e o Avanço do Evangelho
Triboscom
TriboscomIgrejae
Igrejae
20 LiderançaAutóctone
LiderançaAutóctone
SemPresença
SemPresença
Missionária
Missionária
Evangélica
Evangélica 92

133

Trabalho
Trabalhoem
em
Situação Andamento
Andamento
Situação 13
Indeterminada
Indeterminada
Fonte: AMTB (Bancode Dados) Sepal (Tel: 11-5523-2544) Maio 2005 TR-503

30
As 258 Tribos Indígenas Brasileiras
e A Tradução da Bíblia
Possuem
Possuem
Alvos
Alvosde
deTradução
Tradução 5 Bíblia
BíbliaCompleta
Completa

52 Possuem
Possuem
Possivelmente Novo
NovoTestamento
Testamento
Possivelmente 36
Carentes
Carentesde
de
Nova
NovaVersão
Versão
em
emPortuguês
Português 15 Reconhecidamente
Reconhecidamente
48
Carentes
Carentesde
de
``
Tradução
Tradução

72 Provavelmente
30 Provavelmente
Provavelmente Carentes
Provavelmente Carentesde
de
Não
NãoCarentes
Carentes Tradução
Tradução
de
deTradução
Tradução
Fonte: AMTB (Banco de Dados) Sepal 2005 (Tel: 11 5523-2544) TR-501

Missões Urbanas
A estratégia missionária de Paulo incluiu os grandes centros urbanos de sua época: Antioquia, Éfeso,
Corinto, Filipos, Tessalônica, Atenas e Roma. Hoje, a população urbana dos países em desenvolvimento
dobra a cada 15 anos. Los Angeles, Londres e Paris não fazem mais parte das dez maiores cidades do
mundo. Foram substituídas por Xangai (China), Bombaim (Índia) e Karachi (Paquistão).

Em 1900 existiam 20 cidades com mais de 1 milhão de habitantes. Em 2005 existiam 440. Em 1975
existiam apenas cinco cidades com região metropolitana superior a 10 milhões de habitantes. Hoje são
mais de 20 (incluindo São Paulo e Rio de Janeiro). A China tem oito das 50 maiores cidades do mundo,
inclusive Xangai, a maior, com quase 14 milhões. A Índia também possui oito das 50 maiores cidades do
mundo.

As grandes cidades são as formadoras de opinião de seus países. São elas que concentram os maiores e
mais importantes canais de mídia (jornais, rádio, televisão etc), os lançadores de modas; abrigam as
oportunidades educacionais e de emprego e são os centros de poder político e econômico. As grandes
cidades têm uma importância estratégica muito grande.

Há maior abertura ao Evangelho nos centros urbanos. Muitos são os que chegam aos centros urbanos
vindos do interior ou de outros estados. Tendo rompido um laço forte com a família e com a sociedade
rural deixada para trás, o recém-chegado se encontra em uma situação mais vulnerável e mais favorável
a mudanças em sua vida. Nos grandes centros, muitos tiveram mais oportunidades para estudo e
exposição às diferentes ideias e estilos de vida. Estes fatores também favorecem uma maior abertura ao
Evangelho.

31
Muitos dos que se convertem nas grandes cidades acabam levando o Evangelho para os parentes no
interior ou em outros estados. Isto também favorece a propagação do Evangelho.

Alcançando viajantes e residentes temporários


Muitos povos, inacessíveis em seus países (por causa de proibições à pregação do Evangelho ou por
perseguições), viajam para o Brasil. Aqui mesmo temos a oportunidade de evangelizar povos de outras
culturas. Estas pessoas chegam ao Brasil como turistas, estudantes universitários, profissionais,
refugiados e a negócios. Aqui, desorientados e longe das pressões de parentes, governos e dirigentes
religiosos, estão mais dispostos a ouvir e a aceitar o Evangelho. Muitas vezes voltam ao seu país de origem
e podem introduzílo.

Aberturas em países antes fechados ao Evangelho


Hoje temos a oportunidade de evangelizar povos que estiveram isolados da pregação do Evangelho por
razões políticas. Há pouco mais de 20 anos, com a queda da União Soviética, ficou mais fácil levá-lo a
países antes inacessíveis. Nos últimos anos tem havido maior liberdade em países comunistas como Cuba
e China. Países muçulmanos tradicionalmente fechados ao Evangelho agora estão acessíveis, apesar de
existirem riscos.

População mundial atual: 7 bilhões de pessoas (aumento de mais de 100 milhões por ano)
▪ Cristãos evangélicos: 400 milhões;
▪ Cristãos nominais: 1,5 bilhões;
▪ Não-cristãos vivendo na mesma cultura com cristãos: 1,6 bilhões;
▪ Não-cristãos culturalmente separados de um testemunho cristão: 3,5 bilhões.

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Não-cristãos culturalmente
separados de um testemunho
cristão
3,5 bilhões

Não-cristãos vivendo na
mesma cultura com cristãos
1,6 bilhões

Cristãos
Nominais
1,5 bilhões

Cristãos
evangélicos
400 milhões

Este quadro deve nos despertar à grande necessidade que ainda existe no campo missionário.

8- Desafios Atuais em Missões

Os desafios da comunicação transcultural


Com o aumento do nacionalismo e do orgulho nacional, o desafio é apresentar o Evangelho de modo
relevante à cultura. O Evangelho não deve ser visto como uma religião estrangeira, mas como a
mensagem de Deus para todo povo e toda cultura.

É necessário fazer-se uma contextualização do Evangelho para que ela seja compreensível e relevante ao
povo. A contextualização é a adaptação necessária para a compreensão, expressão e aplicação da verdade
bíblica dentro de uma determinada cultura. Não se trata de fazer uma adaptação ou modificação do
conteúdo do Evangelho, mas, sim, da sua roupagem ou rótulo.

O perigo da contextualização mal feita é o sincretismo, isto é, uma mistura das verdades bíblicas com
crenças e práticas de outras religiões.

33
O desafio da guerra espiritual
Satanás mantém muitas pessoas e culturas cegas ao Evangelho (2Co. 4:4-5; At 26:18). Levar o Evangelho
a outros povos é entrar em guerra contra nosso inimigo espiritual para a libertação espiritual das pessoas
que não conhecem a Cristo. Para tanto, é necessário nos revestirmos da armadura de Deus para a Batalha
espiritual (Ef 6:4-18): justiça, a Palavra de Deus (a verdade), fé e oração.

O desafio da perseguição
Missionários e cristãos nativos estão sofrendo perseguição e até morte em muitos países. Calcula-se que
160 mil cristãos perderam sua vida por causa do Evangelho só no ano 2000. São mais de 45 milhões desde
1900. O aumento do fundamentalismo muçulmano e de outras religiões tem elevado o risco de
perseguição. A pregação do Evangelho não é sem risco.

O desafio das seitas


• Seitas pseudocristãs com atividade mundial:
– Mórmons (Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias): conta com 50 mil missionários
no campo;
– Testemunhas de Jeová;
– Igreja da Unificação;
• Outras seitas não-cristãs:
– Hare Krishna – Fé Bahai
– Seicho-no-iê

O desafio do terrorismo
Quase todos os anos missionários são sequestrados por terroristas. Muitos destes sequestros terminam
mal. Missionários são alvos por causa da ajuda que dão ao povo e por serem estrangeiros.

O desafio financeiro
O sustento de missões é sempre um empreendimento dispendioso. À medida em que mais cristãos são
chamados ao campo para completar a tarefa da evangelização, maior a necessidade de financiamento
para estes projetos. A Igreja brasileira também enfrenta desafios financeiros em muitas outras áreas. Por
isso, é necessário uma cooperação e o desenvolvimento de estratégias para o financiamento de missões,
tais como: parcerias entre igrejas, desenvolvimento de modelos de negócios com renda revertida para
missões e o envio. Estes últimos são missionários que têm outra profissão que exercerão no campo para
suprir parte ou toda a sua necessidade de sustento.

Sabemos que os desafios não podem deter o avanço do Reino de Deus, pois as portas do inferno não
prevalecerão contra a Igreja do Senhor Jesus Cristo. Ele está no controle de todas as coisas. Mesmo que
enfrentemos problemas de todos os lados, Deus procura homens e mulheres que se coloquem à Sua
disposição para serem utilizados de forma poderosa ao redor do mundo.

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