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O CRISTÃO^ OFERTA

Ensaios Teológicos — n.° 02

EDITOR

Leopoldo Heimann

PUBLICAÇÃO

Departamento de Comunicação
Seminário Concórdia
em coordenação com o
Biblioteca
Departamento de Educação Paroquial da
Igreja Evangélica Luterana d o Brasil
Sist. ft?</¿A3 Y

1980 Proc
Oata ü £ OH

ENCOMENDAS

Concórdia S.A.
Av. São Pedro, 639
90.000 Porto Alegre, RS
Hf LÍBER

APRESENTANDO
«»18666032

É larga a divergência entre os autores de compêndios que se preo-


cupam com o ensino sobre a mordomia cristã da oferta.

Não há fórmulas mágicas na sã doutrina de Deus. Não é possível


confundir o princípio material com o princípio f o r m a l . Não é possível
sacrificar a unidade de doutrina em favor de uma uniformidade de méto-
dos. A doutrina sobre a oferta do povo de Deus é imutável. O método
sobre,a oferta do povo de Deus é flexível.

Querendo reafirmar o ensino escriturístico sobre as ofertas do cris-


tão e buscar uma eventual uniformidade prática para as congregações, a
Igreja Evangélica Luterana do Brasil promoveu, no segundo semestre do
ano f i n d o , o Segundo Seminário de Mordomia Cristã. Além dos Secretá-
rios Distritais de Mordomia, diversos pastores e professores participaram
do encontro.

O Cristão Oferta apresenta uma súmula dos principais temas apresen-


tados e analisados neste Segundo Seminário de Mordomia Cristã.

Os autores, Dr. Johannes Rottmann, Dr. M a r t i m C. Warth, Dr. Rudi


Zimmer e Prof. Acir Raymann são professores da Faculdade de Teologia
do Seminário Concórdia; o Rev. Horst R. Kuchenbecker é Secretário Exe-
cutivo do Departamento de Educação Paroquial, que coordenou o encontro.

O Cristão Oferta não tem a pretensão de trazer a última palavra sobre


tudo o que envolve a mordomia cristã da oferta.

O Cristão Oferta quer ser mais um instrumento de Deus para levar


o. cristão a uma melhor compreensão da verdade bíblica sobre as ofertas.

É possível que, através de O Cristão Oferta, Deus faça com que de


muitos cristãos de hoje se possa dizer o que Paulo afirma dos cristãos da
Macedónia:

— Na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostram


voluntários; deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor.

Leopoldo Heimann
i' '» • • •.—• —. T---5 Secret. Executivo Depto. de Comunicação

Sfisinário Cpncáráiá j ,
BIBLIOTECA \i ^0 "flfc . . coNCORDIA
0
OFERTAS santuário, para que possa habitar no
meio deles.

$r Deus não silencia sobre as ofertas. — Tomai, do que tendes, uma o-


Há milhares de textos bíblicos que ferta para o Senhor; cada u m , de co-
mostram quando, como, por que e ração disposto, voluntariamente a tra-
quanto Deus quer que o seu povo o- rá por oferta ao Senhor.
ferte. Há quem afirme que, em média, — E disseram a Moisés: O povo
cada terceiro versículo fala, direta ou traz muito mais do que é necessário
indiretamente, sobre a bênção de o- para o serviço da obra, que o Senhor
fertar. ordenou se fizesse.

Como esta edição tem a mordomia — Quem, pois, está disposto, hoje,
cristã da oferta como destaque, jul- a trazer ofertas liberalmente ao Se-
gamos oportuno convidar o leitor a nhor?
refletir sobre o que Deus nos tem a — Ninguém apareça de mãos va-
dizer com as^seguin_te3_pjssaqens es- zias perante o Senhor.
criturísticas; — Na medida de suas posses e
mesmo acima delas, se mostraram
— Ninguém apareça de mãos va-
voluntários; deram-se a si mesmos
zias perante o Senhor.
primeiro ao Senhor.
— Na medida de suas posses e — Porque quem sou eu, e quem é
mesmo acima delas, se mostraram o meu povo para que pudéssemos dar
voluntários; deram-se a si mesmos voluntariamente estas coisas? Porque
primeiro ao Senhor. tudo vem de t i , e das tuas mãos to
damos.
— Aconteceu que no f i m de uns
tempos trouxe Caim do fruto da terra — Bem sei, meu Deus, que tu pro-
uma oferta ao Senhor. Abel, por sua vas os corações, e que da sinceridade
vez, trouxe das primícias do seu re- te agradas, eu também, na sinceri-
banho e da gordura deste. Agradou-se dade de meu coração dei voluntaria-
o Senhor de Abel e de sua oferta. mente todas estas coisas; acabo de
ver com alegria que o teu povo se
— E celebrarás a festa das sema- acha aqui, te faz ofertas voluntaria-
nas ao Senhor teu Deus, com ofertas mente.
voluntárias da tua mão, segundo o
Senhor teu Deus te houver abençoa- — Agora, pois, suplicai o favor de
do. Deus, que nos conceda a sua graça;
mas, com tais ofertas nas vossas
— Cada um oferecerá na propor- mãos, aceitará ele a vossa pessoa?
ção em que possa dar, segundo a — Eu não tenho prazer em vós, diz
bênção que o Senhor seu Deus lhe o Senhor dos Exércitos, nem aceita-
houver concedido. rei da vossa mão a vossa oferta. Vós
ofereceis o dilacerado, e o coxo e o
— Fala aos filhos de Israel que me enfermo; assim fazeis oferta. Aceita-
tragam oferta; do todo homem cujo ria eu isso da vossa mão?
coração o mover para isso, dele rece- — Roubará o homem a Deus? To-
bereis a minha oferta. E me farão um davia vós me roubais, e dizeis: Em
que te roubamos? Nos dízimos e nas parte, em casa, conforme a sua pros-
ofertas. peridade, e vá juntando, para que se
— Trazei todos os dízimos à ca- não façam coletas quando eu for.
sa do tesouro, para que haja manti- — Cada um contribua segundo t i -
mento em minha casa, e provai-me ver proposto no coração, não com
nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se tristeza ou por necessidade; porque
eu não vos abrir as janelas do céu, e Deus ama a quem dá com alegria.
não derramar sobre vós bênção sem
medida. — Porque, se há boa vontade, será
aceita conforme o que o homem tem,
— Ninguém apareça de mãos va- e não segundo o que ele não t e m .
zias perante o Senhor.
— Também, irmãos, vos fazemos
— Na medida de suas posses e conhecer a graça de Deus, concedida
mesmo acima delas, se mostraram às igrejas da Macedónia; porque no
voluntários; deram-se a si mesmos meio de muita prova de tribulação,
primeiro ao Senhor. manifestaram abundância de alegria,
e a profunda pobreza deles super-
— Assentado diante do gazofilá-
abundou em grande riqueza da sua
cio, observava Jesus como o povo
generosidade. Porque eles, testemu-
lançava ali o dinheiro. Ora, muitos
nho eu, na medida de suas posses e
ricos depositavam grandes quantias.
mesmo acima delas, se mostraram vo-
Vindo, porém, uma viúva pobre depo-
luntários, pedindo-nos, com muitos
sitou duas pequenas moedas corres-
rogos, a graça de participarem da as-
pondentes a um quadrante. E, cha-
sistência aos santos. E não somente
mando os seus discípulos, disse-lhes:
fizeram como nós esperávamos, mas
Em verdade vos digo que esta viúva
deram-se a si mesmos primeiro ao
pobre depositou no gazofilácio mais
Senhor, depois a nós, pela vontade
do que o fizeram todos os ofertantes.
de Deus.
Porque todos eles ofertaram do que
lhes sobrava; ela, porém, da sua po- — Ninguém apareça de mãos va-
breza deu tudo quanto possuía, todo zias perante o Senhor.
o seu sustento.
- — Na medida de suas posses e
— Quanto à coleta para os santos, mesmo acima delas, se mostraram
fazei vós também como ordenei às voluntários; deram-se a si mesmos
igrejas da Galácia. No primeiro dia primeiro ao Senhor.
da semana cada um de vós ponha de L.
1 CO 16.1,2 ENSINA A OFERTA PROPORCIONAL?
Johannes Rottmann

1 — Introdução nhor e o Senhor de todos os nossos


bens, nos exigirá rigorosa e comple-
A vida cristã, c o m todas as suas ta prestação de contas.
implicações, privilégios e deveres, Quais são estes bens que nos fo-
tornou-se possível no momento de ram confiados? Lutero os descreve
maior relevância para toda a história magistralmente na explicação dos
da humanidade. O momento em que três artigos do Credo Apostólico:
o Filho de Deus, feito homem em Je-
sus de Nazaré, ao morrer na cruz, 1.°) "Creio que Deus... me dá
deu o seu brado de vitória: "Tetéles- corpo e alma, olhos, ouvidos e todos
tai." ("Está consumado"!) Prometido os membros, razão e todos os senti-
já aos primeiros pais, depois da que- dos e ainda os sustenta;
da, "o descendente da mulher" (Gn para isso me dá vestes e calçados,
3.15) esmagou a cabeça da serpen- comida e bebida, casa e lar, mulher e
te e tornou-se o grande libertador da filhos, campos, gados e todos os
escravidão do pecado. "Tetélestaü": bens (aí também está incluído o d i -
"Está consumado!" "Está terminado"
nheiro);
(Note-se que o verbo está no perfei-
to e na voz passiva). O que lá foi supre-me abundante e diariamente
feito continua feito, não precisa ser de tudo quanto necessito para o cor-
renovado, nem continuado (1 Pe 3 . po e para a vida, me defende de t o -
18, Hb 9 . 1 1 s s ) . do o perigo, me guarda e me protege
de todo o m a l . . . "
Naquele momento foi pago o pre- Então o Reformador faz um ma-
ço definitivo, estipulado por Deus ("o gistral resumo de nossa mordomia re-
salário" — melhor seria traduzir: "o lativa a todos estes bens, com estas
preço estipulado" — do pecado é a singelas palavras:
morte" — Rm 6 . 2 3 ) . Todo aquele que
aceita este pagamento, confiando na "Por tudo isto devo dar-lhe graças
palavra e na promessa da salvação e louvor, servi-lo (seria o grego " d o u -
torna-se livre da "douléia" — "com- léuein" = estar sempre à disposição
pleta escravidão de Satanás" — e tor- do Senhor c o m tudo o que somos e
na-se propriedade do Senhor Jesus, temos) e obedecer-lhe (ouvir e cum-
que o comprou para ser agora o seu prir o que nosso Senhor determina
"dóulos" — "escravo", na total acep- para a boa administração destes
ção do termo. bens). Fiel é esta palavraI"
2.°) Infinitamente maiores do que
E, neste estado de "douléia" de Je
os bens materiais que possuímos
sus Cristo, ele, nosso novo Senhor,
nesta terra, que f i n d a m c o m a nossa
nos incumbe da administração ou
existência terrena, são os bens enu-
mordomia de todos os bens que nos
merados pelo 2 . " artigo d o Credo:
confiou. Esta administração deve ser
feita de acordo com sua vontade e "Creio que Jesus Cristo, verdadei-
decisão. No dia do juízo, nosso Se- ro Deus, gerado do Pai desde a eter-
nidade, e também verdadeiro homem, no dia derradeiro me ressuscitará a
nascido da virgem Maria — é meu m i m e a todos os mortos e me dará,
Senhor. com todos os crentes em Cristo, a
que me remiu a m i m homem per- vida eterna. Fiel é esta palavra."
dido e condenado, me resgatou (com- Essa obra no Espírito Santo não
prou pelo preço estipulado da escra- nos permite ficar inativos ou viver
vidão) e me salvou de todos os pe- isolados, sem compromisso para com
cados, da morte e do poder do dia- os semelhantes, especialmente os da
bo, família de Deus, a igreja.
(e essa compra ou resgate da es- Nesta concisa exposição de Lutero
cravidão f o i realizado) não com ouro estão colocados os fundamentos para
ou prata, mas c o m seu santo e pre- a aplicação do que o Novo Testamen-
cioso sangue e com seu inocente pa- to nos ensina a respeito de uma mor-
decimento e morte: domia total de cada cristão. Aliás, su-
blinho o fato de Lutero, em toda sua
(e tudo isso teve uma única e su-
exposição, não mencionar uma vez se-
blime finalidade, que agora me colo-
quer o dinheiro que nos manuais de
ca num estado completamente novo)
mordomia em geral tem uma posição
para que eu lhe pertença (seja sua
de destaque. Em muitos círculos exis-
propriedade) e viva submisso a ele
te uma grande e perniciosa inversão
em seu reino (seja como Paulo e to-
de valores neste campo. Muitos dão
dos os remidos — seu "dóulos", e,
valor preferencial aos bens materiais
como tal) o sirva em eterna justiça,
e, entre eles, ao dinheiro. O Mestre
inocência e bem-aventurança, assim
assim não nos ensinou. Na sua pa-
como ele ressurgiu dos mortos, vive
rábola do administrador infiel diz ser
e reina para sempre. Fiel é esta pa-
o dinheiro de "origem injusta" — d i -
lavra I"
nheiro só existe e precisa existir num
3.°) Não poderíamos reconhecer mundo onde reina a injustiça; no céu
estes bens como a parte principal do não mais existirá, pois lá "habita a
tesouro que nos foi confiado, se o justiça" (cf Lc 1 0 . 1 6 - 1 3 ; 2 Pe 3 . 1 3 ) .
Espírito Santo não tivesse agido em
nossos corações. E os frutos deste Foi nossa intenção, com esta intro-
agir do Espírito Santo também per- dução geral, demonstrar que não po-
tencem aos bens que devemos a d m i - de existir "mordomia proporcional"
nistrar: com respeito à vida do cristão, pois
ele é integralmente, com todo o seu
"Creio que por minha própria ra- ser e os seus bens, um "dóulos lesou
zão ou força, não posso crer em Je- Kristóu". ("Servo de Jesus Cristo").
sus Cristo, meu Senhor, nem vir a Tendo isto em mente, podemos agora
ele, mas o Espírito Santo passar para a interpretação daquele
me chamou pelo evangelho, me ilu- texto que nos foi dado para o estudo
minou com seus dons, me santificou sobre "ofertas proporcionais".
e conservou na fé verdadeira,
Observamos, em primeiro lugar,
perdoando, na mesma igreja, abun- que este texto não fala das contribui-
dante e diariamente todos os peca- ções gerais e regulares do cristão pa-
dos, a m i m e a todos os crentes, e ra a igreja e sua missão. Trata-se, is-
to sim, de uma coleta especial, pla- co-participação na vida congregacio-
nejada por uma "convenção sinodal". nal e na vida da igreja.
Para avaliarmos com mais exatidão Que essa comunhão, mencionada
este texto, vamos traçar algumas l i - como um dos pilares da vida daque-
nhas históricas que são necessárias les primeiros cristãos, se demonstra-
para o entendimento correto do con- va em atos de amor e caridade cris-
selho que o apóstolo transmite à sua tã, isto se vê claramente em vários
congregação em Corinto. textos, aparentemente comuns, porém
de profunda importância para quem
2 — Fundo histórico da ação quer estudar a mordomia cristã nas
suas origens. Vamos ver alguns e-
social na igreja cristã
xemplos:

A boa mordomia, no seu amplo e At 2.44: "Todos os que creram es-


autêntico sentido, foi característica tavam juntos ("epi to auto" — um de-
marcante da vida dos primeiros cris- dicado ao outro, um cuidando do ou-
tãos. Ao descrever a primeira congre- tro) e (este " e " é epexegético = isto
gação, Lucas menciona o que pode- é) tinham tudo em comum." Para que
ríamos chamar os quatro pilares da isto pudesse ser concretizado na s i -
vida daquela igreja. Este resumo do tuação daquela igreja — a grande
historiador quase desaparece por en- maioria dos membros era pobre — a-
tre o fluxo da narrativa, porém, estas conteceu o que Lucas relata a seguir:
palavras são de profunda significa-
ção e deveriam ser o título de ouro At 2.45: "Vendiam as suas pro-
a encimar a história de cada igreja priedades e os seus bens e repartiam
local. Lucas as coloca como fecho o resultado destas vendas ("diemé-
áureo do seu capítulo que narra a fes- rizon autá") entre todos, segundo al-
tiva abertura da pregação universal da guém eventualmente, ("kathoti an
boa mensagem de Cristo, o Salvador, tis") tivesse necessidade." Portanto,
naquele primeiro pentecoste cristão, a necessidade que eventualmente
conforme mostra At 2 . 4 2 : surgisse, serviria como medida da
soma do auxílio, ou seja, a propor-
"E perseveravam ção da ajuda era regulada pela ne-
— na doutrina dos apóstolos cessidade.
— na comunhão
Dentro deste espírito da mordomia
— no partir do pão
cristã total estão também as outras
— e nas orações".
manifestações da "koinonia" entre
O primeiro pilar dessa igreja mo- os primeiros cristãos, como são re-
delo é seu fundamento divino: perse- latadas por Lucas em At 4 . 3 2 - 3 5 . V .
verança na doutrina dos apóstolos. 3 2 : "A multidão dos fiéis era um só
Logo a seguir está a "Koinonia", a co- coração e uma só alma" (a "koino-
munhão. Esta palavra, no seu senti- nia" espiritual era completa). "Nin-
do original, nunca pode significar ser guém considerava seu o que, possuía,
ou viver passivamente. É muito mais mas tudo era comum entre eles".
do que um conviver ou uma c o m u - Temos aqui a comunhão espiritual
nhão passiva com bens recebidos. posta em prática no campo dos bens
"Koinonia" é absolutamente ativa, é materiais. É o "comunismo cristão"
em ação sob o lema: " 0 que é meu res da palavra de Deus, pastores da
também é t e u " — em contraste com o comunidade e distribuidores de auxí-
comunismo marxista que se reduz a lios materiais, reconheceram: "Não é
constatação: "O que é teu, também razoável que nós abandonemos a pa-
é m e u " . V . 3 4 : "Não havia entre eles lavra de Deus para servir às mesas"
indigente algum, porquanto os que {At 6 1ss). A lição a ser tirada des-
possuíam terras ou casas, vendendo- ta "reorganização" dos ministérios na
as, traziam o dinheiro e ( V . 3 5 ) o igreja, aplicável ao ministério da pa-
colocavam aos pés dos apóstolos; e lavra" hoje, está expressa neste con-
distribuía-se a cada um segundo al- selho dos apóstolos: . . . "e, quanto
guém eventualmente tivesse necessi- a nós, nos consagraremos à oração
dade." (A fórmula usada neste versí- e ao ministério da palavra" (v.4).
culo é exatamente a mesma de A t Assim, o pastor e ministro da pala-
2 . 4 5 , a saber: "kathoti àn tis chréian vra deixe nas mãos de outros cris-
éichen", que parece ter sido uma re- tãos a administração dos bens ma-
gra fixa para a demonstração prática teriais! <•
da verdadeira "koinonia" cristã). As-
^ s i m de novo podemos constatar que 0 modelo histórico de uma ação
a proporção da ajuda ou auxílio era social no âmbito da igreja em geral
regulada pela necessidade que even- nos é relatado por Lucas em Atos 1 1 .
\ tualmente surgisse. 27-30 e 1 2 . 2 5 . Corria o ano 4 3 -
Mais ou menos 12 anos depois de
Em seguida Lucas demonstra co- haver sido introduzido o ministério
mo uma tal prática da mordomia po- da diaconia em Jerusalém. Carestia e
de resultar em fortalecimento d a v i - fome atingiram os cristãos de Jerusa-
da congregacional, quando relata o lém e da Judéia, como conseqüência
bolo exemplo de Barnabé, aquele "se- de uma seca nas regiões orientais do
nhor cristão" chamado " f i l h o da con- império romano, onde se produzia tri-
solação" (At 3 . 3 6 , 3 7 ) . Mas não dei- go. Outras especulações sobre as cau-
xa de referir também como esta prá- sas da pobreza da congregação de
tica, desvirtuada pela influência sa- Jerusalém, como "precipitada" distri-
tânica, pode ser "pedra de tropeço". buição de bens, não têm base bíbli-
Foi o caso de Ananias e Safira (At ca. O historiador simplesmente cons-
5 . 1 - 1 1 ) , em que o Senhor aplicou tata que a igreja foi atingida por esta
pessoalmente, por assim dizer, a dis- carestia. Então entra em ação o amor
ciplina cristã, em seu rigor extremo. fraternal dos cristãos que, mesmo
("Horrível coisa é cair nas mãos do distantes, organizam uma coleta es-
Deus v i v o " — Hb 1 0 . 3 1 ) . pecial.

Devemos notar ainda que o texto Mais uma vez devemos constatar
parece indicar que os apóstolos eram que esse relato não descreve um mo-
os distribuidores destas contribuições delo para as contribuições regulares
ocasionalmente recebidas: "deposita- e gerais para a manutenção da igre-
ram aos pés dos apóstolos" (At 4 . 3 5 , ja. Trata-se de fato de uma "coleta
3 7 ; 5 . 2 ) . No entanto este acúmulo especial", para uma necessidade es-
de tarefas na igreja primitiva não du- pecial. O texto do v . 2 9 nos transmite
rou muito tempo. Vendo ser impossí- a história dessa ação social, numa
vel serem ao mesmo tempo pregado- fraseologia que os gramáticos cha-
mam de "desajeitada": "E os discípu- "contrato fraternal" de divisão do tra-
los decidiram então enviar, cada um balho missionário (cf G1 2 . 9 e 1 0 ) .
deles assim como prosperava, auxílio Uma destas recomendações dizia
("eis diakonian") aos irmãos que mo- "que nos lembrássemos dos pobres",
ravam na Judéia" (tradução literal). como Paulo escreve às igrejas da Ga-
Destacamos nesta ação os seguintes lácia, acrescentando "o que também
fatores: Cada um dos discípulos da me esforcei por fazer" (G1 2 . 1 0 ) .
Antioquia participava desta ação
Este "esforço" de recomendar aos
{"hékastos"); a resolução f o i tomada
cristãos de origem pagã que se lem-
numa reunião de todos os discípulos;
brassem dos pobres iniciou na Galá-
dizia a resolução que cada um dos
cia. O apóstolo revisitou esta região
membros contribuísse para essa cole-
pouco depois do "Concílio dos Após-
ta "assim como prosperava ("kathôs
tolos", na sua segunda viagem mis-
enporeito tis"). Evidentemente não foi
sionária (At 1 6 - 1 - 5 ) .
decidido quanto dar, nem uma certa
porcentagem dos bens materiais que Atendendo ao chamado de uma v i -
cada um possuía, mas que cada um são divina, Paulo f o i à Macedónia
contribuísse voluntariamente de acor- (At 16-6-15), onde, segundo uma re-
do com as suas condições na oportu- ferência em 2 Co 8 . 1 s s , também fez
nidade. recomendações a respeito de tais co-
letas.
Este "modelo histórico" certamente
serviu para futuras ações semelhan- Quando, nesta mesma viagem, f i -
nalmente chegou a Corinto, durante
tes.
a sua atividade missionária nesta c i -
dade, certamente "se lembrou" dos
3 . Interpretação de 1 Co 16.1 e irmãos necessitados de Jerusalém,
2 no seu contexto histórico promovendo a coleta (At 1 8 . 1 s s ) .
Escrevendo agora (mais ou menos
a) Fundo histórico
um ano depois de haver saído de Co-
rinto) sua primeira epístola aos cris-
Esta ação social tem sua origem
tãos daquela congregação, responde
alguns anos antes de Paulo escrever
várias perguntas deles. Entre elas de-
esta carta. Faz parte da importantíssi-
ve ter constado uma a respeito da
ma resolução do "Concílio dos Após-
execução da coleta. Nosso texto é o
tolos", que provavelmente se realizou
primeiro conselho do apóstolo a es-
em 49 p . C . Em Atos 1 5 . 1 9 lemos
te respeito.
que foi decidido mandar uma carta
de recomendações aos "que, dentre Se perguntarmos pela razão desta
os gentios, se convertem a Deus". Es- coleta e da sua destinação exata-
sas recomendações abrangiam certos mente para os santos na Judéia, não
aspectos da vida dos cristãos de o r i - podemos oferecer outra resposta se-
gem pagã em sua "koinonia" c o m os não a de que muitos membros des-
irmãos de origem judaica (v. 20 e ta igreja eram pobres. Se assim não
29). Porém além desta carta os a- fosse, o concílio não teria feito esta
póstolos e evangelistas enviados ao recomendação. A causa desta pobre-
mundo pagão, recebiam recomenda- za ainda pode ser a grande carestia
ções verbais que faziam parte do dos anos 4 3 / 4 4 p . C . (cf At 1 1 . 2 7 -
4 pecto desta obra do Senhor: a de-
3 0 ) . Parece, porém, que desde o ini-
cio havia uma generalizada pobreza monstração do amor fraternal, me-
entre estes membros (cf. as ações diante aquela coleta, recomendada há
de caridade referidas no início deste mais ou menos um ano. O apóstolo
trabalho). Além disto a pobreza foi deve ter percebido certas dúvidas en-
uma constante na igreja de Cristo tre os coríntios com respeito à for-
em todos os tempos, de tal maneira ma de realizar esta campanha. Os
que Paulo escreve nesta mesma car- conselhos de nosso texto são a res-
I ta: "não foram chamados muitos sá- posta a estas dúvidas ou perguntas.
bios segundo a carne, nem muitos
"Com respeito à coleta" — É in-
p o d e r o s o s . . . Deus escolheu as coi-
teressante que o apóstolo emprega
sas humildes do mundo, e as des-
aqui u m termo excepcional que, em
prezadas, e aquelas que não são, pa-
todo o Novo Testamento, só apare-
ra reduzir a nada as que s ã o . . . " (1
ce neste texto. É o termo "logia", de
Co 1 . 2 6 - 2 8 ) . Escravos, trabalhado-
"lego": colecionar, reunir algo, ge-
res, pescadores, e t c . formavam a
ralmente usado no sentido de cole-
maioria dos membros da igreja de
cionar palavras para fazerem senti-
então. Hoje não é diferente.
do: ler; aqui o termo é usado no
sentido de colecionar ou juntar d i -
b) O texto nheiro.

1 6 . 1 : "Ora, com respeito à coleta Mais uma vez ressaltamos que a-


para os santos: assim como dei ins- qui não se trata de contribuições re-
truções às igrejas da Galácia, tam- gulares para a obra do Senhor. Tra-
bém procedei vós: ta-se de uma coleta especial, reco-
2: No primeiro dia da semana, ca- mendada pelos apóstolos aos cris-
da um de, vós, por si mesmo (em tãos de origem pagã.
casa) ponha de lado tanto quanto e- "Para os santos" — Não é um
ventualmente consegue poupar, afim termo específico para um determina-
de que não mais se façam coletas do grupo de cristãos, mas é exata-
quando eu lá chegar." mente o termo que o apóstolo em-
No capítulo anterior, o apóstolo prega para designar aqueles que fo-
tem diante dos olhos uma das mais ram justificados e santificados pelo
gloriosas verdades; a consoladora sangue de Jesus. Os próprios corín-
doutrina da ressurreição dos mortos, tios são assim denominados (1 Co
conseqüência da gloriosa ressurreição 1 . 2 ) , apesar de todas as suas fa-
do Senhor. Diante de tão régio pre- lhas. O contexto histórico nos mos-
sente, a vitória com Cristo, devemos tra que se trata dos santos de Je-
fazer tudo pela sua causa aqui na rusalém e da Judeia.
terra: "Portanto", diz o apóstolo no
"Assim como dei instrução às
final do capítulo 15, "meus amados
igrejas da Galácia" — Apesar de não
irmãos, sede firmes, inabaláveis, e
termos referências históricas a res-
sempre abundantes na obra d o Se-
peito destas instruções em Atos, sa-
nhor, sabendo que, no Senhor, o vos-
bemos da carta de Paulo aos Gála-
so trabalho não é vão". Então ele
tas, que lá o assunto foi amplamen-
passa a falar de um determinado as-
te apresentado. No capítulo 2 desta
carta ( v . 6 - 1 0 ) , Paulo fala d o reco- César), aclamado deus pelos seus
nhecimento por parte dos apóstolos súditos pagãos. Os cristãos lembra-
de que os gentios estavam livres das vam a ressurreição de seu Senhor v i -
obrigações da lei cerimonial e que os torioso em cultos especiais realizados
que foram pregar aos gentios se lem- aos domingos, pois f o i no primeiro
brassem dos pobres. Fica evidente dia da semana que Cristo ressuscitou
nesta passagem que a "lembrança" dos mortos, provando diante de Deus
dos pobres de modo nenhum faz par- e dos homens que ele é o Senhor dos
te da l e i ; ao contrário faz parte da vivos e dos mortos. Por isso este dia
gloriosa liberdade dos cristãos que é indicado também para realizar es-
agora vivem na economia da fé e ta obra de serviço ao Senhor e de
não da l e i . A s instruções não prescre- caridade aos pobres. Durante mais ou
viam uma determinada quantia ou menos um ano ( 2 Co 8 . 1 0 ) este "co-
proporção percentual, mas aconse- lecionar" devia ser "completado".
lhavam sobre o modo de reunir as Sugerida a regularidade e a duração,
ofertas. ele continua:
"Também procedei vós" — Esse é "Cada um de vós, por si mesmo
um imperativo evangélico: Olhem co- (em casa) ponha de lado", — Este
mo os irmãos fazem I Não é uma lei "pôr de lado" está no participio pre-
ou uma ordem; é um simples apelo sente "thesaurízon" (o termo "tesou-
daquele que, pela graça de Deus, foi reiro" deriva deste verbo) e quer d i -
o iniciador da obra evangélica entre zer depositando, acumulando pouco a
eles, Portanto, como seu pai espiri- pouco, fazendo poupança. Cada um
tual, lhes dá conselhos e apela para devia fazer isto "por si mesmo" (par
seu amor fraternal. Agora ele passa heautô), em sua casa. Por que não
a dizer qual foi este conselho dado na igreja? Por que não em conjunto?
às igrejas da Galácia. Possivelmente a esta altura da his-
tória e neste estágio de desenvolvi-
"No primeiro dia da semana' — mentos da igreja ainda não existia
No domingo, o dia do Senhor. A pre- uma organização financeira e um te-
posição "katá" é distributiva: d o m i - soureiro na congregação. É notável
nicalmente, aos domingos, um após no Novo Testamento a ausência de
o outro. Isto parece indicar que o qualquer menção de uma estrutura
apóstolo já havia introduzido no seu administrativa dos bens da igreja. A
campo de missão o costume de ob- única organização que conhecemos é
servar o domingo como u m dia es- a separação dos campos de trabalho
pecial. Os judeus observavam o sá- de apóstolos e evangelistas de um
bado. Oc romanos dedicavam o do- lado e dos "diákonoi", que "serviam
mingo a César a quem consideravam as mesas" e na "distribuição" dos
um deus. Isto era abominação para bens materiais, do outro lado.
os judeus segundo a lei de Deus. Ao
escolher o primeiro dia da semana, Tendo aconselhado sobre a moda-
Paulo não se acomodou simples- lidade deste colecionar, fala também
mente ao costume romano. Para ele j d o "quanto": "tanto quanto eventual-
o dia do Senhor era o dia do Kyrios mente consegue poupar", É realmen-
Kristós (Senhor Cristo), em contra- te digno de notar a maneira como o
posição ao Kyrios Káisar (o senhor autor fala da quantidade da oferta.
Ele não indica uma soma fixa, nem de Jerusalém" — uma das melhores
tampouco uma proporção percentual. traduções em língua brasileira — com
A tradução da Almeida Revisada é anotações do original francês — tra-
algo ambígua e não transmite bem duz corretamente: "cada um de vós^j__
o sentido do originai. É digno de es- ponha de lado o que conseguir pou-
pecial atenção o uso da conjunção par."
indefinida "eán" — eventualmente
("was immer", vielleicht). Portan- Esta poupança tem duração limi-
t o , estas somas podiam variar de se- tada. 0 apóstolo aconselhou que ela
mana a semana, de acordo com as se completasse mais ou menos den-
possibilidades. Quais seriam estas tro de um ano (2 Co 8 . 1 0 ) . Ele apre-
possibilidades? 0 verbo "Vevodôtai" senta uma razão: "afim de que nãp
tem sua origem no conceito "eu — mais se façam coletas quando eu lá
hodós": fazer uma boa caminhada. A chegar". Note-se o plural: "logiai":
possibilidade de poupança depende- coletas! Quando voltasse a Corinto
ria, pois, de como transcorrer a boa para mais uma vez, sob a graça de
caminhada durante a semana. Que a Deus, pregar e remover o que obsta-
tradução "conforme a sua prosperi- cularizava o bom andamento da vida
dade" não reproduz o sentido do ori- cristã naquela congregação, não que-
ginal é evidente, pois não temos a ria ser perturbado com o levantamen-
preposição de conformidade "Katá". t o , talvez apressado ou forçado, de
Não temos nenhuma preposição mas coletas. Está dando estas instruções
a cláusula "ho ti eán": o que, ou a- agora exatamente para que, ao retor-
quilo que eventualmente "consegue nar, pudesse viver no seu meio sem
poupar". perturbações, no espírito de fraterni-
dade que se baseia no amor de Cris-
to.
A maioria das novas traduções se-
gue o raciocínio que acabamos de
Portanto, em resumo, nosso fexío
esboçar. Lutero já traduziu: "lege bei
diz pouco ou nada a respeito de "o-
sich selbst ein jeglicher unter euch
zurück und sammle, was ihm gut fertas proporcionais na mordomia
dünkt" (o que bem lhe parece). A cristã." 0 texto em si nem fala das
"Wuppertaler Studienbibel" acres- contribuições regulares dos cristãos
centa ainda a idéia da conjunção para a obra do Senhor. Trata-se de
"eán" na sua tradução: " i n d e m er uma coleta especial, parte de ação
spart, wieviel ihm etwa gelingen, fraterna e da "diakonia" no seio da
m a g " . A "Bíblia na Linguagem de igreja de Cristo.
Hoje" sente a dificuldade e o peso Mas a passagem, no seu contexto
da antiga tradição na mordomia cris- histórico, nos dá ensejo para falar
tã que se baseia neste texto e nj|Q sobre mais alguns aspectos da mor-
consegue se livrar da-_preposição -de domia cristã:
conformidade,-inexistente no original:
"de acordo com o que cada um con-
seguir". Mas já dá um passo à fren- c) Reflexões adicionais sobre mor-
te, pois deixa de lado a prosperidade domia cristã à base de textos afins
ou os_bens terrenos coroo-padrão da
p r o p o r ç l o de contribuição. A "Bíblia Em 2 Co 8 e 9 Paulo fala mais
uma vez desta coleta, lembrando o
exemplar procedimento dos cristãos ainda". Esta tradução está de acordo
macedônios. A í ele nos dá o que com o texto original. A Almeida Re-
poderíamos chamar de íexro áureo visada também aqui dá a impressão
para toda a mordomia cristã. Um de que as posses materiais seriam o
breve estudo do mesmo nos ensejará fator determinante da quantia de suas
uma reflexão mais profunda sobre o ofertas, pois diz "na medida de suas
tema. posses". A tradução de Lutero "nach
allem Vermögen" e "über Vermögen"
2 Co 8 . 1 : "Irmãos, queremos que
não reflete "posses" materiais, mas
vocês saibam o que a graça de Deus
a possibilidade de dar. Quando o
tem feito nas igrejas da região da
grego diz "katá dynamin" "de acordo
Macedónia" (Tomamos por base o
com a f o r ç a " , não está falando de
texto da "Bíblia na Linguagem de Ho-
posses materiais. Portanto não é le-
j e " ) . Aqui o apóstolo aponta para a
gítimo, fazer das posses do cristão
base real de toda a mordomia cris-
um padrão para uma "oferta propor-
tã: a graça de Deus! Como dizíamos
cional".
no início, toda a vida cristã nesta
terra depende daquilo que aconteceu V . 4 : "E com toda boa vontade
no Gólgota, onde Deus fez valer sua ("autháiretoi") pediram que os dei-
justiça, pondo o castigo merecido pe- xássemos participar na ajuda para o
los homens, sobre os ombros do seu povo de Deus da Judeia, e eles insis-
próprio Filho e fez valer sua graça, tiram nisto". A palavra "autháiretoi"
colocando seu próprio Filho em nos- de "autos-hairéomai" significa espon-
so lugar. Não existe vida nem mor- taneamente, a base de decisão pró-
domia cristã que não se baseie nes- pria e exclui qualquer influência es-
te fato: a graça de Deus sobre nós. tranha, ordem ou pressuposto.
Foi esta graça que produziu a ação
dos macedônios. A impressão que temos é que o
apóstolo não lhes pediu que partici-
V . 2 : "Os irmãos dali ( p . e x . de passem desta coleta porque conhecia
Fiüpos, Tessalônica, Beréia) têm si- a sua precária situação financeira e
do muito provados pelas dificuldades. sua pobreza. Apenas apresentou a
Mas a alegria deles foi tanta que., eles a necessidade dos irmãos da Ju-
embora sendo muito pobres, deram deia em cumprimento à resolução d o
suas ofertas com grande generosida- concílio. Portanto a reação dos ma-
de". Não sabemos se as dificuldades cedônios foi totalmente livre e espon-
referidas eram advindas de persegui- tânea.
ções. O contexto parece que se tra- V . 5: "E fizeram muito mais do
tava de pobreza. Mas que exemplo! que esperávamos" — O apóstolo con-
"Superabundância de alegria" apesar fessa que não esperava que sua pa-
da "pobreza profunda ou extrema" lavra tivesse efeito tão maravilhoso.
(katá bathous). Isto produz "ofertas
Depois de lhes ter apresentado a ba-
com grande generosidade". Citando
se fundamental de sua vida e de sua
este belo exemplo, o pastor quer en-
atitude para os irmãos — "a graça
corajar os coríntios à sua imitação.
de Deus" ( V . 1 ) — ele agora revela
V. 3: "Afirmo a vocês que eles o mistério de toda a verdadeira mor-
fizeram tudo o que podiam, e até mais domia cristã. Em outras palavras, ele
aponta para a verdadeira "douléia", o filho de Deus precisa conhecer as
a relação real do cristão para com regras e normas que norteiam uma
seu Senhor e Salvador, como sua vida santificada. Estas regras, no en-
propriedade por ele redimida. Desta tanto, nunca serão " l e i " no seu sen-
relação, que não é parcial mas com- tido coercitivo e condenatório. São
preende a totalidade da existência do as normas éticas para a vida cristã
servo do Senhor, brota toda a ação que os dogmáticos denominam "ter-
do novo homem. Por isso podemos ceiro uso da lei" e nos ensinam co-
chamar a passagem que segue "O mo aplicar os frutos da nossa fé.
Texto de Ouro" da mordomia cristã:
"Primeiro eles se deram a si mesmos d) O dizimo — Finalmente, estas
ao Senhor e depois, pela vontade de reflexões nos levam ainda a conside-
Deus, a nós também". Eis o mistério! rar uma determinada proporção que
Quem sabe, como Lutero, que per- regulava as ofertas da antiga alian-
tence ao seu Senhor e Salvador Je- ça: O dízimo. Que sentido e que va-
sus Cristo com tudo o que é e o que lor tem esta "proporção" no Novo
t e m , reconhece que todas as suas o- Testamento? Apesar de Paulo ser um
fertas — especialmente de bens ma- mestre na teologia judaica e nas pres-
teriais — devem fluir deste feliz es- crições do Antigo Testamento, em ne-
tado de liberdade: "para que eu lhe nhuma parte propõe o uso do dízimo.
pertença e viva submisso a ele em Aliás, as únicas referências ao dízi-
seu reino e o sirva em eterna justiça, mo em todo o Novo Testamento têm
inocência e bem-aventurança". um destes dois motivos:

1) ou apontam para o dízimo co-


Portanto, de acordo com o Novo
mo "sombra das coisas que hão de
Testamento, se quisermos falar em
vir", isto é para o simbolismo de
ofertas "proporcionais", esta propor-
toda lei cerimonial, cujo f i m é Cris-
ção somente poderá referir-se à in-
to, o sacrifício real (Hb 7 . 1 - 9 ) ;
tensidade da fé que temos e segundo
a qual vivemos como propriedade do 2) ou condenam a falsidade dos
nosso Senhor que nos remiu da es- fariseus que alegavam o cumprimen-
cravidão do diabo. to da lei do dízimo, para esconderem
o seu descumprimento da "lei maior",
Para quem se entrega a si mesmo da lei do amor. É justamente o Mes-
ao Senhor, como os irmãos da Mace- tre que menciona três vezes o dízimo,
dónia, não haverá dificuldades com quando critica severamente o com-
suas ofertas; uma igreja cujos mem- portamento hipócrita dos escribas e
bros se entregam a si mesmos ao fariseus: M t 2 3 . 2 3 : "hipócritas" (con-
Senhor, não terá falta de recursos denando o pecado contra o a m o r ) ; Lc
materiais para realizar a obra do rei- 1 1 . 4 2 : "ai de v ó s . . . desprezais a
no d o Senhor. A "dynamis" das nos- justiça e o amor de Deus"; Lc 1 8 . 1 2 :
sas ofertas está de acordo com í "dou o dízimo de tudo quanto ga-
"dynamis" da nossa fé. n h o " (a vanglória do fariseu e sua
conseqüente condenação).
É claro que o cristão é afligido
pelas tentações do diabo, que lhe co- Estas são as únicas referências ao
loca grandes obstáculos no caminho dízimo e. conseqüentemente, consti-
de sua peregrinação terrena. Por isso,, tuem também a única menção de " o -
ferta proporcional" dos bens mate- recebida, este estudo devia visar a-
riais em todo o Novo Testamento. R. penas um aspecto do grande campo
C . H . Lenski, em sua "Interpretation da teologia da mordomia cristã. Há,
of St. P a u i s First Epistle to the Co- porém, muitos textos preciosos de
rinthians", diz ao final de sua exaus- grande riqueza e profundidade teoló-
tiva interpretação de nosso texto: gicas, que pintam o quadro comple-
"Ainda outras considerações funda- t o . Nas cartas de Paulo aos coríntios
mentam este julgamento contrário (ao e aos romanos (cap. 12) ele coloca
dízimo, pelo N . T . ) . Gente pobre (ho- esta doutrina dentro de toda a teo-
je) não pode pagar o dízimo; ao con- logia da santificação.
trário, tais pessoas realmente pieci
sam ser auxiliadas". Um operário Também na mordomia cristã vale
com família numerosa e que ganha o a regra de ouro: "O amor de Cristo
salário mínimo não pode pagar o dí- nos constrange" (2 Co 5 . 1 4 ) . Quem
zimo. Os que têm grande renda, os reconhece na fé e na confiança que
ricos em geral, poderiam pagar o dí-
é propriedade exclusiva do Senhor,
zimo. Mesmo assim não estariam no
mesmo nível com aqueles que nada com tudo o que é e t e m , este colo-
podem ofertar e ainda assim a des- ca tudo o que é e tem à disposição
proporção seria grande. de seu novo Senhor. Esta f é lhe é
dada gratuitamente pelo Espírito San-
O Novo Testamento conhece ape- to através da palavra de Deus que
nas o espírito das ofertas voluntárias. lhe garante que foi liberto da escra-
A única regra que Paulo conhece a vidão opressiva de Satanás para v i -
respeito do "quanto" é a que estuda-
ver em gloriosa liberdade como servo
mos: que cada um "por si mesmo
[em casa) ponha de lado tanto quan- e propriedade exclusiva de Cristo, o
to eventualmente consegue poupar Senhor. Bem-aventurados aqueles que
{ou prosperar)". É uma regra "evan- vivem sua vida cristã como Paulo o
gélica", sem o mínimo resquício de testifica dos irmãos da Macedónia:
legalismo.
~~"Eles deram-se a si mesmos pri-
e) Em conclusão convém frisar meiro ao Senhor!" O resto vem de-
que, de acordo com a incumbência pois como fruto maduro.
O MOTIVO PARA A OFERTA
Rudi Zimmer

I — Introdução II — Confusão com respeito ao


motivo

M o t i v o — " 1 . Que pode fazer mo-
ver; motor. 2 . Que causa ou deter- Na análise das citações seguintes
procederei da seguinte forma: Após
mina alguma coisa."
as citações de cada autor, em que
Motivação — " 1 . Ato de motivar. sublinharei certas expressões, farei
2. Exposição de motivos ou causas." comentários para elucidar a confu-
(Aurélio B. de Holanda Ferreira, No- são.
vo Dicionário da Língua Portuguesa, 1 . O mordomo cristão, porém,
p. 9 5 5 ) . não se contenta em apenas
reconhecer e agradecer com
De acordo com estas definições, a os lábios. Sua gratidão o
palavra " m o t i v o " deverá ser usada, induz à ação, à consagra-
no campo da oferta ou mordomia, ção, a oferta. "O amor de
preferencialmente com respeito àque- Cristo nos constrange" (2
Co 5 . 1 0 ) . (P. Gueths, Mor-
la força motora que leva, ou impele,
domia Cristã, p. 52)
o cristão a ofertar. A palavra " m o t i -
vação," por outro lado, diz respeito 3 . O motivo certo:
ao ato, ou ao processo, de expor os gratidão a Deus!
cristãos a esta força motora (o mo- Nossas ofertas são nossa
resposta le gratidão a Deus
t i v o ) , para que sejam movidos a ofer-
por tudo o que Deus tem
tar.Neste estudo queremos focalizar feito por nós, tanto no
a atenção sobre o motivo verdadeiro plano material, como es-
que a Bíblia apresenta para a oferta piritual da vida. (Ibid., p.
do cristão. 56).

A o preparar-me para falar sobre 0 privilégio de ofertar e


este assunto, percebi que ele real- compartilhar os bens com
mente vem sendo um problema em os semelhantes, é uma cons-
nossa igreja. A s s i m , começarei o tante oportunidade que Deus
te concede para demonstrar-
trabalho com a análise de alguns tre-
lhe, em profunda gratidão,
chos tirados da nossa literatura so-
que a cruz do Gólgota é uma
bre a oferta, para mostrar como de realidade também em tua
fato há uma confusão em torno des- vida! (P. Guethe, ML, maio
te assunto. Depois, passarei a anali- de 1972, p. 1 4 ) .
sar algumas passagens bíblicas que
apresentam o verdadeiro m o t i v o pa- Aquele que já usou o livro Mor-
ra a oferta. Finalmente, concluirei domia Cristã sabe que ele possui ma-
terial muito bom no que diz respeito
com um gráfico sintetizante.
a todo o campo da mordomia. No

m<:r*.m COR fiRQIA


SEMINARIO CONCl
entanto, neste livro há também esta caso, com muita infelicidade. Se con
confusão sobre o motivo da oferta. siderarmos o contexto desta citação,
Na primeira citação do livro, o au- percebermos isto. Antes deste pon-
tor afirma que a gratidão do mordo- to " 3 . " o autor vinha com muita pre-
mo cristão o induz à oferta. O em- cisão enumerando e expondo os mo-
prego da forma verbal "induz" clara- tivos falsos para oferta. Finalmente,
mente mostra que a gratidão é vista vem o momento decisivo para dar
como a força motora que leva o cris- "O motivo certo," e então ele
tão a ofertar. O que é estranho, po- afirma categoricamente: "gratidão a
rém, é que o autor procura sustentar Deus!" A confusão torna-se mais a-
esta afirmação com a passagem bí- parente ainla quando se vê que, ao
blica que é citada em seguida, a sa- descrever este motivo, ele não con-
ber: "O amor de Cristo nos cons- sidera mais a gratidão como motivo,
trange" (2 Co 5 . 1 4 ) . Isto é estranho mas como a própria oferta, pois ele
porque a passagem em questão não logo diz: "Nossas ofertas são nossa
fala da gratidão. Ela fala, s i m , d o resposa de gratidão a Deus por t u -
"amor de Cristo," isto é, deste com- do o que Deus tem feito por nós."
pleto entregar-se de Cristo sobre a De modo que aqui o motivo das o-
cruz em favor do pecador. Este pelo fertas é "tudo o que Deus tem feito
menos é o sentido que o próprio a- por nós," isto é, certamente seu
póstolo Paulo dá ao texto: "Pois o amor revelado em Cristo, e as ofer-
amor de Cristo nos constrange, j u l - tas são consideradas "nossa respos-
gando nós isto: um morreu por to- ta de gratidão a Deus," o que equi-
dos logo todos morreram. E ele mor- vale a dizer que as ofertas são atos
reu por todos para que os que vivem de gratüão. Portanto, neste caso, a
não vivam mais para si mesmos, mas gratidão não é mais o motivo da o-
para aquele que por eles morreu e ferta, mas a oferta é a própria gra-
ressuscitou." (2 Co 5 . 1 4 . 1 5 ) De mo- tidão que vem em resposta ao amor
do que, em Paulo, a afirmação, "o de Deus. E, assim, coloca-se nova-
amor de Cristo nos constrange," sin- mente a pergunta: Qual é o verda-
tetiza a dinâmica da ação redentora deiro motivo da oferta? a nossa
e santificadora de Deus, a saber, a gratidão ou o amor de Deus em
certeza de que a mensagem da en- Cristo?
trega total de Cristo na sua morte
por nós (o ápice do seu amor) cons- Finalmente, na terceira citação, o
titui a força motora para que os cris- mesmo autor de maneira convincen-
tãos "não vivam mais para si mes- te e comovedora apresenta um moti-
mos, mas para aquele que por eles
vo apenas. Desta vez o motivo ex-
morreu e ressuscitou." Portanto, ten-
presso é a "cruz do Gólgota," isto é,
do esclarecido a gramática da p r i -
o amor de Deus revelado no Cristo
meira citação, coloca-se a seguinte
pergunta: Qual é o verdadeiro mo- crucificado. A gratidão é menciona-
tivo da oferta? a nossa gratidão ou da aqui apenas para descrever mais
o amor de Cristo? claramente esta oferta motivada pela
cruz. Isto é, a oferta é considerada
como uma demonstração visível d o
Na segunda citação, o autor re- profundo reconhecimento que o cris-
pete esta mesma confusão e, neste tão tem pelos benefícios recebidos
pela cruz. Portanto, neste caso, con- quer ser amado por Deus?" Na rea-
sidera-se a oferta como motivada pe- lidade, com esta pergunta e com a
la cruz, mas manifestando-se como maneira como o autor citou a pro-
um ato de gratidão. messa de Deus no f i m do segundo
parágrafo ("A Q U E M " em maiúscu-
2. É impossível que um cris-.
las), ele está claramente propondo
tão consciente seja um mau
uma barganha com Deus. j « t n °, f r -
contribuinte para o reino de
esta dizendo que o cristão pode com-
Deus. É contradição um cris-
prar o amor cio Deu:; com a sua
tão genuíno dar a Deus do •
"contribuição," desde que esta n ã - n

que lhe sobra, porque, quan-


seja a sobra, mas dada c o m amor e
do um cristão de verdade
sacrifício. Quem teve oportunidade
faz seu orçamento pessoal e
de estudar qualquer um dos cultos
familiar ele já inclui a quan-
pagãos sabe que este tipo de barga-
tia do seu investimento no
nha consitui a verdadeira essência
reino de Deus. E esta quan-
destes cultos.
tia, você pode crer, não se-
rá sobra; será, isto sim, da- Biblicamente, as promessas do
do com amor e com sacri- . Deus nunca são o motivo para oferr
fício; pois ele sabe que Jar-, No entanto, sendo Deus fiel
"Deus ama a quem dá com cumpridor de suas promessas, o ofer-
alegria." E quem é que não tar do cristão fornece-lhe a ocasião
~_jjuef~sej_amatio por Üeus? para derramar as bênçãos prometidas.
(C. Albrecht, ML, outubro de Portanto, trata-se de uma ocasião li-
1 9 7 3 , p. 21) vremente escolhida por Deus, que
não pode ser provocada por uma bar-
Prezado leitor: pense nisso ganha da parte do homem. A barga-
no próximo orçamento da nha, isto s i m , destruirá esta ocasião,
sua comunidade, quando pelo simples fato de ela não ser uma
você fizer sua promessa de oferta. De modo que, embora não
contribuição para Cristo. Se- sendo motivo, as promessas foram
você auer salvar almas, en- dadas para o estímulo, o incentivo, e
tão aja logo, enquanto é . também como a esperança do cris-
tempo! E não se esqueça de tão. (Veja Acir Raymann, "Promes-
que "Deus ama A QUEM dá -sas no Antigo Testamento" — traba-
c o m alegriaI" (Ibid.) lho).

Com toda a franqueza, nestes dois 3 . A contribuição para o reino


_garágrafos o, autor anuncia uma teo- de Deus é um privilégio dos
logia tipicamente pagã.) Isto pode cristãos. A contribuição de-
chocar, mas leiamos c o m atenção o ve ser espontânea, deve pro-
que está realmente escrito. Ninguém ceder da gratidão pela gra-
duvida que Deus tenha feito a pro- ça recebida. Paulo, ao pedir
messa de 2 Coríntios 9 . 7 : "porque ofertas dos cristãos da M a -
Deus ama a quem dá com alegria." cedónia para os carentes de
No entanto, será que à base desta Jerusalém, lembrou-lhes a
promessa podemos fazer a pergunta graça do Senhor: "Vos fa-
que o autor faz: "E quem é que não zemos conhecer a graça de
Deus." 2 Co 8 . 1 . . A Bíblia guém duvida de que a. f é seja po-
fala ao coração. Por isso im- derosa, capaz até de transportar mon-
porta que vigiemos para não tes. No entanto, tal poder só terá
cairmos na tentação: o f i m aquela fé que seja continuamente ali-
justifica os meios. O amor mentada pela mensagem da graça de
de Cristo nos deve constran- "TJãus Am Cristo, o evangelho. (Veja~
ger nas contribuições, para J . T. Mueller, Dogmática Cristã, v o l .
que sejam proporcionais aos 2:64-70). Portanto, a fé só pode ser
vista como motivadora da oferta de
rendimentos obtidos. Quan-
um modo subordinado ao evangelho.
do a contribuição fôr pro-
A bem da verdade, esta parece ser a
porcional e movida pela f é
compreensão d o autor, como se vê
em Cristo ela será e é no próprio qualificativo " ( f é ) em
aceitável diante de Deus. Cristo" e nas referências à "graça" e
(R. H. Heimann, ML, julho ao "amor de Cristo." No entanto, va-
de 1978) le o esclarecimento para mostrar que,
nas pregações de motivação, a ênlase
Além de outras observações que se não deve cair sobre a fé, mas sobre_
poderia fazer em relação a esta cita- a graça de Deus em Cristo. É interes-
ção — como, por exemplo, o uso sante notar que o mesmo autor já
muito freqüente do verbo "dever." havia escrito um bom artigo sobre
que soa intensamente legalista —, a motivação u m ano e meio antes
queremos apenas referir-nos à frase deste que aqui foi citado, no qual
final: "Quando a contribuição fôr ele f o i muito mais preciso". (Veja
proporcional e movida pela f é em R. H. Heimann, "Salvo para ofertar,"
Cristo ela será e é aceitável diante ML, janeiro de 1977).
de Deus."
A primeira coisa que se desta- 4. Ofertar é um ato de adora-
ca nesta frase é que o autor consi- ção, como é o cantar, o orar,
dera duas coisas como sendo essen- o louvar: "Honra ao Senhor
ciais para uma "contribuição" ser a- com os. . . " É a maneira
ceitável diante de Deus, a saber, (1) concreta, (visível, palpável
ela precisa ser proporcional e (2) pela qual mostramos a nos-
precisa ser movida pela fé em Cris- sa gratidão a Deus. A gra-
to. Além disso, é muito estranha a tidão é o motivo fundamen-
ordem em que estes dois elementos tal da oferta. Não se oferta
são colocados. Será que esta ordem por obrigação mas por amor
é sugerida como sendo uma ordem e gratidão a Deus. Por isso
de valor, dando-se mais valor à pro- não deve haver tristeza na
porcionalidade da oferta e menos ao oferta. "Deus ama a quem
motivo que a produz? Enfim, será dá com alegria." (P. K.
que esta frase reflete o ensinamen- Jung, ML, dezembro de
to bíblico sobre a oferta? 1 9 7 8 , contracapa).
Aqui se repete, em grande parte,
Por outro lado, é preciso ainda
a confusão das primeiras citações.
analisar um pouco a expressão " m o
De u m lado o autor afirma que
vida pela fé em Cristo," pois ela fala
ofertar "é a maneira concreta, visí-
especificamente do nosso tema. Nin-
vel, palpável pela qual mostramos a dor para as nossas açnes i;ivessa
nossa gratidão a Deus," descrevendo que vir de _JQQS—mesmos. "Nisto
a oferta como ato de gratidão. Em consiste o amor." diz São João —
seguida, porém, é dito que "a grati- e ele está falando a respeito do
dão de Deus é o motivo fundamen- nosso amor a pessoas —, "não em
tal da oferta." E, ao explicar isto, o que nós tenhamos amado a Deus,
autor ainda une à gratidão do crente mas em que ele nos a m o u " (1 Jo
o seu amor como mais um motivo, 4 . 1 0 ) . Quando damos dinheiro co-
dizendo: "Não se oferta por obriga- mo um ato de culto, o poder para
ção, mas por amor e gratidão a isto não vem do nosso amor a
Deus." Deus, mas vem de Deus que nos
captura e nos faz seus através de
Com respeito a este tipo de apelo Jesus Cristo; nossas ofertas são
à gratidão e ao amor do cristão co- apenas um sinal do fato que per-
mo motivos para ofertar, outros já tencemos a ele, e são a nossa ma-
se manifestaram, e suas considera- neira de dizer um ao outro que de
ções são muito esclarecedoras. Quan- fato assim é. Quando damos d i -
to à gratidão, Waldo J . Werning a- nheiro a pessoas, nosso amoi—pe»-
f-i riria: — | a t t
ppq^pgg a r|iipm ajudamos_é_D_
A gratidão pode facilmente ser próprio d o m de Deus em nosso-co-
mal compreendida, e ser usada jiação—a-teavés—do- Salvador- Jesus_-
como uma exortação f á c i l . "Sejam
__C_rJsto (Feeding and Leading pp.
agradecidos!" pode ser uma exor-
~ 59-60).
tação moralística errada. A grati-
dão também é uma graça de Deus Finalmente, às vezes também se
e precisa ser procurada nele, por- diz que a oferta é "o fruto da minha
que ela não pode ser produzida (ou nossa) consagração," como acon-
em nós pelo nosso próprio esfor- teceu no encontro dos secretários de
ço. A gratidão não é um motivo; mordomia. Por isso, ouçamos ainda
gratidão é resposta e, como res- o que Caemmerer diz sobre o rela-
posta, ela se expressa em atos es- cionamento entre a consagração e a
pecíficos. A gratidão é um fruto, oferta: "É verdade, ofertar, sem dú-
não uma raiz. . . O motivo é o vida, será um ato de consagração a

4 amor de Deus pelo h o m e m , nao


o amor do homem a Deus. (The
Deus; mas a consagração não é um
motivo para ofertar, ela é o próprio
Stewardship Cali, p. 4 9 ) ofertar." (Ibid., p. 6 5 ) .

5. A oferta de Abraão como a


No que diz respeito ao apelo ao
de Jacó (promessa) foram
amor do cristão, vejamos o que nos
espontâneas e movidas por
diz Richard R. Caemmerer:
gratidão. Foram decisões
Lembremos que no esquema da re- pessoais e agradáveis a
ligião cristã o amor — seja amor a Deus. ( N . L. Figur, "O Dízi-
Deus ou amor ao próximo — não mo," p. 1 — trabalho apre.-
é nenhum m o t i v o . Amor é ação; sentado neste mesmo en-
amor é aquilo para o que a pessoa contro). Enquanto o povo do
já f o i motivada. Nós seríamos pes- AT ofertava o dízimo movi-
soas perdidas se o pode do pela exigência da lei, no
NT o povo de Deus é movi- no entanto, agride-se o Cristocentris-
do pela gratidão na questão mo da Escritura e da vida cristã. Pois
da oferta. (Ibid., p. 3) algumas afirmações, quer voluntária
Nestas afirmações repete-se o a- ou involuntariamente, são semi-pela-
pelo à gratidão como motivo para a gianas.
oferta. Sendo que isto já foi escla-
recido acima, não será preciso outro Ill — Passagens Bíblicas
esclarecimento. esclarecedoras
No entanto, a frase "o povo do
AT ofertava o dízimo movido pela Nesta parte do trabalho quero mos-
exigência da l e i " deverá receber um trar o poder motivador que profetas
breve comentário. Aqui a exigência e apóstolos trouxeram diante de seus
da lei é apresentada como a força ouvintes ou leitores, para que estes
motivadora para a oferta do dízimo progredissem na santificação, incluin-
no tempo do Antigo Testamento. Es- do a oferta. Sendo que a oferta faz
tá certo que o israelita descrente ou parte do campo da santificação, pas-
ingrato dava o dízimo movido pela sagens que tratam deste assunto ser-
exigência da l e i , mas isto não acon- vem ao nosso propósito. {Para com-
tecia com o crente verdadeiro do An- preender o que será dito agora, é
tigo Testamento. Basta que nos lem- absolutamente necessário acompanhar
bremos de Abraão (Gn 1 4 ) , que o- com a Bíblia aberta o estudo das pas-
fertou o dízimo movido pela graça sagens indicadas.)
de Deus que interveio em seu favor.
E ainda podemos mencionar como 1. Deuteronômio 4 . 3 2 - 4 0
os filhos de Israel" também os dízi-
mos de tudo trouxeram em abundân- O livro de Deuteronômio é o me-
cia" (2 Cr 3 1 . 5 ) por ocasião da re- lhor manual de homilética que se po-
forma religiosa do rei Ezequias. O
de encontrar. Constituído, essencial-
motivo para isso certamente não foi
mente, de quatro sermões de M o i -
a exigência da lei. Neste caso, o mo-
sés, este livro fornece orientação se-
tivo para a oferta claramente foi a
graça de Deus novamente manifesta gura para a elaboração de sermões
no culto verdadeiro restabelecido no que realmente venham a refletir a d i -
templo de Jerusalém, após anos de nâmica da atuação de Deus para com
idolatria; embora, naturalmente, a o homem. Como não há espaço para
forma desta oferta fosse orientada analisar um sermão inteiro de M o i -
pela lei cerimonial. sés, vejamos este trecho bem repre-
sentativo.
Em resumo: A confusão quanto Lembremos que Moisés está pre-
ao motivo para a oferta, presente nas gando para a nova geração do povo
de Israel, depois de 4 0 anos de pe-
citações acima, revela uma falta de
regrinações no deserto; esta geração
clareza com respeito a dois princípios nova que estava prestes a ingressar
hermenêuticos fundamentais. Na su- na terra de Canaã. O objetivo geral
perfície aparece, inquestionavelmen- de Moisés é preparar o povo para a
te, a imprecisão na distinção entre nova vida nesta terra, a f i m de que,
lei e evangelho. Mais profundamente, uma vez estando lá, não se desvias-
sem de Deus, mas levassem uma v i - tuguês. Ele usa o indicativo, mais pre-
da cada vez mais consagrada aos cisamente, o perfeito com vaw conse-
propósitos de Deus. cutivo. Isto significa que, diante de
No caso específico deste texto, o tanta graça era óbvio que o povo se
objetivo de Moisés (e de Deus, é punha a progredir na santificação.
claro!) está expresso no vers. 4 0 : Necessário era apenas indicar-lhes o
"Guarda, pois, os estatutos e os seus caminho a seguir.
mandamentos, que te ordeno hoje, ___P_e_ modo que o motivo, a forca
para que te vá bem a t i , e a teus motora, capaz de impelir o crente a_
filhos depois de t i , e para que pro- uma vida mais consagrada 6 unica-
longues os dias na terra que o Se- mente a graça de Deus, o seu amor
nhor teu Deus te dá para todo o incomensurável em favor do pecador,
sempre." Portanto, trata-se da santi- comunicado no evangelho.
ficação em geral, começando pelo
dar-se a si mesmo primeiro ao Se- 2. Deuteronômio 7
nhor.
Todo este capítulo é outro texto
Agora, a que força motivadoraíjyioj^
excelente para esclarecer o nosso as-
sés apela para que o povo de fato
sunto. Os versículos 1 a 11 são se-
venha a guardar os estatutos e os
melhantes ao trecho analisado acima,
seus mandamentos. . . ? Ele não apela
tendo especialmente nos vers. 6 a 8
à sua gratidão, ao seu amor, ou à
ã descrição da graça de Deus m o t i -
sua consagração, mas ele lhes apre-
vadora da obediência. Sendo assim,
senta um relato daquilo que Deus
não irei abordar mais estes versícu-
vem realizando em seu favor. Moisés
los.
faz isto, começando a declarar, nos
vers. v2 a 3 6 , a incomparabilidade No entanto, merecem atenção os
do relacionamento do Senhor Deus vers. 12 a 2 6 . Neste trecho constam
para com Israel. Isto é, desde a cria- várias promessas que Deus faç aos
ção somente a Israel sucedeu coisa que obedecem a sua orientação: ferti-
tão grandiosa; somente a Israel Deus lidade da terra, fertilidade para os ca-
fez ouvir a sua voz; somente a Israel sais, afastamento de doenças malig-
Deus escolheu dentre todos os po- nas e a destruição dos inimigos. Es-
vos e o libertou da escravidão; en- tas promessas, porém, não são apre-
f i m , somente a Israel o único Deus sentadas como motivo para a obedi-
verdadeiro se manifestou. Movido ência, pois o motivo já foi apresenta-
pelo seu grande amor foi que ele do nos vers. 6 a 8. As promessas
escolheu a Israel e os tirou do Egi- mostram, isto s i m , que Deus, que é
t o , destruindo diante deles todos os livre para derramar bênçãos sobre os
os seus inimigos, para introduzi-los seus filhos, usa a obediência moti-
numa terra que será sua.
vada pela graça como ocasião para
Após lembrar-lhes toda esta graça cumprir as suas graciosas promessas.
imerecida que Deus lhes dispensou, Desta forma, as promessas são um
Moisés conclui: "Guarda, p o i s , . . . " estímulo para o crente, mas jamais
Na realidade, Moisés não usa o i m - um motivo. Se ocorrer o contrário, o
perativo como está traduzido no por- culto se paganiza, como diversas ve-
zes ocorreu em Israel. (Cf. Is 1 ; A m mulação dos princípios da mordomia
5.21-27; Jr 7 ) . cristã existente.
Veja também outros textos seme-
lhantes a este: Deuteronômio 1 0 . 1 2 - 4 . Atos 10.34-48
1 1 . 3 2 ; Josué 2 4 . 1 - 2 8 .
Neste nosso assunto evidencia-se
a unidade da Escritura. Assim como
3 . Deuteronômio 26.5-10
no Antigo Testamento a manifesta-
ção da graça de Deus, ou a anun-
Este texto fala especificamente da
ciação desta graça, impele o crente
oferta. Trata-se da instrução de co- à consagração, à oferta, da mesma
mo o israelita fiel ao Senhor deveria forma no Novo Testamento é a gra-
fazer sua oferta das primícias de to- ça de Deus em Cristo, ou a prega-
dos os frutos da nova terra. ção da boa nova desta graça que i m -
Diante do altar do Senhor o israe- pele o cristão a uma vida santifica-
lita era chamado a lembrar o verda- da. E o texto em questão é dos mais
deiro motivo que o levava a ofertar, típicos do Novo Testamento.
a_saber, a graça de Deus que o es-
Conhecemos as circunstâncias do
colheu, chamou, libertou — a ele que
acontecimento relatado no texto. Pe-
estava perdido e condenado — e o
dro tinha sido chamado à casa de
trouxe a uma terra que mana leite e
Cornélio para trazer também a ele
mel. Em vista destes atos da graça
— um gentio — e seus familiares a
de Deus, o israelita concluía: "Eis
boa nova da graça de Deus. Chegan-
que agora trago as primícias dos fru-
do à casa de Cornélio, Pedro, de ma-
tos da terra que t u , ó Senhor, me
neira simples, passa a relatar como
deste." No sentido literal este versí-
Deus, através de Jesus Cristo, veio
culo começa assim: "E agora eis que
ao encontro dos homens para os re-
t r a g o . . . " A expressão "E a g o r a . . . "
dimir e salvar. É importante notar
(veatah) é uma introdução típica pa-
que Pedro não chega a concluir o
ra ações que vêm em resposta a ma-
seu irmão, e, principalmente, ele
nifestações da graça de Deus men-
não chega nem a tocar na orientação
cionadas imediatamente antes. (Cf.
para uma vida consagrada. No entan-
Ex 3 . 1 0 ; 1 9 . 5 ) .
to, esta vida logo se manifesta auto-
De modo que temos a mesma d i - maticamente como resultado do po-
nâmica da ação de Deus presente der da boa nova da graça de Deus.
neste texto: A oferta é motivada pe- Pois os que ouviam a Pedro não ape-
lo poder da graça de Deus mediante nas receberam o dom do Espírito
a_fg Digo "mediante a f é " , pois era
t
Santo, mas também engrandeciam a
mediante a mão receptora da fé que Deus.
o poder da graça impelia o israelita
a ofertar. 5. Romanos 12.1-2

Diga-se de passagem que este tex- Sabemos que Romanos é a epís-


to é muito semelhante à explicação tola mais sistemática d o apóstolo
de Lutero do segundo artigo do Cre- Paulo. A pregação da boa nova da
dp Apostólico, que é a melhor for- graça de Deus Paulo faz principal-
mente nos capítulos 3 a 5 . Nos ca- Somente a graça de Deus em
pítulos 12 a 16 Paulo orienta os Cristo poderia levar os cristãos co-
cristãos para uma vida de serviço e ríntios à graça de participar da aju-
dedicação a j i e y s . No entanto, mes- da aos cristãos de Jerusalém.
mo assirrtJ^aulo)não deixa de men-
7 . 2 Coríntios 8 e 9
cionar, e r n ^ f T ^ é s i n t e c c a l a d a s , a boa
nova da graça de Deus, põts- ele sa- Estes dois capítulos trazem o mais
be que esta é a única força capaz extenso tratamento dos princípios da
de mover corações e vida a um ser- oferta, no Novo Testamento. Richard
viço verdadeiro e dedicado a Deus. R. Caemmerer (Feeding and Leading,
p p . 52-62) analisa estes capítulos de
Já nestes dois primeiros versícu-
maneira muito esclarecedora, cha-
los, nos quais Paulo fala da mordo- mando atenção especial ao relaciona-
mia da vida, do entregar-se a si mento entre o motivo para ofertar e
mesmo primeiro ao Senhor, ele diz: o estímulo produzido pelo exemplo
"Rogo-vos, pois, irmãos, pelas mise- de outros ofertantes. Sendo assim,
ricórüas de Deus que apresenteis os vou trazer a seguir, em tradução e
vossos corpos por sacrifício vivo, adaptação, a análise de Caemmerer,
santo e agradável a Deus. . . " "Pelas naquilo em que ela nos interessa.
misericórdias de Deus," que fonte de
poderl Paulo inicia o cap. 8, destacando
a oferta dos cristãos macedônios,
6. 1 Coríntios 15 e 16 pois "deram-se a si mesmos primei-
ro ao Senhor, depois a nós, pela von-
Muitas vezes, na Bíblia, a divisão tade de Deus" ( 8 . 5 ) . jEles_j2mm_pa=L-
em capítulos e versículos e os títu- bres, mas ricos na graça de dar ( 8 .
los atrapalham a correta compreen- 2 ) . De modo que a igreja primitiva
são do texto. Este é um dos trechos se pôs a providenciar que esta dádi-
em que isto também acontece. va fosse levada aos necessitados.
Além disso, houve a preocupação em
Sabemos que 1 Coríntios 15 é o edificar este dom (a graça de dar)
grande capítulo da ressurreição. No em outros cristãos, e usar o exemplo
entanto, convém saber também que dos macedônios como um estímulo
o apóstolo Paulo não estava apenas para outros. Isto requer um exame
escrevendo um tratado teológico so- mais acurado.
bre a ressurreição de Cristo e, em
vista disso, sobre a nossa vitória so- Parte do processo de levar as o-
bre a morte e a nossa ressurreição fertas ao seu destino era alertar os
final. Paulo visava também com esta ofertantes para a real necessidade de
pregação majestosa da graça de suas ofertas. 1 Coríntios 16 deve
Deus mover os cristãos coríntios a ser lembrado aqui — a sugestão de
serem "firmes, inabaláveis, e sempre reunir o dinheiro semanalmente para
abundantes na obra do Senhor" ( 1 5 . que estivesse pronto para ser reme-
58), inclusive no que diz respeito à tido quando chegasse a hora.
coleta para os santos de Jerusalém
No entanto, o detalhe de produzir
( 1 6 . 1 - 4 ) . Eis a importância do "Por-
a prontidão, ou a boa vontade, para
tanto," em 1 5 . 5 8 , que introduz estas
dar a oferta é ainda mais interessan-
recomendações.
te e nem sempre discernido. Básico

23
para esta fase da oferta, em 2 Corln- de uma maneira tal como o manda-
tios, é cultivar a oferta como uma mento, a autoridade pessoal e o a-
graça, isto é, como um d o m de Deus pelo não poderiam nem deveriam fa-
"ao coração do ofertante. Este proces- zê-lo.
so já estava em andamento em Co- Paulo logo junta a este exemplo
rinto por causa do evangelho que o caráter de dois outros homens: T i -
Paulo e Tito haviam pregado ( 8 . 6 ) , to e possivelmente Lucas. Ele afirma
e o seu objetivo era levar este d o m que a maneira de Tito trabalhar pa-
à perfeição. Este é o processo da ra e por eles não é uma demonstra-
alimentação cristã para o qual a rei- ção de esforço por causa de um
teração da obra redentora de Jesus mandamento; é antes uma demons-
Cristo é da maior importância. 2 Co- tração de seu amor por pessoas e o
ríntios 8 emprega este processo. seu zelo pelo seu progresso cristão.
Paulo afirma que ele não está operan- Estes homens tinham a reputação de
do com o método do mandamento serem zelosos pregadores do evan-
( 8 . 8 ) . Seu objetivo é a sinceridade gelho e de lidarem cuidadosamente
do seu amor, o qual está ligado à c o m o dinheiro de outras pessoas.
obra e ao dom de Deus, diz ele; e Eles não eram apenas bons maneja-
o mandamento destruiria esta linha dores de dinheiro; eram um estímu-
de força. Esta linha de força ele ime- lo para ofertar.
diatamente enfatiza: "Pois conheceis a
graça de nosso Senhor Jesus Cristo, Além disso, a graça de oferta a t i -
que sendo rico se fez pobre por amor va entre os coríntios deveria tornar-
de vós, para que pela sua pobreza se um estímulo para outros; na ver-
vos tornásseis ricos" ( 8 . 9 ) . Esta a- dade, isto já havia acontecido: "o
firmação é bem concisa; sua carga, vosso zelo tem estimulado a muitís-
porém, está no fato que no decorrer simos" ( 9 . 2 ) . Sua realização passa-
de toda a carta Paulo vinha colocan- da já havia feito zelosos a outros
do a obra redentora dft Ja^ns r.nmn n cristãos, e era importante que agora
centro de sua mensagem e o único não falhassem mas continuassem a
poder que ele tinha para produzir e- dar u m , poderoso estímulo no futuro:
Ora, quanto à assistência a favor
~TiTtõs entre eles. (Cf. 1.3-5,18-22;
dos santos, é desnecessário escre-
2.14-17; 3 . 3 - 1 1 ; 4.4-6,14-18; 5.10-
ver-vos; porque bem reconheço a
2 1 ; 6.16-18).
vossa presteza, da qual me glorio
Ao mesmo tempo Paulo entra num junto aos macedônios, dizendo que
processo que no sentido exato é ad- / a Aca ia está preparada desde o
ministração, "supervisão." Isto é, que ano passado; e o vosso zelo tem
o exemplo de um grupo de cristãos I estimulado a muitíssimos. Contu-
pode estimular outro. Paulo apresen- I , do, enviei os irmãos, para que o
ta aos coríntios o exemplo dos m a c e - / nosso louvor a vosso respeito, nes-
dônios ( 8 . 2 - 5 ) . Ele destaca como seu te particular, não se desminta, a
ofertar foi extraordinário, pois ia além f i m de que, como venho dizendo,
do que se poderia esperar. E diz que estivésseis preparados, para que,
seu pedido aos coríntios está ligado caso macedônios vão comigo e vos-
ao zelo dos macedônios; sua energia encontrem desapercebidos, não f i -
e consagração deveria estimulá-los quemos nós envergonhados (para
não dizer, vós) quanto a esta con- IV — Conclusão
fiança. Portanto, julguei convenien-
te recomendar aos irmãos que me Gráficos para sintetizar verdades
precedessem entre vós, e preparas- bíblicas têm a sua utilidade, mas
sem de antemão a vossa dádiva nunca serão perfeitos. Por isso o
já anunciada, para que esteja gráfico seguinte encontrará seus crí-
pronta como expressão de genero- ticos. (Veja gráfico pg. 26)
sidade, e não de avareza. E isto
a f i r m o : Aquele que semeia pouco, A s s i m , o recado bíblico é este: Pa-
pouco também ceifará; e o que ra levar os cristãos a um ofertar
semeia com fartura, com abundân- ^pronto, continuado e sempre crescen-
cia também ceifará. Cada um con- te, o único recurso é a graça de
tribua segundo tiver proposto no Deus em Cristo, anunciada tipológi-
coração, não com tristeza ou por ca e profeticamente no Antigo Tes-
necessidade (obrigação); porque tamento e manifestada plenamente
Deus ama a quem dá com ale- ñojjovoTestamento.
gria. ( 9 . 1 - 7 ) No sermão do primeiro domingo
de Epifanía sobre Romanos 1 2 . 1 - 6 ,
Este impulso para a oferta pronta Lutero afirma:
e continuada certamente poderia de-
generar para uma simples pressão Ein Gesetztreiber dringt mit Dräuen
pessoal. Eis porque Paulo prontamen- und Strafen; ein Gnadenprediger
te retorna ao reforço da fonte espiri- lockt und reizt m i t erzeigter gött-
tual: licher Güte und Barmherzigkeit;
Deus pode fazer-nos abundar em denn er mag keine unwilligen
toda graça, a f i m de que, tendo Werke und unlustigen Dienst, er
sempre, em tudo, ampla suficiên- w i l l fröhliche und lustige Dienste
cia, superabundéis em toda a boa Gottes haben. Wer sich nun nicht
obra, como está escrito: Distribuiu, lässt reizen und locken mit solchen
deu ao pobres, a sua justiça per- süssen lieblichen Worten von
manece para sempre. Ora, aquele Gottes Barmherzigkeit, uns in
que dá semente ao que semeia, e
Christo so überschwänglich ge-
pão para alimento, também supri-
rá e aumentará a vossa sementei- schenkt und gegeben, dass er mit
ra, e multiplicará os frutos da vos- Lust und Liebe auch also thue,
sa justiça; enriquecendo-vos em Gott zu Ehren, seinem Nächsten
tudo para toda a generosidade, a zu gute, der ist nichts und ist alles
qual faz que por nosso intermédio an ihm verloren. (Luthers Sämtli-
sejam tributadas graças a Deus. che Schriften. St. Louis: CPH,
(9.8-11)
1883. V o l . Xl:318)
A
COMO EDUCAR PARA A OFERTA VOLUNTARIA?
Horst Kuchenbecker

Educar nunca foi tarefa f á c i l . Ca- e a utilidade, o juízo e a salvação


da geração se defronta com desafios que estão neste sacramento, então v i -
especiais. Quanto trabalho Adão e rão espontaneamente sem serem for-
Eva devem ter tido na educação de çados."
seus filhos. Quanto trabalho Moisés Educar para a oferta voluntária
passou durante meio século, educan- consiste, portanto, em motivar os
do o povo de Israel. Quanta alegria cristãos para que de própria vontade,
e tristeza tiveram os profetas, o pró- com alegria, de forma incansável e
prio Salvador Jesus e os apóstolos abundante coloquem seu tempo, seus
no campo da educação. O trabalho dons, suas forças, e seus bens a ser-
de educar ou reeducar uma comuni- viço da causa de Cristo. Que vivam
dade não se resume ao trabalho de a l - seu voto batismal, sufocando o velho
guns anos, muito menos a uma cam- homem, fazendo ressurgir o novo ho-
panha. Educar é uma luta árdua e um mem que vive diante de Deus em
desafio constante. perfeita justiça e santidade.
O trabalho de educar exige do e- Como conseguiremos isso? Enume-
ducador muita abnegação, apego à ramos aqui alguns itens que nos po-
palavra de Deus, sobretudo correta dem ajudar a alcançar nosso obje-
divisão e aplicação de Lei e Evan- tivo.
gelho, unido a fervorosas orações.
Não esquecendo que neste trabalho
somos servos de Cristo, o Senhor, e 1 — A lei
que o homem pode resistir ao evan-
gelho, que o Espírito Santo age " o n - "Porque se fosse promulgada uma
de e quando lhe aprouver" (CA, 5 ) . lei que pudesse dar v i d a " (Cl 3 .
21).
O que significa educar? Educar é
influenciar o intelecto e a vontade de " A letra mata" (2 Co 3 . 6 ) .
uma pessoa para que ela, pela pró- Muitos consideram a lei um gran-
pria vontade, renuncie ao mal e pra- de recurso na educação. De fato, a
tique o bem. Lutero, em sua intro- lei tem na educação finalidade bem
dução ao Catecismo Menor, quando específica. Nosso Catecismo Menor
se refere à santa ceia, o define as- define magistralmente o uso da lei
s i m : "Não devemos com a lei obri- na educação como freio, espelho e
gar alguém para participar da santa norma. Para essas finalidades a lei
ceia. A pessoa deve por espontânea deve ser usada. A lei, por exemplo,
vontade, obrigar-se a si mesma e so- não pode ser usada para motivar a
licitar que se lhe dê o sacramento. boa mordomia. A lei não dá vida.
Por isso não lhe deves impor nenhu- Infelizmente muitos usam a lei erra-
ma lei, como o faz o papa. Mostre- damente e querem motivar com a lei
lhe somente, com todo o empenho, a boa oferta. Açoitam suas comuni-
o proveito e o prejuízo, a necessidade dades com a lei. Se não conseguem
atingir o alvo, envergonham as co- é por motivo de lei ou por a
munidades com a l e i . Se isso não marém a Deus.
adianta, proferem contra as comuni- 2) O que fazer com uma comu-
dades a maldição divina. Lutero afir- nidade cujo potencial econô-
ma: "Quem quiser forçar a contribui-
mico é bom, mas que não con-
ção pela lei, não é um pregador cris-
tribui como deveria?
tão, mas um legislador mundano".
Tal uso da lei produz por vezes fru-
tos aparentes, mas eles não são a- 2 — 0 evangelho
gradáveis a Deus.
"O espírito v i v i f i c a " (2 Co 3 . 6 ) .
Na educação para a mordomia, u- O evangelho é a boa semente, a
samos a lei como freio, espelho e mensagem da graça em Cristo, o bál-
norma. 0 cristão ainda tem sua car- samo para o coração que foi afligido
ne pecaminosa e nela habita a co- pela lei. O evangelho, a mensagem
biça, a ganância, o egoísmo, o amor do perdão, vivifica, opera e fortalece
ao mundo, etc. Este coração precisa a f é . É o único poder a motivar para
ser quebrado constantemente pela á : boa mordomia. O evangelho não
lei. Os pecados precisam ser des- somente leva a fé, mas leva a fé a
mascarados. A lei mostra, como es- produzir frutos. Vejam como os pro-
pelho, ao pecador como ele deve ad- fetas e apóstolos motivaram a con-
ministrar o tempo, os dons, os bens tribuição: " T o m a i , do que t e n d e s . . .
de coração dispostos. . . e veio todo
que Deus lhe concedeu. A lei profere
homem, cujo coração o moveu e
o juízo e ameaça o mau administra-
cujo espírito o i m p e l i u " (Ex 3 5 . 5 -
dor. A lei mostra como o administra-
2 1 ) . "Eis que eu envio o meu men-
dor deveria ser, mas a lei não dá sageiro que preparará o caminho dian-
forças para realizar o que ela exige. te de m i m ; de repente virá ao seu
A lei não dá vida, por isso a lei não templo o Senhor, a quem vós buscais,
pode ser usada para motivar a boa o Anjo da a l i a n ç a . . . Então a oferta
mordomia. A lei é como um arado será agradável ao Senhor" ( M l 3 . 1 -
que lavra a terra e prepara o coração 5 ) . "Rogo-vos, pelas misericórdias"
para a boa semente do evangelho que (Rm 1 2 . 1 ) . "Conheceis a graça de
contém o gérmen da vida. Por isso nosso Senhor Jesus Cristo" (2 Co 8 .
precisamos pregar a lei em toda a 9 ) . A quem esta misericórdia não mo-
sua força, sem lhe tirar o f i o , nem a ver a ofertar de maneira alegre, vo-
ponta do aguilhão. E o pecador que, luntária, generosa, abundante e de
contrito, reconhece seus pecados pre- forma incansável, nenhuma outra coi-
cisa ouvir o evangelho. O evangelho sa o haverá de mover. Antes lhe de-
que dá vida. vemos dizer que ele é um gentio e
se não se arrepender, será condena-
do às chamas infernais.
Questões para reflexão

1) Descubra, por meio de pergun- Questões para reflexão


, tas, por que os membros de
sua congregação contribuem, 1) Procure mais passagens bíbli-
ou por que evitam pecados, se mas que mostrem como Deus
motiva peio evangelho à vida 4 — Exemplos
santificada.
"Vosso zelo tem estimulado a mui-
2) Muitos dizem que devemos pre-
tos" (2 Co 9 . 2 )
gar mais santificação. Há uma
diferença entre a graça que É importante notar como Jesus e
justifica e a graça que santi- os apóstolos citam exemplos de pes-
fica? soas que se destacaram na vida san-
3) O cristão que deseja servir a t i f i c a d a . Estes exemplos são estímu-
seu Deus por amor a Cristo, lo. Paulo mostra aos coríntios a ge-
vale-se da lei, para motivação nerosidade dos macedônios, (2 Co
ou orientação? 8 . 1 - 4 ) . Jesus chamou a atenção dos
discípulos sobre a oferta da viúva
pobre. { M c 1 2 . 4 2 ) . A Escritura cita
3 — Sacerdotes reais a oferta dos reis magos, ( M t 2 . 1 1 ) .
A esmola de Cornélio ( A t 1 0 . 4 ) . A s
"Vós sois raça eleita, sacerdócio obras de Dorcas (At 9 . 3 6 ) .
real, nação santa, povo de proprie- Ao citarmos exemplos, teremos o
dade exclusiva de Deus" (2 Co 2 . cuidado para não exaltar os feitos
9). humanos sobre a graça de Cristo, mas
Deus não somente nos tirou das colocá-los como frutos da graça. Te-
trevas, mas nos elevou à posição de remos o cuidado, para não transfor-
filhos e conferiu a todos os cristãos mar tais pessoas em super-heróis. Os
o ofício de sacerdotes reais. Isto não exemplos visam exaltar o poder da
é uma frase bonita, mas uma reali- graça e estimular-nos ao apego a pa-
dade. É importante lembrar isso aos lavra da graça, à oração e à luta.
membros de nossas congregações. O- "Importa que ele cresça e eu d i m i -
fertar é um dos privilégios dos sacer- nua" (Jo 3 . 3 0 ) .
dotes. Ofertamos com os lábios o
louvor e a confissão, com as mãos
os sacrifícios de louvor. "Apresentar- Questões para reflexão
se-á voluntariamente o teu povo" (SI
1 1 0 . 3 ) . Toda a vida do cristão, na 1) Os apóstolos, sem dúvida, po-
família, no estudo e no trabalho, na deriam ter falado muito de suas
vizinhança, no lazer é culto a Deus. experiências, mas raras vezes
Culto que se expressa em amor ao o fizeram. Procure em Atos dos
próximo, visando sobretudo a salva- Apóstolos alguns relatos dos a-
ção da alma do próximo. . póstolos e analise-os. Veja o
que eles acentuam.

2) O que pretendemos ao citar al-


Questões para reflexão guns exemplos? Se um exem-
plo seu fosse mencionado, co-
1) Quais as três principais tarefas mo você se sentiria, ciente de
do sacerdote? que todas as suas melhores rea-
2) Os membros de sua congrega- lizações são muito imperfeitas e
ção exercem as funções de sa- se fez algo de bom é por gra-
cerdotes? ça?
5 — Agradecimentos e Questões para reflexão
reconhecimento
1) Analise o capítulo nove da se-
"Para memória sua" (Mc 1 4 . 6 - 9 ) . gunda carta aos coríntios, pa-
Jesus e os apóstolos também elo- ra compreender bem em que
giaram as pessoas por suas ações contexto o apóstolo Paulo faz
generosas. Confira o que Jesus disse o elogio à honra dos coríntios.
a respeito da mulher que o ungiu em 2) Se o tesoureiro de uma comu-
Betânea. Paulo elogiou os filipenses nidade diz: "Irmãos, nossa co-
(Fp 4 . 1 4 - 1 8 ) . munidade irmã fez isso em prol
Toda a oferta voluntária é um triun- da missão. Nós somos muito
fo sobre o velho homem. Mencioná- mais ricos em t u d o , não deve-
lo alegra os irmãos e os estimula a ríamos fazer muito m a i s ? " Isto
lutarem também. Na verdade o louvor está correto? Ou se o tesourei-
não deve ser um louvor carnal, pois ro diz: "Irmãos, nossa comu-
este será um estímulo ao velho ho- nidade irmã comprou u m car-
mem. ro novo, vamos mostrar a eles
que nós podemos comprar um
carro ainda mais valioso".
Questões para reflexão Qual a diferença destes dois
apelos?
1) De que maneira poderemos tor-
nar conhecidos os exemplos e
7 — A recompensa
externar nosso reconhecimento?
2) Os relatórios em nossas revis- "Conheço as tuas obras" (Ap 2.
tas condizem com a realidade 10).
e são usados corretamente?
Tudo é graça. Não há obra, por
mais sacrificial que seja, que mereça
6 — Apelo à honra cristã recompensa. Mesmo assim, Deus pro-
meteu em sua graça recompensar
"O nosso louvor a vosso respeito" seus filhos. Nossas ofertas à igreja
(2 Co 9 . 3 ) . são, sem dúvida, o melhor investi-
mento. Cada oferta de um cristão
O apóstolo Paulo apela à honra
traz altos juros para a eternidade.
dos coríntios. A fama que temos jun- Não há oferta, por menor que seja,
to aos irmãos não é algo sem impor- que Deus não valorize; não há oferta
tância. A verdadeira fama cristã jun- por mais oculta, que Deus não co-
to aos irmãos e ao mundo é honra nheça (Hb 6 . 1 0 ) .
diante de Deus, glorifica a Deus. As-
Deus prometeu a seus filhos re-
sim o apelo à honra cristã é um estí-
compensas na terra (Lc 6 . 3 8 ; M l 3 .
mulo ao novo homem. Infelizmente 10).. Devemos ter cuidado para não
este apelo, usado erradamente, pode enfocar estas promessas erradamen-
tornar-se um apelo ao velho homem te, como o fizeram os fariseus. Pois,
e a oferta que resulta deste apelo po- no momento, em que oferto visando
de ser abominação ao Senhor. recompensa, me desvio do fundamen-
to da graça e caio sob o veredito cura resolver os problemas por meio
da lei. As passagens que falam de de uma campanha, c o m visitas de
recompensas nos estimulam a confiar colegas ou pessoas especializadas
na graça de Cristo. Deus nos prome- no assunto. O que se pretende alcan-
teu que jamais seremos abandonados. çar por este trabalho? Uma campanha
Se Deus não nos concede bênçãos visa iniciar um trabalho que deve ser
materiais é porque em sua onisciente continuado, ou vem para dar estímu-
misericórdia, tem caminhos melho- lo, para sublinhar o que já foi dito?
res para nós e para os que nos cer- É preciso ter clareza sobre isso. Há
cam. Mesmo na condição de um Lá- campanhas que visam mostrar novos
zaro, de um Paulo encarcerado, de rumos, entusiasmar para novos desa-
um Estevão sob pedradas, não so- fios, sanar problemas arraigados, mas
mos desamparados por Deus, pois sempre são um construir sobre um
vemos os céus abertos. Nossa verda- fundamento lançado. Este fundamen-
deira recompensa está nos céus e sa- to o pastor local deve lançar.
bemos que aqui na terra, nos mais
diversos sofrimentos e lutas, a po- Quando convidamos alguém para
derosa e misericordiosa mão de Deus fazer uma campanha de mordomia em
nos guia, para alcançarmos o f i m que nossa paróquia, ou um outro colega
desejamos, a saber a eterna salva- para pregar sobre mordomia, o con-
ção (1 Tm 6 . 1 7 , 1 8 ; M t 1 9 . 2 9 ; Lc vidamos para que ele diga o que nós
1 6 . 9 ; M t 2 5 . 4 0 ; Gl 6 . 9 ; Fp 4 . 1 7 ; já dissemos. Que venha sublinhar o
Mt 25.21). que nós já ensinamos. Ele o fará com
suas palavras e conforme os seus
dons. Abordará talvez o assunto de
Questões para reflexão um ângulo diferente, mas o assunto
será o mesmo. Os membros verão
1) Analise a explicação do primei- que a exposição bíblica é a mesma.
ro artigo do Credo Apostólico Que o pastor local não estava lutan-
e veja os verbos que Lutero do em prol de si mesmo, mas anun-
usa, para mostrar o que Deus ciando-lhes o caminho indicado por
faz ao nosso corpo, em sua m i - Deus. Sabemos que não são as novi-
sericórdia. dades que fortalecem a fé, mas a pa-
2) Analise a passagem de Roma- lavra de Deus. Campanhas visam con-
nos 8 . 1 8 e veja qual a ver- firmar a palavra, regar a planta. Só
dadeira recompensa. assim uma campanha poderá ter re-
sultados. Toda vez em que, ao se or-
3) Em que sentido ou como o mal- ganizar uma campanha, o pastor local
feitor na cruz e os mártires são visa transferir sua responsabilidade a
amparados por Deus? pessoas de fora, criará problemas em
lugar de resolvê-los.
8 — Campanhas e, estimulo
de colegas
"Eu plantei, Apolo regou; mas o Questões para reflexão
crescimento veio de Deus" (1 Co
3.6). 1) O poder da palavra de Deus de-
Freqüentemente, quando há proble- pende dos dons que uma pes-
mas no campo da mordomia, se pro- soa possui no anunciá-la?
A força da campanha está na te do culto, e ao mesmo tempo
novidade, no método ou no a- não envergonhe aqueles que,
nunciar a palavra de Deus de não tendo recursos financeiros,
forma mais intensiva? servem a Jesus com outros
3) Analise algumas campanhas dons;
realizadas em sua paróquia e que haja boa contabilidade e
veja a que se deu maior peso, informação quanto ao destino
ou o que realmente impressio- das ofertas, para que cada
nou: a novidade, a aptidão do membro possa estar certo de
palestrante ou a descoberta da que suas ofertas são correta-
palavra de Deus? Os resultados mente aplicadas no reino de
foram frutos da fé que conti- Deus. E se tenha também o-
nuaram a crescer, ou frutos de portunidade para admoestar ou
um sentimentalismo ocasional estimular aqueles que estão
que murchou como fogo de pa- sendo enganados por Satanás
lha? para não ofertarem como de-
veriam;
9 — Métodos
4) que a comunidade tenha oca-
siões para planejar cuidadosa-
"Seja feito com decência e o r d e m " mente o trabalho (Lc 1 4 . 2 7 ) e
(1 Co 1 4 . 4 0 ) . desenvolver planos corajosos;
"Pedindo-nos. . . a graça de parti-
5) um dos sistemas mais difundi-
cipar" (2 Co 8 . 4 ) .
dos é o do cartão de promes-
Tudo deve ser feito c o m ordem. A sas c ò m envelopes mensais e
comunidade tem a liberdade de esco- a coleta dominical. Pelo car-
lher a forma de arrecadar suas ofer- tão de promessas cada um tem
tas como melhor lhe convêm. Sem .oportunidade de refletir sobre
dúvida seria bonito se em nossa igre- suas contribuições e disciplinar
ja houvesse um só sistema para to- seu velho homem, prometendo
dos. Isto nem sempre é possível. As uma quantia fixa. Além disto
condições, as origens, a educação cada um tem a oportunidade
das diversas comunidades são dife- de participar na oferta domini-
rentes. Ao escolhermos a forma de- cal, quer para fins internos ou
vemos observar alguns detalhes: externos, dando assim expres-
são de sua fé no anonimato.
1) Que o recolhimento das ofertas
não fira o espírito da graça de
Cristo, como é o caso das ta- Questões para reflexão
xas; nem se dê a impressão
1) Não bastaria a coleta das ofer-
aos que satisfazem certos pa-
tas por ocasião dos cultos? O
drões estabelecidos de que eles
fato de se elaborar orçamentos,
cumpriram perfeitamente seu
de exigir promessas e contri-
dever;
buições fixas não contradiz o
2) que o recolhimento das ofertas espírito de confiança que de-
espelhe o fato de serem um vemos ter no Senhor, que pro-
sacrifício de louvor que faz par- uvera?
2) Qual a finalidade do cartão de terem mais condições para anuncia-
promessa: é um voto de Deus? rem, a palavra de Deus.
é para dar garantia ao nosso Sem dúvida, festas que só visem
tesoureiro? ou serve para colo- lucros, com rifas e leilões, são uma
car um freio em nosso velho abominação ao Senhor. Mesmo as-
homem? s i m , devemos ter paciência. O fato de
3) É justo publicar para toda a co- alguns pastores o terem permitido,
munidade o que cada um pro- nos deve levar a agir com cautela.
meteu? Quais os perigos que Pois haverá na paróquia pecados mais
isso oferece? Quais as bênçãos graves a serem atacados e sobretu-
que isso poderia proporcionar? do haverá necessidade de muita ins-
trução. Será que os membros têm
correta noção do que significa ser
10 — Casos pastorais
cristão? Será que os membros têm
noção do que é a igreja cristã e
" 0 que exorta, faça-o com dedica- quais os seus verdadeiros objetivos?
ção" (Rm 1 2 . 8 ) É preciso, com calma, lançar o fun-
"Exorta com toda a longanimidade damento. Nesta instrução devemos
e doutrina" (2 T m 4 . 2 ) procurar alcançar a grande maioria.
Existem situações nas quais a edu- De nada nos adiantará abordar o as-
cação é mais d i f í c i l e requer um tra- sunto só num e noutro culto. Na me-
tamento especial, cuidadoso e com dida em que os membros forem com-
muita longanimidade. Vamos enume- preendendo o que significa ser cristão
rar alguns casos. é quais os objetivos da igreja cristã,
vamos mostrar-lhes como Deus edifica
1) Festas e rifas. a igreja e lhes mostraremos como as
Digamos que nos é confiada uma festas impedem a verdadeira missão
paróquia na qual, por longos anos, se da igreja. Procuraremos então trans-
fez festas c o m rifas e leilões. Vários formar as festas em encontros de con-
pastores participavam destas promo- fraternização, nos quais até os pobres
ções e nunca investiram contra tal si- podem participar e finalmente apro-
tuação, dando à comunidade a i m - veitaremos almoços e jantares, não
pressão de que seu proceder está cor- para fins monetários, mas para fins
reto. Ou quando pastores em distri- missionários. Este processo pode le-
var alguns meses, provavelmente até
tos vizinhos continuam promovendo
alguns anos.
tais festas e os membros nos dizem:
por que aquela comunidade pode agir
assim? O que fazer? Como proceder? U m cuidado ainda devemos ter: As
Seria justo simplesmente condenar dificuldades financeiras que o pastor
enfrentará em tais comunidades —
e proibir tal procedimento, sem levar
sendo as festas urna garantia para o
em conta a má educação que a co- sustento do pasor — poderão facil-
munidade recebeu? Muitos envereda- mente desencorajar o pastor na luta
ram por este caminho e colheram in- contra as festas e levá-lo a esconder-
cômodos, escandalizaram pessoas fra- se atrás da palavra "devemos ter pa-
cas na f é , tornaram-se antipáticos pa- ciência." Cumpre ao pastor lutar e
ra c o m os membros ao ponto de não confiar nas promessas de Jesus que
freqüentemente põe seus servos a ár- nomizar, poupar cada centavo. Toda
duas provas e a seu tempo lhes dá a família participava deste esforço.
sua bênção. E nada mais justo do que isso. A s
orações da família e o trabalho dedi-
cado foram abençoados por Deus. O
2) Fraqueza na mordomia
senhor João recebeu bênçãos de Deus
e prosperou. Foi então que Satanás
Por vezes encontramos cristãos e-
usou o bom costume inicial de eco-
xemplares e dedicados a vários traba-
nomizar como cilada. O que era uma
lhos na comunidade, mas fracos na
virtude inicial, se tornou em cilada
mordomia do dinheiro. Satanás con-
para o terrível pecado da cobiça. Re-
seguiu cegá-los neste respeito. Preci-
conhecido o erro, o senhor João o-
samos mostrar-lhes este engano de
fertou para a surpresa de todos um
Satanás. É certo que se atacarmos Sa-
sino à sua comunidade.
tanás neste seu esconderijo, ele es-
bravejará terrivelmente. Vamos citar Freqüentemente encontraremos s i -
um caso. O Rev. C M . Zorn, renoma- tuações idênticas. Pessoas ou comu-
do pastor e teólogo luterano, tinha um nidades que por questões de necessi-
dedicado presidente de comunidade. dade, de educação ou outros motivos,
Uma pessoa de muito conhecimento se tornaram presa de Satanás. Estes
bíblico e vida exemplar, mas tinha a casos precisam ser tratados com m u i -
fama de ser a pessoa mais pão-dura ta paciência e oração. Não nos as-
da comunidade. Sua contribuição à sustemos com as ameaças. Não nos
comunidade era uma vergonha e até distanciemos da pessoa que ameaça,
sua família sofria com esta sua cobi- dizendo que quer riscar seu nome da
ça pelo dinheiro. Certo dia, após o congregação. Exatamente elas preci-
culto, o pastor Zorn lhe perguntou: sam de nossa assistência, nestes mo-
mentos nos quais Satanás procura su-
— João, você é pão-duro? focar a fagulha ou o pavio que f u -
— O que o senhor quer dizer c o m mega.
isso?
— Ora, quero saber se você é pão
Conclusão
durol
O atrito estava criado. O presiden- Educar para a boa mordomia é
te João esbravejou. Disse que isso uma tarefa árdua e um desafio cons-
era uma ofensa. Alvoroçou a comu- tante. Exige que busquemos, em cons-
nidade. Pediu que seu nome fosse tante oração, força e sabedoria de
riscado. No seu lar esbravejava con- Deus para anunciarmos lei e evan-
tra o pastor e ai do membro da famí- gelho corretamente, suplicando que
lia que tentasse defender o pastor. Deus, em sua graça, abençoe a pala-
Após várias conversas pacienciosas vra nos corações e a faça produzir
com o pastor, o senhor João reconhe- frutos em abundância. Lembremos
ceu seu erro. Satanás fora descober- que os problemas não se resolvem
to em seu esconderijo. Como Satanás com alguns sermões ou algumas pa-
conseguiu enganar este presidente de lestras, pois é um processo constan-
comunidadel O senhor João iniciou te de educação, de reeducação, de
pobre. A lei áurea da casa era: eco- luta. Cada vez que falamos da santi-
ficação, especialmente da oferta, nos- dominical, na instrução de confirman-
eo velho homem resmunga, protesta e dos, em visitas pastorais e a doentes,
procura impor argumentos com a apa- em cultos e estudos bíblicos, todos
rência de direito. Mas nosso novo ho- os desígnios de Deus, lutando com
mem jubila, se alegra e deseja sacri- oração pela salvação dos que nos fo-
ficar cada vez mais. ram confiados, pelo crescimento da
sua fé e de sua participação no reino
Lembremos que o não contribuir de Deus — e as bênçãos não hão de
como deveríamos é um gravíssimo pe- faltar. E mesmo se vivemos em tem-
cado e atrai a ira de Deus. A conse- pos de decadência, não desanime-
qüência mais imediata é que Deus mos, mas anunciemos tanto a lei co-
nos tire o evangelho. Mas ao falarmos mo o evangelho com vigor e perseve-
da mordomia, devemos apresentar o rança. "O Deus da paz, que tornou
assunto da santificação como um to- a trazer dentre os mortos a Jesus
do, como frutos da f é . Se a grande nosso Senhor, o grande Pastor das
maioria de nossos membros nos diz: ovelhas, pelo sangue da eterna alian-
"Nosso pastor só fala em dinhei- ça, vos aperfeiçoe em todo bem, pa-
ro", é possivelmente sinal de que es- ra cumprirdes a sua vontade, ope-
tamos abordando a mordomia errada- rando em vós o que é agradável dian-
mente. te dele, por Jesus Cristo, a quem seja
a glória para todo o sempre. A m é m "
Anunciemos à nossa congregação, (Hb 1 3 . 2 0 , 2 1 ) .
em todas as oportunidades, na escola
PROMESSAS NO ANTIGO TESTAMENTO

Acir Raymann

O conceito de promessa é proemi- 1 0 . 2 9 ; Dt 6 . 3 - 2 6 ) . Proclamada a t o -


nente no Antigo Testamento, visto do o povo em Horebe — e confirma-
que a palavra de Deus é, para Israel, da por ele como privilégio seu — es-
a fonte, o apoio e o destino do seu ta promessa guiou o povo através de
povo. Apesar de sua importância, en- sua peregrinação, tornando-se a fon-
tretanto, não há no Antigo Testamen- te da sua persistência e, por vezes,
to nenhum termo usado para englobar o objeto de suas rebeliões. Ao se
o conceito básico comparado a epan- estabelecer o povo na Terra da Pro-
gélestai no Novo Testamento. O An- messa, sua história teve sua conti-
tigo Testamento emprega palavras nuidade através desta mesma pro-
comuns ao referir-se às promessas messa.
fundamentais de Deus. Destas, as
mais importantes são diber, (falar), Descontentamento e inquietação
'amar (dizer) e saba' (jurar). Sempre c o m a promessa de Deus eram as
que Deus é o sujeito destes verbos causas principais do pecado de Is-
e o seu povo ou seus líderes os re- rael (SI 1 0 6 . 2 4 ) . Por outro lado, con-
ceptores de sua mensagem, imedia- fiança nela determinava a essência
tamente se lhes atribui o sentido de da esperança (SI 1 8 . 3 0 ; SI 1 1 9 . 3 8 ,
uma promessa ou juramento pois 4 1 , 5 0 , 1 1 6 ) . O apego às promessas
era axiomático aos escritores do A n - mantinha o indivíduo na sua obe-
tigo Testamento de que Deus é ab- diência diária à lei de Deus.
solutamente fiel a cada palavra que
proclama. Para os profetas, a palavra do Se-
nhor, que eles anunciavam, era uma
expressão viva das promessas de
Deus (Is 1 4 . 2 4 ; 3 8 . 7 ; Jr 1 1 . 1 . - 8 ;
1 — Deus cumpre as promessas 2 2 . 5 - 9 ) . Confiança nas promessas de
Deus significava para eles uma ex-
Afora as promessas de caráter mes- pectativa de salvação do desastre ou
siânico, que se cumpriram literalmen- da iminente condenação em tempo
te no Novo Testamento, a mais ex- de prosperidade. Pois o destino é
pressiva é a que Deus fez a Abraão. determinado, não por probabilidades
Deus jurou ao patriarca que lhe da- externas , mas pela promessa de Deus
ria um filho e faria dele uma gran- em aliança (Jr 3 2 . 3 6 - 4 4 ; 4 4 . 2 6 . 3 0 ;
de nação, através da qual todas as Ez 166-22; A m 4 . 1 - 3 ; M q 7 . 1 8 - 2 0 ) .
famílias da terra seriam abençoadas Os profetas reconheciam no homem
(Gn 1 8 . 1 9 ; 2 1 . 1 ; 2 2 . 1 5 - 1 8 ; ' 2 6 . 1 - o ser que faz promessas e não as
5; Dí 1 . 1 1 ) . Esta promessa está d i - cumpre; mas no Deus de Israel re-
retamente vinculada co posterior conhecem aquele que promete amar,
chamado de Deus a Moisés para l i - amparar, guiar e salvar o seu povo
derar seu povo do Egito à Terra Pro- e que jamais quebrará tal promessa,
metida (Gn 5 0 . 2 2 - 2 5 ; Ex 3 . 1 7 ; Nm pois e!e é f i e l .
Vê-se, então, que as promessas de ça e obediência em Deus, em face
amparo, ajuda e salvação feitas por das múltiplas tentações a que está
Deus estão presentes de maneira v i - exposto em virtude da existência e
va e visível na história de Israel. São procedimento do iníquo, sejam elas
promessas feitas a um povo ao qual irritação ou inveja, pobreza ou afli-
Deus se vincula em amor e com pro- ção, temor dos homens, dúvidas so-
pósitos definidos. Evidentemente as bre a atuação de Deus e sua justiça,
promessas de Deus existem e se re- ou cansaço na obediência da lei mo-
velam em função de um povo que ral. Em todos estes aspectos o au-
permanece obediente e fiel à sua a- tor pretende guiar o justo no cami-
liança. No momento em que a infi- nho da verdadeira confiança em Deus
delidade do povo substitui a confian-
ça em Deus, o povo não mais des- 0 salmo, por isso, não se engaja
fruta das promessas, embora estas num exame crítico do problema da
continuem a existir da parte de D e u s c
teodicéia ou da natureza intrigante da
teoria da retribuição, como aconte-
No princípio, as promessas de Deus ce especialmente no livro de Jó. Não
são feitas aos homens diretamente. há, também preocupação com a de-
Mediadores humanos das promessas fesa de Deus. Antes, é uma questão
não se encontram no período da his- da defesa da prática da religião na
tória patriarcal. É a partir do início vida diária do indivíduo. O salmo
da formação de Israel como nação expressa a serenidade e a certeza de
que elas são dadas através de me- uma fé firme que foi obtida no curso
diadores como Moisés, Josué, os v i - de muitas, lutas e experiências.
dentes, os profetas. O Salmo 3 7 , que
apresenta uma série de promessas, Os versículos 23 e 24 atestam que
t e m , no seu título, Davi como o au- até mesmo o homem justo, que está
tor e mediador, e cujo tema quere- sob a proteção e promessa de Deus,
mos agora abordar. nem sempre é poupado da adversi-
dade. E desta forma levanta o pro-
blema do sofrimento com o qual vá-
2 — A verdadeira confiança rios escritores do Antigo Testamento
se preocuparam. Embora não se es-
"O Senhor firma os passos do ho- tenda nesse assunto como ocorre,
mem bom, no seu caminho se com- por exemplo, no salmo 7 3 , o salmis-
praz: se cair, não ficará prostrado, ta, com grande propriedade diz que o
..porque o Senhor o segura pela homem justo — sadiq, aquele que
mão. Fui moço, e agora, sou ve- está vinculado a Deus pela sua
lho, porém jamais vi o justo de- s daqah, justiça, que lhe foi atribuí-
e

samparado, nem a sua descendên- da — embora possa cair, jamais fica-


cia a mendigar o pão" — SI 37. rá prostrado, porque o Senhor o se-
23-25. gura pela mão. A adversidade que
sobrevêm ao justo jamais tem para
O autor do salmo, segundo ele
ele o significado de uma queda com-
mesmo afirma ( v . 2 5 ) , é um homem
pleta, como o é para o iníquo. Isto,
com a experiência madura da idade
porque Deus está em ação também
avançada e que fala à geração jo-
na adversidade. Esta queda ameaça
vem. O objetivo a que se propõe é
o perverso, mas não o homem que
exortar o justo a firmar sua confian-
confia no Senhor. O salmista encon- dos israelitas nesse tempo eram mui-
tra esta verdade confirmada pela ex- to diferentes das modernas comuni-
periência pessoal adquirida no curso dades da América Latina. Embora
de sua longa vida: jamais na sua v i - houvesse ricos e pobres entre eles,
da viu que um justo foi desamparado raramente acontecia que houvesse
por Deus e rebaixado ao nível de um alguém que fosse extremamente po-
pedinte. bre. Dificilmente — onde havia uma
exigência sobre as pessoas para em-
0 termo empregado no versículo
prestarem ao que estava em neces-
25, 'azab, significa deixar para trás,
sidade sem depois aceitar juros, on-
desamparar totalmente. E o mesmo
de no ano do jubileu todas as dívidas
termo empregado no salmo messiâ-
eram remidas e terras hipotecadas
nico 22 usado por Jesus na ocasião
retornavam a seus proprietários origi-
da sua morte ( M t 2 7 . 4 6 ) . Implica nu-
nais — a mendicância real poderia
ma desvinculação e desinteresse to-
existir.
tais, levando o indivíduo ao aniqui-
lamento. É uma situação extrema de
Embora essa realidade existisse,
desamparo que o Senhor jamais fará
ela não deve ser tomada como sim-
com os seus servos.
ples substituição à providência d i v i -
na. Na realidade este era perfeita-
3 — A bondade de Deus mente um meio pelo qual Deus fa-
zia cumprir a sua promessa de que
"O Senhor não deixa ter fome o o justo sempre terá do que se ali-
justo, mas rechaça a avidez dos mentar.
perversos" — Pv 1 0 . 3 E a promessa de Deus ainda per-
siste. Talvez a mesma forma que ou-
Uma passagem semelhante ao Sal- trora foi exigência para manter o jus-
mo 3 7 . 2 3 - 2 5 é Provérbios 1 0 . 3 . O t o , a partir da era neo-testamentária
vocábulo ra'eb (ter fome) é mais está sendo empregada, apenas que
brando que 'azab (desamparar). Este agora de forma espontânea, por meio
fato demonstra uma bondade ainda de outros servos de Deus. Lutero,
maior de Deus em relação a seu f i - neste particular diz: "Como seria pos-
lho. A situação do perverso, por ou- sível a uma pessoa que serve a
tro lado, fica comprometida em vis- Deus em fidelidade morrer de inani-
ta do seu estar em pecado. 0 subs- ção? Afinal de contas, Deus conce-
tantivo havah, avidez, significa "mau de a todo mundo mais do que o su-
desejo" de maneira que o perverso ficiente. A terra derramaria pão e os
jamais sente satisfação naquilo que céus água antes que um cristão mor-
adquire e não encontra alegria no resse de inanição; na verdade, Deus
que almeja. mesmo teria de morrer de inanição
primeiro". E mais adiante conclui:
No que respeita ao justo, não se
"Se o presente mundo de nobres, a-
pode negar que alguns são mais a-
gricultores e habitantes da cidade
bençoados que outros. Mas a verda-
recusam-se a dar. Deus pode encon-
de é que a promessa de Deus está
trar outras pessoas ou outros meios
em vigor. A passagem de Provérbios
através dos quais dará, e dará muito
1 0 . 3 foi escrita, segundo o título,
mais do que poderão tirar de t i " . Se
por Salomão. As condições sociais
for da vontade de Deus, ele pode fa- do as ofertas e os dízimos não eram
zer das pedras pão. Isto naturalmen- trazidos pelo povo, os levitas não t i -
te não se refere à morte do cristão. nham outra opção senão deixar seu
Pois ele também morrerá um dia, ministério e garantir a sobrevivência
quando for do propósito divino. na atividade pastoril.
Durante o ministério do profeta
4 — Promessa de Deus e o Malaquias os levitas e sacerdotes es-
dízimo tavam em situação difícil porque Is-
rael não estava cumprindo com seu
A passagem de Malaquias 3 . 1 0 a- compromisso de povo de Deus. Deus
presenta a promessa de Deus numa afirma que o povo o está defraudan-
perspectiva um pouco diferente e, do (qabah') e por isto está sendo
por isso, necessitamos estudar seu castigado. "Tornai-vos para m i m e eu
contexto com maior amplitude. A lei me tornarei para vós outros, diz Deus"
prescrevia que apenas animais que ( 3 . 7 ) . E o povo pergunta: "Em que
eram totalmente perfeitos podiam ser- havemos de tornar?" 0 profeta está
vir como vítimas de sacrifícios (Dt tratando com hipócritas que não es-
1 5 . 2 1 ) . Contudo havia uma tendên- tão dispostos a aceitar o castigo e a
cia, especialmente com a crescente maldição e que não têm consciência
sofisticação e em tempos difíceis, de ter pecado contra Deus.
de se crer que também animais não
"Trazei todos os dízimos à casa
tão perfeitos podiam ser sacrificados.
do tesouro, para que haja manti-
Isto subverteu todo o princípio do sa-
mento na minha casa" — Ml 3 . 1 0
crifício que, na sua forma mais pura,
simbolizava a espontânea auto-consa- A ênfase está na expressão kol,
gração do indivíduo a Deus. Os sa- todos os dízimos ou o dizimo com
cerdotes anuiram a esta tendência e pleto e não apenas uma parte dele,
aceitavam ofertas inferiores que se defraudando desta forma o Senhor.
tornaram em blasfêmia. Israel queixava-se da maldição que
sobrevinha à terra. Mas a sua ori-
A lei de Deus determinava, tam-
bém, que todas as dízimas (ma'aser) gem estava no próprio povo e não
da terra eram "santas ao Senhor" (Lv. em Deus. O senhor sempre perma-
2 7 . 3 0 ) e eram destinadas aos levi- nece fiel às suas promessas enquan-
tas ( N m 1 8 . 2 4 ) que, por sua vez, to que a infidelidade do povo se evi-
davam o dízimo aos sacerdotes (Nm dencia a cada momento. Enquanto
1 8 . 2 8 ) . Ofertas (t rumah)
e
eram por- arrependimento deve envolver uma
ções dos sacrifícios colocados à
básica mudança de atitude, tal mu-
parte para os sacerdotes (Ex 2 9 . 2 7 -
28; Lv 7 . 3 2 ; Nm 5 . 9 ) . Um dos de- dança deve, necessariamente se ma-
veres de Neemias, por exemplo, era nifestar em ação. A expressão "tra-
assegurar que os suprimentos desti- zei todos os dízimos" não envolve
nados pelos dízimos e ofertas à ma- apenas o ato externo, mas primeiro,
nutenção do ministério no templo, e antes de tudo, uma consagração
não faltassem como ocorreu ao ter total, um dar-se total ao Senhor. O
ele de ausentar-se de Jerusalém por ato externo do dízimo feito por Is-
algum tempo (Ne 1 3 . 1 0 - 1 3 ) . Quan-
rael, deve ser uma expressão natu-
ral, espontânea da confiança que o parte de Deus é entrar na fórmula
povo tem em seu Deus. pagã de do ut des (dou para que me
"Provai-me nisto, diz o Senhor dos retribuas) — um conceito que é to-
Exércitos, se eu não vos abrir as talmente alheio às Escrituras.
janelas do céu e não derramar so-
bre vós bênção sem medida". É bem verdade que Deus promete
Provai-me (batan) = significa co- recompensar uma ação do crente ou
locar sob teste como o acrisolador a sua obra. Esta promessa existe pa-
ao fazer a purificação do metal. É ra incentivar, estimular o seu povo
um desafio que o Senhor coloca d i - a fazer boas obras. Contudo, estas
ante do povo. Mas não significa que não são o motivo para se receber as
Deus está colocando em jogo sua bênçãos, mas fornecem a ocasião
santidade, sua justiça ou promessa. para que tal aconteça.
Porque os atributos e promessas d e
Deus permanecem imutáveis, como A expressão "diz o Senhor" 'amar
ele mesmo diz no cap. 3 . 6 . A s fthovah demonstra claramente que o
maldições que sobrevieram ao povo que segue é uma promessa e que te-
foram provocadas pela maldade do rá seu cumprimento. O Senhor dese-
próprio povo e não porque Deus fos- ja que Israel torne de seu caminho,
se infiel às suas promessas. As dá- que se arrependa, que busque a Deus
divas de Deus são dadas ao povo em e viva conforme prescreve a lei de
abundância. Mas o povo não as vê Deus, deixando o resto por sua con-
nem as reconhece porque está em t a . Apenas dessa forma terá condi-
situação de pecado. O pecado i m -
ções de ter seus olhos abertos para
pede a visão da promessa e obstacu-
reconhecer os dons de Deus que i m -
liza a percepção das dádivas de Deus.
Apenas aquele que confia no Senhor, plicarão não apenas na remoção da
que é f i e l , pode ver e reconhecer as seca por copiosas chuvas, mas na d i -
bênçãos de Deus que são dadas gra- fusão de bênçãos celestes em gran-
ciosamente, continuamente, sem qual- de abundância.
quer intervenção do indivíduo.
É o que a Escritura afirma clara- :o:
mente quando diz em Mateus 6 . 3 3 :
"Buscai em primeiro lugar o reino de
Deus, e todas estas coisas vos serão CONCLUSÕES SOBRE O
acrescentadas". Não é o dízimo em DIZIMO
si que fará com que Deus retire a
maldição de sobre Israel e lhe tra- 1 . A oferta do dízimo era prati-
ga bênçãos. O povo não pode ofe-
cada antes da instituição es-
recer nada a Deus para merecer de-
le uma bênção. Tanto as promessas crita da l e i . A mesma propor-
quanto as dádivas são exclusiva gra- ção f o i estabelecida pela lei e
ça divina. Assumir que uma ação do ficou vigente em todo período
dízimo, ou outra qualquer por parte do A . T .
do homem, deverá provocar necessa-
2. Quando praticada pelo crente
riamente uma reação benéfica da
verdadeiro do A . T . esta ofer-
ta era motivada pela graça de monial e com ele a Igreja se
Deus e feita com espontanei- torna supra-nacional, não iden-
dade e alegria. Quando, po- tificada com qualquer esta-
rém, era praticada pelo israeli- do deste mundo.
ta descrente, ela era resultado
da coerção da lei. A contribui- 4. É o dízimo praticável hoje? Ja-
mais deveríamos usar a pala-
ção deste último, porém, con-
vra " d í z i m o " com referência a
tinuava a ser exigida, porque
uma oferta praticável ainda ho-
mesmo que não fizesse parte
j e . Dizemos isto porque a pa-
dos escolhidos ele continuava lavra "dízimo" está intimamen-
membro do povo de Israel (Es- te ligada a um sistema que te-
tado/Igreja). ve seu cumprimento em Jesus
Cristo. Isto significa que um
3 . Sendo que a proposição do dí- cristão que, diante da graça e
zimo era parte da legislação da misericórdia de Deus em
cerimonial/estatal de Israel, Cristo, veio a dar-se primeiro
ela foi eliminada como exigên- a si mesmo ao Senhor, seja
cia, pela instauração da nova impelido a ofertar 10%, esta
aliança de Jesus Cristo. Isto oferta será uma oferta de dez
acontece porque Cristo é o porcento, mas não será mais
o dízimo.
cumprimento do sistema ceri-
O TERCEIRO USO DA LEI

Marfim C. Warth

I — Introdução prio da lei, acha o seu lugar entre


os crentes em cujos corações o Es-
1 . A discussão em torno d o ter- pírito de Deus já vive e r e i n a . " 8

ceiro uso da lei se reacende de tem-


pos em tempos. A pergunta que, ge- 3 . Como para Calvino a lei já não
ralmente, cria polêmica é a pergun- retinha a sua função de retribuição
ta a respeito da validade da lei de e acusação, mas apenas a de dire-
Deus para o cristão, já que, segundo ção e informação, desapareceu no
Paulo, o cristão não está "debaixo calvinismo a oposição dialética entre
da lei, e, sim, da graça" (Rm 6 . 1 5 ) . lei e evangelho, tão enfatizada por
As duas tendências extremas que ge- Paulo, Lutero e, especialmente, Dr.
ralmente se manifestam são, de um C . F . W . Walther em sua preciosa
lado, um antinomismo, como se ma- análise em Die rechte Unterscheidung
nifestou na igreja luterana antes da von Gesetz und Evangelium. 6
Em vis-
formulação do artigo VI da Fórmula ta disso Calvino vê o evangelho ape-
de Concórdia (FC), e, de outro lado, nas como uma manifestação mais
um nomismo, como se manifestou clara da lei, dando ao evangelho
na mesma época na doutrina de Cal- igualmente características de lei. Is-
vino. to fica expresso na sua compreensão
de fé como "obediência". Para as
2. No Catecismo de Genebra de confissões luteranas fé é " f i d u c i a " ,
1536, artigo 3, Calvino define a lei ficando o termo "nova obediência"
como regra de vida, uma "reigle de reservado para as obras produzidas
bien vivre et justement" (regra para pelo cristão como "frutos da f é " . Em 7

viver correta e justamente). Segun-


1 1935 Karl Barth, seguindo a tradição
do Werner Elert, Calvino acredita calvinista, escreve mesmo uma mo-
que a lei tem apenas uma função in- nografia com o título Evangelho e
formativa e formativa para o cristão, Lei. Entende que lei e evangelho de-
8

pois "nos forma e nos prepara para signam o mesmo ato de Deus, ha-
toda boa obra."- Calvino crê na pos- vendo apenas uma diferença na ma-
sibilidade de uma existência cristã neira de expressar-se. Acha que quan-
em que a lei não se dirige contra e do Deus fala na lei ele simultanea-
não acusa o homem que vive na l e i . 3 mente faz uma promessa, oferecendo
Por isso entende que o uso princi- evangelho. E quando fala no evange-
pal da lei não é o segundo, o uso lho Deus simultaneamente expressa
teológico, como Lutero e Melanch- as exigências da sua vontade, afir-
thon entendem quando afirmam que mando lei." O mais importante é que
"lex semper accusat". Para Calvino
4 Deus fala: isto, segundo Barth, é gra-
o uso principal da lei é o terceiro ça.10
Diz que "a lei nada mais é do
uso, o uso didático. Diz: "O tercei- que a necessária forma do evange-
ro e principal uso, que mais direta- lho, cujo conteúdo é g r a ç a . " Enten-
11

mente diz respeito ao propósito pró- de que "a lei nada mais é do que o
evangelho em forma imperativa," e Se ainda queremos continuar a
que "lei e evangelho requerem o mes- usar o conceito em teologia, ele
mo do homem: submete-te a Deus." deve ser aplicado, como o é na
Em sua maneira de ver, "somente Fórmula de Concórdia, apenas pa-
uma lei nomisticamente mal enten- ra responder a questão da exten-
dida, lei pecaminosamente pervertida são (realm) da validade da lei,
e separada do evangelho, opõe-se ao mas não para indicar uma função
evangelho." Com isso nega uma te-
12
especial da l e i . 14

se fundamental das confissões lute- Pois, segundo Elert, "mesmo para


ranas: o "lex semper accusat". o cristão, a lei é sempre e apenas
4 . Como o artigo VI da Fórmula Anfechtung".
15

de Concórdia corrigiu a posição dos Na mesma trilha estão também teó-


antinomistas do século XVI quanto logos da escola de Lund, como An-
ao 3." uso da lei, assim Werner Elert ders N y g r e n , imitados por teólogos
10

tentou defender a posição luterana americanos. A. R. Kretzmann, respon-


contra o calvinismo de Karl Barth. dendo à pergunta: "Acaso necessito
Como o calvinismo de Barth sugeria eu, como cristão, da diretiva da lei
uma cristocracia, com conotações se- para orientação em minhas deci-
melhantes à teocracia de Calvino em sões?", também chega a negar um es-
Genebra, (pois, de acordo com a aná- pecífico terceiro uso da lei, dizen-
do: "Em que pese a Brunner e Barth,
lise da teologia de Calvino, feita por
a resposta a essa pergunta é um sim-
Wilhelm Niesel, "Jesus Cristo é o
ples N Ã O . " 17
E continua com ênfa-
coração da l e i , " ) Werner Elert pro-
13

se: "Portanto, boas obras sempre são


curou demonstrar que a lei não pos- aventuras da fé. São boas não por
sui apenas uma função simplesmen- serem conformes a alguma lei ex-
te informativa, mas também sempre terna, mas porque feitas por um pe-
uma função de retribuição e acusa- cador perdoado. Tudo o que faz um
ção. Elert afirma, com as confissões pecador perdoado é b o m . " Eviden- 18

luteranas, que o uso principal da lei temente há algumas coisas a corri-


é o segundo, o uso teológico ou e- gir nestas afirmações tão gerais, tal-
lênctico, segundo o qual a lei mos- vez ditas com boa vontade, na ânsia
tra ao homem que é pecador. Para de defender a sã doutrina de outros
se opor a Karl Barth infelizmente erros. Porque o calvinismo pretende
Elert nega que o terceiro uso da lei, achar uma lei que informe o caminho
como exposto no artigo V I da FC, para uma sociedade ideal não é ne-
autorize falar num uso da lei que cessário negar que a lei tenha uma
também simplesmente instrua ou in- função informativa. Basta conside-
forme o cristão a respeito da vonta- rarmos os limites que Deus coloca
de imutável de Deus. Entende que o nas Escrituras Sagradas.
termo " 3 . " uso da l e i " só pode ser
usado para indicar que o 1.° e o 2.°
uso também são aplicados ao cris- II — O primeiro uso
tão. Para Elert não há outra função,
senão a função indicada pelos dois 6. Quando as confissões afirmam
primeiros usos da lei. Diz: que "lex semper accusat" elas não
estão afirmando que só acusa. A o-

43
posição seria que a lei justificasse, ser alcançados pela lei revelada nas
o que ela não faz: ela sempre acusa. Sagradas Escrituras. No entanto Deus
Mas, da mesma forma as confissões os atinge através das doutrinas d o
poderiam dizer que a lei sempre in- mundo, também chamadas "ordens".
forma, pois para acusar precisa i n - Através do governo, do casamento,
formar. A pergunta que se impõe é da família, do povo, da honra, da
saber o quanto informa e como in- economia, que surge no mundo co-
forma. mo resultado da lei natural para e-
7. Já na descrição de lei que se vitar o caos, e que são na verdade
acha no artigo V da FC se acentua "ordens" da "mão esquerda" de Deus;
seu caráter epistemológico: "Cremos, Deus governa todos os homens no
ensinamos e confessamos que a lei, seu reino d o m u n d o . O ímpio não
propriamente, é doutrina divina que reconhece o governo de Deus, mas
ensina o que é justo e agradável a o regenerado o aceita e sabe que faz
Deus e reprova tudo o que é pecado parte do tempo da graça de Deus.
e contrário à vontade de D e u s . " O
19

9 . Lutero entende que, fundamen-


artigo VI da FC já explica como este
talmente, há três ordens ou estados
ensino da lei acontece em condições
em que os homens, especialmente os
específicas, como por lei natural e
cristãos, exercem as suas vocações:
por lei revelada; em esferas diversas,
a igreja, o estado e a f a m í l i a . No
21

como no reino do mundo e no reino


prefácio dos Artigos de Esmalcalde
de Cristo; e para pessoas diferentes,
Lutero diz: "Por isso redigi poucos
como o ímpio e o regenerado. Por
artigos. Pois que sem isso já temos
isso fala em "três usos" da lei, de-
de Deus tantos encargos a cumprir
pendendo dos fins que Deus preten-
na igreja, no estado e na família,
de alcançar com a lei. Lemos na Epí-
que jamais podemos satisfazê-los." 22

tome da Fórmula de Concórdia:


Entende que as leis de família, esta-
A lei foi dada aos homens por do e igreja também são "encargos a
três razões: cumprir," pois é exatamente nestas
ordens que precisamos exercer as
1 . primeiro, a f i m de manter-se nossas vocações e realizar as nossas
com isso disciplina externa boas obras. Assim escreve no mesmo
contra homens refratários, de- prefácio:
sobedientes;
2 . segundo, a f i m de que se pos- Pois as nossas igrejas, pela graça
sa por intermédio disso con- d e Deus, estão agora de tal ma-
neira iluminadas e providas da pa-
duzir os homens ao reconhe-
lavra pura e do uso correto dos
cimento de seus pecados;
sacramentos, de compreensão das
3 . terceiro, para, depois de rege- diversas vocações e das obras ver-
nerados, e aderindo-lhes, to- dadeiras, que por nossa causa não
davia, a carne, terem, por is- perguntamos por nenhum concí-
so, norma certa de acordo c o m lio,. .
a qual cumpre que regulem e
A "compreensão das diversas vo-
governem toda a sua v i d a . 20

cações e das obras verdadeiras" vêm


8. Ora, os "homens refratários,
da iluminação da "palavra pura", es-
desobedientes" dificilmente podem
pecialmente da instrução nos dez
mandamentos. Lutero dedica uma
24
para receber a mensagem do perdão
grande atenção à explicação dos dez em Cristo (uso pedagógico).
mandamentos no Catecismo Maior,
onde afirma que "fora dos dez man- 1 1 . No segundo uso está toda a
damentos, por conseguinte, nenhuma acusação de Deus ao homem, a a-
obra ou conduta pode ser boa e agra- cusação que aniquila o homem e o
dável a Deus, por grande e preciosa mata. Desta situação só pode salvar
que seja aos olhos do m u n d o . " 25 uma nova criação, uma ressurreição
pela palavra do evangelho. Quando
se fala na oposição dialética de lei e
Ill — O segundo uso evangelho se fala exatamente do se-
gundo uso da lei, da sua função prin-
1 0 . Aqui exatamente entra a dis- cipal, teológica, espiritual, que pre-
cussão do segundo uso da lei. 0 ho- para o homem para encontrar a sua
mem ainda é capaz de entender que salvação. Assim a lei que sempre a-
há uma lei de retribuição nas pró- cusa precisa servir ao evangelho. Es-
prias ordens do mundo. No momento ta função a lei exerce em relação a
em que transgride uma lei d o casa- todos os homens, mesmo que mui-
mento, da família, d o governo, da e- tos não sejam atingidos com a palavra
conomia o homem sabe que haverá da ressurreição e da nova criação em
uma retribuição. A sociedade repri- Cristo.
me o contraventor.
1 2 . O cristão, no entanto, vive e-
Mas o reconhecimento de que a xatamente da contínua morte e res-
contravenção nas ordens é pecado surreição que encontra em lei e evan
contra Deus hão ocorre ao homem se- gelho. Para compreendermos este fe-
não quando se lhe prega a leí e Cris- nômeno com mais clareza o apósto-
to "a explica espiritualmente". Diz a lo Paulo nos fala da sua própria ex-
Fórmula de Concórdia, no artigo so- periência e m Romanos 7 . Paulo, e
bre Lei e Evangelho: com ele todo cristão, está numa si-
tuação de emergência. Se tivesse f i -
Pois, visto que a mera proclama- cado como estava, ele "não teria co-
ção da lei, sem Cristo, ou faz pes- nhecido o pecado" (v. 7) e com ele
soas presunçosas, que imaginam a morte (vv. 9 - 1 1 ) . Pela lei morreu,
poder cumprir a lei com obras ex- mas foi ressuscitado pelo evangelho
ternas, ou faz c o m que caiam em para que "frutifiquemos para Deus"
desespero total. Cristo toma a lei (v. 4 ; cap. 8 . 2 , 1 1 ) .
em suas mãos e a explica espiri-
tualmente M t 5, Rm 7. . . . C o m " P o d e r i a estar tudo tranqüilo de no-
isso eles são remetidos à lei e de- vo, mas Paulo sabe que agora há uma
la é que aprendem a realmente re-
emergência: nós só temos "as primí-
conhecer seus p e c a d o s , . . .
2 0

cias d o Espírito" (cap. 8 . 2 3 ) , e es-


Esta é a razão porque o segundo tamos no reino de Cristo, mas conti-
uso é chamado de teológico: ele cum- nuamos a existir ainda "segundo a
pre o verdadeiro objetivo da lei quan- carne" (v. 2 5 ) . Isto significa que não
do Cristo age pelo Espírito Santo pa- somente fazemos parte de todas as
ra convencer o homem de seu peca- estruturas do reino do mundo, que é
do (uso elênctico) e assim o prepara o reino "da esquerda" de Deus, (com
as "ordens" boas, embora de emer- IV — O terceiro uso
gência, porque transitórias e sob o
julgamento de Deus), mas sofremos 13. Por essa razão os confessores
de uma agressão incompreensível e julgaram conveniente falar de um ter-
detestável (v. 15) que vem da "car- ceiro uso da lei. Como o " e u " do
ne" (v. 18), do velho homem, da cor- cristão decide, por graça do Espírito
rupção hereditária. Esta corrupção de Cristo, em favor do "homem in-
não morre quando a lei nos mata e terior", ele está livre "da maldição
quando o evangelho faz ressurgir um da l e i " , mas não está "sem l e i " . A
novo " e u " . Declaração Sólida da Fórmula de
Concórdia, artigo V I , diz:
Com a entrada no reino de Cristo
o apóstolo Paulo encontra agora den- . . . cremos. . . que, conquanto os
tro de si mesmo três entidades: 1 . o cristãos verdadeiramente crentes e
" e u " ; 2 . a "minha carne"; e 3 . o "ho- verdadeiramente convertidos a
mem interior" (v. 22), o "novo es- Deus e justificados foram isenta-
pírito" (v. 6) que é sustentado pelo dos e libertos da maldição da lei,
Espírito de Cristo (cap. 8 . 9 ) . Paulo devem, contudo, exercitar-se dia-
diz que a decisão do seu " e u " é cla- riamente na lei do Senhor. . . 2 T

ramente em favor do novo homem Esta lei não é apenas a lei escrita
interior e contra a velha carne ( v v . no coração, como os antinomistas en-
15-25). Isto faz com que, de acordo tendem, mas toda manifestação cla-
com o "espírito" o regenerado esteja ra da vontade de Deus, como o cris-
livre da lei (v. 6) e suas ameaças, tão a reconhece na e através da Sa-
e tenha "prazer na lei de Deus" ( v . grada Escritura. Os confessores es-
22). Mas, de outro lado, o " e u " de crevem: "Pois a lei de Deus lhes foi
Paulo sabe que, por causa da car- inscrita no coração, e ao primeiro ho-
ne, ele não faz o que deveria fazer mem, logo depois de sua criação,
(vv. 19,20) e permanece assim su- também lhe foi dada uma lei de a-
jeito a toda acusação da lei de Deus. cordo com a qual devia proceder." 28

Como o " e u " de Paulo preside tanto Dizem mais adiante que se os cren-
o "espírito" como a "carne", ele se tes e filhos eleitos de Deus fossem
reconhece como "simul iustus et pec- perfeitamente renovados nesta vida
pelo inabitanto Espírito, . . . n ã o ne-
cator". Ele é totalmente, justo d o pon-
cessitariam de lei alguma, e assim
to de vista do evangelho, do perdão
também de nenhum incitador, porém
e do novo homem interior, e ele é
fariam por si mesmos, com inteira es-
totalmente pecador do ponto de vis- pontaneidade, sem qualquer instrução,
ta da lei, do pecado e do velho ho- admoestação, exortação ou impulso
mem. Ele, no entanto, não está in- da lei, o que de forma em que o Sol,
distintamente sob a lei e sob a gra- a Lua e todas as estrelas têm seu cur-
ça, mas está definitivamente "sob a so regular por si mesmos. . .; s i m , da
graça", porque por força do Espírito mesma forma em que os santos an-
de Cristo o pecado não pode reinar jos prestam obediência inteiramente
sobre ele. Na luta da carne contra o voluntária.
espírito, o Espírito de Cristo dá v i -
tórias e, por sua graça, a vitória f i - A descrição é feita para um caso
nal (vv. 2 4 , 2 5 ) . irreal. O cristão não é assim. Mas
mesmo assim não fala da possibili- do com o novo homem.- Mas cons-
dade de uma "onisciência" humana: tantemente o cristão também precisa
o acento não é a ausência de l e i , mas ser analisado do ponto de vista da
a falta de coerção. Isto se nota espe- lei que acusa, pois possui ainda o
cialmente no exemplo dos anjos, que "velho homem" que, "como asno in-
até hoje continuam a receber ordens dómito e recalcitrante", faz com que
da vontade de Deus, mas não execu- o cristão sofra "o ensino, admoesta-
tam as ordens de Deus por coerção. ção, impulso e ameaça da lei." Ne-
cessita mesmo "o cacete dos casti-
14. 0 acento na discussão do ar- gos e pragas", porque no " e u " do
32

tigo VI da Fórmula de Concórdia es- cristão se verifica a continuidade en-


tá no fato de que há uma lei revela- tre o velho e o novo homem. O cris-
da que, além de acusar, oferece ins- tão é responsável, porque seu " e u "
trução ao homem, especificamente preside a ambos, a carne e o espí-
ao cristão, para que possa orientar a rito, até chegar a morte e ressurrei-
sua vida. Existe uma "imutável" von- ção f i n a l . Só então a corrupção do
tade de Deus, compreendida na l e i " . 29
pecado original , o velho homem, vai
Esta lei é, para o apóstolo Paulo e morrer. Daí a necessidade de se pre-
os confessores luteranos, sempre a gar continuamente lei e evangelho ao
lei revelada dos dez mandamentos, cristão em nossas congregações.
onde e de que modo Deus a tenha
revelado nas Sagradas Escrituras. D i -
zem as confissões: V — Ordem e Vocação

Mas a lei de Deus prescreve as 1 6 . Mesmo que o acento no "ter-


boas obras aos c r e n t e s . . . Assim ceiro uso da l e i " seja a sua função
Paulo, quando admoesta os rege- informativa, as confissões não dei-
nerados à prática de boas obras, xam de advertir que esta informa-
apresenta-lhes expressamente os ção se verifica, também para o cris-
dez mandamentos Rm 1 3 , . . . 3 0
tão, nas áreas do primeiro e segun-
do usos da lei. Já vimos que o cris-
15. Isto não significa que agora tão também vive na lei das ordens
o cristão está novamente "debaixo da do reino do mundo (1.° uso) e que
lei". Estar "debaixo da l e i " significa, se reconhece como pecador (2.° uso).
de um lado, ser motivado pela lei, Uma pergunta que sempre foi difícil
e, de outro lado, sofrer "a maldição responder é a questão a respeito da
e condenação da l e i " . Desta situação transposição da lei dos dez manda-
o cristão está livre quando age mo- mentos para a vida prática nas or-
tivado pelo poder do evangelho. Na dens e nas nossas vocações.
fé mesmo "suas boas obras, posto
que ainda imperfeitas e impuras, são 17. As confissões luteranas não
aceitáveis para Deus por intermédio entendem a Escritura Sagrada e sua
de C r i s t o . "
31
O cristão, como rege- lei como um compêndio de casuística.
nerado, é considerado "sob a graça" Há uma tendência para isso no calvi-
e é analisado do ponto de vista do nismo e na teologia moral da igreja
evangelho, pois, guiado e fortalecido romana. Lutero sabe que, embora os
pelo Espírito Santo, o " e u " do cris- dez mandamentos tenham um enfo-
tão toma as suas decisões de acor- que negativo, eles dão a linha mes-
tra de conduta para toda a vida do 19. Lutero aplica um critério se-
cristão na sua vocação. Diz no Ca- melhante em sua doutrina da voca-
tecismo Maior: ção. Ele encontra especialmente no
Temos, pois, os dez mandamentos, 4.° mandamento toda uma gama de
modelo de doutrina divina para o referências que dizem respeito às leis
que devemos fazer, a f i m de que nas ordens e na vocação de cada
toda a nossa vida agrade a Deus, u m , " Para lembrarmos, "ordens" são
e a verdadeira fonte e canal de que para Lutero estados fundamentais, lu-
deve manar e por que deve f l u i r gares em que Deus nos coloca, e
tudo quanto quer ser boa obra. Fo- onde exercemos o ofício de nossa
ra dos dez mandamentos, por con- vocação. "Vocação" descreve um cha-
seguinte, nenhuma obra e conduta mado imposto ou escolhido para e-
pode ser boa e agradável a Deus, xercer uma certa função nas ordens.
por grande e preciosa que seja aos Por exemplo, na ordem " f a m í l i a " uma
olhos do m u n d o .
33
vocação imposta é ser " f i l h o " , en-
18. A pergunta é como Lutero pas- quanto que uma vocação escolhida é
sa desta lei para as "obras caseiras ser " p a i " . "Vocação" é tradução do
comuns e diárias, que um vizinho termo kleesis, que se encontra em
pode praticar relativamente a ou- 1 Co 7 . 2 0 . Lutero entende que o 4."
t r o , " ou o fato de "uma pobre ga-
34
mandamento autoriza toda uma estru-
rota cuidar de uma criancinha e cum- tura de ordens e vocações quando
prir c o m fidelidade o que lhe é or- diz:
denado". 15
Lutero resolve a questão
pela sua certeza de que o Autor da
lei é também o Criador d o m u n d o . 36 . . . D e u s assinou o primeiro lugar
Por isso a lei de Deus não pode es- a esse estado (família, paternida-
tar totalmente dissociada do seu rei- d e ) . Determinou, na verdade, que
no do mundo. É claro, há correções seja seu representante na terra.
a fazer e críticas ao reino do mun- Essa vontade e agrado de Deus
do. Mas há uma possibilidade de ve- devem ser-nos razão e incentivo
rificar a lei de Deus em diversos as- bastantes para fazermos espontâ-
pectos das diferentes ordens no nea e prazerosamente o que estiver
mundo. Assim já a Confissão de em n ó s , evidentemente para cum-
39

A ugsburgo comenta: prirmos as leis que os pais emi-


tem em nome de Deus como "seu
representante na terra".
Não só o mandamento, como tam-
bém a criação e a ordenação de 2 0 . A mesma extensão da lei que
Deus constrangem e obrigam ao concede aos pais Lutero também con-
casamento a todos os que não f o - cede ao governo. Diz:
ram excetuados por uma obra d i -
Dír-se-á o mesmo da obediência à
vina especial. 37

autoridade civil que, conforme d i -


Aqui a confissão de 1530 aceita t o , pertence toda à ordem paterna
"a criação e a ordenação de Deus" e é a mais abrangente das rela-
ao lado de um "mandamento" expres- ções. . . . Q u e m nisso é obediente,
so, admitindo-lhe também forças que voluntário e pronto para servir, e
"constrangem e obrigam" os homens,
gosta de fazer tudo quanto con-
inclusive os cristãos.
cerne à honra, sabe que age de
modo agradável a Deus e que sua sempre constituir a base para uma or-
recompensa é alegria e f e l i c i d a d e .40
dem d i v i n a , " também nas vocações,
42

Lutero sabe que é difícil aprender mas "cada pastor experiente sabe que
esta lição de transposição do man- surgem casos em que nada mais po-
damento para a " o r d e m " do governo. de decidir senão a lei do amor." 43

Por isso exclama: 2 2 . Lutero procurou demonstrar na


Se tão só nos dispuséssemos algu- sua lúcida explicação dos dez man-
ma vez a tomar boa nota do fato damentos como estes formam a mol-
de que semelhantes obras tanto a- dura para as obras nas diversas vo-
gradam a Deus e têm recompensa cações. A instrução nos dez manda-
tão rica! . . . V i s t o , porém, que se mentos é necessária, pois dá a cada
trata a palavra e o mandamento vocação um conteúdo concreto, em-
de Deus assim completamente por bora respeite a riqueza das variações
cima d o ombro, como se fosse o da vida. ,Na Apologia Melanchthon
pregão de algum vendedor de pas- lembra que a lei variável das voca-
téis, vejamos então se tu és o ho- ções no reino do mundo também pre-
mem que o chama a d e s a f i o ! 41 cisa ser obedecida por fazer parte da
2 1 . Quando as confissões, por is- lei de Deus. Fala das obras dos pre-
so, falam de lei, elas entendem an- ceitos divinos, como as obras da vo-
tes de mais nada uma lei permanen- cação de cada qual, a administração
te, invariável e absoluta que são os da coisa pública, a administração da
dez mandamentos nas suas mais va- economia doméstica, a vida conju
riadas formas em que se encontram gal, a educação dos filhos, e lamen-
nas Sagradas Escrituras. Isto inclui ta que "muitos as exercem com al-
as várias parêneses, nas quais as Es- guma dúvida de consciência." 44
Em
crituras aplicam a lei do amor e des- outra ocasião diz que:
crevem os frutos do Espírito. De ou- As vocações são pessoais, da mes-
tro lado as confissões reconhecem, ma forma como as próprias incum-
com as Escrituras (Rm 13), uma lei . bências variam de acordo com o
variável, que no entanto também pre- tempo e as pessoas. . . .Destarte,
cisa ser obedecida, como a lei dos perfeição, para nós é cada qual o-
pais, dos governos e da igreja. Es- bedecer com verdadeira fé à sua
tas leis variam de lugar para lugar vocação. 45

e de tempos em tempos. Finalmente,


a colocação do indivíduo cristão em Conclusão
diversas oriens e em variadas voca-
2 3 . A perfeição que é exigida na
ções faz com que a lei se individua-
lei de Deus é também sempre a a-
lize para ele. Sua situação de mor-
cusação ao homem, inclusive ao cris-
domia pessoal é tão peculiar que so-
tão, pois que, com a presença do ve-
mente ele pode e deve tomar a de-
lho homem em sua existência, ele
cisão, e, com boa consciência, tomar
está sempre também sob o segun-
a responsabilidade, uma vez respeita-
do uso da lei em que vale a máxima:
das a lei invariável e a lei variável
"lex semper accusat". Não há uma
que dizem respeito àquela situação
lei que apenas informe. Informando
peculiar. É claro que "uma palavra
ela também acusa ao transgressor .
direta ou indireta da Escritura tem de
2 4 . Como a motivação e o poder
para qualquer boa obra vem d o evan-
gelho, e como toda boa obra é ape- g i s " , Igreja Luterana. XVIII ( 1 9 5 7 ) , n o . 5
nas um "fruto do Espírito", fica cla- e 6, pp. 1 9 3 - 2 0 1 , 2 4 1 - 2 5 3 (Porti Alegre:
Concórdia), pp. 241 e 242.
ro que não se pode falar de um pa-
17 - K r e t z m a n n , p . 2 4 .
drão para uma sociedade cristã ideal, 1 8 - Ibid., p. 2 5 .
mas apenas de uma demonstração 19 - FC, Ep, V , 3 . T r a d u ç ã o de A r n a l -
da nossa f é . Nunca duas boas obras d o Schueler, c i t a d o em O . A . G o e r l , Cre-
podem ser totalmente iguais, pois va- mos, por isso também falamos (Porto A l e -
gre: concórdia, 1977), p. 6 7 .
riam no espaço, no tempo e na voca- 2 0 - F C , Ep, V I , 1 .
ção da pessoa. Mas todas as boas 21- M Luther, " V o m A b e n d m a h l C h r i s t i
obras têm o padrão fixo do "fruto B e k e n n t n i s " , 1 5 2 8 , W2 1 0 9 8 e 1 0 9 9 : " D a s
do Espírito", pois procedem de um P r i e s t e r a m t , der Ehestand, d i e weltliche
coração perdoado e regenerado em O b r i g k e i t . . . . d a s s solche d r e i S t i f t e oder
O r d e n in Gottes W o r t u n d G e b o t gefasset
Cristo. s i n d . " Também em " V o n den Konzillis und
Kirchen", 1539, em W 2
2301: "...diese
drei hohen g o a t t l i c h e n R e g i m e n t « . . . goett-
NOTAS BIBLIOGRÁFICAS liche, natuerliche, weltliche R e c h t e . . . "
2 2 - A S , P r e f á c i o , 1 4 . T r a d u ç ã o de A r -
1 - João C a l v i n o , Institutes of the Chris- n a l d o Schueler em m a n u s c r i t o não p u b l i -
Han Religion, e d . p o r J o h n T . M c N e i l l e cado. Em CA, XXVII, 13 fala-se em
t r a d , por F o r d Lewis Battles ( " L i b r a r y o f " . . . t o d o s os d e m a i s e s t a d o s d e v i d a or-
Christian C l a s s i c s , " v o l s . 2 0 e 2 1 ) , ( P h i - d e n a d o s p o r D e u s . . . o f í c i o s estes n o s
ladelphia: W e s t m i n s t e r , 1 9 6 0 ) , Bk. I I , c a p . q u a i s se servo a D e u s . . . "
V I I . sect. 1 3 . C i t a d o em W e r n e r Elert, Law 2 3 - Ibid., 10.
and Gospel, traduzido por Edward H. 2 4 - H. Fagerberg, A new look at the
Schroeder ("Facet B o o k s " , Social Ethics Lutheran Confessions, 1529-1537, t r a d . por
S e r i e s — 1 6 ) , ( P h i l a d e l p h i a : Fortress Press, Gene J . Lund ( S t L o u i s : C o n c ó r d i a , 1 9 7 2 ) ,
1967), p. 7. p. 2 8 8 .
2 - Ibid., sect. 1 4 . Elert, p. 7. 2 5 - C M , I, 3 1 1 . T r a d u ç ã o de A r n a l d o
3 - Elert, p . 4 5 . Schueler e m m a n u s c r i t o não p u b l i c a d o .
4 - Ap IV, 1 2 8 . 2 6 - FC, S D , V . 1 0 .
5 - C a l v i n o , Institutes, Bk. I I . c a p . I, 27 - F C , S D , V I , 4 .
sect. 1 2 . 2 8 - Ibid., 5 .
6 - (St. L o u i s : C o n c o r d i a , 1 8 9 7 ) . Resu- 2 9 - Ibid., 1 7 .
m o em p o r t u g u ê s : C . F . W . W a l t h e r , Lei e
3 0 - Ibid., 2 1 .
Evangelho, c o n d e n s a d o p o r W a l t e r C. Pieper,
3 1 - Ibid., 2 2 .
t r a d , p o r V i l s o n Scholz (Porto A l e g r e : C o n -
3 2 - Ibid., 24.
cordia, 1977).
3 3 - C M , I, 3 1 1 .
7 - Elert, p . 4 7 . 3 4 - Ibid., 3 1 3 .
8 - T r a d u ç ã o inglesa por A . M . H a l l e m 3 5 - Ibid., 3 1 4 .
W i l l Herberg (ed.) Community, State; and 3 6 - Fagerberg, p . 285.
Church. Three Essays by Kart Barth (New 3 7 - C A , X X V I I , 2 0 . A Confissão de
York: D o u b l e d a y A n c h o r B o o k s , 1 9 6 0 ) , p p . Augsburgo e os Credos Ecumênicos (Por-
7 1 - 1 0 0 . Citado em Elert, p. 5. to Alegre: Concórdia, 1961), p. 3 4 .
9 - Elert. p . 5 .
38 - Fagerberg, p. 2 8 5 .
10 - Ibid.; Barth, p. 7 2 .
3 9 - C M , I, 1 2 6 .
11 - I b i d . ; B a r t h , p. 8 0 .
4 0 - Ibid., 1 5 0 e 1 5 1 .
12 - A . R . K r e t z m a n n , Lei e Evangelho,
Irad. por A r n a l d o Schueler (Porto A l e g r e : 4 1 - Ibid., 152.
C o n c o r d i a , 1 9 6 5 ) , p p . 18 e 1 9 . 4 2 - F a g e r b e r g , p. 2 8 1 . C f . , A p , X V ,
13 - W i l h e l m N i e s e l , The Theology of 1 4 , 1 7 ; X I I , 1 7 4 ; X X V I I , 5 8 ; C M , I, 1 6 7 ,
Calvin, r a d . por H a r o l d Knight (Philadel- 198.
phia: W e s t m i n s t e r , 1 9 5 6 ) , p . 1 0 0 . C i t a d o 4 3 - Henry J . E g g o l d , " T h e T h i r d Use
em Elert, p. 5. o f the L a w " , The Springfielder (1963), vol.
2, p. 2 1 .
' 1 4 - Elert, p . 4 3 .
1 5 - Ibid., p. 4 4 . 44 - Ap. XV. 25 e 26.
16 - W . M . O e s c h , " D e T e r t i o Uso Le- 45 - Ap, XXVII, 49 e 50.
O MORDOMO CRISTÃO A PARTIR DO BATISMO
Horst Kuchenbecker

Você foi batizado com água em no- me é inscrito no livro da vida. En-
me do Deus triúno. Pai, Filho e Es- quanto alguém permanecer na f é , o
pírito Santo? O que aconteceu com batismo lhe é fonte de diário conso-
você naquele dia, especialmente se lo, lhe é força para uma vida santi-
você foi batizado quando ainda cri- ficada e lhe é profusamente conso-
ancinha? Sua certidão lhe lembra o lador na hora da morte.
acontecimento. Seus padrinhos talvez
lhe possam contar alguns fatos daque- 1 — Batizados na morte,
le dia. Mas o que aconteceu a você
no dia do batismo? Que valor tem A apóstolo Paulo refere-se, com
aquele batismo para sua vida familiar freqüência, ao batsimo. Na carta aos
e profissional? Que valor tem o ba- romanos, capítulo seis, Paulo esta-
tismo nas tentações e nas necessi- belece um paralelo entre o que Deus
dades, no leito da enfermidade e na fez por nós em Cristo e o que ele
hora da morte? Que influência tem ainda faz por nós pelo batismo.
o batismo sobre sua vida na comu-
nidade, sobre seu culto, sua contri- Paulo descreve, c o m muita clare-
buição, seu testemunho? Enfim, qual za, a vida procedente do batismo.
é a vida que brota do batismo? "Ignorais que todos os que fomos ba-
tizados em Cristo Jesus, fomos bati-
Muitos, olhando em seu derredor, zados na sua morte. Fomos, pois, se-
e vendo a multidão de pessoas bati- pultados com ele na morte pelo ba-
zadas que vivem uma vida ímpia, t i s m o ; para que, como Cristo foi res-
concluem que o batismo não tem va- suscitado dentre os mortos pela gló-
lor nenhum. Será? ria do Pai, assim também andemos
nós em novidade de vida."
A Escritura nos diz que o batis-
mo, ordenado por Jesus, nos salva Paulo usa a expressão "morte". O
(1 Pe 3 . 2 1 ) , renova e regenera (Tt que é a morte? A morte entrou no
3 . 5 ) , concede perdão dos pecados mundo pelo pecado. Quando Deus
(At 2 . 3 8 ) . É, portanto, um meio pe- terminou sua criação e olhou, no sex-
lo qual Deus vem e derrama sua gra- to dia, sobre tudo o que tinha feito,
ça nos corações dos homens. U m viu que "tudo era muito bom" (Gn
meio pelo qual o Espírito Santo res- 1 . 3 1 ) . O que encerram as palavras
suscita uma pessoa da morte espi- "muito bom"? 0 homem vivia em
ritual, concedendo-lhe a fé, a nova estreita comunhão com seu Deus, em
vida, sem nenhum merecimento ou perfeito relacionamento com seu pró-
dignidade. Tudo é graça, como o ximo (esposa). Na natureza tudo era
mostra o próprio ato batismal. A paz e harmonia. O homem administra-
criança é levada ao batismo, pois ela va o jardim do Éden com perfeição.
nem pode dispor-se para o batismo, Tinha domínio "sobre os peixes do
o lá recebe, pelo batismo, o perdão mar, sobre as aves dos céus, sobre
dos pecados, a fé é acesa, seu no- os animais domésticos, sobre toda a
terra e sobre todos os répteis que pecado, a morte e Satanás, e triun-
rastejam pela terra" (Gn 1.26). Tudo far pela ressurreição. E Cristo o fez.
era tamanha santidade e perfeição
que hoje nem o podemos imaginar. Quando Cristo, o Filho de Deus,
r
E n t ã o veio o triste dia. A queda se encarnou na virgem Maria, vindo
do homem em pecado. Foi uma ca- ao mundo, os pecados de toda a hu-
tástrofe total. 0 pecado rompeu a manidade foram colocados sobre ele,
comunhão entre o homem e seu Deus. como se fossem dele e ele f o i colo-
O pecado corrompeu o homem total- cado sob a l e i , que condena o peca-
mente, tornando-o escravo de Sata- do. A vida de Cristo f o i uma vida
nás. O pecado desgraçou o relacio- sob o pecado, a saber, nossos peca-
namento do homem c o m seu pró- dos pesavam sobre ele. E a lei de
ximo. Por causa d o pecado dos ho- Deus o moeu até à morte e morte de
mens, a terra foi amaldiçoada. Em cruz. Por sua vida santa, por sua
sua cobiça egoísta, o homem explo- paixão e morte, por sua ressurreição,
ra destrutivamente a natureza. A his- Cristo cumpriu a lei, pagou por nos-
tória mostra que todo o altruísmo sos pecados, venceu nossos inimigos
do homem, sua esperança por dias e conquistou para todos o perdão dos
melhores através da cultura e da tec- pecados. Conquistou para todos a l i -
nologia sofrem contínuas e totais der- bertação do pecado, da morte e d o
rotas. As guerras e a devastação que poder de Satanás. Abriu para todos
o homem espalha são prova disto. O o caminho à comunhão com Deus,
culto que o homem, em seu medo e para voltarem a ser filhos de Deus
pavor, presta a Deus, é inimizade e herdeiros da vida eterna. Tudo is-
contra Deus e abominação ao Senhor so Jesus oferece ao pobre pecador
(Pv 2 1 . 1 7 ) , por mais honroso e sa- em sua palavra e nos sacramentos. O
crificial que seja.^ evangelho é o poder de Deus que
traz esta graça ao coração do peca-
dor arrependido, que concede vida
Paulo resume tudo isso numa só nova, que amarra e enxerta a pessoa
palavra: "estando nós mortos em ao corpo de Cristo ao ponto de ser
nossos delitos e pecados" (Ef 2 . 5 ) . membro d o corpo de Cristo. Com isso
Estar morto em pecado significa es- a pessoa morre com Cristo e ressus-
tar separado de Deus, estar sob o cita com Cristo para novidade de v i -
juízo de Deus, ser escravo de Sata- da. Cristo nos libertou da dívida d o
nás, ser inimigo de Deus, sem força castigo e do domínio do pecado. E
para voltar a Deus. o que crê tem o que as palavras d i -
zem e expressam: vida e eterna sal-
Deus, porém, movido por seu
vação.
imenso amor, não abandonou os ho-
mens, mas providenciou-lhes ma-
ravilhosa salvação em Cristo. Para
que Cristo pudesse salvar os homens, ^ 2 — A nova vida oculta em Cristo
teve que fazer três coisas importan-
tes: tornar-se homem e, como subs-
f
E s t a nova vida que recebemos pela
fé, está oculta em Cristo. Não é, por-
tituto de todos os homens, cumprir
tanto, uma transformação exterior da
a lei, pagar pelos pecados dos ho- pessoa. Não é uma vida exterior-
mens, vencer os inimigos do homem: mente diferente da vida das demais
pessoas. Não se caracteriza por coi- O batismo, ou a conversão, não é
sas externas, como por exemplo: uma coroação ou diplomação pela
uma vida sem doenças, sem sofri- santificação alcançada, mas é a res-
mentos, sem problemas. É uma vida surreição para uma nova vida. A con-
oculta em Cristo, aqui ainda em hu- versão de um pecador é Deus dan-
milhação (1 Jo 3 . 2 ) . Semelhante à do-lhe nova vida, a fé. Esta vida es-
vida que Cristo teve aqui na terra. tá oculta em Cristo e só resplande-
Nele habitava corporalmente toda a cerá em todo seu fulgor quando
plenitude de Deus, porém, exterior- Cristo se manifestar (Cl 3 . 3 - 4 ) . En-
mente era o simples filho do carpin- quanto estamos aqui na terra, pouco
teiro José. Sua divindade era um mis- se vê desta vida, pois ela está man-
tério que só a fé enxergava. Da mes- chada por fraquezas e pecados, dú-
ma forma seu novo reino, a igreja vidas e incompreensões, obstinações
cristã, ainda está oculto. Seus sinais e pecados. Mesmo assim, a fé não
é u m pensamento morto na mente do
exteriores são a palavra de Deus e
Cristão. A fé é vida. Vida que atua,
os sacramentos. 0 homem natural os
que impulsiona, que se revela em
despreza e se escandaliza na insig-
amor ao próximo. "Somos feitura
nificância da igreja cristã, como des- dele, criados em Cristo Jesus para
prezava a pessoa de Cristo e se es- boas obras" (Ef 2 . 1 0 ) .
candalizava na humildade do reino
de Jesus. Vejamos por exemplo, o * 0 cristão, por isso, vive em dois
quadro que o apóstolo Paulo, men- mundos. Com o seu corpo, toda a
sageiro de Cristo, pinta a seu respei- matéria corporal e espiritual, ele es-
to: "Sofre fome, e sede, e nudez; é tá no mundo. Está sujeito às coisas
esbofeteado, e não tem morada cer- do mundo, doenças, necessidades.
ta; é injuriado, perseguido, calunia- Ele luta pela vida e sofre como to-
do, considerado lixo do mundo, es- das as pessoas sofrem até a sua
cória de todos." (1 Co 4 . 1 1 - 1 3 ) . morte. Ao mesmo tempo ele é mem-
Mesmo assim, como o reino de Deus bro do corpo de Cristo. Ele foi aben-
estava próximo ali onde Jesus anda- çoado c o m as bênçãos nas regiões
va, assim o reino de Deus está pró- celestiais. Ele tem parte no novo
ximo ali onde palavra e sacramentos mundo, do qual Cristo é a primícia
estão em uso. E a pessoa que os a- por sua ressurreição. E quando Cris-
ceita pela fé, tem o que as palavras to voltar, o cristão será igualmente
prometem e dizem, a saber, perdão ressuscitado ou transformado. Seu
dos pecados, vida e salvação. Tal corpo de humilhação será igual ao
pessoa é membro do reino de Deus corpo glorioso de Cristo, "segundo a
e tem Cristo no coração; tem comu- eficácia do seu poder que tem de até
nhão com Deus. Quando Cristo vem subordinar todas as coisas" (Fp 3 .
a nós por palavra e sacramentos, va- 2 1 ) . Somente então o batismo alcan-
lem-nos as mesmas palavras do tem- çará a sua plenitude. Então tudo a
po de Jesus: "Veio para os seus, mas que fomos consagrados pelo batismo
os seus não o receberam, mas a todos se cumprirá. Ressuscitaremos para
quantos o receberam, deu-lhes o po- nunca mais morrer. Até lá nossa v i -
der de serem feitos filhos de Deus". da está oculta em Cristo.
Para o incrédulo isto é loucura, no 1.° Artigo do Credo Apostólico
sem nenhum sentido prático. Para a que Deus o criou, sustenta, defende
fé, isto é realidade que orienta toda e protege. Que por tudo isso deve
a vida. Pois "o que tem esta espe- dar-lhe louvor, servi-lo, obedecer-lhe.
rança nele, purifica-se a si mesmo, Não pode fazer com os bens recebi-
assim como ele é puro" (1 Jo 3 . 3 ) . dos o que bem entende, mas cabe-
Por isso, se fostes ressuscitados com lhe administrá-los conforme a von-
Cristo, buscai as coisas lá do alto, tade de Deus, para a glória de Deus
onde Cristo vive, assentado à direi- e o bem estar do próximo. Terá que
ta de Deus" (Cl 3 . 1 ) . Acaso não sa- prestar contas a Deus por qualquer
beis que o vosso corpo é santuário desejo, palavra, ação, pelo que fez
do Espírito Santo que está em vós, c o m os bens que Deus lhe concedeu
o que tendes da parte de Deus e que e pelo que deixou de fazer (Hb 9 .
não sois de vós mesmos, (1 Co 6 . 27; Tg 4 . 1 7 ; Ef 4 . 2 9 ) . Diante des-
19). Sim, no batismo inicia uma no- ta responsabilidade, estremece.
va vida.
Seu refúgio diário é seu Salvador
' Uma vida como membro do corpo Jesus. A respeito dele confessa no
de Cristo (Ef 4 ) , como filho de 2.° Artigo do Credo Apostólico:
Deus (Gl 3 . 2 6 ) , como sacerdote de "Creio que Jesus. . . me remiu a m i m
Deus (1 Pe 2 . 9 ) , como embaixador homem perdido e condenado, me
de Deus (2 Pe 5 . 2 0 ) . Tal pessoa resgatou e me salvou de todos os
não é mais do mundo (Jo 1 5 . 1 9 ) , pecados, da morte e do poder do
mas é concidadão dos santos (Ef 2. d i a b o . . . para que eu lhe pertença
1 9 ) . E enquanto peregrina nesta ter- e viva submisso a ele em seu reino
ra, busca administrar tudo para a e o sirva em eterna justiça, inocên-
glória de Deus e o bem estar do pró- cia e bem-aventurança." Isto não é
ximo, visando especialmente a sal- simples confissão de lábios, mas
vação do próximo, i uma confissão do coração. Se pu-
déssemos oihar para dentro do co-
ração de um cristão, mesmo do mais
Administrador a partir do
fraco, e observar ali o novo homem,
Batismo
veríamos exatamente esta confissão.
O cristão ama seu Salvador de todo
Na parábola do administrador in- o coração, de toda a sua alma, de
fiel, Jesus admoesta: "Se, pois, não iodo o seu entendimento. O cristão
vos tornardes fiéis na aplicação das também confia em seu Deus, cria-
riquezas de origem injusta, quem dor e mantenedor de todo o coração
vos confiará a verdadeira riqueza"? e cabe que "grande fonte de lucro é
(Lc 1 6 . 1 1 ) . Estas palavras mostram a piedade c o m o contentamento" (1
que Jesus quer que cada um de seus Tm 6 . 6 ) .
discípulos seja um bom administra-
dor de todos os bens que Deus lhe
confiou. E todo o cristão o confirma- Ao mesmo tempo, veremos na
rá com um vigoroso A m é m . mente do cristão como a carne pe-
camino?a, mesmo do melhor cristão,
0 cristão, como administrador, sa- luta ferozmente contra o novo ho-
be que tudo o que possui, o recebeu mem, a fé e procura enganar o cris-
da graciosa mão de Deus. Confessa tão e seduzi-lo ao pecado. Nas diver-
a fé não se produz com artifícios, ma transformam a contribuição em
nem com dinheiro, mas unicamente obra necessária para a salvação. Ou-
pela correta anunciação da palavra tro uso errado da lei é julgar-se que
de Deus, aplicando lei e evangelho determinados métodos ou sistemas
corretamente, e pela correta adminis- salvarão as finanças. Como se o mé-
tração dos sacramentos. Só por estes todo ou o sistema tivesse força em
meios se edifica a igreja cristã. Só si. Prega-se o evangelho de maneira
por estes meios o Espírito Santo ope- sentimental para mover pessoas à
ra a fé, quando e onde lhe aprou- contribuição. Dá-se ênfase errada a
ver. Isto é preciso ser lembrado es- certos aspectos da vida cristã e m
pecialmente em tempos de decadên- detrimento de outros lados da vida
cia, quer de uma comunidade, quer santificada. Por exemplo, como se
de uma igreja ou em épocas de de- somente o bom contribuinte, ou o
cadência geral. Então os ministros e bom participante dos departamentos
líderes das comunidades precisam e- fosse um bom cristão.
xaminar se estão anunciando a pa-
lavra corretamente e perseverar nes- É preciso frisar novamente, só a
ta anunciação e na oração. palavra de Deus e os sacramentos e-
dificam uma comunidade cristã. Por
Infelizmente, em vez disto, muitas isso é nossa constante preocupação
comunidades gastam seu tempo, seus anunciar esta palavra nas casas, bus-
dons e suas energias na fabricação car com ela as ovelhas desgarradas,
de muletas para remediarem a situa- levar esta palavra aos enfermos e ve-
ção. Muletas que iludem temporaria- lhinhos, ensinar nossos membros nos
mente e pioram o estado do doente. cultos e por estudos bíblicos a usa-
As muletas mais perigosas são o uso rem esta palavra, para que mutua-
errado de lei e evangelho. Muitos lí- mente se admoestem e se consolem
deres dizem a seus pastores: "É pre- com esta palavra, suplicando a nos-
ciso pregar mais l e i " , como se a lei so Deus que tenha misericórdia, que
pudesse dar vida. Outros dizem, nos- por sua graça abençoe esta palavra
nos corações, que seja gracioso e
sos pastores pregam demais sobre a
conceda crescimento e vida santifi-
graça e deveriam pregar mais sobre a
cada, que mova corações para o tra-
santificação. Melhor seria dizer que
balho, que conceda dons e recursos
talvez pregam mal sobre a graça. Ora, necessários para a expansão de seu
a graça é alimento da fé. A mesma reino. Assim alimentamos a fé gera-
graça que justifica é a graça que da no batismo e / o u na conversão.
santifica. Muitos não entendendo isso Assim edificamos uma comunidade.
julgam que pelo ditar leis resolverão Quando os discípulos de Jesus f o -
os problemas. Estipulam taxas, dízi- ram colocados diante de uma tarefa
mos, negam os meios da graça — o d i f í c i l , a saber, amarem os irmãos,
batismo e a santa ceia — aos que não pediram a Jesus: Aumenta-nos a fé
estão em dia com suas contribuições (Lc 1 7 . 5 ) . Este é o desejo e a ora-
Escandalizam, desta forma, as pes- ção de todo o administrador. Para
soas e a fé dos jovens confir- que isso aconteça precisamos ensi-
mandos, negando-lhes a confirmação nar-lhe "todo o desígnio de Deus"
por seus pais não estarem em dia (At 2 0 . 2 7 ) .
com suas contribuições. Desta for-
5 — Administração global setores sobre outros. Os dons são
diferentes. O cristão luta em todos
Quando falamos da vida santifica- os sentidos e destaca-se de acordo
da do cristão, e isto acontece em ca- com seus dons em alguns setores e
da sermão, em cada estudo bíblico, facilmente pode relaxar outros aspec-
em cada hino luterano e em cada o- tos.
ração, pois o mesmo Salvador que
justifica é o mesmo que santifica, 5 . Quinto, que devemos ter mui-
a mesma palavra que justifica é a to cuidado em não procurar medir a
mesma que santifica, cumpre lem- santificação de um cristão com me-
brar alguns aspectos: didas por nós estipuladas, que po-
dem ser falsas. Não nos cabe ava-
1 . Primeiro, que a justificação de liar e julgar o próximo. O que nos
um pecador é obra do Espírito Santo, cabe é, na qualidade de sacerdotes
sem nenhum mérito ou dignidade de reais, instruir, admoestar, consolar e
nossa parte. Esta justificação é com- edificar com a palavra de Deus, o-
pleta e instantânea no momento da rando uns pelos outros.
conversão.
T e m b r a d o isso, vamos contem-
2 . Segundo, que só se pode falar plar a vida santificada de um cristão
e m vida santificada a partir da f é , batizado, como administrador, mais
a partir do novo homem que Deus de perto. O cristão, conforme o seu
cria. Este novo homem, por mais fra- novo homem, quer servir a seu Sal-
co que seja, renuncia totalmente ao vador de todo o coração. Seu culto
diabo e quer servir a seu Deus e Sal- começa no coração. Lá se travam as
vador de todo o coração, e para tan- principais lutas. Nossa mente carnal
to precisa ser fortalecido pela palavra é terrivelmente criativa quando se
de Deus. trata de nos levar ao pecado. Arran-
3 . Terceiro, que a santificação, ja toda sorte de camuflagens, toda a
não necessária para a salvação, se sorte de desculpas, e nem sempre
bem que a f é , necessariamente pro- é fácil detectar as ciladas do pecado.
duz boas obras, se desenvolve gra- Há luta constante em nossa mente
dativamente, nela o cristão coopera, entre a inclinação pecaminosa de
não formando dupla c o m o Espírito nossa carne e nosso novo homem.
Santo, mas enquanto e o quanto o Nossa carne recebe estímulo do
Espírito lhe der força. A santificação mundo e da fraqueza dos irmãos e
tem altos e baixos e não é igual, de Satanás. Vale aqui a palavra do
quanto ao seu grau, em todas as apóstolo: "Não vos conformeis com
pessoas. Alguns alcançam, pela gra- este século, mas transformai-vos pe-
ça de Cristo, elevados graus na san- la renovação da vossa mente" (Rm
tificação, outros permanecem mais 1 2 . 2 ) . Esta renovação se dá pelo
fracos. Por vezes os fortes caem ter- constante estudo da palavra de Deus.
rivelmente e os fracos vêm a cres- Assim a santificação envolve, em pri-
cer. meiro lugar, todo o nosso pensar,
imaginar e desejar. Sobre isso pre-
4 . Quarto, que a santificação cisamos vigiar constantemente. Dali
sempre deve ser encarada como u m a vida santificada se estende ao nos-
todo. Não podemos esfacelá-la em so olhar, ouvir, falar e agir; ao nosso
setores, ou até super-estimar alguns

57
relacionamento com nossos familia- de Deus. Ainda outros, como Ananias
res, vizinhos, nossa vida profissional e Safira, visam honra no seu servir.
e nossos momentos de lazer. Como Isto vale também quanto à oferta.
administradores cristãos nossa res- Quem julgar que o ofertar o isenta
ponsabilidade é global e igual em to- de testemunhar, erra. Quando faltam
dos os momentos da vida. Em cada pastores, missionários, líderes leigos,
momento de nossa vida somos mem- ou recursos materiais à igreja, é si-
bros do corpo de Cristo. Em todos nal de que há membros que não to-
estes momentos o administrador cris- mam a palavra a sério e, não obede-
tão se orienta pelos dez mandamen- cendo ao chamado de Deus, prefe-
tos. Esta lei tem duas tábuas. Não rem seguir as atrações do mundo, es-
no sentido de a primeira tábua ser colhendo profissões mais rentáveis,
mais importante do que a segunda. negando seus dons e recursos à igre-
Devemos ter cuidado em não enfati- j a . A f é cristã não desvia a pessoa
de seus deveres familiares, profissio-
zar um mandamento sobre outro. A
nais, patrióticos ou sociais, antes dá
pergunta dos fariseus: "Qual o maior
a tudo o seu devido lugar e correto
mandamento?" se encontra também
equilíbrio, procurando administrar t u -
no nosso coração. Por que esta per- do para a glória de Deus. Cada qual
gunta? Ela brota do velho hábito de descobrindo o dom e desenvolvendo
querer negociar com Deus. Mais ou o dom que Deus lhe concedeu, sen-
menos assim: Cumpre o mandamen- do fiel e servindo ali onde Deus o
to principal, então você não precisa colocou. A tábua dos deveres nos o-
tomar os outros mandamentos tão a rienta na vida santificada. Todo nos-
sério. Constantemente nossa carne so culto, como administradores ainda
quer afastar a vida santificada do é muito fraco e imperfeito, precisa ser
fundamento da graça e colocá-la so- constantemente purificado pelo per-
bre o fundamento do merecimento. dão de Deus, e necessita da cons-
Por exemplo: Temos aqueles que tante orientação do Espírito Santo.
pelo afadigarem-se nos trabalhos da
igreja, dando devoções e participan-
do dos departamentos, julgam ser 6 — Administração com ordem
melhores do que aqueles que cum-
Nossos sacrifícios de louvor, pelo
prem fielmente seus deveres fami-
sacrifício recebido, não se expressam
liares e profissionais. Temos aqueles
desordenadamente. A administração
que usam as atividades na igreja co-
dos bens recebidos se expressa de
mo fuga dos deveres domésticos ou forma organizada. As pessoas na co-
profissionais, dando a impressão de munidade são muitas, muitos são
serem bons cristãos para encobrirem também os dons e as funções. Para
suas desonestidades profissionais e que tudo se processe c o m ordem e
seus problemas domésticos. Outros nada seja esquecido ou o m i t i d o , há
caem em outro extremo, dizendo: necessidade de organização. Nesta
Meu culto é seguir fiel e honesta- organização o cristão se orienta pelos
mente meu trabalho profissional e dez mandamentos. E a comunidade
cuidar de minha família. Esquecem tem o direito, dentro de sua liberda-
que a fé não vem pelo trabalho fiel e de cristã, para fixar certas normas
honesto, mas pelo ouvir da palavra e diretrizes que, no entanto, não de-
vem servir como imposição necessá- muitas maneiras. Cada congregação
ria para a salvação, ou que talvez ve- t e m liberdade para escolher a manei-
nham contradizer os dez mandamen- ra que mais lhe convêm. Se todos os
tos ou o espírito do evangelho. São membros pudessem estar dominical-
diretrizes para a boa ordem e, mo- mente no culto, bastaria, talvez, a
vidos pelo amor, os membros seguem coleta dominical. Mas, isso nem
estas normas. Como por exemplo, sempre é possível. Realizando alguém
normas para a boa organização da seu culto em casa, sem dúvida, não
comunidade, fixando local e horário se furtará de uma parte importante
de cultos, fixando a ordem (liturgia) do culto, o ofertar. Igualmente mui-
do culto, o sistema de recolhimento tos têm renda mensal e não deixa-
das ofertas, a direção missionária, o rão de trazer suas primícias a Deus.
trabalho em conjunto na paróquia, no
distrito, em âmbito nacional e inter- Assim há necessidade de certa or-
nacional. dem. Todo o bom administrador con-
trola sua administração. Para a orien-
Além disto, cada cristão fixará pa- tação da congregação, especialmen-
ra si uma série de diretrizes para a- te hoje c o m altos encargos financei-
gir disciplinadamente, a f i m de que ros, a promessa é importante. Não
sua natureza carnal não o engane e tanto por ser promessa, ou como ga-
o desvie de seus bons propósitos, rantia, mas para orientação. Não co-
tornando-o um mau administrador dos locamos nossa confiança nas promes-
dons e bens que Deus lhe concedeu. sas, mas no Deus que supre. Há ne-
Tomemos um exemplo: a vida devo- cessidade que o tesoureiro lance os
cional. Viver uma vida oracional é dados cuidadosamente. Como admi-
viver em comunhão com Deus. Fala- nistradores permitiremos também a
mos c o m Deus em qualquer lugar e nossos irmãos darem uma olhada pa-
em qualquer momento. São nossas ra dentro de nossa administração, a
orações livres. Mesmo assim é i m - f i m de mutuamente nos aconselhar,
portante que fixemos para nós mo- repreender, estimular. Isto não con-
mentos bem estabelecidos para a ora- tradiz a palavra: "Não saiba a tua
ção, quer para nossa vida oracional mão direita o que faz a esquerda"
individual ou familiar. Momentos em ( M t 6 . 3 ) . Esta passagem se dirige
que nos orientamos por boas orações contra aqueles que querem se orgu-
escritas, nas quais nos guiamos até lhar de seus feitos.
por uma lista de assuntos. Caso con-
trário nossas orações se tornarão um A comunidade, como administra-
devaneio e palavrório sem rumo, sem dora dos bens de Deus, também de-
sentido e sem luta. A mesma coisa ve prestar conta de sua administra-
se dá cem a oferta. Se não estabe- ção e sempre reexaminar sua admi-
lecermos para nós uma ordem, elas nistração para ver se está adminis-
cairão em desordem. Ordem para nós trando todos os dons e bens da me-
é um freio que colocamos em nosso lhor forma possível.
velho homem para que seja coman-
Em tudo isso não confiamos na
dado pelo novo homem. Por exem-
iei, nem na organização, mas na for-
plo; a Escritura não nos prescreve a
ça do evangelho. O melhor exemplo
maneira como coletar ofertas. Há
para para ilustrar isso é a história
do bom samaritano (Lc 1 0 . 2 5 - 3 7 ) .
Na beira do caminho jazia um ho- nossos melhores esforços estão man-
mem assaltado, deitado em seu san- chados pelo pecado. Não temos nada
gue. O fariseu e o levita passaram a apresentar a Deus. No momento
de lado, porque seus corações esta- em que queremos negociar com Deus
vam cheios de egoísmo. Então pas- e lhe dizer: "Veja como sou fiel nos
sou ali o bom samaritano. Vendo o meus afazeres, como cumpro os
homem, vendo a necessidade, foi e meus compromissos, como trabalho e
socorreu o homem. A fé o levou a oferto", neste momento estou me co-
locando debaixo da lei de Deus.
colocar mãos à obra e socorrer. Ar-
Neste momento não me vale mais a
riscou sua vida, socorreu com sacri-
graça de Deus, mas a l e i . Neste mo-
fícios, foi perseverante, a exemplo
mento estou colocando pecado entre
do amor que Cristo nos concede m i m e Deus, visto que nossas melho-
diariamente. res obras estão manchadas pelo peca-
do. Neste momento as boas obras (se
7 — Recompensa as tiver) serão colocadas num lado
Assim, na luz da graça de Deus, da balança e todos os meus pecados
na força da graça, e para exaltar a no outro lado da balança e a lei jul-
graça, nos esforçamos para sermos gará. Não é necessário dizer que sen-
bons administradores dos bens que tença colheremos.
Deus nos confiou.
Nossa administração não está
Lembramos que a construção da
construída sobre a lei, mas tem co-
igreja é obra de Deus e não depen-
mo fundamento a graça e o evange-
de de nossas forças. Deus não nos
precisaria. Ele deu-nos o privilégio lho. Do amor de Cristo que recebe-
de trabalhar. Se formos infiéis, nos mos diariamente brota o amor desin-
lançará de sua face e proverá ou- teressado que nos leva a administrar
tros. Servimos a Deus, confiando na tudo para a glória de Deus e nos leva
graça e na sabedoria de Deus. Ser- a procurar cumprir nossos deveres
vimos a Deus, suplicando que purifi- para com a família, a igreja, a pátria
que nossas obras por sua graça e e os irmãos necessitados.
aceite o nosso fraco louvor. Nem se- E quando chegar a hora da presta-
quer compreendemos os caminhos de ção de contas, por ocasião de nossa
Deus, pois seu poder se aperfeiçoa morte ou do juízo f i n a l , nada tere-
na fraqueza (2 Co 1 2 . 9 ) . Nestes ter- mos a apresentar ao Salvador, a não
mos Abraão e muitos fiéis serviram ser agarrar-nos pela f é ao nosso ba-
ao Senhor. Abraão não negou a Deus tismo, para lhe dizer: Senhor, lá tu
o seu próprio filho Isaque, única ga-
me recebeste, lá tu me vestiste com
rantia de que ele seria uma bênção
o manto branco da tua justiça, por
para todas as nações. Abraão "espe-
amor do teu nome, recebe-me. Para
rou contra a esperança" (Rm 4 . 1 8 ) .
Assim procederam muitos fiéis men- surpresa nossa, ouviremos as pala-
cionados em Hebreus 1 1 . Assim pro- vras: Foste fiel no mínimo, sobre mui-
cedem ainda hoje muitos cristãos, co- to te colocarei I E perguntaremos: Se-
mo administradores de Deus. nhor, quando te vimos, faminto, nú,
c o m sede, doente e te fomos visitar?
Em tudo isso não buscamos ne- Tudo nos será surpresa. Tudo é gra-
nhuma recompensa. Sabemos que ça sobre graça. Imerecida graça.
1 CO 16.1,2 ENSINA A OFERTA PROPORCIONAL? / 4

O MOTIVO PARA A OFERTA / 15

COMO EDUCAR PARA A OFERTA V O L U N T Á R I A ? / 27

FROMESSAS DO A N T I G O T E S T A M E N T O / 36

O TERCEIRO USO DA LEI / 42

O MORDOMO CRISTÃO A PARTIR DO BATISMO / 51


ENSAIOS TEOLÓGICOS

N.° 01 — Fórmula para a Concórdia


N.° 02 — 0 Cristão Oferta
N.° 0 3 — 0 Batismo de Crianças

DOCUMENTOS LUTERANOS

N.° 01 — Movimento Carismático


N.° 02 — A Maçonaria

CONFISSÕES LUTERANAS

Cremos, Por Isso Também Falamos (Análise da Fórmula de Concórdia)


Confissão da Esperança (Análise da Confissão de Augsburgo)
Livro de Concórdia (Texto e comentário de todas as Confissões Luteranas)

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