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Pranchas de Arquitetura, objeto de pesquisa, produzidas por Pedro Paulo

Buchalle - MIGrau 32 do REAA. Serão 15 partes ao todo e, ao final, será


publicada a Bibliografia completa da pesquisa.

A Quarentena Maçônica – Parte III

LITURGIA

O que é liturgia ?

A Franco-Maçonaria é uma instituição que se serve abundantemente da


liturgia. Todas as reuniões oficiais em Loja seguem um determinado
protocolo litúrgico em que os membros do quadro designados cumprem
papéis preestabelecidos em um ritual ou livro litúrgico próprio.
Nessa aula veremos de forma bastante ampla o que é liturgia, para que
ela serve, quais são seus princípios gerais etc.

A palavra liturgia vem do grego leitourgia, que por sua vez é composta
das palavras leitos (popular, povo) e ergon (ação, obra, trabalho). Como
fica explícito, referia-se, já desde o seu uso grego, a uma ação, um
trabalho ou ofício que não visava à utilidade particular, privada, mas à
comunidade, ao povo, tanto no sentido social como religioso.

Para que serve a liturgia ?

Se nos utilizarmos do seu sentido lato, ou seja, o de serviço público,


podemos dizer que a liturgia é todo conjunto de atos organizados para o
desempenho de uma função ou ato público. Há uma liturgia que se
desenvolve em uma cerimônia de inauguração, em uma formatura, em
uma festa de aniversário (soprar as velas, cortar o bolo, distribuir seus
pedaços), em uma sessão do Poder Judiciário, Legislativo ou Executivo, em
uma recepção formal, em um jantar solene etc.

A finalidade desse conjunto de atos pré-determinados é a de estabelecer


uma ordem no que se realiza, de maneira que os atos tenham uma
coerência interna, que conduza a assistência a perceber a finalidade a que
se propõe um determinado evento.
No caso da liturgia do Poder Judiciário, o objetivo é, além de impor uma
ordem necessária para uma maior eficácia dos juízos e debates,
demonstrar à assistência a seriedade, a lisura e a objetividade racional dos
juízos e debates, baseados em uma interpretação coerente das leis.

A liturgia religiosa não se afasta desse mesmo objetivo. Uma missa


católica romana deseja produzir em seus fiéis a percepção dos pontos
essenciais de seu conjunto de crenças, ou seja, da encarnação, morte e
ressurreição de Jesus Cristo e dos meios de salvação por ele deixados aos
que nele crerem e, com isso, incrementar sua fé e sua prática religiosa.

É importante notar aqui que há uma diferença entre a liturgia voltada para
os atos cerimoniais e a liturgia voltada para o rito. O que chamamos aqui
de cerimônia, do latim caerimonia ou caeremonia, é o nome dado às
formas exteriores de aformoseamento ou solenização de um ato. A
cerimônia é distinta do rito. O rito comporta uma mensagem simbólica e
atos que estão relacionados com um mito ou com um comportamento
simbólico (em que os atos repetem um arquétipo heroico e/ou sagrado). A
cerimônia não.

Para exemplificar as afirmações acima, podemos dizer, tomando um


exemplo bastante comum que, em uma missa, os atos relacionados à
essência sagrada do ato, ou seja, a repetição do sacrifício eucarístico (a
consagração e todos os atos que fundamentalmente preparam para ela)
são atos rituais. Já as partes referentes a elementos como os cantos
usados, o modo de entrada do sacerdote, se há ou não flores no altar, se
os castiçais são longos ou curtos, se há acólitos ou não, se o sacerdote usa
fórmulas mais longas ou curtas, se é mais informal ou formal em sua
gesticulação etc., são partes cerimoniais.

Nas sessões da Franco-Maçonaria há muitos que confundem grandemente


esses dois elementos. A liturgia do rito é aquela que organiza e estabelece
as formas através das quais os ensinamentos essenciais da moralidade e
do simbolismo maçônico são transmitidos. Estão relacionados com o
simbolismo operativo e sua consequente interiorização. Também estão
ligados com as alegorias e os mitos de morte e ressurreição das lendas
maçônicas. Já a liturgia do cerimonial é aquela que organiza e estabelece
as formas de embelezamento e melhor disposição das sessões, podendo
variar sem maiores prejuízos das partes essenciais.
Em uma sessão ordinária, as partes rituais consistem, propriamente, na
abertura e fechamento da loja com seus detalhes particulares (disposição
do painel simbólico do grau, disposição das Luzes Fixas, ou seja, esquadro,
compasso e Livro da Lei e atos rituais que estabelecem a cobertura do
local dos olhos profanos, bem como a inauguração de um tempo
iniciático, fora do tempo comum profano). Já as partes cerimoniais são
aquelas referentes a entradas com procissões floreadas, músicas,
adereços não essenciais, distinções de tratamento de autoridades,
formação de abóbodas, regras de onde pôr e onde tirar 29
paramentos, os ‘abre-e-fecha’ de portas, circulação em um ou outro
sentido etc.

Tanto o rito como a cerimônia têm sua própria liturgia. No entanto, para
se alterar ou reformar as partes litúrgicas referentes ao rito é preciso um
cuidado dez vezes maior do que quando se faz isso na liturgia do
cerimonial. Alterar a liturgia do cerimonial não afeta o sentido profundo
do rito e nem altera sua eficácia simbólica. No entanto, alterar a liturgia
do rito pode acabar por destruir completamente tal eficácia. Fica o recado
para as autoridades maçônicas que apreciam inovações sem terem
grandes critérios e sem, sequer, saber distinguir o rito da cerimônia

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