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PITÁGORAS E A SUA FILOSOFIA.

O
QUADRIVIUM (Aritmética, Geometria,
Astronomia e Música) DEPOIS DO
ENTENDIMENTO DO TRIVIUM
(Dialética ouLógica, Gramática e
Retórica).

O filósofo grego Pitágoras, que deu seu nome a uma ordem de pensadores, religiosos e
cientistas, nasceu na ilha de Samos no ano de 582 a.C. A lenda nos informa que ele
viajou bastante e que, com certeza, teve contato com as ideias nativas do Egito, da Ásia
Menor, da Índia e da China. A parte mais importante de sua vida começou com a sua
chegada a Crotona, uma colônia Dórica do sul da Itália, então chamada Magna Grécia,
por volta de 529 a.C.

De acordo com a tradição, Pitágoras foi expulso da ilha de Samos, no mar Egeu, pela
tirania de Polycrates. Em Crotona ele se tornou o centro de uma organização,
largamente difundida, que era, em sua origem, uma irmandade ou uma associação
voltada muito mais para a reforma moral da sociedade do que uma escola de filosofia.

A irmandade Pitagórica tinha muito em comum com as comunidades Órficas que


buscavam, através de práticas rituais e de abstinências, purificar o espírito dos crentes e
permitir que eles se libertassem da “roda dos nascimentos”. Embora o seu objetivo
inicial tenha sido muito mais fundar uma ordem religiosa do que um partido político, a
Escola de Pitágoras apoiou ativamente os governos aristocratas.

A verdade é que esta Escola chegou a exercer o controle político de várias colônias da
Grécia Ocidental, principalmente as existentes no sul da Itália. Foi também a sua
influência política que levou ao desmembramento e à dissolução da Escola de Pitágoras.
A primeira reação contra os Pitagóricos foi liderada por Cylon e provocou a
transferência de Pitágoras de Crotona para a cidade de Metaponto, onde residiu até à sua
morte, no final do séc. VI ou no início do séc. V a.C.

Na Magna Grécia, isto é, nas colônias fundadas pelos gregos na Itália, a Ordem
Pitagórica se manteve poderosa até à metade do séc. V a.C. A partir daí foi
violentamente perseguida, e todos os seus templos foram saqueados e incendiados. Os
Pitagóricos remanescentes se refugiaram no exterior: Lysis, por exemplo, foi para
Tebas, na Beócia, onde se tornou instrutor de Epaminondas; Filolaus, que segundo a
tradição, foi o primeiro a escrever sobre o sistema Pitagórico, também se refugiou em
Tebas.
O próprio Filolaus, junto com mais alguns adeptos de Pitágoras, retornou mais tarde à
Itália, para a cidade de Tarento, que se tornou a sede da Escola Pitagórica. Entre eles
estava Archytas, amigo de Platão, figura proeminente da Escola, não só como filósofo
como também como homem de estado, na primeira metade do séc. IV a.C. No entanto,
já no final deste século, os Pitagóricos tinham desaparecido, como Escola Filosófica.

A ESCOLA PITAGÓRICA
Parece que, por volta da metade do séc. V a.C., houve uma divisão dentro da Escola, De
um lado, estavam os “matemáticos”, representados por nomes do peso de Archytas e
Aristoxenus, que estavam interessados nos estudos científicos, especialmente em
matemática e na teoria musical; de outro lado estavam os membros mais conservadores
da Escola, que se concentravam nos conceitos morais e religiosos, e que eram chamados
de akousmatikoi (plural de akousmata, os adeptos das tradições orais). Estes elementos
– religiosos e científicos – estavam já presentes nos ensinamentos de Pitágoras.

As doutrinas ensinadas por Pitágoras são as seguintes:

1. – Em primeiro lugar, e acima de tudo, estava a crença de Pitágoras na existência da


alma. Ele também acreditava na transmigração das almas dos indivíduos, mesmo entre
diferentes espécies. Esta transmigração poderia ocorrer em seres mais ou menos
evoluídos. Se um indivíduo tivesse uma vida virtuosa, o seu espírito poderia inclusive se
libertar da carne, isto é, deixaria de reencarnar. Este conceito filosófico foi atribuído a
Pitágoras por Platão, em sua obra Fédon (que relata os momentos que antecederam a
morte de Sócrates pela ingestão de cicuta). Não se pode deixar de ressaltar a
importância deste conceito na história das religiões.

2. – Levar uma vida virtuosa consistia em obedecer a certos preceitos, muitos deles
vistos hoje como tabus primitivos, como, por exemplo, não comer feijão ou não
remexer no fogo com um pedaço de ferro. Estritamente morais eram as três perguntas
que cada um devia se fazer ao final do dia, e que eram: Em que é que eu falhei hoje? O
que de bom eu deveria ter feito hoje? O que é que eu não fiz hoje e deveria ter feito?
Um dos principais meios externos que ajudavam a purificar o espírito era a música.

3. – A fascinação da Escola pelos números deve-se ao seu fundador. A maior descoberta


de Pitágoras foi a dependência dos intervalos musicais de certas razões aritméticas
existentes entre cordas de comprimentos diferentes, igualmente esticadas. Por exemplo,
uma corda com o dobro do comprimento de outra emite a mesma nota musical, mas
uma oitava acima, isto é, mais aguda.

Tal fato contribuiu decisivamente para cristalizar a ideia de que “todas as coisas são
números, ou podem ser representadas por números”. Este princípio foi a pedra de toque
da filosofia de Pitágoras. Em sua obra Metafísica, Aristóteles afirma que os números
representavam na filosofia de Pitágoras o que os quatro elementos –
Terra/Ar/Fogo/Água representaram no simbolismo de outros sistemas religiosos. De
acordo com este princípio, todo o universo poderia ser reduzido a uma ”escala musical e
a um número”. Assim, coisas como a razão, a justiça e o casamento, poderiam ser
identificadas com diferentes números. Os próprios números, sendo ímpares e pares, ou
limitados e ilimitados, de acordo com Aristóteles, se constituíam na primeira definição
das noções de forma e de matéria.
Os números um e dois encabeçavam a lista dos dez primeiros pares de opostos
fundamentais, dos quais os oito pares seguintes eram “um” e “muitos”, “direita e
esquerda”, “masculino e feminino”, “repouso e movimento”, “reto e curvo”, “luz e
escuridão”, “bom e mau” e “quadrado e oblongo”. Esta era a filosofia do dualismo
metafísico e moral, através da qual se chegou ao princípio que via o universo como a
harmonia dos opostos, no qual “o um” gerou toda a serie de números existentes.

Assim, a música e a crença no paraíso estelar, (originalmente associados à Astrologia da


Babilônia) são os pontos de união entre o conteúdo religioso da filosofia de Pitágoras
com os estudos matemáticos e científicos realizados mais tarde pela ala científica de sua
Escola. O primeiro a apresentar um sistema compreensivo foi Filolaus, um de seus
discípulos.

A ARITMÉTICA PITAGÓRICA
Para Pitágoras a Divindade, ou Logos, era o Centro da Unidade e da Harmonia. Ele
ensinava que a Unidade, sendo indivisível, não é um número. Esta é a razão porque se
exigia do candidato à admissão na Escola Pitagórica a condição de já haver estudado
Aritmética, Astronomia, Geometria e Música, consideradas as quatro divisões da
Matemática. Explica-se também assim porque os Pitagóricos afirmavam que a doutrina
dos números, a mais importante do Esoterismo, fora revelada ao Homem pela
Divindade, e que o Mundo passara do Caos à Ordem pela ação do Som e da Harmonia.
A unidade ou 1 (que significava mais do que um número) era identificada por um ponto,
o 2 por uma linha, o três por uma superfície e o quatro por um sólido. A Tetraktys, pela
qual os Pitagóricos passaram a jurar, era uma figura do tipo abaixo:

.
..
...
....

representando o número triangular 10 e mostrando sua composição como sendo 1 + 2 +


3 + 4 = 10. Adicionando-se uma fileira de cinco pontos teremos o próximo número
triangular de lado cinco, e assim por diante. Mostrando que a soma de qualquer série de
números naturais que comece pelo número 1 é um número triangular. A soma dos
números de qualquer série numérica composta por números ímpares e que comece por 2
é um número quadrado. E a soma dos números de qualquer série numérica de números
pares que comece pelo número 2 é um número oblongo, ou retangular.

Este é o princípio matemático que levou à 47ª Proposição de Euclides, o matemático


grego que divulgou o Teorema de Pitágoras, pelo qual o quadrado da hipotenusa de um
triângulo retângulo é igual à soma dos quadrados dos dois outros lados, ou catetos. A
demonstração deste teorema é a Joia do Ex-Venerável mais recente de uma Loja
Maçônica, em homenagem a Pitágoras, e que simboliza a doutrina científica e esotérica
de sua Escola de Filosofia. O mesmo raciocínio usado na formulação do teorema acima,
quando o triângulo retângulo é isósceles, (com catetos ou lados iguais) levou os
Pitagóricos a descobrir os números irracionais, como, por exemplo, a raiz do número 2,
que é igual a 1,4142,,,, (dízima periódica).

A GEOMETRIA PITAGÓRICA
Em Geometria não se pode obter uma figura totalmente perfeita, nem com uma, nem
com duas linhas retas. Mas três linhas retas em conjunção produzem um triângulo, a
figura absolutamente perfeita. Por isso é que o triângulo sempre simbolizou o Eterno – a
primeira perfeição, o Grande Arquiteto do Universo. A palavra que designa a Divindade
principia, em todas as línguas latinas, por um D, e em grego por um “delta”, ou
triângulo, cujos lados representam a natureza divina. No centro do triângulo está a letra
Yod , inicial de Jehovah – o Criador, expresso nos idiomas teuto-saxônicos pela letra G,
inicial de God, Got ou Gottam, cujo significado filosófico é geração.

Numerosas – e valiosas – foram as contribuições da Escola de Pitágoras no campo da


Geometria. Assim, por exemplo, a demonstração de que a soma dos ângulos internos de
um triângulo é igual a dois ângulos retos, ou 180 graus. Também formularam a teoria
das proporções e descobriram as médias aritmética, geométrica e harmônica. Foi ainda
Pitágoras quem descobriu a construção geométrica dos cinco sólidos regulares, isto é, o
tetraedro ou pirâmide de quatro lados, o octaedro, o dodecaedro e o icosaedro. A
construção do dodecaedro requer a construção de um pentágono regular, também
conhecida dos Pitagóricos, que usavam o Pentagrama ou Estrela Pentagonal ou
Flamígera, como símbolo de reconhecimento entre os seus membros.

Em resumo, a Geometria Pitagórica cobriu todos os assuntos da obra de Euclides, que


compilou e registrou todo o conhecimento existente nesta área, na antiga Grécia.

A ASTRONOMIA PITAGÓRICA
Pitágoras foi o primeiro a afirmar que a Terra e o Universo tinham forma esférica. Ele
também anteviu que o Sol, a Lua e os Planetas então conhecidos possuíam um
movimento de translação, independente do movimento de rotação diário. A Escola de
Pitágoras desenvolveu também um sistema astronômico, conhecido como sistema
Pitagórico. A última versão deste sistema, atribuída aos discípulos Filolau e Hicetas de
Syracusa, deslocava a Terra do centro do Universo, e fez dela um planeta do mesmo
modo que os planetas então conhecidos, que giravam em torno do fogo central – o Sol.
Este sistema, elaborado cerca de 400 a.C., antecipou em cerca de 2.000 anos os mesmos
princípios defendidos por Galileu Galilei, pelos quais foi condenado pela Santa
Inquisição. Galileu demonstrou a base científica do sistema, a partir da qual Copérnico e
Kepler iriam comprovar que era o Sol e não a Terra o centro da Via Láctea – a nossa
Galáxia.

A MÚSICA PITAGÓRICA
Pitágoras não só utilizava a música para criar uma inefável aura de mistério sobre si
mesmo, como também para desenvolver a união na sua Escola. A música instruía os
discípulos e purificava suas faculdades psíquicas. Na educação, a música era vista como
disciplina moral porque atuava como freio à agressividade do ser humano. Pitágoras
considerava a música o elo de ligação entre o homem e o cosmos. O Cosmos era para
ele uma vasta razão harmônica que, por sua vez, se constituía de razões menores, cujo
conjunto formava a harmonia cósmica, ou harmonia das esferas, que só ele conseguia
ouvir.
.
Pitágoras, avatar do deus Apolo, compunha e tocava para seus discípulos a sua lira de
sete cordas. Deste modo ele refreava paixões como a angústia, a raiva, o ciúme, anseios,
a preguiça e a impetuosidade. A música era uma terapia que ele aplicava não só para
tranqüilizar as mentes inquietas, mas também para curar os doentes de seus males
físicos.
Pitágoras foi o descobridor dos fundamentos matemáticos das consonâncias musicais. A
partir daí, ele visualizou uma relação mística entre a aritmética, a geometria, a música e
a astronomia, ou seja, havia uma relação que ligava os números às formas, aos sons e
aos corpos celestes. A Tetraktys era o símbolo da música cósmica, e Pitágoras, como o
deus da Tetraktys, era a única pessoa que podia ouvi-la. A teoria da música cósmica, ou
harmonia das esferas foi descrita por Platão, no Timeu. Filolau, outro notável discípulo
de Pitágoras também faz descrição minuciosa da teoria que resulta na música cósmica e
na harmonia das esferas (ou planetas).

A HERANÇA DE PITÁGORAS
A história posterior da filosofia de Pitágoras se confunde com a da Escola de Platão,
discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles, e que foi também ardente admirador e
discípulo de Pitágoras. Platão herdou, de um lado, as doutrinas de seu mestre e, de
outro, bebeu a sua sabedoria nas mesmas fontes do filósofo de Samos. Segundo Amônio
Sacas, toda a Religião-Sabedoria estava contida nos Livros de Thot (Hermes), onde
Pitágoras e Platão beberam os seus conhecimentos e grande parte de sua filosofia.

Desde os primeiros séculos da era cristã que é comprovada a existência, em Roma, das
práticas e doutrinas religiosas de Pitágoras, principalmente as relacionadas com a
imortalidade da alma. Pitágoras disputava então, com outras religiões, um lugar
predominante no panteão da Roma Imperial. A comprová-lo as capelas pitagóricas
descobertas pela arqueologia, nas quais os iniciados aprendiam os mistérios de
Pitágoras, e onde eram introduzidos no culto de Apolo.
.
Os afrescos encontrados no sub-solo da Porta Maggiore, em Roma, mostram temas
Pitagóricos. O nacionalismo romano também está ligado a Pitágoras através da obra
Metamorfoses, de Ovídio, que nela relatou a teoria da reencarnação, defendida pelo
filósofo de Samos. Os discípulos diretos de Platão também retornaram aos princípios
Pitagóricos; e os neo-Platônicos, com Jâmblico, no séc. IV d.C. também os adotaram,
juntamente com os mais recentes escritos Pitagóricos, isto é, os Hinos Órficos. Do séc. I
d.C. ao séc. VI d.C. a doutrina de Pitágoras influenciou grandes filósofos que
escreveram e divulgaram a sua filosofia. Alguns deles foram Apolônio de Tiana,
Plotino, Amélio e Porfírio.

Depois que os cristãos conquistaram, no séc. IV d.C. o controle do Estado, os


Pitagóricos tornaram-se, gradualmente, uma minoria perseguida. No entanto, as idéias
de Pitágoras continuaram a ser pregadas na antiga escola de Platão, a Academia de
Atenas, e em Alexandria, até que no séc. VI d.C. Justiniano, imperador do Oriente,
fechou a Academia e proibiu a pregação da filosofia e das doutrinas consideradas pagãs
pelo catolicismo. A partir desta época prevaleceu a era do obscurantismo da Idade
Média. Mas as doutrinas de Pitágoras foram abertamente pregadas por um período de
1.200 anos, que se estende do séc. VI a.C. ao sec. VI d.C.

Apesar de perseguido pela religião oficial Pitágoras foi, para grandes figuras do
Catolicismo, como Santo Ambrósio, uma figura de referência por ter sido visto como
intermediário entre Moisés e Platão, No séc. XVI, de acordo como o interesse do autor,
Pitágoras era apresentado como poeta, como mágico, como autor da Cabala, como
matemático, ou como defensor da vida contemplativa. Rafael, famoso pintor italiano,
retratou Pitágoras como um homem idoso, de longas barbas, entre filósofos, no quadro
“Escola de Atenas”.
Embora remotamente, não podemos deixar de registrar a existência de pontos comuns
entre a filosofia de Pitágoras e o sistema Positivista de August Comte. Pitágoras,
racionalista, procurou explicar a cosmogonia universal através da ciência. Comte trilhou
caminho semelhante. Antes de tudo, Pitágoras buscou o conhecimento da Verdade e só
por isso já deve ser reverenciado por toda a Humanidade

BIBLIOGRAFIA
Pitágoras – Amante da Sabedoria – Ward Rutherford – Editora Mercúrio – São Paulo
Pitágoras – Uma Vida – Peter Gorman – Editora Pensamento – São Paulo
A Doutrina Secreta -Volumes II e V – H.P.Blavatsky – Editora Pensamento – São Paulo
Grande Dicionário Enciclopédico de Maçonaria e Simbologia – Nicola Aslan –
Artenova – Rio
A Simbólica Maçônica – Jules Boucher – Editora Pensamento – São Paulo
Maçonnerie Occulte et L’Initiation Hermétique – J.M.Ragon – Cahiers Astrologiques –
Paris
Diálogos – Platão – Abril Cultural – São Paulo

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