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A FILOSOFIA CLINICA E O PARADIGMA DA SINGULARIDADE

ALEX SANDRO DE MARTINI

02-2010
2

SUMÁRIO

1 – CONCEITOS GERAIS DA FILOSOFIA CLÍNICA. 3


1.2 - fundamentos da filosofia clínica 6
1.3 a ação da filosofia clínica no processo de transformação do pensamento 10
1.4 a estrutura de pensamento. 12
2 – DEMANDAS PARADIGMÁTICAS. 18
2.1 - o paradigma religioso. 23
2.2 - o paradigma cientificista 28
2.3 – os paradigmas e a contemporaneidade 35
3 - A FILOSOFIA CLÍNICA E O PARADIGMA SINGULARIDADE 40
3.1 – aspectos da singularidade 42
3.2 – o partilhante e o filósofo clínico 46
3.3 - a movimentação existencial que precede a mudança. 50
4 - CONCLUSÃO 54
5 - BREVE ESTUDO DE CASO 57
5.1 – exames categoriais 60
5.2 – análise de tópicos de estrutura de pensamento 64
5.3 – tópicos determinantes 78
5.4 – submodos utilizados 78
5.5 – planejamento clinico 81
6 - BIBLIOGRAFIA. 83
3

1 – CONCEITOS GERAIS DA FILOSOFIA CLÍNICA.

Consideremos que um Filósofo Clínico, por ação da Filosofia Clínica em


sua vida, mude o que sua cognição e a daquele que vai ao consultório em busca de
algo, o Partilhante, filtra do universo enquanto envolvidos em uma conversação
Filosófico Clínica, seja isto pelo modo de absorção e acomodação de seus conteúdos,
nas intenções dos diálogos que estabelece com os outros, nas opiniões que se cria
sobre o comportamento próprio e de outras pessoas nas suas mais inimagináveis
formas de ação. Seja ainda pela absorção e acomodação de seus conteúdos em
formas empíricas, pelos diálogos com outros Filósofos Clínicos, e Partilhantes ou via
o aguçamento da percepção do que é o que na Filosofia Clínica. Consideremos ainda
com a justa e necessária importância que lhe cabe, que uma capacidade maior de
Ouvir o que o Partilhante diz deve ser um fenômeno observável em um bom Filósofo
Clínico.
Esta importância gira em torno do fato de não ocorrer voz mais importante
do que a do Partilhante, e se vozes não se ouvirem, hão de existir outras formas de
comunicação em Filosofia Clínica. Mesmo que ela ocorra em emudecidos apertos de
mãos. É nada senão a capacidade de ouvir o que tornará um bom um Filósofo
Clínico já que ele necessariamente ouve a história de seu partilhante, ou alguém que
possa contá-la, de preferência sem interrupções do discurso, para uma fluência mais
natural da narrativa dos fatos. A isto se refere à coleta historicidade: um ponto chave
da Filosofia Clínica que rastreia a cadeia de eventos por que transitou
existencialmente o Partilhante e o trouxe até este momento no consultório, com a
demanda que possui.
O Filósofo Clínico perceberá como é estruturado o pensamento do
Partilhante, que literalmente compartilha de seu tempo e de sua história.
4

Packter avisa que:

“há pessoas que realmente não suportam ter de raciocinar a propósito de


seus problemas (...) é bem verdade que às vezes a pessoa pode estar padecendo
muito por ter aprendido a raciocinar de um modo que lhe traz dor; nesse caso, o
filósofo poderá tentar trabalhar com ela um esquema resolutivo”. (PACKTER,
2008, p.60)

E o Partilhante está sujeito a toda forma de julgamentos do mundo exterior,


fora do consultório, pois entendemos sua ontologia humana, única e singular,
completa por suas qualidades e defeitos de acordo com a percepção que tenha
capacidade de apreender dos Paradigmas da localidade em que habite, já que
costumes e tradições locais em geral podem moldar a percepção do Ser Humano
médio que a habita em funções mais materialistas ou fenomenológicas da vida.
Na Filosofia Clínica a demanda é explanada, colocada em um contexto
aonde faça sentido a partir do ordenamento cronológico da própria Historicidade,
coletada do Partilhante a partir das narrativas que armazenou, agendou em seu
intelecto, sobre a sua própria vida e história. Para alguns o simples recontar da
história faz com que ela se pareça diferente, e a demanda pode mudar ou
desaparecer. Por isto não se interfere na fala do Partilhante neste primeiro momento:
para que o movimento do pensamento possa-se fazer naturalmente contido em si
próprio. A síntese disto é o que nos interessará.
5

Tal silêncio é fundamental para que os relatos surjam de forma expontânea,


fazendo valer a analítica da linguagem, um dos pilares da Filosofia Clínica. Requer-
se ainda na coleta da historicidade do partilhante o máximo possível de neutralidade
no que tange a julgamentos, afinal o oposto a isto é que corre a função do Filósofo
Clínico que “intervém o mínimo possível na manifestação da fala para captar
melhor e com mais detalhes tudo o que já foi dito ou para acolher as novidades que
o outro por ele mesmo ainda enseja revelar”. (GOYA, 2008, p.158)
Há ainda, na Filosofia Clínica, as definições conceituais das categorias
filosóficas Tempo, Lugar, Assuntos Imediato e Último, e a Circunstância em que o
Partilhante vive seu modo de notar o universo. Nestas categorias, ainda que de forma
didática, o Filósofo Clínico localiza existencialmente o Partilhante no Universo em
que ele percebe, assim, de modo mui simples e reduzido, os Exames categoriais
levariam a saber sobre um Partilhante: quem, (Relação), quando (Tempo), como
(Circunstância) e aonde (Lugar) tudo isto está acontecendo ou aconteceu, por fim: a
locação percepcional ocupada pelo partilhante e também as demandas (assunto
imediato e último) que nem sempre conduzem-no de modo gentil ao consultório do
Filósofo Clínico. Packter diz que
“o objetivo de usarmos as categorias em clínica é o localizar
existencialmente a pessoa. Através dos exames categorias o filósofo saberá o
idioma da pessoa, seu s hábitos, sua época, a política e os dados sociais da
localidade onde viveu, a geografia, o contexto religioso, histórico, entre outros
aspectos que podem ter importância” (PACKTER, 2008, p.22)

Pelo modo como a Humanidade vem lidando com suas diferenças, talvez
haja algum valor na defesa acadêmica de teorizações paradigmáticas sobre estas
diferenças para que logo possamos, enquanto espécie, discutir sobre o que se há de
esperar como valor Ético das gerações futuras, em um nível de coordenação
integrado de valores, que se propagam na mente sendo projetados pelas coisas que
podemos identificar nas categorias, que podem se mostrar também na locação
6

percepcional do Filósofo Clínico durante alguma agonizante recíproca de inversão,


quando este se põe diante do Partilhante. Segundo Mônica Aiub:

Diante das necessidades existenciais criadas e desenvolvidas pelo ser


humano no decorrer de sua história, diante das crises do século XX, da
insuficiência de respostas, e talvez de questionamentos também, a Filosofia
Clínica surge como um novo paradigma, tentando conciliar a tarefa do filosofar
com a possibilidade de ajuda-ao-outro. (AIUB, 2004)

1.2 FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA CLÍNICA

A Filosofia Clínica, tão humana e genialmente codificados por Lúcio


Packter, permite que, se possível, haja o diálogo em favor de todos, mesmo quando
nem todos são favorecidos. Porque não há promessas em Filosofia Clínica além
daquelas que os próprios partilhantes cumprem. E os exames categoriais, servem
para dar uma localização, um endereço existencial em que se processam as demandas
do Partilhante.
Aristóteles foi quem antes se utilizou de dez categorias para demonstrar as
propriedades das coisas que havia em seu mundo. Posteriormente Kant retomou este
trabalho dando a ele outras interpretações. Agora a Filosofia Clínica de Packter traz
uma releitura das categorias dando com isto, para a Filosofia, um aspecto humanista
nunca tão útil e jamais tão emergencial como agora. As categorias formam espécies
de bases de percepção.
Talvez o Ser humano mova-se pelo mundo respondendo às
imprevisibilidades, testando suas emoções, sistemas cognitivos e o modo sua
Consciência Existencial responde a estes estímulos. Nisto as variáveis de
interpretação e reflexão/resposta variariam tanto quanto há autogenias, ou
organização dos tópicos principais de Estrutura de Pensamento.
7

A complexidade na aplicação destes princípios sem o uso de scanners


cerebrais avançados chega a ser surreal na medida em que possa ocorrer apenas
mentalmente. Mais adiante no tempo, as máquinas terão avançado, e a Matemática
Simbólica poderá ser interpretada com a ajuda de computadores, fazendo com que a
leitura de Estruturas de Pensamento possa ser feita digitalmente, dando um suporte
extra àquilo que a narrativa hoje garante sozinha no processo.

Questões emergenciais poderão ser mais facilmente tratadas. É provável


que por conta de avanços na neuroimagem na medicina, traços físicos da Estrutura de
Pensamento mostrem-se em cores no cérebro do Partilhante, então por antecipação
saberemos quais áreas do cérebro são mais ativas nos sensoriais do que nos abstratos,
por exemplo, ou quem é mais emocional e não tanto racional. Verdadeiras
revoluções ocorrerão com o uso da máquina, e talvez seja pertinente que pensemos
nisto tudo desde já para que não sejamos pegos de surpresa, na medida do possível.
Mas por agora fazemos a colheita, a Historicidade, marcamos os dados
divisórios, fazemos os enraizamentos, analisamos os dados, montamos a Estrutura de
Pensamento, planejamos o procedimento clínico, aplicamo-lo e se tudo correr bem
em seis meses o Partilhante tem alta ou se dá alta, caso queira. Esta abordagem
ocorre por meio das categorias, bem como dos tópicos e submodos, ainda conceituais
e, desde sempre, de cunho didático, pois permitem conceituar e entender
informalmente a Estrutura de Pensamento Humana como manifestação de uma
consciência Singular.
Mônica Aiub, citando Antonio Damásio:
“O cérebro e o corpo encontram-se indissociavelmente integrados por
circuitos bioquímicos e neurais recíprocos dirigidos um para o outro (...) não é
apenas a separação entre mente e cérebro que é um mito. É provável que a
separação entre mente e corpo não seja menos fictícia. A mente encontra-se
incorporada, na plena acepção da palavra, não apenas cerebralizada.” (AIUB,
2001)
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1 – CONCEITOS GERAIS DA FILOSOFIA CLÍNICA.

Consideremos que um Filósofo Clínico, por ação da Filosofia Clínica em


sua vida, mude o que sua cognição e a daquele que vai ao consultório em busca de
algo, o Partilhante, filtra do universo enquanto envolvidos em uma conversação
Filosófico Clínica, seja isto pelo modo de absorção e acomodação de seus conteúdos,
nas intenções dos diálogos que estabelece com os outros, nas opiniões que se cria
sobre o comportamento próprio e de outras pessoas nas suas mais inimagináveis
formas de ação. Seja ainda pela absorção e acomodação de seus conteúdos em
formas empíricas, pelos diálogos com outros Filósofos Clínicos, e Partilhantes ou via
o aguçamento da percepção do que é o que na Filosofia Clínica. Consideremos ainda
com a justa e necessária importância que lhe cabe, que uma capacidade maior de
Ouvir o que o Partilhante diz deve ser um fenômeno observável em um bom Filósofo
Clínico.
Esta importância gira em torno do fato de não ocorrer voz mais importante
do que a do Partilhante, e se vozes não se ouvirem, hão de existir outras formas de
comunicação em Filosofia Clínica. Mesmo que ela ocorra em emudecidos apertos de
mãos. É nada senão a capacidade de ouvir o que tornará um bom um Filósofo
Clínico já que ele necessariamente ouve a história de seu partilhante, ou alguém que
possa contá-la, de preferência sem interrupções do discurso, para uma fluência mais
natural da narrativa dos fatos. A isto se refere à coleta historicidade: um ponto chave
da Filosofia Clínica que rastreia a cadeia de eventos por que transitou
existencialmente o Partilhante e o trouxe até este momento no consultório, com a
demanda que possui.
O Filósofo Clínico perceberá como é estruturado o pensamento do
Partilhante, que literalmente compartilha de seu tempo e de sua história.
4

Packter avisa que:

“há pessoas que realmente não suportam ter de raciocinar a propósito de


seus problemas (...) é bem verdade que às vezes a pessoa pode estar padecendo
muito por ter aprendido a raciocinar de um modo que lhe traz dor; nesse caso, o
filósofo poderá tentar trabalhar com ela um esquema resolutivo”. (PACKTER,
2008, p.60)

E o Partilhante está sujeito a toda forma de julgamentos do mundo exterior,


fora do consultório, pois entendemos sua ontologia humana, única e singular,
completa por suas qualidades e defeitos de acordo com a percepção que tenha
capacidade de apreender dos Paradigmas da localidade em que habite, já que
costumes e tradições locais em geral podem moldar a percepção do Ser Humano
médio que a habita em funções mais materialistas ou fenomenológicas da vida.
Na Filosofia Clínica a demanda é explanada, colocada em um contexto
aonde faça sentido a partir do ordenamento cronológico da própria Historicidade,
coletada do Partilhante a partir das narrativas que armazenou, agendou em seu
intelecto, sobre a sua própria vida e história. Para alguns o simples recontar da
história faz com que ela se pareça diferente, e a demanda pode mudar ou
desaparecer. Por isto não se interfere na fala do Partilhante neste primeiro momento:
para que o movimento do pensamento possa-se fazer naturalmente contido em si
próprio. A síntese disto é o que nos interessará.
5

Tal silêncio é fundamental para que os relatos surjam de forma expontânea,


fazendo valer a analítica da linguagem, um dos pilares da Filosofia Clínica. Requer-
se ainda na coleta da historicidade do partilhante o máximo possível de neutralidade
no que tange a julgamentos, afinal o oposto a isto é que corre a função do Filósofo
Clínico que “intervém o mínimo possível na manifestação da fala para captar
melhor e com mais detalhes tudo o que já foi dito ou para acolher as novidades que
o outro por ele mesmo ainda enseja revelar”. (GOYA, 2008, p.158)
Há ainda, na Filosofia Clínica, as definições conceituais das categorias
filosóficas Tempo, Lugar, Assuntos Imediato e Último, e a Circunstância em que o
Partilhante vive seu modo de notar o universo. Nestas categorias, ainda que de forma
didática, o Filósofo Clínico localiza existencialmente o Partilhante no Universo em
que ele percebe, assim, de modo mui simples e reduzido, os Exames categoriais
levariam a saber sobre um Partilhante: quem, (Relação), quando (Tempo), como
(Circunstância) e aonde (Lugar) tudo isto está acontecendo ou aconteceu, por fim: a
locação percepcional ocupada pelo partilhante e também as demandas (assunto
imediato e último) que nem sempre conduzem-no de modo gentil ao consultório do
Filósofo Clínico. Packter diz que
“o objetivo de usarmos as categorias em clínica é o localizar
existencialmente a pessoa. Através dos exames categorias o filósofo saberá o
idioma da pessoa, seu s hábitos, sua época, a política e os dados sociais da
localidade onde viveu, a geografia, o contexto religioso, histórico, entre outros
aspectos que podem ter importância” (PACKTER, 2008, p.22)

Pelo modo como a Humanidade vem lidando com suas diferenças, talvez
haja algum valor na defesa acadêmica de teorizações paradigmáticas sobre estas
diferenças para que logo possamos, enquanto espécie, discutir sobre o que se há de
esperar como valor Ético das gerações futuras, em um nível de coordenação
integrado de valores, que se propagam na mente sendo projetados pelas coisas que
podemos identificar nas categorias, que podem se mostrar também na locação
6

percepcional do Filósofo Clínico durante alguma agonizante recíproca de inversão,


quando este se põe diante do Partilhante. Segundo Mônica Aiub:

Diante das necessidades existenciais criadas e desenvolvidas pelo ser


humano no decorrer de sua história, diante das crises do século XX, da
insuficiência de respostas, e talvez de questionamentos também, a Filosofia
Clínica surge como um novo paradigma, tentando conciliar a tarefa do filosofar
com a possibilidade de ajuda-ao-outro. (AIUB, 2004)

1.2 FUNDAMENTOS DA FILOSOFIA CLÍNICA

A Filosofia Clínica, tão humana e genialmente codificados por Lúcio


Packter, permite que, se possível, haja o diálogo em favor de todos, mesmo quando
nem todos são favorecidos. Porque não há promessas em Filosofia Clínica além
daquelas que os próprios partilhantes cumprem. E os exames categoriais, servem
para dar uma localização, um endereço existencial em que se processam as demandas
do Partilhante.
Aristóteles foi quem antes se utilizou de dez categorias para demonstrar as
propriedades das coisas que havia em seu mundo. Posteriormente Kant retomou este
trabalho dando a ele outras interpretações. Agora a Filosofia Clínica de Packter traz
uma releitura das categorias dando com isto, para a Filosofia, um aspecto humanista
nunca tão útil e jamais tão emergencial como agora. As categorias formam espécies
de bases de percepção.
Talvez o Ser humano mova-se pelo mundo respondendo às
imprevisibilidades, testando suas emoções, sistemas cognitivos e o modo sua
Consciência Existencial responde a estes estímulos. Nisto as variáveis de
interpretação e reflexão/resposta variariam tanto quanto há autogenias, ou
organização dos tópicos principais de Estrutura de Pensamento.
7

A complexidade na aplicação destes princípios sem o uso de scanners


cerebrais avançados chega a ser surreal na medida em que possa ocorrer apenas
mentalmente. Mais adiante no tempo, as máquinas terão avançado, e a Matemática
Simbólica poderá ser interpretada com a ajuda de computadores, fazendo com que a
leitura de Estruturas de Pensamento possa ser feita digitalmente, dando um suporte
extra àquilo que a narrativa hoje garante sozinha no processo.

Questões emergenciais poderão ser mais facilmente tratadas. É provável


que por conta de avanços na neuroimagem na medicina, traços físicos da Estrutura de
Pensamento mostrem-se em cores no cérebro do Partilhante, então por antecipação
saberemos quais áreas do cérebro são mais ativas nos sensoriais do que nos abstratos,
por exemplo, ou quem é mais emocional e não tanto racional. Verdadeiras
revoluções ocorrerão com o uso da máquina, e talvez seja pertinente que pensemos
nisto tudo desde já para que não sejamos pegos de surpresa, na medida do possível.
Mas por agora fazemos a colheita, a Historicidade, marcamos os dados
divisórios, fazemos os enraizamentos, analisamos os dados, montamos a Estrutura de
Pensamento, planejamos o procedimento clínico, aplicamo-lo e se tudo correr bem
em seis meses o Partilhante tem alta ou se dá alta, caso queira. Esta abordagem
ocorre por meio das categorias, bem como dos tópicos e submodos, ainda conceituais
e, desde sempre, de cunho didático, pois permitem conceituar e entender
informalmente a Estrutura de Pensamento Humana como manifestação de uma
consciência Singular.
Mônica Aiub, citando Antonio Damásio:
“O cérebro e o corpo encontram-se indissociavelmente integrados por
circuitos bioquímicos e neurais recíprocos dirigidos um para o outro (...) não é
apenas a separação entre mente e cérebro que é um mito. É provável que a
separação entre mente e corpo não seja menos fictícia. A mente encontra-se
incorporada, na plena acepção da palavra, não apenas cerebralizada.” (AIUB,
2001)
8

Literalmente: tem personalidade esta consciência que habita nossos corpos,


em suas mais variadas formas e conteúdos. Em dada instância, tamanha
singularidade pode ser parte do valor que se tenha enquanto espécie. Em outras
escalas de análise se verias a riqueza dos mecanismos de sobrevivência de que
dispõem o corpo humano para não sucumbir a intempéries, calamidades, acidentes e
doenças da vida cotidiana.

Em geral utilizamos pacotes de respostas baseados em repetição por acerto


ou erro confinado em alguma ideologia familiar, dos grupos com que se vive, política
religiosa ou familiar, ou seja: os paradigmas já existentes no mundo quando notamos
fazer parte dele. Mas não há regra: fundamentando-nos na Filosofia Clínica existem
31 características tópicas mentais a formar uma Estrutura de Pensamento, com cerca
de 4 delas respondendo efetivamente ao Universo por razões próprias.
Toda esta movimentação ocorre em nível mental, ou pode ainda afetar sua
expressão sensorial, ou ambos, dependendo da ação dos submodos informais de sua
Estrutura de Pensamento utilizados para percepcionar o que Há, com ou sem
Esteticidades.
Portanto a capacidade do pensamento não há de ser uma forma inata de
percepção da espécie humana, que de desenvolva sem que haja estímulo. Haja visto o
caso das crianças criadas por lobos, Amala e Kamala, ou de Isabel, a menina que até
os 8 anos de idade criou-se em um galinheiro, em que nenhuma criança desenvolveu
qualquer genialidade que fosse além de seus pais de criação, no caso lobos e
galinhas.
Se a capacidade de pensamento na espécie humana então, não for algo
inato, todo legado cultural de qualquer forma de civilização é válido apenas na
medida em que justifica na sua própria existência, apesar de não haver um aspecto
desagregável em si, entre aquilo que vivem em sua sensorialidade e em sua
capacidade de abstrair mentalmente o que se passa, bem pelo contrário, afinal o
contato com outras formas de cultura, do ponto de vista quantitativo acresce àquilo
9

que é a cultura original. São as teses, as antíteses e as Sínteses fazendo efeito e


mudando o tempo todo, bem como as Estruturas de Pensamento o fazem.

E nem sempre o que é novo é bem vindo neste processo, bastando lembrar
de Galileu com sua teoria sobre o heliocentrismo, ou de Darwin, ao falar sobre a
evolução das espécies dando a entender que poderíamos derivar de símios neste
processo.
Neste ponto faz sentido a existência e a importância dos Paradigmas para o
ser humano dito civilizado. Haja vista diferenças paramétricas que flutuam entre a
megalomania e a ausência total de ego tem-se que, às vezes, por conta do improviso
permitido pela prática clínica, figurativamente pescar informações relutantes ao
procedimento clínico, que permitirão ao Filósofo Clínico conhecer mais
profundamente a Estrutura de Pensamento de seu Partilhante. Na maioria dos casos a
vinda ao Filósofo Clínico ocorre por demandas emergenciais, chamadas de Assunto
Imediato, que provavelmente terão como causa um Assunto Último, como por
exemplo:
O partilhante queixa-se na clínica sobre sua vontade compulsiva de comprar
como Assunto Imediato, mas ao falar a respeito e ouvir-se, descobre por si próprio
que é inseguro e momentaneamente o consumo acalma esta sensação. Vêem-se em
situações similares assim alguns que buscam ajuda Filosófica.
Ocorre que algumas pessoas estagnam seu sistema cognitivo, ou instalam
espécies de modos padrão de reconhecimento e interpretação do que se passa e
vivem mal, ou sofrendo, ou se prendendo por conta do modo como se relacionam
com o objeto desencadeador de sua demanda. Uma sorte humana talvez seja a
plasticidade com que os Paradigmas existem no mundo, mudando o tempo todo e se
adaptando também à suas Circunstâncias.
Uma ótima definição do que possa ser um sofrimento vê-se nas palavras de
Goya:
10

“Chamo de sofrimento existencial, tudo aquilo que causa na psique do


partilhante, exigências de mudanças ou soluções existenciais, não é entendido no
sentido exclusivo de dor física ou moral, vários tipos e intensidades de dor,
podem ser benéficos ao partilhante, conforme o caso.”. (GOYA, 2008, p.40).

1.3 A AÇÃO DA FILOSOFIA CLÍNICA NO PROCESSO DE


TRANSFORMAÇAO DO PENSAMENTO.
Aparentemente seria “só” uma questão de dar o modo como se pensa uma
determinada problemática. Mas em uma Estrutura de Pensamento soberanamente
Emocional, por exemplo, querer convencimento por via da Informação Dirigida
(submodo 21), ou Argumentação Derivada (submodo 10), ou da Epistemologia
(submodo 28), pode não ter efeito, ou tê-lo negativo, se o partilhante vive esta
demanda com o sentimento, e não com aquilo que a razão pode dizer em palavras.
Cada caso é um caso, e a dependência da investigação de sua historicidade é a
ferramenta Mor de que disporá o Filósofo Clínico para mapear o Status Quo do
partilhante encaminhando-o ao procedimento correto e adequado a formação de sua
Estrutura de Pensamento .
Neste aspecto a Filosofia Clínica aplicada da forma correta muda o
pensamento humano para um outro ponto de percepção: algo como, na escuridão de
alguma cela na madrugada, aquela luz esperada entra por um buraco em uma réstia
de Sol, porque todo o resto de sua vida é uma prisão. Depois de um tempo alguns
passam a crer na existência Sensorial do Sol novamente, e Ele deixa de ser uma
Abstração apesar de não poder ser sentido plenamente, mas apenas enquanto Ele
iluminar seu Universo.
Há de se pensar que a percepção humana é como um holofote num mar de
escuridão, em que alguém foca o universo que o rodeia em busca daquilo que
necessita ou por que tem alguma forma de atração, enquanto outras pessoas vivem na
parte sombria de seu próprio ser e jamais irão querer sair de seu mundo. E caso isto
lhes seja desconfortável a Filosofia Clínica pode ajudar a reacertar este foco. A
11

palavra foco neste caso se relaciona com os paradigmas. Afinal qual será o modelo
que o Partilhante conseguirá perceber, e quando percebido que tipo de mudança
ocorre?

Packter diz que

“Em Filosofia Clínica, há dois tipos de verdade. A verdade que habita seu
coração, suas células, você. E o segundo tipo de verdade que é a verdade
convencionada, consensual. (...) a verdade subjetiva de uma pessoa pode se
associar harmoniosamente, ou colidir, ou negar, ou aumentar, ou refletir ou
evitar a verdade convencionada”. (PACKTER, 2008, p.16)

A priori, alguém que sente a necessidade de ajuda terapêutica pode estar


vindo movido por uma perda, despertar, ou por coerção, ou por um milhão de outros
motivos não imagináveis. É provável que a própria terapia possa se tornar
imprescindível a Estrutura de Pensamento para que o Partilhante se sinta
subjetivamente bem. E não há, a priori, como saber qual é a demanda última do
Partilhante sem que todos os passos da prática clínica sejam severamente seguidos.
“A estrutura de pensamento é o modo como está existencialmente a pessoa.
A maneira como estão associados em você todos os seus sentimentos, os seus
entendimentos, seus dados éticos e epistemológicos, religiosos e o que mais
houver”.(idem p. 32)
A grandeza da Filosofia Clínica reside sobretudo no fato de ser uma
estrutura absolutamente rigorosa em sua constituição mais interna, e ao mesmo
tempo ser tão versátil que não segrega qualquer pessoa por suas singulares
problemáticas.
12

1.4 A ESTRUTURA DE PENSAMENTO.


É necessário ainda entender que a Estrutura de Pensamento é formada por
30 tópicos que se emaranham adquirindo uma forma única: a Autogenia. Cada tópico
é uma característica variável, sendo que as Estruturas de Pensamento tem em media
três ou quatro tópicos determinantes:
Estrutura do Pensamento
1. Como o mundo parece ( fenomenologicamente)
2. O que acha de si mesmo
3. Sensorial & Abstrato
4. Emoções
5. Pré-juízos
6. Termos agendados no intelecto
7. Termos: universal, particular, singular
8. Termos: Unívoco & Equívoco
9. Discurso: Completo & Incompleto
10. Estruturação de raciocínio
11. Busca
12. Paixões dominantes
13. Comportamento & Função
14. Espacialidade : Inversão
Recíproca de inversão
Deslocamento curto
Deslocamento longo
15. Semiose
16. Significado
17. Padrão & Armadilha conceitual
18. Axiologia
19. Tópico de singularidade existencial
20. Epistemologia
13

21. Expressividade
22. Papel existencial
23. Ação
24. Hipótese
25. Experimentação
26. Princípios de verdade
27. Análise da estrutura
28. Interseções de estrutura de pensamento
29. Dados da matemática simbólica
30. Autogenia

Mas a manifestação direta desta caracterização são dos submodos, com


cerca de três ou quatro principais também, embora isto possa mudar no curso da vida
dada a plasticidade do pensamento humano.

TÁBUA DE SUBMODOS
1. Em direção ao termo singular
2. Em direção ao termo universal
3. Em direção às sensações
4. Em direção às idéias complexas
5. Esquema resolutivo
6. Em direção ao desfecho
7. Inversão
8. Recíproca de inversão
9. Divisão
10. Argumentação derivada
11. Atalho
12. Busca
13. Deslocamento curto
19

Por conta destas características cada teoria filosófica é única e singular,


como é um Ser Humano.

Outra forma de dizer o que é um paradigma pode ser contado assim:


Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo
centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um
macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato
de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um
macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas.
Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar
da tentação das bananas. Então, os cientistas substituíram um dos cinco
macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente
retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo
integrante do grupo não mais subia a escada.
Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro
substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi
trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi
substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que,
mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que
tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque
batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: “Não sei,
as coisas sempre foram assim por aqui…”

Este é um daqueles textos de autor anônimo que viajam pela internet, e


mostram uma das formas de explicar o que é um Paradigma.
Um fato é que o Filósofo Clínico apenas conhece o Partilhante na medida
em que a sua história for se revelando a cada encontro, e analisada de acordo com o
planejamento clínico. Por não verem além das aparências, alguns vêm a precisar de
respostas sobre dúvidas assim, ou por causa de perdas maiores ainda, ou mesmo para
se conhecer melhor, as pessoas podem vir ao consultório em busca destas respostas.
20

E o Filósofo Clínico não recebe a informação pertinente ao Partilhante em


um encontro apenas. Trata-se de uma construção. De um caminho a percorrer, por
isto a importância da paciência de todos.

“Não se trata de um mero aconselhamento pautado em referenciais


filosóficos. A filosofia clínica supõe um procedimento prévio, necessário,
imprescindível a qualquer outro: o conhecimento das questões, do universo, dos
modos de ser e agir, das necessidades do partilhante. Para isso, o filósofo clínico
trabalha com a história de vida do partilhante, observando três eixos
fundamentais: Exames Categorias – exames iniciais que mostram o contexto, o
universo do partilhante; Estrutura de Pensamento – modo de ser, estar, pensar;
Submodos – modos de agir. Somente então é possível trabalhar as questões
apresentadas com segurança.” (AIUB, 2001 p.)

Vivemos a era da Informação, que talvez já seja demais, e atrapalhe o Ser


Humano contemporâneo em suas decisões. Talvez por isto cada geração que nasce
seja mais inteligente e aparentemente menos madura do que a anterior.
“O QI médio da população mundial tem se elevado. E não pouca coisa. Na
Inglaterra, o salto foi de 27 pontos desde 1942. Nos Estados Unidos, foram 12
pontos desde 1932. Na Holanda, em dez anos se registrou um salto de 20 pontos, e,
na Argentina, 22 pontos a mais desde 1964”. (VEJA 2001, p.92-99)

Segundo o CENADEM (Centro Nacional de Desenvolvimento do


Gerenciamento da Informação, SP.), nos últimos 50 anos a humanidade gerou a
mesma quantidade de informação que nos 5 mil anteriores. Esse número duplicará
nos próximos 26 meses. Em 2010, a informação duplicará a cada 11 horas.
Daí, sendo isto real, com tanta coisa sendo dita, como saber o que é certo e
errado na criação dos filhos, ou no modo de tratar com os pais, ou de morar sozinho e
destas coisas que não vem com manual de instruções? Questões como estas serão
cada vez mais freqüentes. Há algum tempo tudo parecia mais fácil para pais e
educadores, quando nesta parte do mundo havia mais força na palavra de uma
21

instituição aconselhava alguém sobre suas questões. Hoje, na maior parte do mundo
ocidental a humanidade tem posse sobre suas ações. Basta ver o surgimento de
hedonismo dominante nos modos sociais de nossa sociedade.
Quem decide qual é o paradigma sobre questões como virgindade, aborto,
eutanásia, proliferação indiscriminada da espécie etc, se o paradigma da
Religiosidade, que antes cuidou de nos responder a isto, agora parece não ter mais
Valor Relativo, sendo esquecido cada vez mais pelas novas gerações? E se o estado
perder todo o poder decisório que detém? Para isto se bastará a Bioética?
“Diante de um mundo em que qualquer conceituação existencial torna-se
difícil em meio à avalanche de informações, que vem e arrasta o Ser Humano comum
em ondas de informações que se desencontram o tempo, todo é natural muito
cuidado na escuta filosófica:“ O terapeuta nem ousa pensar que sua interpretação do
partilhante é uma verdade em si mesma. Pois sabe que a linguagem é um jogo vivo
de ressignificações relativas e nem sempre é possível definir um predicado.” .
(GOYA, 2008, p. 159)
Talvez isto seja também o resultado de uma revolução já apontada no livro
A Estrutura das Revoluções Científicas, de Thomas Kuhn, 1962), um professor e
escritor de história da ciência que popularizou o uso dos termos Paradigma e
Mudança de Paradigma. Segundo a wikipédia:

“Kuhn declara que a gênese das idéias do livro ocorreu em 1947, quando
lhe foi encomendado ministrar uma curso de ciência para estudantes de
Humanidades, enfocando-se em casos de estudos históricos. Mais tarde,
declararia que ate o momento nunca havia lido nenhum documento antigo sobre
temas científicos. A Física de Aristóteles era notavelmente diferente da obra de
Newton no que concerne aos conceitos de matéria e movimento -- chegando a
conclusão de que os conceitos de Aristóteles não eram "mais limitados" ou
"piores" que os de Newton, apenas diferentes.” (2010)
18

2 – DEMANDAS PARADIGMÁTICAS.

A Vinda do partilhante de um Partilhante à clínica pode ser em uma última


instância a existência de uma demanda paradigmática, afinal “sabemos que a
Filosofia Clínica parte da pessoa e não da teoria.” (AIUB, 2001 p.)
Alguns provavelmente não sabem o que fazer diante de determinadas
conjecturas, que se poderia mesmo chamar de loucura, não estivessem elas no campo
da Filosofia Clínica, aonde os rótulos tendem a não ser utilizados.
A estas pessoas talvez o que falte seja “apenas” informação para que as
coisas sejam melhores em sua vida.
Há aqueles que, de contar sua história ao Filósofo Clínico durante a tomada
da historicidade, passam a posicionar-se com os olhos de adulto que tem agora e não
mais com a percepção de uma criança magoada que tem dificuldade de perdoar, algo
que no fundo até deseja, notar-se-ia no seu discurso. E mudam de forma simples
assim.
Mas o que é um Paradigma?
Segundo a Wikipédia (www.wikipédia.com.br) grande fonte de informação
da internet: Paradigma (do grego parádeigma) literalmente que dizer Modelo.
E podem ser descritos da seguinte forma:
Um conjunto de valorações sensoriais ou abstratas que se propagam pelos
modos de comunicação humana, determinando nas estruturas de comunicação,
conceitos antagônicos de existência que vão sempre culminar com uma escolha ou
um modelo a ser seguido. Goya nos ajuda a entender sobre paradigmas também ao
afirmar:
“Cada teoria filosófica possui tal coerência de raciocínio e concordância de
idéias, segundo seus próprios postulados e regras lógicas, que a torna inegável.”.
(GOYA, 2008, p. 28)
23

2.1 - O PARADIGMA RELIGIOSO.

Pela sua estruturação Ontológica, por trás de um Paradigma Religioso vem


sempre uma instituição a defender seus interesses e principalmente seu crescimento.
Isto significa que em os Paradigmas religiosos irão se transformar naquilo que os
preceptores de uma fé conseguem interpretar acerca das revelações e ascensões de
seus Gurus, como se observa em religiões monoteístas como o Cristianismo, o
Islamismo e como o Judaísmo, embora para esta não haja consensualmente um
Messias revelado.
Religiões não teístas como o Budismo, dispensam a existência de um ou
vários deuses, e trazem a responsabilidade pelas ações do homem a ele mesmo, por
conta do seu Karma e não pela vontade de alguma outra entidade que lhe seja
extrínseca.
A idéia fundamental destes Paradigmas é que os seus seguidores sigam
exemplos de atitude e postura de acordo com os preceitos de alguma pessoa que teve
alguma experiência fantástica (singularidade existencial) que afetou profundamente
sua vida física/espiritual e agora é um exemplo que deve ser seguido pelos outros
membros da comunidade.
Após a Iluminação de Buda, e a ascensão de Cristo, a subida ao Monte
Sinai de Moisés, houve aqueles que passaram a escrever suas histórias
transformando-as em documentos que padronizariam o que seria ensinado na
expansão destes saberes. Depois surgiriam os sacerdotes, baseados em suas próprias
e impressionantes experiências, que interpretam estas histórias basilares dos sistemas
de pensamento religioso moderno e propagam a necessidade da instituição dos
ensinamentos, atitudes, pensamentos e regulamentos que farão aquela ordem.
Estes sistemas de regulação são sempre movidos pelos paradigmas que vão
ainda determinar se existirão sob uma perspectiva de Salvação da Alma sujeita a uma
eternidade no inferno, como no caso do Cristianismo, ou de Evolução Espiritual, no
caso do Budismo. E estas são temáticas que não devem ser vistas como antagônicas
19

Por conta destas características cada teoria filosófica é única e singular,


como é um Ser Humano.

Outra forma de dizer o que é um paradigma pode ser contado assim:


Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo
centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um
macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato
de água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um
macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas.
Passado mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar
da tentação das bananas. Então, os cientistas substituíram um dos cinco
macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente
retirado pelos outros, que o surraram. Depois de algumas surras, o novo
integrante do grupo não mais subia a escada.
Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro
substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi
trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi
substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que,
mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que
tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque
batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria: “Não sei,
as coisas sempre foram assim por aqui…”

Este é um daqueles textos de autor anônimo que viajam pela internet, e


mostram uma das formas de explicar o que é um Paradigma.
Um fato é que o Filósofo Clínico apenas conhece o Partilhante na medida
em que a sua história for se revelando a cada encontro, e analisada de acordo com o
planejamento clínico. Por não verem além das aparências, alguns vêm a precisar de
respostas sobre dúvidas assim, ou por causa de perdas maiores ainda, ou mesmo para
se conhecer melhor, as pessoas podem vir ao consultório em busca destas respostas.
20

E o Filósofo Clínico não recebe a informação pertinente ao Partilhante em


um encontro apenas. Trata-se de uma construção. De um caminho a percorrer, por
isto a importância da paciência de todos.

“Não se trata de um mero aconselhamento pautado em referenciais


filosóficos. A filosofia clínica supõe um procedimento prévio, necessário,
imprescindível a qualquer outro: o conhecimento das questões, do universo, dos
modos de ser e agir, das necessidades do partilhante. Para isso, o filósofo clínico
trabalha com a história de vida do partilhante, observando três eixos
fundamentais: Exames Categorias – exames iniciais que mostram o contexto, o
universo do partilhante; Estrutura de Pensamento – modo de ser, estar, pensar;
Submodos – modos de agir. Somente então é possível trabalhar as questões
apresentadas com segurança.” (AIUB, 2001 p.)

Vivemos a era da Informação, que talvez já seja demais, e atrapalhe o Ser


Humano contemporâneo em suas decisões. Talvez por isto cada geração que nasce
seja mais inteligente e aparentemente menos madura do que a anterior.
“O QI médio da população mundial tem se elevado. E não pouca coisa. Na
Inglaterra, o salto foi de 27 pontos desde 1942. Nos Estados Unidos, foram 12
pontos desde 1932. Na Holanda, em dez anos se registrou um salto de 20 pontos, e,
na Argentina, 22 pontos a mais desde 1964”. (VEJA 2001, p.92-99)

Segundo o CENADEM (Centro Nacional de Desenvolvimento do


Gerenciamento da Informação, SP.), nos últimos 50 anos a humanidade gerou a
mesma quantidade de informação que nos 5 mil anteriores. Esse número duplicará
nos próximos 26 meses. Em 2010, a informação duplicará a cada 11 horas.
Daí, sendo isto real, com tanta coisa sendo dita, como saber o que é certo e
errado na criação dos filhos, ou no modo de tratar com os pais, ou de morar sozinho e
destas coisas que não vem com manual de instruções? Questões como estas serão
cada vez mais freqüentes. Há algum tempo tudo parecia mais fácil para pais e
educadores, quando nesta parte do mundo havia mais força na palavra de uma
21

instituição aconselhava alguém sobre suas questões. Hoje, na maior parte do mundo
ocidental a humanidade tem posse sobre suas ações. Basta ver o surgimento de
hedonismo dominante nos modos sociais de nossa sociedade.
Quem decide qual é o paradigma sobre questões como virgindade, aborto,
eutanásia, proliferação indiscriminada da espécie etc, se o paradigma da
Religiosidade, que antes cuidou de nos responder a isto, agora parece não ter mais
Valor Relativo, sendo esquecido cada vez mais pelas novas gerações? E se o estado
perder todo o poder decisório que detém? Para isto se bastará a Bioética?
“Diante de um mundo em que qualquer conceituação existencial torna-se
difícil em meio à avalanche de informações, que vem e arrasta o Ser Humano comum
em ondas de informações que se desencontram o tempo, todo é natural muito
cuidado na escuta filosófica:“ O terapeuta nem ousa pensar que sua interpretação do
partilhante é uma verdade em si mesma. Pois sabe que a linguagem é um jogo vivo
de ressignificações relativas e nem sempre é possível definir um predicado.” .
(GOYA, 2008, p. 159)
Talvez isto seja também o resultado de uma revolução já apontada no livro
A Estrutura das Revoluções Científicas, de Thomas Kuhn, 1962), um professor e
escritor de história da ciência que popularizou o uso dos termos Paradigma e
Mudança de Paradigma. Segundo a wikipédia:

“Kuhn declara que a gênese das idéias do livro ocorreu em 1947, quando
lhe foi encomendado ministrar uma curso de ciência para estudantes de
Humanidades, enfocando-se em casos de estudos históricos. Mais tarde,
declararia que ate o momento nunca havia lido nenhum documento antigo sobre
temas científicos. A Física de Aristóteles era notavelmente diferente da obra de
Newton no que concerne aos conceitos de matéria e movimento -- chegando a
conclusão de que os conceitos de Aristóteles não eram "mais limitados" ou
"piores" que os de Newton, apenas diferentes.” (2010)
27

estes Paradigmas podem ser trocados por outros, ou intensificam-se enquanto para
outras pessoas, por acomodação de sua Autogenia, torna-se menos importante.
“Por isso, intervenções no pensamento podem ser importantes para a
pessoa, podem direcionar suas vidas para a mudança nas formas de agir, de pensar,
de lidar com suas questões. Assim como substâncias químicas alteram nosso
pensamento e o nosso comportamento, idéias também possuem essa propriedade.”
(AIUB, 2001)
A singularidade em que se encerra o Ser Humano nem sempre encontra
respostas no Paradigma vigente, por isto as pessoas fazem guerra, trocam de religião,
brigam com seu Deus, daí quando precisam chamam-no e de volta, e se relacionam
com seus paradigmas das mais inimagináveis formas possíveis. E é fundamental que
haja este direito de ter Paradigmas Religiosos conforme os compreenda, para que
possa nisto ficar assegurada a integralidade do seu direito a uma religiosidade, que
também nos define como seres humanos, com a crença em um Ser superior, que
governe o Ser Humano em uma instância além de nossa compreensão física, para que
quando não haja mais respostas possa-se acalmar o coração com a variável de isto ser
um desígnio de Deus, ou Karma, e que não há nada que possa ser feito.
O Paradigma Religioso também é responsável por algumas guerras que
ocorrem no planeta. Neste caso grupos de pessoas com seus próprios interesses,
talvez derivados de uma estrutura pré-existente, utilizam-se do Nome de seu Deus
para justificar a matança do outro que pensa de modo diferente sobre Algo
importante para ambos. Chama a atenção que se poderia notar o quão longe pode ir
um Paradigma, do intento original que tinha o seu Fundador.
Mas um fato é que no mundo moderno, ante a criação desenfreada de
informação posiciona-se em dois grupos principais: o das pessoas que tem dinheiro e
o das pessoas que não tem dinheiro.
No Mundo que tem dinheiro tem informação e padrões hedonistas de
comportamento e consumo que se multiplicam e categoricamente se aperfeiçoam na
medida em que o tempo passa, deixando muitos Seres Humanos cada vez mais sem
28

tempo de ir à Igreja. Os Paradigmas Religiosos tendem a perder a força, trazendo


versões cada vez mais relaxadas de si mesmos, em novas propostas de velhas
religiosidades. Assim, dada à imensa gama de informações que o ambiente oferece,
provavelmente pode haver mais ou menos formas de se relacionar conforto
existencial com a atitude de que se possa dispor.
No Mundo que não tem dinheiro, não há informação, e em geral há gente
sofrendo e com bastante tempo, para pensar se Deus existe ou se já lhe está
castigando, e nisto entram as Igrejas levando seus Paradigmas para os Sofredores que
às vezes se beneficiam de verdade com ações desta espécie.

2.2 - O PARADIGMA CIENTIFICISTA

Nesta geração humana, nesta parte do Globo se ambientou e convive com


termos como stress, violência, medo, aquecimento global. E o cérebro vai se
acostumando e se ambientando aos conceitos e seus significados. Neste momento da
Criação Humana vivemos a necessidade de uma expansão absurda da percepção ao
tentarmos entender todos os conceitos que se cria. O cérebro tem se tornado uma
ferramenta cada vez mais afiada na medida em que pode se utilizar de máquinas para
a compreensão e planejamento de novas pesquisas.
Há uma ciência dentro da área de desenvolvimento da inteligência artificial
chamada semântica, que se preocupa em desenvolver blocos de informações, códigos
com dados que sejam passiveis de leitura e interpretação tanto para o Homem quando
para a Inteligência Artificial. No dia em que utilizarmos sistemas desta espécie e a
matemática simbólica tomar a dimensão existencial que lhe é devida, provavelmente
daremos enquanto espécie um salto existencial tão grande quanto a invenção da roda.
Questões como esta, relacionadas à ciência, são questões que logo se
tornarão paradigmáticas para os Filósofos Clínicos também, na medida em que já se
utilizem dela desde o computador, para transcrever as historicidades de seus
Partilhantes. Os Filósofos Clínicos das novas gerações deverão gerir informações de
29

uma forma holística, envolvendo todas as áreas do conhecimento que seus modos
percepcionais possam abarcar.
E isto ocorrerá porque os Partilhantes das futuras gerações terão
dificuldades ainda maiores de lidar com tantas informações e estímulos do ambiente
em detrimento da ausência de paradigmas que sejam confiáveis. Se a humanidade é
viciada em informações, talvez por sua própria natureza, este caráter humano tornou-
se ainda mais evidente agora, no principio dos anos 2000 quando uma gama de dados
mnemônicas chegou a mente do mundo, mostrando formas tão variadas de reger a
vida que os conceitos de certo e errado simplesmente emergem em uma densa bruma
na qual as pessoas se perdem por não saberem muitas vezes o que é a sua própria
vontade e o que é vontade dos Sistemas em que estão inseridas.
“Filosofia Clínica: o apaixonante exercício do filosofar –
Independentemente de padrões de normalidade, de tipologias, de teorias prévias,
a Filosofia Clínica constrói seu trabalho para cada pessoa em especial,
considerando seu universo, seu modo ser, estar, pensar e agir; respeitando suas
necessidades e escolhas, seus valores e sentimentos, seus caminhos e relações.”
(AIUB, 2001)
Embora nem sempre rapidamente, neste ponto faz-se necessário o uso
adequado do ponto de partida mais imediato que há para saber como sua Estrutura de
Pensamento funciona: a sua Historicidade. Por vezes, os procedimentos clínicos
parecem mecânicos, mas confirmam-se por sua demasiada abrangência dando
respostas à Filosofia Clínica sobre os contextos que construíram a identidade do
Partilhante vistos em sua historicidade.
Para algumas pessoas há uma profunda dificuldade de entender que o
mundo é visto de outra maneira pelas pessoas que não são elas próprias. Por isto “os
procedimentos clínicos consistem em intervenções no processo de pensamento do
partilhante. Essas intervenções iniciam-se desde o primeiro contato entre o filósofo
clínico e a pessoa.” (AIUB, 2001)
30

Estes fenômenos podem, derivar, dentre outros, do tópico Espacialidade


(14) da Filosofia Clínica, que acompanha o movimento existencial da pessoa feito a
partir de sua mente em relação ao seu corpo ou a outros lugares e ambiente. Há as
pessoas Inversivas que não saem de seus Universos percepcionais, e há também as
que fazem Recíprocas de Inversão, quando colocam-se no lugar do outro. Há ainda
aqueles que não conseguem imaginar eventos além da sua cognição imediata, e há os
que conseguem imaginar o que se passa na Lua sem problemas. Lembrando que ser
de uma forma ou de outra não é certo ou errado, além do que perceba o dono da
Demanda que a trouxe para a clínica. E isto, por si só, ainda não lhe garante a certeza
de deter a verdade sobre o Objeto.
E há ainda a contraposição de elementos contida em todas as formas de
comunicação humanas que se institucionalizam e geram noções imediatas de padrões
antagônicos ditadores de normas e padrões paradigmáticos sobre os quais devem ser
as respostas sobre coisas dos mundos. Sobre o mundo Material e as coisas que o
compõe fisicamente Darwin, Newton, Mendel, Lavoisier e Einstein deixaram seus
legados. Sobre o funcionamento das sociedades, nos trabalhos de sociologia
destacamos os Positivistas Comte e Durkheim já em contraposição ao Materialismo
Histórico de Marx e Engels.
No campo Espiritual estão as Religiões com seus dogmas e credos.
Nascem aqui, por conta de elementos dicotômicos de dois Paradigmas,
alguns conceitos de bem e mal, feio e bonito, ruim e bom, e uma série de outras
contingências antagônicas da vida, utilizadas e acumulada como Verdades pelos
seres humanos.
Interessante o conceito de Maquiavel, talvez pai do pensamento da política
moderna, falando sobre as verdades em O Príncipe, que “não há outro meio de
guardar-se da adulação, a não ser fazendo com que os homens entendam que não te
ofendem dizendo a verdade, mas quando todos podem dizer-te a verdade, passa a
faltar-te com reverência” (Cap. 23).
31

Porem, ante a incapacidade de assim ser, a busca pela verdade crua, fria e
dissecada é a intenção final do Paradigma Religioso. O legado desta ânsia por
verdades verificáveis, fez do Paradigma Cientificista algo muito importante para a
criação, disseminação, ou estruturação do significado dos conceitos de Método e
Sistema, pois a partir destas conceituações, geraram-se modos de organização de
conhecimentos cada vez mais complexos em uma cadeia incessante de dados, além
da capacidade de compreensão do ser humano contemporâneo.
Também ajudou a romper com monopólio Epistemológico detido pelo
paradigma religioso trazendo outras perspectivas existenciais ao Ser Humano
Ocidental.
No processo de desenvolvimento da própria Filosofia Clínica,
provavelmente Packter pode ter utilizado inúmeros dispositivos de pesquisa, como as
fichações, resumos e resenhas, além de publicação de seus livros que somente são
validados academicamente, tendo assim o seu devido valor social, por conta de
regras direta ou indiretamente derivadas deste paradigma institucionalizado como lei
dada a sua importância. Um exemplo da utilidade de um sistema verificável ocorre
na Filosofia Clínica na análise da localização dos Exames Categoriais, o endereço
existencial do Partilhante.
“Sobre os 5 anos de idade da pessoa, por exemplo, ele saberá qual era a
questão ou questões com as quais pessoa lidava à época ( assunto ); conhecerá
todo o contexto em torno daquelas questões, e quais os aspectos relevantes
desse contexto ( circunstância ); terá uma noção de como a pessoa vivia
sensorialmente, sua vivência somática, em seu meio ( lugar ); poderá
considerar com maior propriedade a temporalidade nessa pessoa, se o tempo
era subjetivamente curto, longo, fragmentado, insignificante ( tempo ); terá
ciência de quais eram as relações determinadas a essa pessoa aos 5 anos de
idade, se era com seus irmãos, com seus amiguinhos, sua professora, seu
ursinho de pano ou talvez com ela mesma ( relação ). O filósofo terá um
entendimento da interseção entre as 5 categorias”. (PACKTER, 2008, p.60)
32

A Filosofia Clínica em si é um sistema de conhecimentos muito


interessante e singular, pois encerra uma sistemática de análise de dados mnemônica,
sendo capaz de ler a vida através de vários universos simultaneamente, ajudando o
Ser Humano a se re-localizar no Universo ante movimentos existenciais bruscos,
como, por exemplo, a ausência de algo ou alguém que é só uma memória agora.
O segredo disto talvez resida na flexibilidade com que a Filosofia Clínica
absorve as informações que a compõem, e que devem paradigmaticamente ser
utilizadas como coadjuvantes na análise de historicidade, porem não encerrando-se
em si mesma, pois o tempo passa e modifica algumas autogenias. Não há garantia de
mudanças ou permanências na Filosofia Clínica.
A Filosofia Clínica, sugere ao Filósofo Clínico que, se não aceite, tolere o
erro do outro, em detrimento de uma compreensão mais global dos fatos da qual
depende o seu sucesso existencial. A ausência de julgamentos é preponderante neste
processo. Esta forma Paradigmática Cientificista sustenta-se na utilização de tópicos
como os Pré-Juizos (5), termos agendados no Intelecto (6), e raciocínio (10) embora
possa estar associado a outros tópicos, como a Epistemologia (20), responsável pelas
formas que o partilhante utiliza para saber das coisas que sabe e a preponderância
disto na sua Autogenia.
O Procedimento Clínico, desde o inicio da tomada da historicidade do
partilhante é cercado de regras absolutamente precisas. Há uma linha técnica que
pode em alguns casos, prever e planejar um procedimento Clínico e cumprir seu
cronograma perfeitamente. Não obstante a existência do Tempo cronológico, o
cumprimento do método é um paradigma para a Filosofia Clínica.

Há uma questão que muito me angustia, relacionada à Categoria Tempo:


o tempo da clínica. Nós, filósofos clínicos, trabalhamos a partir da
historicidade e isso supõe uma série de elementos: necessidade de interseção
apropriada para que o partilhante abra seus conteúdos, conhecimento
profundo das Categorias e da Estrutura de Pensamento, reconhecimento e
pesquisa de questões e respectivos Submodos possíveis, planejamento clínico
33

adequado à Estrutura de Pensamento do partilhante, enfim, elementos que


necessitam de tempo de clínica para a pesquisa, para um trabalho seguro, bem
fundamentado. Muitas vezes o sofrimento da pessoa é tamanho que me
angustia ter que esperar esse tempo necessário para fazer algo sem colocá-la
em risco. Mas como disse, é necessário e nada posso fazer quanto a isso, por
mais que a pessoa peça, cobre uma posição. (AIUB, 2001)

O Paradigma Cientificista foi ainda o precursor da queda da Hegemonia do


conhecimento detido pela Igreja do Século XIX em diante. Provavelmente após a
mecanização da imprensa a distribuição de livros opositores aos credos da Igreja
aumentou, podendo ter minado o poder epistemológico detido pelo Paradigma
Religioso. Quando Darwin surge com sua teoria sobre o evolucionismo das espécies,
a Igreja e o ideal do Criacionismo Adâmico ficaram abalados.
Nestes tempos de tanto pensar, o Paradigma Cientificista foi fundamentado
nas idéias de Descartes, e Darwin, com apoio teórico do movimento positivista, com
Durkhein e Comte, criando conceituações sociais e antropológicas que posicionariam
existencialmente o ser humano como uma engrenagem, como parte de uma máquina/
sistema, previsto, medido e calculado do princípio ao fim, amparado a uma série de
normas, regras e procedimentos que deveriam ser a garantia matemática de sua
infalibilidade. Esta forma Paradigmática gerou também o Liberalismo econômico e a
Economia de Mercado, em que hoje a raça humana pode viver de duas formas:
No Mundo que têm dinheiro, e este traço parece mais acentuado na medida
em que se tenha dinheiro, pessoas têm acesso a informação e padrões hedonistas de
comportamento e consumo que se multiplicam e categoricamente se aperfeiçoam
como Paradigma na medida em que o tempo passa, deixando muitos Seres Humanos
cada vez mais sem tempo de ir à Igreja porque precisam fazer alguma outra coisa
mais importante. No Mundo que tem menos dinheiro os Paradigmas Religiosos
tendem a ganhar força, trazendo versões dogmaticamente mais relaxadas de si
mesmos, em novas propostas de velhas religiosidades, com penas cada vez mais
34

brandas para os mesmos pecados. Já alguns sem dinheiro do mundo Oriental


assumem o Paradigma Religioso como lastro de vida, e destruir quem não
compartilha de sua realidade é uma variável muito concreta.
Assim, dada à imensa gama de informações que o ambiente oferece,
provavelmente pode haver mais ou menos formas de se relacionar conforto
existencial, com a atitude de que se possa dispor.
No Mundo que não tem dinheiro, não há informação, e em geral há bastante
gente, pouquíssimas verdades e muitos Paradigmas.
O Paradigma Cientificista se baseia na noção de a Realidade ser apenas o
que podemos tocar com nossos sentidos. Hoje fazemos máquinas para recriar big-
bangs a fim de alimentar esta necessidade que sentimos de informação. A Dúvida de
um leva a resposta para outro. Para este sistema Paradigmático, a Humanidade corre
em uma disputa evolucionária em que o mais forte sobreviverá em oposição ao outro,
mais fraco. Esta noção de competitividade foi adotada no nosso século e a maioria
das pessoas não nota que em última instância, estamos todos juntos.

“Diferentes percepções do mundo podem coexistir e ser devidamente


compreendidas nos níveis em que se organiza a estrutura do pensamento
humano. E foi precisamente isso que Lúcio Packter fez: localizou as principais
antropologias filosóficas da história, estruturou em trinta tópicos um diálogo
entre os vários estratos da inteligência , elaborando um conjunto infinito de
possibilidades.”(Goya, Will, 2008, p.31).

Dentro dos sistemas corporativos também compete-se muito, e para que ele
se fizesse e pudesse se organizar, fez-se necessário certo cientificismo.
35

2.3 – OS PARADIGMAS E A CONTEMPORANEIDADE

A quantidade de formas que o conceito de Sucesso assume sociedades afora


é algo indizível. E a busca pelo Sucesso é algo que transcende um mero Paradigma,
já que a nossa sobrevivência, desde a África, apenas ocorreu porque como espécie,
obtivemos Sucesso nas atividades silvícolas, e em todas as formas de subsistência
que existiram antes da invenção do Supermercado. Hoje, na Sociedade de Consumo,
uma leitura do que possa ser sucesso é ter cartão de crédito, em dia ou não.
Mas a existência deste conceito de sucesso, em nossa sociedade, detém
ainda uma grande carga de compromisso para quem deseja tornar-se uma pessoa bem
sucedida pelos olhos da Sociedade, por exemplo, qual sentido há em querer que todas
as pessoas entrem em uma faculdade aos dezessete anos de idade e decidam, nesta
fase, o que vão fazer pela vida toda. Nem todos têm maturidade para escolhas assim.
Que dizer, há uma série de Paradigmas que são incontingentes, e o
Filósofo Clínico como bom ser humano que é, deve estar sujeito a isto. Desta
maneira deve aguçar ainda mais a sua percepção ao notar que a Singularidade
Humana existe em instâncias que vão bem além do que os momentos iniciais
da Clínica podem demonstrar.
“O filósofo clínico, ao se respeitar, se querer bem, ao ser o que é em
seu devir, ao vivenciar ao menos uma vez na vida o amor, poderá interagir
com as emoções similares da pessoa. É como nos diz Schopenhauer, ‘(...)
Logo, para poder viver entre os homens, temos que deixar que cada um exista
e valha conforme a individualidade que recebeu (...)’ . Por isso, respeitem a
representação da pessoa que lhes procura, ‘como cada coisa aparece para
mim, assim ela é para mim’, cada pessoa é a medida da todas as coisas que
têm relação a ela; ‘o mundo é representação minha’. (PAULO, 1999, p.)

E como ficam estas representações a cada ano com cada vez menos padrões
universais de comportamento?
36

Em sociedades de consumo, a quantidade de respostas para as mazelas do


mundo é imensurável tanto quanto a capacidade humana de criar, já que recursos
tecnológicos não faltam. Então as demandas tendem a tornar-se mais relacionadas,
por exemplo, a questões de auto-afirmação, aparência e consumo, já que nestas
sociedades estes elementos podem ser utilizados para criar parâmetros entre quem
possa ser melhor que o outro e, conforme Darwin sugere, com isto evoluir, embora o
conceito de evolução aqui, não se aplique exatamente ao melhoramento da espécie.

Talvez não seja propriamente dita uma corrida evolucionária este tipo de
comportamento, mas há um quê de disputa neste aspecto, entre grupos mais jovens.
O acesso às informações pertinentes a um determinado grupo que se queira
freqüentar, independente de ser institucionalizado ou não, é uma necessidade neste
ambiente, tanto quanto fazer parte de grupos de alguma ordem ou interesse, embora
algumas autogenias não tenham nenhuma apreciação por aglomeros, e as interseções
ocorram com outras pessoas que também partilham desta percepção.
Neste momento da História, a informação ainda pode ser considerada bem
de consumo, e como tal tem um custo para quem quiser se beneficiar dela. Internet,
celular, computador, também são utilizados para que se tenha acesso a salas de bate-
papo, e-mails, chats de conversação, conversas com áudio e vídeo, além de jogos,
musica e filmes, enfim Informações. Se há uma Demanda que pode ser percebida em
uma ordem mais ou menos Universal neste momento é a Demanda por Informação
que a internet em termos consegue suprir. Este Evento pode se o gerador de uma
espécie de Paradigma da Informação, afirmando que todo mundo necessariamente
tenha que saber utilizar as Máquinas. Para as próximas gerações isto será uma
Realidade plena.
Mas haverá aqueles que não vão se inteirar deste Paradigma da Informação,
porque simplesmente não se interessam por isto, pelos seus próprios motivos. E há
aqueles que vivem em áreas mundiais em que não há este acesso tecnológico.
37

Estas pessoas, à parte deste sistema continuam sendo um Seres Humanos


não menores ou piores por isto.
Eles ainda tem sua Singularidade: “Somos senhores de nós mesmos e
somos escravos de nossa liberdade. (...) Mesmo o pior escravo é dono de si mesmo”.
(Idem, p. 12)
Não há uma fórmula de apreensão da essência da singularidade humana. A
própria Filosofia Clínica não é um fim em si mesma neste aspecto, já que não é uma
fórmula Universal, um pacote de informações definitivo a respeito das coisas da
vida, e se em uma instância ela tem o Partilhante no grau mais alto de consideração
para a sua existência enquanto oficio útil à humanidade, ainda assim precisa que ele
ajude: “Uma pessoa pode considerar um despropósito quatro ou cinco consultas
para ter uma história dela, quando os problemas precisam ser resolvidos neste
momento”. (PACKTER, 2008, p.60)

Ou seja, a Filosofia Clínica só existe porque existe o Partilhante.

Na Filosofia Clínica não é uma variável que um Filósofo Clínico promova


em seu Partilhante, pela razão que seja, qualquer forma de agendamentos massivos,
destes que tornam qualquer coisa Verdade pela imposição do verbo bem direcionado.
Isto é algo “condenado pelo Código de Ética, e considerado um crime ético ao
cliente. O terapeuta não pode, não deve interferir na historia da pessoa, a não ser
quando a situação assim o exigir. Ao terapeuta não cabe julgar os acontecimentos,
cabe a ele auxiliar a pessoa nesta caminhada”. (Idem, p. 87)

Ressaltada a importância deste princípio Ético na abordagem Clinica com o


Partilhante, é necessário que se perceba na sua essência uma Singularidade que por si
só transmita coordenadas a respeito de como sua mente funciona.
38

Uma vez que sejam notados aspectos desta espécie, sem exemplos por
ausência de uma historicidade, poder-se-á trabalhar lado a lado com o partilhante, e
em circunstâncias não amiúde, alguns, que dizem odiar pensar nas coisas se mostram
tão filósofos que suas vidas nunca mais são as mesmas após o trabalho clínico,
porque ambos trabalharam juntos.

“Em outras palavras: enquanto o partilhante narra a história, o filósofo clínico esboça
uma leitura, a cada nova consulta ele revê e atualiza seu esboço, que sempre será um esboço. Com os
dados de tal esboço, ele terá elementos para provocar o partilhante a pensar em sua própria
existência e tomar para si a responsabilidade pela construção de seus modos de vida.” (AIUB, 2004)

Qualquer movimentação em termos de atitude partirá sempre da vontade


soberana que o Partilhante deve ter de abrir mão de alguma coisa ou abraçar outra.
“Afinal, às vezes a pessoa vive sensorialmente um verdadeiro inferno em vida, e, no
entanto, através de idéias complexas que desenvolveu a partir dali, e talvez
exatamente por aquilo, tenha conseguido viver consideravelmente bem, conforme a
subjetividade dela” (PACKTER, 2008, p.60)
Os Paradigmas atuais não respondem a questões triviais que hoje são
pertinentes à vida moderna, pois as formas de pensar o mundo reside ainda um
sistema baseado em percepções de ordens opostas, em caráter intrinsecamente
dicotômico.
A multi-disciplinaridade é um elemento que será essencial nos processos de
Interseção, de contato pessoal com as novas gerações. Provavelmente passaremos um
tempo em que os pais e os filhos não consigam se compreender muito bem por falta
de elementos de comum compreensão aos seus sistemas cognitivos.
Nas Sociedades de Consumo, os filhos têm muito mais informação que pais
na sua idade. No mesmo tempo de vida deverão ter o dobro de informações
armazenadas em seus cérebros. Mais tarde, a Semântica, a mesma ciência que estuda
formas comuns de comunicação, utilizando signos compreensíveis tanto para os
Homens quanto para a Inteligência Artificial, deve preencher esta lacuna entre
39

gerações incisivamente separadas por uma ou duas décadas de idade. Nisto surgem
novas formas de conversação serão estabelecidas entre o homem como um processo
natural do estágio de desenvolvimento tecnológico que desfrutarmos.
Será uma espécie de Paradigma Holístico o que irá amparar as sociedades
humanas do futuro. A quantidade de informações no mundo deixa espaço para muita
argumentação entre cada parágrafo novo e os pontos de final de linha.
Então, para alguns, a sensação será a de que se está em um extremo, ou se
está em meio de lugar nenhum.

“Heidegger: Ele afirmou que estar só é a condição original de todos ser humano desde o
nascimento, gostemos ou não, e é pela maneira como lidamos com a solidão que nos distinguimos. O
homem torna-se autêntico quando aceita a solidão como o preço de sua liberdade e inautêntico
quando interpreta a solidão como abandono de Deus ou da vida em relação a si mesmo”. (GOYA,
2008, P. 170)

Para algumas pessoas, viver é assim: estar no meio de lugar algum. E


algumas destas pessoas, quando chegam a algum lugar, já não conseguem mais
reconhecer a si próprias. Daí muitas confusões mentais, compulsões, hábitos que não
estavam nos manuais das ciências da mente, começam a dar origem a uma nova série
de categorizações patológicas. Nisto certas formas comportamentais que podem ser
tidas como normais ou diferentes, e cria-se mais uma cisão na percepção de quem
estiver prestando atenção naquilo tudo apenas para não fica só.
Algumas pessoas vivem as suas vidas pelas vidas dos outros, em eternas
comparações. Isto deve ensinar ao Filósofo Clínico que certas coisas do mundo não
têm que ser percebidas em termos de bom e mau, mas em termos de Ser, então
saímos o máximo possível da área de abrangência de rótulos e categorizações
impertinentes.
40

3 - A FILOSOFIA CLÍNICA E O PARADIGMA DA


SINGULARIDADE

A idéia fundamental da existência do Paradigma da Singularidade reside na


criação mais de uma forma instrumental, praticamente ferramental, do que
propriamente teórica sobre o conceito em questão.
Sua ontologia fica delimitada pela percepção de seu status quo, em profunda
comunhão com a Unicidade que cada Humano detém nas partes mais profundas de
seu ser. Neste momento em que o Filósofo Clínico está em trabalho com o
Partilhante é suma a importância da qualidade da Interseção para a clínica.
O Paradigma da Singularidade, em sua forma conceitual proposta aqui, deve
gerar outra possibilidade de percepção do Ser Humano, a partir da perspectiva de que
a Filosofia Clínica oferece em sua imensurável capacidade de compreender: ela dá a
chance ao Partilhante de ouvir a si próprio.

“Para Heidegger, o ser inautêntico não se sente responsável por sua existência, tornando-
se um estranho para si mesmo, e não aceita correr riscos para atingir seus objetivos, buscando
dependência e segurança nos outros, mascarando-se no impessoal. Não conseguindo viver
intensamente a própria vida como sua, tal ser só consegue encontrar força e encantamentos nas
coisas e nos outros e não nele mesmo”. (GOYA, 2008, P. 170)

Algumas pessoas, durante a clínica constatam verdades subjetivas como esta,


que Heidegger aponta, e permanecem exatamente como estão. Outras tomam alguma
atitude. Outras pessoas desistem bem antes disto. Pode ser constrangedor, em algum
caso, para o Filósofo Clínico iniciante, um Partilhante não conseguir ir além, e
desistir.
O Filósofo Clínico deve saber por antecipação que isto é uma daquelas coisas
incontingentes.
41

“Outra questão referente a tempo é a que ocorre quando o partilhante


simplesmente desaparece, some e, passados meses, retorna. No trabalho de
supervisão tenho visto alguns estagiários preocupados com isso: “será que fiz algo
errado?”, “o que aconteceu?”, “o partilhante que voltou parece outra pessoa!”, “o
que faço agora?”. Devo confessar que, de início, também ficava preocupada com
esses sumiços, mas percebi que algumas pessoas precisam de um tempo para
trabalhar, consigo mesmas, determinadas questões. Daí o partilhante voltar depois
de meses e contar-me uma nova história, ou trazer uma nova questão, visto que o
assunto imediato, apresentado em primeira instância, resolveu-se”. (AIUB, 2002)

Chamar a atenção do Filósofo Clínico para um termo conceitual, referente a


algo relativamente fora de nosso controle, que é o fenômeno da vida, em sua forma
mais integral, pode ser um bom motivo para que haja uma conexão maior com a
compreensão das variáveis deste ofício tão humano.
Lúcio Packter em suas compilações sobre a Filosofia Clínica provavelmente
fez algo que a história marcará: Ele tirou a Filosofia do campo acadêmico,
meramente conceitual, e a sistematizou a partir de suas principais vertentes (ética,
estética, analítica da linguagem, lógica), de modo a torná-la efetivamente prática, útil
ao Ser Humano, além do nível epistemológico (em nível acadêmico) ocupado até
este momento, podendo agora promover modificações atitudinais referentes ao
campo Sensorial da vida de Pessoas que muitas vezes não estudam, nem gostam de
Filosofia, mas que se propõe a desfrutar da existência dela por conta dos benefícios
que pode obter, ou de algum desespero que a acometa. E esta motivação, em última
instância será sempre do Partilhante, por vontade própria, pressão extrínseca ou
pânico.
A ação do Filósofo Clínico deverá ser sempre consoante com os conceitos
atitudinais difundidos e esperados pela Filosofia Clínica. Um tal Paradigma da
42

Singularidade não poderia ser um mero conceito encharcado de propensões poéticas,


se a práxis não combina com isto. É necessário, principalmente neste tempo de tantas
informações desencontradas, que o Terapeuta Filosófico detenha uma certa
percepção holística das coisas que acontecem no mundo, para que quando um
Partilhante traga em sua problemática algum tipo de conhecimento especifico
contido em si, não exista uma total ignorância acerca do assunto.
Este Paradigma da Singularidade não se apresenta como uma via, mas como
mais uma via, que, se útil, pode ser bem utilizada ante as conceitualizações de que já
se faz valer a Filosofia Clínica em sua existência.
“Esse particular exercício de alteridade reconhece a hipercomplexidade subjetiva
das pessoas, exigindo um modo de articulação do conhecimento que acentua problemas
oriundos de saberes múltiplos, tais como o existencialismo schopenhaueriano, em sua
releitura de Protágoras; os exames categorias de Aristóteles e Kant; o historicismo de
Wilhelm Dilthey; a fenomenologia pós-Husserl e o raciovitalismo de Ortega Y Gasset;
o positivismo lógico de Popper e a hermenêutica de Gadamer; somando-se um uso
constante do logicismo formal clássico; da analítica da linguagem, desde Wittgenstein
até John Searle; da esteticidade associada à somaticidade, com múltiplos autores,
começando pelo empirismo de Hume, e da matemática simbólica, de início com George
Cantor.” (Goya, Will, 2008, p.37)

3.1 – ASPECTOS DA SINGULARIDADE

Quando uma pessoa chega à clínica, é porque ela traz consigo alguma
problemática que ela não está conseguindo solucionar sozinha. No cotidiano algumas
pessoas encontram refúgios em seus amigos, outros na igreja, outros em suas
compulsões e vícios ou no amor. Ainda que algumas destas pessoas também se
dirijam ao consultório filosófico. Seja por uma questão existência, por uma perda, ou
por alguma decisão muito importante. Assim, no momento em que esta pessoa
começa a contar sua historicidade o Filósofo Clínico não a olhará como quem a
julga, mas como quem está ali para ouvi-lo.
43

O fato de contar sua história toda dá ao Partilhante a possibilidade de transitar


percepcionalmente sobre questões que podem estar guardadas, Agendadas há muitos
anos, e até os dias atuais, permanecia sendo processada com a Percepção de quando
o fato havia ocorrido, quando se era ainda um adolescente, ou alguém não tão
amadurecido. Estas percepções, para algumas pessoas, não prescrevem nunca, e não
faz a menor diferença, pois ela pode estar com o seu Tempo Categorial no Passado,
ou seja, para aquela questão em especifico, seu cérebro continua operando lá, como
se Agora ainda fosse Ontem.
Armadilhas conceituais podem ter haver com estes processos:
“Um dos tópicos observados na Estrutura de Pensamento é Armadilha Conceitual. Neste
tópico, especialmente, são observadas as formas repetitivas, os padrões que enredam, que prendem o
partilhante em um modo de ser, de pensar e de agir. Armadilha não possui um sentido pejorativo. É
assim denominada porque prende, enreda, compromete. Há Armadilhas maravilhosas, nas quais a
pessoa quer, escolhe estar enredada. Por outro lado, há Armadilhas impeditivas, que não permitem a
realização existencial.” (AIUB, 2008)

Por isto o modo como o Partilhante carrega as informações sobre seu passado
é algo que interessa a Filosofia Clínica. O reencontro consigo mesmo para alguns é
tudo o que se deseja. Têm outros que só não se matam por causa da dor física que
isto causaria, ou porque temos instinto de sobrevivência a nos censurar. Vistas tantas
variáveis a Filosofia Clínica as prevê em sua estrutura mais fundamental e expande-
se, dando aos conceitos chave das demandas de consultório, resignificações que
fazem com que sejam elementos de narrativas diversas, não atos ou fatos em si
mesmos. São termos que postos em seus contextos originais causa impressões
dicotômicas, como aborto, suicídio, traição, desejo, submissão, vício etc.

Na Filosofia Clínica estes são termos que surgem nas historicidades como
projeções em uma tela, da qual o Filósofo Clínico captará a essência que possa da
vida do Partilhante. Aqui a sistematização do sentido das palavras utilizadas na
descrição da história do Partilhante e sua compactação em códigos de acesso a sua
44

Estrutura de Pensamento, mostra a grandeza do processo contido na Filosofia


Clínica, com sua versatilidade em acompanhar e compreender os enlaces mentais que
os seres humanos arrumam para si, por vontade própria ou não, ou por falta de
vontade.

“Os Métodos em Filosofia Clínica: Na Filosofia Clínica, podemos dizer


que não existe um único método, mas sim a soma de vários, como diz Lúcio
Packter, há muito de maiêutica, de Bacon, muito de cientificismo e de indução,
experimentalismo, entre outros. Ou ainda, “através da historicidade, método
que engloba a fenomenologia, a lógica formal, o empirismo, a analítica de
linguagem e a epistemologia”. Porque como diz Descartes, “método é o
caminho a seguir para chegar à verdade nas ciências.” (PAULO, 1999,
p.26)

Havendo esta percepção do sistema, pela influência do cientificismo que a


ampara, a Filosofia Clínica reconhece que há no processo todas as garantias que o
Partilhante dá a si mesmo. Uma vez que com sua ação ele tem o poder da catálise da
transformação daquilo que busca, também a sua falta de interesse pode colocar tudo
a perder. Para algumas pessoas é simplesmente desolador ter que olhar para si
mesmo. Alguns incorporam suas doenças, mazelas e deficiências como parte
essencial de seus Seres, e tirar-lhes isto os torna pessoas sem identidade, sem um
Sentido. Por certo há aqui um Paradigma da Singularidade trabalhando em favor de
alguma necessidade do Partilhante que possa estar sendo atendida por qualquer
acaso, suprida pelo desconforto, mas se faz valer disto em seu benefício. Em relação
a isto a Filosofia Clínica concordaria com o que Voltaire diz sobre a liberdade de
expressão:
“Posso não concordar com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até
a morte vosso direito de dizê-los”. (Goya, Will, 2008, p.138)
O processo de mudança do Ser Humano, muitas vezes não ocorre por sua
falta de vontade e sim por falta de saber como serão as coisas quando forem de outra
45

maneira. Este movimento pode representar a saída de uma zona de conforto


existencial destrutiva, rumo a uma espécie de zona existencial em que a relatividade
do quanto é boa, não pode ser questionada, embora algumas realidades jamais
possam ser boas para alguns. Mas há um meio tempo entre a Velha e a Nova
Realidade, que alguns não superam, e assim levam seus fardos existenciais.
Deslocamentos Longos (submodo 14) servem para detectar dramas destas espécie em
uma Estrutura de Pensamento.

Nestas formas de Percepção mais rígidas e fechadas para mudanças, enquanto


experiências positivas não existirem para se sobreporem à Percepção antiga (e às
vezes paradigmática) e nela não se instalarem pensamentos e memórias que também
causem sensações de conforto/prazer subjetivos que se representam como
balizadores existenciais, pode haver dificuldade em uma transição ontológica de fato.
A subjetiva evolução do Partilhante em relação a sua problemática pode ocorrer por
conta da sublimação de aspectos que podem ser Sensoriais ou Abstratos ou Racionais
ou Sentimentais, dependendo daquilo que o Partilhante queira comunicar.
Como sabemos em Filosofia Clínica, uma Estrutura de Pensamento pode ser
Sensorial, e interpretar o mundo pelo que os sentidos lhe dizem, ou ser Abstrata, e
literalmente viver o mundo por seus Pensamentos.
E existem formas de comunicar na Filosofia, que apenas podem levar-se em
seu sentido mais restrito quando dito de uma determinada forma. Por isto a
importância da literalidade da comunicação neste processo. Talvez por isto quem nos
criou tenha colocado nossa língua atrás de duas fileiras de dentes só para manter a
Analítica da Linguagem em dia.
Atravessar este momento, durante a transição, pode ser como andar em um
deserto, e desistir neste momento, é algo que não ocorre amiúde na vida das Pessoas.
Dentro da Filosofia Clínica, movimentações existenciais mais profundas
nunca serão coisas impossíveis, pois a priori, quem nos busca paradigmaticamente já
intenciona, de alguma maneira, fazer algo para mudar sua situação existencial.
46

Se este movimento existência for intrínseco ao Partilhante, provavelmente as


chances de sucesso no trabalho serão boas para ele e para o Filósofo Clínico que bem
sabe utilizar o método Clínico.
A Filosofia Clínica,”embora não se considere uma ciência, também usou do
rigor metodológico para garantir uma estrutura que validasse a clínica, motivo pelo
qual não se guiou somente por um método, mas por vários métodos dentro das
correntes filosóficas.” (PAULO, 1999, p. 26)
De fato a Filosofia Clínica mostra sua natureza multidisciplinar nestas
circunstâncias também, realizando trabalhos conjuntos com os mais variados setores
do pensamento, psicólogos, médicos, e religiosos em que belos trabalhos se fazem
por conta disto.

3.2 - O PARTILHANTE E O FILÓSOFO CLÍNICO.

Mas apesar desta conexão vital com a multi-disciplinaridade, a Filosofia


Clínica postula que somente pode clinicar, o estudante graduado em Filosofia
Acadêmica. Outras áreas são sempre bem vindas ao exercício da Pesquisa da
Partilha Filosófica Clínica, e de suas experiências, seja entre profissionais da saúde,
professores ou pessoas de outras áreas, que não poderão exercer o trabalho
terapêutico.
A importância do estudo da Filosofia Clínica acadêmica na formação do
Filósofo Clínico é que o ajuda a compreender certos termos e conceituações
filosóficas necessárias ao planejamento terapêutico, além de conseguir distinguir
corretamente os modus operandi da Ética, Estética, Lógica, Epistemologia e
Analítica da Linguagem, em cada passo do processo clínico, sendo esta última
notada desde os primeiros instantes pelo conteúdo do verbo do Partilhante no
encontro inicial. Por exemplo:
47

‘‘O uso do Método Analítico de Linguagem na Filosofia Clínica: Cabem


aqui algumas considerações preliminares sobre como se desenvolve o trabalho
do filósofo clínico. O trabalho do filósofo clínico se divide em dois momentos:
primeiro ele possui a teoria. O que é a teoria? A teoria diz respeito ao método
da Filosofia Clínica, de seus procedimentos. Além disto, teoria é também o
conhecimento de conteúdos da filosofia acadêmica.
Em segundo lugar ele possui a prática. O que é a prática? É, num
primeiro sentido, o exercício da clínica. Em outro sentido, mais filosófico, é a
sua aplicabilidade desenvolvida a partir de um conteúdo fático, bruto,
concreto a sua frente, enfim o mundo tal como ele se apresenta. É a
transposição do campo teórico para o concreto, aquilo que é perceptível no
cotidiano. A filosofia passa a exercer uma função de mudanças de vida, de
sentimento, de organização existencial. Une-se o abstrato, o racional ao dado
imediato da vida das pessoas. A filosofia nesta perspectiva é a base da
existência do ser humano. A sua aplicabilidade é fator elementar para melhor
viver para aquele que sofre em suas dúvidas e dores existenciais. Portanto, a
união destes momentos dimensiona o trabalho do filósofo em clínica’’.
(PAULO, 1999, p. 41)

O local da Partilha não necessariamente ocorre no consultório do Filósofo


Clínico. Pode ser no lugar em que o Partilhante sentir-se mais a vontade, algo que
beneficiaria, por exemplo, pessoas diagnosticadas com Síndrome do Pânico, por
apresentarem o conjunto de sintomas necessários a sua própria caracterização
segundo os manuais de medicina contemporâneos.
A Partilha pode ser da forma que o Partilhante permita, desde que haja a
troca de informações históricas necessárias a compreensão do funcionamento de sua
Estrutura de Pensamento. Para algumas pessoas não se empresta problemas aos
outros. Por alguma questão Paradigmática, destas que toca os pré-juízos, tudo deve
se resolver sozinho.
E muita gente, à sua moda, vive desta maneira. Tem o dedo esmagado na
porta, mas não diz “ai” para não dividir sua dor com ninguém. Como e onde o
48

Filósofo Clínico consegue entrar na vida de uma pessoa que mesmo vivendo assim
busca a sua ajuda? Não há uma resposta para isto.
Estas demandas podem ser por perda de controle de uma situação, ou de si
mesmo com uma atitude digna de arrependimento, por uma perda material ou
pessoal, pelo fim de um romance, ou pela dependência de determinados
comportamentos ou vícios atitudinais conflitantes com o meio em que habita.
Em última Instância a Filosofia Clínica não age como uma ciência da
saúde, pois seu raio de percepção corre muito mais à volta do modo como o
Partilhante percebe o mundo, do que nos rótulos médicos que ele traz consigo.
Alguns pessoas somatizam doenças e tem câncer por isto, outros não
funcionam desta maneira. Então, a priori, a Filosofia Clínica trabalha com as ciências
da saúde, mas existencialmente vai um pouquinho além.
Algumas pessoas também vêm ao Consultório por falta de Paradigmas, ou
pela perda de suas representações concretas: Amigos quem partem, cachorros que
morrem, árvores que são derrubadas e outras coisas que podem conter aspectos
Paradigmáticos em suas passagens pela vida das pessoas, no sentido de que deixaram
alguma influência que gerou um padrão de resposta para algo em seu cérebro. A
percepção de alguma perda irreparável, por exemplo, pode deixar algumas pessoas
em depressão pela simples quebra na rotina que mantém com o Objeto de sua
demanda imediata, não sendo a ausência do Objeto em si o problema, mas a sua
significação para a Estrutura de Pensamento do Partilhante.
É provável que possa haver em cada Ser Singular, infinitesimais variáveis
para as formas como lidamos e armazenamos dados existenciais. A matemática
simbólica deverá determinar isto em breve com as maquinas certas.
Provavelmente há uma padronização no cérebro humano (Tópico 17) no
processo de fixação da memória de eventos de nossa vida no cérebro, porém,
sublimado em si mesmo, este processo ainda é singular em cada ser e pontuado pelos
Paradigmas e Leis de seu Ambiente, que se torna um grande banco de dados. Desde
que aprendemos a pensar e vamos em frente baseados em Pré-juizos, Leis e
49

Paradigmas, vamos criando um Banco de Dados, que é a própria Historicidade de


Partilhante.

A utilidade de Algo assim é interessante para o cérebro, pois, a priori, ele


verifica a existência de uma demanda significando objeto, ou conceito, utiliza-se de
coisas e acontecimentos do passado para compará-los Categoricamente em sentido
Filosófico Clínico (tempo, lugar, assunto, circunstância), às novas coisas e
acontecimentos que vão ocorrendo em nossa vida. A idéia básica do cérebro é usar
um padrão de respostas igual para eventos similares. Como sempre há
experimentações de fatos novos e sui generis nem sempre sabemos lidar com fatos e
circunstâncias.
Ocorre que o tempo modifica as coisas e estes Padrões precisam ser
atualizados pela própria pessoa para conviver humanamente entre os seus. Por isto,
aos trinta anos de idade, não se espera que uma mulher haja como se tivesse
dezessete. E de fato pode ser assim para o Paradigma, mas e se ela for genuinamente
feliz desta maneira e não prejudicar os outros? Às vezes, os Padrões de pensamento
tomam formas superdimensionadas e se tornam Armadilhas Conceituais. Um
exemplo poderia estar em uma pessoa deprimida por causa de seu peso, e a clínica
revela que ela come porque fica deprimida porque está com o peso acima do
esperado, algo que somente posto assim é compreendido como óbvio demais. Mas
como resolver algo assim? Não há como saber sem ter uma historicidade.
As Armadilhas Conceituais podem ser causa ou razão de muitos eventos
que vão de respostas a eventos traumáticos, ou a formas severas de dependência de
sensações obtidas por ou substâncias ou circunstâncias.
Estes padrões de respostas que criamos tende a ser utilizado em sua forma
mais comum, até que algo na sua realidade para de funcionar, gerando problemáticas
com que sua percepção simplesmente não consegue lidar de alguma forma
previamente esperada. Situações assim, podem não ser tão traumáticas para alguns,
enquanto para outros pode tratar-se de uma quase literal morte em vida.
50

Há as mais variadas formas de se perceber um mesmo evento.


Tantas quanto há pessoas no mundo.
“ Em verdade, ninguém pode saber dos desejos e das crenças de outra
pessoa se não perante a interpretação do seu enunciado segundo a lógica e as
categorias de entendimento dela. Isto é, tal como ela, em sua cultura, constrói
e articula subjetivamente significados da sua linguagem. Toda aprendizagem é
uma intima ressignificação, isto é, uma atitude que atribui novos significados
às informações recebidas do mundo, de tal forma que passa a guardar um
sentimento próprio a adequado a maneira singular como cada um é capaz de
entender. Habitado pela linguagem e pelo pensamento, o ser humano carrega
consigo a potência de ressignificar o conhecimento considerando os diversos
saberes, culturas e, sobre tudo,individualidades. Sabendo disso, é
imprescindível e cada vez mais urgente a exigência de uma ética da
diversidade e da alteridade, a exemplo da Filosofia Clínica.” (Goya, Will,
2008, p.142)

3.3 - A MOVIMENTAÇÃO EXISTENCIAL QUE PRECEDE A


MUDANÇA.

O processo de mudança verdadeiro, aquele que modifica o Ser Humano


existencialmente seja pela sua mudança sensorial ou pela mudança de percepção
acerca de algo que o tenha feito sofrer, é algo que normalmente despende uma
grande quantidade de energia. “Há quem prefira não se curar de uma doença para
valer-se dela, a fim de obter dinheiro, favores ou dignidade da família, do governo
etc”. (AIUB, 2001 p.41
Para os Paradigmas socialmente convencionados, há um certo e errado para
tudo o que se faz na vida, porém algumas coisas de fato são como são, como algumas
pessoas não mudarão. E as pessoas (destas que não mudam) não se transformarem
naquilo que os outros querem também é um fato da vida, como outras pessoas que
51

também não conseguem parar de mudar o tempo todo as suas próprias opiniões e
modos de agir. Quando uma pessoa se pega pensando em buscar ajuda profissional
para seu problema, psicológico ou no encanamento da cozinha, é porque
automaticamente seu cérebro constata que não tem conhecimento, aptidão ou
ferramentas para lidar com esta demanda e, em um movimento involuntário do
pensamento, pensar na busca por ajuda. Este evento pode ter uma resposta mecânica,
que a percepção consciente assimila e analisa, julgando interessante e agindo passiva
ou ativamente, ou descartando na seqüência.
E se este movimento mental, contenedor de alguma resposta, passa a se
repetir constantemente e a pessoa aceita a fixação do Novo Padrão, há mais chances
de uma ação efetiva de modificação de sua problemática, mas nenhuma garantia
além das que a vida encerra em si. E há aqui uma parte do Paradigma da
Singularidade fazendo efeito.
Algumas vezes a mudança ocorre em um extremo ato pela sobrevivência,
em que uma Partilhante descobre que a vontade de parar de apanhar, por exemplo, é
maior do que o Amor que sente pelo namorado. E existencialmente seu sofrimento
será maior por deixá-lo para trás do que as pelas surras que tomava dele.

Mudanças Percepcionais partem de uma modificação funcional da Estrutura


de Pensamento do Partilhante, além, é lógico, de uma mudança em nível
morfológico, quando o cérebro passa a utilizar, um circuito independente na rede
neuronal, em detrimento ao outro que era usado originalmente, causando sofrimento.
Quando não há este circuito, uma trilha nova passa a ser utilizada para suportá-lo
como experiência factual ou simbólica, e toda menção àquilo, passará
conceitualmente por esta nova trilha. “Nem sempre a vida é didática, algumas vezes
não há o que compensar, momento em que é preciso reconstruir velhos modos de ser
ou reaprender novas formas de vida.”(Goya, Will, 2009, p.49)
52

Aqui fica plasticamente determinado se tal experiência/contato é positiva


ou negativa para o Partilhante.
Traumas e dependências podem, por exemplo, estar relacionados a alguma
espécie de hipersensibilidade cognitiva, que repetiria um padrão de Pensamento
(tópico 17) por conta de Termos Agendados no Intelecto (tópico 6) que se formam
relativamente bons ou maus de maneira incontingente, embora possam também não
ter a sua origem em nada disto. Dentre as causas do sofrimento humano, nas suas
mais variáveis formas, uma delas pode estar relacionada a formas cíclicas de resposta
a uma mesma problemática que não se mostra em melhora com o que vem sendo
feito a respeito dela. Estes Padrões, em forma de Armadilhas Conceituais (tópico 17),
que se tornam Impeditivos permanentes de algo importante para o Partilhante,
poderiam ter a solução Possível em gerar-se um contexto de adaptação à esta
Realidade no qual o Impeditivo impera, afim de viver-se desta maneira. É que alguns
Impeditivos imperarão mesmo, e o Filósofo Clínico terá clara noção disto com a
prática Clínica.

“Aceito o desafio, sua função moral obrigatória é conservar-se sempre admirado


perante a infinitude do outro, reconhecendo de uma vez por todas a própria ignorância
sobre as profundidades que nele se ocultam. Deve o filósofo clínico conviver com os limites
de seu conhecimento, com as possibilidades do erro e, principalmente, jamais condenar o
partilhante do consultório e sofrer por medos para os quais não tem defesa”. (Goya, Will,
2009, p.39)

Como quando a pessoa gostaria de mudar o cabelo, mas nunca se adapta a


outro corte de cabelo porque fica literalmente Diferente, desconsiderando que há
uma necessidade cronológica variável para a Mente se adaptar aquilo que já não é
mais como antes. O conceito de Mudança, necessariamente implica que a existência
de algo diferente em si. E mesmo alguns que querem mudar algo esquecem-se disto.
Por fim, a existência do Paradigma da Singularidade, residiria mais em uma
capacidade prática de compreender historicamente os motivos que levam as pessoas
53

a fazerem as coisas que fazem, dizerem as coisas que dizem, viverem as vidas que
vivem, do que para ficar lhes ditando regramentos e estatutos sobre como se
comportar. Já existem Paradigmas o suficiente para isto em todas as sociedades
humanas.
Este padrão de aceitação proposto aqui tem sua limitação na capacidade
percepcional do Filósofo Clínico. Naquilo que sua capacidade de Filosofar lhe diz.
“O filósofo aprende que se a pessoa construiu uma couraça muscular qualquer,
talvez seja a maneira que tenha encontrado de sobreviver, e talvez, em alguns casos,
não se deve pôr a mão”. (PACKTER, 2009, p.68)
Trata-se de uma espécie de sensibilidade. Passa-se a saber com mais
intensidade, enquanto Filósofo Clínico, que conviver com desconfortos é algo que
existe, e isto será parte de seu trabalho. Pode até que com determinadas interseções o
acompanhamento filosófico torne-se existencialmente desconfortável, em níveis
subjetivamente insuportáveis. Por isto “na Filosofia Clínica, como em tudo, a ética
se antecipa às funções teóricas da ontologia.”. (Goya, Will: 2008, p.32).
Os paradigmas atuais, além de serem dicotômicos, não são baseados em
conceitos de Realidades Internas, como o Cientificista que diz que a resposta está na
Matéria, e o Religioso, que diz a resposta estar em Deus.
As novas gerações têm buscado, e buscarão cada vez mais, meio-termos
entre estes dois extremos, aonde habitam com suas Singularidades, e a Filosofia
Clínica pode ser a chave deste encontro se assim quisto.
E a Filosofia Clínica, aparentemente, pode ser assustadora para alguns, sem
saberem que ela não lhes tira nada, porque entende que ter estes outros Paradigmas,
ou não ter Paradigmas, para quem o possa, é parte da condição Humana.
E entendem que também a Filosofia Clínica não lhes dá nada que já não
fosse legitimamente seu.
48

Filósofo Clínico consegue entrar na vida de uma pessoa que mesmo vivendo assim
busca a sua ajuda? Não há uma resposta para isto.
Estas demandas podem ser por perda de controle de uma situação, ou de si
mesmo com uma atitude digna de arrependimento, por uma perda material ou
pessoal, pelo fim de um romance, ou pela dependência de determinados
comportamentos ou vícios atitudinais conflitantes com o meio em que habita.
Em última Instância a Filosofia Clínica não age como uma ciência da
saúde, pois seu raio de percepção corre muito mais à volta do modo como o
Partilhante percebe o mundo, do que nos rótulos médicos que ele traz consigo.
Alguns pessoas somatizam doenças e tem câncer por isto, outros não
funcionam desta maneira. Então, a priori, a Filosofia Clínica trabalha com as ciências
da saúde, mas existencialmente vai um pouquinho além.
Algumas pessoas também vêm ao Consultório por falta de Paradigmas, ou
pela perda de suas representações concretas: Amigos quem partem, cachorros que
morrem, árvores que são derrubadas e outras coisas que podem conter aspectos
Paradigmáticos em suas passagens pela vida das pessoas, no sentido de que deixaram
alguma influência que gerou um padrão de resposta para algo em seu cérebro. A
percepção de alguma perda irreparável, por exemplo, pode deixar algumas pessoas
em depressão pela simples quebra na rotina que mantém com o Objeto de sua
demanda imediata, não sendo a ausência do Objeto em si o problema, mas a sua
significação para a Estrutura de Pensamento do Partilhante.
É provável que possa haver em cada Ser Singular, infinitesimais variáveis
para as formas como lidamos e armazenamos dados existenciais. A matemática
simbólica deverá determinar isto em breve com as maquinas certas.
Provavelmente há uma padronização no cérebro humano (Tópico 17) no
processo de fixação da memória de eventos de nossa vida no cérebro, porém,
sublimado em si mesmo, este processo ainda é singular em cada ser e pontuado pelos
Paradigmas e Leis de seu Ambiente, que se torna um grande banco de dados. Desde
que aprendemos a pensar e vamos em frente baseados em Pré-juizos, Leis e
49

Paradigmas, vamos criando um Banco de Dados, que é a própria Historicidade de


Partilhante.

A utilidade de Algo assim é interessante para o cérebro, pois, a priori, ele


verifica a existência de uma demanda significando objeto, ou conceito, utiliza-se de
coisas e acontecimentos do passado para compará-los Categoricamente em sentido
Filosófico Clínico (tempo, lugar, assunto, circunstância), às novas coisas e
acontecimentos que vão ocorrendo em nossa vida. A idéia básica do cérebro é usar
um padrão de respostas igual para eventos similares. Como sempre há
experimentações de fatos novos e sui generis nem sempre sabemos lidar com fatos e
circunstâncias.
Ocorre que o tempo modifica as coisas e estes Padrões precisam ser
atualizados pela própria pessoa para conviver humanamente entre os seus. Por isto,
aos trinta anos de idade, não se espera que uma mulher haja como se tivesse
dezessete. E de fato pode ser assim para o Paradigma, mas e se ela for genuinamente
feliz desta maneira e não prejudicar os outros? Às vezes, os Padrões de pensamento
tomam formas superdimensionadas e se tornam Armadilhas Conceituais. Um
exemplo poderia estar em uma pessoa deprimida por causa de seu peso, e a clínica
revela que ela come porque fica deprimida porque está com o peso acima do
esperado, algo que somente posto assim é compreendido como óbvio demais. Mas
como resolver algo assim? Não há como saber sem ter uma historicidade.
As Armadilhas Conceituais podem ser causa ou razão de muitos eventos
que vão de respostas a eventos traumáticos, ou a formas severas de dependência de
sensações obtidas por ou substâncias ou circunstâncias.
Estes padrões de respostas que criamos tende a ser utilizado em sua forma
mais comum, até que algo na sua realidade para de funcionar, gerando problemáticas
com que sua percepção simplesmente não consegue lidar de alguma forma
previamente esperada. Situações assim, podem não ser tão traumáticas para alguns,
enquanto para outros pode tratar-se de uma quase literal morte em vida.
50

Há as mais variadas formas de se perceber um mesmo evento.


Tantas quanto há pessoas no mundo.
“ Em verdade, ninguém pode saber dos desejos e das crenças de outra
pessoa se não perante a interpretação do seu enunciado segundo a lógica e as
categorias de entendimento dela. Isto é, tal como ela, em sua cultura, constrói
e articula subjetivamente significados da sua linguagem. Toda aprendizagem é
uma intima ressignificação, isto é, uma atitude que atribui novos significados
às informações recebidas do mundo, de tal forma que passa a guardar um
sentimento próprio a adequado a maneira singular como cada um é capaz de
entender. Habitado pela linguagem e pelo pensamento, o ser humano carrega
consigo a potência de ressignificar o conhecimento considerando os diversos
saberes, culturas e, sobre tudo,individualidades. Sabendo disso, é
imprescindível e cada vez mais urgente a exigência de uma ética da
diversidade e da alteridade, a exemplo da Filosofia Clínica.” (Goya, Will,
2008, p.142)

3.3 - A MOVIMENTAÇÃO EXISTENCIAL QUE PRECEDE A


MUDANÇA.

O processo de mudança verdadeiro, aquele que modifica o Ser Humano


existencialmente seja pela sua mudança sensorial ou pela mudança de percepção
acerca de algo que o tenha feito sofrer, é algo que normalmente despende uma
grande quantidade de energia. “Há quem prefira não se curar de uma doença para
valer-se dela, a fim de obter dinheiro, favores ou dignidade da família, do governo
etc”. (AIUB, 2001 p.41
Para os Paradigmas socialmente convencionados, há um certo e errado para
tudo o que se faz na vida, porém algumas coisas de fato são como são, como algumas
pessoas não mudarão. E as pessoas (destas que não mudam) não se transformarem
naquilo que os outros querem também é um fato da vida, como outras pessoas que
51

também não conseguem parar de mudar o tempo todo as suas próprias opiniões e
modos de agir. Quando uma pessoa se pega pensando em buscar ajuda profissional
para seu problema, psicológico ou no encanamento da cozinha, é porque
automaticamente seu cérebro constata que não tem conhecimento, aptidão ou
ferramentas para lidar com esta demanda e, em um movimento involuntário do
pensamento, pensar na busca por ajuda. Este evento pode ter uma resposta mecânica,
que a percepção consciente assimila e analisa, julgando interessante e agindo passiva
ou ativamente, ou descartando na seqüência.
E se este movimento mental, contenedor de alguma resposta, passa a se
repetir constantemente e a pessoa aceita a fixação do Novo Padrão, há mais chances
de uma ação efetiva de modificação de sua problemática, mas nenhuma garantia
além das que a vida encerra em si. E há aqui uma parte do Paradigma da
Singularidade fazendo efeito.
Algumas vezes a mudança ocorre em um extremo ato pela sobrevivência,
em que uma Partilhante descobre que a vontade de parar de apanhar, por exemplo, é
maior do que o Amor que sente pelo namorado. E existencialmente seu sofrimento
será maior por deixá-lo para trás do que as pelas surras que tomava dele.

Mudanças Percepcionais partem de uma modificação funcional da Estrutura


de Pensamento do Partilhante, além, é lógico, de uma mudança em nível
morfológico, quando o cérebro passa a utilizar, um circuito independente na rede
neuronal, em detrimento ao outro que era usado originalmente, causando sofrimento.
Quando não há este circuito, uma trilha nova passa a ser utilizada para suportá-lo
como experiência factual ou simbólica, e toda menção àquilo, passará
conceitualmente por esta nova trilha. “Nem sempre a vida é didática, algumas vezes
não há o que compensar, momento em que é preciso reconstruir velhos modos de ser
ou reaprender novas formas de vida.”(Goya, Will, 2009, p.49)
52

Aqui fica plasticamente determinado se tal experiência/contato é positiva


ou negativa para o Partilhante.
Traumas e dependências podem, por exemplo, estar relacionados a alguma
espécie de hipersensibilidade cognitiva, que repetiria um padrão de Pensamento
(tópico 17) por conta de Termos Agendados no Intelecto (tópico 6) que se formam
relativamente bons ou maus de maneira incontingente, embora possam também não
ter a sua origem em nada disto. Dentre as causas do sofrimento humano, nas suas
mais variáveis formas, uma delas pode estar relacionada a formas cíclicas de resposta
a uma mesma problemática que não se mostra em melhora com o que vem sendo
feito a respeito dela. Estes Padrões, em forma de Armadilhas Conceituais (tópico 17),
que se tornam Impeditivos permanentes de algo importante para o Partilhante,
poderiam ter a solução Possível em gerar-se um contexto de adaptação à esta
Realidade no qual o Impeditivo impera, afim de viver-se desta maneira. É que alguns
Impeditivos imperarão mesmo, e o Filósofo Clínico terá clara noção disto com a
prática Clínica.

“Aceito o desafio, sua função moral obrigatória é conservar-se sempre admirado


perante a infinitude do outro, reconhecendo de uma vez por todas a própria ignorância
sobre as profundidades que nele se ocultam. Deve o filósofo clínico conviver com os limites
de seu conhecimento, com as possibilidades do erro e, principalmente, jamais condenar o
partilhante do consultório e sofrer por medos para os quais não tem defesa”. (Goya, Will,
2009, p.39)

Como quando a pessoa gostaria de mudar o cabelo, mas nunca se adapta a


outro corte de cabelo porque fica literalmente Diferente, desconsiderando que há
uma necessidade cronológica variável para a Mente se adaptar aquilo que já não é
mais como antes. O conceito de Mudança, necessariamente implica que a existência
de algo diferente em si. E mesmo alguns que querem mudar algo esquecem-se disto.
Por fim, a existência do Paradigma da Singularidade, residiria mais em uma
capacidade prática de compreender historicamente os motivos que levam as pessoas
53

a fazerem as coisas que fazem, dizerem as coisas que dizem, viverem as vidas que
vivem, do que para ficar lhes ditando regramentos e estatutos sobre como se
comportar. Já existem Paradigmas o suficiente para isto em todas as sociedades
humanas.
Este padrão de aceitação proposto aqui tem sua limitação na capacidade
percepcional do Filósofo Clínico. Naquilo que sua capacidade de Filosofar lhe diz.
“O filósofo aprende que se a pessoa construiu uma couraça muscular qualquer,
talvez seja a maneira que tenha encontrado de sobreviver, e talvez, em alguns casos,
não se deve pôr a mão”. (PACKTER, 2009, p.68)
Trata-se de uma espécie de sensibilidade. Passa-se a saber com mais
intensidade, enquanto Filósofo Clínico, que conviver com desconfortos é algo que
existe, e isto será parte de seu trabalho. Pode até que com determinadas interseções o
acompanhamento filosófico torne-se existencialmente desconfortável, em níveis
subjetivamente insuportáveis. Por isto “na Filosofia Clínica, como em tudo, a ética
se antecipa às funções teóricas da ontologia.”. (Goya, Will: 2008, p.32).
Os paradigmas atuais, além de serem dicotômicos, não são baseados em
conceitos de Realidades Internas, como o Cientificista que diz que a resposta está na
Matéria, e o Religioso, que diz a resposta estar em Deus.
As novas gerações têm buscado, e buscarão cada vez mais, meio-termos
entre estes dois extremos, aonde habitam com suas Singularidades, e a Filosofia
Clínica pode ser a chave deste encontro se assim quisto.
E a Filosofia Clínica, aparentemente, pode ser assustadora para alguns, sem
saberem que ela não lhes tira nada, porque entende que ter estes outros Paradigmas,
ou não ter Paradigmas, para quem o possa, é parte da condição Humana.
E entendem que também a Filosofia Clínica não lhes dá nada que já não
fosse legitimamente seu.
60

gelados, com a intenção de diminuir a atividade cerebral após surtos psicóticos.


Considerando o incidente da banheira , em que tenta matar seu avô, nas cenas
anteriores, e após isto ter conversado com sua médica, seria de se supor que ela
prescrevesse largactil, pois era o que havia de mais moderno naquele contexto e
sob o ponto de vista da psiquiatria.

5.1 Exames Categoriais. Considerando aqui assuntos imediato e


último, circunstância, lugar, tempo e relação. Deste modo iremos descrevendo a
situação em que se desenrola o filme Leolo.

Assunto Imediato.

Um assunto aparece como imediato


A negação da própria identidade.
Aqueles que confiam única a sua própria verdade, me chamam Leo
Lozeau. (106/ 00: 16: 34,493 -> 00: 16: 38,486)

Ao negar sua própria identidade, nega com isto também a sua


paternidade, porque seu pai é louco, e ele não o é.
Este universo de negação talvez tenha sido o que o levou a considerar
como real um sonho que teve, e que poderia dar pistas de sua verdadeira origem
italiana – em sua imaginação, é claro. Por isto seu nome não seria Leo louzeau,
mas Leolo Lozone uma fusão deste sonho com a realidade.

Desde esse sonho, passei a exigir ser


ser chamado Leolo Lozone.
(00: 05: 40,840 -> 00: 05: 44,83)
61

Por um breve momento poderia ter-se preocupação acerca do desejo de


suicídio

Sinto que devo deixar esta vida


(475/ 01: 02: 36,252 -> 01: 02: 38,254)

Mas não há uma movimentação ou indicação que isto tenha virado de


fato uma variável até o momento conhecido da historicidade de Leolo.
Certamente, pela familiaridade com laços esta seria a forma que ele escolheria,
já que foi assim que tentou matar seu avô também.

5.1.1. Assunto Último

Este ambiente ainda, poder ser a causa de um ciclo, em que se sente


excluído da família, pois “não é louco”, e quanto mais escreve, lê e fomenta
isto, mais abstratamente –tópico de estrutura de pensamento - passa a viver
neste contexto.
Apesar de negar sua identidade , em um movimento totalmente
contraditório, passa a buscar a culpa por isto em sua ancestralidade, sendo isto o
assunto último, em que toma o avô como responsável por aquilo tudo, além do
fato de a família estar toda hora passando por hospitais psiquiátricos. Ou seja,
pela loucura da própria família. Mas provavelmente o fato de Bianca, o amor da
vida de Leolo, se prostituir (mais ou menos) para o Avô de Leolo, foi o que
incomodou mais neste ponto. Ele escreveu certa vez, sobre estar espiando
ambos nestes momentos:

Eu nunca soube se vomitava


ou me masturbava .
Se odiava a menina.
62

ou invejava meu avô.


Eu gostaria de matá-lo.
(443/00: 59: 50,086 -> 00: 59: 52,088)

Também conjectura a este respeito:

Por vezes, no hospital psiquiatrico,


Estava também minha irmã Nanette
minha irmã Rita ...
meu irmão Fernand ...
e meu pai.
Como se o legado de meu avô
Tivesse infectado toda a da família,
E aquela pequena célula extra tivesse se abrigado na cabeça de todos.
“194/ 00: 30: 24,322 -> 00: 30: 27,325”

No desenrolar desta situação tenta matar o Avô, em um momento


descrito da seguinte forma:

Julgado e condenado culpado por todos


os problemas de minha família.
em um momento de desespero agudo,
decidido matar
meu avô, de que eu deveras gostava.
(567/01: 16: 35,090 -> 01: 16: 39,094)

Talvez houvesse aqui uma pontada de mágoa pelo fato de seu avô ter
tentado matar Leolo também afogado em uma piscina quando era criança e de
ele ter um caso com Bianca, o grande amor de Leolo.
63

5.1.2. Circunstância

O filme abordado neste estudo trata-se de uma produção franco-


canadense de 1992 retratando Os subúrbios de Montreal no Canadá, em um
momento da historia chamada de a Revolução Silenciosa, em que grupos de
imigrantes de varias nacionalidade acomodavam-me naquela nova sociedade. A
circunstância é a vivencia de Leolo, com sua família e os desajustes
comportamentais que ocorrem entre eles dentro deste contexto.

5.1.3. Lugar

Sensorialmente tudo se passa em algum lugar da periferia de Montreal,


na casa de Leolo, mas a predominância do lugar permanece sendo em sua
abstração.

5.1.4. Tempo

Durante o filme aparece o Domador de Vermes com uma conta


telefônica na mão. A data ali é 1965.

5.1.5. Relação
Leolo é como se não percebesse exatamente que exista alguma relação
entre ele e o meio em que vive. Não se sente parte daquilo tudo dada a sua
inversividade.
64

5.2 – Análise de tópicos de estrutura de pensamento

1 - Como o mundo me parece.

Este é o meu lugar no bairro Mile-end em Montreal, Canadá.


Todo mundo pensa que eu sou francês canadense.
Porque eu sonho, eu não sou sou.
Porque eu sonho, eu não sou.
Aqueles que confiam única a sua própria verdade, me chamar Leo Lozeau.
(00: 02: 01,621 -> 00: 02: 05,625)

2 - O que acha de si mesmo.

Ninguém tem o direito de dizer


Eu não sou italiano.
(26/ 00: 05: 47,847 -> 00: 05: 51,851)

- Leo! Vá para a cama!


- Leolo! Leolo Lozone! Meu nome é Leolo!
(36/ 00: 07: 26,946 -> 00: 07: 29,949)

Eu encontrei minhas alegrias na solidão.


A solidão é o meu castelo.
É onde eu tenho a minha cadeira,
minha mesa, minha cama,
minha brisa meu sol.
Quanto sento-me fora de minha solidão, eu sento-me no exílio.
Sento-me na terra do faz de conta.
Porque eu sonho, eu não sou.
65

Porque eu sonho, eu não sou.


(59/00: 09: 48,087 -> 00: 09: 51,090)

3. Sensorial & Abstrato

Apesar de viver um mundo de muita abstração, apresenta várias citações


acerca de sua sensorialidade.

Desde que consigo lembrar, minhas primeiras memorias


são ligadas em cheiros e luz.
(79/00: 11: 49,208 -> 00: 11: 51,210)

4. Emoções

Os sentimentos mais relevantes parecem ser, pelo discurso nas cartas de


Leolo, tocados pelo amor que sente por Bianca:

Uma noite, eu finalmente entendi


De onde vinha aquela luz.
era Bianca que, por muito tempo,
Ficava cantando para mim
Lá dos fundos do closet
Tudo que eu tinha que fazer era
ter o tempo para escrever.
Bianca meu amor.
Meu lindo amor.
Meu único amor.
Minha Itália.
(344/00: 48: 14,391 -> 00: 48: 18,384)
66

Ela chorava pela Sicília.


Sua voz lamentosa era quase boa
Na época, os poucos anos
entre nossas idades
Pareciam-me
uma barreira intransponível.
E eu vivi o meu desejo ...
em silêncio.
(208/00: 32: 23,441 -> 00: 32: 26,444)

Mas,

Entre o meu quarto e Sicília, há 6 889 km.


Entre o meu quarto e o de Bianca, existem 5,8 metros.
E ainda... ela está distante demais de mim.
Bianca, meu amor...
Leva apenas três palavras escrever:
Bianca, meu amor.
(28/ 00: 06: 03,863 -> 00: 06: 07,856)

Pelo medo (como emoção) da violência das ruas, em situações semelhantes


a que viveu com Fernand.
Após uma primeira surra de um meliante da região aonde tenta trabalhar,
Fernand passa a fazer exercícios para ficar forte, e com isto proteger-se de outras
surras.
Sobre isto Leolo reflete em suas cartas.

Fernand não sentiria medo de mais ninguém.


E quando meu irmão
67

torna-se uma montanha, eu também não terei mais medo.


E andarei pelas alamedas do mundo.
e direi o aos merdas desta terra o que penso deles.
Maldito aqueles que não se curvem
Quando passarmos.
Mesmo os árabes e os judeus temerão a mim.
De tão alto que serei nos ombros de meu irmão.
(148/00: 22: 55,874 -> 00: 22: 58,877)

Porém , a cena se repete.

Aquele dia, eu entendi o medo que se vive


em nosso mais profundo ser...
e que uma montanha de músculos
ou mil soldados
Podem não fazer nenhuma diferença.
(563 / 01: 16: 41857 -> 01: 16: 45.861)

E também o sentimento de conforto revelado pela presença da proteção que


sentia junto ao Domador de Vermes.

Ele era o Domador de Vermes.


O domador passava as noites cavando
no lixo do mundo.
Somente cartas e fotografias lhe interessava.
Ele levou cada sorriso, cada olhar, cada palavra de amor
cada separação ...
68

como se fosse a sua própria história.


O domador acredita que imagens e palavras
deve misturar-se com as cinzas dos vermes para renascer
na imaginação dos homens.
- Você tem que sonhar, Leolo, Você tem que sonhar.
Levei um longo tempo a entender que ele era a reencarnação de Dom
Quixote.
e que ele decidira combater o isolamento
e me proteger do buraco negro de minha família.
Porque eu sonho, eu não sou.
Porque eu sonho, eu não sou.
(106/00: 16: 34,493 -> 00: 16: 38,486)

5. Pré-juízos.

A negação de sua identidade poderia ser tomada como um prejuízo.

6. Termos Agendados no Intelecto.

Fernand não ficava satisfeito para suas flexões,


Então, ele me pagou para sentar-se em seus ombros.
É assim que eu comecei a tomar gosto pela leitura.
(407/00: 56: 48,905 -> 00: 56: 52,898)
69

Eu não tento lembrar


o que acontece em um livro.
Tudo que eu peço de um livro ...
é que me dê energia
e coragem ...
me diga que não há mais
vida para além da que conheco...
Para lembrar-me
a necessidade de agir.
Havia um único livro
em casa.
Eu nunca quis saber
como ele chegou lá.
Era grosso.
As palavras foram empurrados juntos
e necessário um enorme esforço
para entender seus segredos.
(42/00: 08: 33,012 -> 00: 08: 37,005)

7. Termos: Universal, Particular e Singular

Observa-se no discurso de Leolo a universalização da culpa dos problemas


de sua vida quando aponta seu Avô como responsável por aquilo tudo.

Julgado e condenado culpado por todos


os problemas de minha família.
em um momento de desespero agudo,
70

decidido matar
meu avô, de que eu deveras gostava.
(567/01: 16: 35,090 -> 01: 16: 39,094)
8. Termos unívoco e equívoco.

Ocorre um termo equivoco com relação à sua paternidade. Supondo que


houvesse um gene da loucura que fosse passado de seu avô para o resto da sua
família, ao afirmar que seu pai legítimo era italiano, logo, se assim fosse, seu avô não
poderia ter esta responsabilidade. Trata-se de um equivoco lógico dentro de um
quadro fantasioso.

9. Discurso: Completo e Incompleto

Os discursos de Leolo são de modo geral todos completo, embora, por vezes
sem sentido.

10. Estruturação de Raciocínio

Leolo não parece muito bem estruturado em seu raciocínio, haja visto tudo o
que invoca em seu pensamento. Não há Associação Coerente de Idéias: quando leva
insetos aos hospital para sua irmã Rita, por exemplo.
Também não apresenta capacidade de Interpretação lógica, literal e via
bom-senso com relação as idéias de matar o seu avô, tanto que colocou a idéia em
prática.
Há um trecho em especial que demonstra como se forma uma Relação
justificável entre termo antecedente e subsequente:

Um jornaleiro grita ao léu.


71

Nesta manha há sangue suficiente para cobrir mil páginas.


E as pessoas o suficiente para comprá-los,
para aplacar sua ira.
Eu pego meu rifle de brinquedo
e atiro nos carros.
Eu olho para baixo
E miro em meu pai.
Quero enterrar uma bomba bem grande
No meio da bunda dele.
Só porque eu estou esperando
o ônibus, e eu estarei esperando na próxima semana.
Eu ainda estarei esperando todos os domingos.
(612/01: 23: 35.510 -> 01: 23: 39.514)

12. Paixões dominantes

Há uma citação que ocorre repetida e numerosamente nas falas de Leolo:

Porque eu sonho, não sou eu.


(4/00: 02: 30,650 -> 00: 02: 34,643)
13. Comportamento & Função

Uma noite, eu finalmente entendi


De onde vinha aquela luz.
era Bianca que, por muito tempo,
Ficava cantando para mim
Lá dos fundos do closet
Tudo que eu tinha que fazer era
72

ter o tempo para escrever.


Bianca meu amor.
Meu lindo amor.
Meu único amor.
Minha Itália.
(344/00: 48: 14,391 -> 00: 48: 18,384)

E:

Tudo que eu precisava fazer era ler ou escrever e ela


Voltava
E cantava para mim.
O domador estava certo.
Havia um segredo nas palavras
Colocadas juntas
Bianca meu amor
meu único amor
meu doce amor.
Bianca meu amor
meu doce amor
meu único amor.
(602/01: 21: 52407 -> 01: 21: 55.410)

Este tópico tem alguma relevância pois haverá um tempo em que Leolo
conhecerá Regina, e após isto, Bianca para de aparecer em seus sonhos. Com isto
conclui que Bianca o está punindo.

Eu não tive a coragem


De amar Bianca.
73

Então, dei um jeito de me aliviar


com Regina.
Às vezes eu passava noites inteiras
Lendo e escrevendo
dezenas de páginas
sem vê-la.
Bianca tinha se tornado
muito exigente.
Ela sabia que eu tinha a traía
com Regina ...
e ela decidiu me punir.
Bianca!
Bianca!
(687/01: 32: 56,070 -> 01: 33: 00,063)

Esta passagem é emblemática, pois é a na cena seguinte que Fernand


encontra Leolo desmaiado, catatônico e vomitado.

14. Espacialidade:

Leolo vive em seu mundo, em total inversão. Não há reciprocas de inversão


em sua Estrutura de pensamento.
Via sensorial faz muitos deslocamentos curtos, mas abstratamente, em
deslocamentos longos, via idéias complexas, é o local aonde ele habita.

15. Semiose

Este é um tópico fortíssimo quando se trata do uso da escrita.


74

Eu comecei a escrever tudo o que passava pela minha cabeça.


A minha família passou a ser personagem
em uma ficção. E eu falo deles como se
fossem estranhos.
(67 / 00: 10: 24,123 -> 00: 10: 28,127)

17. Padrão & Armadilha conceitual

Embora esta fala não seja direta de Leolo, mas uma marcação em um livro
de 1964, chamada a “Devoradora dos Devorados”, o único livro que Leolo tinha em
sua casa, segundo ele próprio, parece que ele a utiliza para marcar seu lugar no
mundo. Ou seja solitário. Em sua função inversiva total.

Eu encontrei minhas alegrias na solidão.


A solidão é o meu castelo.
É onde eu tenho a minha cadeira,
minha mesa, minha cama, minha brisa meu sol.
Quanto sento-me fora de minha solidão, eu sento-me no exílio.
Sento-me na terra do faz de conta.
Porque eu sonho, eu não sou.
Porque eu sonho, eu não sou.
(00: 09: 48,087 -> 00: 09: 51,090)

19. Tópico de Singularidade existencial

As experiências em que descreve ver luzes ocorrem em alguns momentos,


como quando está sendo afogado por seu avô
75

Meu avô não era um homem mau


No entanto, ele já tinha tentado me matar.
Lembro-me de não ter medo (durante o afogamento).
E sonhando com
a beleza do tesouro.
Talvez porque eu soubesse que já estava morto.
Lembro bem daquela luz como testemunha
que eu vi pela primeira vez.
(172/00: 27: 09,127 -> 00: 27: 13,131)

E quando via Bianca.

Uma noite, eu finalmente entendi


De onde vinha aquela luz.
era Bianca que, por muito tempo,
Ficava cantando para mim
Lá dos fundos do closet
Tudo que eu tinha que fazer era
ter o tempo para escrever.
Bianca meu amor.
Meu lindo amor.
Meu único amor.
Minha Itália.
(344/00: 48: 14,391 -> 00: 48: 18,384)

Este momentos poderiam ser tidos como experiências de singularidade


existencial, embora a experiência em si não parecesse impactante a Leolo, bem pelo
contrário, algo normal e desejável.
76

20. Epistemologia.

Leolo, se não fosse um personagem teria um profundo senso de uso da


palavra escrita. Mas não mostra-se como tópico determinante muito embora haja
questionamentos se aquilo que estão lhe ensinando na escola está certo ou completo.

21. Expressividade

Tópico pouco desenvolvido em modo falado ou até mesmo em termos


faciais, mas utilizando dado de semiose escrito sua expressividade é muito boa.

26. Princípios de verdade

(36/ 00: 07: 26,946 -> 00: 07: 29,949)


Eu encontrei minhas alegrias na solidão.
A solidão é o meu castelo.
É onde eu tenho a minha cadeira,
minha mesa, minha cama,
minha brisa meu sol.
Quanto sento-me fora de minha solidão, eu sento-me no exílio.
Sento-me na terra do faz de conta.
Porque eu sonho, eu não sou.
Porque eu sonho, eu não sou.
(59/00: 09: 48,087 -> 00: 09: 51,090)
77

27. Análise da estrutura

Leolo tem uma estrutura de pensamento rígida, com o tópico 1 (como o


mundo parece) bem determinado e o tópico dois ( o que acha de si mesmo) mais
ainda. Sua abstração também é muito forte, além do tópico emoções.
Porém sua comprometida estruturação de raciocínio o faz viver em um
universo de medo. Para lidar com isto utiliza como recurso o dado de semiose
escrito.
Passa então por meio de ideias complexas a negar a própria identidade.
Isto faz com que Leolo seja contraditório, confuso, destrutivo e
autodestrutivo.

28 – Intersecções de estrutura de pensamento.

Este é um tópico dos mais importantes na configuração de Leolo. Tanto que


em todo o filme há um momento dedicado a cada um de seus familiares. Embora seja
harmoniosa com as irmãs, poderia revelar certa frustração com Fernand, ódio do pai
e do avô, e um profundo amor pela mãe.

Raramente estávamos todos juntos


em casa. E nós pareciamos como
uma família de verdade.
(215/00: 33: 21,499 -> 00: 33: 25,503)
30. Autogenia

A estrutura de pensamento de Leolo é perturbada pela presença de seu avô e


pelo sentimento que nutria por Bianca. Há ainda o medo que passou a sentir nas ruas
78

por conta das situações de Fernand. Porém tudo fica pior com todas estas interseções,
pois Fernand apanha novamente, tenta matar o avô, e Bianca não aparece mais.
Relação Tópica
Choques com seu avô e com os perigos da rua.
Boa associação com o Domador de Vermes.

5.3 TÓPICOS DETERMINANTES.

1. Como o mundo me parece.


2. O que acha de si mesmo.
3. Sensorial & Abstrato. Fortíssima abstração.
4. Emoções. Amor medo e ódio.
6. Termos Agendados no Intelecto.
14. Espacialidade. Fortíssima inversão.
15. Semiose. Dado escrito.
26. Princípios de verdade
28. Intersecções de estrutura de pensamento

5.4 SUBMODOS UTILIZADOS.

Leolo utiliza predominantemente os seguinte submodos.

6. Em direção ao desfecho.

Julgado e condenado culpado por todos


os problemas de minha família.
em um momento de desespero agudo,
decidido matar
meu avô, de que eu deveras gostava.
79

(567/01: 16: 35,090 -> 01: 16: 39,094)

Talvez eu devesse colocar uma bomba


no meu nariz
e explodir os meus pensamentos
por todo o lugar.
Os bastardos ...
Com certeza iria chocar-se ao me ver
Explodindo antes de recuar.
(01: 25: 01596 -> 01: 25: 04.599)

7. inversão.

Nesta cena a família está toda no hospital psiquiátrico, em reunião


terapêutica com sua médica:

Bom Dia.
Quem fala primeiro hoje?
Por que não você, Leo?
Porque meu nome é ...
Leolo Lozone.
E porque você não fala
Com as pessoas que você não conhece.
(202/00: 31: 01,359 -> 00: 31: 05,352)
80

10. argumentação derivada.

Certamente a argumentação derivada de Leolo parte do questionamento do


porque de sua realidade. Quando ele fala de julgar e condenar seu avô, isto
não deixa de ser uma resposta neste molde. Porque minha vida é de tal
maneira: porque tenho um avô do qual derivo e este é a causa de minha
existência, ainda que por momentos negue esta paternidade alegando ter
descendência de um italiano.

14. deslocamentos longo

A autogenia de Leolo se baseia em deslocamentos longos. Sua realidade é


vivida a partir deste prisma

22. vice conceito

Há significações mais profundas nas palavras de Leolo do que elas possam


significar. Este é um recurso muito presente na própria poesia que ele tenta
elevar.
Como por exemplo:

Você minha senhora de intrépida Melancolia


De choro solitário perfurando minha carne Entregando-a ao tédio
Assombra minhas noites Quando não sei
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qual o caminho seguir na vida.


Eu te paguei cem vezes com as brasas do pensamento
Deixado atrás das cinzas da sombra de uma mentira
Que tu mesmo me obrigaras a ouvir.
A plenitude branca (luz de bianca?)
Minuto da eternidade era uma morena de cabelos escuros
Que rasgou minha dor com o peito fino e sagrado em quem eu acreditava
deixando apenas o remorso de ver o sol subir na minha solidão.
(734/01: 39: 24,458 -> 01: 39: 25,459)

5.5 PLANEJAMENTO CLÍNICO

Planejamos uma ação fundamental neste processo, haja vista o


que a história de Leolo mostra e demanda.
Trabalhar sobre o tópico expressividade para que se tenha acesso a
informações que permitam realizar enraizamentos e criar dados divisórios mais
concisos, não esquecendo que esta analise parte da historia de um filme,
portanto ficcional, mas que teria tudo para ser uma historia humana real.
Com primeira medida neste processo seria que se tratasse Leo por
“Leolo”, algo que o Semeador das larvas já havia descoberto ser eficaz para
acessar sua Identidade Dominante, chamemos assim. É interessante observar
que em todas as vezes que a médica de Leolo tenta se aproximar dele por meio
de conversar, a sua única expressão é no sentido de negar ser Leo, exigindo que
seja chamado de Leolo, então as interseções já paravam por ali mesmo.
Este é o tipo de sensibilidade que deve ter o Filósofo Clinico para com
o Partilhante, por meio de reciprocas de inversão que permitam compreender
suas necessidades básicas de comunicação.
Por esta hipótese, conseguindo-se acessar o mundo particular de Leolo,
nisto poderia sugerir um trabalho de descobrimento de sua identidade como
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Leolo utilizando o dado de semiose escrito ou mais informação dirigida por


meio de algumas retroações, a eventos dignos de serem enraizados sempre em
direção às idéias complexas. Então tender-se ia a estabelecer a tomada correta e
ordenada de sua historicidade, determinação dos exames categoriais e dados
divisórios, enraizamentos, planejamento clinico, aplicação de submodos e
observação dos andamentos do trabalho de acordo com a reação do partilhante.
83

6 BIBLIOGRAFIA

PACKTER, LÚCIO. Filosofia Clínica - a Filosofia no Hospital e no


Consultório – Lúcio Packter: São Paulo: All Print editora, 2008.

GOYA, WILL. - A Escuta e o Silêncio - lições do diálogo na Filosofia


Clínica - listening and silence - lessons from dialog in clinical philosophy: tradução
Clare Charity: 2008

AIUB, MÔNICA. O apaixonante exercício do filosofar: Publicado no Jornal


Água Viva: Praia Grande: 2004 p.

_______________ Filosofia Clínica: Intervenções no processo de


pensamento, 2001)

_______________ O tempo em clínica e o tempo da


clínica: (http://www.institutointersecao.com/artigos.): 2002.

_______________ Para entender Filosofia Clínica: o apaixonante exercício


do filosofar. Rio de Janeiro: wak, 2004

_______________ Por que repetimos padrões de pensamento e de vida? 2008


(Coluna Quinzenal no Site Vya Estelar)

REVISTA VEJA: A força da inteligência na sua vida (revista veja , ano 34,
no. 25, pp. 92-99, 2001) (http://www.unesp.br/proex/opiniao/veja1.htm)

PAULO,MARGARIDA NICHELE. Compêndio de Filosofia Clínica: Porto


Alegre: Imprensa Livre, 1999.

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