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Sebastião do RJ
Instituto Superior de Ciências Religiosas e Seminário São José
Apostila do Curso de Liturgia
Curso de Liturgia
Capa.............................................................................. 1
*Aula 1 ................................................................................................ 4
+ O que é Liturgia?............................................................................... 4
+ Liturgia na Bíblia................................................................................ 13
*Aula 2................................................................................................
+ Das primeiras comunidades até o Concílio de Trento.............................. 19
+ Concílio de Trento............................................................................. 27
+ Concílio Vaticano II........................................................................... 33
*Aula 3...............................................................................................
+Espiritualidade da Liturgia .................................................................. 37
+Celebrando a Liturgia......................................................................... 44
+ O Ano Litúrgico.................................................................................. 51
*Aula 4..............................................................................................
+Liturgia das Horas............................................................................ 54
+ A Santa Missa................................................................................. 58
*Aula 5...............................................................................................
+A Santa Missa................................................................................... 58
Bibliografia.......................................................................................... 74
Curso de Liturgia
Profº.: Guilherme Pontes Costa
Aula 1:
O que é Liturgia?
A Liturgia na Bíblia
Aula 2:
Das primeiras comunidades até o Concílio de Trento
Concílio de Trento
Concílio Vaticano II
Aula 3:
Espiritualidade da Liturgia
Celebrando a Liturgia
O Ano Litúrgico
Aula 4:
Liturgia das Horas
A Santa Missa
Aula 5:
A Santa Missa
A palavra liturgia (do grego leitourgia, leiton = povo, popular, e ergon, obra) se usa hoje para
designar a função santificadora e cultual da Igreja.
Além disso, a liturgia contribui de modo decisivo para que “os fiéis expressem em sua vida e
manifestem aos outros o mistério de Cristo e natureza autêntica da verdadeira Igreja” (SC 2, 26,
41; LG 1, 10, 26; PO 5), a Igreja que aparece nas celebrações como “multidão reunida pela
unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (LG 4). O centro da liturgia é o mistério pascal da
gloriosa morte e ressurreição de Jesus Cristo, com a doação do Espírito Santo (cf. SC 5-7; 47; 61).
“Viver da Liturgia que se celebra, significa viver daquilo que a liturgia faz viver: o perdão
invocado, a Palavra de Deus escutada, a ação de graças elevada, a Eucaristia recebida como
comunhão.
A liturgia, sem dúvida, é o modo específico através do qual a Igreja vive de Cristo e por Cristo. As
palavras e os gestos litúrgicos estão a isto ordenados: “Para mim, de fato, o viver é Cristo”.
Na liturgia, o Pai enche-nos das suas bênçãos no Filho encarnado, morto e ressuscitado por
nós, e derrama o Espírito Santo nos nossos corações. Ao mesmo tempo a Igreja bendiz o Pai,
mediante a adoração, o louvor e a ação de graças, e implora o dom do seu Filho e do Espírito
Santo.
Na liturgia da Igreja, Cristo significa e realiza principalmente o seu Mistério pascal. Doando o
Espírito Santo aos Apóstolos, concedeu-lhes a eles e aos seus sucessores o poder de realizar a
obra da salvação por meio do Sacrifício eucarístico e dos sacramentos, nos quais Ele próprio age
agora para comunicar a sua graça aos fiéis de todos os tempos e em todo o mundo.
Na liturgia, realiza-se a mais estreita cooperação entre o Espírito Santo e a Igreja. O Espírito
Santo prepara a Igreja para encontrar o seu Senhor; recorda e manifesta Cristo à fé da
assembleia; torna presente e atualiza o Mistério de Cristo; une a Igreja à vida e à missão de Cristo
e faz frutificar nela o dom da comunhão.
Na liturgia age “o Cristo todo inteiro” (“Christus Totus”), Cabeça e Corpo. Como sumo-sacerdote,
Ele celebra com o seu Corpo, que é a Igreja celeste e terrestre.
A liturgia celeste é celebrada pelos anjos, pelos santos da Antiga e da Nova Aliança, em
particular pela Mãe de Deus, pelos Apóstolos, pelos mártires e por uma “numerosa multidão, que
ninguém” pode contar, “de todas as nações, tribos, povos e línguas” (Ap 7,9). Quando nos
sacramentos celebramos o mistério da salvação, participamos nesta liturgia eterna.
A Igreja, na terra, celebra a liturgia, como povo sacerdotal, no qual cada um atua segundo a
própria função, na unidade do Espírito Santo: os batizados oferecem-se em sacrifício espiritual; os
ministros ordenados celebram segundo a Ordem recebida para o serviço de todos os membros da
Igreja; os Bispos e os presbíteros agem na pessoa de Cristo Cabeça.
Com razão, portanto, a liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus
Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis é significada e, de modo peculiar a cada
sinal, realizada a santificação do homem, e é exercido o culto público integral pelo
Corpo Místico de Cristo, cabeça e membros. Disto se segue que seu corpo que é a
Igreja, é ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é
igualada por nenhuma outra ação da Igreja.
Além de ser obra de Cristo, a liturgia é também uma ação de sua Igreja. Ela realiza e
manifesta a Igreja como sinal visível da comunhão entre Deus e os homens por meio
de Cristo. Empenha os fiéis na vida nova da comunidade. Implica uma participação
“consciente, ativa e frutuosa” de todos.
“A liturgia não esgota toda a ação da Igreja” (SC9), ela tem de ser precedida pela
evangelização, pela fé e pela conversão; pode então produzir seus frutos na vida dos
fiéis: a vida nova segundo o Espírito, o compromisso com a missão da Igreja e o
serviço de sua unidade.
“A liturgia é o ápice para o qual tende a ação da Igreja, e ao mesmo tempo é a fonte donde
emana toda a sua força.” (SC 10)
Anamnese Epiclese
(memorial) (invocação)
Doxologia
(glorificação)
Sacramentais
(Bençãos, Celebração da
O Ano Litúrgico
encomendação Palavra
dos mortos, etc.)
Quanto aos Sinais Sacramentais, alguns provêm da criação (luz, água, fogo, pão, vinho,
óleo); outros da vida social (lavar, ungir, partir o pão); outros da história da salvação na Antiga
Aliança (os ritos da Páscoa, os sacrifícios, a imposição das mãos, as consagrações). Estes sinais,
alguns dos quais são normativos e imutáveis, assumidos por Cristo tornam-se portadores da ação
salvífica e de santificação.
Cristo confiou os sacramentos à sua Igreja. Eles são “da Igreja” num duplo sentido: enquanto
ação da Igreja, que é sacramento da ação de Cristo, e enquanto existem “para ela”, ou seja, em
quanto edificam a Igreja.
Os sacramentos não apenas supõem a fé como também, através das palavras e elementos
rituais, a alimentam, fortificam e exprimem. Ao celebrá-los, a Igreja confessa a fé apostólica. Daí
o adágio antigo: “lex orandi, lex credendi”, isto é, a Igreja crê no que reza.
Os sacramentos são eficazes ex opere operato (“pelo próprio fato de a ação sacramental ser
realizada”), porque é Cristo que neles age e comunica a graça que significam,
independentemente da santidade pessoal do ministro, ainda que os frutos dos sacramentos
dependam também das disposições de quem os recebe.
Embora nem todos os sacramentos sejam conferidos a cada um dos fiéis, eles são necessários
para a salvação dos que crêem em Cristo, porque conferem as graças sacramentais, o perdão
dos pecados, a adopção de filhos de Deus, a conformação a Cristo Senhor e a pertença à Igreja.
O Espírito Santo cura e transforma aqueles que os recebem.
Nos sacramentos, a Igreja recebe já as arras da vida eterna, embora “aguardando a ditosa
esperança e manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” (Tit 2,13).
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PAI
FILHO
ESPÍRITO SANTO
IGREJA NO MUNDO
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Quem celebra a liturgia é o “Cristo Total” (Cristo + Corpo Místico). Toda liturgia
faz com que nós entremos em contato com a Redenção. É Cristo que faz, mas faz
com a Igreja.
“Cristo ressuscitado mostra ao homem, o que é ser homem”. (GS 22) “A graça do
mistério pascal pode chegar a todos por um mistério somente conhecido por
Deus”.
O ESPÍRITO SANTO:
PREPARA
LEMBRA
ATUALIZA
UNE
FRUTIFICA
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Como nos lembra a carta aos Efésios (1,4), o plano de Deus de nos salvar é eterno, já existente
antes da criação do mundo. A realização desse plano acontece ao longo da história da salvação,
que culminou em Jesus Cristo, particularmente com sua morte e ressurreição, e terá seu término na
vinda gloriosa do Senhor no fim dos tempos.
Para compreendermos bem o lugar da liturgia na história da salvação, faz-se mister vê-la no
Antigo Testamento e na vida de Jesus e, de modo particular, como celebração do mistério pascal,
para assim entendê-la em seu valor histórico-salvífico, isto é, como momento da história da
salvação.
O início da liturgia do povo da antiga aliança pode ser visto no Livro do Êxodo, que descreve
como Deus escolheu um povo e fez dele povo sacerdotal. Quando Israel tinha saído do Egito,
passando pelo mar Vermelho, e se encontrava no deserto, Deus quis fazer com ele uma aliança.
Ele chamou Moisés e lhe disse: “Assim dirás à casa de Jacó e declararás aos filhos de Israel: ‘Vós
mesmos vistes o que eu fiz aos egípcios, e como vos carreguei sobre asas de águia e vos trouxe a
mim. Agora, se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim uma
propriedade particular entre todos os povos, porque toda a terra é minha. Vós sereis para mim um
reino de sacerdotes e uma nação santa’. Estas são as palavras que dirás aos filhos de Israel” (Ex
19,3-6).
O que Deus exige do povo é que ouça sua voz e guarde sua aliança. Assim os israelitas serão
um reino de sacerdotes e uma nação santa. Nação “santa” quer dizer: nação consagrada ao
serviço e ao culto do Senhor. Nota-se que a palavra hebraica que significa serviço significa ao
mesmo tempo sacrifício, culto ou liturgia. A liturgia primordial de Israel era, portanto, um culto
espiritual: ouvir a palavra de Deus e vivê-la. Este culto era a liturgia de todo o povo, do povo
consagrado ao serviço de Deus.
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Evidentemente o profeta se refere aqui à liturgia do templo, que não era expressão da atitude
e da vida do povo. Existia um divórcio entre a vida do povo e os sacrifícios oferecidos no templo.
Israel não obedecia à palavra de Deus, e assim os sacrifícios não eram expressão de entrega de si
a Iahweh. A luta dos profetas contra esse culto vazio e mentiroso não visava a uma novidade no
culto de Israel, à espiritualização de um culto que no início teria sido material, mas a uma volta ao
culto original, que era profundamente espiritual, embora com possível expressão ritual. Para o
culto ritual ser espiritual, ele deve sempre ser a expressão autêntica de uma atitude interior, da
vida e da história.
Em Jesus de Nazaré, que era em tudo um de nós, exceto no pecado, a humanidade toda ouviu
a palavra do Pai e lhe deu também a sua resposta filial. Jesus aceitou e viveu em perfeita
obediência à vontade do Pai até as últimas consequências. Nele se realizou plena e perfeitamente
o culto espiritual, prefigurado no culto do êxodo e dos profetas. Vejamos isso em alguns
momentos e traços marcantes da vida de Jesus.
Jesus nasceu e cresceu num lar que viveu fielmente as tradições religiosas do povo hebreu.
Lembremos só que Jesus foi circuncidado no 8º dia de sua vida e foi apresentado no templo no
40º dia. Sem dúvida, ele aprendeu com Maria e José a rezar, antes de mais nada cada manhã e
cada noite, o “Shemá Israel”: “Ouve, ó Israel: Iahweh nosso Deus é o único Iahweh! Portanto,
amarás a Iahweh teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força”
(Dt 6,4-5). Era seu costume estar todo sábado na sinagoga (cf. Lc 4,16). E se a Bíblia conta que
aos 12 anos ele foi com Maria e José a Jerusalém, ou que na noite antes de morrer celebrou com
seus discípulos a ceia pascal, podemos concluir que Jesus participou de todas as festas do seu
povo ao longo do ano. E, certamente, como podemos observar sobretudo na última ceia, esses
ritos eram para ele expressão daquilo que viveu e que moveu o seu coração: o amor pelo Pai e
por seus irmãos e irmãs.
Assim Jesus realizou o culto que Deus pediu a seu povo no monte Sinai — adotado pelos
profetas na recondução do povo. Isso ele expressou também muitas vezes, por exemplo, quando
os fariseus o interrogaram: “Por que não se comportam os teus discípulos segundo a tradição dos
antigos, mas comem com as mãos impuras?” Jesus cita o profeta Isaías: “Este povo honra-me com
os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mc 7,5-6). No mesmo sentido ele conversou
com a samaritana no poço de Jacó, anunciando um culto em espírito e verdade (cf. Jo 4,23-24).
Esse culto Jesus realizou em sua vida, sendo obediente até a morte, culto vivido que o Pai aceitou
ressuscitando o seu Filho e exaltando-o à sua direita (cf. Fl 2,6-11). É o mesmo culto que ele
celebrou ritualmente na instituição da eucaristia e nos mandou celebrarem sua memória. É claro
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As outras religiões dirigem, muitas vezes, seu culto a penúltimas autoridades. É precisamente
por ter conhecimento de que não se pode servir, com imolações de animais, ao verdadeiro e
único Deus, que o homem deixa Deus sem qualquer culto; os sacrifícios pertencem as autoridades
e forças com que se tem de lidar, que são temidas, a que se tem que pedir benevolência, que
devem ser reconciliadas no quotidiano. Israel não desmentiu simplesmente esses deuses,
considerou-os contudo, cada vez mais, como demônios que afastaram o Homem ainda mais pra
longe de si próprio e do verdadeiro DEUS: a adoração pertence somente a Deus, ou seja, isto é o
primeiro mandamento. Ora, na Tora, este único Deus é venerado através de um amplo rito
sacrifical, cuidadosamente prescrito.
Mas, observando a história de Israel mais de perto, detectamos uma outra particularidade que,
finalmente, conduz consequente e intrinsecamente a Jesus Cristo e ao Novo Testamento. Em
conformidade com a leitura teológica do culto, o Novo Testamento é relacionado, numa profunda
consequência, com a antiga aliança. O Novo Testamento é a transmissão substancial,
correspondente ao drama interior do Antigo Testamento, dos dois elementos inicialmente opostos,
unidos na figura de Jesus Cristo, na sua cruz e na sua ressurreição. Visto mais
pormenorizadamente, precisamente aquilo que inicialmente parece ser rompimento, revela-se
como cumprimento, em que inesperadamente desembocam todos os caminhos precedentes.
No Sacrifício de Abraão, ele, na sua obediência, quer, como Deus lhe pediu, oferecer o seu
único filho Isaac, o portador da promessa. Ao oferecê-lo, ele teria dado tudo, pois sem a
descendência, o país que lhe foi prometido perderia o sentido. No último momento, o próprio
Deus o impede de fazer este tipo de sacrifício; em vez disso, ele recebe um carneiro – um cordeiro
macho – que pode oferecer a Deus em substituição do filho. Assim, o sacrifício representativo é
justificado pela própria prescrição divina: Deus dá o cordeiro que Abraão depois lhe restitui “Dos
teus dons e das tuas ofertas” sacrificamos nós, diz o Cânone Romano. Ao que parece esta história
deve ter deixado um estímulo, uma expectativa de um verdadeiro “cordeiro”provindo de Deus e,
precisamente por isso, não um substituto, mas sim uma verdadeira representação em que somos
levados a Deus.
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Ainda no AT: Em 1Sm 15, 22 encontramos, em diversas variações, uma palavra primitiva que
perpassa o Antigo Testamento, até ser retomada pelo Cristo: “ A obediência vale mais que os
sacrifícios e a submissão vale mais que a gordura dos carneiros!” Em Oséias, a palavra surge na
seguinte forma: “A fidelidade à aliança é-me mais cara do que imolações, o conhecimento de
Deus mais caro do que holocaustos” (6, 6).
Na boca de Jesus, a palavra tomou uma forma simples e elementar: “Prefiro a misericórdia ao
sacrifício” (Mt 9, 13; 12, 7). Assim, o culto do templo foi continuamente acompanhado pelo árduo
conhecimento de sua insuficiência. “Se tivesse fome não to diria. Porque meu é o mundo e tudo
que nele existe. Comerei eu, porventura, a carne dos touros, ou beberei o sangue dos cabritos?
Oferece a Deus um sacrifício de louvor e cumpre tuas promessas feitas ao Altíssimo” (Sl 50 [49],
12-14).
Segundo Atos 7, na boca de Estevão expôs, num resplandecente discurso, uma critica radical
do templo que, sem duvida, foi invulgar na sua forma marcada pela ênfase da nova fé cristã;
contudo, dentro da História de Israel, onde a forma concreta dos ritos sacrificiais sempre foi posta
em causa, ela não foi improvisada espontâneamente.
Jesus não diz que demolirá o templo, esta versão foi um falso testemunho contra ele. Mas, ele
profetiza que os seus acusadores o farão. Esta profecia é uma profecia da cruz, pois Ele faz
entender que a dissolução da sua vida terrestre será, ao mesmo tempo, o fim do templo. A sua
ressurreição será o novo início do templo: o corpo vivo de Jesus Cristo, perante Deus, torna-se o
lugar de todo o culto. Ele envolve todos os homens no seu corpo, Ele é a tenda que não é
construída pela mão do homem, o espaço da verdadeira adoração de Deus, Ele redime a sombra
pela verdade. A profecia da ressurreição é, lida na sua verdadeira profundidade, também uma
profecia da Eucaristia: o segredo do sacrificado e, por isso, corpo vivo de Cristo, anuncia-se-nos,
comunica-se-nos, levando-nos assim à união real com Deus vivo. Ainda uma notícia faz parte
deste contexto que se encontra nos três evangelhos sinóticos. Todos eles dizem que no momento
da morte de Jesus o véu do templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo (Mc 15, 38; Mt 27,
51; Lc 23, 45). O que eles querem dizer com isso é: no momento da morte de Jesus, a função do
velho templo é extinta. Ele é “dissolvido”. Ele deixa de ser o lugar da presença de Deus, o
“escabelo” dos seus pés, onde se estabeleceu a sua Majestade. Do ponto de vista teológico, a
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No fim, foi o “zelo” de Jesus que o levou à cruz. Foi precisamente assim que se libertou o
caminho para a verdadeira casa de Deus, “não construída pela mão de Homem”: para o corpo
ressuscitado de Cristo. Cumpre-se também a interpretação que os sinóticos atribuíram à ação
simbólica da profecia de Jesus: “A minha casa será chamada casa de oração para todos os
povos” (Mc 11, 17). Com a demolição do templo, abre-se o novo universalismo da adoração “em
espírito de verdade” (Jo 4, 23) que Jesus anunciou na conversa com a Samaritana, não podendo,
com efeito, o espírito e a verdade ser pensados de modo iluminista e subjetivo; eles tem de ser
vistos do ponto de vista daquele que podia dizer de si: “Eu sou a verdade...” (Jo 14, 6) que Jesus
anunciou na conversa com a Samaritana, não podendo, com efeito, o espírito e a verdade ser
pensados de modo iluminista e subjetivo; eles têm de ser vistos do ponto de vista daquele que
podia dizer de si: “Eu sou a verdade...” (Jo 14, 6)
Considerações mais fundas devem reconhecer que tanto a Sinagoga como também o templo tem
o seu lugar na Liturgia cristã.
A universalidade faz parte do culto cristão. É o culto do céu aberto. Ele nunca é
apenas um encontro de uma comunidade local. A Eucaristia significa muito mais a
entrada na glorificação de Deus que abrange céus e terra e que é iniciada com a
cruz e a ressurreição. A Liturgia Cristã nunca é cerimônia de apenas um determinado
grupo, círculo ou de uma determinada igreja local. O caminhar da humanidade,
rumo a Cristo é o caminhar de Cristo rumo aos homens. A sua vontade é unir a
humanidade e gerar uma única Igreja, uma única reunião de Deus com todos os
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Os primeiros cristãos, conforme narram os Atos, a fração do Pão: “partiam o pão nas casas,
tomando as refeições com alegria e simplicidade de coração” (At 2,46). É sem dúvida o ponto
culminante da assembléia litúrgica, no qual a cristologização do culto adquire sua maior
densidade. Nisto deve-se reconhecer, à luz de outros textos bíblicos, seja a “ágape” = refeição
fraterna, seja a “ceia eucarística” (cf. 1Cor 11,17-34), ainda que não possamos definir, na maior
parte dos textos, trata-se da refeição religiosa ordinária, ou da Eucaristia propriamente dita.
No séc. I, a Eucaristia é celebrada junto com uma refeição, especialmente nas comunidades
de origem judaica. Junto com a refeição há o ensinamento dos apóstolos: as comunidades
primitivas começavam por uma didaché, que compreende a recordação das palavras e ações de
Jesus, como certamente a leitura do AT à luz do cumprimento de Jesus; a comunhão fraterna
(koinonia): a refeição em grupo e o serviço de ajuda mútua (coleta de donativos para os mais
necessitados). Percebemos nitidamente esta preocupação com a conexão entre refeição
comunitária e ajuda aos pobres em 1Cor 11,17-34. Essa conexão interna entre a refeição
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Enquanto que nos primeiros séculos as características do culto cristão são ainda vagas e
tênues, a partir do século III se mostram muito mais vigorosas e claras. Existe um certo
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“No dia que se chama do Sol, celebra-se uma reunião de todos os que habitam nas cidades
e nos campos. Nela se lêem, à medida que o tempo o permita, as Memórias dos Apóstolos ou os
escritos dos profetas. Em seguida, quando o leitor termina, o presidente, em suas próprias
palavras, faz uma exortação e um convite para que imitemos esses belos exemplos. Levantamo-
nos seguidamente todos de uma vez e elevamos nossas preces; quando terminam, como já
dissemos, oferecem-se pão, vinho e água e o presidente, segundo suas forças, também eleva a
Deus suas preces e eucaristias e todo o povo aclama dizendo: Amém. Prosseguindo vem a
distribuição e participação dos alimentos eucaristizados e o seu envio, por meio dos diáconos,
aos ausentes. Os que tem bens e querem, cada um segundo sua livre determinação, dão o que
bem lhe parece; e o que é recolhido é entregue ao presidente, que com ele socorre órfãos e
viúvas, aos que, por enfermidades ou outras causas, estão necessitados, aos que estão nos
cárceres, aos forasteiros de passagem. Em uma palavra, ele se constitui provedor dos quantos se
acham em necessidade. Celebramos essa reunião no dia do Sol por ser o primeiro dia, no qual
Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, bem como por ser o dia em que Jesus
Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos (Apologias 65 e 67).
Por volta de 215, na Tradição Apostólica atribuída ao presbítero romano Hipólito, pela
primeira vez encontramos alguns textos litúrgicos na regulamentação eclesiástica. Ele, como
representante dos círculos conservadores, procura preservar a tradição de falsificações. Mesmo
tradicional, ele reconhece o direito de livre formulação por parte do Bispo, se este se julgar à
altura. Ele deixou escrita uma fórmula de oração eucarística. A sua oração foi adaptada aos
nossos tempos e é mais ou menos a atual Oração Eucarística nº 2.
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A instituição catecumenal é uma das mais acabadas realizações da Igreja nos séc. II e III; é o
desenvolvimento estruturado do que estava, em germe, presente no Novo Testamento. Motivos de
sua instituição: a importante ação evangelizadora e a forte vontade de manter a “qualidade” dos
novos convertidos e das jovens comunidades cristãs; mas também a ameaça crescente das seitas
heréticas. Segundo Hipólito, o catecumenato vem a ser um longo tempo de formação religiosa,
que costuma durar três anos e que se caracteriza por um duplo exame: a) Entrada no
catecumenato: admissão e triagem dos candidatos. Estes devem ter como fiador (padrinho) um
cristão conhecido, que possa dar garantia inicial da vontade de conversão do aspirante; b)
Formação doutrinal: período de catequese, garantida pelos “doutores”, que podem ser tanto
eclesiásticos como leigos; c) Preparação precedente ao batismo: o candidato, pela ajuda do
fiador dá provas de sua conversão a Cristo, através da prática do amor, na visita aos doentes e
na ajuda às viúvas. Ritos:
No momento em que o galo canta, serão feitas orações, em primeiro lugar sobre a água... Eles se
desnudarão, e serão batizadas, primeiramente, as crianças. Todos os que puderem falar por si
mesmos o farão. Com relação aos que não possam, seus pais falarão, ou algum membro da
família. Depois serão batizados os homens e, por fim, as mulheres... No momento fixado para o
batismo, o bispo dará graças sobre o óleo... E o presbítero, tomando cada um dos que recebem
o batismo, lhe ordenará que renuncie dizendo: “Renuncio a ti, Satanás, a toda a tua pompa e a
todas as tuas obras”. Depois que cada um tiver renunciado, (o presbítero) o unge com óleo de
exorcismo, dizendo: “Que todo espírito maligno se afaste de ti”. Dessa maneira, o confiará
desnudo ao bispo ou ao presbítero que se encontra perto da água para batizar. Um diácono
descerá com ele dessa maneira. Quando o que é batizado tiver descido na água, aquele que
batiza lhe dirá, impondo-lhe a mão: “Crês em Deus Pai Todo-poderoso?” e aquele que é
batizado dirá, por sua vez: “Creio”. E então (aquele que batiza), tendo a mão posta sobre sua
cabeça, o batizará uma vez. E depois dirá: “Crês em Jesus Cristo, Filho de Deus, que nasceu do
Espírito Santo da Virgem Maria, foi crucificado sob Pôncio Pilatos, morreu e ressuscitou ao terceiro
dia vivo dentre os mortos, subiu aos céus e está sentado à direita do Pai; que virá julgar os vivos e
os mortos?” e quando (o que é batizado) tiver dito: “Creio”, será batizado pela segunda vez.
Novamente (o que batiza) dirá: “Crês no Espírito Santo, na Santa Igreja?” O que é batizado dirá:
“Creio”, e assim será batizado pela terceira vez. Depois, quando tiver subido, será ungido pelo
presbítero com o óleo de ação de graças com estas palavras: “Unjo-te com óleo santo em nome
de Jesus Cristo”. Assim, cada qual, tendo-se enxugado, voltará a vestir-se e, depois disso
entrarão na igreja...
Hipólito menciona repetidas vezes uma série de ritos pós-batismais realizados pelo bispo:
imposição das mãos com invocação, unção com óleo de ação de graças, marca na testa e beijo
da paz. Depois os neófitos se unem à comunidade dos fiéis e participam com eles da eucaristia.
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O Culto cristão na Igreja do Império (313-590) – De Constantino a Gregório Magno: A igreja tem
diante de si a imensa tarefa de transformar o mundo pagão num mundo cristão. A nova situação
não traz só benefícios, mas também problemas. A liberdade e a tranqüilidade de que agora goza
influem na qualidade de seus numerosos adeptos. São abundantes as infiltrações do paganismo
na base e as intromissões políticas nos dirigentes da Igreja. Além das esplêndidas “Basílicas”,
construídas sobretudo, com a ajuda do imperador e de membros da sua família, os Bispos são
equiparados aos mais altos funcionários do Império.
Neste período vemos o florescer e a rápida expansão do monacato. Esta instituição vem,
em certa medida, substituir o martírio da época precedente. A “fuga do mundo” procura suprir,
com renúncia e mortificação, a entrega do martírio; como explicarão mais tarde os monges
irlandeses, o martírio branco substituiu o martírio vermelho.
Durante mais de três séculos, a liturgia de Roma foi celebrada em grego. A latinização da
Igreja de Roma realizou-se de maneira progressiva, passando necessariamente por uma época
de bilingüismo. A passagem do grego para o latim viria a ser efetuada no pontificado do papa
Dâmaso (366-384). Até o séc XX elas permaneceriam no latim.
Gregório Magno – nobre e solidamente formado nas artes e no direito, eleito prefeito de
Roma, renuncia e torna-se monge. Eleito bispo, desenvolveu uma ação pastoral muito atenta à
psicologia e às necessidades do povo. Deu muita importância à liturgia como meio de catequizar
o povo, como manifestam suas homilias. Desejoso de que toda a liturgia servisse de fato de
alimento espiritual para aquele povo simples e inculto, realizou com grande liberdade uma
profunda renovação litúrgica, orientada para esta finalidade pastoral. Realizou diversas reformas
no lecionário, no sacramentário e no antifonário. Na área do canto e da expressão musical,
reforçou a schola cantorum, e com isso, o lado espetacular da liturgia cara ao povo. Junto as
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“Tem sempre presente a tradição da Igreja Romana, na qual foste educado, e ama-a sempre.
Mas a mim me agrada que, se encontras na Igreja Romana, ou nas da Gália, ou em qualquer
outra, alguma coisa que possa agradar mais a Deus onipotente tu a recolhas com todo o cuidado
e o leves à Igreja da Inglaterra, ainda tão jovem na fé, juntando tudo quanto hajas podido reunir
das diversas Igrejas. Pois tens de amar, não as coisas pelos lugares, mas os lugares pelas coisas
boas que há neles. Assim, pois, escolhe de cada Igreja o que é de piedoso, de religioso e de reto
e, tendo tudo isso reunido como num ramalhete, oferece-o como tradição à mente dos ingleses”.
Na história da Igreja, é o período em que o cristianismo se propaga por toda a Europa. Nestes
quatro séculos, as transformações são lentas no Ocidente, em quase todos os níveis. E no entanto,
esses séculos mostram ser uma fecunda gestação para o futuro da Igreja.
Nos séculos VII-VIII, há uma grande influência de orientais fugitivos para a Itália; o domínio
oriental afeta profundamente a vida eclesiástica, de maneira que sete papas orientais ascendem
à sede de Pedro entre os anos 642-752. A liturgia romana recebe neste momento o impacto das
influências orientais: a introdução na missa do Agnus Dei, a adoração da cruz na sexta-feira e a
aceitação das festas marianas (Assunção, Natividade, Purificação e Anunciação). No séc IX, a
situação romana chegara a ser deplorável em muitos aspectos, incluindo aí o litúrgico. A vida
litúrgica estava ameaçada de morte.
Neste período acontece o progressivo afastamento entre o povo e a ação litúrgica. A partir do
séc. VI, generaliza-se o batismo de crianças. A iniciação cristã, que em épocas anteriores fora
objeto de celebração solene e comprometida de toda a comunidade, em datas relevantes do ano
litúrgico (Páscoa, Pentecostes), passará paulatinamente a ser um assunto individual ou familiar. A
instituição penitencial não-reiterável é substituída por uma nova disciplina penitencial.
Neste momento crítico, a Igreja franco-germânica salva a liturgia romana para a própria Roma
e para o mundo inteiro. No ano 754, Pepino, O Breve, decreta a adoção da liturgia romana em
todo o Império Franco. Os motivos dessa introdução da liturgia romana devem ter sido vários:
politicamente buscava-se uma unidade mais profunda de todo o Império por meio de uma liturgia
única e uniforme..., combater as liturgias regionais, especialmente a gálica.
O rito romano, usado só em Roma e arredores, vem a ser com Carlos Magno (coroado
imperador do Império Franco-germânico, no ano 800) o Rito usado em quase todo o ocidente.
Carlos Magno, movido pelo apreço que ele tinha pela liturgia e considerando-se custódio da
doutrina e defensor da fé cristã por volta do ano 783, pediu ao Papa Adriano I um sacramentário
autenticamente romano. Ele tinha a idéia de unificar o Reino no seu culto. No entanto, alguns
lugares conservaram seus ritos como Milão (Ambrosiano), Aquiléia, Ravena, Gália, Espanha. Da
época Carolíngea até São Gregório VII, acontece o deslocamento do centro de vitalidade da
liturgia romana de Roma à sede da Corte imperial, dos Carolíngeos e posteriormente dos
Otonianos. A divisão do império franco a partir do séc. IX terá, como conseqüência,
desenvolvimentos litúrgicos divergentes entre a parte oriental e a parte ocidental do império.
24
Os séculos IX e XI viveram uma forte controvérsia sobre o modo de explicar a presença real de
Cristo na eucaristia. Acentuou-se a tensão entre o “realismo” e o “simbolismo”. Pascásio de
Radberto (Monge de Corbie), no seu tratado sobre a eucaristia ( De corpore et sanguine Domini,
em torno de 831-833), no realismo da presença de Cristo na eucaristia afirmando que:
O corpo de Cristo presente na eucaristia é o corpo mesmo que nasceu de Maria. É a carne física
de Cristo que vem como que velada sob as aparências do pão e do vinho. As aparências do pão
e do vinho são como que um envelope que escondem a carne e o sangue reais. Se fosse possível
tirar este envelope a carne o e sangue de Cristo apareceriam na sua consistência natural. Ele diz
que na comunhão recebemos a natureza humana e divina de Cristo e pelo metabolismo natural
da digestão, ele é assimilado e se transforma em carne e sangue do fiel.
Este texto encontra imediatamente reação da parte de um outro monge do mesmo mosteiro
chamado Retramno, mas a reação mais forte veio no século XI, com Berengário de Tours, que
nega categoricamente a presença da Cristo na eucaristia, dizendo que ela é uma simples
representação, uma simples figura de Cristo, deslanchando assim, um movimento teológico de
remarcável importância na Idade Média e até os dias de hoje. Negando a presença real de
Cristo na Eucaristia, ele não é somente considerado como herético, mas como heresiarca, chefe
de uma escola que se perpetua no tempo. Em 1059, no sínodo romano foi imposto a professio
fidei a Berengário, que dois séculos depois foram consideradas excessivamente “sensualistas” e
criticáveis por São Boaventura e São Tomás de Aquino.
Toda esta controvérsia, distancia cada vez mais o povo da eucaristia, chegando ao ponto de
não comungarem mais. A eucaristia de alimento passa a ser unicamente objeto de adoração, o
altar, de mesa de refeição sagrada passa a ser unicamente “altar de sacrifício”, o padre de
pastor e presidente da celebração da eucaristia passa a ser somente “sacrificador de Cristo”, e
único com dignidade para receber o Cristo eucarístico. No IV Concílio de Latrão (1215), a Igreja se
viu obrigada a introduzir a lei de que cada cristão deveria ao menos comungar uma vez no ano.
Gregório VII, em sua reforma litúrgica teve também como perspectiva a moralização do clero.
Neste contexto explica-se o específico interesse pela liturgia, interpretada, porém, como
atividade própria e quase exclusiva do ministério sacerdotal. A liturgia em verdade, exige, de
quem tem o dever de presidi-la, dignidade e coerência de vida.
25
Os ideais de unidade litúrgica do Ocidente, cultivados por Gregório VII, se consolidam nos
séculos seguintes pela atuação de outros papas, como por exemplo Inocêncio III (1198-1216) que
se empenha na reforma dos livros litúrgicos. O sacerdote vem a ser o único verdadeiro ator,
enquanto os fiéis assistem passivamente. Para ser mais prático, evitando o incômodo de vários
livros litúrgicos ao mesmo tempo (Sacramentário, Lecionário, Antifonário, etc.), ele resolveu juntá-
los num livro só, chamando-o de Missal Pleno, (que foi amplamente difundido por toda a Europa
pelos pregadores itinerantes da recém fundada Ordem Frades Menores). Este Missal era próprio
para ser usado pelos padres nas missas privadas e tarifadas que neste tempo se tornaram de uso
comum.
A Santa Missa como benefício para vivos e mortos torna-se o tema fundamental da pregação
sobre a missa, enumerando-se os frutos dela obtidos, mesmo com a mera assistência. Esses “frutos
da missa” adquirem um perfil cada vez mais materializado; como a multiplicação de missas
votivas, as missas gregorianas, aumentando desmesuradamente o número de “altaristas”, um
proletariado clerical (de baixa qualidade) que vive praticamente de salários. No final do séc. XV,
Breslau, tinha para duas Igrejas, 236 padres altaristas. Isso tudo incorreu em sérios abusos. Já no
séc. XII, Pedro Cantor advertia: “Fazem falta menos igrejas, menos altares, menos sacerdotes,
mas melhor escolhidos”. Isto acarreta uma multiplicação desmesurada de altares laterais dentro
das Igrejas. Em torno do ano 1500, certas catedrais possuíam mais de 40 altares. Não faltaram
reações e resistências em relação ao predomínio das missas privadas. Destaco a exortação feita
por Francisco de Assis aos seus frades: “Advirto os meus irmãos e exorto-os no Senhor que, nos
lugares onde moram, seja celebrada uma só missa por dia, segundo a forma da Santa Igreja. E se
houver vários sacerdotes no lugar, contente-se um sacerdote, por amor à caridade, com ouvir a
missa do outro” (Carta a toda a Ordem 30-31).
É o período em que o povo não comunga mais. Se contenta em ver a eucaristia. Os padres
adotam o costume de elevar a hóstia (1200 – Paris). O que antes era assembléia, caridade,
sacrifício e comunhão, se reduz em somente adoração das espécies eucarísticas. De modo
semelhante, Corpus Christi se converte na festa mais importante do ano litúrgico, solenemente
superior até mesmo à Páscoa...
A liturgia no “outono da Idade Média”. O século que se situa entre dois Concílios ecumênicos,
o de Vienne na França (1311-1312) e o de Constância (1414-1418), marca a manifestação
progressiva de uma acentuada decadência da vida e da espiritualidade litúrgicas. O fato não
deve surpreender se considerarmos os efeitos desastrosos naquele século do exílio de Avinhão
(1305-1377) e do cisma ocidental. Verifica-se uma separação, considerada providencial para
alguns, entre hierarquia e fiéis: a primeira voltada para uma vida mundana e os outros abrigados
numa ardente piedade popular.
26
Considerações gerais
Ao contrario dos humanistas, que criticaram (sem construir) as instituições religiosas, os santos
do século XVI tinham por programa:
não criticar a outrem, mas emendar a si mesmos, não mudar as estruturas da Igreja estabelecidas
por Cristo, mas reformar os homens detentores de cargos e funções; já que o mal estava
principalmente na mundanização do clero, falava-se, antes de tudo, em reforma do clero. Muito
sabiamente dizia o teólogo Egidio de Viterbo na sua alocução introdutória ao Concílio do Latrão
V (1512): “Homines per sacra immutari fas est, non sacra per homines. – os homens é que devem
ser transformados pela religião, e não a religião pelos homens”.
Assim nota-se um paralelo entre o século XVI e os séculos XI-XIII: na Idade Média as forças
renovadoras da Igreja não partiram diretamente do Papado, mas de círculos não pertencentes é
hierarquia (Cluny, Cister, as ordens Mendicantes); também no século XVI o impulso renovador
partiu, antes do mais, das comunidades dadas a acesse e à mística (Carmelitas, Jesuítas,
Teatinos, Capuchinhos, Barnabitas, Angélicas, Ursulinas, Somascos…), que com humildade
aderiram incondicionalmente à hierarquia e ao Papado. Só aos poucos este foi entrando na
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As origens da renovação católica estão na Itália; o terreno, porém, mais fecundo em frutos
para a Igreja Universal foi a Espanha, que produziu não somente santos, mas teólogos e doutores,
que muito trabalharam pelo bom êxito do Concílio de Trento.
Os antecedentes do Concílio:
Em 1534 foi eleito Papa o Cardeal Alexandre Farnese, com o nome de Paulo III (1534-49).
Este caracteriza a transição do Renascimento humanista para a Restauração católica. A sua vida
anterior se ressentiu dos males da época: devia a sua nomeação cardinalicia às relações
ilegítimas de sua irmã Giulia com Rodrigo Borja (futuro Alexandre VI); quando Cardeal, mandou
legitimar quatro filhos naturais. Como Papa, ainda cedeu ao luxo, aos divertimentos e ao
nepotismo.
A consciência de Roma era despertada ainda por outro fato. As ideias revolucionárias
“transalpinas” iam penetrando na Itália, especialmente em Nápoles; as obras de Lutero, Zvínglio,
Calvino e Erasmo difundiam-se entre o clero e o povo, conseguindo a apostasia do Padre Geral
Ochino dos Capuchinhos em 1542; apareciam personagens ambíguos que, sem romper com a
Igreja, se compraziam nas obras dos Reformadores protestantes. Para conter tais avanços, Paulo
III reorganizou a Inquisição, inspirado pelo Cardeal Carafa (futuro Paulo IV) e por S. Inácio de
Loyola: uma comissão de seis Cardeais recebeu a faculdade de nomear sacerdotes “inquisidores”
em qualquer lugar onde o julgasse necessário. Assim se originou a Congregação do Santo ofício,
que, após o Concílio do Vaticano II, tem o nome de Congregação para a Doutrina da Fé, visto
que nada tem de comum com a Inquisição. Esta procedeu energicamente contra os inovadores,
conseguindo exterminar por completo as novas ideias na Itália.
28
As peripécias do Concílio
A presidência do Concílio sempre foi dada aos legados papais, que mantinham estreito
contato com Roma. Já no início do Concílio houve divergência entre o Papa e o Imperador; este
queria que se abordassem logo as questões disciplinares e jurídicas por causa das posições
inovadoras dos protestantes na Alemanha. o Papa, ao contrário, queria começar pelas questões
dogmáticas; ficou finalmente determinado que os dois grandes temas seriam tratados
simultaneamente. – os decretos dogmáticos do Concílio, em suas três sessões, tiveram sempre em
mira o protestantismo, que afirmava:
Muito importante foi a sessão de abril de 1546; definiu, mais uma vez, o cânon da S. Escritura
(que desde 397, Concílio de Hipona, fora definido nos mesmos termos); afirmou que as tradições
apostólicas (ou a Palavra de Deus oral que não foi consignada nas Escrituras) devem ser acolhidas
com o mesmo respeito que as Escrituras; declarou autêntica a tradução latina da Bíblia dita
“Vulgata” (deveria ser considerada isenta de erros teológicos em meio às muitas traduções
tendenciosas da época). Em Janeiro e março de 1547 foi abordada a questão dos sacramentos:
estes não são meros ritos simbólicos, mas são canais transmissores da graça, graça que não é
mero revestimento da alma do pecador, mas que opera uma transformação (justificação)
intrínseca. A vontade humana não é meramente passiva nem escrava do pecado, mas é chamada
a colaborar com a graça de Deus. A Missa é a perpetuação do sacrifício da Cruz sob forma
sacramental.
Já que uma febre contagiosa se propagou em Trento, o Papa transferiu o Concílio para
Bolonha, o Imperador, porém, opôs-se ao traslado de modo que, para evitar maiores males,
Paulo III resolveu suspender o Concílio.
Tendo morrido Paulo III em 1549, teve por sucessor Júlio III (1550-55), que acendeu aos
desejos, do Imperador, de continuar o Concílio em Trento, à revelia dos desejos da França. –
29
Os franceses não tomaram parte nesta sessão por motivos políticos. Todavia apareceram
legados dos príncipes alemães protestantes, que cederam ao convite do Imperador Carlos V,
desde outubro de 1551 até março de 1552. Apesar da boa vontade manifestada pelos católicos,
as negociações com eles ficaram frustradas porque exigiam a ab-rogação dos decretos até então
promulgados e a realização de novos estudos sobre os respectivos assuntos; ainda queriam a
renovação dos decretos dos Concílios de Constança e Basileia sobre o Conciliarismo; por fim,
pleiteavam que os membros do Concílio fossem desligados do juramento de obediência ao Papa.
Pio IV reabriu o Concílio em Trento, apesar da França e da Alemanha, que queriam novo
Concílio em outro lugar, com total abandono das definições e resoluções até então promulgadas.
As discussões neste terceiro período foram muito vivas, pois os príncipes católicos alemães
promulgaram a Comunhão sob as duas espécies e a permissão de casamento para o clero. Esta
última proposição foi enérgica e constantemente rejeitada pelos conciliares, ao passo que a
primeira foi entregue ao juízo do Sumo Pontífice; em 1564 Pio IV resolveu permiti-la sob certas
condições em algumas dioceses da Alemanha; mas em breve caiu em desuso.
O Concílio se encerrou aos 3 e 4/12/1563. Pio IV confirmou os seus decretos pela Bula
Benedictus Deus. Atendendo a um pedido do Concílio, publicou um Index de Livros Proibidos e
uma Profissão de Fé tridentina.
O Concílio de Trento durou mais que todos os outros e foi o que mais dificuldades encontrou
para se realizar. Mas nenhum exerceu influxo tão profundo e duradouro sobre a fé e a disciplina
da Igreja. Verdade é que a unidade de fé não foi restabelecida, mas a doutrina católica foi
elucidada e consolidada em todos os pontos ameaçados. O programa de reforma tridentino foi a
base de renovação do clero e do povo católico, embora a execução desses decretos tenha sido,
por vezes, lenta e controvertida; o Concílio comunicou nova união e confiança aos católicos
abalados pelos acontecimento dos últimos decênios.
O Concílio de Trento foi também o mais papal de todos os Concílios antes do Vaticano I (1870);
preparou assim a via para a definição do primado do Romano Pontífice, definição que no século
XVI seria prematuro, pois ainda eram fortes as tendências a formar Igrejas nacionais. o Concílio
confiou outrossim ao Papa o desejo de que promovesse a publicação de um novo Catecismo, de
um novo Missal e de novo livro de Liturgia das Horas (o que, de fato, foi executado pelos
sucessores de Pio IV).
Numa palavra, pode-se dizer que o Concílio de Trento foi a autoafirmação da Igreja como
sociedade universal de salvação contra as diversas formas de individualismo e subjetivismo que se
faziam sentir fortemente no limiar da Idade Moderna.
Verdade é que em nossos dias o Concílio de Trento nem sempre é aplaudido. Opõem-lhe o
Concílio do Vaticano II, como se houvesse antítese entre um e outro. Ora o Vaticano II se refere
30
Liturgia em Trento:
No decreto que veio a ser aprovado em 17 de setembro, faz-se recair sobre os bispos a
principal responsabilidade pela liturgia da missa. O Concílio que já estava reunido havia
demasiado tempo, confiou ao Papa, na sessão XXV, a reforma do missal e do breviário.
A questão da língua litúrgica foi abordada na sessão XXII, abrindo uma pequena
possibilidade para a língua vulgar, mas conservando a língua latina como expressão da unidade
da Igreja e remédio eficaz contra as heresias:
Embora a missa contenha uma grande instrução do povo fiel, não pareceu aos Padres
que fosse conveniente celebra-la de ordinário em língua vulgar (cânon 9). Por essa razão,
mantido em toda parte o rito antigo de cada Igreja e aprovado pela Santa Igreja
Romana, mãe e mestra de todas as Igrejas, a fim de que as ovelhas de Cristo não
padeçam fome nem os pequeninos peçam pão e não haja quem reparta, ordena o santo
Concílio aos pastores e a quantos caiba a cura de almas, que freqüentemente, durante a
celebração das missas, diretamente ou representados, exponham algo acerca do que se
lê na missa e, entre outras coisas, declarem alguns mistérios desse santíssimo sacrifício,
em especial aos domingos e dias festivos.
A reforma dos livros litúrgicos não tardou a ser realizada. Pio V editou o Breviarium
romanum (1568) e o Missale romanum, que deveria ser a única forma para todas as Igrejas
(1570); Clemente VIII, o Pontificale romanum (1596) e o Cerimoniale episcoporum (1600) e, Paulo
V, o Rituale romanum (1614). Sisto V, criou, em 1588, a Sagrada Congregação dos Ritos com a
missão de vigiar para que o modo prescrito da celebração da missa e das demais partes da
liturgia sejam rigorosamente observados.
32
O Concílio Vaticano II foi anunciado pelo Papa João XXIII no dia 25 de janeiro de 1959, na
Basílica de São Paulo fora dos muros. A intenção da convocação era mais com uma preocupação
pastoral do que dogmática. Na festa de Pentecostes do ano do anúncio, montou-se uma
comissão para elencar os pontos importantes a serem tratados nele. A preocupação da Igreja era
o mundo moderno e modo de dialogar com ele. A comissão escreveu cartas aos bispos do mundo
inteiro para que eles ajudassem, indicando as problemáticas de cada Igreja particular. No dia 05
de junho de 1960, a fase preparatória começou com o objetivo de elaborar esquemas que
pudessem dirigir as reflexões durante o Concílio.
33
Uma coisa é a substância do depositum fidei, isto é, as verdades contidas na nossa doutrina, e
outra é a formulação com que são enunciadas, conservando-lhes, contudo, o mesmo sentido e o
mesmo alcance. Será preciso atribuir muita importância a esta forma e, se necessário, insistir com
paciência, na sua elaboração; e dever-se-á usar a maneira de apresentar as coisas que mais
corresponda ao magistério, cujo caráter é prevalentemente pastoral”.
O Papa Paulo VI, eleito em 21 de junho de 1963, após a morte de João XXIII, teve a missão de
continuar e concluir esta grande empresa. O Concílio se encerrou no dia 08 de dezembro de
1965. O novo Papa teve a missão de implantar as definições conciliares na vida da Igreja –
período chamado de pós-Concílio
Os Documentos conciliares:
Dentro do intuito de não modificar a doutrina, mas aprender a comunica-la através de uma
formulação que atinja o homem de hoje, durante três anos, os Padres Conciliares viveram uma
rotina de estudos, discussões, emendas e votações dos temas que eram propostos até alcançar a
unidade na correspondência com a fé para se promulgar um texto.
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Sacrosanctum Concilium: (1963) A liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus
Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal,
realizada a santificação do homem; e é exercido o culto público e integral pelo Corpo Místico de
Cristo, Cabeça e membros (SC 7). Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao
mesmo tempo, é a fonte donde emana toda a sua força, da é obtida a santificação dos homens
em Cristo e a glorificação de Deus, para a qual, como a seu fim, tendem todas as demais obras
da Igreja (SC 10).
A própria Liturgia, impele os fiéis que, saciados dos “sacramentos pascais”, sejam
“concordes na piedade”; reza que, “conservem em suas vidas o que receberam pela fé”; a
renovação da Aliança do Senhor com os homens na Eucaristia solicita e estimula os fiéis para a
caridade imperiosa de Cristo. Da Liturgia portanto, mas da Eucaristia principalmente, como de
uma fonte, se deriva a graça para nós e com a maior eficácia é obtida aquela santificação dos
homens em Cristo e a glorificação de Deus, para a qual, como a seu fim, tendem todas as demais
obras da Igreja (SC 10).
A Liturgia, pela qual, principalmente no divino sacrifício da Eucaristia, “se exerce a obra
de nossa Redenção”, contribui do modo mais excelente para que os fiéis exprimam em suas vidas
e aos outros manifestem o mistério de Cristo e a genuína natureza da verdadeira Igreja.
Caracteriza-se a Igreja de ser, a um só tempo, humana e divina, visível, mas ornada de dons
invisíveis, operosa na ação e devotada à contemplação, presente no mundo e no entanto
peregrina. E isso de modo que nela o humano se ordene ao divino e a ele se subordine, o visível
ao invisível, a ação à contemplação e o presente à cidade futura , que buscamos (SC 2).
Cristo está sempre presente em Sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas. Presente está
no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, “pois aquele que agora oferece pelo ministério
dos sacerdotes é o mesmo que outrora se ofereceu na Cruz”, quando sobretudo sob as espécies
eucarísticas. Presente está pela Sua força nos sacramentos, de tal forma que quando alguém
batiza é Cristo mesmo que batiza. Presente está pela sua Palavra, pois é Ele mesmo que fala
quando se lêem as Sagradas Escrituras na igreja...(SC 7).
- é uma ação sagrada: quer dizer: ação de uma comunidade – Igreja onde Cristo age. É
sagrada pois comunica Deus e por ela no comunicamos com ele. E aí entra a fé e o amor.
- Ritos sensíveis: esta comunicação com Deus, por Cristo e em Cristo se faz através de sinais e
símbolos, isto é, de forma sacramental.
- O múnus sacerdotal de Cristo: É ele (Cristo) quem age e continua a realizar a obra da
salvação de modo que todos possam realizar a sua vocação sacerdotal recebida no Batismo.
A ação sagrada é de Cristo. Ele é o sacerdote principal – o oferente e a oferta.
- Na Igreja e pela Igreja: Cristo não age sozinho mas se faz presente na e pela ação da Igreja
toda
- Para a santificação do homem e a glorificação de Deus: estes são os dois movimentos de
cada ação litúrgica: o movimento de Deus para o homem – santificação. E o movimento do
homem para Deus – a glorificação.
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"Na constituição dogmática Sacrosanctum Concilium se apresenta diversos aspectos para que
a renovação litúrgica aconteça. Afirma-se no número 21 da SC: “A santa mãe Igreja, para
permitir ao povo cristão o acesso mais seguro à abundância de graças que a liturgia contém,
deseja fazer uma acurada reforma geral da liturgia".
Nesta reforma, porém, o texto e as cerimônias devem ordenar-se de tal modo, que de fato
exprimam mais claramente as coisas santas que eles significam e o povo cristão possa
compreendê-las facilmente, à medida do possível, e também participar plena e ativamente da
celebração comunitária. Nos interessa aqui de modo particular essa frase: o texto e as cerimônias
(da liturgia) devem ordenar-se de tal modo, que de fato exprimam mais claramente as coisas
santas.
36
A liturgia, emoldurada pela história da salvação e qual momento supremo e síntese de toda a
economia salvífica e segundo o Vaticano II, é sempre sob todas as luzes e dom divino à Igreja e
obra de toda a Santíssima Trindade na existência dos homens. Enquanto que o culto religioso era
expressão do desejo, certamente sublime, do homem de aproximar-se de Deus e de invoca-lo
eficazmente, a liturgia cristã faz parte da automanifestação do Pai e de seu amor infinito pelo
homem, por Jesus Cristo no Espírito. A dimensão trinitária na Liturgia constitui o princípio teológico
fundamental de sua natureza, e a primeira lei de toda a celebração. A assembleia litúrgica,
manifestação da Igreja, ícone da Santíssima Trindade, vive e expressa na celebração sua
experiência da vida trinitária. Cada um dos fiéis também participa da comunhão interpessoal do
Pai e do Filho pela presença o dom do Espírito, “uma pessoa em muitas pessoas”.
A liturgia, como santificação do homem e culto a Deus, é realidade dinâmica que se inclui no
quadro da economia divina revelada na Bíblia, segundo a fórmula paulina adotada por
numerosas liturgias para as saudações e começo da oração eucarística: “A graça (cháris) do
Senhor Jesus Cristo, o amor (agápê) de Deus e a comunhão (koinônia) do Espírito Santo (estejam)
com todos vós” (2Cor 13,13), e segundo o não menos famoso axioma patrístico: “Todo dom vem
do Pai, pelo Filho e Senhor nosso Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo, e no mesmo Espírito,
por Jesus Cristo, volta de novo ao Pai”. Com efeito, a salvação vem toda do Pai (cf. 1Tm 1,2; 2,4;
Ef 1,9), é realizada totalmente pelo Filho (cf. Jo 1,18; 3,17; 5, 19.21) e é toda ela cumprida nos
homens pelo Espírito Santo (cf. 1Cor 6,11; 12,13; Rm 8)
Na liturgia Deus é sempre “o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo” (cf. 2Cor 1,3; Ef 1,3) , de
maneira que toda oração litúrgica é sempre dirigida à Ele, como estabeleceram os antigos
concílios norte-africanos, como os de Hipona e Cartago. O Pai é o autor de todo o dom, a fonte e
a plenitude de toda graça, de maneira que toda invocação e toda súplica se dirigem a ele,
porém, outrossim, é o termo de todo louvor e de toda ação de graças. Neste sentido, a liturgia é
expressão da “teologia”, conforme a primitiva práxis patrística e litúrgica, isto é, a confissão das
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Neste sentido, a concepção teológica de Deus e de sua relação com o homem e com o
mundo que a liturgia tem, inspira-se constantemente na Bíblia, mas atribuindo ao Pai toda a
revelação “em atos e palavras” realizada tanto no AT quanto no NT, isto é, como princípio da
ordem da criação e da ordem da redenção. A própria estrutura das orações litúrgicas reflete esta
realidade.
Antes, se falou dos fins da liturgia cristã. E, com efeito, “nesta obra tão grande pela qual
Deus é perfeitamente glorificado e os homens santificados, Cristo associa sempre consigo a sua
amadíssima esposa, a Igreja, que invoca seu Senhor e por ele presta culto ao Pai eterno” (SC 7).
A liturgia possui caráter teocêntrico, de maneira tal que não só a dimensão antropológica – o
homem criado à imagem de Deus e restabelecido em sua dignidade por Jesus Cristo -, mas
também a dimensão cósmica – os céus e a terra e todas as criaturas -, estão orientadas no sentido
de reconhecer a absoluta soberania do Pai e seu infinito amor ao homem e a toda a criação (cf. Jo
3, 16; 1Jo 4,9; Rm 8, 15-39). Finalmente tudo será recapitulado em Cristo e apresentado como
oblação ao Pai. (cf. 1Cor 8, 6; 15, 28; Ef 1, 10).
A manifestação divina na liturgia alcança seu ápice na referência à obra do Filho e Senhor
nosso Jesus Cristo, de maneira análoga à que ocorre no aparecimento do Verbo encarnado na
história salvífica. O símbolo da fé, a oração eucarística e as grandes formas eucológicas
desenvolvem amplamente a “cristologia”, isto é, a presença entre os homens do Filho único e
amado do Pai, revelador do mistério de sua relação filial e doadora do Espírito Santo, o dom da
páscoa do Senhor, para que nós, homens, possamos ser filhos de Deus.
Cristo, acontecimento salvífico na liturgia: Também sob este aspecto, a liturgia se guia
diretamente pela Sagrada Escritura. Cristo é a manifestação visível do Pai, e assim o
considera a liturgia que lê alguns desses textos na solenidade do nascimento do Senhor e
sintetiza esta convicção no Prefácio I deste tempo. Os sinais da liturgia são agora o novo
âmbito externo e histórico da manifestação visível do Filho encarnado do Pai, depois da
glorificação pascal: “o que foi visível em nosso Redentor passou para os seus
sacramentos”
Com efeito, o Filho encarnado do Pai “cuja humanidade, unida à pessoa do Verbo, foi o
sacramento de nossa salvação” (SC 5), uma vez ressuscitado dos mortos, foi constituído “Senhor e
Messsias”, “Espírito vivificante”, para comunicar mais eficazmente a vida divina. Trata-se da
doutrina da presença de Cristo na ação litúrgica, em diferentes modos e graus para levar a termo
a obra da salvação. Esta presença, cujo “âmbito” interno é o Espírito Santo, confere à liturgia
toda a sua eficácia salvífica.
Com base nesta doutrina, pode-se falar de Cristo como “sacramento do encontro com Deus” e
dos sacramentos como “ atos de salvação pessoal de Cristo que se torna presente em ato
simbólico eclesial”. Definitivamente, não existe outro acontecimento salvífico, outro nome em que
possamos alcançar a salvação, “outro sacramento senão Cristo”.
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A patrística está cheia de testemunhos belíssimos de orações dirigidas ao Pai, por meio de
Jesus Cristo, que concluem com doxologias e afirmações como esta: “Cristo ora por nós, ora em
nós e é invocado por nós. Ora por nós como nosso Sacerdote, ora em nós por ser nossa Cabeça e
é invocado por nós como nosso Deus”. Basta, porém, remontar às Orações Eucarísticas das
diversas famílias litúrgicas do Oriente e do Ocidente. Exemplo característico é a Oração
Eucarística I do Missal Romano: Te igitur, clementissime Pater, per Iesum Christum Filium tuum...,
que termina com a dupla doxologia: Per quem haec omnia... Per ipsum et cum ipso et in ipso... O
mesmo ocorre na eucologia menor da Liturgia Romana, cujas orações expressam sempre na
conclusão a mediação sacerdotal de Jesus Cristo: per Christum Dominum nostrum na fórmula
breve, ou per Dominum nostrum Iesum Christum Filium tuum... na longa.
No século IV, na luta contra o arianismo, rompe- se a primitiva práxis da oração dirigida ao
Pai por meio de Jesus Cristo e se começam a dirigir algumas orações a Cristo. No campo da
Liturgia Romana esta orientação encontrou forte resistência, exceto em épocas de decadência
litúrgica e de predomínio do devocionalismo. Até mesmo a primitiva doxologia final Gloria Patri et
Filio et Spiritui Sancto, em que se confessa a igualdade substancial das pessoas divinas em razão
da natureza, soava assim: Gloria Patri per Filium in Spiritu Sancto.
Cristo, objeto do culto litúrgico: Junto com a oração litúrgica orientada para o Pai por
meio de Jesus Cristo, a Igreja nunca deixou de dirigir-se ao seu Senhor, inspirada pelo
Espírito Santo, a fim de lhe dar glória e invoca-lo. A adoração e a veneração diante de
Cristo encontrou na liturgia sua trilha mais nítida na celebração das horas e, de meodo
particular, nas composições poéticas do Antifonário e da Hinologia, sem esquecer a
interpretação cristológica dos salmos. Se o Pai o glorificou, é evidente que a Igreja
também o faça. Esta tradição remonta ao próprio NT, no qual se encontram fragmentos
de hinos cristológicos de singular beleza.
39
Jesus Cristo ocupa, como se pode ver, lugar verdadeiramente de destaque na Liturgia
especialmente romana. Alguns autores ortodoxos reprovaram a teologia católica ´por causa de
“cristomonismo” em detrimento da pneumatologia. O certo é que, excetuados os acentos próprios
de cada tradição teológica, a teologia ocidental em geral não levou demasiado em conta a
liturgia como lócus theologicus, salvo com fins apologéticos em muitos casos. Ao havê-lo feito,
tinha procurado visão mais completa e mais coerente da presença e da missão do Espírito Santo
no mistério da SS. Trindade e na economia da salvação. É verdade, outrossim, que a tradição
litúrgica latina – ocidental de modo geral e não só romana – não possui a riqueza pneumatológica
da tradição grega e oriental – especialmente siríaca -, mas também é certo que se fez esforço
bastante notável nas últimas décadas para pôr em evidência a pneumatologia na Liturgia.
O dom da Páscoa do Senhor: O Espírito Santo é o dom do Pai, entregue a seu Filho Jesus
Cristo como resposta amorosa no mistério pascal, para que ele o derramasse
abundantemente sobre a humanidade redimida. “Dom de Deus”, prometido para os
tempos messiânicos, que repousa sobre Jesus e o guia em sua missão até seu
oferecimento na cruz. É também o dom que o mediador único do culto verdadeiro entrega
à Igreja, para que esta realize, por sua vez, a missão que lhe cabe.
Na realidade, os apóstolos são igualmente guiados pelo Espírito e sob seu impulso dão
testemunho de Jesus e desempenham sua tarefa.
Neste sentido, a liturgia, em íntima conexão com a revelação bíblica, é doação continua do
Espirito Santo que Cristo, presente nas ações litúrgicas, prossegue comunicando aos crentes. O
Espírito Santo é o Espírito do Pai e do Filho que, derramado sobre toda a Igreja é infundido nos
fiéis, realiza a comunhão na vida eterna e inicia o retorno de todos os dons para quem é sua fonte
e seu termo.
Liturgia “no Espírito Santo”: Esta expressão quer dizer, em primeiro lugar, que na liturgia
cristã se realiza “ a adoração no Espírito e na verdade”, mas quer dizer também que não
há liturgia sem o Espírito Santo. A Liturgia põe em evidência esta realidade mediante a
fórmula in unitate Spititus Sancti, que conclui as orações. A expressão permite salientar
tanto a unidade substancial das pessoas divinas quanto a unidade da Igreja que parte do
mistério trinitário e é realizada pelo Espírito Santo.
Por este motivo a oração litúrgica é sempre oração eclesial “no Espírito Santo”, de maneira
que o “nós” que aparece como sujeito da oração e mesmo de toda a celebração, é sempre a
Igreja “congregada pelo Espírito Santo”. “A unidade da Igreja orante é realizada pelo Espírito
Santo, que é o mesmo em Cristo, na totalidade da Igreja e em cada um dos batizados... Não
pode haver oração cristã sem a ação do Espírito Santo, que, realizando a unidade da Igreja, nos
leva ao Pai por meio do Filho.
O mesmo Espírito, com vistas à unidade e à comunhão, habilita os crentes a receber a Palavra
divina e acolhê-la em seus corações. Pela ação do Espírito, que acompanha sempre a Palavra e
vai recordando e guiando para a verdade plena, “ A Palavra de Deus se converte em fundamento
da ação litúrgica e norma e ajuda de toda a vida”.
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d) A festa da SS. Trindade: Celebrada paulatinamente desde o século VIII com caráter
devocional e monástico, até 1334 não foi introduzida no calendário Romano universal, e,
atualmente, se beneficiou amplamente da reforma litúrgica promovida pelo Vaticano II.
Com efeito, não é justo considera-la como “festa de idéias” – a não ser que se
considerem de igual modo as festas do Oriente cristão e até algumas latinas, como Natal
e Ascensão do Senhor, fortementes “teológicas” -, porém, sim, como a síntese do mistério
celebrado durante toda a Cinquentena Pacal e na culminação do domingo de
Pentecostes. Os textos litúrgicos da festa são, em primeiro lugar, as nove leituras do
Lecionário da Missa distribuídas pelos três ciclos, entre as quais sobressaem os
evangelhos que falam da missão do Filho (Jo 3, 16-18, ciclo A), da missão do Espírito (Jo
16, 12-15, ciclo C) e do batismo em nome das pessoas divinas (Mt 28, 16-20, ciclo B). A
estas leituras é mister acrescentar 1Cor 2, 1-16 do Officium lectionis, e os restantes textos
bíblicos das leituras breves e responsórios da Liturgia das Horas, todos eles relacionados
com a revelação do mistério da salvação.
Por sua vez, os textos eucológicos, renovados sobretudo no Missal, giram em torno do prefácio
De SS. Trinitate procedente do Sacramentário Gelasiano, para propor primeiramente a confissão
de fé e o reconhecimento do mistério trinitário. As Antífonas do Ofício, extraídas do Breviarium
anterior, insistem mais nos aspectos da adoração e do louvor divinos. Não são elucubrações
teológicas o que propõem os textos da festa, mas vivências profundas unidas a formulações
centralizadas quase que exclusivamente na unidade divina essencial e na trindade de pessoas,
sem esquecer a presença delas na vida dos crentes e a resposta da fé e da adoração. A festa,
por outro lado, chega facilmente ao povo cristão; prova disto é que corresponde à experiência
espiritual da relação dos crentes com o Deus revelado por Jesus Cristo é comunicado no dom do
Espírito Santo.
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Liturgia celeste e liturgia terrena são dois níveis do mesmo mistério, como ícone, porém
não porque um seja o nível superior e o outro, o inferior, mas porque um está dentro do
outro.
A liturgia terrena contribui deste modo, para apresentar a Igreja como realidade
“humana e divina, visível e dotada de elementos invisíveis... presente no mundo e, não
obstante, peregrina” (SC 2).
Por outro lado, a liturgia celeste é a liturgia eterna ao passo que a liturgia terrena tem
a “aparência deste mundo que passa”. Entre a liturgia celeste e a liturgia terrena existe
um fluxo-refluxo de vida que passa pelo Cristo glorioso, Senhor do tempo e da
eternidade, e chega a toda a Igreja, aos homens e ao universo para resgatá-los da
morte e introduzi-los na glória e no amor frontal do Pai, isto é, na situação dos novos
céus e da nova terra. A “Admirável conversão” eucarística dos dons do pão e do vinho já
preludiam a transformação gloriosa de toda a criação.
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Os sinais e os símbolos ocupam um lugar importante na vida humana. Sendo o homem um ser
ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais através de
sinais e símbolos materiais. Como ser social, o homem tem necessidade de sinais e de símbolos
para comunicar com o seu semelhante através da linguagem. Dos gestos e de ações. O mesmo
acontece nas suas relações com Deus.
Deus fala ao homem através da criação visível. O cosmos material apresenta-se à inteligência
do homem para que leia nele os traços do seu Criador. A luz e a noite, o vento e o fogo, a água e
a terra, a árvore e os frutos, tudo fala de Deus e simboliza, ao mesmo tempo, a sua grandeza e a
sua proximidade.
Enquanto criaturas, estas realidades sensíveis podem tornar-se o lugar de expressão da ação
de Deus que santifica os homens e da ação dos homens que prestam a Deus o seu culto. O mesmo
acontece com os sinais e símbolos da vida social dos homens: lavar e ungir, partir o pão e beber
do mesmo copo podem exprimir a presença santificante de Deus e a gratidão do homem para
com o seu Criador.
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O povo eleito recebe de Deus sinais e símbolos distintivos, que marcam a sua vida litúrgica: já
não são unicamente celebrações de ciclos cósmicos e práticas sociais, mas sinais da Aliança,
símbolos das proezas operadas por Deus em favor do seu povo. Entre estes sinais litúrgicos da
Antiga Aliança, podem citar-se a circuncisão, a unção e a sagração dos reis e dos sacerdotes, a
imposição das mãos, os sacrifícios e sobretudo a Páscoa. A Igreja vê nestes sinais uma
prefiguração dos sacramentos da Nova Aliança.
Na sua pregação, o Senhor Jesus serve-Se muitas vezes dos sinais da criação para dar a
conhecer os mistérios do Reino de Deus. Realiza as suas curas ou sublinha a sua pregação com
sinais materiais ou gestos simbólicos. Dá um sentido novo aos fatos e sinais da Antiga Aliança,
sobretudo ao Êxodo e à Páscoa, porque Ele próprio é o sentido de todos esses sinais.
Sinais Sacramentais:
Depois do Pentecostes, é através dos sinais sacramentais da sua Igreja que o Espírito Santo
opera a santificação. Os sacramentos da Igreja não vêm abolir, mas purificar e assumir, toda a
riqueza dos sinais e símbolos do cosmos e da vida social. Além disso, realizam os tipos e figuras
da Antiga Aliança, significam e realizam a salvação operada por Cristo, e prefiguram e
antecipam a glória do céu.
PALAVRAS E AÇÕES:
Cada celebração sacramental é um encontro dos filhos de Deus com o seu Pai, em Cristo e no
Espírito Santo. Tal encontro exprime-se como um diálogo, através de ações e de palavras. Sem
dúvida, as ações simbólicas são já, só por si, uma linguagem. Mas é preciso que a Palavra de
Deus e a resposta da fé acompanhem e dêem vida a estas ações, para que a semente do Reino
produza os seus frutos em terra boa. As ações litúrgicas significam o que a Palavra de Deus
exprime: ao mesmo tempo, a iniciativa gratuita de Deus e a resposta de fé do seu povo.
A liturgia da Palavra é parte integrante das celebrações sacramentais. Para alimentar a fé dos
fiéis, os sinais da Palavra de Deus devem ser valorizados: o livro da Palavra (lecionário ou
evangeliário), a sua veneração (procissão, incenso, luz), o lugar da sua proclamação (ambão), a
sua leitura audível e inteligível, a homilia do ministro que prolonga a sua proclamação, as
respostas da assembleia (aclamações, salmos de meditação, litanias, confissão de fé...).
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A tradição musical da Igreja universal criou um tesouro de inestimável valor, que excede todas
as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto,
constitui parte necessária ou integrante da liturgia solene». A composição e o canto dos salmos
inspirados, muitas vezes acompanhados por instrumentos musicais, estavam já estreitamente
ligados às celebrações litúrgicas da Antiga Aliança. A Igreja continua e desenvolve esta tradição:
“Recitai entre vós salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai e louvai ao Senhor no vosso
coração” (Ef 5,19). Quem canta, reza duas vezes. (Santo Agostinho)
O canto e a música desempenham a sua função de sinais, dum modo tanto mais significativo,
quanto “mais intimamente estiverem unidos à ação litúrgica”, segundo três critérios principais: a
beleza expressiva da oração, a participação unânime da assembleia nos momentos previstos e o
caráter solene da celebração. Participam, assim, na finalidade das palavras e das ações
litúrgicas: a glória de Deus e a santificação dos fiéis.
“Como eu chorei ao ouvir os vossos hinos, os vossos cânticos, as suaves harmonias que
ecoavam pela vossa igreja! Que emoção me causavam! Passavam pelos meus ouvidos,
derramando a verdade no meu coração. Um grande impulso de piedade me elevava, e as
lágrimas rolavam-me pela face; mas faziam-me bem”
Santo Agostinho, Confissões 9, 6, 14: CCL27, 141 (PL 32, 769-770).
A harmonia dos sinais (canto, música, palavras e ações) é aqui tanto mais expressiva e fecunda
quanto mais se exprimir na riqueza cultural própria do Povo de Deus que celebra. Por isso,
“promova-se com empenho o canto religioso popular para que, tanto nos exercícios piedosos e
sagrados como nas próprias ações litúrgicas”, de acordo com as normas da Igreja, “ressoem as
vozes dos fiéis”. Mas “os textos destinados ao canto sacro devem estar de acordo com a doutrina
católica e inspirar-se sobretudo na Sagrada Escritura e nas fontes litúrgicas”.
Música e Canto:
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A imagem sagrada, o «ícone» litúrgico, representa principalmente Cristo. Não pode representar
o Deus invisível e incompreensível: foi a Encarnação do Filho de Deus que inaugurou uma nova
“economia” das imagens:
“Outrora Deus, que não tem nem corpo nem figura, não podia de modo algum, ser
representado por uma imagem. Mas agora, que Ele se fez ver na carne e viveu no meio dos
homens, eu posso fazer uma imagem daquilo que vi de Deus [...] Contemplamos a glória do
Senhor com o rosto descoberto”.
A iconografia cristã transpõe para a imagem a mensagem evangélica que a Sagrada Escritura
transmite pela palavra. Imagem e palavra esclarecem-se mutuamente:
“Para dizer brevemente a nossa profissão de fé, nós conservamos todas as tradições da Igreja,
escritas ou não, que nos foram transmitidas intactas. Uma delas é a representação pictórica das
imagens, que está de acordo com a pregação da história evangélica, acreditando que, de
verdade e não só de modo aparente, o Deus Verbo Se fez homem, o que é tão útil como
proveitoso, pois as coisas que mutuamente se esclarecem têm indubitavelmente uma significação
recíproca”
Todos os sinais da celebração litúrgica fazem referência a Cristo: também as imagens sagradas
da Mãe de Deus e dos santos. De fato, elas significam Cristo que nelas é glorificado; manifestam
“a nuvem de testemunhas” (Heb 12, 1) que continuam a participar na salvação do mundo e às
quais estamos unidos, sobretudo na celebração sacramental. Através dos seus ícones, é o homem
“à imagem de Deus”, finalmente transfigurado «à sua semelhança», que se revela à nossa fé –
como ainda os anjos, também eles recapitulados em Cristo:
“Seguindo a doutrina divinamente inspirada dos nossos santos Padres e a tradição da Igreja
Católica, que nós sabemos ser a tradição do Espírito Santo que nela habita, definimos com toda a
certeza e cuidado que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da Cruz
preciosa e vivificante, pintadas, representadas em mosaico ou de qualquer outra matéria
apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre as alfaias e vestes sagradas,
nos muros e em quadros, nas casas e nos caminhos: e tanto a imagem de nosso Senhor, Deus e
Salvador, Jesus Cristo, como a de nossa Senhora, a puríssima e santa Mãe de Deus, a dos santos
anjos e de todos os santos e justos”.
“A beleza e a cor das imagens estimulam a minha oração. É uma festa para os meus olhos, e,
tal como o espetáculo do campo, impele o meu coração a dar glória a Deus”. A contemplação
dos sagrados ícones, unida à meditação da Palavra de Deus e ao canto dos hinos litúrgicos, entra
na harmonia dos sinais da celebração, para que o mistério celebrado se imprima na memória do
coração e se exprima depois na vida nova dos fiéis.
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O culto “em espírito e verdade” (Jo 4, 24) da Nova Aliança não está ligado a nenhum lugar
exclusivo. Toda a terra é santa e está confiada aos filhos dos homens. O que tem primazia,
quando os fiéis se reúnem num mesmo lugar, sãs as «pedras vivas» que se juntam para “a
edificação dum edifício espiritual” (1 Pe 2, 4-5). O corpo de Cristo ressuscitado é o templo
espiritual donde brota a fonte de água viva. Incorporados em Cristo pelo Espírito Santo, “nós
somos o templo do Deus vivo” (2 Cor 6, 16).
EDIFÍCIOS SAGRADOS:
ALTAR
TABERNÁCULO
CUSTÓDIA DOS VASOS SAGRADOS
CÁTEDRA
AMBÃO
PIA BATISMAL
CONFESSIONÁRIO
O sacrário deve ser situado, «nas igrejas, num dos lugares mais dignos, com a maior honra». A
nobreza, o arranjo e a segurança do tabernáculo eucarístico devem favorecer a adoração do
Senhor, realmente presente no Santíssimo Sacramento do altar.
O Santo Crisma (myron), cuja unção é o sinal sacramental do selo do dom do Espírito Santo, é
tradicionalmente conservado e venerado num lugar seguro do santuário. Pode juntar-se-lhe o
óleo dos catecúmenos e o dos enfermos.
O ambão: “A dignidade da Palavra de Deus requer na igreja um lugar próprio para a sua
proclamação. Durante a liturgia da Palavra, é para lá que deve convergir espontaneamente a
atenção dos fiéis”.
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A renovação da vida baptismal exige a Penitência. Por isso, a igreja deve prestar-se à
expressão do arrependimento e à recepção do perdão dos pecados, o que reclama um lugar
apropriado para acolher os penitentes.
A igreja deve ser, também, um espaço que convide ao recolhimento e à oração silenciosa, que
prolongue e interiorize a grande oração da Eucaristia.
Finalmente a igreja tem uma significação escatológica. Para entrar na casa de Deus, é preciso
franquear um limiar, símbolo da passagem do mundo ferido pelo pecado para o mundo da vida
nova, à qual todos os homens são chamados. A igreja visível simboliza a casa paterna, para a
qual o Povo de Deus está a caminho e onde o Pai «enxugará todas as lágrimas dos seus
olhos» (Ap 21, 4). É também por isso que a igreja é a casa de todos os filhos de Deus, amplamente
aberta e acolhedora.
Desde a primeira comunidade de Jerusalém até à Parusia, as Igrejas de Deus celebram em toda
a parte o mesmo mistério pascal, fiéis à fé apostólica. O mistério celebrado na liturgia é um só,
mas as formas da sua celebração são diversas.
A riqueza insondável do mistério de Cristo é tal, que nenhuma tradição litúrgica pode esgotar-
lhe a expressão. A história da origem e desenvolvimento destes ritos testemunha uma
complementaridade admirável. Sempre que as Igrejas viveram estas tradições litúrgicas em
comunhão na fé e nos sacramentos da fé, enriqueceram-se mutuamente, crescendo na fidelidade
à Tradição e à missão comum de toda a Igreja.
As tradições litúrgicas ou ritos, atualmente em uso na Igreja, são: o rito latino (principalmente o
rito romano, mas também os ritos de certas igrejas locais, como o rito ambrosiano ou o de certas
ordens religiosas) e os ritos bizantino, alexandrino ou copta, siríaco, arménio, maronita e caldeu.
«Fiel à tradição, o sagrado Concílio declara que a santa Mãe Igreja considera iguais em direito e
dignidade todos os ritos legitimamente reconhecidos e quer que no futuro se mantenham e sejam
promovidos por todos os meios».
A celebração da Liturgia deve, pois, corresponder ao génio e à cultura dos diferentes povos.
Para que o mistério de Cristo seja “dado a conhecer a todos os gentios, para que obedeçam à fé”
(Rm 16, 26), tem de ser anunciado, celebrado e vivido em todas as culturas, de modo que estas
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«Na liturgia, sobretudo na dos sacramentos, existe uma parte imutável — por ser de instituição
divina — da qual a Igreja é guardiã, e partes suscetíveis de mudança que a Igreja tem o poder e,
por vezes, mesmo o dever de adaptar às culturas dos povos recentemente evangelizados».
“A diversidade litúrgica pode ser fonte de enriquecimento, mas também pode provocar
tensões, incompreensões recíprocas e até cismas. Neste domínio, é claro que a diversidade não
deve prejudicar a unidade. Ela só pode exprimir-se na fidelidade à fé comum, aos sinais
sacramentais que a Igreja recebeu de Cristo e à comunhão hierárquica. A adaptação às culturas
exige uma conversão do coração e, se necessário, rupturas com hábitos ancestrais incompatíveis
com a fé católica”.
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51
O Ano Litúrgico é o "calendário religioso". Por ele, o povo cristão revive anualmente
todo o Mistério da Salvação centrado na Pessoa de Jesus, o Messias. O Ano Litúrgico
contém as datas dos acontecimentos da História da Salvação; contudo, não coincide
com o ano civil, que começa no dia primeiro de janeiro e termina no dia 31 de dezembro.
O Ano Litúrgico, por sua vez, começa com o Primeiro Domingo do Advento e termina
na última semana do Tempo Comum, onde se celebra a solenidade de Nosso Senhor
Jesus Cristo, Rei do Universo (Cristo Rei). Em outras palavras, ele começa e termina
quatro semanas antes do Natal, cumprindo sempre três ciclos: A, B,e C. No Ano (ou
ciclo) A, predomina a leitura do Evangelho de São Mateus; no Ano (ou ciclo) B,
predomina a leitura do Evangelho de São Marcos e no Ano(ou ciclo) C, predomina a
leitura do Evangelho de São Lucas. O Ano Litúrgico é composto de diversos "tempos
litúrgicos" e sua estrutura é a seguinte:
Tempo do Advento
Tempo do Natal
Tempo Comum ( Primeira parte )
Tempo da Quaresma
Tríduo Pascal
Tempo Pascal
Tempo Comum
Cores Litúrgicas:
As cores litúrgicas na Igreja Católica Apostólica Romana são reguladas pelo nº. 346 da
vigente Instrução Geral do Missal Romano 1
(doravante, IGMR), 3a. edição típica, promulgada em março de 2002 juntamente com a
nova edição do Missal Romano. A IGMR estabelece que seja sempre observado o uso
tradicional, mas as Conferências Episcopais podem determinar e propor à Santa Sé
adaptações que correspondam às necessidades e ao caráter de cada povo.
As cores aprovadas pela IGMR, segundo o uso tradicional, e seus respectivos tempos de
uso ao longo do ano litúrgico são o branco, o vermelho, o verde, o roxo, o preto e o
rosa. O uso de diversas cores na liturgia da Igreja Católica surgiu dos significados
místicos atribuídos a cada uma delas. Cores não previstas diretamente na IGMR, como
dourado, prateado e azul serão discutidas abaixo.
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Vermelho
O vermelho é usado no Domingo de ramos e na Sexta-feira Santa; no domingo de
Pentecostes, nas celebrações da Paixão do Senhor, nas festas dos Apóstolos e
Evangelistas (com exceção de São João), e nas celebrações dos Santos Mártires.
Simboliza as línguas de fogo em Pentecostes e o sangue derramado por Cristo e pelos
mártires, além de indicar a caridade inflamante.
Verde
O verde se usa nos Ofícios e Missas do Tempo Comum. Simboliza a cor das plantas e
árvores, prenunciando a esperança da vida eterna.
Roxo
O roxo usado no Tempo do Advento e no Tempo Quaresmal.
O Roxo vem acompanhado do sentido de um recolhimento que alimenta uma esperança.
O Roxo na Quaresma: Aqui o roxo se refere a uma profunda interiorização num tempo
forte de penitência e conversão, de jejum e oração.
É também uma espera por um grande acontecimento, que nos convoca a uma
preparação adequada.
Rosa
O rosa, variação mais clara do roxo, representa uma quebra na austeridade do Advento
e da Quaresma, simbolizando uma alegria contida, podendo ser usada nos domingos
Gaudete (III do Advento) e Lætare (IV da Quaresma), ocasiões em que também poderá
ser utilizado o roxo.
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Ela prolonga o mistério de Cristo pelas horas do dia. O ápice desse horário é a Missa.
Ela santifica e transfigura as outras horas do dia.
Também conhecida como Ofício Divino, era de uso comunitário assembleal, depois foi
reformado e adaptado para ser rezado individualmente.
Liturgia das Horas é uma das formas de a Igreja viver a Páscoa de Jesus Cristo no
ritmo diário, semanal e anual do tempo. Pela oração das horas, o cristão é lançado no
mistério da morte e ressurreição do Senhor, na expressão mais nobre e definitiva de sua
atividade humana, a comunhão de seu Deus.
Nas comunidades reunidas em oração, a Igreja vive diariamente como que os
mistérios do Tríduo Pascal, da Paixão-Morte, Sepultura e Ressurreição do Senhor. Une
sua oração a Cristo nos passos do Tríduo Pascal, mesmo evocando os demais mistérios
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Horas Canônicas:
Laudes (Principais)
Vésperas
Completas
Laudes: Hino, Salmo, Cântico (AT), Salmo, Leitura Breve, Responsório, Cântico
Evangélico, Preces, Pai Nosso, Oração Final.
Vésperas: Hino, Salmo, Salmo, Cântico (NT), Leitura Breve, Responsório, Cântico
Evangélico, Preces, Pai Nosso, Oração Final.
Hora Média (9h, 12h, 15h): Hino, Salmo, Salmo, Salmo, Leitura Breve,
Responsório, Oração Final.
Ofício das Leituras: Hino, Salmo, Salmo, Salmo, Leitura Bíblica, Leitura não
Bíblica, Oração Final.
O Ofício das leituras é uma hora como as outras, com a diferença de que pode ser
recitada a qualquer hora do dia ou da noite. Ele não é encontrado na edição compacta
da Liturgia das Horas, somente na edição completa, em quatro volumes.
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56
Qual o significado do asterisco [*] e da cruz [†], encontrados nos salmos da Liturgia das
Horas?
O asterisco (*) e a “flecha” (†) servem para o canto.
Após o asterisco (*) faz-se uma pausa de um tempo (ou de um acento) e indica, em
termos, que a frase melódica será concluída no verso seguinte.
Após a “flecha” (†) faz-se uma pausa igual de um tempo como no asterisco e indica que
a frase melódica será concluída após dois versos.
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É na segunda parte deste documento, de modo particular, que Sua Santidade, a partir
das sentenças dogmáticas do imortal Concílio de Trento, desenvolve o seu Magistério sobre
a celebração eucarística.
Ele começa por explicar a sua natureza: "O augusto sacrifício do altar não é (...) uma
pura e simples comemoração da paixão e morte de Jesus Cristo, mas é um verdadeiro e
próprio sacrifício, no qual, imolando-se incruentamente, o sumo Sacerdote faz aquilo que
fez uma vez sobre a cruz, oferecendo-se todo ao Pai, vítima agradabilíssima".
Substancialmente, o sacrifício do Calvário e o sacrifício eucarístico são o mesmo sacrifício.
Quando o sacerdote sobe ao altar e, emprestando a Cristo a sua língua e a sua mão,
oferece a Santa Missa por todos os homens, está fazendo não só a mesma coisa que Jesus
fez naquela ceia derradeira, mas também aquele ato de entrega realizada no madeiro da
Cruz. A diferença é que, enquanto no Calvário Jesus se entregou de modo cruento, isto é,
derramando o Seu sangue, na última ceia e nos altares de nossas igrejas este sacrifício é
oferecido sem derramamento de sangue ("incruentamente"). Preleciona Pio XII:
"Na cruz, com efeito, ele se ofereceu todo a Deus com os seus sofrimentos, e a imolação
da vítima foi realizada por meio de morte cruenta livremente sofrida; no altar, ao invés, por
causa do estado glorioso de sua natureza humana, 'a morte não tem mais domínio sobre
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Assim, é importante explicar: durante a celebração da Santa Missa, Jesus não está, por
assim dizer, "sofrendo de novo" o Calvário, experimentando a agonia da coroa de
espinhos ou carregando novamente todo o peso da cruz. A entrega feita no sacrifício
eucarístico, no entanto, é a mesma: o oferente é o próprio Jesus – "é Ele mesmo quem
preside invisivelmente toda Celebração Eucarística" – e trata-se da mesma vítima: "o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". A diferença de modo entre as duas é
apenas acidental, não muda a substância do sacrifício.
Pela transubstanciação, estão presentes debaixo das espécies do pão e do vinho Jesus
Cristo em corpo, sangue, alma e divindade. Por força do sacramento, no pão está o Seu
corpo e, no vinho, o Seu sangue; mas, pela realidade dos fatos, Jesus todo está presente
tanto no pão quanto no vinho. É assim porque, estando Ele ressuscitado e no Céu em corpo
glorioso, não pode mais ser separado. O uso do pão e do vinho como matéria deste
sacramento, no entanto, significa esta "cruenta separação" do Seu corpo e do Seu sangue,
ocorrida na Cruz.
Pio XII também indica que não só o ministro e a vítima dos dois sacrifícios são "idênticos",
mas também os fins.
Durante a Santa Missa, por mais que se tenha um sacerdote ou uma assembleia
indigna, Jesus está oferecendo a mesma adoração perfeita que ofereceu no madeiro da
Cruz. Ainda que todos os seres humanos e todos os anjos juntos cultuassem a Deus, não
conseguiriam jamais superar o valor desta oferta do próprio Deus. Por esse motivo, é
impossível comparar o augusto Sacrifício do altar com as chamadas "celebrações da
Palavra". Se por um lado estas celebrações comunitárias são importantes em lugares com
59
O terceiro fim deste memorial é propiciatório, isto é, oferecer uma expiação pelos nossos
pecados. Com o pecado, o homem ofende a Deus e Este, por sua vez, espera do homem,
além do arrependimento, a reparação de sua ofensa. Se os sacrifícios oferecidos pelos
antigos "simplesmente devolviam a Deus as coisas que Ele mesmo havia criado: touros,
ovelhas, pão e vinho", na Santa Missa, "irrompe um elemento novo e maravilhoso: pela
primeira vez e todos os dias, a humanidade pode já oferecer a Deus um dom digno dEle: o
dom do seu próprio Filho, um dom de valor infinito, digno de Deus infinito". Só desta forma
os crimes cometidos pelo homem contra Deus podem ser plenamente satisfeitos.
Por fim, a quarta finalidade da Missa é impetratória: Jesus "nos dias de sua vida mortal,
dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, e
foi atendido pela sua piedade". Nos altares de nossas igrejas, Jesus continua colocando-se
entre a humanidade e o Pai e pedindo a Ele as graças necessárias para nossa salvação.
Para lograr os efeitos da redenção de Jesus, no entanto, é preciso que o homem se abra
a Deus. Por isso, ensina Pio XII, "é necessário que depois de haver resgatado o mundo com
o elevadíssimo preço de si mesmo, Cristo entre na real e efetiva posse das almas". Para
ilustrar que, mesmo oferecendo o Santo Sacrifício por todos os homens, apenas alguns
muitos verdadeiramente aproveitam de sua eficácia, o Santo Padre faz uma bela analogia:
"Pode-se dizer que Cristo construiu no Calvário uma piscina de purificação e de salvação e
a encheu com o sangue por ele derramado; mas se os homens não mergulham nas suas
ondas e aí não lavam as manchas de sua iniquidade, não podem certamente ser purificados
e salvos".
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A Santa Missa é dividida em partes: Ritos Iniciais, Liturgia da Palavra, Liturgia Eucarística
e Ritos Finais. Dos quais se tornam principais: a Liturgia da Palavra e a Liturgia
Eucarística.
Ritos Iniciais:
Liturgia da Palavra:
Liturgia Eucarística:
61
Por isso, é da máxima importância que a celebração da Missa ou Ceia do Senhor de tal
modo se ordene que ministros sagrados e fiéis, participando nela cada qual segundo a
sua condição, dela colham os mais abundantes frutos. Foi para isso que Cristo instituiu o
sacrifício eucarístico do seu Corpo e Sangue e o confiou à Igreja, sua amada esposa,
como memorial da sua paixão e ressurreição.
Tal finalidade só pode ser atingida se, atentas a natureza e as circunstâncias peculiares
de cada assembleia litúrgica, se ordenar toda a celebração de forma a conduzir os fiéis
àquela participação consciente, ativa e plena, de corpo e espírito, ardente de fé,
esperança e caridade, que a Igreja deseja e a própria natureza da celebração reclama,
e que, por força do Baptismo, constitui direito e dever do povo cristão.
Embora nem sempre se consiga uma presença e uma participação ativa dos fiéis que
manifestem com toda a clareza a natureza eclesial da celebração, a celebração
eucarística tem sempre assegurada a sua eficácia e dignidade, por ser ação de Cristo e
da Igreja, em que o sacerdote realiza a sua principal função e atua sempre para a
salvação do povo.
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Importância do canto
39. O Apóstolo exorta os fiéis, que se reúnem à espera da vinda do Senhor, a que unam
as suas vozes para cantar salmos, hinos e cânticos espirituais (cf. Col 3, 16). O canto é
sinal de alegria do coração (cf. atos 2, 46). Bem dizia Santo Agostinho: “Cantar é próprio
de quem ama”. E vem já de tempos antigos o provérbio: “Quem bem canta, duas vezes
reza”.
40. Deve ter-se, pois, em grande apreço o canto na celebração da Missa, de acordo com a
índole dos povos e as possibilidades de cada assembleia litúrgica. Embora não seja
necessário cantar sempre, por exemplo nas Missas feriais, todos os textos que, por si
mesmos, se destinam a ser cantados, deve no entanto procurar-se com todo o cuidado
63
64
O silêncio
45. Também se deve guardar, nos momentos próprios, o silêncio sagrado, como
parte da celebração. A natureza deste silêncio depende do momento em que ele é
observado no decurso da celebração. Assim, no ato penitencial e a seguir ao convite à
oração, o silêncio destina-se ao recolhimento interior; a seguir às leituras ou à homilia, é
para uma breve meditação sobre o que se ouviu; depois da Comunhão, favorece a
oração interior de louvor e ação de graças.
Antes da própria celebração é louvável observar o silêncio na igreja, na sacristia e nos
lugares que lhes ficam mais próximos, para que todos se preparem para celebrar devota e
dignamente os ritos sagrados.
A) Ritos iniciais
46. Os ritos que precedem a liturgia da palavra – entrada, saudação, ato
penitencial, Kýrie (Senhor, tende piedade de nós), Glória e oração coleta – têm o carácter
de exórdio, introdução e preparação.
É sua finalidade estabelecer a comunhão entre os fiéis reunidos e dispô-los para ouvirem
devidamente a palavra de Deus e celebrarem dignamente a Eucaristia.
Em algumas celebrações que, segundo as normas dos livros litúrgicos, se ligam à Missa,
os ritos iniciais omitem-se ou realizam-se de modo específico.
Entrada
47. Reunido o povo, enquanto entra o sacerdote com o diácono e os ministros, inicia-se o
cântico de entrada. A finalidade deste cântico é dar início à celebração, favorecer a união
dos fiéis reunidos e introduzi-los no mistério do tempo litúrgico ou da festa, e ao mesmo
tempo acompanhar a procissão de entrada do sacerdote e dos ministros.
48. O cântico de entrada é executado alternadamente pela schola e pelo povo, ou por um
cantor alternando com o povo, ou por toda a assembleia em conjunto, ou somente
pela schola. Pode utilizar-se ou a antífona com o respectivo salmo que vem no Gradual
Romano ou no Gradual simples, ou outro cântico apropriado à ação sagrada ou ao
carácter do dia ou do tempo, cujo texto tenha a aprovação da Conferência Episcopal [56].
Se não há cântico de entrada, recita-se a antífona que vem no Missal, ou por todos os
fiéis, ou por alguns deles, ou por um leitor; ou então pelo próprio sacerdote, que também
pode adaptá-la à maneira de admonição inicial (cf. n. 31).
Saudação do altar e da assembleia
49. Chegados ao presbitério, o sacerdote, o diácono e os ministros saúdam o altar com
inclinação profunda.
Em sinal de veneração, o sacerdote e o diácono beijam então o altar; e, se for oportuno, o
sacerdote incensa a cruz e o altar.
50. Terminado o cântico de entrada, o sacerdote, de pé junto da cadeira, e toda a
assembleia fazem sobre si próprios o sinal da cruz; em seguida, pela saudação, faz sentir
à comunidade reunida a presença do Senhor. Com esta saudação e a resposta do povo
manifesta-se o mistério da Igreja reunida.
Depois da saudação do povo, o sacerdote, ou o diácono, ou outro ministro, pode, com
palavras muito breves, introduzir os fiéis na Missa do dia.
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Kýrie, eleison
52. Depois do ato penitencial, diz-se sempre o Senhor, tende piedade de nós (Kýrie,
eléison), a não ser que já tenha sido incluído no ato penitencial. Dado tratar-se de um
canto em que os fiéis aclamam o Senhor e imploram a sua misericórdia, é normalmente
executado por todos, em forma alternada entre o povo e a schola ou um cantor.
Cada uma das aclamações diz-se normalmente duas vezes, o que não exclui, porém, um
maior número, de acordo com a índole de cada língua, da arte musical ou das
circunstâncias. Quando o Kýrie é cantado como parte do ato penitencial, cada aclamação
é precedida de um «tropo».
Glória in excelsis
53. O Glória é um antiquíssimo e venerável hino com que a Igreja, congregada no Espírito
Santo, glorifica e suplica a Deus e ao Cordeiro. Não é permitido substituir o texto deste
hino por outro. É começado pelo sacerdote ou, se for oportuno, por um cantor, ou
pela schola, e é cantado ou por todos em conjunto, ou pelo povo alternando com a schola,
ou só pela schola. Se não é cantado, é recitado ou por todos em conjunto ou por dois
coros alternadamente.
Canta-se ou recita-se nos domingos fora do Advento e da Quaresma, bem como nas
solenidades e festas, e em particulares celebrações mais solenes.
Oração coleta
54. Em seguida, o sacerdote convida o povo à oração; e todos, juntamente com ele, se
recolhem uns momentos em silêncio, a fim de tomarem consciência de que se encontram
na presença de Deus e poderem formular interiormente as suas intenções. Então o
sacerdote diz a oração que se chama «colecta», pela qual se exprime o carácter da
celebração. Segundo a tradição antiga da Igreja, a oração dirige-se habitualmente a Deus
Pai, por Cristo, no Espírito Santo, e termina com a conclusão trinitária, isto é, a mais longa,
deste modo:
– se é dirigida ao Pai: Per Dóminum nostrum Iesum Christum Fílium tuum, qui tecum vivit
et regnat in unitáte Spíritus Sancti, Deus, per ómnia sáecula saeculórum;
– se é dirigido ao Pai, mas no fim é mencionado o Filho: Qui tecum vivit et regnat in unitate
Spíritus Sancti, Deus, per omnia sáecula saeculórum;
– se é dirigido ao Filho: Qui vivis et regnas cum Deo Patre in unitate Spíritus Sancti, Deus,
per omnia sáecula saeculórum.
O povo associa-se a esta súplica e faz sua a oração pela aclamação Amen.
Na Missa diz-se sempre uma só oração colecta.
* Com a aprovação da Sé Apostólica, nos países de língua portuguesa as orações
concluem todas do mesmo modo:
– se é dirigida ao Pai: Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco
na unidade do Espírito Santo;
– se é dirigido ao Pai, mas no fim é mencionado o Filho: Ele que é Deus convosco na
unidade do Espírito Santo;
– se é dirigido ao Filho: Vós que sois Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo.
66
Silêncio
56. A liturgia da palavra deve ser celebrada de modo a favorecer a meditação. Deve, por
isso, evitar-se completamente qualquer forma de pressa que impeça o recolhimento. Haja
nela também breves momentos de silêncio, adaptados à assembleia reunida, nos quais,
com a ajuda do Espírito Santo, a Palavra de Deus possa ser interiorizada e se prepare a
resposta pela oração. Pode ser oportuno observar estes momentos de silêncio depois da
primeira e da segunda leitura e, por fim, após a homilia.
Leituras bíblicas
57. Nas leituras põe-se aos fiéis a mesa da palavra de Deus e abrem-se-lhes os tesouros
da Bíblia. Convém, por isso, observar uma disposição das leituras bíblicas que ilustre a
unidade de ambos os Testamentos e da história da salvação; não é lícito substituir as
leituras e o salmo responsorial, que contêm a palavra de Deus, por outros textos não
bíblicos.
58. Na celebração da Missa com o povo, as leituras proclamam-se sempre do ambão.
59. Segundo a tradição, a função de proferir as leituras não é presidencial, mas sim
ministerial. Por isso as leituras são proclamadas por um leitor, mas o Evangelho é
anunciado pelo diácono ou por outro sacerdote. Se, porém, não estiver presente o diácono
nem outro sacerdote, leia o Evangelho o próprio sacerdote celebrante; e se também faltar
outro leitor idóneo o sacerdote celebrante proclame igualmente as outras leituras.
Depois de cada leitura, aquele que a lê profere a aclamação; ao responder-lhe, o povo
reunido presta homenagem à palavra de Deus, recebida com fé e espírito agradecido.
60. A leitura do Evangelho constitui o ponto culminante da liturgia da palavra. Deve ser-lhe
atribuída a maior veneração. Assim o mostra a própria Liturgia, distinguindo esta leitura
das outras com honras especiais, quer por parte do ministro encarregado de a anunciar e
pela bênção e oração com que se prepara para o fazer, quer por parte dos fiéis que, com
as suas aclamações, reconhecem e confessam que é Cristo presente no meio deles quem
lhes fala, e, por isso, escutam a leitura de pé; quer ainda pelos sinais de veneração ao
próprio Evangeliário.
Salmo responsorial
61. A primeira leitura é seguida do salmo responsorial, que é parte integrante da liturgia da
palavra e tem, por si mesmo, grande importância litúrgica e pastoral, pois favorece a
meditação da Palavra de Deus.
O salmo responsorial corresponde a cada leitura e habitualmente toma-se do Leccionário.
Convém que o salmo responsorial seja cantado, pelo menos no que se refere à resposta
do povo. O salmista ou cantor do salmo, do ambão ou de outro sítio conveniente, recita os
versículos do salmo; toda a assembleia escuta sentada, ou, de preferência, nele participa
do modo costumado com o refrão, a não ser que o salmo seja recitado todo seguido, sem
refrão. Todavia, para facilitar ao povo a resposta salmódica (refrão), fez-se, para os
diferentes tempos e as várias categorias de Santos, uma seleção de responsórios e
salmos, que podem ser utilizados, em vez do texto correspondente à leitura, quando o
salmo é cantado. Se o salmo não puder ser cantado, recita-se do modo mais indicado para
favorecer a meditação da palavra de Deus.
67
Homilia
65. A homilia é parte da liturgia e muito recomendada: é um elemento necessário para
alimentar a vida cristã. Deve ser a explanação de algum aspecto das leituras da Sagrada
Escritura ou de algum texto do Ordinário ou do Próprio da Missa do dia, tendo sempre em
conta o mistério que se celebra, bem como as necessidades peculiares dos ouvintes.
66. Habitualmente a homilia deve ser feita pelo sacerdote celebrante ou por um sacerdote
concelebrante, por ele encarregado, ou algumas vezes, se for oportuno, também por um
diácono, mas nunca por um leigo. Em casos especiais e por justa causa, a homilia
também pode ser feita, por um Bispo ou presbítero que se encontra na celebração mas
sem poder concelebrar.
Nos domingos e festas de preceito, deve haver homilia em todas as Missas celebradas
com participação do povo, e não pode omitir-se senão por causa grave. Além disso, é
recomendada, particularmente nos dias feriais do Advento, Quaresma e Tempo Pascal, e
também noutras festas e ocasiões em que é maior a afluência do povo à Igreja.
Depois da homilia, observe-se oportunamente um breve espaço de silêncio.
Profissão de fé
67. O símbolo, ou profissão de fé, tem como finalidade permitir que todo o povo reunido,
responda à palavra de Deus anunciada nas leituras da sagrada Escritura e exposta na
homilia, e que, proclamando a regra da fé, segundo a fórmula aprovada para o uso
litúrgico, recorde e professe os grandes mistérios da fé, antes de começarem a ser
celebrados na Eucaristia.
68. O símbolo deve ser cantado ou recitado pelo sacerdote juntamente com o povo, nos
domingos e nas solenidades. Pode também dizer-se em celebrações especiais mais
solenes.
Se é cantado, é começado pelo sacerdote ou, se for o caso, por um cantor, ou pela schola;
cantam-no todos em conjunto ou o povo alternando com a schola.
Se não é cantado, deve ser recitado conjuntamente por todos ou por dois coros
alternadamente.
Oração universal
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C) Liturgia eucarística
72. Na última Ceia, Cristo instituiu o sacrifício e banquete pascal, por meio do qual, todas
as vezes que o sacerdote, representando a Cristo Senhor, faz o mesmo que o Senhor fez
e mandou aos discípulos que fizessem em sua memória, se torna continuamente presente
o sacrifício da cruz.
Cristo tomou o pão e o cálice, pronunciou a ação de graças, partiu o pão e deu-o aos seus
discípulos, dizendo: «Tomai, comei, bebei: isto é o meu Corpo; este é o cálice do meu
Sangue. Fazei isto em memória de Mim». Foi a partir destas palavras e gestos de Cristo
que a Igreja ordenou toda a celebração da liturgia eucarística. Efectivamente:
1) Na preparação dos dons, levam-se ao altar o pão e o vinho com água, isto é, os
mesmos elementos que Cristo tomou em suas mãos.
2) Na Oração eucarística, dão-se graças a Deus por toda a obra da salvação, e as oblatas
convertem-se no Corpo e Sangue de Cristo.
3) Pela fração do pão e pela Comunhão, os fiéis, embora muitos, recebem, de um só pão,
o Corpo e Sangue do Senhor, do mesmo modo que os Apóstolos o receberam das mãos
do próprio Cristo.
Preparação dos dons
73. A iniciar a liturgia eucarística, levam-se para o altar os dons, que se vão converter no
Corpo e Sangue de Cristo.
Em primeiro lugar prepara-se o altar ou mesa do Senhor, que é o centro de toda a liturgia
eucarística; nele se dispõem o corporal, o purificador (ou sanguinho), o Missal e o cálice,
salvo se este for preparado na credência.
Em seguida são trazidas as oferendas. É de louvar que o pão e o vinho sejam
apresentados pelos fiéis. Recebidos pelo sacerdote ou pelo diácono em lugar conveniente,
são depois levados para o altar. Embora, hoje em dia, os fiéis já não tragam do seu próprio
pão e vinho, como se fazia noutros tempos, no entanto o rito desta apresentação conserva
ainda valor e significado espiritual.
Além do pão e do vinho, são permitidas ofertas em dinheiro e outros dons, destinados aos
pobres ou à Igreja, e tanto podem ser trazidos pelos fiéis como recolhidos dentro da Igreja.
Estes dons serão dispostos em lugar conveniente, fora da mesa eucarística.
74. A procissão em que se levam os dons é acompanhada do cântico do ofertório (cf. n.
37, b), que se prolonga pelo menos até que os dons tenham sido depostos sobre o altar.
As normas para a execução deste cântico são idênticas às que foram dadas para o cântico
de entrada (cf. n. 48). O rito do ofertório pode ser sempre acompanhado de canto.
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Oração eucarística
78. Inicia-se então o momento central e culminante de toda a celebração, a Oração
eucarística, que é uma oração de ação de graças e de consagração. O sacerdote convida
o povo a elevar os corações para o Senhor, na oração e na ação de graças, e associa-o a
si na oração que ele, em nome de toda a comunidade, dirige a Deus Pai por Jesus Cristo
no Espírito Santo. O sentido desta oração é que toda a assembleia dos fiéis se una a
Cristo na proclamação das maravilhas de Deus e na oblação do sacrifício.
79. Como elementos principais da Oração eucarística podem enumerar-se os seguintes:
a) ação de graças (expressa de modo particular no Prefácio): em nome de todo o povo
santo, o sacerdote glorifica a Deus Pai e dá-Lhe graças por toda a obra da salvação ou por
algum dos seus aspectos particulares, conforme o dia, a festa ou o tempo litúrgico.
b) Aclamação: toda a assembleia, em união com os coros celestes, canta o Sanctus
(Santo). Esta aclamação, que faz parte da Oração eucarística, é proferida por todo o povo
juntamente com o sacerdote.
c) Epiclese: consta de invocações especiais, pelas quais a Igreja implora o poder do
Espírito Santo, para que os dons oferecidos pelos homens sejam consagrados, isto é, se
convertam no Corpo e Sangue de Cristo; e para que a hóstia imaculada, que vai ser
recebida na Comunhão, opere a salvação daqueles que dela vão participar.
d) Narração da instituição e consagração: mediante as palavras e gestos de Cristo, realiza-
se o sacrifício que o próprio Cristo instituiu na última Ceia, quando ofereceu o seu Corpo e
Sangue sob as espécies do pão e do vinho e os deu a comer e a beber aos Apóstolos, ao
mesmo tempo que lhes confiou o mandato de perpetuar este mistério.
e) Anamnese: em obediência a este mandato, recebido de Cristo Senhor através dos
Apóstolos, a Igreja celebra a memória do mesmo Cristo, recordando de modo particular a
sua bem-aventurada paixão, gloriosa ressurreição e ascensão aos Céus.
f) Oblação: neste memorial, a Igreja, de modo especial aquela que nesse momento e
nesse lugar está reunida, oferece a Deus Pai, no Espírito Santo, a hóstia imaculada. A
Igreja deseja que os fiéis não somente ofereçam a hóstia imaculada, mas aprendam a
oferecer-se também a si mesmos e, por Cristo mediador, se esforcem por realizar de dia
para dia a unidade perfeita com Deus e entre si, até que finalmente Deus seja tudo em
todos.
g) Intercessões: por elas se exprime que a Eucaristia é celebrada em comunhão com toda
a Igreja, tanto do Céu como da terra, e que a oblação é feita em proveito dela e de todos
os seus membros, vivos e defuntos, chamados todos a tomar parte na redenção e
salvação adquirida pelo Corpo e Sangue de Cristo.
h) Doxologia final: exprime a glorificação de Deus e é ratificada e concluída pela
aclamação Amen do povo.
70
Oração dominical
81. Na Oração dominical pede-se o pão de cada dia, que para os cristãos evoca
principalmente o pão eucarístico; igualmente se pede a purificação dos pecados, de modo
que efectivamente “as coisas santas sejam dadas aos santos”. O sacerdote formula o
convite à oração, que todos os fiéis recitam juntamente com ele. Então o sacerdote diz
sozinho o embolismo, que o povo conclui com uma doxologia. O embolismo é o
desenvolvimento da última petição da oração dominical; nele se pede para toda a
comunidade dos fiéis a libertação do poder do mal.
O convite, a oração, o embolismo e a doxologia conclusiva dita pelo povo, devem ser
cantados ou recitados em voz alta.
Rito da paz
82. Segue-se o rito da paz, no qual a Igreja implora a paz e a unidade para si própria e
para toda a família humana, e os féis exprimem uns aos outros a comunhão eclesial e a
caridade mútua, antes de comungarem no Sacramento.
Quanto ao próprio sinal com que se dá a paz, as Conferências Episcopais determinarão
como se há-de fazer, tendo em conta a mentalidade e os costumes dos povos. Mas é
conveniente que cada um dê a paz com sobriedade apenas aos que estão mais perto de
si.
Fração do pão
83. O sacerdote parte o pão eucarístico. O gesto da fração, praticado por Cristo na última
Ceia, e que serviu para designar, nos tempos apostólicos, toda a ação eucarística,
significa que os fiéis, apesar de muitos, se tornam um só Corpo, pela Comunhão do
mesmo pão da vida que é Cristo, morto e ressuscitado pela salvação do mundo (1 Cor 10,
17). A fração começa depois de se dar a paz e realiza-se com a devida reverência, mas
não se deve prolongar desnecessariamente nem se lhe deve atribuir uma importância
excessiva. Este rito é reservado ao sacerdote e ao diácono.
Enquanto o sacerdote parte o pão e deita uma parte da hóstia no cálice, a schola ou um
cantor canta ou pelo menos recita em voz alta a invocação Cordeiro de Deus, a que todo o
povo responde. A invocação acompanha a fração do pão, pelo que pode repetir-se o
número de vezes que for preciso, enquanto durar o rito. Na última vez conclui-se com as
palavras: Dai-nos a paz.
Comunhão
84. O sacerdote prepara-se para receber frutuosamente o Corpo e Sangue de Cristo
rezando uma oração em silêncio. Os fiéis fazem o mesmo orando em silêncio.
Depois o sacerdote mostra aos fiéis o pão eucarístico sobre a patena ou sobre o cálice e
convida-os para o banquete de Cristo; e, juntamente com os fiéis, faz um ato de
humildade, utilizando as palavras evangélicas prescritas.
85. É muito para desejar que os fiéis, tal como o sacerdote é obrigado a fazer, recebam o
Corpo do Senhor com hóstias consagradas na própria Missa e, nos casos previstos,
participem do cálice (cf. n. 283), para que a Comunhão se manifeste, de forma mais clara,
nos próprios sinais, como participação no sacrifício que está a ser celebrado.
86. Enquanto o sacerdote toma o Sacramento, dá-se início ao cântico da Comunhão, que
deve exprimir, com a unidade das vozes, a união espiritual dos comungantes, manifestar a
alegria do coração e realçar melhor o carácter «comunitário» da procissão daqueles que
vão receber a Eucaristia. O cântico prolonga-se enquanto se ministra aos fiéis o
Sacramento. Se se canta um hino depois da Comunhão, o cântico da Comunhão deve
terminar a tempo.
71
D) Rito de conclusão
90. O rito de conclusão consta de:
a) Notícias breves, se forem necessárias;
a) Saudação e bênção do sacerdote, a qual, em certos dias e em ocasiões especiais, é
enriquecida e amplificada com uma oração sobre o povo ou com outra fórmula mais solene
de bênção.
b) Despedida da assembleia, feita pelo diácono ou sacerdote;
c) Beijo no altar por parte do sacerdote e do diácono e depois inclinação profunda ao altar
por parte do sacerdote, do diácono, e dos outros ministros.
72
Sacrossantum Concilium
Concílio Vaticano II – 1963
Documento de Puebla
III Conferência Episcopal Geral do Episcopado Latino
Americano – 1979
75