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28.10.2023
ÍNDICE
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................................................................ 11
O Ritu al d e Per egr in ação n as Religiõ es Ab r aâ m ic a s
Imagem: www.mundoportugues.pt/2018/05/11/cresce-o-numero-de-peregrinos-asiaticos-
ao-santuario-de-fatima/
No Judaísmo, até à destruição do Templo de Jerusalém, eram realizadas três grandes peregrinações
Imagem: bibliotecadopregador.com.br/festas-judaicas/
M ad alena Carneiro 5
Religiõ es n a História da Humanidade
O Ritu a l d e Per egr in ação n as Religiõ es Ab r aâm icas
No Islão, o ritual de peregrinação observa-se na Hajj, peregrinação a Meca, entre os três primeiros
dias e o dia 10 do último mês do calendário Islâmico.
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U N I V E RSI DA DE CA TÓ LI CA PO RT UG UE SA
Fa c u ldade de Teologia
O Ritu al d e Per egr in ação n as Religiõ es Ab r aâ m ic a s
No verbete “Rito/Ritual” do Dicionário de Ciência da Religião, o rito pode ser definido como
uma «operação simbólica que se pode apropriar de qualquer realidade», nomeadamente de
«comportamentos rituais, discursos rituais, ações, objetos e espaços rituais». 1 Nesse sentido,
podemos observar perante as imagens escolhidas que, o Cristianismo, o Judaísmo e o Islão
apresentam um ritual de peregrinação (rito como ação) para um Templo (espaço ritual)
assemelhando-se entre si nesta prática ritual.
Se a observação fosse meramente sobre as imagens, poderíamos ficar com a ideia de algumas
semelhanças, como a reunião de muitas pessoas num Templo num ritual comum. O Santuário
de Fátima, a Caaba e o Templo de Jerusalém podem ser considerados como parte da dimensão
material da religião. Apesar do ritual parecer semelhante, estes rituais são muito distintos.
Enquanto que no Catolicismo o Templo é Maria, «tabernáculo e sacrário do Altíssimo» 2 ,
(estando este conceito definido pela dimensão doutrinal da religião), podendo encontrar-se em
muitos Santuários espalhados por todo o Mundo, para os Judeus, a peregrinação seria ao
Templo de Jerusalém que foi destruído em 70 d.C., após essa data, festejam-se anualmente os
três grandes festivais peregrinos Pesach, Shavuot e Sukkot onde o ato de peregrinação é
comemorado sob forma de memória do passado. No Islão, o ritual de peregrinação é
denominado Hajj e consiste na deslocação a Meca entre os três primeiros dias e o dia 10 do
último mês do calendário Islâmico, representando o quinto pilar do Islão.
Observando a Peregrinação como símbolo ritual, o ato de deslocação do indivíduo para um
encontro com o seu Deus é uma ação, uma prática que provoca o participante e o ajuda a
encontrar o fascínio da contemplação.
Mas a peregrinação não é um ato isolado, é um conjunto de atos de prática ritual, que tem
como objetivo individual a purificação e o encontro com Deus, mas também um objetivo
coletivo, de ritual em comunidade, como parte da sua dimensão social.
A peregrinação é acompanhada pela oração, pelo proclamar da palavra de Deus ou da
tradição da religião. No Catolicismo, partindo da experiência concreta da imagem apresentada
(peregrinação a Fátima), a peregrinação pressupõe uma predisposição interior de encontro com
Maria, tabernáculo de Deus. Esse encontro é efetuado através da oração do terço e da eucaristia,
1 Pa sso s, J. D., Teix eira , A., & Usa rsk i, F. (2 0 2 2 ). Dicio n ário d e C iên cia d a R eligiã o . Sã o Paulo:
onde são meditadas as palavras de Deus, este ritual pode ser observado como parte da dimensão
ritual (repetição das orações) e narrativa (leitura da bíblia) da religião.
Será importante salientar que o rito não se deve concentrar apenas nos gestos e operações
que se repetem, mas devem ser entendidos e integrados nos valores e crenças da comunidade
onde se refletem, ou seja na sua dimensão doutrinal. Podemos observar, até pelas imagens que,
estando os católicos e os muçulmanos no seu momento ritual de oração, estes apresentam-se
sob uma postura muito diferente, estando os católicos em pé, voltados para Nossa Senhora e os
muçulmanos prostrados em direção a Caaba. O ritual apresenta um simbolismo idêntico, a
oração para aproximação de Deus, no entanto as operações e gestos que se repetem são
diferentes, de acordo com os valores e crenças de cada comunidade. Outro aspeto ritual das
peregrinações nas religiões observadas, são as procissões. Em Fátima, existe o ritual da
procissão das velas nos dias 12 entre os meses de maio a outubro, como parte desta visita à casa
da Mãe. Na tradição Judaica, no Shavuot, assinala-se a atribuição da Torá a Moisés no Monte
Sinai e completa-se o ciclo anual da sua leitura. Na alegria desta celebração, os rolos da Torá
são levados em procissão pela Sinagoga. Conseguimos aqui um paralelismo entre o meio que
cada uma destas religiões encontrou para se aproximar de Deus e que o releva nas suas
procissões, Nossa Senhora para os católicos e a Torá para os judeus. Podemos ainda observar
o mesmo símbolo em contextos diferentes, por exemplo, a água a ter um simbolismo diferente
nestes três contextos religiosos, estando a observar a dimensão simbólica da religião. Os
muçulmanos acreditam que uma fonte situada entre Safa e Marwa foi miraculosamente
originada pelo bater dos calcanhares de Ismael, quando foi abandonado com a sua mãe Agar,
no deserto, por Abraão. Para esta religião, esta água possui poderes espirituais, sendo levada
pelos peregrinos e muitas vezes usada para ungir os corpos em ritos funerários. Os católicos,
nas suas peregrinações a Fátima, levam a água milagrosa que se encontra sob a imagem do
Coração Imaculado de Jesus, que foi encontrada, miraculosamente no local da primeira
aparição de Maria aos Pastorinhos. Muitos católicos acreditam que possui o poder da cura. No
que diz respeito aos judeus, os festivais peregrinos estão diretamente relacionados com
conotações agrícolas (colheitas) e contêm uma tradição muito marcada no que diz respeito aos
alimentos a ingerir nesses momentos. O Pesach (Páscoa hebraica), apresenta como ponto alto
a tradição da refeição do seder, onde a água salgada deve estar como representação das
lágrimas, recordando os dias em que os judeus eram escravos do Egipto.
Portanto, podemos observar que os valores e crenças podem determinar um significado
diferente para o mesmo símbolo religioso (água) ou que, um ritual de oração, que poderá ter o
mesmo significado de encontro com Deus, mas é realizado de forma muito diferente,
correspondendo a gestos e operações diferentes.
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acontecimentos coletivos como a cerimónia da confirmação dos jovens judeus, que é realizada
durante o Shavuot.
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BIBLIOGRAFIA
Cohn-Sherbok, D., Judaísmo (trad. de Paulo Rodrigues). Lisboa: Edições 70, 1999 (pp. 77-
97).
Elias, J. J., Islamismo (trad. de F. Manso). Lisboa: Edições 70, 2011 (pp. 61-81).
Teixeira, A., J. M. Duque e L. Figueiredo Rodrigues, “Rito/ritual”, em Dicionário de Ciência
da Religião, ed. F. Usarki, A. Teixeira e J. Décio Passos (São Paulo: Paulus/Paulinas/Loyola,
2023), pp. 796-805)
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