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1.

Dos primórdios até a Idade Média

HISTÓÀRIA
ECUMENICA
DA IGREJA
"à Thomas Kaufmann
É. Raymund Kottj
Bemd MoeHer
Hubert Wolf

/
PAULUS SIN O DA L '
Edições Loyola
llillll) original:
(Ôknmranisclie Kirchengeschichte
Band 1: Von den Anfãngen bis zum Mittelalter
SUMÁRIO
© 2006 by WBG (Wissenschaftliche Buchgesellschaft), Darmstadt
Hindenburgstrasse 40, 64295 Darmstadt, Germany
ISBN 978-3-534-158044
Prefácio dos organizadores ...........................................................................................................................
..
IX
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SF', Brasil)

[Kaufmann, Thomas _l SEÇÃO I


História Ecumênica da Igreja 1 :dos primórdios até a Idade Média / A IGREJA NA ERA PRÉ-CONSTANTINIANA
Thomas Kaufmann, Raymund Kottje, Bernd Moeller ; org. Hubert Wolf;
tradução Irineu J. Rabuske. São Paulo: Edições Loyola : Paulus; São
--
Martin Ebner, Christoph Marhschies
Leopoldo, RS : Editora Sinodal, 2012.
Título original: Õkumenische Kirchengeschichte
Band 1 :Von den Anfãngen bis zum Mittelalter. Parte A
Bibliografia Dos primórdios até a metade do século II
ISBN 978-8545-03919-7 (Edições Loyola)
ISBN 978-85-62865-787 (Sinodal) Martin Ebner

\ILTOJ
ISBN 978-85-349-3391-9 (Paulus)
1. Ecumenismo 2. Igreja História I.
-

Bernd. III. Wolf, Hubert. IV. Titulo.


Kottje, Raymund. II. Moeller, Capítulo 1: Os primórdios ............................................................................................................................
..

12-06493
Fontes e periodização do cristianismo primitivo .........................

CDD-270
.........................
..

J A narrativa do "nascimento" da Igreja e a questão histórica..., ..............................................


..

indices para catálogo sistemático: A visão de Jesus e sua implementação pós-pascal .................................................
._

1. História da Igreja 270


2. Igreja : História 270
Capítulo 2: O complicado caminho rumo aos pagãos .................................................
..
11
Duas frações comunitárias autônomasem Jerusalém .......................................................................
..
12
Preparação: Mauricio Balthazar Leal O círculo dos Sete, judeus marginalizadose pagãos tementes a Deus .........................
..
16
Capa: Mauro C. Naxara Unidade e diversidade: Concílio Apostólico e incidente de Antioquia ......................
..
20
Imagem A mosaic of weeping women from the scene of the Variações da missão do cristianismo primitivo 25
Deposítion in the Baptistry of San Marco Venice, Venice. .........................................................
..

© 2012. Photo Werner Forman Archive/Scala, Florence


Diagramação: Ronaldo Hideo lnoue Capítulo 3¡ RumO à institucionalização _______________________________________________________________________________________ ..
33
Revisão: Sandra Garcia Custódio Concepções cristãs de comunidade no quadro das atribuições sociais ........................
..
33
Tendênciasparadigmáticas na evolução dos ministérios .............................................................
..
37
Os cristãos no Império Romano .................................................................................................
..
44
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-

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04216-000 São Paulo, SP 04117-091 São Paulo, 5P -
Morro do Espelho Parte B
T 55 11 3385 8500 T 55 11 50873700 93030-220 São Leopoldo, RS De meados do século II até o final do século III
F 55 11 2063 4275 F 55 11 5579-3627 TF 55 51 3037 2366
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os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser
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meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou
arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão
Capítulo 1: A vida cristã em um mundo marcado pelo paganismo ............................................
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escrita da Editora. A expansão da nova religião no Império ..........................................................................
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52
Repercussões externas do cristianismo ..............................................................................
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53
ISBN 978-85-6286578-7
© EDITORA SINODAL, São Leopoldo,
Autodefinições cristãs .............................................................................................................................
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54
Brasil, 2012 A situação legal e o problema das perseguições
ISBN 978-85-349-3391-9 .......................................................
,.
S7
© PAULUS, São Paulo, Brasil, 2012 Vida cristã cotidiana em uma sociedade pagã .............................................................
..
63
ISBN 978-85-15-039197
(CD EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 2012
Priscilliano. Neste caso, tratava-se de um grupo que tendia ao rigorismo asc-i"
tico, apresentava tendências maniqueístas e na doutrina da fé defendia idciam
*
oladas tinham por objetivo a restrição infamante da liberdade dos
..

ou judeus
e miravam a proteção legal para os judeus, ameaçados por ataques imprevi-
i

ultrapassadas. Com a condenação e o desterro de Priscillianopelo imperador É: veis. Era evidente que fossem confiscados os bens de pessoas que passassem
Graciano, seus adversários ainda não se deram por satisfeitos. Finalmente, ara o judaísmo.Nesse caso, o cristão perdia o direito de fazer um testamento.
por iniciativa dos bispos espanhóis, ele foi convocado a Trier, diante do tri ob Justiniano foi disposto que nenhum judeu poderia adquirir um escravo
bunal do coimperador Maximus. Lá, corn a fundamentação de ter praticado _fa istão. Corn ameaça de pena de morte, exigiu-se que escravos a serviço de
magia e feitiçaria, foi condenado à morte e executado. ñm,
judeu deveriam receber a liberdade quando fossem batizados. Por foi
A tensão latente entre judeus e cristãos no período das perseguiçõi-s, etado judeus exercício de qualquer cargo publico. Outras determina-
aos o
quando os judeus foram tratados com mais brandura do que os cristãos, i- ões tentavam limitar liberdade de culto. Não
a permitido construir
era mais
no qual estes, em sua atividade missionária, apareciam como concorrentca,
., ovas sinagogas. Restaurações necessitavam de autorizaçãodo Estado. Reu-
também mudou no período pós-constantiniano. Os judeus agora eram sua 5- 'ões judaicas de culto não podiam realizadas publicamente, para
mais ser
peitos de se opor com teimosia à doutrina de Cristo, comprovada como vu' autorizada
itar que fosse uma espécie
de missão. Numa de conjunto, visao
dadeira pelo transcurso da história. Tal obstinação (obstinatio) desde sempn- Í a Antiguidade tardia os judeus sofreram um tratamento mais brando do que
era ameaçada com severas penas, pois eles colocavam em risco a necessu teimosos hereges, por exemplo. Normativo, nesse caso, era mais uma vez
ria unidade sobre a qual se baseava a paz na ordem estatal. Não obstante, a¡ 5a* m argumento teológico. De acordo com a afirmação do apostolo Paulo, ain-
controvérsia com os judeus, a princípio, transcorreu numa atmosfera main a se esperava para o fim dos tempos a conversão do povo judeu (Rm 11,25).
branda do que com os pagãos e hereges. De qualquer maneira, nunca main ortanto o total desaparecimento dos judeus não estava nos planos divinos
,

houve com eles uma verdadeira discussão sobre questões teológicas. /\›a e salvação, e por essa razão o poder estatal, agindo a partir dessa base teorica,
3 '
o o r

controvérsias eram de ordem literária e, no fundo, eram monólogos cristãos f¡ ão podia agir tendo em vista o extermínio dos judeus.
acerca de preconceitos, já havia muito conhecidos, dos judeus a respeito (ln

mensagem cristã. Do lado cristão ganhava terreno a visão já havia muito


tempo defendida de que os judeus deveriam servir aos cristãos, tal como
Esaú teve que se submeter a Jacó. A partir dessa base teológica teve curso n .iCapítulo 2: A ampla articulação da Igreja
progressiva eliminação dos direitos dos judeus. Porta-voz na polêmica com ,Bemhard Kõtting
o judaísmono Ocidente foi principalmente Agostinho, enquanto no Orien
te foi João Crisóstomo, o qual em seus sermões (principalmente nos anos O SURGIMENTO Dos PATRIARCADOS
386 e 387) permitiu-se duríssimos ataques contra os judeus. O motivo ClÍSSo
provavelmente era o fato de grande parte da população antioquena deixar-si-
"Fazendo retrospectiva acerca da organização da Igreja como um todo,
uma

atrair pelas festas e pelos hábitos cultuais dos judeus, já que o culto cristão, ;pode-se partir do princípio de que em meados do século II todas as comu-
em comparação, era ainda pobre em celebrações festivas. É característico
Àinidades cristãs estavam em pé de igualdade de direitos, tendo por base um
'ordenamento comum. O desejo de ligar-se às comunidades episcopais vizi-
para essa situação o fato de por essa época, para concorrer com o judaísmo,
ter sido introduzida em Antioquia a festa de Natal.
gnhas para formar uma associação provavelmente surgiu mais tarde, quando
Nos anos 80 do século IV ocorreram as primeiras agressões a edifícios ; problemas comuns suprarregionais atingiram grande parte da Igreja e exigi-
7 ram soluções conjuntas. Tinha-se atingido essa situação quando, na
judaicos de culto, elevando-se, logo em seguida, cada vez mais o número di- contro-
:Í vérsia com o gnosticismo e por causa de movimentos como o montanismo,
sinagogas destruídas. As determinações de proteção do imperador Teodósio | i grande parte da Igreja entrou em crise. Nos sínodos dos
bispos que apartir
(393) ou de seu homônimo neto (423) não eram capazes de garantir suficienti- A? de então se realizaram, tanto quanto podemos constatar, a presidência esta-
segurança contra os inflamadospogmms antijudaicos que ocorriam aqui e ali. , va a cargo do bispo do local de realização do sínodo.
Muitos cristãos sentiam-se em relação aos judeus como sendo os instrumen
tos da justiça compensatória de Deus. Com o tempo, essa ideia teve efeito
,_ Nas discussões teológicas do final do século II era especialmente impor-
:
tante a questão da autenticidade da tradição da Igreja. Acreditava-se que o
sobre a legislação estatal. É muito difíciljulgar até que ponto as medidas legais
Z conteúdo da tradição, como uma herança fiduciária, era passado diretamente

.J
tíístíirizs Iííirsiiiiriêiiíczi da. lgrcj a. 124 1. Dos PRIMORDIOS ATE A IDADE Mm n x n' A Igreja imperial até o final da era antiga 125 Z: A ampla articulação da Igreja
de um bispo a outro e se tinha a certeza de que a maior garantia para a auten- ° favorecida pela situação política, pois até 272 Antioquia pertenceu ao reino
ticidade da tradição se encontrava nas sedes episcopais que haviam sido fun
dadas por um apóstolo e nas quais se comprovara a sucessão ininterrupta. [sm
Í. Palmira, um Estado-tampão, de breve duraçao, entre o campo de
no e o persa. No Concílio de Niceia (325) foi confirmado como fato
:
pqíler
istori-
levou a uma projeção especial das assim chamadas sedes episcopais "aposln ¡ o significado preponderante das três sedes episcopais de Roma, Alexandria
licas". Expressada por muitos teólogos, com especial clareza formulada ÍAntioquia, mas não houve uma fundamentaçaolegal para isso.
pur
Tertuliano, é a seguinte ideia: "Se pretendes assegurar-te das coisas relativas a Roma, nessa questão de organização, tinha indubitavelmerite a prece-
à tua salvação, faze uma peregrinação pelas igrejas apostólicas Se a Acuiu cia no espaço médio-itálico.Partindo do princípio fundaçao apostoli-
de
te está mais próxima, tens Corinto, habitas não distante da Macedônia, tem¡
ela não tinha concorrente algum em todo o Ocidente. Mas atelque ponto
Filipos. Se consegues ir até a Asia [Menor], tens Efeso, mas se a Itália can¡ É
,
levado em conta o fato da fundação apostólica pode-se deduzir da lenda
em tuas proximidades tens Roma, de onde também está à nossa i
disposiçnu gundo a qual as comunidades cristãs na foz do Ródano igualmente goza-
[isto é, Africado Norte] a autoridade doutrinal" (De praescrípt. haeret. 36). l": m da dignidade de fundações quase apostólicas, uma vez que sua origem
perfeitamente possível e inclusive provável que na convocação das primeirzm montaria ao ressuscitado Lázaro e suas irmãs Marta e Maria, que, apos
reuniões de bispos essas considerações teológicas tenham tido algum papi-I.
a retirada da Palestina, teriam se radicado no delta do Ródano. Lá, de
*
Mas o papel dessas "prerrogativas" das sedes "apostólicas" não durou muitu
to, o cristianismo tinha uma tradição tão longa quanto na propria Roma.
tempo, pois a Igreja também necessitava reunir-se em territórios maiores, nc m
quais não tinha havido nenhum apóstolo pregando o Evangelho, como, p( n
s-t aí que justamente da parte do bispo de Arles, capital do do
i ouve a mais decidida resistência a Roma quando esta reivindicou o direito
delta Rodano,
exemplo, no Egito, na Africado Norte e em toda a parte ocidental do Impériz ›,
e patriarcado sobre todo o Ocidente latino.
exceto Roma. Tendo-sejá partido do princípio, na delimitação das comunidu
des autônomas (isto é, das dioceses), de que cada unidade político-adminis
'

O reconhecimento da sede patriarcal romana por parte das igrejas da


trativa (municipiurn) também representava o quadro exterior adequado rica do Norte ocorreu igualmente através do desenvolvimento historico, e
uma comunidade cristã, estava-se também muito próximo do
para ão através de um ato jurídico formal. A imponente capital dessa região era
passo seguinte,
ou seja, de ajustar o conjunto organizacional de várias dioceses às unidades
Cartago Ali ocorreu a maioria dos sínodos dessa região, e com isso o titu-
administrativas superiores do Império. Dessa maneira, sem consultar princi lar dessa sede episcopal ganhou naturalmente em preponderância. Ele era o
pios teológicos, chegou-se a uma comunhão dos bispos. :iporta-voz indiscutível daquela região, que cultivava o contato contínuo com
Essa evolução pode ser observada com mais clareza no Egito. O isola 2¡ Igreja de Roma.
mento singular desse território transformou a capital Alexandria, tanto nu j De resto, a Igreja se organizava de acordo com as zonas
do Império de tal sorte que na maioria dos casos (havia poucas exceçoes,
administratrvas
_ _ _

plano político como na vida espiritual-religiosa, em porta de entrada e me ›

“como, por exemplo, a Africado Norte) os bispos da respectiva capital pro-


.

,
, .

trópole. Desde o início da história da Igreja no Egito a primazia do bispo dc-


O _

Alexandriajamais foi posta em dúvida. Ele ordenava, já no século III, todos .ivincial (da metrópole) também exerciam a nos presidência
encontros dos
os bispos, em todo o Egito, assim como reivindicava
para si o direito de des
;bispos A organização da Igreja em grandes unidades patriarcais seguiu, por
tituí-los. Ele reunia e dirigia sínodos em Alexandria e em outras partes do i isso os limites que haviam sido estabelecidos pelas grandes províncias cul-
território. lntervinha arbitrariamenteem questões disciplinares. Quando sv
i
turais
dentro do Império Romano. No início do século VI tinha-se, então:
tratava da solução de questões mais difíceis, viajava até o alto Egito
'
para o Egito e regiões limítrofes, o patriarcado de Alexandria; para o espaço
para lá
defender o direito e, se necessário, impor sua vontade. Jamais outro bispo '

Iírio aramaico Antioquia' para todo o Ocidente latino, Roma; seguiam-se


'

9 ›

exerceu tal posição de primazia em questões de fé e disciplina em a eles, fora do Imperio, segundo o mesmo principio de congruencia ent re
t _ . , o A '

relação às
r

4'

dioceses subordinadas quanto o bispo de Alexandria entre 250 e 450. í província cultural e patriarcado a
eclesiástico, Igreja Armenia,
da
com alter-
Antioquia era, sem dúvida nenhuma, uma fundação apostólica. Mas a
abertura dessa região geográfica não permitiu na província cultural sírio-ara- *
nância da sede do patriarca (katholikos),e a igrej
bispo de Selêucia-Ktesifon. A area grega .era o unico espaço
Persia, ada teilido zilfrente
o

C31 têm ÍXPÊÊS'


maica que a prevalência dessa sede episcopal se desenvolvesse com a mesma
velocidade do caso de Alexandria. Somente ao longo dos últimos anos do sé-
._,
'
sivo, fortemente perpassado pelo cristianismo, que na epoca e
não contava com a liderança de uma Igreja patriarcal, como ocorria nos e-
ons an
:Ino
culo III essa sede episcopal atingiu seu pleno reconhecimento. Essa evolução
i

mais âmbitos da Igreja. Esse problema reclamava uma solução.

H istória Ííilcumênicada Igreja 126 1. Dos PRJMORDIOS ATE A IDADE Mrimx A Igreja imperial até o final da era antiga 127 2: A ampla articulação da Igreja
ROMA E CONSTANTINOPLA
ç stantinopla, igual à que tinham os bispos de Roma, Alexandria e Antio-
k, O Concílio de Calcedônia estava quase terminado, os legados do bispo
.

'Roma já se preparavam para partir, quando os demais bispos em sua -

oria do Oriente retomaram outra vez a questão da ordem de prece-


-

cia de Constantinopla, para levá-la à conclusão no cânon 28: "Seguindo


i-tudo as determinações da reunião dos pais [cânon 3 de Constantinopla no
a 381], determinamos e concluímos também nós o mesmo em relação aos
~-itos de honra da Igreja de Constantinopla, a nova Roma. Pois também
,trono da antiga Roma, por ser padres reconheceram
cidade imperial, os
ireitos de honra, e, guiados pela mesma consideração, os 150 bispos con-
eram os mesmos direitos de honra ao bispo da nova Roma, ao julgarem
Ú justiça que a cidade que é honrada pela presença do imperador e do se-
g o..., também deve ser honrada nas coisas eclesiásticas, como naquelas, e
ê-

exercera
tivesse apenas algumas décadas,
de
presidência nesses sínodos, emlu m¡ , ;à isso deve ter o segundo lugar na ordem de precedência, depois dela. Por
surgiu com toda a naturalidade a decisao a razão, os metropolitas das províncias do Ponto, da Asia e da Trácia [isto
desse Concílio de Constantinopla de
'

que o bispo dessa cidade teria a po '


o noroeste da Asia Menor e os Bálcãs], e somente eles, além dos bispos das
de honra na ordem de precedênciah "

1080 aPÓS 0 bispo da antiga Roma pm ' i das províncias que têm sua sede fora do Império, devem ser ordenados
que aquela cidade [Constantinopla] é a Nova Roma" l

_ o bispo da Igreja de Constantinopla, enquanto, naturalmente, cada me-


(cân. 3). Tratava
aqui, em primeiro lugar, de uma presidência de honra e não
_
w
ainda de unm
posição de precedência exatamente descrita no direito eclesiástica, políta, com os bispos de sua província, ordena os bispos de lá ...".
pois j O papa Leão protestou contra essa determinação do cânon 28 de Cal-
províncias do espaço grego tinham cada uma seu metro ,m
Í dônia, não a partir de considerações teológicas que poderiam ter surgido
foram afetados por este cânon_ Mas o 13011153. cujos direit¡ m
nao
princípio q _

i reivindicação ao primado por parte do bispo de Roma, mas sim a favor


s dois patriarcados de Alexandria e Antioquia, porque com a colocação de
onstantinopla no segundo lugar na ordem de precedência os direitos daque-
A

Iv l teriam sido diminuídos. De maneira semelhante o papa romano Dâmaso,


um sínodo no ano 382, já havia apresentado protesto contra a atribuição do
Í gundo lugar ao bispo de Constantinopla na ordem eclesiástica. O papa Leão
'

dor tornou-se aguda P ela Prime Vez Avocou novamente aquela recusa, que havia sido feita com fundamentação.
ira
'

no ano 431, em Efeso. O acusado:


'

trementes, em Roma se havia firmado uma sólida tradição sobre a ordem


'

nesse sinodo era o patriarca Cirilo de


ç

Alexandria Em fun ao d
_

Rom: AIaeÊaii i girLi i


.

a- precedência, a partir de Mateus 16,18 ("Tu és Pedro e sobre esta pedra


Ídxade, haviã
” ' '

_estreita relação entre as sedes episcopais de


-
. _

e iñcarei a minha Igreja"), que é designada como "princípio petrino". Nessa


--
s razoes isso não são mais bem
conhecidas.
l

Assim,
i

'ífundamentação não se falava mais de "sedes apostólicas" no plural, e sim de


'

era natural em si qui-


'
-

a presi_dAencia deste concilio pelo patriarca de


_

Alexandria não fosse qu es t'm


r O

nada pelos legados romanos J'á uma "sede apostólica" que, embora em si fosse tripartida, em que cada ordem
O blspo de Roma Celestmo' de
:que gde precedência era derivada de sua relação com o apóstolo Pedro. Leão, que
'

acord”
-

com um costume de 120 anos nao


tomou parte pessoalmente no concilio. ( )
, , -

'havia se baseado em Dâmaso, formulou a questão da seguinte maneira: "A


P1”0 bl ema. portanto, aqui nao apareceu. Vinte anos mais tarde
.

;Í cátedra de Alexandrianão deve perder a honra que adquiriu através do santo


~

g1? _flflílóàdestava
em C l d
do sucezsscoei' di'
^

no banco dos acusados


Dióscuro, sobrinho discípulo do bem-aventurado Pedro. Também a Igreja
j, evangelista Marcos,
iri o. eteriorada situa ão de ne
qu: esgocl a çao - de Antioquia, onde, com a pregação de Pedro, por primeiro surgiu o cristia-
' °

exlgla aqui' maus


” '
' '

se tomasse uma decisão “n93 Vez' qm'


Para o paço grfgo' ao menos para a Asia Menor nismo, deve persistir na ordem estabelecida pelos pais e, colocada no terceiro
eo norte da Grécia' estabel@cessa uma P0S1Ç80 de precedencia
para o bispo de j' degrau, nunca daí seja rebaixada" (Epistula 106,5). Trata-se aqui de uma tese

fiitãítãfii-lFcuiiiêrii»ea da .Igreja
-
.a ~
c* "
'

123 1. Dos PRIMORDIOS ATÉ A IDADE Mm ,m


- .

A Igreja imperial ate' o final da era antiga 2: A ampla articulação da Igreja


,
~

129
Í
teológica cuja base histórica não pode ser provada pelo historiador; principad-
mente, nada sabemos do envio do discípulo de Pedro, Marcos, a Alexandria.
Essa doutrina romana da ordem gradual das cátedras de Pedro foi depois tam¡
or exemplo,
:mento de
.
iconoclastia,
reforma de Cluny,
a instalaçao
entre
do Imperio Ocl'dente
a
-

.t
o mo-

outros), sempre v0 tararn anml rir ao


- ' ~

d? '
'

l
ngo dos séculos seguintes a tensão entre essas duas primeiras sedes do
da Igreja para hlstolãa
ao r
bém assumida no assim chamado Decretum gelasianum. i

istianismo. Para a ulteríor história e a da POhÚCa _ ,


,

Com isso, havia dois princípios opostos. Na Igreja oriental estava em vi r


uropa, esse distanciamento é da maior 0› P01' Causa
importancia. Quan.
gor a ideia baseada numa longa tradição de que direitos e privilégioseclesiais ruptura -
do Hanco sul do Império Romano e do antigo ambiente cultural,
ticos, enquanto ultrapassam as tarefas intraeclesiásticasde um bispo, dcwm eyHL

pela seculos VII dor de Bizân-


lmperad
'
ovocada arabe
'

0
- r '
~

_a invasao nos
caber a bispos que presidem a comunidade numa cidade, que também na mr
dem política são privilegiadosem relação a outras comunidades. No Ócidvn 1
io não foi mais capaz de assumir a tarefa que
_
Igreja de Cristo, o bispo de
-

Roma dirigiu seu


-
ter de e fend to d
o noroes e
~p ar
- ' ' ' juodarl
l gavaplara ter é: ,

te, a partir da passagem do evangelho segundo a qual presidência no colé-giu poder politico dos francos, que la estava crescen t emP os nao s e
do. :assis
- '

apostólico havia sido transmitida a Pedro, procurou-se deduzir teologicai ; ustentava mais a ideia da necessaria unidade na _a nt o no am bito
ilrãçao,
- - - ' ' A
'

mente a precedência das sedes episcopais que ainda deveriam sobressair w ,,


lesiastico como no estatal. A grande elipse cultura o antigo es p aÇ'o com
., . '

às simples metropolitas. Roma, a princípio, não via problemas no paralelismo u núcleo na região mediterrânea e seus dois focos, Roma e Constantinopla,
entre ordem eclesiástica e ordem política. Por outro lado, mais tarde, também ividia se à maneira de uma nova divisão celular. A Igreja ocidental latina
em Constantinopla se percebeu claramente a fraqueza da
fundamentação «lu É* eorientava-se a partir do eixo que se estendia de
.
ate a área franco-
- ' '

Roma '

ordem de precedência tomando como único referencial as circunstânciaspoli emã Da mesma maneira a "célula" grega expandia seu espaço vital es-
j' ñ

*
i

Assim,
. .

ticas. Quando, pelos acontecimentosdos séculos VI eVII, as sedes patriarcziiu :ritual para Europa
.. .
a
.

oriental, rumo aos eslavos. a riv alidade entre -


' ° _

de Alexandria e Antioquia politicamente não integravam mais a unidade du ,


Roma e Constantinopla, e a consequente a separa?ao ad q uir iu
tendencla
.
- ^ “ ~

Império Romano e a rivalidade entre Roma e Constantinopla apareceu com 'sentido decisivo para a ulterior historia da Igreja.
toda a clareza, tentou-se fundamentar uma precedência de Constantinopla ›
l

sobre Roma, não só com o argumento de que Constantinopla sempre


permu
neceu residência imperial, mas também com o pseudoargumento
teológico dc Capítulo 3: A evolução teológica e dogmática
que em Constantinopla se encontrariamas relíquias do apóstolo André, como
em Roma se encontram as de Pedro. André, porém, foi escolhido
:Alfred Schindler
por primei
ro pelo Senhor, antes de Pedro, motivo
por que caberia a Constantinopla o
primeiro lugar na ordem de precedência eclesiástica. ,

,f INTRODUÇAO ~

Somente aos poucos, ao longo do século IV, após a era constantiniana, li Três grandes correntes caracterizama história da Igreja do século IV: o pro-
também a sede episcopal de jerusalém, onde havia vivido a comunidade pri
mitiva, voltou a ter importância. Mas, como pela falta de um espaço cultural l ¡ressivo reconhecimento da Igreja POI Parte do 0 Surglmemo e a
;s rápida expansão do monacato e a grande controvérsia acerça da Trindade
Pãstãdü
específico não lhe cabia naturalmente qualquer posição de destaque, ela foi,
por assim dizer, criada artificialmente, com a reivindicação de que no caso
_: de Deus. Essas três correntes correspondem aos três campos de conhecidos
de Jerusalém se tratava da Igreja da origem e mãe de todas as outras Igrejas.
tensão nos quais a Igreja sempre se move: a relação da com
Igreja oEstado
Somente na legislação de Justiniano aparece a tese de que no corpo místico . e a sociedade, a formação da vida e a da fe. intraeclesiástica doutrina ,Onde
está o aspecto central? Os Padres da Igreja teriam respondido em unissono
de Cristo deveria haver cinco patriarcados, assim como o corpo natural do
ser humano tem cinco sentidos. A designação "patriarca" e
"patriarcados"
g a essa pergunta dizendo que a questão decisiva é o correto
'l da fé, do qual deveria brotar o comportamento correto. Essa concepção, de
conhecimento
tornou-se de uso geral apenas no século VI.
fato, está intimamente ligada à preferência pela teoria em detrlmento da
Quando, finalmente, dentro da unidade do Império, só restavam os Í, prática, e, por sua vez, também está profundamente arraigada na filosofia
patriarcados de Roma e Constantinopla, a rivalidade se tornou aguda. A antiga. Mas seria um engano, sem dúvida P910 nenhuma, prefereníla
ambição de Constantinopla ao papel de liderança fundamentava-se no fato ver essa

de continuar a ser a residência imperial. Muitos desdobramentos históricos


conhecimento como uma característica própria dos intelectuais
;E quela época. Sabemos que também o assim chamado "homem da rua par-
da-
cristãos
i

Historia Inc: Limemca da Igreja


_
V
, _ _ _ _ ,

130 1. Dos PRIMORDIOS ATÉ A IDADE MEDIA 131 3: A eV°l u ção teológica e dogmática
A Igreja imperial ate 0 final da era antiga
.
y
_
_ _ _ .
' _

_
ticipava vivamente das grandes discussões dogmáticas, e que mesmo nun i Í A controvérsia que seguir será apresentada referia-se, em primeira li-
a
mercados discutiam-se questões como, por exemplo, se o Filho é da mesma i- ) a um problema parcial da visão fundamental que acabamos de esque-
,
essência de Deus Pai. Também os monges nos mosteiros e os eremitas nu _' tízar, ou seja, a questão da unidade, da igualdade ou da subordinação do
deserto consideravam a correta convicção de fé como a condição impresa-in: o divino em sua relação com o Pai e, numa fase posterior, do Espírito em
dível para uma vida ascética agradável a Deus. i
Pai e
Filho. Desde o início estava claro que a humanidade em
ão ao ao
Na apresentação do desenvolvimento doutrinal e das controvérsia¡ i to em relação ao Pai está num degrau mais baixo, como de fato ocorre com
_-
doutrinais surge o problema de que, desde aqueles séculos, mudançuu -r humano como tal, que, mesmo sendo o mais perfeito, não é Deus, e sim
fundamentais ocorreram. Atualmente não apenas temos dificuldades palm tura. Discutida era, em primeiro lugar, apenas a posição da divindade em
entender na ordem correta aquelas acaloradas discussões sobre Pai, Fillm 'Ito, em relação a Deus Pai. A questão que doravante surgia sempre mais
e Espírito, mas, antes de mais nada, nos deparamos com a pergunta sobre* a seguinte: pode o Filho divino ser designado como Deus, de modo que a
'i

o sentido que aquelas discussões "realmente" tiveram. Parece


que na lira
Moderna em geral e principalmente nas últimasdécadas o interesse dos ci¡
Í ensão de criatura em Cristo seja apenas seu lado humano, ou deve o Filho
culos eclesiais ativos e engajados também se distanciou mais ainda das aíir
enquadrado entre as criaturas, e isso de tal sorte que ele ao mesmo tempo
n visto como um anjo superior, embora segundo sua essência deva ser dis-
mações dogmáticas, enquanto na concretização prática da vida cristã, tanto i guido do criador? Formulando a questão dessa maneira, pode-se responder
no âmbito individual como no social, questões referentes à espiritualidade,
_ e Cristo é verdadeiramente Deus, ou será preciso restringir-se a continuar
por exemplo, passaram a ocupar o centro. Como é possível, diante desscn csigná-lo como "divino" em sentido mais amplo e indeterminado. O pri-
pressupostos, ver nas antigas discussões dogmáticas mais do que antiguidu lro que defendeu de maneira muito decidida uma subordinação do Filho
'

des pelas quais podem interessar-se aficionados mas que para a vida do sc! i Pai e com suas pregações e poemas conseguiu influenciargrande círculos
humano atual se tornaram completamente irrelevantes? ulares foi Ário, um sacerdote de Alexandria. Ele ensinava que o Filho
=

A resposta a essa pergunta somente poderá ser dada através da própria uma criatura, como todas as demais, criado do nada, que ele não existia
A

apresentação, bem como através da ocupação pessoal direta com um objc de a eternidade, que, em consequência, era totalmente desigual à essência
to tão distante. Somente após um tratamento da questão dogmática em si Pai. Alexandre, bispo de Alexandria, não podia simplesmente tolerar esse
mesma, bem como em suas relações com o âmbito político e com a vida dv inamento, se desviava da convicção que era sua, pessoal, bem como
que
piedade, pode-se dar uma resposta à questão do verdadeiro sentido dessv i
círculos mais amplos. Abstração feita de sua obrigação episcopal de zelar
discutido dogma. 3'- a pureza doutrinal, também as divisões na Igreja egípcia não aconselhavam
i e simplesmente se
protegesse um sacerdote que, na opinião de muitos, com
SURGIMENTO DO DOGMA TRINITÁRIO
i
ensinamento blasfemavacontra o Filho de Deus. Ele foi então chamado a
tar contas e sua doutrina foi condenada num sínodo convocado por Ale-
Na virada do século Ill para o século IV pode-se considerar como convicção ' dre, em virtude de sua precedência como bispo de Alexandria(cf. acimap.
_

aceita por toda a lgrej a que Cristo não era apenas um ser humano com dons 6). Isso provavelmente ocorreu no ano 319.
extraordinários, nem um deus com corpo apenas aparente, mas um ser real Alexandre e seu clero contrapuseram às afirmações arianas mais ou me-
mente humano, mas ao mesmo tempo um ser divino. Esse ser divino _s o seguinte parecer: tal como a luz e o raio de luz são sempre insepará-
V,

quv
em Cristo veio até os seres humanos não foi posto em pé de igualdade com
h' 's, assim também o Pai e o Filho são igualmente inseparáveis e igualmen-
o Deus origem última de todas as coisas, o Filho não foi identificado com n
eternos. Por essa razão o Filho não pode ser colocado entre as criaturas,
Pai, mas supunha-se que, além do Deus que tudo abrange, houvesse tam-
~

as de acordo com sua verdadeira substância pertence totalmente a Deus


bém um ser divino anterior à encarnação. Se também o Espírito Santo devia :é igual a Deus Pai. Alexandre naturalmente não pretendia defender uma
ser entendido como um ser divino autônomo era uma questão
que recebia¡ outrina de dois deuses, e sim manter co ou subordinação expressa no par de
respostas diversas ou que, por vezes, nem mesmo se colocava. Claro era ape- 'llavras Pai/Filho, rechaçando todo e qualquer pensamento que pudesse
nas que cada cristão era batizado nesses três nomes santos, do Pai, do Filho c
do Espírito Santo, e que por isso devia Ver nessa "tríade" (= trindade, trias)
tringir a comunhão do Pai e do Filho. Alexandre, como ele próprio ad-
a

'tiu e como ocorreu com inúmeros teólogos posteriores a ele, encontrou a


o objeto essencial da fé cristã. i: superável dificuldade de redigir o mistério em linguagem compreensível

lílistória Ecumênica da lgre 132 1. Dos PRIMÓRDIOS ATÉ A IDADE lVlEI m Igreja imperial até o ñnal da era antiga 133 3: A evolução teológica e dogmática
geral. A grande vantagem da doutrina ariana era sua clareza racional v aut_ -
alinha, estava interessado apenas na prática religiosa, principalmentede
.

compreensibilidade.Essa razoabilidade,porém, foi paga com um consider , enquanto os partidos envolvidos na controvérsia viam que estava em
rável prejuízo de conteúdo religioso: pois o Cristo ariano, embora fossv ums 3o a fé em Cristo como redentor, e com isso todas as demais expressões
sobre-humano, que havia assumido a carne, mesmo assim, como criui u: redo cristão. Assim, ao imperador não restou outra coisa senão recorrer
_

ser .

ra, como primeiro ser entre tudo o que foi criado, estava sujeito a mudança¡ expediente que em seguida se tornaria "clássico", ou seja, a convoca-
inclusive à possibilidadede fazer o mal, tendo merecido sua dignidadv mu: _ *de um Concílio ecumênico, que se realizou em Niceia (atualmente, Iznik,
prema mediante a prova ética prevista por Deus. Por isso, Ario não trslnv¡ A 'oroeste da Turquia) no verão de 325. Não se deve supervalorizar o fato

longe da compreensão de Cristo como ser humano superior e mero modrltl¡ E m imperador, por força própria, ter convocado o primeiro Concílio ecu-
A seguir será visto qual era, diante disso, do lado oposto, a preocupação d( ico. O que encontramos aqui em Constantino ainda não é cesaripapis-
fé diante dessas opiniões doutrinais. bizantino, isto é, tutela absoluta da Igreja por parte do imperador. Bem
Antes de mais nada é preciso descrever como a controvérsia intrairpjps ' _

l, a forma do concílio imperial era tão nova quanto era novo o fato de
cia e principalmente teológica alcançou outras áreas, tornando-se um uma imperador amigo dos cristãos ser soberano do Império, e os perigos que
de política eclesiástica de primeira grandeza. Ario não aceitou de modo ¡Ii! Â
A

reitavam ainda não podiam ser previstos. O posterior desenvolvimento


gum sua condenação. Ele estava convencido da correção de suas ideias, vi¡ .

Igreja do Ocidente mostra com clareza que ainda não havia ocorrido uma
em seus adversários falsos mestres que pretendiam subdividír a essência de
Deus e procurava apoio em seus companheiros de ideias, entre os quais nl Í,
,.
missão definitiva imperador e que uma atenuação de sua influência
ao

mais inHuentes não habitavamno Egito, emboratambém aí encontrasse li n:


,Igreja e nos concílios ainda estava no âmbito da possibilidade.De resto,
coparticipação era necessária inclusive por razões organizacionais, uma
j'

te proteção. Ario tinha recebido sua formação teológica em Antioquia c pu»


que um tão grande número de bispos, dos diversos cantos do Império,
-

dia aproveitar bem suas boas relações com diversos bispos que haviam Hi( ln j. A

ente conseguiam reunir-se com o auxíliodo correio imperial.


seus colegas de estudo e agora exerciam seu ministério nas grandes cidzulvu
i

No Concílio de Niceia, além dos partidários imediatos e companheiros de


da Asia Menor e da Palestina e faziam valer sua influênciaa seu favor. l M¡ i

_= ias mais íntimos de Alexandre e Ario, apareceram também outras forças.A


desavenças entre um bispo e um de seus sacerdotes desenvolveu-se assim
p; de maioriados bispos provinha da metade oriental do Império, e entre eles
uma controvérsia entre os bispos e os partidos eclesiásticos em toda a nu-
tade oriental do Império. Pelo visto, Ario havia provocado um conHito que 1;: aior parte não era de arianos convictos; mesmo assim, quanto ao problema
"estava no ar" e que também sem ele necessariamente teria eclodido. Au questão, também não pensavam como Alexandre, mas posicionavam-se
discussões amargamente conduzidas ocorreram nos anos em que tambmi alguma maneira no centro, de acordo com a antiga tradição. Eles não que-
nos campos político e religioso-políticograndes reviravoltas ocorreram.
rebaixar o Filho divino ao nível de mera criatura, mas também não
m
Para Constantino, a unidade religiosa no Império era um dos pressup( m onstravam interesse em elevá-lo tão próximo quanto possível a Deus Pai.

tos decisivos para o bem do Estado (cf. acima p. 97), de tal sorte que não llw ,
a eles, Ele era o segundo, subordinado ao Pai, inferior ao Pai em glória,

era indiferente se a religião por ele promovida era ameaçada por desavengwm
s realmente Deus em relação à criação. A maioria desses bispos era forte-

e divisões. Depois de assumir o poder no Oriente, ele se julgou obrigado .a


nte inHuenciada por Orígenes (cf. acima p. 84 ss.). O mais famoso entre
intervir na controvérsia em torno de Ario. Inicialmente, tentou-o mediana B, provavelmente, era Eusébio, bispo de Cesareia, autor da primeira história
i

te um escrito em que qualiñcou as diferenças como mera discussão acadv Í


Igreja e admirador de Constantino. O Ocidente tinha uma representação
mica, convocando os principais expoentes, Alexandre e Ario, a retornar "xi 'ca numericamente, mas não na real importância de seus representantes.
;om isso não se está fazendo tanta referência aos dois legados papais, e sim
_

ordem". De alguma maneira ele interpelou os contendores com argumenti m


*Hósius, bispo de Córdoba, na Espanha, que era uma espécie de conselheiro
_

semelhantes aos que utilizamosatualmente, pois, assim pensava ele, colocam


em perigo a unidade do povo de Deus por uma questão tão insigniñcanu- «- icular de Constantino em questões religiosas e provavelmente também
simplesmente insensato. nduziu as sessões conciliares. Hósius, porém, estava do lado de Alexandre e
Mas essas primeiras tentativas de paz do imperador fracassaram pela» ia valer sua inHuênciajunto a Constantino nesse sentido. Assim, não deve
fato de ele não reconhecer o quanto, no entender dos envolvidos, a questao usar admiração que o resultado do concílio tenha sido uma decisão clara
controversa atingia o núcleo mais íntimo da fé cristã. Constantino, ern pri e
› tra Ario e (nem tão clara) a favor da linha ocidental-alexandrina.

ÍÍÍSÉÓria Elcumênica ola lgrütjzi. 134 1. Dos PRIMÓRDIOS ATÉ A IDADE Ivln u .
1:. Igreja imperial até o final da era antiga 135 3: A evolução teológica e dogmática
Foram rejeitadas as seguintes afirmações: "Houve um tempo em que I'll¡ É
expressividade o que amplos setores da Igreja pensavam: se o
ou com
(o Filho) ainda não era"; "Ele foi feito do nada"; "Ele é criado e mutávcl". A i
_

,entor é apenas um ser subordinado ao verdadeiro Deus, então ele não é


Positivamente o Concílio resumiu seu parecer na formulação de um crcclcy,
_í dentor e sim, no melhor dos casos, algo assim como um profeta.
o níceno (que não deve ser confundido com o níceno-constantinopolitamu 1
A grande maioria dos bispos orientais (fora do Egito) permaneceu em sua
-_
utilizadona liturgia católica e em algumas luteranas, muitas vezes erroncm '¡
_

_ vicção "intermediária" e não estava disposta a apoiar o poderoso patriar-


mente designado como "niceno"; cf. abaixo p. 137 s.). Esse credo, em sua
base, nada mais era do que uma forma mista dos credos tripartidos naqucln
'

:de Alexandria, enquanto os dirigentes eclesiásticos ocidentais, como, por


plo, o papa Júlio (337-352),tinham boas relações com ele. Uma vez que
.a

época já em uso, que começam assim: "Nós cremos em um Deus Pai t(›(lc›~ T *arianos consequentes foram condenados, até cerca de meados do século a
poderoso" etc. Para decidir a controvérsia, contudo, foram introduzida¡ trovérsia continuou acesa entre as posições ocidentais alexandrinas e as
algumas fórmulas adicionais, e justamente na segunda parte, sobre Cristo, i entais origenistas. No final dos anos 350 formou-se aos poucos uma linha
principalmente na passagem em que se diz que Cristo é "Deus verdadeiro : nas décadas seguintes se añrmaria e, finalmente, triunfaria e de alguma
do Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai". O termn
i eira restauraria a unidade dogmática da Igreja. Os representantes mais
grego homousios, "de uma substância", aqui traduzido por "consubstmr 'gnes desse amadurecido "novo rumo" foram Basílio Magno, bispo de Ce-
cial", que pode também significar "uma substância", "de uma substância". ia, na Capadócia (T 379), seu irmão Gregório, bispo de Nissa, e o amigo
não agradava aos bispos orientais e não somente aos arianos. Mesmo assim n í es
Gregório, bispo de Nazianzo (ambos falecidos nos anos 390; Nissa e Na-
grande maioria dos participantes do Concílio curvou-se e a maioria dos legal ' zo eram igualmente cidades menores da Capadócia). Na doutrina trini-
dos orientais interpretava as fórmulas da maneira que lhes convinha. Apesar 'a dos três grandes capadócios ensina-se a divindade do Filho, bem como a
da falta de clareza teológica, o resultado do Concílio foi a clara condenação na divindade do Espírito Santo, cuja posição dogmática, a partir de meados
do puro arianismo e a vitória de Alexandre de Alexandria. -
; século, também foi incluídana controvérsia. Mas diversamente dos antigos
Com o Concílio de Niceia a controvérsia deveria ser decidida e concluída
,F icenos" eles explicavam com mais clareza a diferenciação das três pessoas
Ledo engano. A unidade da religião desejada por Constantino parecia ter si( lu i 'vinas e desenvolveram um sistema conceitual diferenciado
para descrever o
alcançada,mas na verdade as contradições partidárias continuavam acesas sol › istério da Triunidade. A eles remonta essencialmente a fórmula de que na
as cinzas e ameaçavam incendiar-se novamente. As discussões extremamen índade há uma substância(ousia) de Deus, mas em três formas autônomas
te intricadas em relação à teologia e à política, que perduraram até a última¡ existência (hipóstases) ou, como se dizia no Ocidente: uma substânciae três
década do século IV, não podem aqui ser apresentadas em seus detalhes. Au ,

ssoas. Uma vez que eles próprios eram muito influenciadospor Orígenes,
forças determinantes nessa "controvérsia ariana" devem, contudo, ser brevc nseguiram a adesão de muitos bispos orientais, estabelecendo ao mesmo
mente descritas, para que seu resultado se torne compreensível. Em primeim
po pontes para o Ocidente e Alexandria. No Ocidente a nova ortodoxia
a

lugar, as posições e pessoas mais importantes em teologia e Igreja: a linha (lr apoio mais efetivo por parte de Ambrósio, bispo de Milão.
eo
Alexandre foi defendida de maneira competente por Atanásio, que em 32 8 n Quanto ao papel dos imperadores nessa longa controvérsia, pode-se
sucedeu em seu ministério. Para Atanásio nossa salvação depende da fé nn _

é usar Constantino de ter, ele próprio, sido mais tarde infiel à decisão por
divindade irrestrita do Filho. Nossa redenção nenhum valor teria se o Filho e promovida em Niceia. Pois, quando na metade oriental do Império a
-

de Deus vindo a nós na verdade fosse uma criatura, mutável e com isso, em j, ontrovérsia entre os bispos da Asia Menor e da Palestina, de um lado, e
princípio, semelhante a nós; pois a salvação para nós seres humanos consisti- tanásio e seus egípcios, de outro, tomou formas cada vez mais severas,
no fato de a força da imortalidade ter irrompido em nosso mundo e de
qui- imperador agiu contra o partido de Atanásio e o mandou para o exílio.
com isso nossa mortalidade e nossa pecaminosidade foram curadas ÍEssa atitude titubeante não era sem fundamento e o que Constantino sentia
por Cris
to. Mas como essa obra salvíñca poderia ter sido realizada por outro senão
por rnou-se mais perceptível ainda em seu filho Constâncio (soberano único
aquele que, ele próprio, é verdadeiro Deus, estando assim em condições dc _de 350 a 361), ou seja, de que uma política religiosa contra a maioria dos bis-
suprimir as deficiênciasda criatura? Quem nega que o encarnado substancial- ;pos orientais praticamente não era sustentável. Por essa razão Constantino
mente é Deus, portanto o Filho da própria substância do Pai,
nega totalmen
te a fé cristã. Com consequências inexoráveis, Atanásio defendeu essa tese c
--

gpromoveu, com grande intolerância, uma "teologia da corte" mais ou menos


;tendente ao arianismo, que ele pretendia impor a todo o Império, claramen-
A_

Ííistória Ecumênica da Igreja 136 1. Dos PRIMÓRDIOS ATÉ A IDADE Mm m A; Igreja imperial até o final da era antiga 137 3: A evolução teológica e dogmática
te Ocidente e, com menos sucesso, contra Atanásio. O fato de a partir de
no
j na humanidade. já durante a controvérsia ariana havia sido rechaçada
364 haver novamente dois ímperadores distintos no poder inicialmente pru
moveu novamente os antagonismos, mas o avanço do partido representado
a, lcleia fortemente defendida pelo bispo Apolinário de Laodiceia, de que
_« Cristo absolutamente não havia vontade nem razão humana
que eram
pelos três grandes capadócios no Oriente levou finalmente, também lá, m¡ lment.e supridas pela
pessoa divina. Assim sendo, no seculo V ninguem
°
° ' -

'
.
,

abandono do puro arianismo mitigado. a' is podia añrmar que Cr1sto de fato não tinha
.

se tornado ser humano no


De maneira geral o Concílio de Constantinopla, de 381, o segundo en¡ no sentido da palavra, mas apenas "carne".
ménico, visto sempre como conclusão da controvérsia ariana, e a C0nflsSíltb
de fé utilizada nas negociações conciliares são entendidos como expressam
i

_
Mas a t
endenCiaAdeApOhnariO,
contudo,
^ '

se manteve e foi mais tarde


Cndlda com veemencia por um sucessor de Apolinário (T 373) o
_
'
' '
- ~

bispo
da unidade dogmática atingida. Uma Vez que isso em linhas gerais de fnlu 'lo de Alexandria (T 444). Com isso, ele levou adequadamente adiante
A

a
está correto, e já que o credo (niceno-)constanínopolitanoé o único tripm- ança do grande Atanásio, pois também este em sua época não estava lon-
»lg tido que a Igreja do Ocidente e a do Oriente têm em comum, deve-se aqui de Apolinario. O interesse condutor da doutrina de Cirilo sobre Cristo é
repetir na íntegra o texto em seu valor ecumênico:
l
_

que nele reconhecemos o Filho de Deus na carne e de maneira nenhuma


l-í Nós cremos no único Deus, o Pai, todo-poderoso, que tudo criou, céu e tema.
ser
humano individualque,
divina. De
pessoa humana, possa
semelhante
como ser distinguido
-

pessoa ,maneira mas também diferenciada de Ata-


o mundo visível e o invisível. a 1o na luta contra Ario, Cirilo também

E no único Senhor Jesus Cristo, filho unigênito de Deus, nascido do Pnl


¡ rechaçou todas as tentações de ver
Jesus em primeiro lugar ou antes de mais nada um ser humano exemplar
=

!ri antes de todo tempo: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus vc¡ rfeito. Está certo que o humano, assumido pelo Filho imortal vale
dadeiro, gerado, não criado, consubstancial (homousios) ao Pai; por meio (lvle
_

í_ ple ›
'

Í e totalmente como exemplo para nós, mas isso exclusivamente


provém
tudo foi criado. Para nós homens e para nossa salvação ele desceu do céu, lnl
É
7- fato de o imortal ter assumido
,à substância mortal para conduzir a nós
encarnado do Espírito Santo e da virgem Maria e tornou-se homem. Por nua _ 5
rtais, a imortalidade. Quem eventualmente quisesse considerar a
,
_ _ _

con:
foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado, ressuscitou ao tm " dânciada vontade moral entre Cristo
i

como pessoa humana e Deus como


ll' ceiro dia, segundo as Escrituras, e subiu ao céu. Está sentado à direita do Pai c* É
damento da unidade Deus-homem em Cristo estaria colocando Cristo
;l voltará na glória, para julgar os Vivos e os mortos; seu reino não terá fim. j' pé de igualdade com um apóstolo ou algum homem de Deus,
Nós cremos também no Espírito Santo, que é Senhor e vivifica, que pm enquanto
_
_x , a rigor, na verdade é o Verbo tornado carne.
l cede do Pai (e do Filho), que com o Pai e o Filho é adorado e gloriñcado, qm*
falou pelos profetas, e na Igreja única, santa, católica (geral) e apostólica. N¡ m
-

nte e
.en 1 a em
Urcrllafdoãâina cristológica
oposta à convicção de Cirilo foi principal-
Antioquia
e pelos teologos lá formados. Para eles, real-
cremos no único batismo para o perdão dos pecados. Nós esperamos a resstn
_

'

I nte Cristo era verdadeiro Deus e verdadeiro homem mas viam


na di
reição dos mortos e a vida do mundo que virá. algo
, -

são hum totalmente individual, de maneira que para eles era


ana
'
' ' '
°

s aceitavel a ideia do ser humano divinizado e plenamente uniñcado


_v
' .
r

com
do que a
pus ideiade
_

na pessoa de Cristo, a rigor, estamos somente


A FORMAÇÃO DO DOGMA CRISTOLÓGICO que.
te da pessoa divina. Evidentemente, também os
A segunda grande discussão de tipo dogmático que aqui deve ser reportau ln
antioquenos não pen-
am que Jesus fosse apenas um homem especialmente modelar. Também
em muitos aspectos está ligada à controvérsia acerca da Trindade. Trata m* l acreditavam na encarnação do Filho eterno consubstancial ao Pai
'

huma-
mas
da controvérsia cristológica do século V, que, em continuidade com os pm '
.

tendiam evitar toda e qualquer mistura da substânciadivina e da


. .
9

blemas e as posições da controvérsia ariana, se referia à substânciae à pesso m V, garantindo assim certa autonomia tanto para a divindade como
para
j

a
“J l do Cristo feito homem. Todos os partidos envolvidos no conflitotinham vn¡
l 3 comum, contudo, o que se tinha alcançado no século anterior, ou seja, qui*
.
' anidade
nd
Cristo.
dos
como Cirilo ou teologos mais extremistas,
'

Pessoas ' '


› - -

.o aopiniao antioquenos, degradando a substânciaimu-


_

estariam
l

,l a divindade em Cristo é plena e realmente Deus, mas não é Deus Pai, e sim
r el e invisivel de Deus, que, por exemplo, não pode ser pregada na cruz
a "segunda pessoa" da divindade indivisa. A questão ainda não esclarecida O violento efeito
Í1_ era até que ponto se deveria, ao lado dessa divindade, admitir também uma _ n' de que essa aparentemente insignificante diferença foi
az causar pode ser observado na primeira fase da controvérsia cristo-

l
|

ç
Elis-inicia. Eciiineiiiczi da
›. , . 1 ,. -

lgzireja
.
138 1. Dos PRJMÓRDIOS m: A Iiwm M» u... l'
1 n imperial ate' o final da era antiga ~
139 .
3 : A evolução teológica e dogmática
.
lógica. O ponto de partida, a rigor, era uma questão mariológica, ou seja, na nte, também dos patriarcas de Constantinopla e Antioquia. Quando
permitido atribuir à virgem Maria o título de "deípara" (latim, deipara.; grau' perador Teodósio II, que havia demonstrado inclinação monoñsita,
go, Theotókos, isto é, Mãe de Deus) que naquela época já havia se espal hndaf? reu no ano 450, também mudou o rumo da política religiosa imperial.
Para Cirilo nem se colocava a questão do mérito dela de receber o títulnij nvocação do Concílio para Calcedônia (em frente a Constantinopla, no
enquanto por motivos compreensíveis os teólogos antioquenos, que faziam_ foro, atualmente Kadikõy) no ano 451 deveria restabelecer a ordem, e
n

questão de distinguir claramente Deus e homem em Cristo, somente cad¡ »g i em sentido bastante incômodo para Dióscuro: ele próprio foi deposto, e
mitiam isso segundo determinadas condições. Nestório, patriarca de (Émile. rmula de fé elaborada pelo Concílio mantinhade alguma maneira uma li-
tantinopla, que em sua teologia era antioqueno, atacou esse título em Hunt* intermediária entre a tendência alexandrino-monoñsitae a antioquena,
ora deixasse mais satisfeitos os antioquenos e o papa, que se manifestou
i

pregações no ano 428, provocando escândalo entre muitos crentes. Ncstórle-


não negava o direito de designar Maria simultaneamente como mãe de I h-ug' '~'› toda a questão por meio de um documento magisterial.
e mãe de um homem, ou de intitulá-la "mãe de Cristo", mas simplesmcntci ' O Concílio de Calcedônia confessou o único Senhor Jesus Cristo, ple-
"deípara" ele considerava insustentável. ' 'Íem sua divindade bem como em sua humanidade, consubstancial ao Pai
Talvez tivesse sido possível reprimir a controvérsia caso o adversmiu to à divindade e consubstancial a nós quanto à humanidade, gerado
A

teológico de Nestório de maior peso, Cirilo de Alexandria, não fosse ao n uma r Deus antes de todos os tempos, "nos últimos dias" nascido da virgem
.

mo tempo o antípoda do poder político do patriarca de Constantinopln ' Í iria, a Mãe de Deus (Theotókos). Manteve-se que ele (Jesus Cristo) é úni-
a
se a disputa teológica não tivesse se transformado numa luta pelo poder. i :, em duas naturezas sem mistura, imutáveis, indivisíveis e inseparáveis,
Além disso, o bispo de Roma, papa Celestino, foi atraído para a discussaln, n

“a esmo mantendo suas propriedades, elas se unificaram numa só pessoa e


tomando o partido de Cirilo, de maneira que foi necessário procurar uma .› ma de existência (hipóstase). Assim, ao lado da antigamente já em Ni-
decisão
A

na mais alta esfera. O imperador Teodósio II convocou um conciliu 'a estabelecida unidade de substância (ou de natureza) e das três pessoas
.

para Efeso, realizado no ano 431. A rigor dever-se-ia falar de dois concílinn triunidade, surgiram também a dualidade de naturezas e a unidade de
de
-

Efeso, pois Cirilo, seguidores e com os legados do papa, m¡


com seus
i

ssoa em Cristo, e a segunda pessoa da Trindade ao mesmo tempo deveria


lizava sessões na igreja de Maria, enquanto Nestório e seus companheiruu uivaler à única pessoa de Cristo.
p

de ideias, assim como o patriarca de Antioquia e o encarregado de negóci( m _,


A "fórmula mágica" assim alcançadanem de longe conseguiu unir todo
do imperador realizavam sessões em outro lugar. Na sequência, o grupo «lv Império. Assim, Dióscuro, apesar de deposto, simplesmente permaneceu
Cirilo e do papa conseguiu impor-se, isto é, Nestório a partir de então fui 'x seu ministério, continuando a ter amplo apoio dos egípcios. A seu lado
considerado herege e mandado para o exílio; Cirilo retornou vitorioso para u p' _i colocado um patriarca alexandrino "regular", mas sem grande resultado:
Egito e o título "Mãe de Deus" a partir de então foi considerado designaçnu to no plano político como no religioso não era possível impedir a for-
a

correta para a virgem Maria. O sermão feito na época por Cirilo em homv ação de Igrejas nacionais que se desvinculavam de Constantinopla e ins-
nagem a Maria não atingiu a validade de um dogma, mas mesmo assim con 'tuíam seus próprios patriarcas. Corn Dióscuro a Igreja capta iniciou sua
tinha tantas afirmações de peso acerca de Maria que pode ser considerada :.› 'stência singular, que ela, como mais importante Igreja do Egito, mante-
um dos documentos mais significativos da doutrina mariana em
formação. .- até os dias atuais. Embora ela rejeite a designação "monofisita", rejeita
-

Mas no que se refere à ulterior evolução da discussão cristológica a v¡ igualmente a fórmula teológica de Calcedônia.
tória do patriarca alexandrino não estava definitivamente garantida, nem (ln _É Finalizando, deve-se colocar mais uma vez a questão do sentido que
ponto de vista de política eclesiástica, nem do ponto de vista teológico. Tal :realmente tem toda essa discussão.
como na controvérsia ariana, aqui também não era possível simplesmentv Antes de mais nada deve-se dizer que as lutas e os esclarecimentos ocor-
neutralizar totalmente um dos partidos. Principalmente quando o sucessor J-;reram num pensamento e em conceitos que para nós estão incrivelmente
de Cirilo, Dióscuro de Alexandria, mostrando-se cada vez mais exigente c Alongínquos. Especialmente complicada de entender é, em primeiro lugar, a
entendendo que devia defender a doutrina monofisita (doutrina de uma só , necessidade que aquelas pessoas tinham de exprimir tudo o que é importan-
natureza em Cristo, não duas) em sua forma mais aguçada, encontrou re ,te na fé mediante afirmações essenciais. "Sabedoria", "hipóstase", "natu-
jeição por parte do imperador, bem como do papa Leão Magno e, eviden ji reza" são conceitos que não permitem perceber nada a respeito da vivência

!diretoria ECU mênicra. da Igreja 140 1. Dos PRIMORDIOS ATÉ A IDADE Mm .. , Í



A Igreja imperial até o final da era antiga 141 3: A evolução teológica e dogmática
pessoal, nada da história, aparentemente nada da genuína religiosidade nu L
J aqui, de qualquer maneira, um paralelismo entre a concepção ocidental
até da dinâmica do mundo moderno. Tem-se a impressão de: que .
mesmo
* Igreja-Estado e cristologia, por um lado, e as correspondentes concepçoes
os cristãos daquela época apenas perguntavam: o
que e' Cristo, Deus etc.. a a dentais, por outro. Talvez também aqui se possa perceber uma indicação
não quem é Jesus e o que ele pode significar para nós? De fato, tanto dc-.nlru 'Í que esses dogmas clássicos sobre Deus e Cristo constituem regras básicas
quanto fora do cristianismo, a questão acerca do essencial somente podia um' 7 nsamente formalizadas que devem voltar a ser acionadas sempre que a
posta e respondida como questão acerca da essência: "O Senhor é meu pink 4'; eja necessite reformular sua mensagem.
tor" esse dito do salmo certamente era compreendido, mas quando m: 5'
_

Abstração feita das Igrejas "monofisitas" e "nestorianas" no Oriente e


pretendia falar com exatidão, era necessário dizer: o ser de Deus é simuller assim chamada unitaristas no Ocidente, todas as Igrejas cristãs aceita-
neamente seu ser bom, que sucede ao ser humano, sem provocar mudança
;- ç' as decisões dogmáticas dos primeiros quatro concílios, e para os CI'1S-
alguma em Deus. Partindo desses "rígidos" pressupostos, é preciso admitir Ê w s atuais a questão não mais deveria ser posta em sentido de ser a favor ou
que teólogos como Atanásio e Cirilo de Alexandria envidaram extraordins¡ tra, e sim como esses dogmas devem ser compreendidos e aplicados num
rios esforços para relacionar o Deus imutável o mais estreitamente possível ndo tão incrivelmente transformado em relação àquela época.
com o Cristo vivo e com o Espírito operante na Igreja. Poderíamos
,

pensar :
que Cristo estaria sendo aprisionado por conceitos filosóficos, quando. Im
realidade, aqueles Padres da Igreja tentavam romper os rígidos conccilun A
i :1 CONTROVÉRSIASCRISTOLÓGICAS DOS SÉCULOS VI E VII
do Ser divino em função de Cristo, portanto rompendo cadeias. As soluçm-u
'situação dos imperadores romanos (orientais), do ponto de vista da política
ç

mais sensatas dos arianos e, de alguma maneira, também dos antioquenun


_i 'giosa, após Calcedônia, era extremamente desfavorável, uma vez que, por
pouco enriquecimento trouxeram nesse sentido, pois homens divinos eram _A lado, a unidade imperial sem a unidade religiosa era totalmente impensá-
conhecidos da Antiguidade pagã e cristã, mas nova e excitante era a pri' 'i mas a unidade religiosa, por outro lado, era inatingível. O Egito e a Síria,
,
gação acerca do Deus altíssimo que, por incompreensível misericórdia, .w mo se sabe, demonstravam fortes inclinações ao monoñsismo, o Ocidente
havia rebaixado para sofrer a maldade do mundo como ser humano. Qui- tino, no mínimo, era de orientação calcedônica, embora fosse mais forte-
Deus é um Deus da história e um Deus do sofrimento, em suma, o Dum sclarecem-se assim as semp re re p etidas tentativas dos
nestoriano".
,ente " '

de Jesus Cristo, foi expressado pelos clássicos dogmas dos primeiros qual l o É'. peradores bizantinosde manter a unidade dos patriarcados tendentes à se-
concílios, apesar do recurso aos conceitos filosóficos. tração, mediante novas fórmulas, condenações e coisas semelhantes,
Quanto ao entrelaçamentodas discussões dogmáticas com a política, issu O assim chamado Henotikon do imperador Zeno (cf. acima p. 114) já
não deve ser visto apenas como negativo e destruidor dos conteúdos da fé. /\.~i 'a caracterizado por uma tendência que seus sucessores continuaram a
posições dogmáticas também estavam sempre mescladas com determinadas  rseguir: não revogar o credo de Calcedônia, mas dar-lhe uma explicação
intenções políticas e formas de conduta. Atanásio não estava em conflito com A-
ue ao menos deixasse satisfeitos os monoñsitas moderados. Para garantir
a maioria dos imperadores somente porque no Egito tinha enorme influência
sobre a população, mas também porque resistiu com veemência a cada tenta
..interpretação "correta" de Calcedônia, foram reconhecidos no Henotikon
ortodoxos em todas as formas os doze anátemas de Cirilo, que este
tiva de tornar a Igreja servil e submissa ao Estado. A subordinação do Filho21o utrora havia estabelecido contra Nestório, foi reforçada a confissão de fé
Pai no campo dogmático muitas vezes ia de mãos dadas com a subordinação « _ único Senhor, que tanto realizou milagres como sofreu a cruz (sem atri-
da Igreja às necessidades e aos interesses estatais (assim, por exemplo, em Eu
sébio de Cesareia, para quem Constantino era quase um segundo salvador),
uição a naturezas diversas), sendo o credo de Calcedônia aceito somente na
:fãedida em que não contradizia essas determinações.
Sob ambos os aspectos, Atanásio resistiu à subordinação. E evidente Com esse Henotikon Zeno de fato conseguiu conquistar os egípcios e os
que si'
recomenda o máximo de cautela com o estabelecimentode tais paralelos. Mm; frios, e o futuro imperador Anastácio (491 518) defendeu pessoalmente de
-

também na controvérsia sobre as duas naturezas de Cristo volta a aparecer qllt' a aneira tão explícita as tendências monofisitas que o credo de Calcedônia
a tendência à clara distinção é mais encontradiça lá onde também se tentava¡
raticamente estava desativado no Império do Oriente. Que isso somente
separar poder civil e espiritual, enquanto o entrelaçamento mais intenso entri- í possível à custa da unidade eclesiástica com o Ocidente já foi descrito
Igreja e Estado (e povo) tendia mais à ligação com o monofisismo. Há tam ;lnteriormente (cf. acima p. 115).

.Êíiiiiãiría. Elgin ifziériiczi ds: Igifcii. 142 1. Dos PRIMÓRDIOS ATÉ .»\ 1mm. Ivlm .i "A Igreja imperial até o final da era antiga 143 3: A evolução tcülógíca C Cbglnátlca

l
Quanto ao temporariamente vitorioso monofisismo, seus mais poda( rpoderosa influênciae por vezes forte pressão do imperador; contudo,
rosos representantes agiam em Alexandria e em Antioquia. Antes de mui¡
a a consciência de ser o representante de toda a Cristandade, principal-

nada devem ser citados os dois patriarcas antioquenos Petrus Fullo (o u. ( te da ocidental, que era quase unanimemente contra a condenação dos
celão) e Severus. O primeiro, que durante o ano 471 e mais tarde de 474 capítulos". Vigílio ocilou por várias vezes entre as exigências imperiais
a 477 bem como de 485 a 488 ocupou o trono de Antioquia, tornou-sc fa.
a

bispos ocidentais. Quando finalmente em 553 se realizou


vontade dos
moso principalmente por um acréscimo à liturgia acolhidocom entusiaamn
J

Constantinopla o quinto concílio ecumênico, Justiniano conseguiu, junto


i

pelos monofisitas, mas decididamente rejeitado pelos adversários deles. N¡ 'ioria dos bispos provenientes do Oriente, impor a condenação dos três
invocação "Deus santo, Deus forte, Deus imortal, tem piedade de nós" cl¡
~

Itulos da suspeita fórmula "uma natureza do Logos encarnado". Vigílio,


acrescentou: "tu que por nós foste crucificado", e para fixar essa fórmula 'u novas ocilações, deu seu consentimento, provocando assim que nume-

memória de todos foi treinado um papagaio que no mercado de Antioquif áreas da Igreja ocidental rompessem a comunhão com a Sé Apostóli-
i

j'
:

recitava ininterruptamente essa fórmula. O que nesse acréscimo repugnaw¡ A posterior anulação desses cismas teve por consequência, enñm, que
todos os não monoñsitas era a relação imediata entre a afirmação do sofri- onclusões do quinto concílio foram aceitas, embora não correspondes-
mento e a afirmação da glória. Deveria estar claro que nenhum outro, além à tendência da teologia ocidental. Para ganhar as regiões monofisitas no
2

do Filho trinitário, é o crucificado. 'ente, Justiniano, com o quinto concílio, conseguiu tanto quanto nada.
-

Com a mudança de governo no ano 518, quando Justino sucedeu em A atitude de Justiniano nessas controvérsias distingue-se totalmente da-
imperador Anastácio, ocorreu também uma mudança na política religiosa. ›' o que o papa Gelásio havia designado como desejável (cf. acima 114).
p.
Severus de Antioquia (patriarca lá desde 512) teve que abandonar sua scdv, tiniano não era um executor da vontade dos bispos, nem era um príncipe
fugindo para o Egito. A unidade eclesiástica com o Ocidente foi restabcli- fazia teologia como lazer pessoal, e sim um soberano dominador na Igreja
2

cida com a intermediação do futuro imperador Justiniano e em 519 festiva¡ o Estado, na ordem e na doutrina, que de alguma maneira se arrogava pro-
~

mente confirmada. O Concílio de Calcedônia estava novamente reconhcci ção papal ("cesaripapismo"). Evidentemente, é necessário precaver-se
do, ficando proibido o discurso sobre a única natureza de Deus e homem. i ntra simplificações: a anuência dos patriarcas, especialmente de Constan-
Apesar dessas enérgicas medidas, Justino e Justiniano (imperador a partir «lv opla e Roma, era para ele de vital importânciaem seus decretos religiosos.
527) não conseguiram impor-se simplesmente ao poder monoñsita, mas w l
* ando, por causa dos "três capítulos", não foi possível alcançar o
consenso,
viram obrigados a, de diversas maneiras, procurar soluções intermediárias. igualmente convocou um concílio. Justiniano, portanto, não se colocava
Teodora, esposa de Justiniano, era extremamenteinclinadaao monofisisnu ›, -› almente acimadas (ou no lugar das) autoridadesda Igreja. Mas a preocu-
realizando em parte uma correspondente política contra o marido, com toda o pelo bem do Império, do que necessariamentefazia parte a unidade de
uma Série de int¡ 1835 nada elegantes~
ç na verdade ia tão longe que ele guiava os patriarcas segundo sua convicção
1

A assim chamada controvérsia dos três capítulos (a partir de 544) j'


lógica e sua política religiosa (ou tentava), nunca ocorrendo o contrário,
provn
cou tensões que puseram à prova o próprio
papa e toda a Igreja do Ocidentv. j¡ bém o concíliode 5 53 foi, por essa razão, o concílio de Justiniano, onde o
-

Justiniano esperava reconquistar os monofisitas não mediante fórmulas pu i


pa (presente na cidade) nem compareceu, nem tinha nada a decidir.
i

sitivas, mas com medidas negativas, ou seja, a condenação de certos escri i: Uma última fase das controvérsias cristológicas, o monotelismo e o mo-
tos que estavam relativamente próximos ao nestorianismo, principalmen "

'rgismo, recai no século VII e, mais uma vez, fortemente marcada pelas
te de escritos de dois teólogos antioquenos extremamente considerados i' tativas, em grande parte infrutíferas, de unidade
ju por parte dos impera-
havia muito tempo falecidos, Teodoro de Mopsuéstia (T 428) e Teodoretu ores bizantinos, cujo império, no sul e no leste, não só era ameaçado pelas
de Kyros (T 466). A finalidade dessas condenações era, por sua vez, impc 1%» dências eclesiásticas nacionalistas e dos sassânidas, mas recentemen-
dir de uma vez por todas uma interpretação do Concílio de Calcedônia em também pelas conquistas do Islã, que se apropriou definitivamente das
sentido nestorianista. A condenação, pela primeira vez anunciada por Justi eas monofisitas, sem contudo exterminar totalmente o cristianismo, mas
niano mediante um édito de 544 de escritos que eram amplamente, portan mando imediatamente impossível o contato de Bizâncio com os cristãos
to, justamente no Ocidente, considerados dignos de fé, provocou grandes odoxos e monofisitas.
protestos. Surgiu principalmente uma tensão nada agradável entre o papa i A controvérsia dessa vez não girava mais imediatamente em torno das
Vigílio e o imperador. Vigílio, desde 547 em Constantinopla, estava sob ;i
.

aturezas e da hipóstase em Cristo, e sim em torno da vontade e de sua efi-

H 'Simim hu¡ me" '19 í* di¡ IÍJHÍI í¡ 144 1. Dos PRI.\1()RI)I()SATÉ A IDADE MH u 'A Igreja imperial até (› final da era antiga
x
'
145 3: A evolução tcológica e dogmática
cácia, da qual ainda se discutia se deveria ser vista como uma (uma vonta or à categoria de artigo de fé. Sérgio e o papa Honório, que deu sua apro-
de: monotelismo; uma eficácia: monenergismo), ou se se deveria reconhee ção, evidentemente entendiam por uma só vontade, antes de mais nada, a
cer duas (diotelismo, dienergismo). A questão controversa, que já fugia à 1 idade da pessoa e da vontade, não percebendo ainda as consequências em
compreensão dos cristãos comuns, mais uma vez era a questão monofisita, p_ ta da doutrina das duas naturezas.
pois reais questões de controvérsia não eram se a vontade e a ação em Cristo Uma vez que essas consequências logo se fizeram sentir e como, além
eram uma só _ isso já há muito estava claro: isso somente podia ser a única¡ ç isso, por causa da conquista árabeda Síria e do Egito acabou o interesse em
hipóstase do Filho. Também se Cristo sempre tinha uma só vontade, e, por seguir a adesão dos monofisitas, o imperador Constâncio II proibiu, no
tanto, em si mesmo, como simples ser humano sempre tenha tido simultai «o 648, tanto a controvérsia sobre as energias como sobre a vontade. Mas,
neamente desejado o que agrada a Deus e o mal_ também isso já há muito como nos tempos de Constantino (cf. acima p. 137), com sua proibição
j

estava claro diante da plena ausênciade pecado em Cristo. A questão era sc controvérsias sobre o homousios e outras, também esta proibição não eli-

"nou,
_,
a vontade característica essencial da essência divina e da humana poderia scr em muitos eclesiásticos, a disposição confessante. O papa Marti-
uma só. Segundo a doutrina ortodoxa, era preciso dizer consequentemente j o I e o mais significativo teólogo grego do século VII, Máximo Confessor,
que o único Cristo agiu com as duas vontades e forças de ação de suas duam jistiam na vontade e ação de Cristo proveniente da dualidade das natu-
naturezas, em comunhão e unidade plenas de objetivo. i "as, sendo por essa razão exilados pelo imperador nos anos 650. Ambos
Mas isso desde o início não estava claro para todos os envolvidos. Havia. 1 orreram no exílio, Máximo com horríveis mutilações(língua e mão direita
por exemplo, também a possibilidade de considerar a vontade como única,
epadas), que lhe foram inñigidas como castigo por sua "falsa doutrina"
ensinando, portanto, o monotelisrno, mantendo, ao mesmo tempo, as duam 3 Onde seu título de honra "confessor" confessor da fé).
=

naturezas. Na medida em que se pensava a vontade em união com a única¡ A política imperial de linha dura não conseguiu se manter, acontecendo
pessoa divina, ou se tivesse presente a unidade da vontade, essa forma dv Bim, sob o imperador Constantino Pogonatos (668-685), o sexto Concílio
_ _

monotelismo parecia inatacável a partir de Calcedônia. Sem essas cliversam mênico de Constantinopla (680/681 ), no qual o papa da época, Agatho -

possibilidades de compreensão dentro da ortodoxia de Calcedônia não m- ç

mo outrora o papa Leão em Calcedônia _, conseguiu impor-se mediante


teria chegado às controvérsias que abalaram a Igreja durante o século V l I,
ç escrito magisterial, de modo que então as Igrejas do Oriente e do Oci-
Vejamos como elas se desenrolaram. nte confessavam em comunhão de que em Cristo há uma vontade divina e
í'

O imperador Heráclio (610-641) tentou conseguir a adesão dos monn a vontade humana com as correspondentes energias, que se comportam
fisitas com a fórmula "uma força de ação divino-humana" (enevgeia). Essa tre si da mesma maneira que as duas naturezas: sem mistura, sem mudan-
expressão havia sido pela primeira vez utilizada pelo enigmático escritor qua' indivisíveis e inseparáveis (cf. a fórmula de Calcedônia, acima, p. 141).
escrevia sob o nome do ateniense Dionísio Areopagita, citado nos Atos (lim ,

'_ A controvérsia cristológica foi de alguma maneira levada adiante pela


Apóstolos (17,34). Na verdade ele não era do século I, mas deve ter agido na _g- noclastia, mas com isso estaríamos pisando em terreno novo, assim como
época do Henoticon (cf. acima p. 143), e teologicamente deve ter estado próx¡ _jlnodo de Constantinopla de 692, apesar da reiterada condenação do mo-
mo à favorável tendência do monoñsismo. O significado histórico do Pseudo
Dionísio, contudo, não está em suas afirmações cristológicas, e sim em sum: _telismo, se perpetuou até a situação atual, já que lá algumas doutrinas e
outras obras sobre a hierarquia celeste e eclesiástica que, com suas detalhar |.m f gularnentações (por exemplo, acerca do celibato sacerdotal) foram corro-
exemplo, classes de anjos coisas semelhantes iradas e valem até hoje como elementos de distinção entre a Igreja grega
especulações por
--
sobre e ,

todoxa e a católica romana.


exerceram enorme influênciasobre a teologia medieval ocidental. Em nonu- v
'

graças à fórmula desse "discípulo dos apóstolos" foi possível, enfim, conqu ira
tar os monofisitas egípcios no ano 633 para uma união monenergética. ÍÍOSTINHO E A DISCUSSÃO SOBRE A DOUTRINA DA GRAÇA
A reação intraortodoxa contra a única força de ação deu ocasião a qm'
.

5 quanto a formação dogmática até agora apresentada estava marcada pelo


o patriarca Sérgio de Constantinopla, experto nessa questão, logo mania .w
desviasse para o discurso de uma só vontade. No ano 638 ele publicou uma nsamento e pela sensibilidadedo círculo cultural em que ela ocorreu tor-
Ekthesis pisteos, uma interpretação da fé, que proibia a questão acerca «lr r~se-á evidente quando dirigirmos nosso olhar para a discussão dogmática
'

uma ou duas energias, elevando, em compensação. a (inicia vontade do Hu-


¡

_ curso durantea

os séculos IV e V na Igreja do Ocidente de língua latina. É


verdade que já por várias vezes indicamos que o Ocidente também partiu. 'a Ioña de Cícero, os cerca de dez anos de adesão ao maniqueísmo (cf. acima
das discussões acerca da triunidade e da doutrina sobre Cristo. Também Í' O), a virada para o neoplatonismoe, finalmente, para o cristianismo católi-
pou Ambrósio Milão. Toda essa trajetória
no Ocidente as questões controversas foram consideradas centrais. Mvumã
i como ele veio a conhecê-lo com em

assim, é inegável que o ponto forte da discussão se localizava no Oricmm. 'z-:vida é vista por Agostinho através de uma bem determinada iluminação
O questionamento a partir do qual surgiu toda a perturbação não em lããi ógica, ou seja, a partir contraposição
da pecaminosidade humana e erro/
ericórdia e condução também forma de oração,
evidente para os latinos e, em parte, inclusive extremamente difícilde u um: divina. Daí por
a e conse-

i ncia Agostinho "confessa" toda vida Deus, isto é, faz confissões


preender, pois os conceitos filosóñcos que eram controvertidos no Orivntg a sua a
diante de nós nas Comissões
eram difíceis de ser traduzidos, e mesmo quando se tentava descrevó lu¡ :pecados e de louvor. Por essa razão, temos
"rezada",
somente era capaz de captar seu sentido quem fosse razoavelmente familias' 'iultaneamente a doutrina da graça de Agostinho vivida e isto é,
rizado com a filosofia grega. A transmissão de conteúdo grego-teológicn no( x pressão imediata e pessoal daquilo que, em forma de uma doutrina válida
latinos no século IV foi obra principalmente de Hilário, bispo de Poitim a, q] j_ al, seria arrastado para dentro da controvérsia pelagiana.
gnóstico maniqueu, Agostinho havia se ocupado
Ambrósio, bispo de Milão. No século V a Igreja Latina também já havia¡ n15 Já durante seu período e

mal, adotando, linhas gerais, a clássica solução gnóstica,


tornado teologicamente estruturada, podendo, como demonstra o excmplg, í problema do em

seja, a doutrina dos dois elementos primordiais do mundo, o elemento


do papa Leão, intervir com autonomia nas lutas do Oriente, contudo svm '
deixar de ser totalmente estranha em relação à teologia oriental.
'
terial mau e o elemento bom, de luz, que deve ser libertado da prisão das
O Ocidente estava mais intensamente interessado em outras queslmnnf as. Uma divisão do ser humano em dois lados, um corporal, mau por
i . tureza, e outro espiritual, por natureza pertencente ao reino da luz, era
grandes teólogos africanos
i

teológicas. A comparação entre os e gregos 2mm


desse segundo qual também existia
de 300 permite observar que a atenção de Tertuliano estava principalmvnlv i Í onsequência natural pensamento, o

adversário eterno de Deus, de maneira alguma estava subordinado a


dirigida para a relação "legal" entre Deus e o ser humano, e Cipriano (Juli que
hi i poder criador absoluto. Por mais que nesse pensamento se insistisse na
cava toda a sua atenção à Igreja, sua unidade e sua pureza, enquanto no (
restringia à necessidade de
dente o conhecimento da substânciade Deus e de Cristo não estava assim nn essidade de redenção ser do humano, esta se

Oriente. Não Iv verdadeiro interior do ser humano da prisão do mundo.


centro da preocupação, como ocorria na mesma época no
i ancar o
p( u
ele
causar admiração, portanto, que a luta ocidental comparável à controvéi m..
i

O encontro de Agostinho com o neoplatonismo traria para uma

ariana e cristológica não tenha se referido à doutrina sobre Deus ou 801m* f iudançafundamental, que o prepararia imediatamente para a aceitação da
cristã, isso mais ainda pelo fato de Milão, onde ele se encon-
salvação "capacidade" em
i

Jesus Cristo, e sim ao modo de recepção da e à do tw¡ ensagem e

*- com o neoplatonismo, linha filosófica já ter de diversas maneiras


humano de salvar-se. Trata-se da controvérsia pelagiana (e semipelagian.: ). essa
cristão, ele
da qual o Oriente também participou, embora de maneira indiferenciadu v, 'tabelecido contatos com o cristianismo. Como neoplatônico e

a rigor, também sem interesse. a em Deus, como puro bem, a fonte de todo ser, e aprendeu a ver o mal
ausência diminuição do bom (e do ser propriamente
A personalidade mais importante dessa discussão foi Agostinho (Pb-l ser com ISSO
mo ou

to). Mas não-ser, isto é, todo mal toda desordem, é abrangido


430), bispo de Hippo Regius, na Africa do Norte, que igualmente devc Hr¡ como o e a
:V:
_
considerado o mais importante Padre da Igreja latino e que mais fortemente- las amplas providência e ordem de Deus, o mal não pode ser um poder
.

utônomo em contínua contraposição Deus, em outras palavras: o diabo


marcou a teologia latina, o que permitiu que ela se tornasse deñnitivamcnlv
-2 ' a
;,-_'." sim criatura de Deus decaída, ele deixa agir
autônomaem relação à teologia grega. As obras de Agostinho são tão numa' 'ç lo é um antideus, e uma que
_V
determinado tempo. Assim sendo, também o ser humano não pode
rosas, sua atividade em todos os âmbitos da teologia tão variada e, por ou¡ I u r um
substâncias
poderes
a_

tratada aqui lv visto produto misto de dois ou que se


lado, evolução religiosa pessoal já foi r como um
O

u_ tantas vezes que se p( n


si, mas é um, que pode inclinar-se, pela própria vontade,
sua

dispensar uma apresentação completa. Aqui nos restringiremos à sua cola :combatem entre
bens O não
i respectivamente para o bom Deus ou para os passageiros. corpo
boração para a doutrina da graça e do ser humano. A obra certamente mais¡ io ode bem mal utilizado: meio ara os
famosa de Agostinho, suas Confissões, está redigida toda ela no estilo de uma 3 mau po r p rincíp mas p ser ou
,
como

mundanos do espírito devotado a Deus e ao bem.


vida:
h

oração. Os nove primeiros livros abrangem fases decisivas de sua in prazeres ou como servo

fãncia, em que sua mãe cristã Mônica exerceu fortíssima influênciasobre Cir, Em seu encontro com o cristianismo, principalmente com Paulo, Agos-
pecado do perdão dos pecados e percebeu
depois o desvencilhamentodo lar paterno e da fé infantil, o entusiasmo pel.: atinho aprendeu o significado do e

149 3¡ A *'V“I“Ci'*' “"'|"~'í"'“"'|""›"""" "


l Iir-:trãriil llivililif^riitíãlLin Igjrvjn 148 1. I)us1›unw<›k|›u›s.NrIaA Immr M¡ n »i _ Ama-ja¡ inipurial me ofuial (lan-rn antiga
claramente que os neoplatônicos não cristãos, em seu próprio prejuízo, deu- i Viou « Filho e através de sua Igreja oferece a todos a salvação, ficando-
seu
conheciam a tendência do ser humano ao pecado e a necessidade da miscrlzt '

reservado o direito de decidir quem Ele abandonará com justiça em sua


córdia divina, de maneira que, embora vissem Deus a distância, não cormv T pa e quem Ele libertará para a fé e para a vida nova.
guiam encontrar o caminho até Ele. Como justamente mostram as Con_ÍlSSm'.'d, ' Com isso também já se apresenta a segunda consequência: a predestina-
não basta apenas a aspiração humana à virtude para conduzir o ser humano ' , isto é, a absoluta predeterminação de Deus, que de maneira nenhuma
à verdadeira felicidade e, com isso, à proximidade com Deus. Humildadc c.: ende dos impulsos da vontade humana. Uma vez que antes de Agosti-
arrependimento do pecador, por um lado, rebaixamento divino em Cristo, Í? o na Igreja em geral se supunha que a predeterminação de Deus era de al-
por outro, são necessários para que a aspiração últimado ser humano posnu a maneira condicionadapor sua presciência do bem e do mal que um ser
'

encontrar a felicidade e a sua verdadeira meta. Nos primeiros anos de sua izaría, Agostinho viu-se, a partir do testemunho bíblico, na contingên-
i
-

conversão ao cristianismo batismo na Páscoa de 387 Agostinho, eml u ¡- j' de considerar também
o bem pré-conhecido por Deus como mero dom
ç

- -

ra convencido de que sem a especial misericórdia divinanenhum ser humano _- mesmo Deus, excluindo, portanto, qualquer participação indireta do ser
alcançariaa salvação, mesmo assim manteve a convicção da liberdade do swf . mano em sua eleição. Se Deus recompensa os méritos humanos, está ape-
humano de decidir-se a favor ou contra Deus. Somente ao longo do tempo q '” s recompensando o que anteriormente concedeu. E quando Deus concede
ele restringiu novamente essa possibilidade, reaproximando-se de novo do _ a ação necessariamente é eficaz ninguém lhe pode resistir. Se concede a
-

maniqueísmo, como seus críticos mais tarde afirmaram. Nove anos após sm! guém a boa vontade, a pessoa em questão também quer realmente o bem.
3'*

batismo tornou-se bispo na África do Norte, sendo daquele mesmo ano o -_' uem não almeja o bem não recebeu ainda o suficiente auxílio da graça.
primeiro de seus escritos nos quais defende claramente a seguinte doutrina:
'

São evidentes as objeções que se pode fazer a tal doutrina: tem-se aim-
todo bom impulso da vontade no ser humano já é efeito da ação miserico¡ _i cssão de que o empenho humano aqui é de tal modo desvalorizadoa ponto
diosa divina nele operante, não surgindo de uma bondade natural nele ins¡ cada um poder dizer com razão: "Eu não me esforçarei e também não
l

ta. Deus não oferece a salvação apenas através da pregação nem recompensa , »orto ninguém a fazer o bem, pois ou isso é concedido por Deus, ou então
apenas todo aquele que começa a crer e a fazer o bem, mas Deus mesmo pm qualquer maneira é em vão". Com isso, o núcleo dessa doutrina, a depen-
porciona também a inclinação, o primeiro impulso da vontade e a decisão «lv

ncia incondicionalde Deus, é mal entendida, apenas em sentido negativo,
aceitar a mensagem, bem como todo o querer e realizar o bem. Assim, o sm norando-se, além disso, que o próprio empenho subjetivo pode ser parte
humano apenas a partir de si mesmo não consegue realizar nada de bom, v i eficácia da graça; isto significa que, via de regra, não se deve esperar que a
a

todo bem que realiza é puro dom de Deus, inclusive a fé. :


aça simplesmente "manipule" alguém contra sua própria vontade.
A visão fundamental que diante de Deus exclui todo mérito humano j_ Mesmo assim é compreensível que justamente daqueles círculos que
atendiam levar radicalmente a sério a vida cristã a reação a Agostinho se
e toda justiça pelas obras, conforme o estilo de pensar da época, devia lv
z ouvir com maior intensidade, ou seja, dos círculos monásticos. Embora o
var necessariamente a duas consequências teológicas, que já naquela épm .n
e mais ainda na atualidade são antipátícas às pessoas: o pecado original v u
óprio Agostinho tivesse sido fortemente influenciadopelos ideais monás-
os e tivesse sido um dos primeiros a organizar uma comunidade clerical de
predestinação. Quanto à doutrina do pecado original: uma Vez que Agosli monástico com seus sacerdotes (cf. abaixo p. 175), o monasticismona-
nho precisava evitar a ideia de uma maldade substancialmente inata ao sm
humano, era-lhe impossível dizer que o ser humano enquanto tal era mau
uela época havia alcançado tal amplitude e tal variedade que dele podiam
“ servir as mais diversas correntes teológicas, tanto uma forma agostiniana
Em vez disso ele ensinava então que o primeiro pecado cometido em plcm
liberdade pelo primeiro ser humano e ancestral de todo o gênero humano 3- e cristianismo como a corrente pela primeira vez defendida por Pelágio e
W 'ue dele recebeu o nome, o pelagianismo. Se Agostinho, diante dos teólogos
teria tido como consequência que todos os seus descendentes nasceriam
r teriores, acentuou mais fortemente a predeterminação divina e a falta de
com uma irresistível tendência ao pecado, que sem a intervenção da graça (lv
Ê herdade do ser humano pecador, Pelágio, por sua vez, fez de certo modo o
Deus inevitavelmente produziria seus efeitos. Não pelo fato de serem com contrário: acentuou a liberdade da vontade e a bondade natural do ser hu-
postos de corpo e alma, mas como descendentes de Adão, portanto, toda m Ít- ano mais fortemente do que até então se estava habituado.
os seres humanos são totalmente culpados diante de Deus, de tal sorte qua'
i Para Pelágio e mais ainda para seu discípulo Celestius, o ser humano
'

Deus não é obrigado a salvar nem mesmo um único. Mesmo assim Dem tá a cada momento diante da situação que, segundo Agostinho, houve

liíistórâzz licumêníczr alas. ígrctja 150 1. Dos PRIMORDIOS ATEA IDADE M» I w


à Igreja imperial até o final da era antiga 151 3: A evolução tcológica c dogmática¡
uma só vez no início, para Adão, ou seja, diante da possibilidadede escol Iwr A 30), um significativo abade gálico e fundador de mosteiros, a questão se
livremente o bem ou o mal. A livre vontade para ambas as possibilidaulcu,
segundo os pelagianos, é parte inalienável da natureza humana. A opressão 3 presentava da seguinte forma: o ser humano nasceu em pecados e sofre _com
;ua pecaminosidade como se fosse uma enfermidade. Via de regra pratica o
do ser humano por sua culpa, tanto a própria como a coletiva, da humaniclu
de, não é de todo negada, mas em Pelágio trata-se apenas de um mau hábiln,
a al, mesmo assim resta-lhe um pouco de boa vontade. Em casos normais,
graça de Deus encontra o humano quando, por meio de um pequeno
ser
que cada criança adquire, mas que não tem caráter coercitivo. Assim, pois, u
,
i aforço da vontade, almeja o bem. Deus, que vê esse bom começo, responde
graça que Deus demonstra ao ser humano não pode efetuar transformaçóvu ediante o socorro de sua graça. O ser humano, que de boa vontade aceita
fundamentais em sua vontade, mas apenas põe em ordem, é uma facilitação
se socorro, recebe mais auxílio, podendo assim chegar finalmente a uma
daquilo que o próprio esforço pode efetuar. A graça de Deus demonstrarsc ~,

'da santa e à bem-aventurançaeterna.


no fato de que em Moisés e Jesus foi revelada a lei de
Deus, e da mesma¡ Cassiano não nega que em casos excepcionais, por exemplo no caso de
maneira o perdão dos pecados no batismo é sinal da graça de Deus, mas mm
j' aulo, Deus possa atrair o eleito a si mesmo contra a vontade deste. Mas se
j

sentido de uma "nova criação", e sim de fortalecimento e ânimo. En tíln


no
evidentemente também a predeterminação divina é totalmente dependcnlv
r.: clarecêssemostal intervenção de Deus sem qualquer predisposição huma-
da prevista afirmação do ser humano.
ma estaríamos negando ao ser humano qualquer possibilidadede esforçar-
' e, e Cristo não teria morrido por todos. Na realidade, porém, assim pensa
Pelágio, britânico, atuou primeiramente em Roma, privada
monge Cassiano, a salvação é oferecida a todos, embora muitos a rejeitem de livre
mente, como pregador e pastoralista; após a queda de Roma (410) viajou “Vontade, mas alguns a acolhem livremente para então, com o socorro de
através da Africado Norte para a Palestina. Seu discípulo Celestius, ao con
trário, permaneceu em Cartago e lá pretendia em 411 tornar-se sacerdote.
Deus, serem conduzidos adiante. O pensamento de Cassiano é bem mais
Nessa ocasião, suas ideias "extremistas" chamaram a atenção do clero local.
;diretamente extraído da experiência da vida cotidiana do que os tratados
Na discussão daí surgida, Agostinho teve o papel decisivo, estando os bis
'mais teóricos de Agostinho e Pelágio. Exatamente isso deu ao
nismo sua força e sua sobrevida ao longo dos séculos, enquanto a posição
semipelagia-
pos africanos em geral a seu lado, condenando severamente o pelagianisnn ›. radical de Agostinho não conseguiu impor-se tão facilmente.As discussões
Bem menos severos demonstraram-se os bispos da Palestina contra
Pelágix ›,
i
em torno do semipelagianismo que sempre voltaram a se reascender arras-
cuja retidão de doutrina eles examinaram em dois sínodos, em Jerusalém v taram-se (na Igreja ocidental) até o século VI e, finalmente, terminaram com
em Lida, dando-lhe um bom atestado, depois
que ele se distanciou de algu 3 uma ampla mas não irrestrita confirmação da doutrina agostiniana.
mas afirmações extremistas de Celestius. De maneira
simplificada pode-sv Num pequeno Sínodo em Orange, no ano 529, foram confirmadas afir-
dizer que os teólogos não pensavam de modo pelagiano, mas também não
mações fundamentais da concepção agostiniana, e uma vez que esse síno-
i

admitiam a necessidade de tratar a forma moderada de pelagianismo como


se fosse uma falsa doutrina. Mas essa
do foi reconhecido pelo papa e, consequentemente, pela Igreja ocidental
era, ao contrário, a opinião dos nortc
africanos. Eles também levaram os papas a se posicionar contra os pelagin e, mais tarde, também pelas Igrejas da Reforma, o semipelagianismo
,i poucos se extinguiu. Contra a doutrina da escolástica medieval,
aos

nos, chegando-se mesmo a condenações de pelagianos por parte do Estado. contudo,


Pontos de referência na história dessas desavençasforam o Sínodo de Carta
i muitas vezes foi feita a crítica de que, sob o véu de uma aparente
agostiniana
doutrina
da graça, teria novamente trazido à tona o semipelagianismo.
go em 418 e o já citado Concílio de Éfeso em 431, no qual também a Igreja l
Tal evolução, sobre cuja rejeição se pode ter opinião dividida, tornou-se
Oriental assumiu, ao menos formalmente, a rejeição do pelagianismo. "i possível, entre outros fatores, pelo fato de determinadas consequências da
Mas não somente as Igrejas do Oriente pensavam de maneira parcial
mente pelagíana, mas também amplos círculos no Ocidente
que, embora
teologia de Agostinho não terem sido assumidas pelo Sínodo de
, pela Igreja. Especialmente a severa doutrina da predestinação e a doutrina
e Orange
aprovassem a condenação de Pelágio, objetivamente defendiam um "semipc :i da irresistibilidadeda graça foram eliminadas, e rejeitou-se explicitamente
lagianismo" (conceito do século XVI). O que esses semipelagianos, entre os a afirmação de que Deus teria predestinado certos seres humanos à perdição
quais se contavam principalmente muitos monges, diziam era fundamental _' (o que também Agostinho não havia dito assim tão especiñcamente). Em
mente a generalizada e facilmentecompreensível "opinião popular", que era Í Contrapartida reafirmou-se que todo bem em nós e todo progresso na fé e
considerada válida havia séculos e que Agostinho corrigiu para a "direita"
nas obras, enfim, todo mérito são apenas dom de Deus e que o ser humano
e Pelágio para a "esquerda". Para um homem como
joão Cassiano (T após por si só apenas é capaz de realizar o mal.

H ist ápria liltrzizziéanitaza_ ;ía íggnzia 152 1. Dos PRIMORDIOS ATE A IDADE Mm ›I x A Igreja imperial até o final da era antiga 153 3: A evolução teológicz¡ o (logmziticzi
geral é mais fácil para os cristãos ocidentais compreender csuun
Em i

í' a plural. Principalmente


monástica e ascética, no não se pode perceber
discussões acerca da graça do que as controvérsias trinitárias, -
.

pois
evidente que aqui se atinge mais diretamente o âmago da existência doparviw m exatidao, em muitos casos, a diferença entre o monasticismoorga niza-
› ~ - ' ' '

ser si. e as formas ascéticas livres, por duas razões: em primeiro lugar, porque
humano do que na controvérsia sobre a "essência" de Deus e de Cristo. Mm¡
não se deve ignorar o entrelaçamento também de todas
ra dos mosteiros das celas eremíticas havia na e mui-
Antiguidade cristã
estas explicaçóc-u
e distinções no pensamento daquela
época. Antes de mais nada os pontua¡
í gente que permanecia mais ou menos no "estado secular
esmo assim a um tipo de vida monástico, de tal forma que o monasticismo
, dedicando-se
doutrinais que podem ser entendidos como derivados, isto é, doutrina do
pecado original e da predestinação, estão estreitamente ligados a uma ima nível tinha um átrio apenas parcialmente visível, que não era organizado
gem de Deus e do ser humano que na Idade Moderna se desfez. Assim, com
forma de ordens terciárias, como na Idade Média, mas, dentro certos de
a pesquisa no campo das ciências naturais sobre
o surgimento e a reprodu
”' ites, ñcava a critério do gosto individual. Mesmo assim,
l' r no surgimento do monasticismofluentes transições entre a vida ascetica podetse identifi-
ção humana, o problema do pecado original se tornou tão complicado
exclui a simples repetição da doutrina agostiniana. Igualmente que .w aramente definida e aquela mais ou menos casual. Os eremitas e os mon-
afirmaçõm ,
s de Clausura nao surgiram de repente na historia da Igreja, surgd
~ ' ' ' '

sobre a presciência e a predeterminação de Deus, tal como as


'

mas iram
questões trini
.

'› seu estilo de piedade e em suas comunidades por meio da


tárias, são codeterminadas por uma imagem metafísica de Deus atualmenlv i a formação e da transformação de formas de vida cristã mais continui ad e

vista de maneira muito crítica pelas ciências, inclusive antigas e, em


pela teologia. Com j' arte inclusive não
genuinamente cristãs e heréticas. As formas antigas,
isso, o que Agostinho e a Igreja pretendiam dizer naquela época não se tm' _E_
LI
, ,

nou supérfluo, mas deve ser reformulado com asim como aos tipos bemformados de monasticismoe comum a ascese, que ' '
'

grande esforço. esde os primórdios era familiar ao cristianismo, adquirind0, COIIÊUCÍO. um


Substancialmente mais fácil é a reformulação da experiência central (Iv
Agostinho, ou seja, da experiência da total dependência de Deus. Ao refletir Ai ignificado especial a partir do século IV.
sobre a experiência, contudo, é preciso ter consciência do Toca-se com isso num ponto que nos permite falar "do" monasticismo:
plano a partir du t
valorização
Vi
qual se pensa. Quem toma como ponto de partida a experiência cotidiana dos ,a instituição, a divulgaçao, a organizaçao e alta a da v idaascé-
u - -~ -
~
'
“ ' ”

cristãos, que é um misto de esforço próprio e sentimento de proteção, sempn- _tico-monástica no século IV. Novidade do século IV nao sao nem a ascese,
pensará um pouco de maneira semipelagiana, aceitando uma ação conjunta¡ nem o termo "monge" (monachos), e sim o sucesso do objeto indicado com

entre Deus e o ser humano. Cavando mais


profundamente, porém, e anali ¡cssas expressões como o mais claro elemento de distinção em relação à
-

época mais antiga _, a segregação exterior de alguns ascetas e de


cotmuni-
n

sando a questão de maneira mais fundamental, certamente só é


de alguma maneira, o testemunho expresso radicalmente em 1 Coríntiosadequado, ,
, dades organizadas. Pode-se supor que a evidencia corri que se proje a esse
› ' ^ '

4,7: ..movimento no século IV esteja relacionadaao reconhecimento da Igreja por


si¡ "Que tens que não foi recebido?". Radicalmente mesmo isso só pode ser ex
presso de forma paradoxal, confessando a universal misericórdia de Deus c parte do Estado Em todo caso, é preciso ter o cuidado de não equiparar o
»f as totais liberdade e responsabilidadedo ser
humano, mantendo diante dos .reconhecimento da Igreja por parte do Estado simplesmente com “mum
entender?,
*

olhos que Deus nos dá a graça da liberdade e nos liberta


para a graça.
j'

-l danlzaçao o

do o monasticismo simp lesmente como movimento


~ p)
'
I . i O

; de protesto contra a ruina do cristianismo genum0» A mundanízação já


- - -
A ,

ameaçou a Igreja bem anteriormente e movimentos de protesto, por assim


dizer, houve dentro dela desde o início. Além do mais, os primórdios do
j Capitulo 4: Os primórdios do monasticismo
, . , .
. .
, ..
monasticismo remontam ao periodo anterior a virada constantiniana. Mas
- -
' '
“ °

l Alfred Schindler z

Í a violenta propagação e a fixação institucional da ascese no monasticismo


l ¡
l certamente não ocorreram por acaso no século de Apesar das Constantino.
l
PRINCÍPIOS E DEFORMAÇÕES 3
¡ precauções diante gerais,
t; nidades claustrais assumiram importantes funçoes das antigas comuni a-
dessasconstataçoes
que as
pode-se dizer corràu-
"O" monasticismo, a rigor, jamais existiu. Já bem nos
primórdios
ainda após um, dois séculos de desenvolvimento, o monasticismo
e mais des cristãs, tanto internamente, em relação a seus como diante membros,
tuía um fenômeno tão diversificado que é mais
já consti-
adequado falar de formas de
' do mundo externo, que aos poucos passava do paganismo
para
l. muitas vezes apenas superñcialmente cristão. Certamente nao e tao insigni- Limmundo
fÍfisàtfzvri ::i .ÊcilmfàIiicii :i2: Igrejai 154 1. Dos PRINIORDIOS ATÉ A IDADE MEnm
'i A Igreja 'imperial até o final da era antiga 155 43 Os primórdios d” monasticismo

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