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Feudalismo
O Feudalismo assentava em laços entre Senhores e Homens-Livres. Era
exclusivamente entre Homens-Livres esta relação feudo-vassálicas. Havia um menos
poderoso que se colocava na dependência do mais poderoso. Feudalismo e
Senhorialismo, embora apareçam muitas vezes como sinónimos, são conceitos
diferentes. O Feudalismo era praticado entre Nobres. O Senhorialismo entre Nobres e
Não-Nobres. A cerimónia responsável por firmar este laço feudo-vassálico chamava-se
Homenagem. Era um ritual de enorme significado. A Homenagem tinha um caráter
voluntário, mesmo que na prática nós percebemos que nem sempre se sucedeu dessa
forma. O ritual consistia em algumas fases que poderiam ocorrer durante a mesma
cerimónia. Falo do immixtio mannum, que consistia em o Senhor colocar as mãos sob
as mãos do vassalo. Falo também do juramento, onde o vassalo proferia um juramento
com a mão sob um objeto simbólico, geralmente um livro litúrgico ou sob um relicário
– onde se guardavam as relíquias de um santo. Igualmente existiam o beijo da paz e a
investidura. O beijo da paz, tal como o nome indica, era um beijo entre Senhor e
Vassalo que carateriza todo este simbolismo de fidelidade e respeito mútuo. Podia ser
um beijo na boca, algumas iluminuras mostram-no. A investidura era a oferta de um
objeto pelo Senhor ao Vassalo que simbolizaria o benefício que estava a ser doado pelo
primeiro ao segundo. Por exemplo, poderia ser um cetro.
Quando o Senhor doava o feudo ao Vassalo, guardava para si o dominium e o
Vassalo ficava com o usufruto. A relação entre os dois era bilateral. O Senhor devia
conceder ao Vassalo ajuda material e militar quando necessário. Já o Vassalo estava
obrigado a servir militarmente o Senhor quando chamado a tal na sua hoste, mas
também de forma monetária se solicitado. Poderiam ser ajudas para resgastes se o
Senhor estivesse como cativo de guerra, poderiam ser ajudas para o casamento do
Senhor ou para o Senhor casar uma filha, poderiam se ajudas de custo quando o Senhor
partia em cruzada ou para os custos da manutenção da cavalaria, mas também poderia
ser através de assistência judicial, servindo como testemunha a favor do Senhor quando
este se envolvia num processo judicial.
A partir do século XI, este processo todo começa a originar problemas. Há cada
vez mais senhores poderosos, mais ricos, com mais terras e mais vassalos, o que
acabava por se revelar impraticável. A multiplicação das Homenagens levou a criar dois
mecanismos de Homenagem – a reserva de Homenagem e a Homenagem Lígia. O bem
doado acabava por ser mais importante que a palavra jurada e isso reflete outro
problema deste sistema, com a instituição então da hereditariedade dos bens
patrimoniais.
Na cidade, a estrutura social é diferente. O que vimos até agora serve como
exemplo para o que se passava no campo. Na cidade tudo se conjuga mais em torno do
poder económico. A Nobreza não está muito presente na cidade, numa primeira fase. No
caso da Península Ibérica, a Nobreza começa a chegar mais à cidade a partir do fim da
Reconquista, que é quando ficam sem formas de obter riqueza, pois a guerra de fossado
deixa de se fazer. Passam a procurar na cidade, através sobretudo de atividades
comerciais, formas de continuar a prosperar. O Clero, por sua vez, existe na cidade. Há
bispos e há cónegos e que servem a comunidade. A administrar a cidade temos as elites
urbanas, compostas muitas vezes por nobres que se estabelecem na cidade ou por
mercadores com grande capacidade económica. O grosso da população citadina era
composto pelo Povo, a trabalhar nos mesteres ou na agricultura, quando havia espaços
para tal nas cidades. Por fim, é importante referir a existência dos excluídos e dos
indigentes, que seriam pessoas pobres, mendigos, inválidos, doentes, etc, e que não
serviriam a comunidade.
Economia Feudal
Com as invasões dos séculos IX e X, de muçulmanos, normandos e magiares
essencialmente, vemos uma nova tendência de ruralização da Sociedade. As cidades
começam a despovoar e as pessoas procuram o campo e a dependência dos grandes que
dominam esse espaço geográfico. As atividades económicas e comerciais típicas das
cidades sofrem um enorme retrocesso. A Nobreza que está fixada no campo, começa a
dominar cada vez mais espaços jurisdicionais. As pessoas que vivem na sua
dependência trabalham essencialmente na agricultura. Há grandes e pequenas
propriedades no campo. As grandes são as villae e as pequenas ou são os alódios –
pequenas propriedades que pertencem a Homens-Livres -, ou são tenures – pequenas
propriedades entregues pelos Senhores ao Colonos para eles as trabalharem. Todo este
espaço geográfico se organiza em torno da dependência de Homens Não-Livres para
com o seu Senhor e tem o nome de Senhoria. A Senhoria tem 2 dimensões – a senhoria
fundiária, que é o espaço em si – e a senhoria banal – que são os direitos e jurisdições
que o Senhor tem nesse espaço.
Na dimensão da senhoria fundiária existem dois espaços delimitados. A reserva e
o manso. A reserva era o local onde se fazia uma exploração direta, ou seja, era o local
onde o Senhor obrigava os Homens a trabalhar para ele gratuitamente, tendo de lhe
entregar toda a produção aí realizada. Era feito por uma determinada camada que estava
a isso obrigada através de um imposto – a corveia, que consistia em obrigar os
dependentes do Senhor a trabalhar na reserva durante um período de dias pré-
determinado. Na reserva geralmente situavam-se as habitações senhoriais ou até o
castelo, mas também os meios de produção e de transformação que pertenciam ao
Senhor, como o moinho, o lagar ou o forno, e que os seus dependentes poderiam usar
para si através de um pagamento ao Senhor. Já o manso era o local da senhoria onde os
dependentes do senhor habitavam e trabalhavam para a sua subsistência. Apesar de
trabalharem para si, os habitantes da senhoria no manso, enquanto dependentes do
Senhor, deveriam pagar na mesma os impostos da sua própria produção, mas ao
contrário da reserva, pelo menos podiam reservar uma parte da produção para a sua
subsistência, enquanto na reserva ia tudo para o senhor e era uma obrigação. Contudo, o
manso estava dividido em 3 dimensões. O manso Livre, onde habitavam os dependentes
que não estavam obrigados a trabalhar na reserva do senhor. O manso Servil, onde
habitavam os servos que estavam obrigados a servir na reserva. E o manso Emancipado,
onde os servos estariam inicialmente obrigados a trabalhar na reserva, mas que a certa
altura deixam de estar, emancipam-se. O tipo de manso não se definia pelas pessoas que
nele habitavam, nos 3 casos podiam habitar colonos, escravos ou servos, ou mesmo
Homens-Livres, sem nenhum problema.
Dentro da dimensão da senhoria banal, o seu significado gira em torno do direito
de ban, que se exemplifica pelos direitos sociais e fiscais que o Senhor tem sobre os
seus dependentes. As pessoas, juridicamente, ou eram servos – não-Livres –, ou eram
vilãos – pessoas livres que se tinham colocado na dependência do Senhor. Ambos os
estatutos preveem o pagamento de direitos fiscais ao Senhor. Vou apresentar alguns
exemplos destes deveres fiscais dos dependentes para com o Senhor. Temos então o
Censo que era pago por amanharem o manso, por trabalharem nele. Também a talha, um
pagamento de uma percentagem pré-determinada da produção feita no manso pelo
dependente. Podia ser 50%, mas poderia ser mais e menos, dependia. Temos a
formariage e que era um pagamento obrigatório feito ao Senhor quando um seu
dependente decidia casar com alguém que habita outra senhoria. Isto levava as pessoas a
casarem dentro da própria senhoria, precisamente para evitar este pagamento. Temos as
banalidades, o tal pagamento feito ao Senhor pelo usufruto, por parte dos dependentes,
dos meios de produção e de transformação situados na reserva e pertencentes ao Senhor.
O caso de fornos, moinhos para moer o pão, etc. As taxas de justiça e que eram pagas ao
Senhor por este ministrar a justiça dentro da Senhoria em casos judiciais, como se
fossem os custos de tribunal. Temos o imposto da mão morta, que se baseava no
pagamento ao Senhor de um imposto para reaver o património de um homem a quem o
Senhor tinha confiado algum bem e que, à sua morte, reverteria para o Senhor. Eram os
herdeiros do dependente falecido quem pagavam. Depois, dentro do conjunto de
impostos que eram pagos em trabalho, temos a corveia, que em Portugal eram as jeiras,
e que implicavam então o trabalho do dependente na reserva do Senhor num
determinado número de dias pré-estabelecidos e gratuitamente, revertendo então toda a
produção lá realizada para o Senhor.