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Sansão Gil - História


FEUDALISMO

Por volta do século V, o Império Romano se desfez após um longo período de declínio. A invasão
do império pelos bárbaros levou pânico à população romana, obrigando, àqueles que podiam, a fugirem para o
interior, dando origem ao sistema denominado feudalismo.
A partir da queda do Império Romano, a Igreja Católica avoca a responsabilidade de controlar essa
sociedade e junto com a nobreza inicia a chamada ruralização social e a submissão da população pobre ao regime
de servidão.
Essa nova forma de organização social e econômica, predominante no período medieval, era
baseada na agricultura, na mão de obra servil e no domínio dos senhores feudais.
Vigente entre os séculos V e XV, o feudalismo baseava-se nas grandes propriedades de terras,
pertencentes aos senhores feudais, e constituídas de mão-de-obra servil.
Todo esse cenário começou a ser montado já no século III e foi intensificado na medida em que se
aproximava o século V, quando a população começou a fugir para os campos a fim de buscar proteção contra o
caos instalado em Roma com a invasão dos bárbaros.
Passado 10 séculos, a situação é inversa, os camponeses rompem com os laços feudais, deixam o
campo e buscam trabalho nos centros urbano, pós a renascimento e a reforma protestante.

O FEUDO

O feudo é a terra, e ela é a base econômica desse


sistema. Tudo aí gira em torno do feudo. O feudo era dividido em
três partes:
Manso senhorial – parte da terra de uso
exclusivo do senhor.
Manso servil – parte da terra dividida entre os
servos
Manso comunal – parte da terra de uso
comum, onde se criam animais e extrai-se madeira
Via de regra, um feudo era autossuficiente e sua
economia era amonetária, ou seja, era movimentada pela troca de
Os feudos eram grandes propriedades de terra mercadorias, sem uso de dinheiro.
onde se baseavam as relações sociais e
econômicas durante a Idade Média.

O PODER POLÍTICO

Dentro do feudalismo também fica evidente o enfraquecimento do poder do rei. Essa


fragmentação se justifica pela incapacidade do rei de atender as necessidades imediatas dos feudos. Assim, o
senhor feudal passa a ter plenos poderes dentro de seus limites.

No início do período medieval, os reis germânicos tentaram manter a unidade territorial do Império
Romano. Os reis germânicos eram chefes políticos e militares, pois atuavam à frente dos seus soldados em
momentos de guerra. O poder secular estava ligado ao poder religioso, por isso a Igreja Católica tinha grande
influência na política medieval. Com a queda do império carolíngio, a unidade territorial se desfez e o poder se
descentralizou entre os senhores feudais. Cada feudo se autogovernava, estabelecendo sua própria política.
Com a ruralização da Europa, as terras se valorizaram e se tornaram moedas de troca. O rei
carolíngio, Pepino, o Breve, cedeu grande quantidade de terras para a Igreja Católica, mais especificamente na
região central da Península Itálica. Surgiam assim os Estados Pontifícios, que eram territórios pertencentes ao
papa e que vigoraram até a Unificação Italiana, em meados do século XIX. O atual território do Vaticano, em

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Roma, é o que restou desses Estados e só foi reconhecido pelo governo italiano após a assinatura do Tratado de
Latrão, na década de 1920.
A doação de terras não se restringiu apenas aos monarcas da Alta Idade Média. Quem obtivesse
algum terreno fazia questão de doá-lo ao clero no intuito de que tal ação seria retribuída na eternidade. Dessa
forma, de doação em doação, a Igreja se tornou dona de uma grande quantidade de terras durante o período
medieval. Se ela já detinha o poder espiritual, também exercia enorme poder sobre a terra.

SUSERANIA E VASSALAGEM

Outra forma de concessão de terras era mediante acordos de fidelidade. As relações sociais na
Idade Média eram caracterizadas dessa forma. O suserano era o proprietário de terra que a cedia para um vassalo
em troca da sua fidelidade. Essa concessão era feita mediante contrato celebrado em evento público, com toda
pompa e a presença de um bispo para assegurar a sua validade e a sua execução.
O medo provocado pelas invasões bárbaras, fez com que muita gente procurasse proteção no
interior dos destroços do império. A partir daí, começou a se montar um sistema complexo, sob influência de
culturas diversas, tais como:
Colonato – herdado dos romanos - submetia os pobres ao trabalho servil nas
grandes propriedades
Vilas – também dos romanos – Devido a ruralização do império, os centros urbanos
perderam importância e, em contrapartida, no campo surgiram pequenas aldeias, denominadas vilas, que
passaram a concentrar importância.
Economia agropastoril – legado dos bárbaros – era a criação de animais
Comitatus – criava laços de fidelidade entre o chefe militar e seus subordinados.
Era a origem da suserania e vassalagem.
Beneficium – terras distribuídas pelo chefe militar (suseranos) aos seus
subordinados (vassalos).
A distribuição de terras criava uma relação chamada de suserania e vassalagem. Suseranos eram
os chefes militares, que conquistavam terras em suas guerras e as distribuíam aos seus comandados, que por sua
vez, passavam a ser vassalos daqueles, isto é, se tornavam servos daqueles senhores. Vassalos eram aqueles que
recebiam as terras dos senhores.

DIREITOS E DEVERES

A relação entre senhores e servos era recheada de direitos e deveres de um para com o outro, a
saber:
- Direito dos Senhores
Receber impostos,
Controlar a vida dos servos,
Ser resgatado em caso de guerra,
Resgatar a terra
- Obrigações dos senhores
Ceder a terra
Dar proteção militar e assistência jurídica aos servos

- Direitos dos servos


Receber a terra
Receber proteção e assistência jurídica dos senhores

- Obrigações dos servos


Pagar impostos e taxas

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Pagar o resgate do senhor em caso de guerra
Tomar parte nas milícias em caso de guerra

SOCIEDADE

A sociedade era dividida em três ordens:


Nobres – eram os donos da terra e tinha a função de defender todas as classes.
Relacionavam-se muito bem com a Igreja.
Clero – eram os membros da Igreja, tinha a função de rezar pelas almas de todos.
Relacionavam-se muito bem com os nobres.
Servos – eram os trabalhadores da terra, tinham a função de alimentar a todos. Os
servos também estavam presos a diversas obrigações.

Uma das causas da queda do Império Romano do Ocidente foi a invasão bárbara. Os povos que
estavam fora dos limites do grande império atravessaram as suas fronteiras e adentraram no território, alcançando
Roma. A capital do império foi saqueada pelos bárbaros. Essa ação violenta e a desestruturação do Império
Romano fizeram com que os moradores das cidades fugissem para o campo em busca de proteção e trabalho.
Nessa transição entre a queda do Império Romano, ocorrida no século IV d.C., e o início da Idade
Média, observa-se a ruralização da Europa, ou seja, as cidades perderam suas forças para o campo. Os senhores
feudais, os donos dos feudos, tornaram-se poderosos por conta da valorização as terras. Enquanto os imperadores
concentravam poderes nos tempos de domínio romano, no feudalismo, o poder foi descentralizado nas mãos
desses senhores donos das terras.
A Igreja Católica se fortaleceu nesse período ao fazer alianças com os reis bárbaros que instalaram
seus domínios na Europa. Dessa forma, os povos pertencentes a esses reinos foram convertidos ao cristianismo,
e o papa se tornou poderoso não somente nos assuntos celestiais, mas também políticos. Iniciava-se a tradição,
que se estendeu até o século XIX, dos papas coroarem os novos reis, uma cerimônia que marcava a aproximação
da Igreja com o poder político.
O clero se tornou uma classe social poderosa e atuante na formação da mentalidade medieval. A
crença se baseava na força divina contra o maligno e na negação do fiel sobre os prazeres mundanos em busca
da salvação da sua alma. A cultura clássica ficou guardada nos mosteiros para ser preservada das invasões, e os
monges copistas tiveram papel importante na reprodução desses escritos.
A ruralização europeia promoveu o fortalecimento dos nobres. A nobreza era formada pelos
senhores feudais, por cavaleiros que garantiam a segurança dos feudos e por outros donos de terras. Nessa classe
social se desenvolveu a fidelidade entre senhores e servos. Os senhores eram aqueles que concediam terras e
outros favores aos servos, e estes, em troca, deveriam retribuir o favor quando solicitados. Essa fidelidade era
uma característica dos povos bárbaros e que foi incorporada nas relações sociais feudais. Fazia-se uma cerimônia
para tornar público o acordo firmado.
Ao contrário da Idade Antiga, quando a mão de obra era escravizada, durante o período medieval,
a mão-de-obra era servil. Os servos eram a maioria da população e originários daqueles que fugiram das invasões
bárbaras e se abrigaram nos feudos. Em troca de moradia e proteção, os servos trabalhavam para os senhores
feudais e para a sobrevivência deles mesmos e de suas famílias. A eles cabiam inúmeras exigências, cobranças
sobre os usos dos utensílios pertencentes ao senhor feudal, a entrega de parte da produção, o dízimo para a Igreja.

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A sociedade feudal era rural, estruturada nos feudos, e a minoria que estava no topo da pirâmide
social (nobres e clero) era sustentada pela classe de
maior tamanho e a única que trabalhava, a dos servos.
Era uma sociedade estamental, que não permitia
a mobilidade social, conforme um ditado da época:
“Existem aqueles que lutam (nobres), aqueles que
rezam (clero) e aqueles que trabalham (servos)”.

ECONOMIA FEUDAL

A economia durante a Idade Média


era basicamente agrária, o que não significa afirmar que
o comércio tenha desaparecido. Durante a Antiguidade
Clássica, o mar Mediterrâneo foi o principal local do
comércio marítimo. Com a expansão árabe a partir do século VII, o Mediterrâneo foi Os cavaleiros eram
nobres que guerreavam
conquistado por esse povo, e os europeus ocidentais não tinham alternativa a não ser durante a Idade Média.
a agricultura. Além disso, com a fuga das cidades para o campo, a terra se valorizou.
A prática agrícola exigia cuidado com a terra. Para isso, os servos que trabalhavam nela utilizavam
instrumentos como o arado e a força dos animais domesticados. Uma técnica para manter a fertilidade do solo
era o rodízio das terras, isto é, enquanto uma porção do terreno era utilizada, a outra porção ficava de repouso e
era utilizada na plantação seguinte, enquanto a utilizada anteriormente ficava de repouso. Com isso, aumentou-
se a produção e, consequentemente, a população.

AS OBRIGAÇÕES

As obrigações eram impostos e taxas que o servo tinha que pagar aos nobres. Para tudo os servos
deveriam pagar, no entanto, esse pagamento era em espécie e não em dinheiro.
As obrigações eram:
A talha – parte da produção que o servo tinha que dar ao senhor
Corveia – trabalho compulsório e gratuito que servo prestava durante alguns dias
nas terras do senhor
Banalidades – taxas pagas pelos servos pelo uso de equipamentos e estradas.
Mão-morta – taxa paga pela família do servo morto para continuar trabalhando na
terra.
Capitação – imposto pago anualmente a Igreja

Crise do feudalismo

A crise do feudalismo começou a partir do século XII, quando mudanças na sociedade europeia
colocaram em xeque as estruturas do feudalismo. As cidades voltaram a surgir após séculos de abandono, desde
os tempos das invasões bárbaras. Houve o aumento populacional ocorrido no ano 1000, também chamado de
“ano da paz de Deus”, por conta da queda significativa nas guerras medievais. Com o aumento demográfico, a
produção agrícola também se expandiu, exigindo maior trabalho dos servos e o uso de técnicas mais avançadas
para atender a demanda.
Outro fator que transformou a sociedade europeia foram as Cruzadas. Inicialmente eram
expedições religiosas que se dirigiam até o Oriente para resgatar os locais sagrados para os cristãos e que estavam
nas mãos dos islâmicos. No entanto, essas expedições ganharam outras dimensões ao trazerem para a Europa
Ocidental produtos orientais, como as especiarias.

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O comércio retomava suas atividades após mais de um milênio de predomínio agrícola. O mar
Mediterrâneo voltava a receber expedições comerciais que interligavam o Ocidente com o Oriente. As cidades
italianas de Gênova e Veneza fizeram acordos comerciais com os islâmicos a fim de manter a abertura do
Mediterrâneo para essa nova onda comercial.
Surgia nesse contexto a burguesia, uma classe social formada por comerciantes que enriqueceram
com as trocas comerciais de produtos orientais. Ao redor dos feudos se formavam as feiras, que faziam as
negociações dos produtos; instalava-se os primeiros bancos para fazer as conversões monetárias, e as moedas
voltavam a circular no Ocidente.
Após séculos de domínio eclesiástico sobre a produção cultural, o período final do feudalismo
marcou a retomada o cientificismo, ou seja, da pesquisa científica no estudo sobre a natureza. Temendo
represálias da Igreja, muitos cientistas faziam seus experimentos às escondidas. O humanismo começava a se
fortificar na Europa, um movimento cultural que valorizava o ser humano e toda sua potencialidade. Mesmo
mantendo as temáticas religiosas, as produções artísticas no final da Idade Média apontavam para as expressões
de traços humanos na pintura e escultura.
Essas mudanças na Europa Ocidental são chamadas de renascimento. O europeu da transição da
Idade Média para a Idade Moderna buscava fazer renascer os princípios humanistas que caracterizaram a cultura
clássica greco-romana. O teocentrismo, Deus no centro do Universo, cedia lugar para o antropocentrismo, o ser
humano como centro e principal medida de todas as coisas.
A crise do feudalismo não foi apenas pela retomada dos valores greco-romanos. A peste negra foi
uma doença altamente infecciosa e que se alastrou por toda a Europa, matando 1/3 da população. Com o excesso
de trabalho e desejosos por sair dos feudos e mudar de vida nas cidades, os servos de revoltaram contra os seus
senhores, encerrando um período de mais de um milênio de obrigações e apego à terra.
Os reis começaram a ganhar força política ao liderarem as tropas militares que abafaram as revoltas
servis e atuaram na linha de frente das guerras entre os primeiros reinos europeus, como a Guerra dos Cem Anos,
um conflito envolvendo a França e a Inglaterra. De chefes militares, os reis ganhavam poderes políticos e
começavam a se tornar monarcas absolutistas, característica dos reinos modernos.

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