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Disciplina: Hstoria Serie: 7º Ano

FEUDALISMO
- A organização do Sistema Feudal ocorreu durante da Alta Idade Média, após a disso, os reis e chefes germânicos costumavam cuidar pessoalmente da justiça,
fragmentação do território do Império Romano do Ocidente em vários reinos baseada no direito consuetudinário, ou seja, no direito prescritivo. Assim, um crime
bárbaros menores, principalmente após o fim do Império de Carlos Magno. era punido de acordo com a tradição oral dos antepassados, o chefe guerreiro ou o
- difundido na Europa oriental e nos territórios do Oriente Próximo ocupados pelos rei , responsáveis pela execução da punição. Podemos dizer que muitos líderes e reis
europeus durante as Cruzadas. germânicos (essa última, uma designação tipicamente germânica) começaram a ser
- Alguns autores consideram que o feudalismo também se organizou no Japão e na integrados ao Império Romano Ocidental como Federatios, posteriormente formando
China, mas em geral, quando falamos em Sistema Feudal, estamos nos restringindo famílias com a nobreza romana, propiciando o aparecimento da aristocracia europeia
ao território europeu durante um período específico, a Idade Média. medieval.
- Como afirmado anteriormente, a Idade Média é subdividida em dois períodos: a Adoção do colonato pelos romanos e pelos próprios germânicos:
Alta Idade Média, do século V a X, época de Podemos dizer que o feudalismo é um Outro elemento auxiliar a influenciar a formação do feudalismo foi a adoção pelos
sistema característico da Europa, principalmente da parte ocidental, mas também romanos do sistema de Colonato, a partir dos séculos II e III. Isso porque, com o fim
- formação do feudalismo europeu; e a Baixa Idade Média, do século X ao XV, da expansão imperial e com a fixação de limites para o Império (limes), o número de
período em que o feudalismo entrou em crise, sendo gradativamente substituído pelas escravos começou a diminuir nas plantações das Províncias. Por meio desse novo
monarquias nacionais, mesmo que ainda mantendo algumas de suas características. sistema, muitos indivíduos expropriados de terras, incluindo camponeses
Descentralização: ausência de um poder central, substituído por vários poderes germânicos, passaram a receber pequenos lotes para trabalhar, em troca de
locais, representados pela aristocracia europeia, os senhores feudais, descendentes cultivarem as terras dos senhores aristocratas, tanto dos senhores romanos, como dos
dos povos germânicos que ocuparam os territórios do Império Romano Ocidental. novos ocupantes, os senhores germânicos. O colonato se desenvolveria, portanto, no
Religião Cristã: se politicamente, os territórios europeus estavam fragmentados trabalho servil da Idade Média feudal.
entre os vários senhores feudais existentes, a Igreja Cristã de Roma e a crença em um Conversão dos povos europeus à fé cristã e à Igreja Romana:
único Deus conferia unidade aos europeus, uma unidade denominada de cristandade. Além de todos esses elementos de sincretismo cultural, os “bárbaros” germânicos
Assim, apesar de divididos em feudos, todos eram parte dessa mesma cristandade, começaram também a se converter ao cristianismo, o que acabou conferindo unidade
servos de Cristo e de sua representante, a Igreja Romana, submissos a vontade e aos cultural entre suas diferentes tribos e etnias. Isso porque, os reis bárbaros viam na
desígnios de Deus. conversão, uma forma de legitimar seu poder, recebendo o apoio da Igreja Romana.
Sistema feudal: em outras palavras, adoção do trabalho servil nos campos em A Igreja passou a ganhar amparo militar e terras da nobreza, tornando-se a maior
substituição ao trabalho escravo das sociedades antigas. proprietária da Europa Medieval. Os discursos do clero amparavam
Ruralização da sociedade: como característica do feudalismo, temos a ruralização ideolologicamente a aristocracia germânica, educando a todos os camponeses
da sociedade européia, ou seja, o abandono de muitas antigas cidades e sua europeus e difundindo a concepção de que Deus destinara diferentes
substituição por vilas em volta dos castelos dos senhores feudais, locais mais seguros funções para os homens. Assim, segundo seus dogmas, haviam aqueles homens
para defesa diante dos constantes saques e guerras do período. destinados a guerra (os nobres/ bellatores), aqueles que representavam a palavra de
Formação do feudalismo europeu Deus na Terra (os clérigos/oratores), bem como aqueles que produziam os alimentos
- Podemos destacar três elementos responsáveis pela formação do feudalismo europeu para a sobrevivência de todos (os camponeses servos/laboratores).
durante a Idade Média. Vejamos: Feudos
Formação dos Reinos Bárbaros e sincretismo cultural entre elementos romanos e - Podemos definir os feudos como núcleos de terra quase auto-suficientes, uma
germânicos: unidade de produção agrícola para consumo local. Nos feudos, os senhores detinham
Os povos germânicos tomaram múltiplos territórios do Império Romano Ocidental, poderes absolutos, quase não havendo comércio entre os mesmos, a exceção de
formando diferentes reinos menores, os chamados Reinos Bárbaros. Os Anglos- produtos em falta ou artigos de luxo para os senhores. Quando havia necessidade, um
Saxões dominaram a atual Inglaterra, os Visigodos, à Península Ibérica, os senhor cunhava a própria moeda do feudo, a mesma valendo por seu peso ou pelo
Ostrogodos e os Lombartos à Itália, os Vândalos, o norte da África, os Burgúndios, tipo de metal empregado (ouro, prata, cobre). Os feudos podem ser divididos em:
parte da Alemanha e por fim, os Francos, o atual território francês. Em todos esses Manso Senhorial: tratava-se de um terço da área total do feudo. Nela, os servos
territórios, os germanos difundiram sua cultura. Entre suas práticas culturais mais trabalhavam alguns dias por semana, em geral três dias. Toda a produção dessa parte
comuns, podemos citar à lealdade entre guerreiros, aos quais formavam grupos de terra era destinada ao senhor feudal e a seus familiares. Era nessa parte que ficava
denominados pelos romanos de comitatus. Por meio desses laços, era comum que um o castelo, com sua Torre de Menagem ao centro, suas Torres Laterais e suas Cortinas
chefe germânico concedesse terras para os melhores combatentes, familiares e de Pedra, aonde ficavam dispostos os arqueiros e demais guerreiros. Em volta do
parentes diretos em troca de sua lealdade, um traço que apareceu sob o Império de castelo haviam algumas habitações, a Igreja, a feira e a taverna.
Carlos Magno e que permaneceu preponderante durante toda a Idade Média. Além
Manso Servil: Área destinada ao usufruto dos servos, divididos em pequenos lotes moinho, o celeiro, o forno e o lagar, aonde se fazia vinho.
ou tenências (glebas) de terra. Parte do que era produzido nessa parte era destinado - Censo: Essa era uma taxa em dinheiro ou espécie (produtos da terra) paga somente
ao senhor, sobrando apenas o necessário para a sobrevivência dos servos e suas pelos vilões, uma forma de utilizarem alguns lotes do feudo para seu próprio
famílias. sustento. Logicamente que se quisessem utilizar os equipamentos disponíveis, teriam
Terras Comunais: Parte do feudo utilizada por senhores e servos para a pastagem do de pagar também a banalidade.
gado e a extração de madeira. Em geral eram territórios de floresta, aonde os - Capitação: Imposto por cabeça (per capita) pago pelos servos por cada integrante
senhores caçavam animais silvestres, atividade essa típica da nobreza, proibida aos de sua família. Assim, quanto maior a família do servo, mais caro seria o imposto a
camponeses e servos. pagar.
Como as tecnologias agrícolas do período eram muito atrasadas, os europeus - Mão Morta: Taxa paga pela família de um servo morto para que sua mulher e
utilizavam um sistema de rotação de culturas para que o solo não perdesse em filhos continuassem trabalhando no feudo. Em outras palavras, quando um servo
produtividade. Assim, tanto as terras do servos (cada gleba de terra), quanto as terras morria, seus familiares pagavam uma taxa para continuarem a ser explorados pelos
dos senhores eram divididas em três porções iguais. Em duas dessas porções eram senhores feudais, em uma época ao qual não possuir um lote de terras era um destino
produzidas culturas distintas a cada ano (por exemplo, trigo, ou cevada), a terceira pior do que a servidão.
permanecendo em repouso (sem produção naquele ano). No ano seguinte mudava-se - Tostão de Pedro: Além de todos esses impostos, os servos tinham de pagar um
a cultura de cada porção, ficando outra porção em repouso e assim respectivamente. dizimo à Igreja, ao padre ou abade local, uma forma de manterem-se na comunidade
A Ordem Social religiosa, em harmonia com Deus.
A sociedade era altamente hierarquizada, com diferentes estamentos, ou seja, Estados Além de todos esses impostos e obrigações, os servos eram obrigados a alojar os
Jurídicos definidos pelo sangue, ocupação e obtenção de riqueza, uma organização senhores quando estes estivessem chegando de viagem. Outra obrigação era chamada
que impedia qualquer pretensão de mobilidade social. São elas: de Prima Notte, bastante criticada pela Igreja, que consistia no direito ordinário de
- Clero: Subdividido em Clero Secular ou Alto Clero, composto por bispos e uma senhor feudal dormir com a esposa de um servo recém casado, antes mesmo da
cardeais, aqueles que administravam a Igreja Romana e, Clero regular, ou Baixo confirmação das núpcias.
Clero, aqueles que rezavam, e viviam sob pesados dogmas eclesiásticos, ou seja, os Relações entre nobres (suseranos e vassalos)
padres e monges. Como o celibato era adotado entre o baixo clero, desde o concílio Havia dois tipos de relações sociais na Idade Média, bastante específicas, mas que
de Elvira (300), em geral, os filhos mais novos da nobreza eram obrigados a entrar confundem muitos estudantes de História. Uma delas era a relação entre os membros
para a Igreja a fim de incorporar as fileiras do clero. da nobreza, seus Pactos de Fidelidade, originários dos antigos comitatus, mas que
-Senhores feudais: Estamento composto pela nobreza proprietária de terras, pelos passaram a fazer parte das normas sociais da Idade Média europeia,
descendentes dos antigos senhores germanos ou romanos. Eram quem chefiavam os principalmente após o Império Carolíngio. Trata-se do mesmo Pacto de
feudos, controlando-os de forma absoluta, seja no campo político, administrativo, Vassalagem (osculum, ritual de investidura) presente em muitos livros de história, ao
jurídico e militar. qual um nobre, o vassalo, em troca de um feudo para governar, prestava obrigações
- Servos: Tratavam-se dos camponeses fixos aos feudos, obrigados a prestar serviços para com seu suserano, obrigações que podiam ser em alguma forma de taxa ou
e a pagar impostos para os senhores em troca de um lote de terras. Além deles tributo ou em apoio militar. Assim, o vassalo prestava auxílio em armas à seu
haviam os Vilões, pequenos proprietários ou trabalhadores livres que não estavam suserano quando esse entrava em guerra, significando que aquele poderia levar seus
fixo a nenhum feudo, prestando serviços temporários para algum nobre em troca próprios vassalo ou mesmo seus servos se assim o desejasse.
de um mísero salário provisório. Podiam arrendar algum lote de terras em troca do
Isso significa que na Idade Média européia, não haviam Exércitos Permanentes, as
pagamento de uma taxa ao senhor feudal, mas não estavam fixados à terra e nem
forças militares sendo compostas exclusivamente de suseranos e seus vassalos. Em
mesmo tinham obrigações para com os senhores.
geral, os reis, ou mesmo aqueles que ainda detinham os títulos de reis eram os
Relações entre senhores e servos
maiores suseranos da nobreza, aqueles que possuíam a maior quantidade de vassalos,
Já entre os senhores feudais e seus servos, ou seja, os camponeses fixados à terra do o que não significa que pudessem interferir no feudo dos mesmos. Na prática, todo
feudo haviam uma série de obrigações desiguais; os servos quase que submetidos a nobre fazia parte de uma relação de suserania e vassalagem, porém, cada senhor
uma forma de escravidão moderada. Podemos estipular várias formas de obrigações feudal tinha autonomia plena em seu respectivo feudo. Um suserano poderia ter
dos servos para com os senhores. Vejamos as principais: muitos vassalos, mas um vassalo só poderia ter um suserano. Os vassalos de meu
- Corveia: Tratava-se do trabalho dos servos nas terras do senhor, no chamado
vassalo não eram obrigados a prestar auxílio ao suserano mais acima da relação, a
Manso Senhorial, em geral, três dias a cada semana. menos que seus suseranos quisessem.
- Talha: Entrega de parte da produção dos servos ao senhor feudal, ou seja, de
Crise do Feudalismo
alimentos produzidos pelos servos em seus lotes de terras, o Manso Servil. - A crise do feudalismo ocorreu durante a chamada Baixa Idade Média, dos séculos X a XV.
- Banalidade: Taxa paga pelos servos para a utilização de certos instrumentos do feudo
- Trata-se de um longo processo que levou à formação das Monarquias Nacionais
pertencentes aos senhores feudais,
inclusive quando produziam nas terras desses senhores. Tais equipamentos eram o Europeias e consequentemente, do Estado Moderno.
- Para entendermos tal crise é preciso inicialmente retomarmos alguns pontos específicos da
Alta Idade Média. para ocupar. Diante do grande número de feudos já ocupados por outros senhores,
Antecedentes tornou -se comum o aterramento de pântanos e a derrubada de florestas nativas, um
- Ao longo da Alta Idade Média, o ocidente foi assolado por constantes invasões de povos e empreendimento insuficiente diante das altas taxas de natalidade da época.
etnias diferentes. Expulsão dos servos
- Os bárbaros germânicos devastaram o Império Romano. Logo, os nobres perceberam sua impotência para solucionar o problema da fome.
- Eles seram muitas vezes empurrados por outros povos mais perigosos que também viviam
Como as tecnologias agrícolas eram muita atrasadas para permitir o aumento da
da pilhagem e do saque. No século V, ocorreram as incursões dos hunos, um povo asiático,
conhecido por sua perícia na arte de cavalgar e no uso de arco e flecha, seu principal líder produtividade dos campos, os senhores feudais, de forma arbitrária, começaram a
chamado de Átila, o Flagelo de Deus. expulsar alguns servos de suas terras. Esses servos deslocaram-se para as cidades,
- Os próprios germânicos, tal como vimos anteriormente, pilharam os territórios muitas vezes vagando pelas estradas como mendigos e/ou bandidos, aumentando
ocidentais do antigo Império Romano, aos poucos se sedentarizando. Nos séculos ainda mais o clima de insegurança. A sensação de crise se tornou cada vez mais
VIII e IX, os normandos (homens do norte), naturais da Escandinávia (Suécia, intensa, se acirrando ainda mais devido ao grande número de cavaleiros errantes
Noruega, Dinamarca) começaram a atacar os feudos medievais, principalmente as perambulando pelo ocidente.
igrejas e os mosteiros cristãos, causando medo e insegurança entre os povos Disputas entre a nobreza
europeus. O crescimento demográfico não aumentou somente o número de servos e
- Além dos vikings (como se autodenominavam os normandos em condição de camponeses, mas também a quantidade de filhos de cada senhor feudal. Diante do
pirataria), havia incursões dos magiáres (húngaros) e dos eslavos, povos naturais das tradicional direito de primogenitura, que concedia ao filho mais velho a prerrogativa
extensas planícies da Europa Oriental a competir por territórios. de herdar o feudo e os títulos do pai, muitos jovens da nobreza passaram a
- Todas essas invasões geravam não somente um clima de insegurança, como perambular pelo ocidente à procura de suseranos que pudessem lhes conceder algum
também mantinham a mortandade das populações europeias em níveis elevados, território. O clima entre a nobreza se tornou ainda mais tenso, já que faltava um
assegurando a subsistência mínima dos camponeses, alocados em feudos quase inimigo comum para unir a todos em uma mesma causa.
autosuficientes. Alguns conflitos entre senhores feudais e cavaleiros errantes foram observados na
- Junte-se a isso, o temor infundado dos ocidentais aos muçulmanos, chamados época, e os Contos de Cavalaria medievais atestam tais disputas. Para tentar
também de sarracenos ou mouros (nesse último caso, os muçulmanos da Península solucionar os conflitos, a Igreja Católica Romana passou a organizar torneios de
Ibérica e do norte da África), fazendo com que os servos procurassem cada vez mais espadas e justas (lanças de cavalaria) entre os nobres, muitas vezes prometendo terras
a proteção dos senhores feudais. para os vencedores. Não sendo suficientes para todos, muitos nobres se dirigiram
- Os nobres europeus, em razão das ameaças externas, podiam assim, cumprir seu para territórios distantes, principalmente para a Rússia, levando para lá seu modo de
papel social de guerreiros e defensores dos feudos, unindo-se cava vez mais em laços vida, movimento esse denominado de Expansão Germânica dos Cavaleiros
de vassalagem para enfrentar inimigos comuns. Teutônicos.
- O problema, é que as incursões de pilhagem diminuíram a partir do final do ano Movimento Cruzadist
1000. Muitos saqueadores, como os normandos, começaram a procurar novas rotas e Mas a primeira grande consequência de toda essa situação de instabilidade foi o
territórios, muitas vezes sedentarizando-se e tornando-se senhores feudais, como movimento das Cruzadas em direção ao Oriente Próximo, propiciando a dinamização
comprova a ocupação normanda do norte da França em 911 (território denominado dos contatos entre os povos. Ocorrido entre os séculos XI e XIII , o Movimento
de Normandia). Cruzadista aglutinou todas as forças europeias contra um inimigo comum, os
- Com o fim das invasões vikings, os feudos se estabilizaram e a mortalidade da muçulmanos, chamados de infiéis pela Igreja Católica. As Cruzadas pareciam a
população caiu, processo esse que levou ao advento da crise do feudalismo. solução para a crise surgida do crescimento demográfico, tornando-se, na verdade,
Crescimento Demográfico responsável por transformar ainda mais a sociedade feudal. Mas antes de
O crescimento demográfico foi, portanto bastante expressivo no Ocidente europeu ao averiguarmos tais mudanças, vejamos algumas das causas por trás do Movimento
início da Baixa Idade Média. Só para termos uma ideia, no século X haviam 18 Cruzadista:
milhões de pessoas no Velho Continente, aumentando para 26 milhões no século XI e Aumento populacional: como já mencionamos anteriormente, haviam na Europa, ao
34 milhões no século XII. O problema estava na baixa produtividade agrícola dos início da Baixa Idade Média, muitas bocas para alimentar e uma quantidade enorme
feudos, levando à falta de alimento para famílias camponesas cada vez mais de nobres ociosos a procura de terras para governar. Era necessário escoar toda essa
numerosas. Para tentar solucionar o problema, a nobreza senhorial decidiu procurar população para outro lugar, o Oriente Próximo servindo para tais fins.
novas terras para plantar, na tentativa de incorporá-las a seus feudos e aumentar sua Cisma do Oriente: a divisão da Igreja Cristã (1054) enfraqueceu a instituição
produtividade. ocidental, levando o Papa a considerar o Movimento Cruzadista um artifício político
eficiente para pressionar o Patriarca de Constantinopla a reunificar as duas sedes
Expansão das terras cultiváveis eclesiásticas sob a liderança de Roma.
Como não poderia deixar de ser diferente, a nobreza, na falta de alimentos Interesses comerciais: as Cruzadas serviam como uma forma de reaproximar ainda
disponíveis para a crescente população camponesa, começou a procurar novas terras mais o Oriente do Ocidente, levando os comerciantes da Península Itálica,
principalmente venezianos e florentinos, interessados nas rotas das especiarias do Movimentos de autonomias dos burgos
leste, a financiar o movimento. Mas os senhores feudais, muitos deles endividados após as Cruzadas –
Interesses do Imperador Bizantino: como já vimos, o Império Bizantino vinha principalmente com os comerciantes das cidades italianas, quem financiavam as
perdendo territórios para o Islã, as Cruzadas podendo inverter tal situação, já que expedições ao oriente – começaram a cobrar altas taxas pelas atividades da burguesia,
jogaria os Ocidentais, também Cristãos, contra os muçulmanos. até, porque, eram eles quem defendiam os burgos situados próximos aos castelos. As
Proibição das Peregrinações ao Santo Sepulcro: Essa é uma causa que também foi tributações excessivas, tornaram-se cada vez mais onerosas para os burgueses,
utilizada como justificativa oficial para a declaração das Cruzadas. Isso porque as elevando os preços das mercadorias para os demais habitantes dos burgos. Isso levou
peregrinações eram quase que um liturgia (ritual) dos cristãos, torando-se parte da aos Movimentos Comunais (de comuna, outra designação para as cidades ou burgos),
cultura europeia da Idade Média. O problema é que a dinastia turca dos seldjúlcidas, a luta pela emancipação das cidades do domínio senhorial corrida ao longo dos
por ser demasiadamente radical em sua política territorial, proibiu as peregrinações à séculos XI e XIII.
Terra Santa, dando subsídios para Roma declarar o Movimento Cruzadista. Muitos burgos conseguiram obter sua independência de forma pacífica, mediante
No ano de 1095, o Papa Urbano II pronunciou um discurso no Concílio de Clermont pagamento de uma indenização fixa ao nobre local. Em caso de resistência do senhor
(cidade francesa), conclamando os cristãos a ingressarem nas expedições ao Oriente. feudal, era necessário aos burgueses pedir a intervenção dos reis, que nessa época
Mulheres, crianças e idosos costuraram faixas vermelhas em formas de cruzes sobre começaram a ganhar força sobre a nobreza. As chamadas Cartas de Franquia
as vestes, partindo para Jerusalém a fim de retomar uma terra que consideravam sua formalizavam a autonomia dos burgos e consequentemente dos burgueses. Com tal
de direito. autonomia, foram esses últimos eram quem inicialmente organizaram os impostos, a
Ao todo, foram oito Cruzadas Oficiais - sob o beneplácido da Igreja e da nobreza defesa e a administração da justiça no interior das cidades, sendo logo substituídos
feudal, além de duas Cruzadas não oficiais; a dos mendigos e a das crianças. pelos reis, seus aliados no movimento emancipatório. A burguesia, cada vez mais
Vejamos: enriquecida começara a se organizar, constituindo instituições importantes, tais como
Formação dos Burgos as Corporações de Ofício, as Guildas e Hansas.
Durante a Idade Média, as reduzidas atividades comerciais eram praticadas nas feiras Organizações burguesas: Corporações de Ofício, Guildas e Hansas
próximas aos castelos dos senhores feudais, uma forma das pessoas que por elas As Corporações de Ofício eram organizações de artesãos de uma mesma atividade
perambulavam obterem alguma segurança frente aos bandidos, batedores ou povos em uma dada cidade. Tinham como objetivo regulamentar os preços dos produtos e
invasores. Inicialmente períodicas, as feiras se tornaram permanentes com a os salários dos produtores, estipular reservas de mercado (monopólío), bem como a
dinamização do comércio, tornando-se núcleos urbanos maiores, chamados de qualidade e a quantidade da produção artesanal do burgo. Eram comumente
Burgos – da palavra germânica burgs/fortaleza. Alguns desses Burgos eram, portanto hierarquizadas, apesar da categoria mais baixa poder ascender até a superior. Em
vilas em volta dos castelos dos nobres, outros, eram antigas cidades do período geral, uma oficia de artesanato compreendia um Mestre Artesão, o dono das
romano retomadas diante da expulsão dos servos de suas terras, fora aqueles burgos ferramentas, da própria oficina e das matérias primas, os Oficiais Jornaleiros,
criados em rotas e cruzamentos de estradas, aonde o comércio era mais efetivo. homens que recebiam um salário em troca de sua jornada de trabalho e os
O fato é que a (re) intensificação comercial propiciada pelas Cruzadas, aliada a Aprendizes, vinculados à oficina a espera de poder de tornarem mestres, desde que a
expulsão dos servos do meio rural fez muitos Burgos nascerem e crescerem. Logo, as corporação aprovasse.
áreas externas às muralhas dos castelos ganharam outras muralhas, e assim, no lugar As Guildas, por sua vez eram organizações de mercadores, responsáveis pela
dos novos burgos, surgiram cidades. regulação dos mercados e pelo monopólio em uma dada região ou burgo. Os mesmo
Advento da burguesia valendo para as Hansas, cidades mercantis da região da Alemanha, também presentes
Inicialmente, todos aqueles que habitavam um burgo eram chamados de burgueses. na Inglaterra com o nome de Merchants, em geral, hansas exclusiva de tecelagem. Na
Não é preciso dizer que tais núcleos atraíam cada vez mais comerciantes e artesãos, prática, essas organizações existiam para proteger a burguesia de alguma região,
esses ultimos, trabalhadores manuais reconhecidos pelo florescimento das atividades assegurando o controle sobre as atividades comerciais, sem riscos de concorrência.
comerciais. Além deles, surgiram outras figuras relevantes, os chamados cambistas, Comércio europeu de longa distância
responsáveis por efetuar a troca de moedas no interior dos Burgos. Devemos Com a intensificação do comércio e das cidades, logo surgiram novas rotas
lembrar que cada nobre local costumava cunhar a moeda a ser utilizada em seu pela Europa, incluindo de longa distância. As principais delas guiavam os
respectivo feudo, sendo necessário intermediadores que pudessem estipular pesos e produtos até a Itália e dali partiam para o o Oriente e vice e versa. Temos também
medidas para tais unidades monetárias, a fim de facilitar o comércio. Lidando com uma nova rota formada entre os séculos XI e XIII, entre o sul da Europa e a região de
dinheiro, os cambistas - também chamados de banqueiros em razão dos altos assentos Flandres, ao norte, comprendendo a atual Bélgica e os Países Baixos (atual Holanda).
que sentavam para chamar os clientes - logo começaram a emprestar dinheiro à juros Isso sem falar na rota entre as Hansas alemãs do porte de Hamburgo, Brêmen,
(capital usurário), acumulando cada vez mais riqueza com suas atividades. Nesse Rostoch e Lubuck, que formaram a Liga hanseática para controlar todo o comércio
sentido, diante do enriquecimento, do aumento de status e da influência dos da região. Assim, produtos como o lã, o linho, a seda, o couro, o
comerciantes, artesãos e banqueiros dentro dos Burgos, eles passaram a ser chamados
vinho, o peixe, o trigo e as especiarias do oriente (pimentas, açucar, damasco, canela,
de burgueses, os demais habitantes perdendo tal designação.
dentre outras) já circulavam por toda a Europa, fortalecendo a acumulação de riqueza
e a própria burguesia

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