FEUDALISMO européia, ou seja, o abandono de muitas antigas

cidades e sua substituição por vilas em volta dos

- A organização do Sistema Feudal ocorreu durante
castelos dos senhores feudais, locais mais seguros
da Alta Idade Média, após a fragmentação do
para defesa diante dos constantes saques e guerras
território do Império Romano do Ocidente em vários
do período.
reinos bárbaros menores, principalmente após o fim
Formação do feudalismo europeu
do Império de Carlos Magno.
- Podemos destacar três elementos responsáveis
- Podemos dizer que o feudalismo é um sistema
pela formação do feudalismo europeu durante a
característico da Europa, principalmente da parte
Idade Média. Vejamos:
ocidental, mas também difundido na Europa oriental
Formação dos Reinos Bárbaros e sincretismo cultural
e nos territórios do Oriente Próximo ocupados pelos
entre elementos romanos e germânicos:
europeus durante as Cruzadas.
Os povos germânicos tomaram múltiplos territórios
- Alguns autores consideram que o feudalismo
do Império Romano Ocidental, formando diferentes
também se organizou no Japão e na China, mas em
reinos menores, os chamados Reinos Bárbaros. Os
geral, quando falamos em Sistema Feudal, estamos
Anglos-Saxões dominaram a atual Inglaterra, os
nos restringindo ao território europeu durante um
Visigodos, à Península Ibérica, os Ostrogodos e os
período específico, a Idade Média.
Lombartos à Itália, os Vândalos, o norte da África, os
- Como afirmado anteriormente, a Idade Média é
Burgúndios, parte da Alemanha e por fim, os
subdividida em dois períodos: a Alta Idade Média, do
Francos, o atual território francês. Em todos esses
século V a X, época de formação do feudalismo
territórios, os germanos difundiram sua cultura.
europeu; e a Baixa Idade Média, do século X ao XV,
Entre suas práticas culturais mais comuns, podemos
período em que o feudalismo entrou em crise, sendo
citar à lealdade entre guerreiros, aos quais
gradativamente substituído pelas monarquias
formavam grupos denominados pelos romanos de
nacionais, mesmo que ainda mantendo algumas de
comitatus. Por meio desses laços, era comum que
suas características.
um chefe germânico concedesse terras para os
Características gerais do feudalismo
melhores combatentes, familiares e parentes diretos
- O feudalismo europeu possui elementos básicos
em troca de sua lealdade, um traço que apareceu
que precisamos delimitar.
sob o Império de Carlos Magno e que permaneceu
- São eles:
preponderante durante toda a Idade Média. Além
Descentralização: ausência de um poder central,
disso, os reis e chefes germânicos costumavam
substituído por vários poderes locais, representados
cuidar pessoalmente da justiça, baseada no direito
pela aristocracia europeia, os senhores feudais,
consuetudinário, ou seja, no direito prescritivo.
descendentes dos povos germânicos que ocuparam
Assim, um crime era punido de acordo com a
os territórios do Império Romano Ocidental.
tradição oral dos antepassados, o chefe guerreiro ou
Religião Cristã: se politicamente, os territórios
o rei, responsáveis pela execução da punição.
europeus estavam fragmentados entre os vários
Podemos dizer que muitos líderes e reis germânicos
senhores feudais existentes, a Igreja Cristã de Roma
(essa última, uma designação tipicamente
e a crença em um único Deus conferia unidade aos
germânica) começaram a ser integrados ao Império
europeus, uma unidade denominada de cristandade.
Romano Ocidental como Federatios, posteriormente
Assim, apesar de divididos em feudos, todos eram
formando famílias com a nobreza romana,
parte dessa mesma cristandade, servos de Cristo e
propiciando o aparecimento da aristocracia
de sua representante, a Igreja Romana, submissos a
europeia medieval.
vontade e aos desígnios de Deus.
Adoção do colonato pelos romanos e pelos próprios
Sistema feudal: em outras palavras, adoção do
germânicos:
trabalho servil nos campos em substituição ao
Outro elemento auxiliar a influenciar a formação do
trabalho escravo das sociedades antigas.
feudalismo foi a adoção pelos romanos do sistema
Ruralização da sociedade: como característica do
de Colonato, a partir dos séculos II e III. Isso porque,
feudalismo, temos a ruralização da sociedade
com o fim da expansão imperial e com a fixação de
limites para o Império (limes), o número de escravos
começou a diminuir nas plantações das Províncias.
Por meio desse novo sistema, muitos indivíduos
expropriados de terras, incluindo camponeses
germânicos, passaram a receber pequenos lotes
para trabalhar, em troca de cultivarem as terras dos
senhores aristocratas, tanto dos senhores romanos,
como dos novos ocupantes, os senhores
germânicos. O colonato se desenvolveria, portanto,
no trabalho servil da Idade Média feudal.
Conversão dos povos europeus à fé cristã e à Igreja
Romana:
Além de todos esses elementos de sincretismo
cultural, os “bárbaros” germânicos começaram
também a se converter ao cristianismo, o que
acabou conferindo unidade cultural entre suas
diferentes tribos e etnias. Isso porque, os reis
bárbaros viam na conversão, uma forma de legitimar
seu poder, recebendo o apoio da Igreja Romana. A
Igreja passou a ganhar amparo militar e terras da
nobreza, tornando-se a maior proprietária da Europa
Medieval. Os discursos do clero amparavam
ideolologicamente a aristocracia germânica,
educando a todos os camponeses europeus e
difundindo a concepção de que Deus destinara
diferentes
funções para os homens. Assim, segundo seus
dogmas, haviam aqueles homens destinados a
guerra (os nobres/ bellatores), aqueles que
representavam a palavra de Deus na Terra (os
clérigos/oratores), bem como aqueles que
produziam os alimentos para a sobrevivência de
todos (os camponeses servos/laboratores).
Feudos
- Podemos definir os feudos como núcleos de terra
quase auto-suficientes, uma unidade de produção
agrícola para consumo local. Nos feudos, os
senhores detinham poderes absolutos, quase não
havendo comércio entre os mesmos, a exceção de
produtos em falta ou artigos de luxo para os
senhores. Quando havia necessidade, um senhor
cunhava a própria moeda do feudo, a mesma
valendo por seu peso ou pelo tipo de metal
empregado (ouro, prata, cobre). Os feudos podem
ser divididos em:
Manso Senhorial: tratava-se de um terço da área
total do feudo. Nela, os servos trabalhavam alguns
dias por semana, em geral três dias. Toda a produção
dessa parte de terra era destinada ao senhor feudal
e a seus familiares. Era nessa parte que ficava o
castelo, com sua Torre de Menagem ao centro, suas
Torres Laterais e suas Cortinas de Pedra, aonde
ficavam dispostos os arqueiros e demais guerreiros.
Em volta do castelo haviam algumas habitações, a
Igreja, a feira e a taverna.
Manso Servil: Área destinada ao usufruto dos servos,
divididos em pequenos lotes ou tenências (glebas)
de terra. Parte do que era produzido nessa parte era
destinado ao senhor, sobrando apenas o necessário
para a sobrevivência dos servos e suas famílias.
Terras Comunais: Parte do feudo utilizada por
senhores e servos para a pastagem do gado e a
extração de madeira. Em geral eram territórios de
floresta, aonde os senhores caçavam animais
silvestres, atividade essa típica da nobreza, proibida
aos camponeses e servos.
Como as tecnologias agrícolas do período eram
muito atrasadas, os europeus utilizavam um sistema
de rotação de culturas para que o solo não perdesse
em produtividade. Assim, tanto as terras do servos
(cada gleba de terra), quanto as terras dos senhores
eram divididas em três porções iguais. Em duas
dessas porções eram produzidas culturas distintas a
cada ano (por exemplo, trigo, ou cevada), a terceira
permanecendo em repouso (sem produção naquele
ano). No ano seguinte mudava-se a cultura de cada
porção, ficando outra porção em repouso e assim
respectivamente.
A Ordem Social
A sociedade era altamente hierarquizada, com
diferentes estamentos, ou seja, Estados Jurídicos
definidos pelo sangue, ocupação e obtenção de
riqueza, uma organização que impedia qualquer
pretensão de mobilidade social. São elas:
- Clero: Subdividido em Clero Secular ou Alto Clero,
composto por bispos e cardeais, aqueles que
administravam a Igreja Romana e, Clero regular, ou
Baixo Clero, aqueles que rezavam, e viviam sob
pesados dogmas eclesiásticos, ou seja, os padres e
monges.
- Como o celibato era adotado entre o baixo clero,
desde o concílio de Elvira (300), em geral, os filhos
mais novos da nobreza eram obrigados a entrar para
a Igreja a fim de incorporar as fileiras do clero.
-Senhores feudais: Estamento composto pela
nobreza proprietária de terras, pelos descendentes
dos antigos senhores germanos ou romanos. Eram
quem chefiavam os feudos, controlando-os de forma
absoluta, seja no campo político, administrativo,
jurídico e militar.
- Servos: Tratavam-se dos camponeses fixos aos
feudos, obrigados a prestar serviços e a pagar
impostos para os senhores em troca de um lote de
terras. Além deles haviam os Vilões, pequenos
proprietários ou trabalhadores livres que não
estavam fixo a nenhum feudo, prestando serviços
temporários para algum nobre em troca de um
mísero salário provisório. Podiam arrendar algum
lote de terras em troca do pagamento de uma taxa
ao senhor feudal, mas não estavam fixados à terra e
nem mesmo tinham obrigações para com os
senhores.
Relações entre senhores e servos
Já entre os senhores feudais e seus servos, ou seja,
os camponeses fixados à terra do feudo haviam uma
série de obrigações desiguais; os servos quase que
submetidos a uma forma de escravidão moderada.
Podemos estipular várias formas de obrigações dos
servos para com os senhores. Vejamos as principais:
- Corveia: Tratava-se do trabalho dos servos nas
terras do senhor, no chamado Manso Senhorial, em
geral, três dias a cada semana.
- Talha: Entrega de parte da produção dos servos ao
senhor feudal, ou seja, de alimentos produzidos
pelos servos em seus lotes de terras, o Manso Servil.
- Banalidade: Taxa paga pelos servos para a utilização
de certos instrumentos do feudo pertencentes aos
senhores feudais, inclusive quando produziam nas
terras desses senhores. Tais equipamentos eram o
moinho, o celeiro, o forno e o lagar, aonde se fazia
vinho.
- Censo: Essa era uma taxa em dinheiro ou espécie
(produtos da terra) paga somente pelos vilões, uma
forma de utilizarem alguns lotes do feudo para seu
próprio sustento. Logicamente que se quisessem
utilizar os equipamentos disponíveis, teriam de
pagar também a banalidade.
- Capitação: Imposto por cabeça (per capita) pago
pelos servos por cada integrante de sua família.
Assim, quanto maior a família do servo, mais caro
seria o imposto a pagar.
- Mão Morta: Taxa paga pela família de um servo
morto para que sua mulher e filhos continuassem
trabalhando no feudo. Em outras palavras, quando
um servo morria, seus familiares pagavam uma taxa
para continuarem a ser explorados pelos senhores
feudais, em uma época ao qual não possuir um lote
de terras era um destino pior do que a servidão.
- Tostão de Pedro: Além de todos esses impostos, os
servos tinham de pagar um dizimo à Igreja, ao padre
ou abade local, uma forma de manterem-se na
comunidade religiosa, em harmonia com Deus.
Além de todos esses impostos e obrigações, os
servos eram obrigados a alojar os senhores quando
estes estivessem chegando de viagem. Outra
obrigação era chamada de Prima Notte, bastante
criticada pela Igreja, que consistia no direito
ordinário de uma senhor feudal dormir com a esposa
de um servo recém casado, antes mesmo da
confirmação das núpcias.
Relações entre nobres (suseranos e vassalos)
Havia dois tipos de relações sociais na Idade Média,
bastante específicas, mas que confundem muitos
estudantes de História. Uma delas era a relação
entre os membros da nobreza, seus Pactos de
Fidelidade, originários dos antigos comitatus, mas
que passaram a fazer parte das normas sociais da
Idade Média europeia, principalmente após o
Império Carolíngio. Trata-se do mesmo Pacto de
Vassalagem (osculum, ritual de investidura) presente
em muitos livros de história, ao qual um nobre, o
vassalo, em troca de um feudo para governar,
prestava obrigações para com seu suserano,
obrigações que podiam ser em alguma forma de taxa
ou tributo ou em apoio militar. Assim, o vassalo
prestava auxílio em armas à seu suserano quando
esse entrava em guerra, significando que aquele
poderia levar seus próprios vassalo ou mesmo seus
servos se assim o desejasse.
Isso significa que na Idade Média européia, não
haviam Exércitos Permanentes, as forças militares
sendo compostas exclusivamente de suseranos e
seus vassalos. Em geral, os reis, ou mesmo aqueles
que ainda detinham os títulos de reis eram os
maiores suseranos da nobreza, aqueles que
possuíam a maior quantidade de vassalos, o que não
significa que pudessem interferir no feudo dos
mesmos. Na prática, todo nobre fazia parte de uma
relação de suserania e vassalagem, porém, cada
senhor feudal tinha autonomia plena em seu
respectivo feudo. Um suserano poderia ter muitos
vassalos, mas um vassalo só poderia ter um
suserano. Os vassalos de meu vassalo não eram
obrigados a prestar auxílio ao suserano mais acima
da relação, a menos que seus suseranos quisessem.
Crise do Feudalismo
- A crise do feudalismo ocorreu durante a chamada
Baixa Idade Média, dos séculos X a XV.
- Trata-se de um longo processo que levou à
formação das Monarquias Nacionais Europeias e
consequentemente, do Estado Moderno.
- Para entendermos tal crise é preciso inicialmente
retomarmos alguns pontos específicos da Alta Idade
Média.
Antecedentes
- Ao longo da Alta Idade Média, o ocidente foi
assolado por constantes invasões de povos e etnias
diferentes.
- Os bárbaros germânicos devastaram o Império
Romano.
- Eles seram muitas vezes empurrados por outros
povos mais perigosos que também viviam da
pilhagem e do saque.
- No século V, ocorreram as incursões dos hunos, um
povo asiático, conhecido por sua perícia na arte de
cavalgar e no uso de arco e flecha, seu principal líder
chamado de Átila, o Flagelo de Deus.
- Os próprios germânicos, tal como vimos
anteriormente, pilharam os territórios ocidentais do
antigo Império Romano, aos poucos se
sedentarizando. Nos séculos VIII e IX, os normandos
(homens do norte), naturais da Escandinávia (Suécia,
Noruega, Dinamarca) começaram a atacar os feudos
medievais, principalmente as igrejas e os mosteiros
cristãos, causando medo e insegurança entre os
povos europeus.
- Além dos vikings (como se autodenominavam os
normandos em condição de pirataria), havia
incursões dos magiáres (húngaros) e dos eslavos,
povos naturais das extensas planícies da Europa
Oriental a competir por territórios.
- Todas essas invasões geravam não somente um
clima de insegurança, como também mantinham a
mortandade das populações europeias em níveis
elevados, assegurando a subsistência mínima dos
camponeses, alocados em feudos quase
autosuficientes.
- Junte-se a isso, o temor infundado dos ocidentais
aos muçulmanos, chamados também de sarracenos
ou mouros (nesse último caso, os muçulmanos da
Península Ibérica e do norte da África), fazendo com
que os servos procurassem cada vez mais a proteção
dos senhores feudais.
- Os nobres europeus, em razão das ameaças
externas, podiam assim, cumprir seu papel social de
guerreiros e defensores dos feudos, unindo-se cava
vez mais em laços de vassalagem para enfrentar
inimigos comuns.
- O problema, é que as incursões de pilhagem
diminuíram a partir do final do ano 1000. Muitos
saqueadores, como os normandos, começaram a
procurar novas rotas e territórios, muitas vezes
sedentarizando-se e tornando-se senhores feudais,
como comprova a ocupação normanda do norte da
França em 911 (território denominado de
Normandia).
- Com o fim das invasões vikings, os feudos se
estabilizaram e a mortalidade da população caiu,
processo esse que levou ao advento da crise do
feudalismo.
Crescimento Demográfico
O crescimento demográfico foi, portanto bastante
expressivo no Ocidente europeu ao início da Baixa
Idade Média. Só para termos uma ideia, no século X
haviam 18 milhões de pessoas no Velho Continente,
aumentando para 26 milhões no século XI e 34
milhões no século XII. O problema estava na baixa
produtividade agrícola dos feudos, levando à falta de
alimento para famílias camponesas cada vez mais
numerosas. Para tentar solucionar o problema, a
nobreza senhorial decidiu procurar novas terras para
plantar, na tentativa de incorporá-las a seus feudos
e aumentar sua produtividade.
Expansão das terras cultiváveis
Como não poderia deixar de ser diferente, a
nobreza, na falta de alimentos disponíveis para a
crescente população camponesa, começou a
procurar novas terras para ocupar. Diante do grande
número de feudos já ocupados por outros senhores,
tornou-se comum o aterramento de pântanos e a
derrubada de florestas nativas, um empreendimento
insuficiente diante das altas taxas de natalidade da
época.
Expulsão dos servos
Logo, os nobres perceberam sua impotência para
solucionar o problema da fome. Como as tecnologias
agrícolas eram muito atrasadas para permitir o
aumento da produtividade dos campos, os senhores
feudais, de forma arbitrária, começaram a expulsar
alguns servos de suas terras. Esses servos
deslocaram-se para as cidades, muitas vezes
vagando pelas estradas como mendigos e/ou
bandidos, aumentando ainda mais o clima de
insegurança. A sensação de crise se tornou cada vez
mais intensa, se acirrando ainda mais devido ao
grande número de cavaleiros errantes
perambulando pelo ocidente.
Disputas entre a nobreza
O crescimento demográfico não aumentou somente
o número de servos e camponeses, mas também a
quantidade de filhos de cada senhor feudal. Diante
do tradicional direito de primogenitura, que
concedia ao filho mais velho a prerrogativa de herdar
o feudo e os títulos do pai, muitos jovens da nobreza
passaram a perambular pelo ocidente à procura de
suseranos que pudessem lhes conceder algum
território. O clima entre a nobreza se tornou ainda
mais tenso, já que faltava um inimigo comum para
unir a todos em uma mesma causa.
Alguns conflitos entre senhores feudais e cavaleiros
errantes foram observados na época, e os Contos de
Cavalaria medievais atestam tais disputas. Para
tentar solucionar os conflitos, a Igreja Católica
Romana passou a organizar torneios de espadas e
justas (lanças de cavalaria) entre os nobres, muitas
vezes prometendo terras para os vencedores. Não
sendo suficientes para todos, muitos nobres se
dirigiram para territórios distantes, principalmente
para a Rússia, levando para lá seu modo de vida,
movimento esse denominado de Expansão
Germânica dos Cavaleiros Teutônicos.
Movimento Cruzadista
Mas a primeira grande consequência de toda essa
situação de instabilidade foi o movimento das
Cruzadas em direção ao Oriente Próximo,
propiciando a dinamização dos contatos entre os
povos. Ocorrido entre os séculos XI e XIII , o
Movimento Cruzadista aglutinou todas as forças
europeias contra um inimigo comum, os
muçulmanos, chamados de infiéis pela Igreja
Católica. As Cruzadas pareciam a solução para a crise
surgida do crescimento demográfico, tornando-se,
na verdade, responsável por transformar ainda mais
a sociedade feudal. Mas antes de averiguarmos tais
mudanças, vejamos algumas das causas por trás do
Movimento Cruzadista:
Aumento populacional: como já mencionamos
anteriormente, haviam na Europa, ao início da Baixa
Idade Média, muitas bocas para alimentar e uma
quantidade enorme de nobres ociosos a procura de
terras para governar. Era necessário escoar toda
essa população para outro lugar, o Oriente Próximo
servindo para tais fins.
Cisma do Oriente: a divisão da Igreja Cristã (1054)
enfraqueceu a instituição ocidental, levando o Papa
a considerar o Movimento Cruzadista um artifício
político eficiente para pressionar o Patriarca de
Constantinopla a reunificar as duas sedes
eclesiásticas sob a liderança de Roma.
Interesses comerciais: as Cruzadas serviam como
uma forma de reaproximar ainda mais o Oriente do
Ocidente, levando os comerciantes da Península
Itálica, principalmente venezianos e florentinos,
interessados nas rotas das especiarias do leste, a
financiar o movimento.
Interesses do Imperador Bizantino: como já vimos, o
Império Bizantino vinha perdendo territórios para o
Islã, as Cruzadas podendo inverter tal situação, já
que jogaria os Ocidentais, também Cristãos, contra
os muçulmanos.
Proibição das Peregrinações ao Santo Sepulcro: Essa
é uma causa que também foi utilizada como
justificativa oficial para a declaração das Cruzadas.
Isso porque as peregrinações eram quase que um
liturgia (ritual) dos cristãos, torando-se parte da
cultura europeia da Idade Média. O problema é que
a dinastia turca dos seldjúlcidas, por ser
demasiadamente radical em sua política territorial,
proibiu as peregrinações à Terra Santa, dando
subsídios para Roma declarar o Movimento
Cruzadista.
No ano de 1095, o Papa Urbano II pronunciou um
discurso no Concílio de Clermont (cidade francesa),
conclamando os cristãos a ingressarem nas
expedições ao Oriente. Mulheres, crianças e idosos
costuraram faixas vermelhas em formas de cruzes
sobre as vestes, partindo para Jerusalém a fim de
retomar uma terra que consideravam sua de direito.
Ao todo, foram oito Cruzadas Oficiais - sob o
beneplácido da Igreja e da nobreza feudal, além de
duas Cruzadas não oficiais; a dos mendigos e a das
crianças. Vejamos:
Cruzadas não oficiais
Cruzada dos Mendigos (1096)
Liderados por um homem conhecido como Pedro, o
Eremita, muitos mendigos, ladrões, camponeses
pobres e vilões saíram de Colônia, na atual
Alemanha, com o fito de retomar à Terra Santa de
Jerusalém dos muçulmanos. Sem comida ou
recursos, saquearam e roubaram aldeias e cidades
pelo caminho, muitos cruzados vindos a falecer na
empreitada. Os poucos que chegaram ao oriente,
acabaram saqueando os subúrbios da cidade cristã
de Constantinopla, levados pela fome. Para se livrar
do desagradável imprevisto, o Imperador Bizantino,
indicou para os cruzados mendigos, o caminho até as
tropas muçulmanas, que derrotaram facilmente os
cristãos em uma fortaleza além do Bósforo.
Cruzada das Crianças (1212)
Tal como a dos mendigos, essa não foi uma Cruzada
oficial. Ela surgiu da idéia de que somente pessoas
inocentes e sem pecados poderiam vencer os “infiéis
“ e libertar à Terra Santa de seu jugo. Assim, algumas
crianças foram convocadas para se dirigirem ao
Oriente, muitas delas sendo vendidas como escravas
na Itália, outras crianças vindo a morrer em um
naufrágio no Mar Mediterrâneo.
Cruzadas oficiais
Primeira Cruzada – Cruzada dos Nobres ou
Cavaleiros (1096 -1099)
- Composta por cavaleiros errantes e por senhores
feudais.
- Essa foi a Primeira Cruzada Oficial, caracterizada
também pela ausência de qualquer rei europeu. Os
cruzados chegaram a seu destino, conquistando
Edessa e Antioquia, na Síria-Palestina e na Ásia
Menor, respectivamente. Em 1099 , após um cerco
de cinco semanas, ocuparam Jerusalém, fundando
na região vários reinos cristãos, que adotaram o
regime feudal nos mesmos moldes ao da Europa.
Tais reinos eram; o Reino de Jerusalém, o Principado
de Antioquia, os Condados de Edessa e Trípole.
Segunda Cruzada (1147- 1149)
Essa Cruzada foi organizada depois que os
muçulmanos reconquistaram a cidade de Edessa,
vindo a fracassar na tentativa de retomar a cidade
das mãos dos turcos seldjúlcidas.
Terceira Cruzada – Cruzada dos Reis (1189 – 1192)
- Também foi conhecida como a Cruzada dos Reis,
pois dela participaram Ricardo Coração de Leão, rei
da Inglaterra, Filipe Augusto, rei da França e
Frederico Barba Ruiva, Imperador do Sacro Império
Romano Germânico. A Cruzada foi organizada após
os muçulmanos, liderados pelo sultão Saladino,
reconquistarem Jerusalém, no ano de 1187 . Apesar
da presença dos reis europeus, os cruzados não
obtiveram sucesso na empreitada de retomar a
Terra Santa, conseguindo apenas obter um acordo
junto ao sultão para o retorno das peregrinações de
cristãos até o Santo Sepulcro de Cristo.
Quarta Cruzada – Cruzada dos Comerciantes (1202-
1204)
Denominada dessa forma porque foi patrocinada
pelos comerciantes das cidades italianas,
principalmente Veneza. Em função dos interesses
dos venezianos, os cruzados foram desviados de seu
objetivo de combater os muçulmanos e acabaram
atacando Constantinopla. Fundaram no território o
Império Latino de Constantinopla, controlando as
rotas comerciais entre a cidade e o oriente,
principalmente a rota da seda, iniciada na China. O
domínio dos venezianos, patrocinadores dessa
cruzada sobre Constantinopla durou por mais de 60
anos.
Quinta, Sexta, Sétima e Oitava Cruzadas (1218 –
1270)
As últimas quatro Cruzadas acabaram sendo
secundárias se comparadas as primeiras. Na maioria
das vezes foram lideradas por cavaleiros errantes,
em busca de riquezas e aventuras no oriente,
afastados do objetivo original de libertar as rotas do
oriente para a livre peregrinação dos cristãos. A
exceção da sétima e da oitava que contaram com a
presença do rei Luís IX, da França,
exemplo de virtude entre os reis europeus da Idade
Média. Ao ser morto em Túnis, em 1270, foi logo
depois canonizado pelo Papa, tornando-se assim,
São Luís.
“Renascimento” Urbano e Comercial
O termo Renascimento Urbano e Comercial ainda
costuma ser utilizado em livros de história para
explicar a dinamização do comércio e o crescimento
das cidades após o Movimento Cruzadista. Hoje
sabemos que a Idade Média não significou a
ausência das atividades urbanas e comerciais, mas
apenas seu enfraquecimento. As cidades da Itália
continuaram negociando com o Oriente após a
queda do Império Romano Ocidental, intensificando
ainda mais suas atividades após as Cruzadas. Cidades
como Gênova e Veneza controlavam as rotas
comerciais das especiarias do eixo leste-oeste, seus
comerciantes e banqueiros faturando ainda mais
com as incursões de nobres em direção à Terra
Santa. Isso sem falar, no enriquecimento dos
comerciantes venezianos após a Quarta Cruzada,
quando passaram a controlar Constantinopla.
Assim, o termo mais correto a se empregar seria (Re)
Intensificação das Atividades Urbanas e Comerciais,
um amplo movimento histórico que ajudou a
desestabilizar ainda mais as estruturas feudais
existentes, levando ao advento das monarquias
centralizadas nacionais. Vejamos os demais
elementos dessa transformação:
Formação dos Burgos
Durante a Idade Média, as reduzidas atividades
comerciais eram praticadas nas feiras próximas aos
castelos dos senhores feudais, uma forma das
pessoas que por elas perambulavam obterem
alguma segurança frente aos bandidos, batedores ou
povos invasores. Inicialmente períodicas, as feiras se
tornaram permanentes com a dinamização do
comércio, tornando-se núcleos urbanos maiores,
chamados de Burgos – da palavra germânica
burgs/fortaleza. Alguns desses Burgos eram,
portanto vilas em volta dos castelos dos nobres,
outros, eram antigas cidades do período romano
retomadas diante da expulsão dos servos de suas
terras, fora aqueles burgos criados em rotas e
cruzamentos de estradas, aonde o comércio era
mais efetivo.
O fato é que a (re) intensificação comercial
propiciada pelas Cruzadas, aliada a expulsão dos
servos do meio rural fez muitos Burgos nascerem e
crescerem. Logo, as áreas externas às muralhas dos
castelos ganharam outras muralhas, e assim, no
lugar dos novos burgos, surgiram cidades.
Advento da burguesia
Inicialmente, todos aqueles que habitavam um
burgo eram chamados de burgueses. Não é preciso
dizer que tais núcleos atraíam cada vez mais
comerciantes e artesãos, esses ultimos,
trabalhadores manuais reconhecidos pelo
florescimento das atividades comerciais. Além deles,
surgiram outras figuras relevantes, os chamados
cambistas, responsáveis por efetuar a troca de
moedas no interior dos Burgos. Devemos lembrar
que cada nobre local costumava cunhar a moeda a
ser utilizada em seu respectivo feudo, sendo
necessário intermediadores que pudessem estipular
pesos e medidas para tais unidades monetárias, a
fim de facilitar o comércio. Lidando com dinheiro, os
cambistas - também chamados de banqueiros em
razão dos altos assentos que sentavam para chamar
os clientes - logo começaram a emprestar dinheiro à
juros (capital usurário), acumulando cada vez mais
riqueza com suas atividades. Nesse sentido, diante
do enriquecimento, do aumento de status e da
influência dos comerciantes, artesãos e banqueiros
dentro dos Burgos, eles passaram a ser chamados de
burgueses, os demais habitantes perdendo tal
designação.
Movimentos de autonomias dos burgos
Mas os senhores feudais, muitos deles endividados
após as Cruzadas – principalmente com os
comerciantes das cidades italianas, quem
financiavam as expedições ao oriente – começaram
a cobrar altas taxas pelas atividades da burguesia,
até, porque, eram eles quem defendiam os burgos
situados próximos aos castelos. As tributações
excessivas, tornaram-se cada vez mais onerosas para
os burgueses, elevando os preços das mercadorias
para os demais habitantes dos burgos. Isso levou aos
Movimentos Comunais (de comuna, outra
designação para as cidades ou burgos), a luta pela
emancipação das cidades do domínio senhorial
corrida ao longo dos séculos XI e XIII.
Muitos burgos conseguiram obter sua
independência de forma pacífica, mediante
pagamento de uma indenização fixa ao nobre local.
Em caso de resistência do senhor feudal, era
necessário aos burgueses pedir a intervenção dos
reis, que nessa época começaram a ganhar força
sobre a nobreza. As chamadas Cartas de Franquia
formalizavam a autonomia dos burgos e
consequentemente dos burgueses. Com tal
autonomia, foram esses últimos eram quem
inicialmente organizaram os impostos, a defesa e a
administração da justiça no interior das cidades,
sendo logo substituídos pelos reis, seus aliados no
movimento emancipatório. A burguesia, cada vez
mais enriquecida começara a se organizar,
constituindo instituições importantes, tais como as
Corporações de Ofício, as Guildas e Hansas.
Organizações burguesas: Corporações de Ofício,
Guildas e Hansas
As Corporações de Ofício eram organizações de
artesãos de uma mesma atividade em uma dada
cidade. Tinham como objetivo regulamentar os
preços dos produtos e os salários dos produtores,
estipular reservas de mercado (monopólío), bem
como a qualidade e a quantidade da produção
artesanal do burgo. Eram comumente
hierarquizadas, apesar da categoria mais baixa poder
ascender até a superior. Em geral, uma oficia de
artesanato compreendia um Mestre Artesão, o dono
das ferramentas, da própria oficina e das matérias
primas, os Oficiais Jornaleiros, homens que recebiam
um salário em troca de sua jornada de trabalho e os
Aprendizes, vinculados à oficina a espera de poder
de tornarem mestres, desde que a corporação
aprovasse.
As Guildas, por sua vez eram organizações de
mercadores, responsáveis pela regulação dos
mercados e pelo monopólio em uma dada região ou
burgo. Os mesmo valendo para as Hansas, cidades
mercantis da região da Alemanha, também
presentes na Inglaterra com o nome de Merchants,
em geral, hansas exclusiva de tecelagem. Na prática,
essas organizações existiam para proteger a
burguesia de alguma região, assegurando o controle
sobre as atividades comerciais, sem riscos de
concorrência.
Comércio europeu de longa distância
Com a intensificação do comércio e das cidades, logo
surgiram novas rotas pela Europa, incluindo de longa
distância. As principais delas guiavam os produtos
até a Itália e dali partiam para o o Oriente e vice e
versa. Temos também uma nova rota formada entre
os séculos XI e XIII, entre o sul da Europa e a região
de Flandres, ao norte, comprendendo a atual Bélgica
e os Países Baixos (atual Holanda). Isso sem falar na
rota entre as Hansas alemãs do porte de Hamburgo,
Brêmen, Rostoch e Lubuck, que formaram a Liga
hanseática para controlar todo o comércio da região.
Assim, produtos como o lã, o linho, a seda, o couro,
o vinho, o peixe, o trigo e as especiarias do oriente
(pimentas, açucar, damasco, canela, dentre outras)
já circulavam por toda a Europa, fortalecendo a
acumulação de riqueza e a própria burguesia.
Surgimento de uma mentalidade Pré-Capitalista
Surge uma nova mentalidade a questionar a moral
católica medieval anti-lucro ou a usura. Incialmente
os burgueses, apiados pela Igreja advogam o Justo
Preço, baseado no custo da mercadoria, mais o
trabalho empregado, mas aos poucos uma
mentalidade pré-capitalista começa a se formar,
surgindo concepções em torno da acumulação,
desde que regrada pelas organizações burguesas.
Outra concepção presente diz respeito a ascenção
social, visto que no interior das Corporações de
Ofício era possível a um aprendiz chegar a condição
de mestre a adquirir sua propria oficina, a burguesia
defendendo essa conduta para toda a sociedade.
Mais importante, foi a partir da vontade de ascender
cada vez mais economicamente que a burguesia
passou a apoiar os reis para derrubarem os entraves
feudais que prejudicavam o comércio.
Crise do século XIV
Ao longo so século XIV, uma nova crise abalou à
Europa. Por um lado, a Guerra dos Cem Anos causou
uma grande mortandade no Velho Continente, por
outro, uma epidemia mortal, começou a se espalhar
entre a população europeia: a Peste Negra. Trata-se
de uma doença que começou na China entre 1333-
1334, epalhando-se pelo Mar Negro e chegando até
Constantinopla em 1347. Na Europa Ocidental, os
primeiros casos atestados da doença datam de 1348,
levando milhares de pessoas a contraírem-na logo
em seguida.
Segundo as palavras de Giovane Boccacio (1313-
1375), os sintomas iniciais eram inchaços nas axilas
e na virilha, seguidas de manchas escuras pelo corpo,
até o estágio final da doença, em que surgiam
hemorragias seguidas de morte. A Igreja divulgou
que tratava-se de um castigo de Deus e muitos
europeus, na falta de informações precisas
acusaram os judeus e os muçulmanos de estarem
envenenando os poços de água. Na verdade, a
doença era a Peste Bubônica, proveniente de uma
bactéria transmitida aos humanos pela pulga do rato
preto, provavelmente chegando à Europa por meio
das caravanas de comércio. Em razão das condições
precárias de higiene e da falta de sistema de esgotos
nas cidades Europeias, a doença se espalhou
rapidamente, matando entre 25 a 75 milhões de
pessoas.
Com a Peste Negra e a Guerra dos Cem Anos, o
número de habitantes no continente europeu foi
reduzido pela metade, ocasionando falta de mão de
obra para a produção de alimentos. Em outras
palavras, se a crise do início da Baixa Idade Média foi
gerada pelo crescimento demográfico acentuado,
agora ela se deu por um fenômeno inverso, a
diminuição da mão de obra nos campos. A crise só
veio a piorar com a falta de comida, gerando ainda
mais mortandade. Datam dessa época os casos de
insatisfação geral de camponeses contra os antigos
senhores feudais alocados em seus castelos, as
chamadas rebeliões camponesas, ou Jacqueries,
como foram conhecidas na França, devido ao nome
Jacques Bonhomme, termo que significa João
Ninguém. O fato é que essa nova crise levou a mais
questionamentos contra a sociedade feudal, já em
processo de desestruturação. A Idade Média
chegaria oficialmente a seu fim com a tomada de
Constantinopla, mas foi à crise do século anterior
que realmente inaugurou o ocaso do medievo.
Formação das Monarquias Nacionais
- Com a intensificação comercial e o enriquecimento
da burguesia, os reis passam a ter um papel
importante como fiéis da balança entre os
tradicionais integrantes da nobreza e os burgueses.
- Para dinamizar ainda mais o comércio, a burguesia
financia os reis de modo a derrubar alguns entraves
às transações, permitindo a formação das chamadas
monarquias nacionais. Vejamos alguns elementos
desse cenário:
- Necessidade de um sistema regular de pesos e
medidas: O fato de cada feudo possuir moedas
distintas daquelas utilizadas nos demais atrapalhava
as transações comerciais, gerando a necessidade de
um único sistema de pesos e medidas para vastos
territórios. Isso levou a burguesia a exigir dos reis a
cunhagem de moedas únicas em seus domínios, de
forma a diminuir o número de pesos e medidas
existentes na Europa.
- Necessidade de uma única tributação ao comércio:
No feudalismo, diante da quantidade de feudos
existentes, os comerciantes tinham de pagar taxas
alfandegárias por cada território que passassem,
aumentando demasiadamente os custos das
mercadorias em seu final. A burguesia apoiou os reis
para que derrubassem os múltiplos pedágios
feudais, substituindo-os por tributos a serem pagos
a um único poder central, o do rei. Os burgueses
concordaram em pagar para o rei em troca de não
mais pagar para vários senhores feudais.
- Necessidade de exércitos nacionais permanentes:
Na época feudal, cada nobre cuidava da segurança
em seus próprios feudos, muitas vezes deixando à
sorte os comerciantes que perambulavam pelos
mesmos. A burguesia financiou os reis para que
adquirissem o monopólio do uso legítimo da força,
defendendo que colocassem sob sua tutela, um
corpo permanente de tropas profissionais, pagas
com soldo. Tais tropas vieram a substituir aos
poucos, os exércitos irregulares de vassalos da Idade
Média, levando os reis a obterem mais poder ainda
sobre os nobres. Com isso, as atividades comerciais
contavam com segurança em um dado território
nacional, propiciando menores custos para os
transportes de mercadorias. Tais mudanças se
relacionam também ao emprego cada vez mais
efetivo da infantaria na guerra, bem como ao
advento das armas de fogo (no século XIV, na
Europa), que tornavam as antigas armaduras feudais
obsoletas. Isso sem falar nas várias revoltas de
servos esfomeados contra os senhores feudais,
levando a nobreza a aceitar o apoio dos reis para sua
defesa.
As consequências de todas essas demandas foram
marcantes. Os reis passaram a comandar territórios
com alguma unidade linguística e cultural, fixando
fronteiras e assegurando o controle sobre a
administração político-econômica dos mesmos. A
nobreza se tornou ociosa, entrando aos poucos na
burocracia dos novos Estados nacionais formados,
visto que, apesar de inicialmente os reis serem
apoiados pela burguesia, eram integrantes da
aristocracia, logo concedendo privilégios a seus
pares. A burguesia também saiu ganhando, senão
em termos políticos, pelo menos em termos
econômicos, visto que podiam comercializar por
territórios maiores, mais seguros e a menores
custos. Muitos burgueses, advindos das
Universidades criadas ao longo dos séculos XII e XIII
compilaram antigos códigos jurídicos romanos para
as monarquias nacionais, adaptando-os às
demandas da época.