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IFMG Campus Ponte Nova – Pré-ENEM – História

TEMA: Crise do Sistema Feudal trabalho por semana e podia ser transformada em trabalho de
construção ou manutenção de pontes, estradas, represas,
1. GÊNESE E CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA FEUDAL castelos e edificações ou canais.

1.1 ALTA IDADE MÉDIA (SÉCULO V AO X) Redevances

Além do processo de ruralização que a Europa conheceu a Eram inúmeras e podiam ser pagas em gêneros ou em
partir do século III e que foi acentuado pelas invasões dinheiro; dentre as Redevances destacaremos a “capitação”
bárbaras germânicas, a partir do século VIII, ela tendeu a se (imposto por cabeça pago somente pelos servos), o “censo”
isolar do resto do mundo e, mais do que isso, tendeu a atrofiar ou “foro” (pagamento fixo anual efetuado apenas pelos
os seus contatos internos inter-regionais. vilões), “talha” (pagamento em espécie que era efetuado
pelos servos e pelos vilões e que consistia em uma parcela da
Após a queda do império romano do Ocidente, houve uma produção das Tenências), “banalidades” (o dízimo pago ao
constante diminuição do número de escravos, a introdução do senhor pelo uso das instalações do Domínio como o celeiro, o
sistema de colonato, que daria origem a servidão medieval, moinho, o forno, o lagar, os tonéis e as moradias).
além de uma nova forma de vida rural, distante das cidades. É
a partir desse contexto que verificamos o surgimento do Os servos e Vilões l (Homens livres que deviam ao Senhor
feudalismo. Feudal obrigações mais leves que os servos e, além disso,
não estavam presos à terra e por isso podiam mudar,
1.1.1 ECONOMIA/SOCIEDADE livremente, de um Domínio para outro), ainda deviam o
Tostão de Pedro, que era cobrado em épocas especiais pela
A estrutura econômica do Feudalismo tem como uma de suas Igreja, e cujo resultado era enviado para o Papa em Roma.
características básicas o fato de ser uma economia
tipicamente agrária. A unidade de produção típica do O processo de produção típico do Feudalismo caracterizou-se
Feudalismo era chamada de Domínio, Senhoria, Manor ou pela baixa produtividade, justificável em função da pequena
Manso. Em um Domínio, coexistiam três regimes de divisão social do trabalho existente, pois um mesmo
propriedade de terra: trabalhador incumbia-se de diversos tipos de atividades
agrárias e diversos tipos de atividades artesanais.
A propriedade coletiva, que era característica dos bosques e
das pastagens; tratava-se de uma faixa de terra de uso Os trabalhadores tendiam a desenvolver o que podemos
comum, onde os servos colhiam frutas, cortavam a madeira e chamar de esforço mínimo, ou seja, trabalhavam apenas o
apascentavam seus rebanhos, enquanto os senhores as suficiente, a fim de que a parcela da produção, que ficava em
utilizavam para a caça; essa faixa territorial era normalmente suas mãos fosse suficiente para prover as necessidades
chamada de Campos Abertos. mínimas dele e de seus familiares (subsistência).

A propriedade privada, que era característica da Reserva Dentre os aspectos rudimentares da técnica empregada para
(também podia ser chamada de Manso Senhorial), abrangia o cultivo da terra na economia feudal, podemos destacar: a
cerca de metade das terras aráveis e pertencia, divisão da terra em dois ou três campos nos quais se
exclusivamente, ao senhor feudal. revezavam as culturas em anos consecutivos, sempre
deixando um dos campos em pousio para que não houvesse
A posse servil. Neste sentido, é importante estabelecermos esgotamento da fertilidade do solo (dado esse sistema,
com clareza a distinção entre propriedade e posse: a verificamos que, a cada ano, pelo menos um terço da terra
Propriedade implica a posse jurídica e dá ao proprietário o permanecia improdutiva); os animais eram atrelados ao arado
direito de alienação (venda, locação, arrendamento e doação); pelo pescoço, o que diminuía a sua força de tração e,
a Posse, que também pode ser denominada de posse útil, é o conseqüentemente, o solo era arado superficialmente, o que
direito de utilização do bem sem o direito de alienação. fazia com que houvesse um baixo aproveitamento das
sementes.
Face à especificação dos conceitos acima, podemos entender
que o Manso Servil era de propriedade do Senhor Feudal, DICA: O comércio e o uso da moeda neste período eram
mas os servos detinham a posse útil do mesmo. muito baixos, porém, não podemos afirmar que eram nulos.
Para receberem a posse útil das Tenências, os servos tinham 1.1.2 SOCIEDADE/POLÍTICA
de assumir uma série de obrigações para com o Senhor
Feudal, apesar de os demais meios de produção serem de A sociedade feudal deve ser classificada como sendo uma
propriedade dos próprios servos. A esse tipo de relação entre Sociedade Estamental,ou seja, uma sociedade na qual os seus
o Senhor Feudal e os servos, damos o nome de Relações membros estão hierarquizados em função do seu “status”
Feudais de Produção (SERVIDÃO). (posição na sociedade) , sendo que o “status” de cada um era
fixado pelo fato de dever ou receber determinadas
AS PRINCIPAIS OBRIGAÇÕES DOS SERVOS PARA COM OS obrigações. Uma sociedade estamental tem como uma de
SENHORES FEUDAIS ERAM: suas características fundamentais a de apresentar reduzidos
veículos de mobilidade social.
Corveia
Ou seja, os privilégios se davam por nascimento: clero e
Consistia no trabalho dos servos e dos vilões no cultivo da nobreza (primeiro e segundo estamentos eram isentos de
Reserva; normalmente, a corvéia era paga com três dias de impostos, enquanto aos servos, cabiam inúmeras obrigações).
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Vale ressaltar a preponderância cultural exercida pelo clero, 534. Ao se fixarem na Gália, nos fins do século V, os francos,
que exercia um domínio ideológico enorme na sociedade pertencentes à etnia germânica, absorveram a cultura romana
medieval. O Teocentrismo era amplamente difundido neste e se cristianizaram. Formavam clãs rivais, unificados po-
período pela Igreja. liticamente por Clóvis, que se tornou seu rei, em 481. Os reis
francos eram descendentes do antigo chefe Meroveu, origem
Politicamente, o poder era descentralizado em torno dos da “dinastia merovíngia” (481-751).
feudos, ou seja, cada feudo tinha autonomia administrativa,
cabendo ao Senhor Feudal a manutenção de seus domínios. A aliança com a Igreja Católica possibilitou o aumento
considerável do território franco, na medida em que a
Para manter os seus servos “presos” à terra, havia uma rede estrutura eclesiástica e o exército, engrossado pela
de proteção, baseada em laços de dependência pessoal, entre incorporação de cristãos, estimularam as conquistas. Todavia,
eles, o da suserania e vassalagem. Este laço, originado do laço com a morte de Clóvis, seus filhos, seguindo um costume
da clientela romana, foi crucial para que os feudos franco, repartiram o reino.
permanecessem fragmentados durante muito tempo. Vale
ressaltar que nesta rede, um senhor, mesmo que tivesse A conquista muçulmana do Mediterrâneo ocidental reduziu
muitos servos na condição de vassalos, poderia também ser consideravelmente as trocas, e contribuiu para o fechamento
vassalo de outro senhor mais poderoso e assim por diante. da economia. Os reis merovíngios se enfraqueceram e o poder
se descentralizou, passando para as mãos dos proprietários de
DICA: além da suserania e vassalagem, outros laços, como o terras e para os administradores reais.
Comitatus e o Beneficium (de origem germânica) estavam
presentes na sociedade feudal, o que reflete uma mescla de Pepino de Heristal, prefeito do palácio, unificou o Reino
valores romanos e bárbaros. Franco, ainda sob a dinastia merovíngia. Com sua morte em
714, assumiu o poder, de fato, seu filho Carlos Martel, que se
1.2 OS REINOS GERMÂNICOS notabilizou como chefe militar ao derrotar os muçulmanos
na batalha de Poitiers.
Com a queda do Império Romano Ocidental, três grupos
germânicos predominaram na Europa Ocidental: os visigodos, Durante sua administração, consolidou sua aliança com a
na península Ibérica; os ostrogodos, na Itália, e os francos, na Igreja Católica. Ao morrer em 741, foi sucedido por seus filhos
Gália. Pepino, o Breve e Carlomano, que se retirou para um
convento.
A Itália foi a região que mais conheceu invasões. Atraídos pela
importância de Roma, pelas terras férteis e pela perspectiva Em 743, Childerico III foi coroado o último rei merovíngio.
de segurança, os germanos lutaram intensamente pelo Pepino, o Breve, hábil politicamente, obteve o apoio papal
domínio da península. Hérulos, ostrogodos, lombardos e para a sua usurpação: destronando Childerico, proclamou-se
normandos atacaram a região durante três séculos. Mas a rei em 751, iniciando a dinastia carolíngia. Pepino atacou o
instabilidade dos reinos estimulou o divisionismo político. norte da Itália, derrotou os lombardos. As terras dos
lombardos foram doadas ao papado, formando o Patrimônio
Mapa do século V-VI com os reinos bárbaros. de São Pedro. O papa, além de chefe espiritual, tornava-se
também chefe temporal.

Com a morte de Pepino, em 768, o reino foi dividido entre


seus dois filhos: Carlos Magno e Carlomano. Com a morte
deste, em 771, Carlos Magno se tornou o único governante
da Gália. Retomou a política expansionista de seu pai e
anexou a Francônia e a Suábia (na Alemanha).

No Natal de 800, o papa, desejoso de ter como aliado um


império poderoso para continuar a conversão dos bárbaros e a
expansão de seu poder temporal, coroou e sagrou Carlos
Magno imperador. Restaurava-se, portanto, o Império
Romano do Ocidente, com base no reino franco. A edificação
do Império Franco foi extremamente positiva para a Igreja. O
papa era o senhor espiritual de todo o Império, e o clero
formava um quadro social útil à sobrevivência do Estado,
As invasões atingiram também as ilhas Britânicas, onde os apoiado na moral cristã.
anglo-saxões fundaram vários reinos, embora o norte
A segurança do Império estimulou o desenvolvimento cultural,
permanecesse sob domínio celta. Os vândalos, após uma curta
conhecido como “Renascimento Carolíngio”. Compilaram-se
permanência na península Ibérica, especificamente na região
antigos manuscritos, igrejas foram restauradas, o artesanato
da Andaluzia, deslocaram-se para o norte da África.
artístico incentivado. Mosaicos, trabalhos em marfins,
Os visigodos inicialmente ocuparam a Gália, mas depois se notáveis iluminuras se multiplicavam. A escrita carolíngia se
estabeleceram na Ibéria, fundando um dos mais importantes consolidou.
reinos medievais. Os burgúndios fixaram-se nos vales dos rios
Carlos Magno governou por meio de capitulares, decretos que
Reno e Ródano, que foram incorporados pelos francos, em
tratavam de questões civis, militares e religiosas. Dividiu o
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território em marcas e condados. Os bispos foram integrados Justiniano centralizou a administração, escolhendo pessoas
à administração pública e podiam cobrar o dízimo, um dos pela sua capacidade funcional. Submeteu a Igreja cristã ao seu
fatores do enriquecimento da Igreja. O papa era o chefe domínio, particularmente o patriarcado de Constantinopla.
espiritual, porém politicamente submetido ao imperador. Esta política recebeu o nome de “cesaropapismo”, ou seja, o
domínio do Estado sobre a Igreja, largamente utilizado pelos
O imperador morreu em 814. Seu herdeiro, Luís, o Piedoso, sucessores.
morreu em 840, deixando o Império para seus três filhos, que
o dividiram em 843, seguindo o costume franco. Pelo Tratado Com sua morte em 565, o Império enfrentou outros
de Verdun, Lotário, o mais velho, foi formalmente sagrado problemas, como as famosas intrigas palacianas, disputas
impera-dor, cabendo-lhe a faixa central do Império e o norte políticas pelos principais cargos administrativos, e os
da Itália. interesses dos grandes mercadores. Outro problema grave
foram as heresias, que levariam futuramente ao divisionismo
Com as sucessivas divisões territoriais, houve o religioso e ao declínio do Império, como o monofisismo,
enfraquecimento do poder central. Os senhores locais segundo o qual haveria uma só natureza em Cristo, a divina.
assumiram, de fato, o poder, relegando os reis a um plano
secundário. Em 987, o nobre Hugo Capeto pôs fim à dinastia A esposa de Justiniano, Teodora, era monofisista, mas mesmo
carolíngia, substituindo-a pela dinastia dos Capetíngios (987 a assim esta heresia foi duramente perseguida. Afinal, facções
1328). A maior obra dessa dinastia foi unificar politicamente a rivais poderiam levar a uma guerra civil, prejudicial à força e
França. aos interesses do Estado teocrático bizantino. Finalmente, a
opulência da corte, com seus gastos, o grande número de
Na Germânia (Alemanha), processo semelhante ocorreu: os mosteiros e monges, com seus privilégios, eram um prejuízo e
grandes senhores de terras disputavam o poder, uma vez que um perigo ao Império.
a sucessão real tornara-se eletiva. Em 933, Oto I foi eleito pela
alta nobreza e iniciou um processo de centralização do poder. Um aspecto importante do governo de Justiniano foi o
Aumentou as fronteiras do reino, invadiu o Franco Condado, embelezamento da capital, transformada no principal centro
anexou a Borgonha e impôs seu domínio sobre a Lombardia, cultural cristão do Oriente, que teve na construção da catedral
no norte da Itália. de Santa Sofia, o mais notável exemplo da arquitetura cristã
bizantina.
Por volta de 955, as fronteiras da Germânia atingiram as
regiões da Baviera e do Danúbio. Em 962, Oto I foi coroado Como o imperador se preocupasse com a herança legislativa
pelo papa como o novo imperador do Ocidente. Seu reino, romana, fez reunir juristas que codificaram todo o direito
denominado Sacro Império Romano-Germânico, impôs-se à romano, sob o título de Corpus Juris Civiles (Corpo do Direito
Europa como a nova autoridade suprema. Porém, como o Civil), um verdadeiro monumento jurídico. Toda a legislação
Império Carolíngio, o Sacro Império não conseguiu romana foi revista, retificadas as omissões e suprimidas as
estabelecer sua hegemonia na Europa. contradições. Ela foi complementada pela edição do Digesto
(coletânea de leis), Institutas (princípios fundamentais do
1.3 A CIVILIZAÇÃO BIZANTINA Direito) e Novelas (leis complementares). Esse notável
trabalho jurídico serviu de base do Direito moderno.
Embora Roma tivesse sido conquistada pelos germanos, em
476 d.C., a parte oriental do Império sobreviveu. Sua capital, No século VIII, Bizâncio foi atingida pelo movimento
Constantinopla, a antiga cidade de Bizâncio, inaugurada em iconoclasta (quebra de imagens), contra os abusos da Igreja,
330, situada na região do estreito de Bósforo, dominava a que comercializava largamente estátuas de santos que ela
passagem da Ásia para a Europa e do mar Negro para o Egeu. produzia. As esculturas que decoravam as igrejas foram
destruídas e proibida a sua produção. Em 1054, ocorreu o
A sobrevivência do Império Romano do Oriente ou Império Cisma do Oriente, ou seja, a divisão entre a Igreja Ortodoxa
Bizantino, deveu-se ao controle das vias marítimas do (Constantinopla) e a Igreja Católica (Roma), que permanece
comércio internacional, pois Constantinopla era um dos até hoje. Somente em 1453 o império bizantino caiu e passou
principais terminais das rotas de caravanas vindas da Ásia. para as mãos dos turco-otomanos.
Apesar da futura pressão islâmica, o Império Bizantino 1.4 A CIVILIZAÇÃO MUÇULMANA
dominava boa parte do comércio no Mediterrâneo Oriental.
Os lucros obtidos possibilitaram a manutenção de um exército O povo árabe, à semelhança dos judeus, pertence ao grupo
poderoso. Enquanto a Europa Ocidental era parcialmente semita. Desde tempos remotos, ocupa a península que tem o
germanizada, o Império Oriental se helenizava, sob forte seu nome, localizada no Oriente Médio. Primitivamente
influência oriental. pastores de caprinos e ovinos, eram seminômades, vagando
de oásis em oásis, em busca de pastagens para seus animais.
Justiniano tornou-se imperador de Bizâncio em 527 e Reunidos em clãs, governados pelos anciões, disputavam com
reconquistou territórios para reconstruir o antigo Império outros clãs o controle dos pastos e dos poços d’água. A fome
Romano. Suas conquistas objetivavam as antigas rotas incentivava a luta entre os clãs, que limitava o crescimento da
comerciais, principalmente na área mediterrânea. Retomou população.
boa parte do norte da África, o sul da Itália (Nápoles) e da
Espanha, ilhas como Sicília, Córsega e Sardenha. Novamente Os árabes eram politeístas, místicos e animistas, adorando os
o mar Mediterrâneo pertencia aos romanos, porém os do elementos da natureza representados na forma de ídolos,
Oriente. guardados na Caaba, em Meca, uma importante cidade

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comercial. O mais importante dos símbolos era a “pedra Meca. Ao centro da foto a Caaba.
negra”, provavelmente um grande meteorito. Meca, como sua
rival Iatreb, era uma cidade localizada na rota comercial que
atravessavam a Arábia. O comércio era intenso em função da
localização da península, entre o mar Mediterrâneo, o golfo
Pérsico, o mar Vermelho e o oceano Índico, região de
passagem entre África e Ásia.

As caravanas provenientes do Oriente por ela passavam


carregadas de mercadorias, como especiarias, tecidos de seda,
essências, jóias, para serem trocadas por metais preciosos,
marfim, armas, escravos. Portanto, os clãs que viviam em
Meca eram rivais, lutando pela hegemonia econômica.

Meca era dominada pelo clã dos coraixitas, que guardava


todos os ídolos na Caaba quando nasceu Maomé, em 570.
Maomé era um axemita, um ramo do clã dos coraixitas, porém
filho de pais pobres. Órfão logo cedo, criado pelo avô e,
posteriormente, pelo tio Abu Talib; na juventude participou do Maomé uniu muitos clãs na crença em um só Deus, Alá.
comércio caravaneiro. Depois de muitos anos de lutas, conquistou Meca, onde
quebrou todos os ídolos da Caaba, exceto a pedra negra,
Nas cidades marítimas, conheceu comunidades de judeus e
símbolo da união dos homens com Deus. Meca foi
cristãos. Ele era místico e, nas suas andanças pelos desertos,
transformada em uma cidade santa e os muçulmanos
concebeu uma religião, sob influência do monoteísmo judaico-
passaram a orar voltados para ela.
cristão. Boa parte de sua vida está envolvida em lendas e
alegorias. Acredita-se que muita coisa tenha mudado quando Com incrível rapidez, as cidades árabes aderiam ao
se casou com uma rica viúva, Khadidja, a quem amava islamismo. Em 631, Maomé era senhor de toda a península
profundamente. Segundo a tradição islâmica, certa vez teria Arábica e os seus ensinamentos eram fervorosamente
lhe aparecido o anjo Gabriel, revelando-lhe a vontade de difundidos. No ano seguinte, o profeta morreu, sendo
Deus. Teria revelado à sua esposa a concepção monoteísta e sucedido por Abu-Bekr, o primeiro califa, simultaneamente
dela teve firme apoio. Costumava caminhar pelo deserto, chefe político, militar e religioso de um Estado teocrático,
meditando durante muitos dias, em jejum. centralizado e poderoso.
Jesus era considerado como um dos últimos Profetas por Os primeiros califas determinaram a compilação dos ensina-
Maomé. Este pensava em restabelecer a religião de Abraão mentos ditados por Maomé formando o Corão (ou Alcorão), o
que, no seu entender, judeus e católicos teriam deturpado. livro sagrado dos islamitas, base da sua doutrina. Entre os
Converteu inicialmente seus parentes haxemitas. principais preceitos, destacam-se:
DICA: Assim como no cristianismo, observa-se a uma forte a) Absoluta crença de que “só Alá é Deus, e Maomé, seu
influência de tradições judaicas no islamismo. Pois ambos se profeta”.
baseiam em passagens do Antigo Testamento (principalmente
do Pentateuco, ou seja, dos cinco primeiros livros das b) Peregrinação a Meca, pelo menos uma vez na vida, se
Sagradas Escrituras) para a elaboração de suas práticas possível.
religiosas.
c) Doação de esmolas na proporção da renda.
Posteriormente, passou a pregar em praça pública, atacando
o politeísmo e a idolatria. Exortava as pessoas a conquistar a d) Obrigação de cinco orações diárias, voltado para Meca.
salvação pela oração, voltando-se a Jerusalém. Atraia as
camadas mais baixas, convertendo-as. Assim, tornou-se um e) Obrigação do jejum diurno durante o mês do Ramadã.
homem perigoso para os mercadores de Meca. Perseguido e
A conjuntura da época favoreceu a expansão do Islão. Os
ameaçado pelos coraixitas, Maomé fugiu da cidade, dirigindo-
persas e os bizantinos estavam enfraquecidos por lutas entre
se à rival Iatreb, que o acolheu e se converteu, tendo seu
si e internas. Ademais, havia a crença na “Guerra Santa”
nome sido mudado para Medina, a Cidade do Profeta. Este
(jihad), a promessa do paraíso para os guerreiros. Sucederam-
episódio, a fuga (HÉGIRA), ocorrido em 622, é o marco inicial
se as conquistas da Palestina, Síria, Pérsia e parte da Índia, em
do calendário islâmico.
direção ao Oriente. Paralelamente, no Ocidente, a dominação
do Egito, rico na produção de cereais, da Cirenaica (hoje,
Líbia).

Nessa época, o governador da Síria, Moaviá Omíada,


conquistou o poder por meio de um golpe de Estado,
transferindo a sede do califado para Damasco. Iniciava-se uma
nova dinastia que governou de 660 a 750, a dos Omíadas. As
conquistas prosseguiram rapidamente, até o Marrocos e a
Sicília. Em 711, o chefe muçulmano Tarik atravessou o estreito
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de Gibraltar e iniciou a invasão e a conquista da península casado com sua filha Fátima”, diz o historiador Peter Demant,
Ibérica. Por mais de sete séculos os islamitas ali autor de O Mundo Muçulmano. “Para a segunda corrente,
permaneceram. Atravessaram os Pirineus, avançaram pela porém, qualquer fiel poderia ser candidato, desde que fosse
França, mas foram derrotados na batalha de Poitiers, em 732, aceito por consenso pela comunidade.”
por Carlos Martel, chefe militar franco.
O grupo menor formava o Shiat Ali, ou “partido de Ali”. Seus
Inicialmente, as relações entre a Europa cristã e o mundo seguidores ficaram conhecidos como xiitas. A facção
islâmico eram muito violentas. Os muçulmanos necessitavam majoritária foi chamada de sunita (do termo Ahl al Sunna, “o
manter o comércio, base de sua economia. Precisavam de povo da tradição”). Em meio à emergência de escolher um
mercadorias e, então, uma das soluções foi atacar as cidades novo líder, o círculo íntimo dos seguidores do Profeta elegeu
européias, especialmente as localizadas no litoral Abu Bakr, velho companheiro de Maomé. Abu Bakr usou o
mediterrâneo da França e da Itália. Eram as “razzias”, ataques título de califa (khalifa), uma palavra árabe que combina as
violentos muçulmanos com o objetivo de saquear e se apossar ideias de sucessor e representante. Os sunitas aplaudiram a
do butim. A população, apavorada, refugiava-se no interior. O escolha, mas o xiitas protestaram: eles
comércio cristão no Mediterrâneo Ocidental desapareceu, o insistiam que Ali era o candidato legítimo.
que contribuiu decisivamente para a ruralização da população
e a feudalização da economia européias. Pouco antes de morrer, em 634, Abu Bakr apontou Umar ibn
Al-Khatab como seu sucessor. As tropas de Umar expandiram
Havia, em geral, uma enorme conversão ao islamismo nos o domínio do Islã pela península arábica, Egito, Síria, Palestina,
territórios conquistados. Mas a grande extensão do Islão, “o Mesopotâmia e parte do Cáucaso. Em seu leito de morte,
mundo dos crentes” estimulava a autonomia regional. As lutas Umar nomeou um conselho para decidir quem seria o terceiro
violentas pelo poder se sucediam. A dinastia Omíada, califa. E o escolhido foi Uthman ibn Affan, membro de uma
massacrada, foi substituída pelos Abássidas, que transferiram família grã-fina de Umaya, em Meca. Uthman derrotou a
a capital para Bagdá. Por todo o Império circulavam moedas Pérsia e ampliou ainda mais os domínios do califado, mas os
cunhadas na capital. A civilização muçulmana chegava ao conflitos internos minaram seu governo. As tribos nômades o
apogeu e orientalizava-se. identificavam com os privilégios dos aristocratas que Maomé
havia combatido. A crise desbancou para uma guerra civil e
O Império, mais especificamente, Bagdá, fervilhava cultural-
rebeldes muçulmanos assassinaram Uthman em 656, abrindo
mente. A capital possuía universidade, uma escola de
espaço para que Ali – o preferido dos xiitas – se tornasse
medicina, incentivava as artes. Os estudos de astronomia
califa. “Quando Ali finalmente assumiu, as divisões eram
foram retomados; houve avanços na química, mas a geografia
profundas demais para que ele conseguisse impor sua
e a matemática eram as ciências preferidas. Bagdá fazia a
autoridade”, diz Demant. Ali foi morto 5 anos depois –
síntese do pensa-mento grego e hindu. A curiosidade dos
também pelas mãos de um opositor. Os xiitas apoiaram a
islâmicos levou-os a conhecer, conservar e difundir o
posse de Hassan, filho de Ali, mas o jovem cedeu ante a
pensamento clássico. Obras de Platão, de Aristóteles, de
oposição de Muawiya ibn Abu Sufyan, governador da Síria.
Direito eram traduzidas para o árabe, tornada a língua
Muawiya fundou então a primeira dinastia de califas: a dos
universal. A arte dos muçulmanos era uma síntese dos estilos
omíadas, sunitas. Os sunitas reconheceram o reinado dos 4
bizantino e persa. Era, portanto, uma cultura cosmopolita, em
primeiros califas – os Reshidun (“os retamente justos”). Para
que a tolerância religiosa possibilitava cristãos e judeus
os xiitas só o reinado de Ali foi legítimo
lecionarem nas universidades.

Assim, a cultura clássica greco-romana da Antigüidade pode A mutação do conflito


sobreviver. As traduções árabes, estudadas na Europa
medieval, propiciaram a continuidade do pensamento greco- Nos séculos seguintes, a divisão passou a incluir também
romano, que originaria mais tarde o Renascimento. agravos e diferenças teológicas. E essas mudanças começaram
a tomar forma em 680. Foi quando Hussein, filho caçula de Ali
Porém, as imensas conquistas territoriais tornaram os árabes e neto de Maomé, comandou uma rebelião xiita para impedir
uma minoria dentro do Império, ainda que a sua língua fosse a que o califa omíada Yazid assumisse o trono. Hussein foi
dominante. Os turcos otomanos, convertidos ao islamismo, degolado e seus aliados acabaram mortos na Batalha de
asseguraram-se do poder central e estenderam suas Karbala, no atual Iraque. “O tratamento dado a Hussein
conquistas na península Balcânica. Maomé II, seu chefe, motivou ressentimentos entre os xiitas. A celebração de seu
liderou o ataque ao que restava do Império Bizantino. Em assassinato durante a Ashura (o décimo dia do mês de
1453, a capital Constantinopla caía em suas mãos. Era o fim do Muharran) se tornou um período emotivo no qual a
Império Romano do Oriente. comunidade xiita compartilha seu sofrimento”, diz Yvonne
Haddad, professora de História do Islã na Universidade de
CURIOSIDADE: Origem dos xiitas e sunitas Georgetown.

Maomé nunca deixou claro quem seria seu sucessor. Quando A tragédia também ajuda a entender por que os xiitas
morreu, em 632, a comunidade muçulmana tinha um belo valorizam tanto a noção de martírio. Segundo Haddad, a
abacaxi nas mãos. Como seria escolhido o novo líder? Que principal distinção entre os grupos vem de sua visão de
funções ele teria? Quanto duraria o mandato? Assim, surgiram mundo. Sunitas acreditam que o Corão é a palavra eterna de
dois grupos antagônicos. “O primeiro, minoritário, preferia Deus que coexistia com Ele antes da Criação. Já para os xiitas,
reservar a honra da linhagem profética à família de Maomé. o Corão foi criado no tempo e passou a existir quando Deus se
Seu pretendente era Ali ibn Abi Talib, genro do Profeta, revelou à humanidade. Isso faz toda a diferença na maneira
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como eles leem o livro sagrado. “Xiitas consideram que relações sociais presentes no campo, porém, a sagração de
precisam ser guiados para interpretar o Corão na vida diária, cavaleiros, que é o exemplo citado na afirmativa era uma
pois o livro depende da época e do lugar. Assim, precisam um relação que poderia ocorrer também em um contexto urbano.
imã (líder religioso) para ajudá-los a entender a mensagem do
Corão”, diz Haddad. “Os sunitas, por sua vez, acreditam que a
palavra de Deus é a mesma e vale para qualquer tempo e
lugar. Portanto, as opiniões dos clérigos sunitas não são  ATIVIDADES
tomadas muito seriamente. E aqueles que clamam por um
1) ENEM. No Ocidente europeu medieval, a palavra latina
retorno às interpretações originais são levados muito a sério.
“servus” designava a maior parte dos trabalhadores rurais,
Sunitas tendem a ser mais doutrinários.”
cuja condição se diferenciava da condição dos escravos da
Antiguidade Romana. Na época feudal, esses trabalhadores:
Sunitas preferem os próximos de Abu Bakr, enquanto os xiitas
confiam nos que pertenciam ao grupo de Ali. Aisha, por
a) gozavam de uma melhor condição jurídica, em razão
exemplo, é considerada uma fonte importante pelos sunitas e
das “cartas de franquia”, que aboliram as “corveias” a que
desprezada pelos xiitas por ter lutado contra Ali.
estavam obrigados.

b) estavam sujeitos aos caprichos dos senhores feudais,


 VAMOS FAZER que poderiam vendê-los a outros proprietários agrícolas.

01) ENEM. [Na Idade Média] Homens e mulheres gostavam c) foram beneficiados com a difusão dos valores
muito de festas. Isso vinha, geralmente, tanto das velhas cristãos, os quais possibilitaram sua mobilidade social, em
tradições pagãs (...), quanto da liturgia cristã. toda a Cristandade.

(Jacques Le Goff. A Idade Média explicada aos meus filhos, d) recebiam dos grandes proprietários faixas de terras
2007.) para cultivar e, em contrapartida, prestavam serviços gratuitos
a esses proprietários, além de ficar devendo-lhes outras
Sobre essas festas medievais, podemos dizer que: obrigações.
a) muitos relatos do cotidiano medieval indicam que 02) (UFMG) "Irã e Arábia Saudita disputam, com estratégias
havia um confronto entre as festas de origem pagã e as diferentes, a liderança na expansão islâmica."
criadas pelo cristianismo.
(FOLHA DE S. PAULO, jul. 1994, p. 3)
b) os torneios eram as principais festas e rompiam as
distinções sociais entre senhores e servos que, montados em Com base no fragmento anterior e nos conhecimentos sobre
cavalos, se divertiam juntos. expansão islâmica, indique as afirmativas corretas.

c) a Igreja Católica apoiava todo tipo de comemoração I - A religião criada por Maomé, unificadora das tribos árabes,
popular, mesmo quando se tratava do culto a alguma tem hoje milhões de seguidores espalhados pelo mundo,
divindade pagã. especificamente na Ásia e na África.
d) as festas rurais representavam sempre as relações II - No passado, em menos de um século, o Islã era a religião
sociais presentes no campo, com a encenação do ritual de de toda a costa sul e leste do Mediterrâneo, além de se
sagração de cavaleiros. espalhar em direção à Pérsia, até o vale do Indo, e em direção
à Península Ibérica.

III - Historicamente, o Islã é responsável pela mediação entre


RESOLUÇÃO E COMENTÁRIOS: as antigas civilizações norteafricanas e orientais com o
Ocidente cristão.
LETRA A: Está CORRETA, pois a Igreja Católica adotou uma
postura de monopólio da cultura da época denominada de IV - A glorificação da mensagem de Alá ainda hoje é
teocentrismo. Porém, havia muitos ritos pagãos (não cristãos) perseguida, reafirmando o caráter expansionista e
que não eram aceitos pela Igreja, gerando conflitos. universalista do Islã, com base na idéia de que cada
muçulmano é califa do mundo.
LETRA B: Está incorreta, pois a sociedade medieval era
estamental, ou seja, a hierarquia era bem definida, as festas e Estão corretas:
torneios dos senhores mostravam claramente a sua soberania
em relação aos seus servos. a) Apenas as afirmativas II e III.
LETRA C: Está incorreta, pois como dito nas afirmativas b) Apenas as afirmativas I, II e IV.
anteriores, a Igreja Católica era de um status superior aos
setores populares, não aceitando suas comemorações, pois c) Apenas as afirmativas I, II e III.
monopolizava a cultura do período medieval (teocentrismo).
d) Todas as afirmativas.
LETRA D: Está incorreta, pois a palavra sempre generaliza o
pensamento de que as festas rurais representavam sempre as
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3) ENEM. Considere as seguintes afirmativas sobre o culturas, visando à conservação do solo e à manutenção da
feudalismo – modo de organização político, econômico e fertilidade das terras.
social que se consolidou, na Europa, a partir do século VIII e
teve seu período de maior desenvolvimento até o século X. d) A cena retrata um momento de mudança técnica e
social: desenvolviam-se novos instrumentos agrícolas, como o
I. A servidão feudal era uma condição de vida na qual arado, e o uso de práticas de plantio direto, o que levava ao
os trabalhadores ficavam privados da liberdade plena, mas, aumento da produção, permitindo que os camponeses
em contrapartida, não eram considerados uma mercadoria, abandonassem o domínio senhorial.
diferentemente dos escravos.
05) (UFV) Segundo a crença dos cristãos de Bizâncio, os ícones
II. A terra era o meio de produção básico da sociedade (imagens pintadas ou esculpidas de Cristo, da Virgem e dos
feudal. Sua posse era o critério mais importante para a Santos) constituíam a "revelação da eternidade no tempo, a
definição das classes sociais. comprovação da própria encarnação, a lembrança de que
Deus tinha se revelado ao homem e por isso era possível
III. A nobreza feudal se sustentava politicamente no representá-Lo de forma visível."
domínio das terras, dos servos e, até mesmo, da Igreja. Essa
classe só não tinha acesso às áreas de uso público, como os Apesar da extrema difusão da adoração dos ícones no Império
bosques e rios. Bizantino, o imperador Leão III, em 726, condenou tal prática
por idolatria, desencadeando assim a chamada "crise
Das afirmativas acima, pode-se dizer que: iconoclasta".

a) apenas I está correta. Dentre os fatores que motivaram a ação de Leão III, podemos
citar o (a):
b) apenas II está correta.
a) intolerância da corte imperial para com os habitantes da
c) apenas I e II estão corretas. Ásia Menor, região onde o culto aos ícones servia de pretexto
para a aglutinação de povos que pretendiam se emancipar.
d) apenas II e III estão corretas.
b) necessidade de conter a proliferação de culto às imagens,
num contexto de reaproximação da Sé de Roma com o
4) ENEM. imperador bizantino, uma vez que o papado se posicionava
contra a instituição dos ícones e exigia a sua erradicação.

c) tentativa de mirar as bases políticas de apoio à sua irmã,


Teodora, a qual valendo-se do prestígio de que gozava junto
aos altos dignitários da Igreja Bizantina.

d) descontentamento imperial com o crescente prestígio e


riqueza dos mosteiros (principais possuidores e fabricantes de
ícones), que atraíam para o serviço monástico numerosos
jovens, impedindo-os, com isso de contribuírem para o Estado
na qualidade de soldados, marinheiros e camponeses.

2. APOGEU DO FEUDALISMO (SÉCULOS X A XIII)


No quadro acima, observa-se a organização espacial do
trabalho agrícola típica do período medieval. A partir dele, 2.1 CONJUNTURA EUROPÉIA NA BAIXA IDADE MÉDIA
podemos afirmar que:
A fase de grandes invasões e ataques sistemáticos ao
a) Os camponeses estão distantes do castelo porque já continente europeu havia passado. A partir do século XI, as
abandonavam o domínio senhorial, num momento em que atividades urbanas e comerciais cresciam e provocavam as
práticas de conservação do solo, como a rotação de culturas, e mudanças estruturais que iriam corresponder à nova
a invenção de novos instrumentos, como o arado, realidade. Das crises do feudalismo nasceria o capitalismo,
aumentavam a produção agrícola. cujo período inicial de formação é chamado de pré-
capitalismo, uma transição gradual nos níveis político,
b) Os camponeses utilizavam, então, práticas de plantio
econômico, social e filosófico.
direto, o que permitia a melhor conservação do solo e a
fertilidade das terras que pertenciam a um senhor feudal, Cidades litorâneas européias ocidentais, como Veneza e
como sugere o castelo fortificado que domina a paisagem ao Gênova, expandiam suas navegações no Mediterrâneo. O
fundo do quadro. comércio entre elas e Flandres, no litoral norte europeu,
crescia. Algumas regiões aumentaram a produção e a
c) Um castelo fortificado domina a paisagem, ao fundo,
produtividade agrícolas, gerando excedentes, levados a áreas
pois os camponeses trabalhavam no domínio de um senhor;
carentes. A tranqüilidade e a paz, maiores se comparadas ao
pode-se ver também que utilizavam práticas de rotação de
período anterior, geravam as contradições do sistema feudal,

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como o excedente de produção, o desenvolvimento A parcela marginalizada poderia ser deslocada para o Oriente.
comercial e urbano, e o aumento populacional. Havia também o interesse dos comerciantes, pois poderiam
conseguir melhores condições de navegação no Mediterrâneo
O crescimento populacional também atingia a nobreza feudal. com a expulsão dos árabes. Certamente, o fluxo comercial
Como a herança total geralmente cabia ao filho mais velho aumentaria e as mercadorias orientais chegariam à Europa
(direito de primogenitura), os demais deviam ficar sob sua com maior freqüência. Chegava a grande reação européia
autoridade, ou tornar-se membro da Igreja, ou ainda ocidental.
conseguir uma vassalagem com outro senhor, por meio de
serviços militares ou casamento, recebendo um dote em Foram oito as cruzadas oficiais, isto é, organizadas pela Igreja
forma de propriedade rural. e pelos Estados europeus ocidentais, entre os séculos XI e XIII.
Mas, incontáveis as cruzadas populares. Os cavaleiros e os
Muitas pessoas se estabeleceram nos burgos, castelos soldados tinham uma cruz bordada no peitoril do seu
fortificados, dedicando-se ao comércio. Sua expansão os fardamento, daí o nome cruzadas. Gozavam de isenção de
transformava em vilas e depois cidades, verdadeiros centros pagamento do direito de passagem e deveriam ser alojados e
de troca de mercadorias, as melhores vindas do Oriente, alimentados ao longo do caminho. Chefiados por Godofredo
pagas com tecidos, lã, armas e objetos artesanais. Os de Bulhão, tomaram Jerusalém três anos depois. Na região
mercadores eram verdadeiros aventureiros que se arriscavam foram fundados vários reinos cristãos latinos e ordens de
a ser assaltados. Mas a perspectiva do lucro já condicionava o monges-cavaleiros para proteger o Santo Sepulcro, como os
seu comportamento. As cidades nascentes lutavam contra o Hospitalários e os Templários.
domínio dos senhores feudais, armavam-se e procuravam a
sua autonomia. Vale ressaltar a terceira cruzada, em 1189, da qual
participaram Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, Felipe
DICA: A nobreza feudal, aos poucos, perde espaço dentro Augusto, da França, e Frederico Barba Ruiva, por isso chamada
do contexto da ampliação do comércio e das cidades, porém, de “Cruzada dos Reis”; e a quarta cruzada (1202), organizada
não deixa de ser a classe dominante politicamente na pelo papa Inocêncio III, que beneficiou os comerciantes de
transição do feudalismo para o capitalismo. Veneza que se utilizaram dela para tomar e pilhar
Constantinopla. Marcou o início da preponderância comercial
2.2 AS CRUZADAS de Veneza no Mediterrâneo Oriental.
O crescente número de marginais e o elevado índice de Nas cidades orientais litorâneas os comerciantes europeus
belicosidade representavam uma ameaça à estabilidade e à fundaram feitorias para facilitar as atividades mercantis, e a
segurança dos feudos. Logo, esse era um problema que moeda veneziana tinha aceitação internacional. Para fornecer
afetava diretamente os Senhores Feudais. Como a Igreja já era equipamentos para os cruzados, as oficinas urbanas
a maior senhora feudal da Europa, a marginalização social e a trabalhavam incessantemente.
belicosidade feriam frontalmente os seus interesses. Mostra
evidente disso foram as tentativas perpetradas através da A expansão mercantil criou um grande circuito de trocas de
promulgação da Paz de Deus e da Trégua de Deus. mercadorias que ligava a Itália a Flandres, passando pela
região alpina e a Champanha. Ao longo do caminho surgiram
Como essas medidas anteriormente citadas não tingiram os as feiras, que também se difundiram pelas rotas paralelas e
objetivos almejados, era necessário que a Igreja, apoiada no transversais, e pelas margens dos rios navegáveis, como o
senhorio feudal leigo, encontrasse outra solução para o Reno, o Rodano, o Danúbio, o Sena etc. Em Flandres, se
problema. Essa solução veio através das Cruzadas. produzia tecidos com a lã importada da Inglaterra. Todas as
regiões européias se enriqueceram no contato com a Itália,
No século XI a região do Oriente Médio foi conquistada pelos
onde se destacavam as potências marítimas de Veneza e
turcos seldjúcidas, que tinham se convertido ao islamismo.
Gênova, e as regiões da Toscana e de Lombardia, com suas
Fanáticos, proibiram a peregrinação dos cristãos,
cidades de Florença, Pisa e Milão, produtoras de tecidos e
particularmente a Jerusalém. O papa Urbano II, em Clermont
armas.
Ferrand, na França, por meio de um discurso emocionante,
convocou os cristãos para uma guerra santa contra os infiéis 2.3 TRANSIÇÃO DO FEUDALISMO AO CAPITALISMO
muçulmanos. Prometia recompensas materiais e espirituais,
como o Paraíso. Em conseqüência, uma reação, caracterizada As transformações ocorridas na Baixa Idade Média, sintomas
por um forte movimento de religiosidade, envolveu toda a da crise do sistema feudal, culminaram com o surgimento e a
Europa Ocidental. Todos queriam a libertação dos locais ascensão da camada da burguesia. Entre outros aspectos
santos cristãos no Oriente Médio. fundamentais, destacam-se:
A Igreja Católica soube capitalizar esse movimento. Era a a) A autonomia das cidades que se libertaram do domínio dos
possibilidade de reunir a cristandade, dividida pelo Grande senhores feudais;
Cisma de 1054, e estabelecer a supremacia do papado sobre
toda a cristandade. Assim, ao mesmo tempo, se combateria os b) A criação de ligas de comércio, como as Guildas (comércio
muçulmanos e se pressionaria Constantinopla. Os senhores local) e as Hansas (comércio a longa distância);
feudais também apoiavam a reação, pois seria uma forma de
se livrar da pressão populacional em seus feudos e diminuir os c) A multiplicação de praças comerciais e feiras;
saques.
e) O aparecimento das corporações de ofício.

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A atividade econômica expandiu com a generalização do uso Para ampliar sua autoridade, Felipe Augusto nomeou
de moedas (que antes quase não era usada). A nova funcionários reais para a aplicação da justiça e cobrança de
sociedade se hierarquizava a partir da posse de bens impostos, como os bailios e os senescais; seu sucessor, Luís IX
monetários. O objetivo da burguesia era o lucro. (1223 a 1226), impôs a moeda real em várias regiões da
França e aumentou o poder dos tribunais reais; Felipe IV, o
DICA: apesar do desenvolvimento da burguesia neste Belo (1285 a 1314), governou com juristas que eram adeptos
período, a nobreza permaneceu sendo a classe política da noção de Estado do direito romano. Combateu o poder do
dirigente na Idade Moderna (juntamente com os reis), o que papa, alegando que a Igreja interferia nos assuntos internos
comprova são as Revoluções Burguesas contra o absolutismo da França, determinando a prisão do papa Bonifácio VIII.
e a sociedade marcada pelos privilégios da nobreza. Assim, de 1308 a 1378 os papas ficaram sob tutela dos reis da
França, em Avinhão, episódio conhecido como “Cativeiro de
Mas algumas características do feudalismo sobreviveram até a Avinhão”. Após a morte de Felipe IV, ocorreu uma crise
Revolução Francesa. Nos burgos, para ampliar a produção, a sucessória que levou a França à “Guerra dos 100 Anos” (1337-
classe dos artesãos organizou-se. Alguns eram proprietários 1453).
das oficinas, dos instrumentos de produção e comerciavam
diretamente com o consumidor ou com os intermediários. As causas principais da guerra foram: a pretensão de Eduardo
Nelas trabalhavam o mestre proprietário, os oficiais e os III, rei da Inglaterra, ao trono francês, por ser neto de Felipe
jornaleiros. IV, e a disputa pela região de Flandres, reivindicada pela
França, mas com grandes investimentos ingleses,
Para evitar a concorrência desgastante, os mestres se especialmente no setor têxtil. A guerra foi travada em
reuniram em corporações, com especialistas de um território francês e durou mais de cem anos, com vários
determinado setor artesanal, como tecelões, fiandeiros, intervalos.
armeiros, padeiros, sapateiros, marceneiros etc. A corporação
estabelecia as regras gerais da profissão, regulava o preço do Durante o conflito, houve epidemias, como a Peste Negra, e
produto, a qualidade do material, a quantidade a ser muitas revoltas camponesas na França, chamadas,
produzida e a margem de lucro. Nada se fazia fora das regras genericamente, de “jacquerie”. A grande beneficiada foi a
estabelecidas. burguesia que, apesar das dificuldades que o comércio
enfrentou, lucrou com os empréstimos concedidos ao reis e à
2.4 FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS MODERNOS E nobreza. A França, que conhecera muitas derrotas na primeira
CRISES DO SÉCULO XIV fase, recuperou-se posteriormente quando assumiu o
comando de suas tropas a heroína Joana D’Arc, ainda que
O Estado Moderno, centralizado e absolutista, foi resultado da
acabasse prisioneira dos ingleses. Para quebrar o nacionalismo
aliança entre a burguesia e a realeza. A burguesia contribuiu
francês que ela encarnava, os ingleses Joana D’Arc, retratada
com dinheiro, para que o monarca pudesse manter um
no Renascimento.
exército nacional permanente, contratar funcionários e
estabelecer a unidade jurídica, monetária e tributária. A guerra terminou em 1453, com a derrota inglesa em
Castillon. Praticamente todas as propriedades dos reis ingleses
O movimento pela formação das monarquias nacionais se
localizadas em território francês foram perdidas.
alastrou por toda a Europa, exceto Alemanha e Itália, que se
unificaram somente no século XIX. Em 1328, iniciou-se o governo da dinastia dos Valois, que se
estendeu até 1589, quando foi substituída pela dos Bourbons.
Os funcionários reais, aos poucos, passaram a exercer funções
Na primeira metade do século XVI, a França conheceu um
anteriormente desempenhadas pelos senhores feudais. O rei
grande desenvolvimento econômico que consolidou o
impôs seu direito de nomear juízes e cobradores de impostos,
absolutismo real.
geralmente pessoas pertencentes à burguesia.
2.6 A CENTRALIZAÇÃO MONÁRQUICA NA INGLATERRA
Por outro lado, assembléias nacionais, que representavam os
estamentos sociais, foram criadas, como o Parlamento na A monarquia inglesa iniciou sua centralização no século XII,
Inglaterra, no século XIII, e os Estados Gerais na França, no quando Henrique II (1154-1189), de origem francesa, por meio
século seguinte. de acordos, tratados, casamentos e guerras, ampliou seu
poder na Inglaterra e seu patrimônio de terras na França.
DICA: Nos próximos tópicos, será abordado o processo de
centralização das monarquias francesa e inglesa, porém, vale Foram seus descendentes Ricardo Coração de Leão (1189 a
ressaltar que as primeiras monarquias a se constituírem na 1199), que participou da 3ª Cruzada, e João Sem Terra (1199 a
Europa foram a portuguesa e a espanhola, conteúdos que 1216), que foi obrigado a jurar a Magna Carta (1215), pela
serão vistos no próximo TEMA, que está intimamente ligado qual se criava um Grande Conselho que limitava o poder real.
com a Expansão Marítima.
OBS: A Magna Carta é um documento fundamental dos
2.5 A CENTRALIZAÇÃO MONÁRQUICA NA FRANÇA direitos e liberdades na Inglaterra. Ela daria origem ao
parlamento inglês.
A centralização se acelerou no reinado de Felipe Augusto
(1180 a 1223), na dinastia dos Capetos, ao combater e Em 1258, foram aprovados os Estatutos de Oxford, que
derrotar os reis ingleses, senhores feudais de boa parte do determinavam a criação de uma assembléia composta de
território francês, por direito de herança. As guerras representantes do clero, da nobreza e da burguesia, origem
estimulavam o sentimento nacional. do Parlamento. Mas os resultados da Guerra dos Cem Anos
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restabeleceram a tendência para a centralização As rebeliões atingiram também a Inglaterra. Os camponeses
monárquica. se levantaram, liderados por Walt Tyler, avançaram em
direção a Londres, invadiram-na e libertaram presos, mataram
No transcurso da Guerra assumiu o poder a Casa de Lancaster, funcionários reais e queimaram casas. Foram recebidos pelo
que governou de 1399 a 1461 em meio às trágicas derrotas rei, diante do qual reivindicaram o fim da servidão e o confisco
inglesas. Após a Guerra, a Inglaterra se envolveu em novo das propriedades dos clérigos, que deviam ser repartidas com
conflito, porém interno: a “Guerra das Duas Rosas” (1455- os camponeses. O rei contemporizou, conseguiu o apoio da
1485), uma disputa entre as duas principais famílias nobres nobreza e sufocou violentamente a rebelião.
inglesas, York e Lancaster, ambas tendo em seus brasões uma
rosa como símbolo heráldico. Por fim, no século XV, mais especificamente em 1453, os
muçulmanos (turco-otomanos) tomam Constantinopla, fato
Depois de trinta anos de conflito, a guerra terminou quando que marca o início da Idade Moderna.
Henrique de Lancaster se casou com Isabel de York, dando
origem a uma nova dinastia, a dos Tudor. Henrique VII se
impõe. Como a instabilidade política não interessava aos
burgueses, pois os conflitos prejudicavam as atividades  VAMOS FAZER
econômicas, eles apoiaram os Tudor, que representava
ordem, paz, segurança e, sobretudo, apoio econômico. 01) (UFJF) O período histórico comumente designado como
Transição do Feudalismo para o Capitalismo caracterizou-se
A centralização se consolidou, com o triunfo do absolutismo e por:
a expansão da economia no século XVI.
a) mão de obra escrava, grandes extensões de terras
2.7 CRISES DO SÉCULO XIV dedicadas à monocultura e produção estabelecida pela
demanda do mercado interno.
No século XIV, uma série de crises atingiu a Europa. Foi o
século das guerras, da peste e da fome. A Peste Negra teve b) escravismo antigo, terra de propriedade estatal com
origem na Ásia, tendo alcançado a Europa, trazida pelos usufruto da elite agrária e comércio externo determinado pelo
comerciantes italianos. Esta epidemia alastrou-se Estado.
rapidamente, pois as más condições de higiene nos burgos
favoreciam a prolifera-Pintura representando a devastação c) proletariado urbano, concretização dos "trustes" e
causada pela peste negra na Europa. produção industrial estabelecida por uma demanda artificial.

Era uma epidemia bubônica, pulmonar e intestinal. Como a d) acumulação primitiva do capital, liberação da mão de obra
contaminação caminhava pelas rotas comerciais que uniam as do campo para a cidade e crescente progresso da técnica
cidades europeias, milhões de pessoas morreram e povoados aplicada à produção.
inteiros desapareceram. Estima-se que cerca de um terço de
toda a população européia tenha desaparecido, entre 1347 e
1350, fase de maior incidência. RESOLUÇÃO E COMENTÁRIOS:
Como o misticismo atribuía a peste a um castigo divino, LETRA A: Está incorreta, pois neste período não se utilizava a
caçavam-se principalmente os pecadores e os judeus, muitos mão-de-obra escrava, mas iniciava o trabalho assalariado a
mortos a pauladas e queimados, numa tentativa desesperada partir do desenvolvimento comercial nas cidades.
de aplacar a ira de Deus.
LETRA B: Está incorreta, pelo mesmo motivo da letra a.
As crises afetaram profundamente a atividade agrícola. Além
das guerras e da epidemia, a crise era agravada pelas más LETRA C: Está incorreta, pois o proletariado urbano só surgiu a
condições atmosféricas. Anos de seca seguidos por anos de partir da Revolução Industrial.
muita chuva. Mal alimentada, a população mais facilmente
contraía doenças. Estabelecia-se um verdadeiro ciclo vicioso. LETRA D: Está CORRETA, pois este período de transição marca
A escassez da mão-de-obra rural provocava queda na o acúmulo de capital da nascente burguesia, que incentiva
produção. Os preços dos produtos agrícolas aumentavam à pessoas a viverem no meio urbano a partir de um
medida que a produção decaía. A população subnutrida era desenvolvimento da técnica aplicada à produção.
fácil vítima da peste. A Europa se livrava do perigo da
superpopulação, mas à custa de milhões de mortos.

Levantes armados se iniciaram em Flandres e se alastraram  ATIVIDADES


por toda a Europa. Na França, estourava no século XIV a
1) ENEM. No final do século XVI, na Bahia, houve uma
“jacquerie”. Os camponeses cansados dos saques dos
denuncia à Inquisição. Segundo o depoimento, esta lhe dava
cavaleiros franceses e ingleses, envolvidos na guerra,
“uns pós não sabe de quê, e outros pós de osso de finado, os
revoltam-se chefiados por Jacques, o Simples. A revolta
quais pós ela confessante deu a beber em vinho ao dito seu
atingiu os centros urbanos e o levante assumiu características
marido para ser seu amigo e serem bem-casados, e que todas
revolucionárias quando se ameaçou o próprio rei. Milhares de
estas coisas fez tendo-lhe dito a dita Antônia e ensinado que
trabalhadores acabaram massacrados pela dura reação da
eram coisas diabólicas e que os diabos lha ensinaram”. Do
nobreza.
ponto de vista da Inquisição,

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a) o problema dos métodos citados no trecho residia na 4) ENEM. Em qualquer sociedade de tipo feudal, a lealdade
dissimulação, que acabava por enganar o enfeitiçado. dos servos se exercita em troca da segurança que o senhor
pode dar. O texto faz referência a um tipo de relação social
b) o diabo era um concorrente poderoso da autoridade da que, na Idade Média, deve-se ao fato de, nesse período,
Igreja e somente a justiça do fogo poderia eliminá-lo.
a) a mentalidade e sensibilidade da nobreza medieval
c) os ingredientes em decomposição das poções mágicas eram apoiarem-se no forte sentimento de solidariedade entre os
condenados porque afetavam a saúde da população. que trabalhavam, os que rezavam e lutavam nas guerras.
d) as feiticeiras representavam séria ameaça à sociedade, pois b) a economia, a sociedade e a política basearem-se nas
eram perceptíveis suas tendências feministas. relações de suserania e vassalagem dentro do grupo dos
senhores e nas relações de dominação entre os senhores e
e) os cristãos deviam preservar a instituição do casamento servos.
recorrendo exclusivamente aos ensinamentos da Igreja.
c) os grupos sociais serem constituídos de servos e
2) ENEM/adaptada. O fragmento textual a seguir abordam escravos, que garantiam a sobrevivência material da
elementos essenciais do feudalismo medieval. sociedade, em troca de proteção de vida nas expedições
militares.
“O feudalismo foi constituído pela articulação entre dois eixos
de relações: as relações feudo-vassálicas e as relações servis d) a honra e a palavra terem importância fundamental,
de produção. As primeiras estabeleciam-se entre membros da sendo os senhores feudais e os servos ligados por um
aristocracia militar e territorial e baseavam-se no feudo, na complexo sistema de tradições e obrigações de suserania e
fidelidade e na reciprocidade. As relações servis de produção vassalagem.
estabeleciam-se entre o senhor da terra e o trabalhador e
estavam baseadas na desigualdade de condições e na 05) ENEM. "Não há um membro nem uma forma, Que não
exploração do trabalho.” cheire a putrefação. Antes que a alma se liberte, O coração
que quer rebentar no peito Ergue-se e dilata o peito Que
A partir da análise das imagens e do fragmento textual, sobre quase fica junto da espinha dorsal. - A face é descorada e
a sociedade medieval na Europa Ocidental é correto afirmar: pálida. E os olhos cerrados, na cabeça. A fala perdeu-se,
Porque a língua está colada ao céu do boca. O pulso bate e ele
a) A reciprocidade típica das relações entre suseranos e
anseia. (...) Os ossos separam-se por todas as ligações Não há
vassalos também estava presente nas relações servis de
um só tendão que não se estique e estale."
produção, devido às desigualdades sociais existentes entre
nobres e servos. O poema anterior sinaliza a preocupação com a morte que se
fez presente na mentalidade europeia do século XIV. Para
b) As relações de produção predominantes no mundo
compreendermos o alcance dessa funesta inspiração, é
feudal estavam assentadas na exploração do trabalho dos
preciso associar esse fenômeno ao fato de que:
vilões, que viviam nas comunas, base política e econômica de
suseranos e vassalos. a) as primeiras navegações oceânicas, promovidas pelos
europeus, vitimavam quantidades cada vez maiores de
c) As relações servis de produção adquiriram
aventureiros.
importância e serviram de sustentáculo para a manutenção da
aristocracia feudal, no interior da qual se estabeleceram b) a morte era apenas uma metáfora para representar a
relações de suserania e de vassalagem. transição pela qual passava a sociedade e cuja ênfase estava
na produção agrícola, daí a comparação com a fruta que
d) O desenvolvimento das relações servis de produção,
apodrece para deitar sua semente na terra e novamente
graças a sua alta produtividade no final do período medieval,
brotar com vida nova.
reforçou, ainda mais, os vínculos entre suseranos e vassalos
em toda a Europa. c) os germes do movimento romântico faziam-se notar,
através da contestação da moral que reconhecia na existência
3) (UFJF) A partir do século XII, as corporações de ofício
o bem supremo do ser humano.
passaram a expressar uma cultura do trabalho própria ao
mundo medieval, na medida em que: d) a mentalidade religiosa, que concebia a vida apenas como
provação em busca da salvação eterna, encontrava terreno
a) propiciavam a troca de conhecimento entre os
fértil numa sociedade que era assolada por epidemias e
mestres das corporações.
guerras.
b) ampliavam o processo de divisão do trabalho na
GABARITO DAS ATIVIDADES - TÓPICO 1: GÊNESE E
produção dos artefatos.
CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA FEUDAL
c) promoviam uma rede de proteção entre os membros
01) D 02) D 03) C 04) C 05) D
das corporações.
GABARITO DAS ATIVIDADES - TÓPICO 2: APOGEU DO
d) redefiniam a noção de preço justo ao incorporar os
FEUDALISMO (SÉCULOS X A XIII)
juros no valor da mercadoria.
01) E 02) C 03) C 04) B 05) D
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TEMA: Transição Feudal-Capitalista Neste período, vários pontos do litoral africano foram sendo
ocupados por Portugal, até que, em 1488, Bartolomeu Dias
1. EXPANSIONISMO MARÍTIMO EUROPEU ultrapassou o Cabo das Tormentas (Cabo da Boa Esperança),
abrindo caminho para que, dez anos depois (1498), Vasco da
1.1 A CENTRALIZAÇÃO MONÁRQUICA NA PENÍNSULA Gama chegasse a Calicute, na Índia.
IBÉRICA
Alguns anos antes, porém, patrocinado pela Coroa Espanhola,
A formação dos modernos Estados peninsulares foi resultado o navegador Cristóvão Colombo chegara à América, depois de
das lutas contra os mouros, como eram chamados os navegar em direção ao Ocidente. A descoberta de novas terras
muçulmanos que aí viviam. A Reconquista durou vários a oeste da Europa provocou grande disputa entre as potências
séculos, iniciando-se a luta na região norte (Astúrias). marítimas ibéricas, exigindo, até mesmo, a intervenção do
papa Alexandre VI para arbitrar a querela. Este, em 1492,
No século X, já havia alguns reinos cristãos ibéricos, como proclamou a Bula Intercoetera, que determinava a divisão do
Castela, Navarra, Leão e Aragão. A Reconquista foi, na planeta em duas partes: a 100 léguas a oeste das ilhas de Cabo
verdade, um verdadeiro movimento cruzadista ocidental, com Verde seria traçada uma linha imaginária; as terras localizadas
a participação de nobres de outros países, desejosos de obter na parte oriental caberiam a Portugal, enquanto que as
terras. situadas na oriental pertenceriam a Espanha.
1.1.1 PORTUGAL A decisão do pontífice, porém, não agradou ao rei de Portugal
que contestou a Bula. Provavelmente, os experientes
Nesse processo de expansão, Portugal desempenhou papel navegadores portugueses já haviam dado conta ao rei da
pioneiro por ter, durante a Baixa Idade Média, criado as existência das terras da América do Sul. Após negociações
condições necessárias à sua efetivação: diplomáticas ficou acertado que a linha imaginária seria
traçada a 370 léguas das ilhas de Cabo Verde. Assim, o
privilegiada posição geográfica; desenvolvimento das técnicas
Tratado de Tordesilhas assegurou a presença portuguesa no
de navegação, sobretudo após um grande desenvolvimento
recém-descoberto continente americano.
náutico em Sagres; presença de uma burguesia forte e com
disponibilidade de capitais para a empresa marítima; paz Mapa: A divisão do mundo entre Portugal e Espanha
interna e externa; centralização política em mãos do rei.

A necessidade de metais preciosos para a cunhagem de


moedas, indispensáveis ao desenvolvimento comercial, bem
como de novas áreas fornecedoras de mercadorias que
abastecessem o mercado europeu, determinaram a expansão
marítima a partir do século XV.

Sua viabilização foi favorecida por diversos fatores, entre os


quais se destacam: o avanço tecnológico, responsável pela
melhoria das condições de navegação (elaboração de mapas,
aprimoramento de instrumentos de orientação, construção de
embarcações mais rápidas e seguras); o fascínio pelo Oriente,
presente no imaginário europeu da Baixa Idade Média,
estimulava a busca da riqueza e do exotismo existentes
naquela região; a tentativa por parte das recém-formadas
monarquias portuguesa e espanhola de romper o monopólio
Com o objetivo de consolidar o domínio lusitano sobre a rota
A conquista de Ceuta pelos portugueses, em 1415, é das especiarias orientais, o rei D. Manuel organizou uma
considerada o marco inicial da expansão ultramarina poderosa esquadra que se dirigiu às Índias, percorrendo a rota
européia. A seguir, os navegadores portugueses começaram a inaugurada por Vasco da Gama. A esquadra contava com duas
realizar o périplo africano, ou seja, tentaram contornar o caravelas, dez naus e 1500 homens e era comandada pelo
continente negro para alcançar as Índias. Ao longo da costa navegador Pedro Álvares Cabral. A embarcação em que se
africana, fundaram feitorias, pontos do litoral onde eram achava o comandante, porém, afastou-se da costa africana em
construídos fortes, responsáveis pela defesa da região e onde direção a oeste e, a 22 de abril de 1500, avistou terra. Uma
se realizava o comércio com os nativos. nau, no entanto, retornou a Portugal para dar a notícia da
descoberta ao rei.
O sistema de feitorias visava a ocupação do território,
garantindo, assim, a sua posse e a obtenção de lucros através Ingleses, franceses e holandeses iniciaram sua expansão
de trocas de produtos existentes na região conquistada. A marítima mais de um século depois dos ibéricos. Guerras,
colonização, portanto, não estava entre os objetivos dos ausência de centralização política, inexistência de uma forte
portugueses, na África. burguesia, entre outros fatores, foram responsáveis pelo
atraso dessas nações nas grandes navegações.
Na década de 20 do século XV, foram conquistadas as ilhas
atlânticas – Madeira, Açores e Cabo Verde - onde os
portugueses iniciaram o processo de colonização através do
cultivo da cana-de-açúcar.
12
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1.1.2 ESPANHA Veja a seguir a imagem de Monalisa pintada por Leonardo Da
Vinci
A junção dos reinos espanhóis se concretizou no século XV,
quando Fernando de Aragão e Isabel de Aragão uniram seus
domínios por meio de um casamento. Nascia, assim, a
moderna Espanha. As lutas dos “reis católicos”, como eram
chamados, contra os mouros prosseguiram mais
intensamente, finalizando-se em 1492, com a conquista de
Granada, último território ibérico sob domínio mouro.

Nesse mesmo ano ocorreu a descoberta da América. Sua


exploração econômica baseada no metalismo (acúmulo de
metais preciosos) transformou a Espanha na maior potência
mundial no século XVI.

1.2 RENASCIMENTO

Dá-se o nome de Renascimento (ou Renascença) ao


movimento de renovação intelectual ocorrido na Europa
dentro da transição do feudalismo para o capitalismo. Na
realidade, não se pode entender o Renascimento como
limitado às Artes e às Ciências, mas sim como uma mudança
nas formas de sentir, pensar e agir em relação aos padrões de
pensamento e comportamento vigentes na Idade Média.

O Renascimento exprime os novos valores e ideais da


burguesia, classe ascendente na transição para o capitalismo.
Uma das principais características do Renascimento é o
Humanismo, interpretado comumente como sinônimo de
antropocentrismo ou valorização do ser humano.

-a influência das civilizações bizantina e sarracena (árabe), que


contribuíram para intensificar na Europa Ocidental o interesse
pela cultura clássica;

-a invenção da imprensa em 1548, que permitiu uma maior


divulgação das novas idéias;

-a própria transição do feudalismo para o capitalismo,da qual


O verdadeiro sentido do humanismo renascentista, porém, decorrem o Renascimento e as mudanças culturais.
era o estudo de Humanidades, isto é, da língua e literatura
antigas. Neste sentido, vale ressaltar 3 grandes expoentes dos Há uma estreita relação entre Renascimento Cultural e
Humanistas: Erasmo de Rotterdam (o :”Príncipe dos prosperidade econômica. Portanto, o berço do movimento
Humanistas”, autor do “Elogio da Loucura”), Thomas More renascentista somente poderia ser a Itália, onde se
(autor de “Utopia”) e o português Damião de Góis. localizavam os principais centros mercantis e financeiros da
Baixa Idade Média, conseqüentemente, lá haveria melhores
FATORES DO RENASCIMENTO: condições para o mecenato.

-o “Renascimento” Comercial e Urbano da Baixa Idade Média, Quando, porém, a Expansão Marítima deslocou o eixo
que alterou os valores da época feudal e favoreceu um maior econômico europeu para o Atlântico, o Renascimento Italiano
intercâmbio intelectual; entrou em decadência, ao mesmo tempo em que florescia em
Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Holanda. Além do
-o mecenato, isto é, a proteção aos escritores e artistas, que maior desenvolvimento econômico, outros fatores
muito estimulou o movimento renascentista. A burguesia contribuíram para que a Renascença se iniciasse na Itália:
fazia-o como forma de investimento financeiro ou para
adquirir status; os governantes, porém, tornavam-se mecenas -interesse dos príncipes italianos em legitimar seu poder
com o objetivo de aumentar seu prestígio e, político, geralmente obtido através de usurpação;
conseqüentemente, legitimar o novo poder que estavam
implantando: o absolutismo;
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-maior tradição clássica, representada pelos monumentos usura, do menosprezo às atividades comerciais e
romanos e gregos (este últimos na antiga Magna Grécia, isto manufatureiras, impedia o desenvolvimento do capital.
é, no Sul da Itália);
À medida que a Igreja representava um obstáculo real ao
-maior influência bizantina, devido ao contato comercial desenvolvimento das forças capitalistas, a burguesia tinha,
direto com Constantinopla, cujos intelectuais emigraram em pois, necessidade de destruir o poder da Igreja, sendo que as
grande número para a Itália quando os turcos tomaram aquela Reformas Protestantes foram, em última análise, um
cidade, em 1453. instrumento para tanto.

São considerados pré-renascentistas os italianos: Havia uma efetiva contradição entre o processo de formação
dos Estados Nacionais centralizados e a existência da Igreja
-Dante Alighieri (1265 - 1321), autor da “Divina Comédia”; como um Estado de territórios descontínuos. Daí a luta
encabeçada pelos soberanos contra os senhores feudais
-Giovanni Baccaccio (1313 - 1375), autor do “Decameron”; leigos. Havia ainda uma profunda contradição entre as
necessidades econômicas dos diversos grupos sociais e o
Francesco Petrarca (1304 - 1374), precursor dos humanistas
fiscalismo, a simonia (venda de cargos eclesiásticos) e a venda
do Renascimento e autor de “Sonetos”.
de indulgências (perdão para os pecados), que a Igreja
É muito grande o número de artistas, escritores e cientistas realizava como um Estado opressor.
que se celebrizaram durante o Renascimento. Os mais
E, finalmente, havia a contradição entre as afirmações da
importantes foram:
doutrina e a prática da Igreja: opressão econômica,
na Pintura: Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael e Ticiano, desregramento de costumes, nepotismo (prática de
na Itália; El Greco, na Espanha; nomeação de parentes do Papa para altos cargos
eclesiásticos).
na Escultura: Michelangelo e Donatello, na Itália;
Nos séculos XIV e XV, essas contradições foram produzidas e
na Arquitetura: Bramante, na Itália; ampliadas como efeito da crise geral do feudalismo.
Movimentos contrários à Igreja, de base camponesa, foram
na Literatura: Camões, em Portugal; Cervantes, na Espanha; considerados heréticos e esmagados. As tentativas de
Rabelais e Montapigne, na França; Shakespeare, na Inglaterra; reformas purificadoras internas, realizadas por humanistas,
como Erasmo, e tendo como modelo a Igreja cristã primitiva,
na Astronomia: Copérnico, na Polônia; Kepler, na também fracassaram.
Alemanha; Galileu, na Itália; 1.3.1 REFORMA LUTERANA
na Medicina: Vesálio, em Flandres; Paré, na França; Servet, na A Alemanha no início do século XVI era um Estado feudal não-
Espanha; Harvey, na Inglaterra. centralizado; o Sacro Império romano-germânico, na prática
tinha muitos Estados feudais e várias cidades livres. O
DICA: Vale ressaltar que a formação dos estados nacionais,
imperador era eleito na Dieta (assembléia feudal) por sete
o desenvolvimento comercial, a expansão marítima, o
príncipes, quatro leigos e três eclesiásticos. A nobreza tinha
Renascimento Cultural e os movimentos religiosos, são fatos
ampla autonomia. O sul do país era uma região de
que marcam a transição da Idade Média para a Idade
transformações econômicas com ativa e importante
Moderna que estão intimamente relacionados e, portanto,
burguesia, onde se destacavam os banqueiros Fugger, em
devem ser entendidos em conjunto e não separadamente.
Augsburgo, ligados aos Países Baixos e à Itália. A Igreja
1.3 MOVIMENTOS RELIGIOSOS controlava um terço da Alemanha.

As reformas foram um movimento de caráter religioso que, no Desde a fase aguda da crise feudal, a nobreza aumentava a
século XVI, expressaram as contradições inerentes à transição taxação feudal e eliminava o uso comum, pelos trabalhadores
do feudalismo para o capitalismo no nível ideológico. camponeses, de terras de comunidades, do direito de caça
etc. Parte da pequena nobreza tornou-se assaltante de
A igreja controlava grande quantidade dos meios de produção, estradas. Nas cidades e nos campos, freqüentes rebeliões
sobretudo as terras, e se apropriava de grande parte do expressavam a situação dos trabalhadores. A burguesia queria
produto realizado por todos os membros das formações a centralização do poder. Esse foi o sentido político do
sociais em que ela atuava através da cobrança de dízimos e financiamento, pelos Fuggers, da eleição de Carlos V de
outras obrigações. Essas obrigações e a exploração feudal de Habsburgo como Imperador.
suas terras emperravam o processo de formação do capital e
nesta medida contrapunham-se aos interesses mercantis em Martinho Lutero (1483 - 1546) era monge agostiniano,
plena expansão. professor de Teologia na Universidade de Wittemberg,
quando o Papa Leão X renovou a indulgência para a obtenção
A Igreja era um Estado feudal, de território descontínuo, cuja de fundos necessários à construção da Basílica de São Pedro.
existência dificultava, em função de suas estruturas, o O escontentamento geral com o Papado aumentou na
progresso da formação de amplos mercados. A doutrina da Alemanha quando o frade Tetzel lá chegou para pregar a
Igreja, através da teoria do preço justo, da condenação da indulgência.

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Em 1517, Lutero publicou suas “95 Teses”, condenando as 1.3.2 REFORMA CALVINISTA
indulgências, e logo foi amplamente apoiado, tendo sido
Tetzel expulso da cidade de Wittemberg. Recusando retratar- A Suíça, na Idade Moderna, caracteriza-se por ser uma região
se, Lutero foi excomungado pelo Papa e declarado fora da lei basicamente voltada para uma economia de subsistência e
por Carlos V e pelo Édito de Worms, sendo, no entanto por ser um ponto de passagem das rotas comerciais
protegido pelo duque Frederico da Saxônia. Em 1522, terrestres, que partiam da Itália, buscando o resto da Europa.
retornou a Wittemberg, onde permaneceu até a morte.
O movimento reformista, ocorrido na Suíça, de maior
O luteranismo afirma a “justificação pela fé” na graça de profundidade e maior influência, foi aquele liderado por
Deus, que realiza a salvação do homem condenado às Calvino. João Calvino (1509 - 1564) era francês e fez estudos
chamadas boas obras (caridade, penitência, cumprimento das humanísticos. Após sua conversão ao luteranismo, foi
obrigações eclesiásticas). Sua doutrina do “sacerdócio obrigado a fugir de seu país para a Suíça em conseqüência das
universal dos cristãos” abole a necessidade de intermediários perseguições religiosas a que foi submetido. Sua doutrina foi
(clero) entre Deus e os homens. Todos os homens, portanto, sintetizada na obra “Instituição Cristã”, publicada em 1536, e
são iguais, não se justificando as hierarquias feudais e cujos principais princípios foram:
eclesiásticas.
-todo homem está predestinado à salvação ou à condenação
Na Igreja Luterana, o ofício eclesiástico foi suprimido. O culto ao inferno;
reduziu-se a comentários da Bíblia e cânticos de salmos;
mantiveram-se dois sacramentos: batismo e eucaristia; -salva-se aquele que cumpre seus deveres segundo a Sagrada
suprimiu-se o culto à Virgem e aos Santos; foi negada a Escritura;
existência do purgatório; os sacerdotes luteranos são apenas
-a Eucaristia é uma união espiritual com Cristo;
guias mais instruídos, podendo casar-se.
-o culto deve ser reduzido à prece e à pregação;
A doutrina de Lutero afirmava o individualismo no plano
religioso, mas não admitia ainda a usura, não rompendo -a repulsa às imagens;
totalmente, nesse aspecto, com a antiga ordem feudal. Ela
expressou mais os anseios da nobreza alemã que da -preconizava a subordinação do Estado à Igreja.
burguesia. Mas esta encontra nele justificativa para se lançar
contra a Igreja e adere ao luteranismo na Alemanha. Em seu Calvino condenava o luxo e o esbanjamento, não condenando
“Discurso à Nobreza da Nação Alemã”, atacando o Papado nem a usura nem o comércio e incentivando o trabalho sob
como potência estrangeira, Lutero expressou também o todas as formas (trabalho visto como vocação). Apoiado na
nacionalismo alemão (inclusive traduzindo a Bíblia para o idéia da predestinação, o Calvinismo foi a melhor expressão
alemão). Dessa forma, sua doutrina coincidia com as ideológico-religiosa das novas realidades sociais da transição
necessidades de amplos setores sociais. para o capitalismo. O lucro e o êxito eram vistos como sinais
da predestinação do homem trabalhador e parcimonioso.
O Imperador Carlos V tentou impor seu absolutismo de base Nessa medida, havia uma efetiva identificação entre o
católica e ordenou aos reformados que se submetessem Calvinismo e a ética burguesa.
(1529, Segunda Pieta de Spira), mas houve protesto contra a
Ordem, apresentaram a “Confissão de Augsburgo” redigida Calvino fixou-se em Genebra e governou-a como um tirano
por Melanchton (1530, exposição da doutrina alemã) e baseado em sua austera moral e com grande intolerância.
formaram a Liga da Esmalcalda (1531), que teve apoio da
França e da Inglaterra, temerosas do projeto político O Calvinismo propagou-se na França, onde seus adeptos
Habsburgo de hegemonia na Europa. formaram a facção Huguenote. Nos Países Baixos, os
Calvinistas foram duramente reprimidos pelo Absolutismo
O Imperador, diante da expansão do Império Turco na bacia espanhol de Felipe II. Na Escócia, John Knox transformou-o em
do Danúbio, não teve condições de guerrear com os religião do Estado com o nome de Presbiterianismo. Nos
protestantes, a não ser em 1546/1547 (Guerra Esmalcalda). Países Baixos e na Escócia, o Calvinismo identificou-se com o
Mas fracassou e abdicou. A luta terminou pela paz de Nacionalismo.
Augsburgo (1155), na qual foi estabelecido o princípio
segundo o qual a religião dos súditos seria a de seus 1.3.3 REFORMA ANGLICANA
respectivos príncipes (“cujus regio ejus religio”), em que só
A insatisfação com a Igreja era muito grande na Inglaterra
luteranos podiam ter liberdade de culto e os príncipes
desde o fim do século XIV, quando Wyclif (tradutor da Bíblia
luteranos podiam manter as terras tomadas à Igreja. Essa foi
para o Inglês) apresentou uma das doutrinas precursoras do
uma solução de compromisso; o problema foi retomado no
protestantismo.
século XVII (Guerra dos Trinta Anos, 1618 - 1648).
As pregações de Wyclif serviram de base ideológica para o
O luteranismo tornou-se a expressão religiosa do nacionalismo
movimento reformista dos “lollards” contra as riquezas
na Suécia e na Noruega, então em luta contra a Dinamarca,
eclesiásticas. Com o passar do tempo, a insatisfação
onde também se impôs.
aumentava e foi expressa pelos humanistas, como Thomas
More, que defendiam a tolerância religiosa. A reação contra a
venda de indulgências também era bastante grande.

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A Coroa controlava o Clero nomeando-o. Estava interessada A Inquisição, criada no período feudal para o combate às
em desligar-se do Papado e obter para si as rendas da Igreja heresias, foi muito utilizada na Espanha, desde o século XV,
e desta forma ampliar seu poder. Este foi o principal motivo contra os mouriscos e os judeus. Para o combate aos
de Henrique VIII ter criado a Igreja Anglicana, a questão do protestantes, ela foi restabelecida, em 1542, como órgão
divórcio foi só um pretexto visto logo a seguir. oficial da Igreja, dirigida de Roma pelo Santo Ofício, que era
um órgão presidido pelo Grande Inquisidor.
O fator que desencadeou (stopim ou pretexto) a Reforma na
Inglaterra foi a negativa do Papado em atender ao pedido de A Inquisição partia do princípio de que eliminar as pessoas
divórcio do rei Henrique VIII (1509 - 1547), que era casado mais destacadas, quando consideradas culpadas, era o melhor
com Catarina de Aragão, tia de Carlos V. Os ataques à Igreja meio de controle sobre as classes trabalhadoras. A tortura era
foram multiplicados, inclusive quanto à interferência do prática normal para a obtenção de confissões.
Papado, como potência estrangeira, nos assuntos internos do
Estado Inglês (o argumento para o divórcio era a necessidade Em 1543, a Igreja criou outro órgão, a Congregação do Index,
de um herdeiro para o trono). que recebeu a função de examinar todas as obras que viessem
a ser publicadas, editando uma relação periódica dos livros
Em 1534, o parlamento votou o Ato de Supremacia, que considerados perigosos à doutrina e à moral dos fiéis
transformava o soberano em chefe supremo da Igreja na (queimando as obras que representassem ameaça à doutrina
Inglaterra. Os mosteiros foram suprimidos e suas enormes da Igreja).
terras foram vendidas à burguesia, ampliando o processo de
formação dos “enclosures”. É importante que fique claro que, O Concílio de Trento (1545 - 1563) foi convocado pelo Papa
através do Ato de Supremacia, além do rompimento com o Paulo III para garantir a unidade da fé católica e da Igreja. Ele
Papado, nada foi mudado na prática da religião. discutiu e aprovou uma série de reformas para a Igreja
Católica, dentre as quais destacaremos:
No reinado de Eduardo VI (1547 - 1553), a Reforma foi
aprofundada através do primaz da Igreja Anglicana, Thomas -Criação dos seminários, escolas especializadas para a
Crammer, mediante a introdução de idéias e de liturgia de formação de sacerdotes;
inspiração Luterana e Calvinista. Essas reformas foram
impostas ao clero através do “Common Prayer Book”. A missa -Proibição da venda de indulgências;
e o celibato foram suprimidos.
-Rejeição das propostas do humanista Erasmo de que a missa
No governo da Católica Maria Tudor (1553 - 1558), casada passasse a ser celebrada em idiomas nacionais e de que
com Felipe II da Espanha, os setores católicos ingleses tivesse fim o celibato clerical;
reagiram violentamente através do terror e abolindo o Ato de
-Todos os princípios doutrinários que haviam sido atacados
Supremacia. Mas, como expressão dos interesses de grandes
pelos protestantes foram reafirmados;
setores da sociedade inglesa, o Anglicanismo foi restaurado e
consolidado por Elizabeth I (1558 - 1603), reafirmando-se o -A autoridade papal foi reafirmada como suprema dentro da
Ato de Supremacia. Igreja;
Através do “Bill dos Trinta e Nove Artigos”, o Anglicanismo foi -Foi estabelecido o princípio da infalibilidade das decisões do
estabelecido como religião oficial do Estado e consolidou-se papa em matéria de dogma;
fundamentado em três idéias gerais: a influência do
Calvinismo; a obediência absoluta ao rei; a manutenção da -A Vulgata foi estabelecida, como tradução oficial da Bíblia;
hierarquia e de parte do ritual católico.
-Foi elaborado um catecismo como resumo da doutrina.
DICA: são nítidas as diferenças entre o luteranismo, o
calvinismo e o anglicanismo, mas o traço que eles têm em
comum é a não aceitação da autoridade papal.
 VAMOS FAZER
1.3.4 REFORMA CATÓLICA (Contra-Reforma)
1) Qual das opções a seguir ordena corretamente a seqüência
As reformas protestantes provocaram na Igreja Católica um cronológica do processo histórico:
movimento de reforma interna que inicialmente decorreu de
iniciativas isoladas como a mudança das Regras das ordens a) Crise do sistema feudal - Liberalismo Burguês - Revolução
religiosas, bem como a formação de novas ordens como a dos Francesa - Formação dos Estados Absolutos.
Capuchinhos, das Ursulinas, dos Barnabistas e dos Jesuítas.
b) Iluminismo - absolutismo monárquico - capitalismo
Os Jesuítas (a Companhia de Jesus) foram organizados por industrial - descoberta da América.
Inácio de Loyola, autor de uma obra intitulada “Exercícios
c) Feudalismo - expansão ultramarina - Reforma - despotismo
Espirituais”, antigo oficial do exército espanhol, sendo que sua
esclarecido.
organização foi aprovada pelo Papa Paulo III em 1540. A
companhia de Jesus formou uma das bases de recuperação da d) Renascimento - capitalismo monopolista - expansão
Igreja na Europa e da conquista de novos fiéis através da ação islâmica - mercantilismo.
missionária na América e na Ásia. O êxito dos Jesuítas é
devido a seu preparo teológico, à rígida disciplina, o preparo
intelectual e ao seu eficiente sistema pedagógico.
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RESOLUÇÃO E COMENTÁRIOS: 02) (UFMG) Em O RENASCIMENTO, Nicolau Sevcenko afirma:

LETRA A: Esta questão envolve um raciocínio meramente "O comércio sai da crise do século XIV fortalecido. O mesmo
cronológico, o aluno deve ser capaz de saber a sequência dos ocorre com a atividade manufatureira, sobretudo aquela
fatos, não de forma decorada, mas basta entender que não há ligada à produção bélica, à construção naval e à produção de
como haver o Liberalismo burguês antes da formação do roupas e tecidos, nas quais tanto a Itália quanto Flandres se
Estado Absolutista, pois a burguesia lutou para derrubar o colocaram à frente das demais. As minas de metais nobres e
absolutismo. Esta afirmativa está, portanto, incorreta. comuns da Europa Central também são enormemente
ativadas. Por tudo isso muitos historiadores costumam tratar
LETRA B: está incorreta, pois segue o mesmo raciocínio da o século XV como um período de Revolução Comercial."
afirmativa anterior, o Iluminismo foi um movimento
intelectual contrário ao absolutismo, ou seja, veio depois A Revolução Comercial ocorreu graças:
deste. Além disso, a América foi descoberta em 1492 e o
Iluminismo ocorreu no século XVIII, bem depois. a) aos Atos de Navegação lançados por Oliver Cromwell.

LETRA C: Está CORRETA, pois basta entender que feudalismo b) ao crescimento populacional europeu, que tornava
(século V ao XIV), expansão marítima (século XV), Reforma imperativa a descoberta de novas terras onde a população
(século XVI E XVII) e Despotismo Esclarecido (século XVIII) excedente pudesse ser instalada.
estão na sequência cronológica correta.
c) a uma mistura de idealismo religioso e espírito de aventura,
LETRA D: Está incorreta, pois a expansão islâmica se iniciou no em tudo semelhante àquela que levou à formação das
século VII com a Hégira, ante, portanto, do Renascimento, do cruzadas.
capitalismo monopolista e do mercantilismo.
d) às repercussões econômicas das viagens ultramarinas de
descobrimento.

 ATIVIDADES 03) (UFJF) Ao analisarmos o processo de expansão mercantil


de Portugal concluímos que:
01) Leia as afirmativas a seguir.
a) a falta de unidade política e territorial em Portugal
I - As características do homem no Renascimento são: determinava a fragilidade econômica interna.
racionalismo, individualismo, naturalismo e antropocentrismo
e inspiração greco-romana, em oposição aos valores b) a expansão do império acarretava crescentes despesas para
medievais baseados no teocentrismo. o Estado, queda da produtividade agrícola, diminuição da
mão-de-obra, falta de investimentos industriais, afetando a
II - O Renascimento não foi um processo homogêneo. Seu economia nacional.
desenvolvimento foi muito desigual e as manifestações mais
expressivas se deram nos campos das artes e das ciências, c) a luta para expulsar os muçulmanos do reino português,
sendo que no campo artístico, a literatura e as artes plásticas que durou até o final do século XV, empobreceu a economia
ocupavam lugar de destaque. nacional que ficou carente de capitais.

III - A arte tornou-se predominantemente religiosa, retratando d) a liberdade comercial praticada pelo Estado português no
a vida de santos e o cotidiano cristão da época. século XV levou ao escoamento dos lucros para a Espanha,
impedindo seu reinvestimento em Portugal.
IV - A Itália foi o centro do Renascimento porque era o centro
do pré-capitalismo e do desenvolvimento comercial e urbano, 4) A Europa Ocidental, nos séculos XV e XVI, sofreu diversas
que gerava os excedentes de capital mercantil para o transformações políticas, econômicas e sociais. Sobre essas
investimento em obras de arte. transformações podemos afirmar que:

V - A ascensão do clero foi fundamental para que se l - o Humanismo e o Renascimento foram movimentos
desenvolvesse nos Estados italianos um poderoso mecenato, intelectuais e artísticos que privilegiaram a observação da
identificado com as concepções terrenas dos eclesiásticos. natureza.

VI - os humanistas dos séculos XV e XVI afirmavam que a 2 - a Reforma Luterana, identificando-se com os segmentos
literatura e as artes plásticas, em profunda decadência no camponeses alemães, difundiu-se em virtude da centralização
período anterior, renasciam com o esplendor da Antiguidade. do Estado alemão.

É correto apenas o afirmado em: 3 - a Reforma Calvinista aproximava-se da moral burguesa,


pois encorajava o trabalho e o lucro.
a) I, II, IV, VI.
4 - a reação da Igreja Católica, denominada Contra-Reforma,
b) I, II, III, VI. através do Concílio de Trento (1545), tentou barrar o avanço
protestante, alterando os dogmas da fé católica.
c) I, II, VI.
5 - a mais extremada seita protestante em relação ao
d) I, IV, V. Catolicismo e a mais próxima das questões levantadas, em

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termos éticos, pelo rápido desenvolvimento do capital idéia de nação, uma ideologia nacionalista, que também
comercial e financeiro, foi a calvinista. justificava o poder público do rei.

As afirmativas corretas são: O Estado Absolutista foi o Estado típico das Formações
Sociais de transição do feudalismo para o capitalismo na
a) apenas l, 2 e 3. Europa. Ele é o próprio Estado Nacional moderno e suas
características foram se desenvolvendo enquanto se
b) apenas l e 3 e 5. desenvolvia a transição, enquanto era realizado o progresso
da produção manufatureira, da expansão européia, da
c) 2, 3 e 4.
competição mercantil, das novas concepções ideológicas etc.,
d) 1, 2 e 4. que aceleraram o enfraquecimento da classe feudal e o
fortalecimento do Estado centralizado.
5) ENEM. O Concílio de Trento, uma das medidas da Reforma
Católica, cujo objetivo era enfrentar o avanço das idéias As características do Estado absolutista foram:
protestantes, apresentou uma série de decisões para
- a grande centralização representada pelo grande poder do
assegurar a unidade da fé católica. Entre essas decisões, a de
soberano, que não era controlado por outras instituições
a) favorecer a interpretação individual da Bíblia de acordo políticas ou por leis limitativas de sua autoridade;
com seus princípios fundamentais.
- a razão de Estado, que significava a capacidade do Estado
b) adotar uma atitude mais liberal com relação aos livros realizar práticas consideradas de interesse coletivo;
religiosos, o que fez com que diminuísse a censura medieval.
- o sistema jurídico, constituído de regras de Direito válidas -
c) estabelecer uma corporação para o Sacro Colégio, pois, para todos e que substituíram os privilégios de origem feudal;
dessa forma, todas as nações cristãs estariam aí todos os indivíduos passaram a ser considerados súditos do
representadas. Estado;

d) estimular a ação das ordens religiosas em vários setores, - uma burocracia, cujas funções têm caráter de funções do
principalmente no educacional. Estado e não de interesses particulares;

- o exército permanente, a serviço do poder “público”, do


poder que é apresentado como estando a serviço do interesse
2. ABSOLUTISMO E MERCANTILISMO geral;

2.1 CONTEXTO - a política econômica mercantilista, que intervinha na


estrutura econômica sob diversas formas, ampliou o
O Estado Moderno foi resultante da crise do feudalismo e estabelecimento de relações capitalistas de produção e foi um
enfraquecimento da Igreja e da nobreza e, ao mesmo tempo, dos aspectos da acumulação primitiva de capital;
do desenvolvimento da burguesia. À medida que era ampliada
a circulação de mercadorias e se desenvolvia a produção - a ideologia nacionalista, que se contrapunha ao
manufatureira, como efeito de novas forças produtivas no universalismo da Igreja, expressava as aspirações burguesas e
Modo de Produção Feudal, diminuíam a base econômica da sua competição e justificava a soberania estatal;
nobreza e da Igreja e a tendência ao particularismo.
- a noção de um soberano acima das classes sociais, produto
No nível jurídico-político, a monarquia foi o principal da complexa situação social durante a transição e de
instrumento dessa centralização que tanto interessou à concepções ideológicas de origem feudal (religião) e de
burguesia comercial. Os recursos financeiros facilitavam aos origem burguesa (nacionalismo); na verdade, a atuação do
soberanos a organização de exércitos permanentes e de soberano, cuja origem social era a nobreza, atendia
grande corpo de funcionários (burocracia, burguesia objetivamente aos grupos dominantes.
funcionária). O desenvolvimento do aparelho burocrático do
Estado, que lhe permitia realizar suas funções administrativas 2.2 TEÓRICOS DO ABSOLUTISMO
e políticas, facilitava a eliminação da pluralidade das leis, dos
A prática absolutista, à medida que se realizava e
impostos, dos pesos, das medidas, dos padrões monetários,
aperfeiçoava, foi justificada e explicada ideologicamente por
de privilégios e de outros particularmente feudais.
doutrinas fundamentadas em noções religiosas e não-
Assim era ampliada a centralização e diminuída a força da religiosas.
nobreza e do clero; a burguesia ampliava seu raio de ação. O
Os principais TEÓRICOS do poder absoluto foram:
crescente poder Real representava esse processo.
Nicolau Maquiavel (1469-1527) - em suas obras O Príncipe e
Em termos jurídicos, as bases da centralização foram
Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, afirmava a
realizadas por elementos burgueses especialistas em direito
necessidade de um Estado Nacional forte e independente da
Romano (legistas), que dele retiraram não apenas a noção de
Igreja e encarnado na pessoa do chefe do governo (o
propriedade absoluta, que legalizava a propriedade privada
“príncipe”) para a aplicação da razão do Estado,
burguesa, mas também a de poder público que legalizava o
fortalecimento da nação e o benefício coletivo, considerando
poder real. Ao mesmo tempo, foi sendo produzida, a partir da
válidos todos os meios utilizados para o alcance desses
18
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objetivos (“os fins justificam os meios”). Valorizava a virtude (1485, Henrique VII) e a subordinação efetiva do Parlamento à
do governante que, de acordo com a ocasião (conveniência), Coroa.
agia em prol da conservação de seu reino.
Com a Dinastia Tudor, a Inglaterra teve muitas conquistas,
Jean Bodin (1530-1595) - em Da República, argumentava que que serviram de base para o desenvolvimento econômico do
a soberania do Estado personificada no rei tinha origem país. Os governos de Henrique VIII e de sua filha Elisabeth I
divina, não havendo impedimento à autoridade real. trouxeram à unificação do país, o afastamento do Papa, além
de confiscar os bens da Igreja Católica, e ao mesmo tempo
Jacques Bossuet (1627-1704) - Política Tirada da Sagrada criar o anglicanismo, e entrar na disputa por colônias com os
Escritura reforçou a doutrina do direito divino dos reis, que espanhóis.
legitima qualquer governo, justo e injusto; todo governo
(monarquia real) é sagrado e revoltar-se contra ele é, Foram com esses monarcas que também ocorreu à formação
portanto, um sacrilégio. Esta teoria surge em um contexto em de monopólios comerciais, como a Companhia das Índias
que as diversas Igrejas subordinadas, católica e protestante, Orientais e dos Mercadores Aventureiros. Isto serviu para
passaram a fazer parte do Estado, justificando pela doutrina o impedir a livre concorrência, embora essa ação tenha
direito divino dos reis; sufocado alguns setores da burguesia. Então, resultou na
divisão da burguesia de um lado, os grandes comerciantes que
Thomas Hobbes (1588-1679) - no Leviatã (1651), abandonou gostaram da política de monopólio, e de outro a pequena
a ideologia religiosa para justificar o absolutismo. Sua burguesia que queria a livre concorrência.
doutrina do “contrato” afirma que em “estado natural” os
homens lutam entre si. A única forma de haver harmonia Outra situação problemática era na zona rural, com a alta dos
social seria através de um contrato entre o soberano (ao produtos agrícolas as terras foram valorizadas. Isso gerou os
estado) e seus súditos. Então, para sobreviverem, estes capitalização do campo (processo de formação de
renunciam a seus “direitos naturais” através de um contrato “enclosures”)chamada de cercamentos, isto é, os grandes
tácito, transferindo-os ao estado, cuja soberania é absoluta, proprietários rurais queriam aumentar suas terras
indivisível e irrevogável; sua missão é reprimir o egoísmo e expropriando as terras coletivas, transformando-as em
promover a paz. O Estado está representado da forma mais particulares. O resultado foi a expulsão de camponeses do
perfeita pelo rei. campo e a criação de grandes propriedades para a criação de
ovelhas e para a produção de lã, condições imprescindíveis
O filósofo Hobbes foi um dos ideólogos do absolutismo Stuart
para a Revolução Industrial.
(Inglaterra). Já na segunda metade do século XVII, foi
produzida a ideologia liberal, que retomou a noção do
O reinado de Elizabeth I (1558-1603) foi o apogeu do
contrato, dando-lhe outro conteúdo para combater o
absolutismo inglês. A importância do Estado nesse período foi
absolutismo real. Seu principal representante no século XVII
marcada, no nível econômico, pelo mercantilismo,
foi o filósofo John Locke, ideólogo da Revolução Gloriosa
caracterizado pelas seguintes práticas:
(1688-1689), cujas idéias foram desenvolvidas no século XVIII
pelos iluministas.
-protecionismo, através de atos de Navegação;
2.3 INGLATERRA
-estímulo à construção naval, à produção metalúrgica e têxtil;
Na Inglaterra, desde o século XIII (Carta Magna, 1215), certas
-concessão de monopólios a indivíduos ou grupos, inclusive
práticas jurídico-políticas, criadas pela nobreza e pelo clero
para a formação de grandes companhias, a Companhia dos
para limitar o poder real, foram institucionalizadas
Mercadores Aventureiros (empresários e corsários ao mesmo
solidamente. Assim, a lei estava acima do soberano; ele não
tempo) criou sociedades como a Companhia do Levante, mas
podia promulgar leis, aumentar os impostos ou criar novos,
a maior foi a Companhia das Índias Orientais (1600);
sem consentimento do Parlamento; nenhum membro da
nobreza e do clero podia ser preso ou condenado sem -início do sistemático esforço explorador (Orake, 2ª viagem de
especificação da culpa e sem julgamento legal por seus pares; circunavegação) e colonial (Virgínia);
os funcionários da Coroa podiam ser julgados por crimes
cometidos em suas funções. -controle da força de trabalho artesanal através do "Estatuto
dos Artesãos" e pela atração do trabalhador qualificado no
O parlamento, inicialmente assembléia dos senhores leigos e estrangeiro;
eclesiásticos, foi ampliando sua participação e se divide (desde
1927) em: -desestímulo à formação de “enclosures”;
Câmara Alta ou dos Lordes - representantes da grande -abertura da Bolsa de Londres (1571).
nobreza e do Alto Clero.
DICA: O mercantilismo foi uma prática econômica adotada
Câmara Baixa ou dos Comuns - representantes da pequena pelos reis modernos pautada na intervenção do estado na
nobreza e da burguesia. economia. Prevaleceu o metalismo (em Portugal e na
Espanha), o protecionismo e o comercialismo (colbertismo na
O enfraquecimento da nobreza inglesa durante a Guerra das França) além do industrialismo (na Inglaterra). Além destas
Duas Rosas (1455/1485) e os interesses da burguesia por um práticas, havia também o pacto colonial (exclusivo comercial)
Estado centralizado impulsionador do progresso comercial
produziram o Estado moderno inglês, com a dinastia Tudor
19
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e o superávit comercial, características comuns a todos estes A Revolução Puritana (1649-1658)
países.
O governo de Oliver Cromwell atendia os interesses
No nível jurídico-político, através do aperfeiçoamento do burgueses. Quando começou a haver rebeliões na Escócia e na
aparelho estatal (criação do Tribunal de Alta Exceção, criação Irlanda, ele as reprimiu com brutalidade. Oliver procurou
do Ministério e dos longos períodos sem convocar o eliminar a reação monarquista. Fez uma “limpeza” no
Parlamento, utilizando-se a prerrogativa real). exército. Executou os líderes escavadores (estes eram
trabalhadores rurais que queriam tomar terras do estado,
No nível ideológico, por meio do Ato de Supremacia de 1559,
nobreza e clero). Com tantas execuções os menos favorecidos
reafirmando-se a chefia da Igreja Anglicana pelo monarca e
ficaram a “mercê da sorte” e acabaram por entrar em
consolidando-a.
movimentos religiosos radicais.
Revolução Inglesa
Uma medida para combater os holandeses e fortalecer o
Após a morte da rainha Elisabeth I, em 1603 que ao morrer comércio foi os Atos de Navegação. Essa lei resumia-se no
sem deixar herdeiros, promoveu o início da Dinastia Stuart. seguinte: o comércio com a Inglaterra só poderia ser feito por
JAIME I, rei da Escócia (1603-1625) dissolveu o parlamento navios ingleses ou dos países que faziam negócios com a
várias vezes e quis implantar uma monarquia absolutista Inglaterra.
baseada no direito divino, perseguiu os católicos e seitas
menores, sob o pretexto que os mesmos estavam organizando Em 1653, Oliver autonomeou-se Lorde Protetor da República,
a Conspiração da Pólvora (eliminar o Rei), em 1605. seus poderes eram tão absolutos quanto de um rei. Mas ele
recusou-se a usar uma coroa. Embora na prática agisse como
Muitos que ficaram descontentes com as perseguições um soberano. Com apoio dos militares e burgueses, impôs a
absolutistas foram para a América do Norte (colonizando o ditadura puritana, governando com rigidez e intolerância, e
que seria os EUA). Os atritos entre o Rei e o Parlamento com idéias puritanas. Ele morreu em 1658 e seu filho Richard
ficaram fortes e intensos, principalmente depois de 1610. Em Cromwell assumiu o poder. Mas este logo foi deposto em
1625, houve a morte de Jaime I e seu filho Carlos I, assumiu o 1659.
poder.
A Volta dos Stuart e a Revolução Gloriosa (1660 -1688)
CARLOS I, sucessor de Jaime I (1625- 1648). Tentou continuar
uma política absolutista, e estabelecer novos impostos no Carlos II, (1660 – 1685) da família Stuart, é proclamado rei da
qual foi impedido pelo parlamento. Em 1628, com tantas Inglaterra com poderes limitados. Por isso ele estreitou
guerras, o rei viu-se obrigado a convocar o parlamento, este ligações com o rei francês Luis XIV, isto logo manchou sua
sujeitou o rei ao juramento da “Petição dos Direitos” (2º Carta reputação com o parlamento. Carlos II baixou novos Atos de
Magna inglesa) garantia a população contra os tributos e Navegação favoráveis ao comércio inglês. Envolveu-se na
detenções ilegais. O parlamento queria o controle da política guerra contra a Holanda. Em 1673, o parlamento aprovou a
financeira e do exército, além de regularizar a convocação do lei do teste: todo o funcionário público deveria professar o
parlamento. A resposta real foi bem clara, a dissolução do anticatolicismo. Com essas atitudes o parlamento ficou
parlamento que voltaria a ser convocado em 1640. dividido em dois grupos: os whigs, que eram contra o rei e
favoráveis às mudanças revolucionárias além de serem ligados
A Guerra Civil (1641-1649) a burguesia, e os tories que eram defensores feudais e ligados
à antiga aristocracia feudal.
O rei Carlos I governou sem parlamento e tentou impor a
religião anglicana aos calvinistas escoceses Jaime II (1685 – 1688) com a morte de Carlos II, seu irmão
(presbiterianos). Isso foi o stopim para uma guerra civil. Ela Jaime II assume o governo. Este tomou medidas drásticas, quis
estendeu-se de 1641 a 1649, dividiu o país e foi um marco restaurar o absolutismo, o catolicismo, também punia os
importante na Revolução Inglesa. revoltosos com a negação do hábeas corpus, proteção a
De um lado havia os cavaleiros, o exército fiel ao rei e apoiado prisão sem motivo legal. O parlamento não tolerou esse
pelos senhores feudais. Do outro, os cabeças-redondas, visto comportamento e convocou Maria Stuart, filha de Jaime II e
que não usavam perucas e estavam ligados a gentry, eram esposa de Guilherme de Orange, para ser a rainha, com isso o
forças que apoiavam o parlamento. rei foge para a França e Maria Stuart e seu esposo tornaram-
se monarcas ingleses. Esta foi à Revolução Gloriosa (1688),
O exército do parlamento foi comandado por Oliver consolidada pela Declaração dos Direitos e com a famosa
Cromwell, formado por camponeses, burgueses de Londres e frase: o rei reina, mas não governa (o rei não podia cancelar
a gentry. Os Cabeças Redondas derrotaram os Cavaleiros na as leis parlamentares; o reino poderia ser entregue a quem o
Batalha de Naseby em 1645. Carlos I perdeu a guerra e fugiu parlamento quisesse, após a morte do rei; inspetores
para a Escócia, lá ele foi preso e vendido para o parlamento controlariam as contas reais; e o rei não deveria manter um
inglês, este mandou executar o rei. Ao tomar esta decisão a exército em épocas de paz), o qual concedia amplos poderes
sociedade representada pelo parlamento rompia com a idéia ao Parlamento.
da origem divina do rei e de sua incontestável autoridade.
Assim, a guerra civil fomentou novas idéias lançando as bases 2.4 FRANÇA
políticas do mundo contemporâneo.
O Estado Nacional francês foi ampliado e consolidado a partir
do fim da Guerra dos Cem Anos, quando a Coroa conseguiu
20
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estabelecer sua autoridade efetiva sobre alguns grandes No mesmo ano, os católicos realizaram o massacre de Vassy,
feudos, como é o caso da Borgonha. chacina de um sem número de huguenotes, durante a
celebração de um culto. Esse fato deu início à Guerra Civil que
O poder dos reis crescia paralelamente à formação territorial. transcorreu em território francês e foi recheada de massacres.
Os soberanos da Dinastia Valois (Luiz XII 1498-1515; Francisco No reinado de Carlos IX (1560-1574), os huguenotes chegaram
I 1515-1547; Henrique II 1547-1559), com o apoio de largos a possuir grande influência sobre o rei, especialmente através
setores da burguesia, impuseram o reconhecimento de seu de um de seus líderes, o Almirante Coligny, que era ministro
poder absoluto, justificado pela doutrina da origem divina de do Rei.
poder real, não convocando os Estados Gerais, dirigindo a
justiça e fazendo executar as suas Leis. Essa ascensão motivou, em 1572, o Massacre da Noite de São
Bartolomeu: milhares de huguenotes foram mortos em Paris,
No nível econômico, a dominância da burguesia mercantil, onde estavam concentrados com o objetivo de assistir ao
ligada ao comércio mediterrâneo, impedia a ocorrência de um casamento de seu líder, Henrique de Navarra, com a irmã do
grande apoio estatal à expansão francesa no Atlântico. Além rei Carlos IX. Os católicos agiram motivados pelo temor de um
dos impostos, um dos recursos da Coroa era a venda de golpe de Estado huguenote.
ofícios de finanças e da Justiça, sendo que, aos poucos, esses
cargos foram sendo transformados em funções hereditárias. Henrique III (1574-1589) aproximou-se dos huguenotes com
o intuito de fortalecer-se e poder se opor aos católicos que
O poder real era limitado pela sobrevivência de costumes e pretendiam depô-lo com o apoio de Felipe II de Espanha, que
privilégios da nobreza, pelas dificuldades das comunicações e pretendia o trono francês para sua filha. Henrique III
pela relativa independência dos cargos hereditários da promoveu o assassinato do líder católico, o Duque de Guise,
burocracia. em 1588, e, não tendo descendentes, designou Henrique de
Navarra como futuro rei. Em 1589, foi a vez de Henrique III
Durante o reinado de Francisco I e Henrique II, a doutrina ser assassinado.
Calvinista foi propagada na França, conseguindo logo um
grande número de seguidores que eram denominados O líder huguenote tornou-se Henrique IV (1589-1610) e foi o
huguenotes. À medida que a doutrina calvinista justificava as primeiro soberano da Dinastia Bourbon. Henrique IV
práticas econômicas capitalistas, como o comércio e a usura, derrotou a Santa Liga (nome dado à organização da força
(base mobiliária da riqueza da burguesia), a maior parte da católica), mas diante da resistência de Paris, da presença de
burguesia se tornou praticante do calvinismo. Este também tropas espanholas, do esgotamento geral, da ruína econômica,
serviu para que uma parte da nobreza justificasse o seu da sublevação de camponeses e objetivando obter o apoio da
interesse em confiscar terras da Igreja e, assim, poder superar Igreja, o rei converteu-se ao catolicismo, em 1593, entrando
sua ruína econômica e tentar realizar o projeto de em Paris e sendo sagrado rei em 1594. Os espanhóis foram
restabelecer sua autonomia política através do expulsos da França e a revolta dos camponeses foi contida
enfraquecimento do Estado centralizado, que tinha na Igreja através da diminuição de alguns impostos e outras concessões
um de seus alicerces. menores.

Em meados do século XVI, a França, política e A guerra civil terminou definitivamente com a promulgação,
ideologicamente, era dividida em católicos ou papistas, cujo em 1598, do Édito de Nantes, que determinou a liberdade de
líder era o Duque de Guise; calvinistas ou huguenotes, culto e a igualdade política entre católicos e huguenotes.
liderados por Henrique Navarra, um membro da família dos Como garantia, os huguenotes conservaram o controle de
Bourbons. mais de cem praças fortes, dentre as quais La Rochelle era a
mais importante, nas quais eles impunham suas leis e seu
Cada uma dessas facções tinha como objetivo o poder e, dessa forma, quase chegaram a constituir um Estado
estabelecimento de seu controle sobre o governo nacional autônomo dentro da França.
francês. A luta entre elas, conhecida pelo nome de Guerra de
Religião, desenvolveu-se durante o reinado dos três últimos O fim da Guerra Civil criou uma nova conjuntura, favorável à
Valois e o seu significado maior foi o enfraquecimento efetivo reafirmação do poder monárquico baseado no direito divino
do estado francês. e à reativação da economia. Henrique IV e seus ministros,
principalmente o Duque de Sully, realizaram uma política
Durante o reinado de Francisco II (1559-1560), os católicos econômica, visando diminuir as importações e evitar a saída
mantiveram total ascendência sobre a Coroa, mas os de metais preciosos através do incremento da produção de
huguenotes fortaleceram-se com a adesão de muitos nobres objetos de luxo, principalmente a seda. A nobreza rural foi
insatisfeitos com a Paz de Cateau-Cambrésis (1559) assinada autorizada a exportar trigo, pantanais foram drenados,
por Henrique II com a Espanha e que assegurou aos estradas foram restauradas, enfim, foi realizado um grande
Habsburgos o controle do Reino de Nápoles, dos Países Baixos esforço no sentido da reconstrução da economia da França.
e de alguns outros territórios de menor importância.
A menoridade de Luiz XIII justificou a regência da rainha-mãe,
Tentando a conciliação entre as duas facções, com a Maria de Médicis, grandemente influenciada por Concini, um
finalidade de evitar a tutela dos grandes nobres católicos nobre italiano. A nobreza francesa criticou a regente,
sobre seu filho e, conseqüentemente, o enfraquecimento do aproveitando para retomar sua plena autonomia através da
poder real, Catarina de Médicis, rainha-mãe e regente do troca do seu apoio à regência por pensões e cargos políticos.
trono, fez publicar o Édito de Tolerância de 1562, que
concedia aos huguenotes liberdade de culto fora das cidades.

21
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A consolidação do poder real absolutista foi realizada sob a e) conveniência entre o poder tirânico e a moral do príncipe.
liderança do Cardeal Richelieu, chefe do Conselho de
Ministros de 1624 e 1642, cuja política pode ser resumida nos
seguintes termos: afirmação do absolutismo de direito
divino; realização de ativa política econômica; RESOLUÇÃO E COMENTÁRIOS:
estabelecimento da hegemonia francesa no continente.
LETRA A: Esta temática relacionada a filosofia tem sido
Para afirmar o absolutismo de direito divino, Richelieu recorrente nas últimas provas do Enem. A questão trata de
empreendeu uma intensa luta contra os huguenotes, Maquiavel e de sua analise sobre a manutenção da ordem que
diminuindo seu poder através da conquista de inúmeras pode ser exemplificada em “os fins justificam os meios”, OU
praças-fortes, inclusive La Rochelle, que foi tomada em 1628. SEJA, o soberano deveria agir conforme às necessidades de
seu reino e de forma alguma ficar inerte. A afirmativa está
Com o objetivo de ativar a economia, Richelieu promoveu o incorreta.
desenvolvimento da marinha mercante, facilitou a criação de
manufaturas e companhias de comércio, incrementou os LETRA B: Está incorreta, pois a bondade em si deve ser usada
esforços colonizadores no Canadá e promoveu a instalação somente quando o reino não está de modo algum ameaçado,
francesa nas Antilhas, Guiana, Senegal e Madagascar. de modo a fazer com que os súditos acreditem nas virtudes do
soberano.
Richelieu promoveu a aliança da França com os príncipes
alemães contra o Imperador católico Fernando II, na Guerra LETRA C: Está incorreta, pois qualquer transgressão, seja ela
dos Trinta Anos (1618-1648). A intervenção nessa guerra religiosa ou não, traria como conseqüência imediata a punição
aconteceu inicialmente apenas no nível diplomático, mas, a ao transgressor, pois nenhuma agitação é positiva para a
partir de 1635, deu-se também no nível bélico. Os Habsburgos manutenção da ordem de um reino.
foram derrotados e foi decidido o fim das guerras de religião
LETRA D: Está incorreta, pois o soberano não deve ficar neutro
na Alemanha através da presença da autonomia feudal dos
na condenação de um servo, ou em qualquer outra, pois seu
príncipes; a Alemanha foi dividida em duzentos e noventa e
papel é de intervir sempre que necessário (de acordo com a
seis Estados e vários domínios dos “cavaleiros imperiais”; a
ocasião).
França obteve a Alsácia e a Suécia, parte da Pomerânia; a
França foi conduzida à condição de árbitro da Europa. LETRA E: Está CORRETA, pois segundo Maquiavel o príncipe
deveria preserva a sua moral (a sua virtude), mas na prática
Richelieu só deixou seu cargo com sua morte, em 1642. No
esta “bondade” deveria estar condizente com os objetivos do
ano seguinte, Luiz XIII também morreu. A maioridade de Luiz
soberano e, de acordo com a conveniência, ele poderia ser
XIV (1643-1715) determinou a regência de Ana da Áustria, na
cruel (tirânico).
qual a figura dominante foi o Cardeal Mazarino.

Luis XIV foi considerado o Rei Sol, marca do absolutismo


francês e ficou famoso pela seguinte frase: “O ESTADO SOU  ATIVIDADES
EU”. Neste sentido, atuou no país conforme achasse
necessário, reprimindo revoltas e aumentando ainda mais os 01) (UFJF) A política mercantilista assumiu diversas
impostos, apesar das constantes adversidades que o país modalidades, variando nos países europeus do século XV ao
passava conforme vimos anteriormente. XVIII. Sobre as práticas mercantilistas podemos afirmar que:

a) na França, a concessão de monopólios estatais e o incentivo


das manufaturas aceleraram o desenvolvimento comercial e
 VAMOS FAZER industrial.
01) ENEM. O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a b) o modelo português caracterizava-se pelo metalismo e por
reputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e uma política econômica liberal exercida pela Coroa.
leal. De fato, com uns poucos exemplos duros poderá ser mais
clemente do que outros que, por muita piedade, permitem os c) na Espanha, o dirigismo estatal desenvolveu as atividades
distúrbios que levem ao assassínio e ao roubo. industriais e agrícolas, permitindo sua auto-suficiência
comercial.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe, São Paulo: Martin Claret, 2009.
d) em geral, o mercantilismo fundamentava-se no
No século XVI, Maquiavel escreveu O Príncipe, reflexão sobre intervencionismo estatal e no equilíbrio da balança comercial.
a Monarquia e a função do governante. A manutenção da
ordem social, segundo esse autor, baseava-se na: 2) ENEM. A lei não nasce da natureza, junto das fontes
frequentadas pelos primeiros pastores: a lei nasce das
a) inércia do julgamento de crimes polêmicos. batalhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquistas que
têm sua data e seus heróis de horror: a lei nasce das cidades
b) bondade em relação ao comportamento dos mercenários.
incendiadas, das terras devastadas; ela nasce com os famosos
c) compaixão quanto à condenação de transgressões inocentes que agonizam no dia que está amanhecendo.
religiosas.
Neste raciocínio, o filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao
d) neutralidade diante da condenação dos servos. pensar a política e a lei em relação ao poder e à organização
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social. Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis c) meio para resolver os conflitos sociais no cenário da
na organização das sociedades modernas é globalização, pois a partir do entendimento do que é
efetivamente a ética, a política internacional se realiza.
a) combater ações violentas na guerra entre as nações.
d) parâmetro para assegurar o exercício político
b) coagir e servir para refrear a agressividade humana. primando pelos interesses e ação privada dos cidadãos.

c) criar limites entre a guerra e a paz praticadas entre os 5) Sobre a Revolução Inglesa pode-se afirmar que no final dela
indivíduos de uma mesma nação. ocorreu a chamada Revolução Gloriosa, marcada pela
ausência da participação das classes populares, em que houve
d) estabelecer princípios éticos que regulamentam as a queda definitiva da Dinastia Stuart do poder na Inglaterra.
ações bélicas entre países inimigos. Sobre este período é CORRETO dizer que:
e) organizar as relações de poder na sociedade e entre
a) O absolutismo continuou na Inglaterra e o parlamento não
os Estados.
pode participar da política inglesa.
3) ENEM. Na ética contemporânea, o sujeito não é mais um
sujeito substancial, soberano e absolutamente livre, nem um b) Foi declarado o Bill of Rights, em que o poder do rei
sujeito empírico puramente natural. Ele é simultaneamente os continuou sendo ilimitado.
dois, na medida em que é um sujeito histórico-social. Assim, a
ética adquire um dimensionamento político, uma vez que a c) Houve o reinado de Guilherme de Orange, que não contou
ação do sujeito não pode mais ser vista e avaliada fora da com o apoio burguês para se firmar no poder inglês.
relação social coletiva. Desse modo, a ética se entrelaça,
necessariamente, com a política, entendida esta como a área d) Houve a criação de uma monarquia parlamentar, em que o
de avaliação dos valores que atravessam as relações sociais e poder do rei era limitado pelo parlamento.
que interliga os indivíduos entre si. SEVERINO. A. J. Filosofia.
São Paulo: Cortez, 1992 (adaptado).
GABARITO DAS ATIVIDADES TÓPICO 1: EXPANSIONISMO
O texto, ao evocar a dimensão histórica do processo de MARÍTIMO EUROPEU
formação da ética na sociedade contemporânea, ressalta:
01) A 02) D 03) B 04) B 05) D
a) os conteúdos éticos decorrentes das ideologias
político-partidárias.

b) o valor da ação humana derivada de preceitos GABARITO DAS ATIVIDADES TÓPICO 2: ABSOLUTISMO E
metafísicos. MERCANTILISMO

c) a sistematização de valores desassociados da cultura. 01) A 02) E 03) D 04) A 05) D

d) o sentido coletivo e político das ações humanas


individuais.

4) ENEM. A ética precisa ser compreendida como um


empreendimento coletivo a ser constantemente retomado e
rediscutido, porque é produto da relação interpessoal e social.
A ética supõe ainda que cada grupo social se organize
sentindo-se responsável por todos e que crie condições para o
exercício de um pensar e agir autônomos. A relação entre
ética e política é também uma questão de educação e luta
pela soberania dos povos. É necessária uma ética renovada,
que se construa a partir da natureza dos valores sociais para
organizar também uma nova prática política. CORDI et al.
Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2007 (adaptado).

O Século XX teve de repensar a ética para enfrentar novos


problemas oriundos de diferentes crises sociais, conflitos
ideológicos e contradições da realidade. Sob esse enfoque e a
partir do texto, a ética pode ser compreendida como:

a) instrumento de garantia da cidadania, porque através


dela os cidadãos passam a pensar e agir de acordo com
valores coletivos.

b) mecanismo de criação de direitos humanos, porque é


da natureza do homem ser ético e virtuoso.

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TEMA: Sistema Colonial nas Américas Espanhola , Inglesa e em relação às outras, sendo chefiadas individualmente por
no Brasil líderes da nobreza local.

1. AMÉRICA ESPANHOLA E INGLESA A religião constituía uma das questões centrais na vida de
cada membro das comunidades maias. Tal aspecto levou os
1.1 SISTEMA COLONIAL NA AMÉRICA ESPANHOLA povos maias à construção de suntuosos templos sacrificiais em
homenagem a seus deuses. Os toltecas tiveram sua existência
- Antecedentes: Civilizações Pré-Colombianas (TEXTO DE situada entre o período que se estendeu de 900 a 1187 d. C.. A
APOIO) sociedade tolteca era eminentemente militarista e guerreira
(aspecto verificado através das numerosas esculturas de
representação de seus guerreiros), ao passo que, no campo
Antes da chegada dos europeus ao continente americano,
das artes e da arquitetura, o povo tolteca é considerado um
duas grandes civilizações já se estabeleciam em diversas
dos mais desenvolvidos em relação aos demais povos de sua
localidades dos territórios do “Novo Mundo”: as civilizações
contemporaneidade. Os toltecas, no período pós-clássico,
meso-americanas (astecas e maias) e as civilizações andinas
exerceram grande influência no território correspondente aos
(incas). A civilização asteca era estabelecida no território do
maias.
atual México; juntamente com os Maias, fixados nas regiões
da América Central; os Incas, que ocupavam as regiões
adjacentes ao longo da Cordilheira dos Andes. O império Asteca tinha como capital a cidade de Tenochtitlán.
Tal cidade foi fundada em localidade que, segundo a mitologia
asteca, fora indicada por seu deus tribal Huitzilopochtli.
Cada uma dessas civilizações era constituída de um verdadeiro
Segundo essa lenda, tal deus ordenou que seus adoradores
mosaico de nações e tribos. Possuíam avançada organização
encontrassem uma águia em cima de um cacto com uma
política, econômica e social. Teoriza-se que tais civilizações
serpente em seu bico. Este seria o sinal que teriam
tenham sido derivadas da migração dos mongóis asiáticos
encontrado sua terra prometida. A cidade do México, hoje em
para tais regiões, dada a grande semelhança, inclusive, dos
dia, foi construída neste mesmo local. A lenda possui algum
traços físicos comuns aos integrantes destes povos.
fundo de verdade: os astecas, anteriormente à fundação de
sua capital, eram um povo nômade.
As teorias dizem ainda que o povo mongol talvez tenha
migrado da Ásia para a América através das geleiras do
Com relação aos povos andinos, a civilização Inca desenvolveu
Estreito de Behring. Estas civilizações subsistiram até a
sua mais importante capital em 1438, nos altiplanos da
chegada dos europeus, pelos quais foram dizimados devido à
Cordilheira dos Andes. Os incas desenvolveram seu domínio
superioridade bélica e tecnológica europeia da época.
através de sucessivas conquistas de províncias adjacentes ao
seus territórios, que foram assim incorporadas ao seu império.
A história cultural das civilizações meso-americanas pode ser
A manutenção destas províncias sob seu domínio foi possível
dividida basicamente em três períodos principais: os períodos
dada a grande eficiência administrativa dos incas. De acordo
pré-clássico, clássico e pós-clássico. No período pré-clássico, a
com as esculturas que muito representaram os membros da
cultura dos olmecas foi a predominante. Já o período clássico
sociedade incaica, pode-se observar que a tipologia média do
assistiu o desenvolvimento da cultura Teotihuacán e dos homem inca possuía características comuns como a estatura
Maias. O período pós-clássico foi marcado pelo militarismo e
baixa e a pele de tonalidade parda. Os incas eram grandes
por impérios guerreiros: os Toltecas e os Astecas A civilização
artesões do ouro, da prata e do cobre. Algumas esculturas em
Olmeca perdurou aproximadamente de 1.200 até 200 a. C..
ouro representando figuras femininas foram encontradas
Esta civilização deixou como legado para as que a sucederam
junto a oferendas aos seus deuses.
elementos de grande importância, como a escrita em
hieroglifos. Artefatos produzidos pela cultura olmeca foram
Conquista Espanhola
encontrados em todas as partes da América Central. Em tais
artefatos observa-se o naturalismo e o simbolismo como A Conquista da América começa imediatamente ao
elementos centrais da arte produzida por esse povo. descobrimento (1492), iniciando-se com a ocupação das
Antilhas, e logo em seguida, do Império Asteca (Hernan
A cultura Teothihuacán perdurou aproximadamente entre o Cortez) e do Império Inca (Francisco Pizarro).
período compreendido entre os anos 1 e 750 d. C.. A cidade de
Teotihuacán é a possuidora de uma das mais intrigantes Os espanhóis tiveram postura diferenciada em relação às
paisagens urbanas antigas das Américas. Tal cultura que aí se sociedades com as quais se depararam na América. Os grupos
estabeleceu foi uma das mais influentes da América Central de caçadores e coletores, como não possuíam uma estrutura
Pré-colombiana. social que pudesse ser aproveitada para a exploração
comercial, foram exterminados ou expulsos de suas terras.
A civilização dos maias surgiu por volta de 1.000 anos a. C.,
estendendo-se, com seus últimos membros remanescentes, Já os grupos de agricultores e os Impérios foram devidamente
até o ano de 1697 d. C.. Algumas das características culturais combatidos e subjugados. Em seguida, os espanhóis
dos maias são bastante peculiares: apesar de possuírem uma aproveitaram-se das estruturas sociais e políticas já existentes,
religião e uma cultura em comum, os membros do povo maia sem destruí-las. No caso dos Astecas e dos Incas, os espanhóis
não possuíam uma única cidade-capital ou um único aproveitaram-se das relações de trabalho previamente
governante. Cada cidade possuía autonomia administrativa existentes.

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A Colonização (imposto) criado pela Coroa com fins de ajudar nas
construções de obras públicas. Serve também para que certas
O continente americano foi sistematicamente colonizado regiões economicamente ricas possam ser exploradas.
pelos europeus a partir do final do século XV. Holandeses e
Franceses também exerceram aqui o seu poder colonizador,
Além do trabalho compulsório indígena, nas ilhas do Caribe,
mas foram portugueses, espanhóis e ingleses que montaram
sobretudo em Cuba, no desenvolvimento
os mais significativos empreendimentos coloniais, tornando a da plantation açucareira, nota-se a existência de trabalho
América uma extensão de seus domínios e um complemento escravo de negros africanos, importados para suprir a falta de
da economia metropolitana.
mão-de-obra disponível após o extermínio dos nativos.
Em 1503 a Coroa espanhola criou o primeiro órgão de
A sociedade seguiu o modelo fechado, aristocrático e feudal
administração colonial, a Casa de Contratação, responsável
da sua metrópole. No ápice da sociedade estavam os
por todas as atividades comerciais da colônia através da chapetones (espanhóis), responsáveis pela administração
política de único porto: toda mercadoria americana deveria
pública. Seguidos a estes estavam os criollos (filhos de
desembarcar, obrigatoriamente no porto de Cadiz. espanhóis nascidos na América), formando a aristocracia rural
No âmbito regional, o poder era exercido pelos Cabildos, e contando com forte poder econômico. As classes dominadas
eram compostas pelos indígenas, escravos e mestiços, tendo
órgão semelhante às Câmaras Municipais criadas pelos
portugueses no Brasil, responsáveis pela justiça local e a cor da pele como critério de divisão social.
recolhimento de impostos. Na sede dos Vice-Reinos,
A religião oficial era a católica, imposta aos nativos pelo clero
encontrava-se a Audiência, tribunal colonial controlado pelos
a quem cabia a catequese e a educação escolar, além das
vice-reis e administrado pelos juízes nomeados pelo Rei. atividades da Santa Inquisição, controlando os colonos. Já se
tratando da Igreja, podemos dizer que ela se destacou no
Do ponto de vista político, a colônia espanhola estava dividida
processo colonizador, sendo capaz de completar o quadro da
em 4 vice-reinos (Nova Espanha – principal centro colonial
com grande aporte de metais, Nova Granada – região de administração colonial.
apresamento de indígenas para trabalho das minas, Vice
Reino do Peru, grande extração de prata, Potosí e Vice Reino
do Rio da Prata – Extração de erva mate e agropecuária) e
quatro capitanias gerais (Guatemala, Venezuela, Cuba e
Chile).

Na época da Conquista, administração era feita por


particulares Na fase de Conquista, o Estado espanhol garantia
poderes civis e militares a todos os particulares que
empreendessem a conquista de territórios na América
(Adelantado).

Consolidada a Conquista, o Estado espanhol amplia seus


poderes e reclamou para si os direitos de controle
administrativo sobre as Colônias, reduzindo as concessões
feitas anteriormente. Em 1524 foi criado o chamado Conselho
das Índias, que era o órgão supremo de todos os assuntos
coloniais (tinha poderes legislativos, militares, jurídicos e
eclesiásticos).

O Pacto colonial, determinado pelo Exclusivo comercial foi a


base que permitiu o funcionamento do sistema de exploração
implantado nas colônias. Na América espanhola a base
econômica foi a mineradora, motivo este pelo qual a coroa
espanhola lançou-se avidamente à exploração do interior das
suas colônias na busca de mais minas e regiões mineradoras.
As reservas pareciam intermináveis, o que gerou uma
desvalorização dos metais e um aumento considerável nos
preços das mercadorias causando o fenômeno conhecido
como Revolução dos Preços.

A partir da década de 1550 a Espanha assumiu a colonização


efetiva, sistematizando a exploração através de duas Emancipação Política da América Espanhola
instituições de exploração de mão-de-obra nativa: a mita
(trabalho compulsório nas minas) e a encomienda (exploração Só é possível compreender como as colônias espanholas na
das comunidades indígenas através da prestação de serviços América conseguiram se libertar, se voltarmos atrás e
nas grandes fazendas e tributação em gêneros). Podemos citar recordarmos o Iluminismo.
também o repartimento, outra forma de pagamento

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No inicio do século 19, a Espanha ainda dominava a maior
parte de suas colônias americanas, mas, da França chegavam
novas idéias. Era a época das Luzes! Os ares eram de
liberdade, os filósofos do Iluminismo pregavam que a
liberdade do Homem estava acima de qualquer coisa. Não
aceitavam que os reis pudessem usar sua autoridade acima de
tudo. Afinal, os iluministas valorizavam a Razão, dizendo que o
Homem era dono de seu próprio destino e devia pensar por
conta própria.

Publicações feitas na França e na Inglaterra contendo essas


idéias estavam chegando às colônias escondidas das
autoridades. Idéias de liberdade também vinham através de
pessoas cultas que viajavam e fora, descobriam um pouco
mais da filosofia iluminista. Mas, quem eram essas pessoas
cultas

Quando nós vimos a Sociedade Colonial Espanhola, estudamos


os CRIOLLOS. Eles eram brancos, nascidos na América, que
tinham propriedades rurais, podiam ser também comerciantes
ou arrendatários das minas.

Eles tinham dinheiro mas não tinham acesso aos cargos mais
altos porque esses cargos só podiam ser dos CHAPETONES.
Então, os Criollos usaram o dinheiro para estudar. Muitos iam
para as universidades americanas ou européias e, assim
tomavam conhecimento das idéias de liberdade que corriam A França também ajudou, porque Napoleão Bonaparte com
mundo com o Iluminismo. seus exércitos, invadiu a Espanha e colocou como rei na
Espanha, seu irmão. Portanto, automaticamente, sendo
Os Criollos, exploravam o trabalho dos mestiços e dos negros dependente de França, a Espanha passou a ser inimiga
e eram donos da maior parte dos meios de produção e também da Inglaterra. Isso foi o motivo que a Inglaterra
estavam se tornando um grande perigo para a Espanha. Por queria para colocar seus navios no Oceano Atlântico e impedir
isso, a Coroa espanhola decidiu criar novas leis: que a Espanha fizesse contato com suas colônias espanholas.

•os impostos foram aumentados


•o pacto colonial ficou mais severo
(o pacto colonial era o acordo pelo qual as atividades
mercantis da colônia eram de domínio exclusivo de sua
metrópole )
•as restrições às indústrias e aos produtos agrícolas coloniais
concorrentes dos metropolitanos se agravaram.

Os Criollos tinham o exemplo dos EUA que haviam se libertado


da Inglaterra. E, a própria Inglaterra estava interessada em
ajudar as colônias espanholas porque, estava em plena
Revolução Industrial. Isto quer dizer que, precisava de
encontrar quem comprasse a produção de suas fábricas e,
também de encontrar quem lhe vendesse matéria prima para
trabalhar.

Assim, as colônias espanholas receberam ajuda inglesa contra


a Espanha. Quando aconteceu a Revolução Francesa, os
franceses, que sempre tinham sido inimigos dos ingleses,
viram subir ao poder Napoleão Bonaparte. Foi quando a briga
entre França e Inglaterra aumentou. Por causa do Bloqueio
Continental, imposto pela França, a Inglaterra não podia mais
fazer comércio com a Europa continental (com o continente).
Os Criollos então, se aproveitaram da situação e depuseram os
Por causa disso, a Inglaterra precisava mais do que nunca de governantes das colônias e passaram a governar,
novos mercados para fazer comércio, portanto ajudou como estabelecendo de imediato a liberdade de comércio.
pôde as colônias espanholas a se tornarem independentes. Mesmo depois que o rei espanhol voltou ao poder, a luta pela
independência continuou e a Inglaterra seguiu ajudando,
porque sem liberdade não haveria comércio.
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interferência da Inglaterra e até mesmo da França foram
OBS: Símon Bolívar foi um dos maiores representante da luta fundamentais, embora fosse por interesse próprio.
política na América do Sul. Reformador revolucionário e um
antimperialista, Bolívar comandou os processos de
independência da Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e 1.2 SISTEMA COLONIAL NA AMÉRICA INGLESA
Bolívia. Nascido em 24 de julho de 1783, em uma família
aristocrata colonial, recebeu educação de tutores, tendo - Antecedentes:
contato com obras filosóficas greco-romanas e iluministas.
- Surgimento das 13 colônias: lento processo de colonização
Com a morte de seus pais, foi enviado pelo tio à Espanha, aos
desde o século XVII.
15 anos, para terminar os seus estudos.
- Colonos migram por:
Mais tarde, Símon Bolívar iniciou viagens pelos EUA e Europa.
Presenciou a proclamação de Napoleão Bonaparte como - perseguições religiosas (calvinistas e puritanos), fugidos da
imperador da França, considerando-o traidor das idéias repressão do governo absolutista inglês.
republicanas. Por conta disso, passa a se aproximar das
doutrinas de Rousseau, Montesquieu e Voltaire, tendo - pessoas forçadas à imigração pelo desemprego causado
contatos também com Alexandrer von Humboldt. De volta à pelos CERCAMENTOS
Venezuela, em 1807, usa seus conhecimentos para lutar pela
independência das colônias espanholas, participando na - Já no século XVIII havia dois tipos de colônias:
formação da Junta Suprema de Caracas (1810), assumindo o
- Colônias do sul:
cargo de coronel de milícias.
- Trabalho escravo produzido em grandes propriedades de
Em 1811, em Londres, tentou fundos para a revolução, mas terra.
não obteve sucesso, voltando para Venezuela na companhia
de Francisco Miranda, que foi nomeado generalíssimo e - Uma monocultura (de algodão) voltada para o mercado
encarregado da defesa da posição estratégica de Puerto externo.
Cabello. Neste mesmo ano, no dia 05 de julho, Símon Bolívar
discursou em favor da independência da América espanhola, e - Colônias do norte (Nova Inglaterra) e centro:
declarava a liberdade do país com a vitória das tropas sob o
comando de Miranda, em Valência, mas, no ano seguinte, o - agricultura de subsistência praticada em pequenas
revolucionário foi preso e entregue às tropas espanholas. propriedades de terra.
O “Manifesto de Cartagena”, escrito por Bolívar, sustentava
que Nova Grana deveria apoiar a libertação da Venezuela. Em - utilização do trabalho livre voltada para o mercado
1813, Símon Bolívar invadiu a Venezuela e foi aclamado interno (policultura).
Libertador. Em junho do mesmo ano, tomou Caracas e, em
- Nesta região havia abundância de mão-de-obra e
agosto, proclamou a segunda República Venezuela. Em 1819,
disponibilidade de matéria-prima.
organizou o Congresso de Angostura, fundando a grande
Colõmbia (Colômbia,Venezuela, Panamá e Equador), a qual - Comércio entre das colônias do Norte com as do Sul, as
nomeou Bolívar presidente. Antilhas e a África: Comércio Triangular (as colônias do Norte
produziam peixes e cereais, trocados por rum nas Antilhas e
Na guerra civil em 1829, Venezuela e Colômbia separaram-se. depois comercializados por escravos na África, que eram
O Peru aboliu a Constituição bolivariana e a província de Quito finalmente vendidos às colônias do Sul). Este era o comércio
tornou-se independente, adotando o nome de Equador. Com intercolonial, mas também havia o intercontinental (Europa,
a saúde debilitada, sem recursos e apoio político, foi acolhido América e África) que atendia interesses mercantilistas da
por seu amigo espanhol Joaquim de Mier, na Colômbia, onde metrópole inglesa.
morreu em dezembro de 1830. Em sua mais célebre frase,
Símon disse: “Tenho mil vezes mais fé no povo do que nos DICA: Vale ressaltar que, diferente das colônias do Sul, que
deputados…Jamais um Congresso salvou uma república…não eram submissas ao pacto colonial imposto pela metrópole
conheço outra opção saudável que não seja a de devolver ao inglesa, as colônias do Norte conseguiram certa autonomia,
povo a sua soberania primitiva, para que refaça o pacto uma vez que não despertavam interesse da Inglaterra que
social”. negligenciará, a princípio, estas colônias (assim se explica a
política de Negligência Salutar abordada logo abaixo).
Hoje, ao olhar as bandeiras da Venezuela, da Colômbia e do
Equador um observador pouco atento pode ver as - Política de Negligência Salutar
semelhanças nas listras e não perceber que talvez um dia
todas essas nações possam ter sido uma só. A idéia de - Espírito de autonomia presente nas colônias concretizado no
unidade latino-americana parece ainda mais distante ao ler Self- Government (autogoverno):
notícias das farpas trocadas entre os presidentes ou sobre as
- formado por uma assembléia de colonos, eleita por eles, que
cíclicas crises que vivem os países da América do Sul.
podiam votar leis fiscais.
Assim nós podemos ver, que talvez por causa da maneira -Contexto da Europa (ligação com os seguintes fatos)
como foi dominada e explorada, a América Espanhola teve
muitas dificuldades de se tornar independente. A Revolução Inglesa
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Revolução Industrial Estado que controlava opressivamente a sociedade, através
de uma monarquia despótica e teocrática.
Iluminismo
IV. Os astecas, por meio de guerras, dominaram um grande
- mais especificamente com a guerra dos 7 anos (1756-1763) território e inúmeros povos, que pagavam impostos ao seu
entre França e Inglaterra império. Para garantir as boas graças dos deuses, sacrificavam
os prisioneiros de guerras.
- O conflito gera altos custos e os ingleses vão repor os gastos
em suas colônias (principalmente nas colônias do norte, que
É CORRETO o que se afirma em:
não estava acostumada com a cobrança de tantos impostos e
a) I, II, III.
vão se revoltar).
b) II, III, IV.
1733: Lei do Melaço c) I, III, IV.
d) I, II, IV.
1750: proibição da produção de ferro nas colônias do centro e) I, II, III e IV.

1764: Lei do Açúcar RESPOSTA: Letra (d).

1765: Lei do Selo e do Aquartelamento


RESOLUÇÃO E COMENTÁRIOS:
1773: Lei do Chá
AFIRMATIVA I: Está correta, pois os incas formaram um
1774: Primeiro Congresso da Filadélfia (Leis Intoleráveis) extenso império na região da Cordilheira dos Andes.
Declaração dos Direitos AFIRMATIVA II: Está correta, pois os astecas eram muito
organizados e formaram um enorme império, dificultando a
1776: Segundo Congresso da Filadélfia
colonização feita pelos espanhóis.
Declaração da Independência dos EUA
AFIRMATIVA III: Está incorreta, pois os maias foram as únicas
Guerra de independência (apoio da França aos EUA) civilizações pré-colombianas que não formaram um império,
mas estruturas administrativas independentes.
1783: Reconhecimento da Independência pela Inglaterra.
AFIRMATIVA IV: Está correta, pois os astecas eram muito
1787: CONSTITUIÇÃO (primeira e única) regida pelos seguintes cruéis com os prisioneiros de guerra, fazendo sacrifícios
princípios: humanos e subjugando muitas tribos a impostos bem
elevados.
- Presidencialismo, federalismo (autonomia dos estados),
republicanismo (presidente eleito de 4 em 4 anos em um
sistema republicano).
 ATIVIDADES
- Contradição: manutenção da escravidão no sul, o que será
causa de um conflito interno chamado de Guerra de Secessão 01) (UFJF) Leia as afirmativas abaixo sobre as medidas
(conflito que veremos posteriormente, assim como a posterior adotadas pela Inglaterra ao final da Guerra dos Sete Anos, que
expansão americana rumo a oeste consequente deste visavam alterar as suas relações políticas e econômicas e
processo). submeter as suas colônias da América do Norte.

I. Um dos dilemas do governo britânico era que as 13 colônias


americanas desfrutavam de autonomia do ponto de vista
 VAMOS FAZER político e administrativo, sendo geridas pelos colonos por
meio de Assembléias Coloniais.
01) (UFV) Antes da conquista europeia, floresceram no
continente americano as civilizações inca, maia e asteca. II. Desde o início da colonização inglesa da América do Norte,
as colônias localizadas ao sul desenvolveram maior afinidade
Analise as afirmativas abaixo sobre estas sociedades: com a Inglaterra devido aos interesses comerciais. O sul
vendia os seus produtos tropicais para a Inglaterra e consumia
I. O Império Inca estendia-se pela Cordilheira dos Andes, os produtos manufaturados ingleses
incluindo territórios hoje pertencentes à Bolívia, Peru, Chile,
Colômbia e Equador. Estima-se que, no início do século XVI, III. As colônias do centro e do norte eram vigiadas porque a
sua população somava cerca de 12 milhões de indivíduos. frota dessas colônias concorria com o comércio inglês. Essas
colônias, proibidas de comercializar com as outras colônias
II. Os astecas, por serem bastante numerosos e organizados inglesas na América, com o Caribe e com a Europa, acataram
em um forte império, dificultaram bastante o processo de sua essa proibição.
conquista pelos espanhóis.
IV. Uma importante razão de ordem política da revolta dos
colonos da Nova Inglaterra foi a desigualdade de
III. Os maias constituíram o mais centralizado dos sistemas
políticos da América Indígena, com a organização de um
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representação política, pois apenas os colonos do sul estavam O texto acima reflete um dos pontos centrais de discórdia que
representados no Parlamento inglês. geraram a Guerra Civil Americana. Esta guerra civil foi o
resultado:
É CORRETO o que se afirma em:
a) da ação imperialista americana que, a partir da Doutrina
a) I e II. Monroe, passou a intervir na América Latina.

b) I e IV. b) da luta entre os colonos e a Metrópole Inglesa, o que


redundaria na independência dos Estados Unidos.
c) II e III.
c) da oposição dos interesses dos Estados do Sul e do Norte
d) I, II e III. em torno da questão da escravidão e da expansão para o
Oeste.
02) ENEM. Em 1807, o naturalista prussiano Alexander Von
Humboldt afirmou que, na Espanha, o fato de não se possuir d) da Grande Depressão, intensificando a pobreza e o
ascendentes judeus ou árabes constituía uma espécie de título desemprego nas grandes cidades americanas.
de nobreza, enquanto na América a cor da pele (mais ou
menos branca) indicava a posição social do indivíduo. Essas 04) ENEM. Leia o texto abaixo:
práticas discriminatórias têm longínquas raízes históricas, que A conquista era um grito de guerra e ao mesmo tempo de
remetem à reconquista da Península Ibérica e à colonização desafio e de triunfo -– o grito de homens firmemente
da América. convencidos de que seriam os vencedores. Essa confiança em
sua própria superioridade em relação aos inimigos que
A partir dessas informações, leia atentamente os itens abaixo. largamente os superavam em número estava baseada numa
efetiva superioridade das técnicas. Mas por trás de quaisquer
I. Na reconquista da Península Ibérica, processo que
fatores materiais estava um conjunto de atitudes e respostas
antecedeu à expansão ultramarina, os cristãos promoveram a
que davam aos espanhóis uma vantagem em muitas situações
expulsão ou subordinação de grupos étnicos mouros e judeus.
em que se envolveram: uma fé instintiva na superioridade
II. As ações dos tribunais da Inquisição tinham por objetivo natural dos cristãos sobre simples 'bárbaros'; um senso da
deter o avanço do protestantismo, mas estimularam também natureza providencial de se empreendimento, que tornava
as discriminações contra os não-cristãos. todo sucesso contra desvantagens aparentemente
esmagadoras, mais uma prova de seu favor divino; e um
III. O envolvimento de judeus e muçulmanos na conquista e sentimento de que a recompensa final compensava todos os
colonização do Novo Mundo eliminou as práticas sacrifícios ao longo do caminho. A perspectiva do ouro
discriminatórias contra estes povos no continente europeu. tornava toleráveis todas as dificuldades.
(Adaptado de: ELLIOT, J. H. A conquista espanhola e a
IV. A colonização da América não criou barreiras à ascensão colonização da América. In: BETHELL, Leslie. História da
social dos não-espanhóis, o que fica evidenciado pela forte América Latina. São Paulo: Edusp; Brasília: Fundação
mestiçagem desde o início da conquista do continente. Alexandre Gusmão, 1998. v. 1, p. 167.)

V. A preponderância do fator religioso na reconquista da


Península Ibérica promoveu uma maior homogeneização da De acordo com o trecho acima, relacionado à conquista da
população do que na América portuguesa e espanhola. América, é CORRETO afirmar que:
Estão CORRETOS apenas os itens:
a) a única motivação dos espanhóis na conquista foi a
a) I, II e V. conversão dos indígenas, razão pela qual aqueles enfrentaram
calados todas as dificuldades em terras americanas.
b) I, IV e V.
b) a superação numérica dos soldados espanhóis em relação
c) II, III e V. aos indígenas contribuiu para a vitória dos primeiros em
relação aos segundos.
d) II, III e IV.
c) o domínio técnico, o sentimento de superioridade da
03) (UFMG) "Os Estados Confederados podem adquirir novo religião cristã e as perspectivas de enriquecimento foram
território. [...] Em todos esses territórios, a instituição da fatores que garantiram o sucesso da conquista pelos
escravidão negra, tal como ora existe nos Estados espanhóis.
Confederados, será reconhecida e protegida pelo Congresso e
pelo governo territorial; e os habitantes dos vários Estados d) os cristãos eram culturalmente superiores aos indígenas e
Confederados e Territórios terão o direito de levar para esse consideravam a disseminação da religião católica como uma
território quaisquer escravos legalmente possuídos por eles em prioridade, obtendo, por isso, sucesso na conquista.
quaisquer Estados ou Territórios dos Estados Confederados
[...]." e) A superioridade bélica dos espanhóis sobre os índios não
constituiu uma vantagem no processo de conquista, uma vez
(Constituição dos Estados Confederados da América, Art. IV,
que os nativos eram muito mais numerosos e não temiam os
seção 3, 1861.)
europeus.
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Como navios franceses retiravam ilegalmente o pau-brasil, o
rei D. Manuel I reclamou junto ao embaixador da França,
05) (UFJF) A independência das 13 colônias inglesas da porém sem sucesso. O pau-brasil era conhecido na Europa
América do Norte - a Revolução Americana - resultou: desde os tempos medievais. Os árabes traziam essa madeira
da Índia, através do Mar Vermelho. Como o interesse
I - do desdobramento natural da relativa autonomia mercantil da metrópole estava voltado para o Oriente, o
econômica e política dessas colônias de povoamento; governo adotou a prática do arrendamento da exploração.
II - da reação dos colonos às medidas fiscais e administrativas Havia abundância de pau-brasil ao longo do litoral, desde a
tomadas pela Inglaterra após a Guerra dos Sete Anos; Paraíba até o Rio de Janeiro. E o primeiro grande interessado
na exploração foi Fernão de Noronha, um cristão-novo
III - dos prejuízos causados aos colonos pela política liberal
(expressão que designava os judeus da península Ibérica,
inglesa, que aboliu o "pacto colonial";
convertidos ao cristianismo, para escapar das perseguições da
IV - da manutenção e intensificação das práticas mercantilistas Inquisição).
britânicas que se opunham ao "comércio triangular".
O trabalho dos indígenas era voluntário. Trabalhavam em tro-
Assinale se estão corretas apenas: ca de pequenos objetos reluzentes (espelhos) ou de utensílios
como facas, machados, tesouras etc. O trabalho era obtido
a) I e III através do escambo, ou seja, a troca de produtos e serviços.

b) II e IV Mas a exploração do pau-brasil não foi responsável direta-


mente pela colonização do país. As feitorias eram abandona-
c) I, II e III das quando a madeira em torno delas se esgotava. Fernão de
Noronha prorrogou o contrato de arrendamento até 1515.
d) I, II e IV Depois, com a possível queda nos lucros, deve ter desistido.

Os nativos tiveram uma participação importante no início da


2. SISTEMA COLONIAL NO BRASIL atividade econômica portuguesa no Brasil. Além de cortar e
transportar a madeira para as feitorias, onde se realizava o
2.1 PERÍODO PRÉ-COLONIAL – 1500 A 1530 escambo, forneciam boa parte da alimentação aos europeus.
Obtinham-na por meio do extrativismo animal e vegetal, além
A preocupação com a acumulação de capitais e a enorme dos produtos de sua lavoura rudimentar.
potencialidade mercantil do mercado asiático, onde havia
sociedades bastante organizadas e produtos de grande A colonização
interesse comercial, mantiveram as atenções de Portugal
voltadas ao Oriente. No Brasil, as comunidades nativas Em 1530 foi enviada uma expedição sob o comando de
praticavam uma economia de subsistência, não geradora de Martim Afonso de Souza. Como a ameaça estrangeira era
excedentes, não necessitando de produtos importados. grande, a Coroa portuguesa foi forçada a efetivar a posse das
Conseqüentemente, o nosso país permaneceu em plano terras, ocupando-as. Todavia, o momento era difícil para
secundário, praticamente abandonado pelos portugueses. Portugal, financeiramente enfraquecido pela concorrência de
outros países europeus no Oriente e o ataque de piratas. Os
A carta de Caminha não indicara a existência de qualquer gastos com a realeza e com a nobreza parasitária, importando
grande riqueza na terra recentemente descoberta. Ademais, produtos de luxo e não fundamentais, tornavam a balança
a metrópole tinha uma pequena população (cerca de 1 milhão comercial deficitária. A perseguição contra os judeus provocou
de habitantes) e não suportaria uma grande emigração para as a saída do país de capitais e pessoas altamente experientes.
regiões descobertas. Além disso, os capitalistas de outros países europeus
cobravam juros elevados sobre os empréstimos concedidos.
A floresta litorânea e a rudimentar civilização indígena, bem
como os perigos e os custos da navegação atlântica, Apesar das dificuldades, o rei D. João III iniciou a colonização
desestimulavam qualquer interesse e esforço maior da do Brasil. Enviou a missão de Martim Afonso de Souza para ex-
metrópole. plorar o litoral, atacar os estrangeiros e montar os primeiros
povoados no Brasil. Tinha o comandante amplos poderes
O reconhecimento do litoral brasileiro se processou nos anos jurídicos, militares e administrativos.
seguintes à descoberta. A primeira expedição exploradora,
comandada por Gaspar de Lemos, saiu de Portugal em 1501 e Os colonos foram distribuídos entre São Vicente e a vila de
trazia o ilustre veneziano Américo Vespúcio. Confirmada a Piratininga, fundada no planalto. Os primeiros ad-
existência do pau-brasil, madeira tintórea utilizada como ministradores foram nomeados, e instalados os primeiros
corante de tecidos, o rei de Portugal decretou sua exploração órgãos judiciais e fiscais. Terras foram distribuídas aos colonos
um monopólio do governo (direito de estanco). e uma fortaleza foi construída para sua proteção.

Gonçalo Coelho comandou a segunda expedição exploradora 2.2 POLÍTICA COLONIAL


ao litoral brasileiro, que, em 1503, fundou uma feitoria na
região de Cabo Frio. As feitorias, depósitos fortificados, eram a Capitanias Hereditárias
presença física portuguesa na colônia, ainda que temporária.

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O sistema administrativo das capitanias hereditárias As a) direito de exploração de minas e jazidas, desde que pago o
precárias condições financeiras do Reino não permitiram que quinto;
o governo assumisse diretamente a tarefa de colonizar. A
imensidão da terra e a grandiosidade da empresa colonizadora b) posse de sesmarias, desde que pagos os dízimos;
estavam acima das possibilidades financeiras do Estado
metropolitano. A saída foi delegar a colonização à iniciativa c) liberdade para importar gêneros e produtos essenciais para
particular.
sua subsistência;

d) livre locomoção e comunicação entre as capitanias.

O sistema se caracterizou pela descentralização administrati-


va da Colônia e era constituído de unidades autônomas e
auto-suficientes. O donatário era o principal investidor,
responsável pelo aproveitamento das terras.

Mas as dificuldades foram inúmeras, provocando o fracasso,


em geral, do sistema. Poucos donatários se interessaram pelo
empreendimento, alguns nem vieram ao Brasil. Faltaram
capitais e apoio por parte da Coroa. As distâncias dificultavam
as comunicações entre as capitanias, e entre as capitanias e o
Reino. Não se considerou a grande extensão territorial.

Foram bem-sucedidas apenas as capitanias de Pernambuco e


São Vicente, ambas favorecidas pelo cultivo canavieiro. O
donatário de Pernambuco, Duarte Coelho, beneficiou-se das
condições naturais favoráveis, de seu conhecimento comercial
e da habilidade no trato com os índios.

O governo optou pela adoção do sistema de Capitanias Here-


ditárias, que havia dado bons resultados nas ilhas atlânticas O sistema de Governo Geral
portuguesas, como em Madeira. Foram criadas inicialmente
Em 1548, foi criado o sistema de Governo Geral, mas as capi-
14 capitanias, divididas em 15 lotes. Doze proprietários ou
tanias continuaram existindo, até 1759, quando o marquês de
donatários, geralmente fidalgos, receberam as capitanias
Pombal, ministro do rei, extinguiu as últimas capitanias
doadas entre 1534 e 1536.
hereditárias.
Sua distribuição era feita pela “Carta de Doação”, que dava
O governo português foi levado a criar o Governo Geral por-
poder ao capitão donatário de tomar posse da terra, das suas
que a grande maioria das capitanias havia fracassado.
rendas e de todas as coisas compreendidas na doação. O Foral
Também porque havia a necessidade de melhor defender o
regulava os direitos e obrigações dos donatários, que não
território de ataques de navios estrangeiros e proteger os
receberam as capitanias como proprietários da terra, mas do
colonos dos ataques indígenas. Finalmente, se em Portugal
seu usufruto e administração. Portanto, não podiam vendê-
havia um sistema administrativo centralizado, na colônia não
las.
podia ser diferente.
O estatuto das capitanias protegia os colo-nos contra os
Para instalar a sede do Governo Geral, a Coroa desapropriou a
abusos dos donatários. Ao donatário cabia o direito de:
capitania da Bahia, indenizando seu proprietário. O
a) transferir a propriedade hereditariamente, desde que instrumento legal que criou o novo sistema foi o Regimento
cumpridas as obrigações; de 1548, também chamado Regimento de Tomé de Souza,
nome do primeiro governador. Ele continha os direitos e
b) fundar da vilas; deveres dos governadores, e pouca modificação sofreu ao
longo do período colonial.
c) nomear ouvidores (juízes) e tabeliães;
Cabia a ele coordenar a defesa interna e externa do território,
d) estabelecer a jurisdição civil e criminal; em casos especiais, incentivar a economia, organizar a administração pública e a
podia decretar a pena de morte; justiça e cobrar os impostos e taxas devidos ao governo
metropolitano. Era auxiliado pelo provedor-mor (Fazenda),
e) doar sesmarias aos colonos, que deveriam ser cultivadas; pelo ouvidor-mor (Justiça) e pelo capitão-mor (Defesa). Como
consequência, o Governo Geral reduzia os poderes político-
f) recolher tributos e impostos. administrativos dos capitães donatários.
Os colonos tinham seus direitos assegurados pelos forais, O Regimento de 1548 estabelecia as atribuições e autoridade
como: do governador geral. Este documento, trazido pelo primeiro
governador, Tomé de Souza, determinava:

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1) conceder terras aos índios amigos, mas proibir o As atribuições das Câmaras Municipais no Brasil foram regu-
fornecimento de armas a eles; lamentadas pelas Ordenações Manoelinas e Filipinas, as últi-
mas promulgadas ao tempo da dominação espanhola em
2) aplicar pena de morte para os que escravizassem Portugal (1580 a 1640). Formadas pelos vereadores, sob a
abusivamente o indígena; chefia de um juiz, intitulavam-se Senado da Câmara.
3) percorrer e fiscalizar toda a costa, expulsando os navios não As Câmaras eram órgãos secundários da administração colo-
portugueses; nial. Eram compostas por vereadores originários e eleitos pela
camada dos grandes proprietários rurais, que se autodenomi-
4) obrigar os donatários e senhores de engenho a auxiliar na navam “homens bons”. Cuidavam dos problemas políticos,
defesa do território; administrativos, judiciários, fiscais, monetários, mas apenas
localmente. A presidência cabia a um juiz, de fora ou local
5) estimular a construção de navios;
(ordinário).
6) fiscalizar o monopólio real do pau-brasil e os rendimentos
Os franceses invadiram o Brasil e o local escolhido para a
das capitanias;
fundação da colônia foi a região do Rio de Janeiro,
7) conceder sesmarias e explorar o sertão, efetivando o denominada França Antártica. Mas havia entre os pro-
domínio do território. testantes franceses e colonos, muitos católicos. Assim, além
das dificuldades naturais, outro grave problema foi as
O provedor-mor assessorava o governador, controlando a fis- divergências religiosas.
calização tributária, especialmente o setor do comércio
externo, por meio das alfândegas; encarregando-se da Os portugueses muito pouco puderam fazer para combater os
correspondência oficial; zelando pelos monopólios reais, franceses, apoiados pelos índios tamoios. Em 1557 começava
acompanhando o governador nas inspeções pelas capitanias e o governo de Mem de Sá, terceiro governador geral do Brasil.
exigindo prestação de contas anuais das receitas das Mesmo assim procurou e obteve o apoio dos colonos e
capitanias. jesuítas, ao incentivar a plantação canavieira através da
importação de mais escravos africanos. Seu grande feito foi a
O ouvidor-mor era a maior autoridade judiciária colonial, po- campanha contra os franceses, para a qual solicitou auxílio da
dendo inclusive condenar o culpado à pena de morte. O metrópole, em 1563. Uma expedição foi enviada, sob o
capitão-mor estava incumbido da defesa geral do Brasil. comando de Estácio de Sá, seu sobrinho.

O rei escolheu Tomé de Souza, por ser um homem rígido. Ele Os nativos tinham estabelecido a Confederação dos Tamoios,
governou o Brasil de 1543 a 1553, implantando a mas a ação dos jesuítas Nóbrega e Anchieta, que se
centralização. Preocupou-se em combater os tupinambás que ofereceram como intermediários nas negociações, conseguiu
ameaçavam os colonos, organizar a defesa do litoral e a paz com os índios, isolou os franceses que foram derrotados.
estimular a colonização.
As dificuldades de comunicação e administração levaram, em
Fatos importantes ocorreram durante a sua administração, 1572, D. Sebastião, novo rei de Portugal, a dividir o Brasil em
como a fundação de Salvador, em 1549, para ser a capital do dois governos. O governador do Norte, D. Luís de Brito, tinha
governo; a chegada dos primeiros jesuítas, liderados por sob sua jurisdição as capitanias acima de Porto Seguro. A capi-
Manoel da Nóbrega; a introdução de gado no Nordeste; tal era Salvador. Ao Sul, com sede no Rio de Janeiro, o governo
fundação de vilas como Santo André, na região planaltina da foi exercido por D. Antônio Salema. Em 1577, Portugal optou
capitania de São Vicente; criação do primeiro bispado, na pela unidade política. Em 1608, foi realizada nova divisão que
Bahia. durou apenas 7 anos.

Duarte da Costa, segundo governador, administrou de 1553 a Por fim, de 1621 a 1774, o Brasil foi dividido em dois Estados:
1558. Por ser menos duro, os donatários descontentes se o Estado do Maranhão, com capital inicial em São Luís até
rebelaram. Houve também disputas entre os colonos, os 1737, quando foi transferida para Belém, passando a chamar-
padres e o bispo D. Pedro Fernão Sardinha, motivadas pela se Estado do Grão-Pará e Maranhão; e o Estado do Brasil, com
questão da escravidão dos índios. O filho do governador, capital em Salvador até 1763, quando ela foi transferida para
Álvaro da Costa, favorável ao apresamento de índios, liderou a o Rio de Janeiro.
oposição anticlerical. Notícias sobre o conflito entre o
governador e o bispo chegaram ao conhecimento do governo
metropolitano. O bispo foi chamado a Portugal, porém vítima
2.3 ECONOMIA COLONIAL / SOCIEDADE E CULTURA
de um naufrágio foi devorado pelos indígenas do litoral de
COLONIAIS
Alagoas.
A montagem da produção açucareira
Houve a chegada de outro grupo de jesuítas, entre eles José
de Anchieta, além do estímulo à imigração de mulheres órfãs A colonização portuguesa no Brasil correspondeu aos princí-
para se casarem com colonos, a fundação do Colégio de São pios mercantilistas. A colônia existia em função do capital
Paulo, por Nóbrega e Anchieta, em 1554, origem da cidade do comercial europeu, ou seja, como um dos meios utilizados
mesmo nome e a invasão francesa da baía de Guanabara. para acumulação de capital. A união entre a burguesia
mercantil e a monarquia moderna estimulou o processo de
As Câmaras Municipais

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centralização política na Europa e deu características próprias cuidado com as plantações era uma tarefa feminina; sua forte
à empresa colonizadora européia. resistência à escravização, procurando fugir. Em casos
extremos, recorriam ao suicídio.
A colonização uniu ainda mais o Estado absolutista e a
burguesia mercantil, que investia e financiava a colonização. O uso do africano se ajustava aos interesses dos colonos, pois
O Estado metropolitano orientava o processo de colonização, era trazido na condição de escravo já adaptado ao trabalho
elaborava as leis, nomeava os governantes e arrecadava agrícola; o tráfico era benéfico ao governo português, que
impostos e taxas. cobrava impostos sobre a mercadoria importada, que, neste
sentido se constituía em uma mão-de-obra que saia barata e
O açúcar era uma especiaria rara na Europa no início dos lucrativa.
Tempos Modernos. Originária da Índia era trazida pelos mer-
cadores italianos que a compravam dos árabes. A grande O engenho
procura, bons preços, a facilidade de colocação do produto no
mercado europeu e a perspectiva de enormes lucros Três eram os elementos arquitetônicos básicos de uma fazen-
estimularam, no século XV, o plantio da cana nas ilhas do da canavieira: a casa-grande, residência do senhor de
Atlântico (Madeira, Açores, Cabo Verde, São Tomé) com bons engenho, que nela vivia com sua família e agregados, símbolo
resultados. Contudo, foi no Brasil que a lavoura alcançou do seu poder, pois também era o local de onde ele
grande extensão e sucesso. administrava toda a propriedade; a senzala, habitação coletiva
dos escravos e a capela, local de serviços religiosos.
Embora conhecido na Ásia desde antes da era cristã, o açúcar
somente muitos séculos depois foi introduzido na Europa Além da produção de açúcar, da cana se produzia ainda o
pelos árabes. A Sicília era o principal ponto de distribuição. melado, a rapadura – largamente utilizados na alimentação
Produto raro, considerado uma especiaria, tal era o seu valor dos colonos e escravos – e a aguardente. Esta última era
que chegou a aparecer em testamentos. Era um dos presen- utilizada na África para a obtenção de escravos.
tes régios mais apreciados.
Inicialmente, devido às dificuldades de comunicação com a
O litoral nordestino apresentava condições naturais favorá- Metrópole, a importação de produtos artesanais era custosa.
veis para o plantio de açúcar. Solo de massapê e clima quente Assim, procurou-se produzir tudo o que era possível no
e úmido beneficiavam a lavoura canavieira. Porém, a próprio engenho.
produção exigia grandes investimentos na instalação do
engenho, nos transportes, na aquisição de mão-de-obra A produção do açúcar no Período Colonial A cana era trazida
escrava negra e na comercialização do produto na Europa, em ao engenho em carros de boi. Na casa da moenda, ela era
um momento em que Portugal se encontrava descapitalizado. moída em cilindros rotativos, movidos por força animal
A solução foi conseguir um sócio capitalizado. (trapiche) ou hidráulica (engenhos reais). Como o elemento
principal na produção do açúcar era o engenho, toda a
O papel dos Países Baixos (Holanda) Desde a criação da rota propriedade passou a ser chamada de engenho.
marítima Mediterrâneo – mar do Norte, contornando a
península Ibérica, havia uma estreita vinculação comercial Muitos fazendeiros não tinham capital, próprio ou em forma
entre Portugal e os Países Baixos. Quando os judeus foram de empréstimo, para construir o seu engenho. Plantavam cana
expulsos de Portugal, muitos optaram por se estabelecer, com e utilizavam um engenho próximo para produzir açúcar. Eram
os seus capitais e navios, na Holanda. as “fazendas obrigadas”. O pagamento pelo uso do engenho
correspondia à metade do açúcar obtido (meação).
Os holandeses financiaram a instalação de engenhos,
antevendo grandes lucros. Reservaram para si a comerciali- O litoral nordestino tornou-se o maior produtor mundial no
zação do açúcar no mercado europeu, que inclusive era refi- final do século XVI (1580). O mercado europeu estava em
nado em Amsterdã. Assim, Portugal colocou-se em uma expansão e não havia grande concorrência internacional. Mas
posição intermediária. esta situação se modificou quando os holandeses passaram a
produzir açúcar nas Antilhas, a partir da metade do século XVII
O Brasil produzia açúcar, exportado para Portugal e, pos- Agravou-se a crise com a grande descoberta de ouro, na
teriormente, a maior parte seguia para a Holanda, para ser última década desse século, ocorrendo o desloca-mento do
distribuída no mercado europeu. Embora, certamente, todos eixo econômico do Nordeste para o Centro-Sul.
os três se beneficiassem, o lucro maior pertencia aos ho-
landeses por estarem em contato direto com os maiores União Ibérica e a invasão holandesa no nordeste brasileiro
consumidores. Além disso, os holandeses possuíam vasta rede
de comercialização na Europa. Ainda no período do desenvolvimento da lavoura de açúcar no
Brasil ocorreu um fato inusitado. Em 1578, governava Portugal
A produção açucareira tinha por base o plantation, cujas o rei D. Sebastião, da Dinastia de Avis. Fanático católico, deci-
características fundamentais eram a produção ser voltada diu ressuscitar a tradição cruzadística, ao liderar um movimen-
para a exportação, grande propriedade (latifúndio), to expansionista no norte africano. Tentou conquistar o
monocultura e utilização de mão-de-obra escrava, Marrocos, terra moura. Na batalha de Alcácer-Quibir, o rei
predominantemente negra. morreu, originando então a lenda do sebastianismo, isto é,
que D. Sebastião um dia voltaria para governar Portugal,
Diversos fatores colaboraram para a utilização do escravo ne-
resolvendo todos os problemas do país.
gro. O lucro com o tráfico negreiro, a inadaptabilidade do
índio ao trabalho sedentário; o fato de que entre os índios o
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D. Sebastião não deixou herdeiros diretos. Imediatamente coloniais prenderam e executaram Domingos Fernandes
levantou-se a questão dinástica. A questão da sucessão ficou Calabar.
muito delicada. Felipe II, rei da Espanha, era neto de D.
Manoel, e pertencia à dinastia Habsburgo. Felipe tentou a Os invasores consolidaram suas conquistas. A Companhia das
posse do trono por vias diplomáticas; mas, diante da negativa Índias Ocidentais contratou o conde Maurício de Nassau, para
portuguesa, usou a força. ser o governador-geral do Brasil Holandês por 5 anos. Ele che-
gou ao Nordeste em 1637 e expandiu o domínio territorial
O monarca espanhol fez-se aclamar rei de Portugal (União holandês desde a foz do rio São Francisco até o Ceará. Para
Ibérica), mas pelo Juramento de Tomar (1581), a união não garantir o fornecimento de escravos africanos, enviou uma
implicava em fusão econômica e administrativa. O Estado expedição que conquis-tou São Jorge da Mina, o mais impor-
português mantinha sua autonomia, legislando suas próprias tante mercado de escravos na costa ocidental africana
leis, e os postos administrativos lusos continuaram em suas
mãos. A União Ibérica provocou uma reação européia, cujos Mas em 1640 ocorreu em Portugal a Restauração. Chegava ao
reflexos atingiram o Brasil, trazendo-lhe conseqüências fim o domínio espanhol e uma nova dinastia, a dos Bragança,
desastrosas. governava Portugal. O novo rei, D. João IV, imediatamente
declarou a Espanha inimiga e procurou aproximar-se dos
Felipe II interveio em todas as questões internacionais holandeses, assinando uma trégua de 10 anos.
européias, conquistando muitos inimigos, que revidaram
atacando as colônias. Exemplos disso foram as invasões Como conseqüência, cessou a resistência no Brasil. Os holan-
franceses e holandesas. deses aproveitaram para conquistar Angola, interrompendo o
tráfico de escravos para o Brasil. Nassau ampliou os domínios
A Holanda era uma província sob domínio dos Habsburgos do Brasil holandês até Sergipe e chegou a dominar
Que esteve sob domínio da Espanha até que, em 1581, con- temporariamente o Maranhão.
seguiu libertar-se à força. Constituiu-se então a República das
Províncias Unidas do Norte. Era preciso retomar a produção e exportação de açúcar. A
Companhia financiou a reconstrução dos engenhos
Os interesses comerciais dos holandeses estavam muito en- destruídos durante as lutas. Nassau publicou edital proibindo
trelaçados com os dos portugueses. Desde o tempo das Gran- cobrança de juros acima de 18% ao ano. Os impostos foram
des Navegações, capitais flamengos (holandeses) financiavam reduzidos e as técnicas mais aprimoradas foram introduzidas
as expedições. Com a implantação da empresa açucareira no nos engenhos. Estimulou-se a agricultura de subsistência,
Brasil, as relações com os holandeses se estreitaram. sendo os proprietários obrigados a produzir uma certa
Financiavam a construção de engenhos, transportavam, quantidade de mandioca por cabeça de escravo.
refinavam e distribuíam o açúcar brasileiro pela Europa, com
enorme margem de lucro. Durante a administração de Nassau, ocorreram melhoramen-
tos urbanísticos e artísticos, como:
Com a União Ibérica, Felipe II determinou que os produtos
coloniais do mundo ibérico não mais fossem vendidos aos a) reurbanização do Recife, com a construção de pontes,
holandeses, visando arruinar o inimigo. Como resposta a esta canais, palácios, museu, jardins e observatório astronômico;
ação, em 1621, foi fundada a Companhia das Índias
Ocidentais (pelos holandeses), que foi responsável pelo b) construção de Maurícia, uma nova cidade anexa a Recife,
ataque a Salvador em 1624. com os padrões urbanísticos da Holanda.

A resistência colonial fez-se a partir dos arredores da cidade, c) vinda de pintores como Albert Eckhout e Frans Post, que
onde tinha se refugiado a população da cidade. Com o apoio retrataram cenas da vida do Brasil holandês; do naturalista
dos índios, dos proprietários rurais e de uma poderosa frota Marcgrave, autor de História natural brasileira; do médico
espanhola, os governantes coloniais sitiaram a cidade e Willelm Piso, autor de um tratado sobre a medicina brasileira.
cortaram o fornecimento de suprimentos. No ano seguinte, os
Outra medida importante foi a tolerância religiosa. Embora
holandeses capitularam e abandonaram Salvador.
protestante, Nassau assegurou direitos aos judeu, que
Em 1630, uma frota inimiga surgiu no litoral pernambucano e construíram duas sinagogas no Recife. Os colonos, católicos,
passou a bombardear Olinda, a capital. Tropas holandesas também tinham liberdade religiosa.
desembarcaram enquanto o governador ordenava a retirada.
A Insurreição Pernambucana
Mais uma vez a alternativa era a luta de guerrilhas. Os ataques
guerrilheiros obrigaram os holandeses a abandonar Olinda, A Companhia das Índias Ocidentais passou a criticar a ação de
não sem antes incendiá-la. Agruparam-se no Recife e a guerra Nassau, acusando-o de tentar fundar um império pessoal. Em
não se definia. Foi quando ocorreu a deserção do mulato sua administração, os lucros para os acionistas holandeses não
Calabar, militar educado pelos jesuítas e proprietário de foram os esperados. Vencido seu contrato em 1644, voltou
engenhos. para a Europa.
Calabar, conhecedor da região, auxiliou os invasores a furar o A partir da saída de Nassau as coisas se complicaram para os
cerco da guerrilha e levou-os à conquista do arraial de Bom colonos. Os novos administradores mudaram completamente
Jesus. Praticamente todo o litoral, de Pernambuco ao Rio a política da companhia, com a cobrança forçada dos
Grande do Norte, estava sob domínio holandês. Ao reto- empréstimos em atraso e confisco dos engenhos hipotecados.
marem Porto Calvo, no atual estado de Alagoas, as tropas

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Os atritos e antagonismos com os colonos cresceram, vindo à interior. As terras do litoral foram reservadas para o cultivo da
tona o sentimento nativista dos habitantes da colônia. cana, uma vez que eram mais férteis. Afinal, o açúcar propi-
ciava o grande lucro para a Metrópole.
Portugal, enfraquecido, não estava em condições de expulsar
os holandeses do Brasil, pois ainda lutava contra os espanhóis. O que permitiu expandir a fronteira da colônia portuguesa
Por isso, seu rei, D. João IV, optou por incentivar os colonos à para o interior do continente foram as fazendas de criação,
rebelião. O que não foi difícil na medida em que os senhores que espalharam-se pelo sertão do Nordeste, no século XVII, de
de engenho estavam endividados com os holandeses. preferência ao longo dos cursos d’água.

Em 1651, a Inglaterra editava o Ato de Navegação que atingia O gado bovino fornecia carne e leite para consumo, além do
duramente os holandeses, pois impedia a sua intermediação. couro, matéria-prima para o artesanato. Os engenhos movidos
Pelo Ato, somente países produtores das mercadorias a força animal necessitavam de muitos bovinos, muares e
poderiam transportá-las para a Inglaterra. O açúcar era eqüinos. O transporte do açúcar era feito em lombo de burro,
produzido no Brasil, legalmente uma colônia portuguesa. Em daí a importância da criação desses animais para a empresa
1653, uma frota portuguesa cercou Recife. No ano seguinte, açucareira.
na Campina da Taborda, os holandeses se renderam. Termi-
nava, assim, a história do Brasil holandês. As fazendas de criação no sertão expandiram-se rapidamen-
te. Eram estabelecidas com relativa facilidade, pois não havia
DICA: Portugal corria risco de ser totalmente invadido pelos tanta necessidade de capital. O vaqueiro (peão) era pago pelo
holandeses e ter prejuízos enormes por não ceder a pressão proprietário com uma cria a cada quatro nascidas e mantidas
flamenga em Pernambuco. Porém, a partir de 1651 a Holanda vivas. Portanto, a mão-de-obra era livre e assalariada (em es-
teve questões mais importantes para resolver com a pécie), e predominava o mameluco, cruza das etnias branca e
Inglaterra, fato que favoreceu a expulsão definitiva dos indígena.
holandeses do nordeste brasileiro, além das questões
abordadas logo abaixo. A interiorização das fazendas de gado alargou imensamente
as áreas de colonização portuguesa. No século XVII, pratica-
Em 1661, pela Paz de Haia, Portugal concordava em pagar a mente todo o sertão nordestino estava ocupado, ainda que
indenização de 4 milhões de cruzados para os holandeses de- por uma população pequena e esparsa. No século seguinte
sistirem definitivamente da posse de terras brasileiras. A ocorreu a expansão da pecuária (bovinos e muares) nos
expulsão dos holandeses do Brasil trouxe duras consequên- campos sulinos.
cias para a economia colonial. Ao se estabelecerem nas
Antilhas, os holandeses quebraram o monopólio de A expansão territorial e o desenvolvimento da pecuária
produção do açúcar que por um século pertencera aos fizeram surgir uma nova figura social, o tropeiro. Com seus
portugueses. Com técnicas mais evoluídas de cultivo da cana e muares e bovinos desbravava o sertão, fundava pousadas que
produção do açúcar, muito mais capacitados na sua se transformaram em vilas, fixava o colono à terra, transmitia
comercialização, os holandeses venceram a concorrência com notícias, abastecia regiões e era o elo de ligação entre as
os luso-brasileiros. várias regiões.

O resultado imediato da crise do açúcar no nordeste brasileiro Houve muitas pessoas que deixaram a Metrópole na
foi a interiorização da colônia, iniciada pelos bandeirantes esperança de tornar-se proprietário de terras na colônia. Os
paulistas na busca de metais preciosos, uma vez que a crise que não recebiam sesmarias tentavam a administração
econômica era enorme. pública ou o comércio. Por isso, as maiores concentrações de
portugueses estavam nos centros urbanos.
(OBS: no próximo tema sobre o Brasil trataremos mais
especificamente da mineração dentro do contexto da crise No Brasil colônia ocorreu um intenso processo de
do sistema colonial). miscigenação étnica, envolvendo as etnias branca, indígena e
negra, que gerou os mestiços. Além dos mamelucos,
A pecuária colonial resultantes da miscigenação entre brancos e índios, havia os
mulatos, união do branco e do negro, e o cafuzo, originário da
A introdução do gado bovino no Brasil ocorreu com a expe- relação entre negros e indígenas, mas em número bem
dição de Martim Afonso de Souza, quando os primeiros ani- reduzido. Os portugueses eram dominantes política e
mais foram trazidos para São Vicente. A pecuária se desen- economicamente; por isso, se impunham às demais etnias,
volveu em condição subsidiária da lavoura canavieira, estimulando um “embranquecimento” populacional. Mesmo
embora de grande importância para a economia colonial. assim, a base da população brasileira era mestiça.
DICA: embora muitos historiadores afirmem que a A elite social colonial era predominantemente rural,
produção da colônia era toda voltada para os interesses escravista, agrária, conservadora, aristocrática e patriarcal. A
mercantilistas da metrópole, ou seja, destinada ao mercado sociedade era bipolarizada entre os senhores de engenho,
externo, a pecuária foi uma exceção, pois se voltou para o dominantes; e os escravos, dominados. Raramente o negro
consumo interno e contou com uma mão-de-obra livre. saía de sua condição de escravo, não possuindo direito algum.
Nas zonas agrícolas, praticamente não havia mudanças sociais.
A princípio, o gado era criado na própria fazenda canavieira,
fornecendo força de tração, transporte, alimento e matéria- Os donos de terras constituíam a aristocracia agrária, dona
prima (couro). Entretanto, à medida que ocorreu a expansão dos privilégios. Junto com as altas autoridades civis, militares e
da área cultivada, a criação de gado foi deslocada para o
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eclesiásticas, gozavam de prestígio social. A lei se baseava na o governador de Pernambuco e Ganga Zumba, importante
tradição e costumes (consuetudinária). líder palmarino, assinaram o “acordo de Recife”. Por esse
tratado, o governo pernambucano reconhecia a liberdade de
A mulher branca era vista como apenas geradora de herdei- todos os negros nascidos em Palmares e concedia a utilização
ros. Não possuía voz ativa. Para evitar a divisão do engenho, a dos terrenos localizados na região norte de Alagoas.
herança cabia ao primogênito. O casamento da filha era uma
decisão paterna e, em geral, ela se casava com um parente Alguns membros do Quilombo não aceitaram o termo
próximo. A submissão da mulher passava do pai para o estabelecido por Ganga Zumba, que acabou sendo
marido. A outra alternativa era o convento. envenenado por seus opositores quilombolas. A partir de
então, o controle de Palmares passou para as mãos de Zumbi,
A base da economia se assentava na mão-de-obra escrava. que não aceitava negociar com as autoridades e preferia
Milhões foram trazidos à força da África e obrigados a sustentar a situação de conflito. Com essa opção, estava
trabalhar praticamente até os fins dos seus dias. Eram vistos traçado o caminho que culminaria na destruição do quilombo.
como um instrumento de produção, sem direitos ou Em 1695, Zumbi foi morto e degolado pelos bandeirantes, que
recompensas, uma mercadoria, que se vende e compra, enviaram a sua cabeça até Recife como símbolo maior da
gerando lucros. Sua função era a de gerar mercadorias, que vitória contra os quilombolas palmarinos.
enriqueciam seus proprietários.

Procediam de diferentes regiões da África, portanto, traziam


também culturas diferentes. Predominaram os:
 VAMOS FAZER
a) Sudaneses, islamizados, que agrupavam os representantes
1) Em relação a colonização portuguesa na América é
das culturas nagô e iorubá da Nigéria. Desembarcaram
INCORRETO afirmar que:
principalmente na Bahia.

b) Bantos, abrangendo as culturas angolana e congolesa. Eram a) No período inicial do processo de conquista Portugal optou
originários das costas de Angola e Moçambique. Foram por não realizar a ocupação efetiva do território brasileiro,
trazidos predominantemente para Pernambuco e Rio de pois o comércio com o oriente era mais lucrativo e não houve,
Janeiro. a princípio, o encontro de metais preciosos nesta colônia.

Foi grande a influência cultural africana em nossa formação, b) Na busca de centralizar a administração metropolitana
como na língua portuguesa, com a presença de inúmeros sobre a sua colônia, foi criado no Brasil o Governo Geral e, em
vocábulos (oxalá, moleque, acarajé). A cozinha, a religião e a 1549, assumiu o poder Duarte da Costa, como o primeiro
música foram setores profundamente influenciados pelos governador Geral da colônia, tendo como uma de suas
africanos, originando uma riquíssima cultura afro-brasileira. medidas, a criação do primeiro bispado brasileiro.
Apesar da proibição dos escravocratas quanto às práticas
religiosas, estas eram realizadas às escondidas. Para evitar a c) Entre os motivos que explicam a mudança de postura de
punição, os negros misturavam elementos católicos e Portugal na escolha de estabelecer uma ocupação efetiva no
africanos, dando origem ao sincretismo religioso, hoje Brasil, estão a queda do comércio com as Índias e as invasões
presente na umbanda, quimbanda e candomblé. estrangeiras nesta colônia portuguesa.

Houve várias formas de resistência à escravidão, como o sui- d) O sistema de capitanias hereditárias instalado na América
cídio, a fuga, a revolta, o que causava uma perda do capital do portuguesa foi marcada pela descentralização administrativa,
proprietário. Os “capitães-do-mato” eram contratados com a uma vez que as terras foram entregues pela Coroa para que os
função de capturar os fugitivos. Mas a mais famosa forma de capitães donatários pudessem administrá-las.
resistência era a formação de quilombos, com destaque para o
quilombo dos Palmares.
RESOLUÇÃO E COMENTÁRIOS:
Este quilombo foi instalado na serra da Barriga, atual
região de Alagoas. Com o passar do tempo, Palmares se LETRA A: está correta, pois em 1500 os portugueses se
transformou em uma espécie de confederação, que abrigava preocupavam com o comércio oriental, mais lucrativo e não se
os vários quilombos que existiam naquela localidade. Seu dedicaram tanto a ocupação do território brasileiro.
crescimento ocorreu principalmente entre as décadas de 1630
e 1650, quando a invasão dos holandeses prejudicou o LETRA B: ESTÁ INCORRETA, pois o primeiro governador geral
controle sobre a população escrava. na colônia foi Tomé de Souza.

LETRA C: Está correta, pois a partir de 1530, Portugal tem


A prosperidade e a capacidade de organização desse imenso
concorrência no comércio oriental e ocorrem invasões
quilombo representaram uma séria ameaça para a ordem
externas, fazendo necessária uma intervenção da Coroa
escravocrata vigente. Vários governos que controlaram a
portuguesa para não perder a colônia, que se torna um bom
região organizaram expedições com o objetivo estabelecer a
investimento.
destruição definitiva de Palmares. Contudo, os quilombolas
resistiram de maneira eficaz e, ao longo de oitenta anos, LETRA D: Está correta, pois as capitanias hereditárias foram
conseguiram derrotar aproximadamente trinta expedições entregues a particulares e a sua administração não foi
militares organizadas com este mesmo objetivo. Por isso

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IFMG Campus Ponte Nova – Pré-ENEM – História
centralizada pela Coroa Portuguesa, mas entregues aos 3) (Fuvest adaptada) Foram características dominantes da
capitães donatários. colonização portuguesa na América:

a) pequenas unidades de produção diversificada, comércio


livre e trabalho compulsório.
 ATIVIDADES
b) pacto colonial, exploração de minérios e trabalho livre.
1) (UFV adaptada) As invasões holandesas no nordeste (1624-
1654) ocorreram em um contexto específico da história c) grandes unidades produtivas de exportação, monopólio do
portuguesa, tendo reflexos imediatos no Brasil. Sobre este comércio, monocultura e trabalho escravo.
período, é correto afirmar que: d) exportação de matérias-primas, minifúndio e servidão.
a) A União Ibérica (1580-1640) fez com que a Espanha, 4) (PUC-MG) As Câmaras Municipais, no Período Colonial:
usurpadora do trono português, não quisesse participar dos
lucros do açúcar na colônia. a) constituem o poder legislativo colonial.

b) Primeiramente, os holandeses invadiram a Bahia em 1624 e b) expressam o poder da aristocracia rural.


foram expulsos de lá um ano depois, mas em 1630 investiram c) organizam-se com base no sufrágio universal.
na invasão de Pernambuco, marcada por inúmeras guerras e
na expulsão dos holandeses em 1654 pelos pernambucanos, d) representam o poder da Coroa Portuguesa.
uma vez que aqueles estavam enfraquecidos por entrarem em
e) representam o poder popular.
um conflito com os ingleses em 1651 (devido aos Atos de
Navegação decretados por Cromwell) pela soberania dos 5) ENEM. Observe as duas afirmações de Montesquieu (1689-
mares. 1755), a respeito da escravidão:

c) Maurício de Nassau, líder da Companhia das Índias A escravidão não é boa por natureza; não é útil nem ao
senhor, nem ao escravo: a este porque nada pode fazer por
Ocidentais, chegou ao Brasil e concedeu empréstimos aos
virtude; àquele, porque contrai com seus escravos toda sorte
senhores de engenho daqui que estavam arruinados pela de maus hábitos e se acostuma insensivelmente a faltar
guerra, além de adotar uma política de intolerância religiosa, contra todas as virtudes morais: torna-se orgulhoso, brusco,
para manter o controle na região. duro, colérico, voluptuoso, cruel. Se eu tivesse que defender o
direito que tivemos de tornar escravos os negros, eis o que eu
d) Em 1640 ocorreu a Restauração portuguesa sob a dinastia diria: tendo os povos da Europa exterminado os da América,
de Bragança, contando com a ajuda dos holandeses, que tiveram que escravizar os da África para utilizá-los para abrir
exigiram em troca uma trégua de 10 anos de paz, seguida à tantas terras. O açúcar seria muito caro se não fizéssemos que
risca pelos portugueses e pelos pernambucanos. escravos cultivassem a planta que o produz. Com base nos
textos, podemos afirmar que, para Montesquieu,
02) ENEM. Negro, filho de escrava e fidalgo português, o
a) o preconceito racial foi contido pela moral religiosa.
baiano Luiz Gama fez da lei e das letras suas armas na luta
pela liberdade. Foi vendido ilegalmente como escravo pelo b) a política econômica e a moral justificaram a escravidão.
seu pai para cobrir dívidas de jogo. Sabendo ler e escrever, aos
18 anos conseguiu provas de que havia nascido livre. c) a escravidão era indefensável de um ponto de vista
Autodidata, advogado sem diploma, fez do direito o seu ofício econômico.
e transformou-se em proeminente advogado da causa
abolicionista. A biografia de Luiz Gama exemplifica a d) o convívio com os europeus foi benéfico para os escravos
africanos.
a) impossibilidade de ascensão social do negro forro em uma
sociedade escravocrata, mesmo sendo alfabetizado. e) o fundamento moral do direito pode submeter-se às razões
econômicas.
b) extrema dificuldade de projeção dos intelectuais negros
nesse contexto e a utilização do Direito como canal de luta GABARITO DAS ATIVIDADES TÓPICO 1 - AMÉRICA
pela liberdade. ESPANHOLA E INGLESA:

c) rigidez de uma sociedade, assentada na escravidão, que 01) A 02) A 03) C 04) C 05) D
inviabilizava os mecanismos de ascensão social.

d) possibilidade de ascensão social, viabilizada pelo apoio das


elites dominantes, a um mestiço filho de pai português. GABARITO DAS ATIVIDADES TÓPICO 2 – SISTEMA COLONIAL
NO BRASIL
e) troca de favores entre um representante negro e a elite
agrária escravista que outorgara o direito advocatício ao 01) B 02) C 03) C 04) B 05) E
mesmo.

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IFMG Campus Ponte Nova – Pré-ENEM – História

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