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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE -

CAMPUS I
COMPONENTE CURRICULAR: ESTUDOS DE
TEORIA E METODOLOGIA DA HISTÓRIA I
DOCENTE: ANTÔNIO CLARINDO BARBOSA DE
SOUZA

A importância da História Econômica – Mais qualitativa do que quantitativa para a


Idade Média

1. Por que os autores concordam que os séculos IV ao X podem ser caracterizados


como de escassez endêmica? Explique.

Os séculos IV ao X são frequentemente caracterizados como períodos de escassez endêmica


por uma série de razões. Vou explicar algumas das principais razões pelas quais os autores
concordam com essa caracterização:

Declínio do Império Romano: O século IV testemunhou o declínio e a queda do Império


Romano, que havia sido uma fonte significativa de estabilidade e organização política na
Europa e no Mediterrâneo. Com a desintegração do Império Romano, muitas áreas
enfrentaram instabilidade política e social, o que afetou a produção e o comércio de
alimentos;

Migrações e Invasões Bárbaras: Durante esse período, houve migrações em larga escala de
grupos bárbaros, como os hunos, vândalos e visigodos, que invadiram o Império Romano e
outras regiões. Esses conflitos frequentemente levaram à destruição de colheitas, cidades e
infraestrutura agrícola;

Decadência Urbana: Com a desintegração do Império Romano, muitas cidades entraram em


decadência. Isso resultou na diminuição da produção agrícola nas proximidades das cidades,
levando a uma maior dependência de regiões distantes para abastecer as cidades com
alimentos;

Declínio do Comércio: O comércio internacional também sofreu durante esse período devido
à instabilidade política e à insegurança nas rotas comerciais. Isso resultou em uma redução da
disponibilidade de bens e alimentos importados;
Pressão Demográfica: A população continuou a crescer durante esse período, mesmo com os
desafios econômicos e políticos. Isso colocou uma pressão adicional sobre os recursos
naturais e agrícolas, levando a uma escassez de alimentos em algumas regiões;

Fatores Climáticos: Mudanças climáticas, como a Pequena Idade do Gelo, afetaram as


condições de cultivo e contribuíram para a escassez de alimentos em algumas áreas,
especialmente na Europa;

Tecnologia e Conhecimento Limitados: A agricultura estava em um estágio menos avançado


do que nas épocas posteriores, com técnicas agrícolas limitadas e menor conhecimento sobre
cultivo e conservação de alimentos. Isso tornava a produção de alimentos mais vulnerável a
fatores como mudanças climáticas e pragas;

Sistemas Feudais e Autossuficiência: Em muitas regiões, o sistema feudal predominante


incentivava a autossuficiência local, em que as comunidades agrícolas produziam
principalmente para o seu próprio consumo, em vez de para o mercado. Isso limitava a
disponibilidade de excedentes alimentares para troca;

Guerras e Conflitos Locais: Além das invasões bárbaras, também houve conflitos locais e
guerras que prejudicaram a produção agrícola e a distribuição de alimentos em várias áreas.

Portanto, a combinação desses fatores, incluindo declínio político, instabilidade, migrações,


pressão demográfica e fatores climáticos, levou a uma situação em que a escassez de
alimentos era endêmica e afetava muitas regiões da Europa e do Mediterrâneo durante os
séculos IV ao X. Essa escassez endêmica era uma característica significativa desse período
histórico e teve profundas consequências sociais, econômicas e políticas.

2. Que tipos de propriedades eram típicas da Europa OCIDENTAL neste período?

Por muito tempo se acreditou que o único tipo de propriedade agrícola da época fosse aquilo
que se chama de domínio, herdeiro da villa romana. Sabe-se hoje, no entanto, que as grandes
propriedades foram típicas de apenas uma parte da Europa ocidental, a região entre os rios
Reno e Loire. Paralelamente, existiam pequenas e médias propriedades, ainda que aos poucos
elas fossem absorvidas pelas villae.

3. O que se entende por economia agrária dominial?


A economia agrária dominial referia-se a um sistema econômico e social em que a terra era
predominantemente propriedade do senhor feudal ou da nobreza e era trabalhada pelos servos
em troca de proteção e acesso a parcelas de terra para sua própria subsistência. A economia
agrária dominial na Idade Média era caracterizada pelos seguintes elementos:

Feudos e Senhorios: A terra era dividida em feudos e senhorios. Um senhor feudal possuía
uma propriedade de terras chamada senhorio e concedia feudos a seus vassalos em troca de
serviços militares e obrigações sociais. Os servos trabalhavam nas terras do senhor feudal em
troca de proteção e do direito de cultivar uma parcela de terra para sua própria subsistência;

Sistema de Trabalho: Os servos eram obrigados a trabalhar nas terras do senhor, geralmente
como agricultores, para produzir alimentos e outros produtos agrícolas. Uma parte da
produção era entregue ao senhor como tributo;

Economia Autossuficiente: O sistema era essencialmente autossuficiente, com a produção


agrícola voltada principalmente para o consumo local. Havia pouca comercialização e troca
de bens fora do domínio senhorial;

Hierarquia Social: A sociedade estava estruturada em uma hierarquia rígida, com os senhores
feudais no topo, seguidos pelos vassalos e servos. A mobilidade social era limitada, e a
hereditariedade desempenhava um papel importante na determinação do status social;

Decisões Centradas no Senhor Feudal: O senhor feudal tinha autoridade sobre a terra e as
decisões relacionadas à agricultura, como escolha de cultivos, alocação de terras e cobrança
de tributos;

Relação de Suserania e Vassalagem: O sistema era baseado em relações de suserania e


vassalagem, em que os vassalos juravam lealdade e prestavam serviços ao senhor feudal em
troca do direito de uso da terra.

4. Como se caracterizava a propriedade indominicata?

A terra indominicata (ou de reserva senhorial pelos historiadores), era explorada diretamente
pelo senhor. Ali estavam sua casa, celeiros, estábulos, moinhos, oficinas artesanais, pastos,
bosques e terra cultivável.

5. Qual o uso das florestas e pastagens das áreas senhoriais?


As pastagens e áreas florestais existentes na reserva senhorial eram, por direito costumeiro, de
uso de toda a comunidade. Assim, o solo arável da reserva variava de 25% a 50% do conjunto
das terras cultivadas do domínio.

6. O que era e como se caracterizava a terra mansionária?

Era o conjunto de pequenas explorações camponesas, cada uma delas designada pelos textos a
partir do século VII por mansus. Cada manso era a menor unidade produtiva e fiscal do
domínio. Dele uma família camponesa tirava sua subsistência, e por ter recebido tal concessão
devia certas prestações ao senhor.

7. Quais os tipos de MANSOS existiam e quais as obrigações deviam ao Senhor


Feudal?

Os mansi serviles, ocupados por escravos, e os mansi ingenuiles, possuídos por camponeses
livres.

8. Qual o tamanho médio dos mansos?

A extensão dos mansos também era diferente conforme o estatuto jurídico de seu detentor,
mas as variações regionais impediam uma estimativa. Para o conjunto do Ocidente, porém, é
possível pensar que cada manso tinha em média 15 hectares.

9. Por que a prestação de serviços eram fundamentais nos MANSOS?

Eram fundamentais as prestações em serviço, possíveis porque a capacidade de trabalho de


cada manso era superior à que ele requeria, empregando-se assim o excedente na reserva.

10. O era a Corveia? Explique

Como os detentores de mansos servis trabalhavam mais tempo na terra indominicata, nesse
período alimentavam-se ali, seus mansos podiam ser menores. O senhor exigia a corvéia,
trabalho servil na reserva, em troca do manso por causa das dificuldades de obter mão-de-obra
numa conjuntura de depressão demográfica ou pela impossibilidade de pagar trabalhadores
com dinheiro.

11. A quem pertenciam as grandes propriedades divididas em Mansos?

Grandes propriedades como essas pertenciam à Coroa, aos mais poderosos nobres e
principalmente à Igreja.

12. Por que os domínios eclesiásticos ficavam indivisos?

Graças ao celibato.

13. Por que os senhores feudais se deslocavam dentro de suas propriedades?

Para consumir in loco a produção do domínio, que apesar de pequena era difícil de ser
estocada ou transportada. Por exemplo, no século IX a abadia de Saint-Germain-des Prés
possuía 25 villae, totalizando mais de 30.000 hectares.

14. Ainda existiam escravos na primeira idade média? E como eles eram utilizados?

Acreditava na existência de poucos escravos no Ocidente do século IX em razão de uma


tripla transformação. Sem dúvida, utilizavam-se escravos no cultivo da reserva e em trabalhos
domésticos, mas não se sabe exatamente qual a intensidade disso.

15. Qual a tripla motivação para a diminuição do número de escravos na Idade


Média?

Militar, devido ao fim das guerras de conquista que tinham sustentado o escravismo romano;
Religioso, pois se o cristianismo não proibia a escravidão enquanto instituição, a igreja não
aceitava que ela fosse aplicada a cristãos; Econômica, porque a distância tornava
problemático e portanto caro o fornecimento de escravos pagãos.

16. Que tipos de escravos a Igreja mantinha em seus domínios?


Escravos pagãos e escravos dos domínios recebidos em doação de particulares.

17. O que era e como poderia ser caracterizados os SERVI CASATI?

Servi casati, eram escravos estabelecidos e fixados num pedaço de terra. Os servos não
podiam deixar o manso servil sem autorização do senhor e eram cobrados impostos dos
servos.

18. QUAIS os dois sistemas de cultivo eram utilizados e em que regiões


predominavam?

A terra era trabalhada quase sempre no sistema bienal ou trienal. No extremo norte europeu e
na zona mediterrânea o tipo de solo tornava preferível o esquema bienal: a terra fértil era
dividida em duas partes, cultivando-se uma delas no primeiro ano enquanto a outra ficava em
pousio, invertendo-se no segundo ano e assim sucessivamente. Na zona intermediária da
Europa ocidental, de clima moderado e úmido e solo profundo, desde o século VIII recorria-
se ao sistema trienal.

19. Quais as vantagens do sistema TRIENAL de cultivo do solo?

Segundo Charles Parain, “a maior inovação agrícola da Idade Média”. Realmente, ao se


dividir a área cultivável em três partes, não só se ampliava a extensão efetivamente produtiva
(66% contra 50% no bienal) como ainda se tinha a segurança de duas colheitas anuais.

20. Por que o setor secundário, da produção de artesanato, era frágil nos primeiros
séculos da Idade Média?

Por que o setor secundário ressentia-se da fraqueza demográfica e da medíocre produção


agrícola.

21. Como o comércio passou a ser feito durante a expansão islâmica? E qual os
reflexos nas cidades?
Por muito tempo se acreditou que as cidades tinham subsistido até o século VIII, mas vendo-
se desde então reduzidas a fortalezas e sobretudo a centros administrativos de dioceses. A
razão disso teria sido a expansão islâmica, que levou naquele momento ao “desaparecimento
completo” do comércio.

22. A partir de quando o artesanato começa a se recuperar e por quê?

A partir de meados do século VIII, acompanhada pelo quase constante recuperação da


cidades.

23. O que ocorreu com o deslocamento do centro de gravidade da Europa para o


Norte?

A ascensão de uma família daquela região, os Carolíngios.

24. Qual o papel bizantino na reorganização do Ocidente?

As conquistas muçulmanas não afetaram as relações entre Ocidente e Oriente, pois a Marinha
bizantina continuou ainda por algum tempo a dominar o Mediterrâneo. Procurando proteger
as regiões não ocupadas pelos islamitas, a frota bizantina bloqueou a faixa central daquele
mar, isolando sua zona ocidental da oriental.

25. Por que foi importante para o Mediterrâneo a tomada de Creta pelos
muçulmanos?

Quando, em 829, os muçulmanos ocuparam a estratégica ilha de Creta, passaram a dominar o


Mediterrâneo, que, livre do bloqueio bizantino, foi reaberto à navegação. Logo, as trocas
nunca foram interrompidas e, apesar de o Mediterrâneo ter tido zonas perigosas que variaram
ao longo dos séculos, “ele jamais foi um mar deserto”.

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