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CURSO PARA A PROVA SUBJETIVA

TJ-CE
ROTEIRO DE SENTENÇA PENAL
MATERIAL COMPLEMENTAR
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ROTEIRO DE SENTENÇA PENAL

1. Relatório

Você só deve não fazer o relatório se o enunciado dispensá-lo expressamente. Caso


contrário, você deve fazê-lo.

Desse modo, os alunos deverão treinar a elaboração de relatório. Façam uma leitura
atenta no enunciado da questão, marcando todos os aspectos importantes que devem estar
presentes no relatório.

Antes de adentrarem no relatório, é necessário que se coloque o cabeçalho


corretamente, ou seja, o Juízo que está proferindo a sentença, a vara criminal, a comarca e o
Estado do qual faz parte.

Itens mínimos e necessários no relatório:

a) Descrição, análise e fundamentação em relação ao inquérito policial (como se


iniciou a investigação, os pontos mais importantes que ocorreram durante essa fase preliminar
e etc. tudo de forma sucinta) e pedidos realizados pela autoridade policial (ex: interceptação
telefônica, prisão temporária).

Os artigos de lei que se referirem a qualquer fase, diligência, requerimento ocorridos


no inquérito devem ser mencionados (Argumento g Fundamentação).

b) Denúncia

• Síntese ou menção à denúncia (colocar a exposição do fato criminoso, suas


circunstâncias, os artigos de lei pelos quais o(s) réu(s) foi denunciado).
• Citar os artigos 129, CF e 41, CPP.
• Citar os requerimentos feitos pelo MP.

c) Recebimento da denúncia (que a denúncia, por preencher os requisitos do art. 41


do CPP foi recebida)

d) Mencionar, se for o caso, os pedidos de prisão cautelar, medidas cautelares diversas


da prisão, bem como seu deferimento ou indeferimento.

e) Mencionar a defesa apresentada.

f ) Citar a realização da audiência de instrução: os depoimentos prestados,


interrogatório, se houve pedido de diligências, etc.

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g) Alegações finais: se foram orais ou em memoriais. Citar as teses alegadas pelas
partes.

2. Análise inicial do caso

É imprescindível que se realize uma leitura atenta do enunciado da sentença,


marcando todos os pedidos, datas, idades dos acusados, teses levantadas pelas partes.

Auxilia o candidato a elaboração de um esqueleto da sentença (preliminares;


prejudiciais; mérito; dispositivo, fixação da pena e determinações finais), anotando-se os
dispositivos legais que serão utilizados para o enfrentamento de cada questão processual e de
mérito.

Não se recomenda que se faça um rascunho da sentença, pois pode ocorrer de não dar
tempo de terminar a prova. As provas de sentença penal geralmente são extensas, envolvendo
dois ou mais crimes e com dois ou mais acusados.

3. Preliminares e Prejudiciais

No enfrentamento das preliminares e prejudiciais, adota-se a ordem prevista no art.


564 do CPP como norte.

Quanto à alegação de incompetência em razão do local, lembre que ela é relativa e


prorrogável. Portanto, se a defesa não alegou no momento oportuno, ocorrerá a preclusão, e
você deve REJEITAR esta preliminar.

Se o enunciado envolver um crime de menor potencial ofensivo, ainda que seja


conexo aos demais delitos inseridos na inicial acusatória, não se aplica o art. 79, caput do CPP.
Por esta razão, deve ser determinada a separação dos processos, com a remessa de cópia dos
autos ao Juizado Especial Criminal competente.

As prejudiciais (artigos 92 a 154 do CPP) são analisadas após as preliminares. Por fim,
devem ser enfrentadas as teses de extinção da punibilidade que possam impedir a análise do
mérito.

O enfrentamento das questões preliminares e prejudiciais deve ser direto, abarcando


o ponto principal da questão, fundamentando na lei e no entendimento jurisprudencial, se for
o caso.

O candidato não pode se esquecer da ordem de rejeição ou afastamento das


preliminares e prejudiciais analisadas.

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É bom dar uma lida na parte de nulidades processuais em um bom livro de direito
processual penal (Renato Brasileiro).

Quanto às nulidades, memorize esta importante súmula 273 do STJ:

Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se


desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado.

E ainda, as súmulas 155 e 706 do STF:

Súmula 155
É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da
expedição de precatória para inquirição de testemunha.

Súmula 706
É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência penal
por prevenção.

Não se descuidem da regra do art. 563 do CPP, “não há nulidade sem prejuízo”, pois
auxilia na hora de decidir sobre as preliminares. É um reforço de argumentação e ajuda com o
esquecimento ou nervosismo sobre o tema.

4. Mérito

A análise do mérito deve ser fundamentada. Para cada argumento deve ser dado um
fundamento (lei, jurisprudência e/ou doutrina).

A ordem para se decidir é:

1. Materialidade (ex.: a materialidade do delito restou comprovada por ..... e aqui,


você utiliza os dados apresentados no enunciado).
2. Autoria
3. tipicidade (eventual caso de emendatio libelli – CPP, art. 383).

Ex.: “Nos termos do art. 383 do CPP, o juiz, sem modificar a descrição
do fato contido na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição
jurídica diversa. No caso dos autos, o fato narrado na inicial acusatória
e demonstrado em juízo ostenta capitulação jurídica diversa da
explicitada pelo Ministério Público. Assim, tenho que o réu praticou a
conduta descrita no art. 157, caput do CP, e não a descrita no art. 157,
caput do CP, uma vez que a sua colaboração, fornecendo a senha do
cartão, foi imprescindível para a consumação do crime. Por exta razão,

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promovo a emendatio libelli.”

• Outro exemplo: se a sentença trouxer um caso de tráfico de drogas realizado pelo


réu em conjunto com um menor, e o Ministério Público tenha denunciado pelo tráfico de drogas
e pela corrupção de menores (art. 244-B do ECA), cabe ao candidato proceder á emendatio
libelli do art. 244-B do ECA para a qualificadora do art. 40, VI da Lei 11.343.

OBS.: Se o enunciado não especificar os tipos penais da denúncia, não é possível


cogitar emendatio.

4. outras teses defensivas


5. presença de agravantes e atenuantes
6. causas de aumento e causas de diminuição.

Todas as teses defensivas devem ser abordadas, e o candidato tem que mencionar,
ao final do mérito, que os fatos são típicos, ilícitos e culpáveis.

Exemplos:

Diante de todo o conjunto fático-probatório dos autos, constato que


a ação do acusado é típica e antijurídica e não agiu acobertado por
qualquer causa excludente de ilicitude.
Conduta culpável, por ser imputável e ter consciência da ilicitude, sendo,
ainda, exigível, diante da hipótese concreta, que assumisse postura
diversa.

Presentes estão os elementos da culpabilidade, entendida como


requisito do crime e pressuposto da pena. À época do fato o réu era
maior de 18 anos, possuía conhecimento da ilicitude de seus atos e
podia ter agido de forma diversa, de modo que sua condita merece
reprovação, não havendo qualquer dirimente a seu favor.

Atenção, no mérito, à possibilidade de absorção, e também de absolvição quanto


a um ou mais crimes por falta de provas, e para a necessidade de se falar sobre eventual não
acolhimento do concurso material, concurso formal e crime continuado (perceba, portanto, que
embora concurso de crimes seja matéria relativa à dosimetria da pena, você já deve decidir pela
aplicação ou não do concurso na fundamentação – é neste momento que você vai justificar o
cabimento ou não do concurso).

Pode ser que o réu tenha sido denunciado por mais de um crime pelo Ministério
Público; algum desses crimes pode ser de ação penal pública condicionada (e, portanto, exige

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representação), e o enunciado não diz que houve representação da ofendida. Sendo assim, o
candidato deve analisar se já transcorreu o prazo decadencial de 6 meses para oferecimento
da representação, pois, se já transcorrido este prazo, operou-se a decadência ao direito de
representação. Assim, o juiz deve, na sentença, reconhecer a ilegitimidade do Ministério Público
e, em razão da decadência, declarar extinta a punibilidade do réu (art. 107, IV do CP).

Mas, não esqueça que o reconhecimento perante a autoridade policial e os termos de


declarações das vítimas equivalem á representação, pois manifestam o nítido desejo de verem
os autores dos crimes processados.

5. Dispositivo

Na parte do dispositivo, o candidato passa a declinar se os pedidos formulados devem


ser procedentes os não, variando o texto de acordo com a conclusão exarada: i) Procedência:
Pedidos do MP acolhidos; ii) Parcial procedência: Pedidos acolhidos em parte (absolvição,
absorção, extinção da punibilidade e emendatio libelli)

É obrigatória a citação dos artigos legais pertinentes aos crimes pelos quais está
condenando o réu ou réus, bem como os artigos relativos à eventual absolvição.

Exemplos:

Ante o exposto, JULGO PROCEDENTE A PRETENSÃO PUNITIVA deduzida


na denúncia, PARA CONDENAR XXXX (NOME DO RÉU), devidamente
qualificado nos autos, como incurso nas penas do artigo 168, § 1º, inciso
III, do Código Penal. Passo à individualização da pena.

Ante o exposto, julgo improcedentes os pedidos formulados na


denúncia, para Absolver os réus da imputação pelo delito de ____, com
fundamento no art. 386, inciso ____, CPP;

6. FIXAÇÃO DA PENA

A dosimetria da pena será feita para cada crime. Não é recomendável que se faça
tudo junto.

Em relação à dosimetria da pena, o Código Penal adotou o sistema trifásico (art. 68),
no qual o juiz, num primeiro momento, examina as circunstâncias judiciais do art. 59, além
de outras estabelecidas em legislação especial. É importante que todas essas circunstâncias
sejam referidas, ainda que para concluir-se que não há elementos suficientes a valorá-las.
São analisadas individualmente as circunstâncias do artigo 59 do CP. Referidas circunstâncias
judiciais somente podem ser incrementadas com base em elementos concretos, e não meros

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adjetivos e suposições. Na culpabilidade não invoque que o réu agiu com reprovabilidade ou
lhe era exigido comportamento diverso. Ou que o dolo era intenso. O dolo não varia, o que é
mais ou menos intensa é a conduta.

Não há um quantum a ser observado para cada circunstância valorada negativamente.


Há julgado do STJ aplicando a fração de 1/8 (apurado no intervalo entre o mínimo e o máximo
da pena – critério da oitava parte do intervalo em abstrato) para cada circunstância negativa,
mas há diversos outros julgados no sentido de que a fixação na primeira etapa não segue um
padrão matemático pré-definido.

Exemplo: imaginemos o crime com pena de 4 a 10 anos de reclusão: entre a pena


máxima e a mínima, há um intervalo de 6 anos -> pena máxima menos a mínima. 6 anos
equivalem a 48 meses. Esses 48 meses devem ser divididos por 8 (quantidade de circunstâncias
judiciais que podem ser valoradas, nos termos do art. 59 do CP). 48/8 = 6 meses. Isso quer dizer
que a cada circunstância judicial valorada negativamente a pena deve ser aumentada em 6
meses.

Resumindo: pega a pena máxima, diminui a mínima -> transforma em meses ->
divide por 8. O resultado encontrado será a quantidade de meses que deverá ser acrescida à
pena mínima para cada circunstância judicial valorada negativamente.

Outra opção consiste em uma praxe, entre várias adotadas, que considera o ponto
médio entre a pena mínima e a máxima como o limite virtual na primeira fase. Assim, por
exemplo, em delito com pena de 1 a 4 anos, a pena na primeira fase não poderia passar de 2,5
anos. Como chegar a este limite? Diminui a quantidade da pena mínima da máxima (ou seja: 4,
que é a pena máxima, menos 1, que é a pena mínima = 3). Com este resultado, busca-se o ponto
médio, ou seja: 3 dividido 2 + 1.5. Após, acrescenta este resultado à pena mínima (no exemplo,
1 ano).

Posto isso, dentro desse limite (pena mínima até ponto médio), divide-se o período
(1,5 anos = pena de 1 até 2,5) por 8 (número de circunstâncias judiciais do art. 59). O resultado
dessa divisão (1,5 anos equivale a 18 meses; 18 meses dividido por 8 = aproximadamente 2
meses) será a quantidade que será aumentada para cada circunstância negativa. Trata-se de
apenas uma diretriz, um critério a ser adotado, que não torna os demais incorretos

Quanto o caso envolver o delito de tráfico de droga, é muito importante lembrar do


art. 42 da Lei n.º 11.343/06:

“Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância


sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade
da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do
agente).

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Ainda quanto às circunstâncias judiciais da primeira fase, lembre que a existência de
ações penais em andamento não podem servir como maus antecedentes:

Súmula 444 do STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações


penais em curso para agravar a pena-base.

Após a análise das circunstâncias judiciais, o magistrado fixa a pena-base, dentro da


quantidade de pena cominada ao tipo em que enquadrado o fato delituoso.

Em um segundo passo, verificará o magistrado a presença de alguma atenuante ou


agravante, observando o que se contém nos artigos 61 a 67 do Código Penal. Novamente, o
legislador não fixou o quanto deve ser aumentado para cada agravante ou atenuante, mas a
jurisprudência tem aplicado a fração de 1/6 para cada agravante ou atenuante. Portanto, você
deve pegar a pena base fixada na primeira fase e aumenta-la em 1/6 para cada agravante
incidente no caso (ou diminuí-la de 1/6 para cada atenuante). Para facilitar o cálculo, transforme
a quantidade de anos em meses, e após faça incidir a fração de 1/6.

Ex.: Se a pena base foi fixada em 2 anos e há uma circunstância agravante, você deve
aumenta-la de 1/6. Para isso, transforme os 2 anos em meses, que dará 24 meses. 1/6 de 24
meses corresponde a 4 meses. Portanto, para cada circunstância agravante, você deve aumentar
a pena base em 4 meses. A pena intermediária, neste caso, ficará em 2 anos e 4 meses.

Também aqui o juiz está adstrito aos limites mínimo e máximo da pena cominada ao
tipo penal praticado, chegando ao que se denomina pena provisória.

Súmula n. 231 do STJ: A incidência de circunstância atenuante não pode


conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal.

Portanto, se a pena-base tiver sido fixada no mínimo legal, e houver alguma


circunstância atenuante, você fala que ela está presente, mas não diminui a pena, pois esta não
pode ficar aquém do mínimo legal. Ex.:

“Analisando as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP, entendo


que as circunstâncias e consequências do crime são normais à
espécie; a culpabilidade, conduta social, personalidade do agente,
comportamento da vítima, a míngua de maiores informações, deixo de
valorá-las. Por esta razão, fixo a pena base no mínimo legal, qual seja, 2
anos de reclusão. Presenta a atenuante da menoridade, por já ter mais
de 70 anos (art. 65, III). Entretanto, nesta fase a pena não pode ser fixada
aquém do mínimo legal, nos termos da súmula 231 do STJ”.

Aqui, também é importante a súmula 241 do STJ:

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A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância
agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial.

Notadamente quanto à segunda fase da dosimetria, estabelece o art. 67 do CP:

“No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se


do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-
se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da
personalidade do agente e da reincidência”.

Para a maioria da doutrina, as circunstâncias preponderantes relativas à“personalidade


do agente” são a menoridade de 21 anos na data do fato e a confissão. Havendo concurso
entre circunstância preponderante e outra comum, logicamente que aquela terá maior peso,
repercutindo quando do cálculo da pena provisória.

O problema surge quando existem duas circunstâncias preponderantes, sendo uma


atenuante e outra agravante.

No caso de concorrência entre a menoridade de 21 anos do agente na data do crime


(atenuante preponderante) e a reincidência (agravante preponderante), tem-se decidido que
a atenuante da menoridade relativa prepondera sobre qualquer outra circunstância, inclusive
sobre a reincidência.

Entretanto, com relação à compensação entre a reincidência e a confissão, o STF e o


STJ possuem posicionamentos divergentes. O STJ admite a compensação entre a reincidência
e a confissão. Entretanto, o Supremo Tribunal Federal vem entendendo pela da impossibilidade
de compensação, prevalecendo a reincidência. Na prova, caso o candidato não saiba o
posicionamento do Tribunal, ele deve escolher um dos posicionamentos e consignar que assim
o faz com base no STF ou no STJ. Como fica mais fácil compensar a agravante com a atenuante,
prefira o entendimento do STJ.

Não esquecer da súmula 545 do STJ:

Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do


convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo
65, III, d, do Código Penal.

OBS.: se o enunciado disser que o réu ostenta uma condenação transitada em julgado,
o candidato deve analisar se o trânsito em julgado ocorreu antes ou depois do cometimento da
infração que está sendo analisada no caso da questão. Isto porque, se o novo crime tiver sido
cometido depois de transitar em julgado a sentença pelo primeiro crime, haverá reincidência.
Caso contrário, se o novo crime tiver sido cometido antes do trânsito em julgado da condenação

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pelo crime anterior, não haverá reincidência, mas tal circunstância pode ser considerada maus
antecedentes.

Na terceira fase, o juiz aplicará as causas de aumento ou diminuição da pena


encontradas na Parte Geral ou mesmo na Parte Especial do Código Penal - além daquelas
dispostas em legislação extravagante -, cujos limites de aumento ou diminuição vêm
previamente demarcados pelo legislador e podem levar inclusive a uma pena aquém ou além
do que contemplado no preceito secundário do tipo penal. Nesta etapa, fixa-se a pena definitiva.

Para esta terceira fase, faz-se importante o conhecimento das súmulas 442 e 443 do
STJ:

Súmula 442
É inadmissível aplicar, no furto qualificado, pelo concurso de agentes, a
majorante do roubo.

Súmula 443
O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo
circunstanciado exige fundamentação concreta, não sendo suficiente
para a sua exasperação a mera indicação do número de majorantes.

Nesta fase, também seria interessante assinalar a impossibilidade de aplicação da


causa de diminuição de pena prevista no art. 33, §4º, da Lei n.º 11.343/06, considerando que o
réu é reincidente (se for o caso).

Após, verifica-se se é cabível a substituição da pena privativa de liberdade, segundo


os requisitos legais (art. 44 do Código Penal, observando-se peculiaridades trazidas em leis
especiais), ou, caso não seja possível a conversão em restritiva de direitos, se há possibilidade
da suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal). Depois, fixa-se o regime inicial de
cumprimento da pena privativa de liberdade.

Quanto ao regime inicial de cumprimento da pena, são importantes as seguintes


súmulas:

Súm. 718, STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do


crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais
severo do que o permitido segundo a pena aplicada.

Súm. 440, STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o


estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em
razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do
delito

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Súm. 269, STJ: É admissível a adoção do regime prisional semi-aberto
aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos se
favoráveis as circunstâncias judiciais.

Em cominando o preceito secundário do tipo penal também a pena de multa, arbitra-


se primeiramente o número de dias-multa dentro dos limites do próprio tipo penal ou então
considerando o disposto no art. 49 do Código Penal, pautando-se o juiz pela mesma proporção
de aumento encontrado após fixar a pena privativa de liberdade. Define-se, ademais, o valor
de cada dia-multa segundo o disposto na lei (art. 49, § 1º, do Código Penal, quando não houver
balizamento próprio em legislação específica), atentando-se para a situação econômica do réu.
Esse é o método bifásico na imposição da pena de multa.

Especificamente em relação à multa para o tráfico de entorpecentes, o preceito legal


específico do art. 43 deve ser observado:

Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta Lei, o


juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei, determinará o número
de dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as condições econômicas
dos acusados, valor não inferior a um trinta avos nem superior a 5 (cinco)
vezes o maior salário mínimo.
Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso de crimes serão
impostas sempre cumulativamente, podem ser aumentadas até o
décuplo se, em virtude da situação econômica do acusado, considerá-
las o juiz ineficazes, ainda que aplicadas no máximo.

Ao encontrar a pena definitiva para a terceira fase, com expressa menção a quantum
definitivo da pena, o candidato deve passar a avaliar a hipótese de concurso material (CP, art.
69), formal (CP, art. 70) e crime continuado (CP, art. 71).

ATENÇÃO: concurso formal e crime continuado: dosar a pena de cada crime para verificar
qual a maior pena e proceder à exasperação (tabela: 2 condutas= 1/6, 3 condutas=1/5, 4
condutas, =1/4, 5 condutas= 1/3, 6 condutas= ½, 7 condutas ou +=2/3).

Art. 70, parágrafo único, e Art. 71, parágrafo único, do CP: vedam a possibilidade do
concurso formal próprio e da continuidade delitiva levarem a aumento maios do que se
fosse adotado o sistema do cumula material, usado no concurso material de crimes.

Exemplo de dispositivo com concurso de crimes:

Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE A PRETENSÃO


PUNITIVA, para condenar o réu Angelo nas penas do art. 158, § 3º, do
Código penal, por 02 (duas vezes), c/c art. 71 do Código Penal, art. 157, §

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2º, incs. I e II, do Código Penal, por 02 (duas vezes), c/c art. 70 do Código
Penal, os dois c/c art. 69 do Código Penal, e art. 244-B do ECA, todos c/c
art. 70 do Código Penal.

Se for hipótese de crime continuado, lembrar da súmula 711, STF:

Súmula 711
A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime
permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou
da permanência.

Resumindo: após a fixação da quantidade da pena, passa-se para a análise dos


seguintes pontos:

a) regime inicial de cumprimento de pena (fechado, aberto ou semi-aberto);


b) remição: Se o enunciado informar claramente a data da prisão, o candidato deve
consignar, na sentença, tal período de detração, relativamente a pena final fixada, estabelecendo,
em consequência, o regime prisional inicial da PPL.
Se o enunciado não trouxer a data da prisão, o candidato pode escrever da seguinte
forma: “não há dados suficientes para a remição, razão pela qual deixo de cumprir o disposto no
art. 387, parág. 2 do CPP.”
c) benefícios dos artigos 44 e 77 do CP,
d) reparação de danos.

Ex.: Deixo de fixar valor mínimo de indenização por não haver pedido expresso
nesse sentido, nem ter havido contraditório sobre o ponto.

e) possibilidade de o réu recorrer em liberdade (perceba, portanto, que é neste


momento que você deve decidir acerca da manutenção ou não de eventual prisão preventiva).

Se algum dos réus for absolvido e estiver preso, lembre de determinar a imediata
expedição do alvará de soltura.

f ) as comunicações finais de praxe, nessa ordem.

Não se esquecer, aqui, da eventual ordem de perda dos bens apreendidos, que deve
ser tratada nesse momento.

OBS.: Se o crime envolver arma de fogo, faça a providência prevista no art. 25 do


Estatuto do Desarmamento:

Ex.: “Nos termos do art. 25 do Estatuto do Desarmamento, encaminhe-se a arma e

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as munições apreendidas ao comando do Exército, no prazo máximo de 48 (quarenta e oito)
horas), para destruição, na forma regulada em lei.”

Se envolver drogas, fale sobre o art. 72 da Lei de drogas.

Ex.: “Proceda-se á destruição das amostras guardadas para contraprova, nos termos
do art. 72 da Lei de Drogas.”

ATENÇÃO: É imprescindível o estudo pormenorizado dos artigos pertinentes no CP


(Arts. 59 a 72). Pode ser feito por um bom Código Penal comentado.

Exemplos:

“A culpabilidade da acusada vem demonstrada por meio de regular


índice de reprovabilidade, tendo em vista que sabia da ilicitude do fato,
mas preferiu agir em desacordo com a lei. O réu é primário, com bons
antecedentes, fl. 282. Nada foi apurado em relação à conduta social e
à personalidade da ré. Os motivos explicitados - problemas familiares
- não são suficientes a retirar a ilicitude da conduta delitiva, nem para
justificar o ato cometido, eis que causou grave prejuízo para outra
família.
Sobre as circunstâncias, pontuo a falta de sensibilidade e razoabilidade
do réu, ao incentivar a realização de reformas no imóvel, muito embora
soubesse que sequer dera entrada na burocracia necessária para a
aquisição do bem perante a CEF. Sobre as consequências, aponto que as
mesmas vão além do prejuízo financeiro, inequívoco o abalo emocional
em razão da não realização do “sonho de aquisição da casa própria” tão
comum aos brasileiros. A vítima em nada contribuiu para a eclosão do
crime.
Considerando a valoração negativa das circunstâncias e consequências,
FIXO-LHE A PENA BASE em 1 (um) ano e 6 (seis) meses de reclusão e 15
(quinze) dias-multa.
Na segunda fase de aplicação da pena, verifico a ausência de
circunstâncias agravantes. Todavia, em razão da confissão, diminuo a
pena em 2 meses, fixando-a em 1 ano e 4 meses de reclusão, além do
pagamento de 12 dias-multa.
Na terceira fase de aplicação da pena, verifico a incidência da causa de
aumento constante no inciso III, do parágrafo 1º, do art. 168, do CPB,
pelo que aumento a pena em 1/3 (um terço), fixando-a, definitivamente
em 1 (UM) ANO, 9 (NOVE) MESES E 10 (DEZ) DIAS DE RECLUSÃO, além do
pagamento de 16 (DEZESSEIS) DIAS-MULTA, à razão de 1/30 do salário
mínimo vigente ao tempo dos fatos, devidamente corrigido.

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Fixo o regime inicial de cumprimento da pena em aberto, nos termos do
art. 33, § 2º, alínea “c”, do CPB.
O réu preenche os requisitos objetivos e subjetivos insertos no art. 44
do Código Penal, razão pela qual substituo a pena privativa de liberdade
por duas penas restritivas de direito, sendo pelo menos uma delas na
modalidade de prestação de serviços à comunidade, nos moldes e
condições a serem oportunamente estabelecidas pelo Douto Juízo da
Execução Penal, por considerar ser a medida suficiente e necessária
para a prevenção e reparação do crime.
Deixo de arbitrar valor mínimo para a reparação dos danos materiais,
uma vez que, além dos pagamentos efetuados diretamente ao réu
(R$ 9.500,00), ainda houve despesas com a reforma. Por outro lado, já
houve um pequeno ressarcimento pelo réu. Seria necessário, portanto,
a apuração do valor devido.
Não obstante, as vítimas poderão deduzir eventuais pretensões
reparatórias na esfera cível, na medida em que a presente sentença
constituirá título executivo judicial.
Concedo ao réu o direito de apelar em liberdade, se por outro motivo
não se encontrar preso.
Condeno o réu ao pagamento das custas processuais.
Após o trânsito em julgado da sentença, expeça-se carta de guia e oficie-
se ao INI e ao TRE.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Encaminhe-se cópia para as
vítimas.
Local, data
Juiz de Direito Substituto.”

“Dosimetria
Certa a responsabilidade criminal do acusado, passo à dosimetria da
pena, de acordo com o sistema trifásico adotado no art. 68 do Código
Penal.
Em análise das circunstâncias judiciais descritas no art. 59 do CP tenho
que: a culpabilidade do réu é normal à espécie; o réu não registra
maus antecedentes; não há elementos para atestar a conduta social e
a personalidade; os motivos, as circunstâncias e as consequências são
normais para o tipo; e o comportamento da vítima em nada contribuiu
para que o crime fosse praticado.
Assim fixo a pena-base em 01 (ano) de detenção e pagamento de 10
dias-multa.
Não vislumbro a presença de agravantes e atenuantes.
Ausentes, na terceira fase, causas de aumento ou de diminuição, pelo

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que torno definitiva a pena em 01 (um) ano de detenção e pagamento
de 10 dias-multa.
Na forma do art. 49, § 1º, do CP, fixo o valor do dia-multa em 1/30 do
último salário mínimo vigente ao tempo do fato.
Do regime
Para início do cumprimento da pena privativa de liberdade, é fixado, em
observância ao disposto no § 3º do art. 33 do Código Penal, o regime
aberto.
Da substituição da Pena
Com fundamento no art. 44 do CP, substituo a pena privativa de
liberdade por uma restritiva de direito, a saber, prestação de serviços
à comunidade, pelo tempo da condenação, em favor de entidade a ser
definida pelo Juízo da execução;
Do direito de recorrer em liberdade
É facultado ao réu o direito de recorrer em liberdade, posto que
respondeu ao processo solto, não revelando carga de periculosidade
destacada ao ponto de recomendar segregação preventiva.
Condeno o réu ao pagamento das custas processuais.”

7. COMUNICAÇÕES FINAIS

As comunicações finais são fixas em sua maioria, e cingem-se à comunicação ao TRE,


INI (Instituto Nacional de Identificação) e carta de guia.

Embora a doutrina entenda que não mais se determina o lançamento do nome do


réu no rol dos culpados, em razão do art. que determinava isso (qual seja, o art. 393 do CPP)
ter sido revogado; na prática, os juízes continuam ordenando esta providência. O candidato
poderá escrever, ao final, após o trânsito em julgado da sentença: “Inscreva-se o nome do réu no
´rol dos culpados”, ou deixar conforme modelo abaixo.

Exemplos:

“Condeno, ainda, o sentenciado a pagar as custas processuais, que


deverão ser calculadas e recolhidas de acordo com a legislação em
vigor. Eventual pedido de isenção deverá ser formulado perante o Juízo
das Execuções.
Intime-se a vítima para conhecimento do presente decisum, nos termos
do artigo 201, § 2º, do Código de Processo Penal.
Oficie-se ao Instituto Nacional de Identificação - INI, noticiando a
condenação em primeiro grau de jurisdição.
Com o trânsito em julgado da presente sentença, comunique-se a Justiça
Eleitoral (artigo 72, § 2º, do Código Eleitoral - para os fins do artigo 15,

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inciso III, da CF/88) e extraia-se ou complemente-se a carta de sentença,
conforme o caso.
Em momento oportuno, arquive-se o feito com as cautelas de praxe.
LOCAL, DATA.
Juiz de Direito Substituto”

“Intime-se a vítima para conhecimento do presente decisum, nos termos


do artigo 201, § 2º, do Código de Processo Penal.
Após o trânsito em julgado da condenação, comunique-se ao Tribunal
Regional Eleitoral para os fins do art. 15, III, da CF/88, bem como sejam
expedidas guias de execução do réu.
Em momento oportuno, arquive-se o feito com as cautelas de praxe.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Encaminhe-se cópia para as
vítimas.
Local, data
Juiz de Direito Substituto.”

Também é importante citar o art. 392 e o art. 201, parág. 2, ambos do CPP.

Art. 392.  A intimação da sentença será feita:


I - ao réu, pessoalmente, se estiver preso;
II - ao réu, pessoalmente, ou ao defensor por ele constituído, quando se
livrar solto, ou, sendo afiançável a infração, tiver prestado fiança;
III  -  ao defensor constituído pelo réu, se este, afiançável, ou não, a
infração, expedido o mandado de prisão, não tiver sido encontrado, e
assim o certificar o oficial de justiça;
IV - mediante edital, nos casos do no II, se o réu e o defensor que houver
constituído não forem encontrados, e assim o certificar o oficial de
justiça;
V - mediante edital, nos casos do no III, se o defensor que o réu houver
constituído também não for encontrado, e assim o certificar o oficial de
justiça;
VI - mediante edital, se o réu, não tendo constituído defensor, não for
encontrado, e assim o certificar o oficial de justiça.
Art. 201.  Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado
sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu
autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas
declarações.   
§ 2o  O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao
ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para
audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham ou
modifiquem.    

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• OBS.: se o caso envolver um funcionário público, dentre as providências finais


deve constar a expedição de ofício aos órgãos públicos para providências em relação á perda
do cargo dos condenados.

Obs.: É possível que o caso proposto exija de você uma decisão de pronúncia. Neste caso,
sua resposta deve seguir a mesma forma da sentença, já explicada (com exceção, claro, da
dosimetria). No dispositivo, você deve utilizar a palavra “PRONUNCIO”, como neste exemplo:

“Ante o exposto, julgo procedente os pedidos contidos na inicial


acusatória e pronuncio João, já devidamente qualificado nos autos,
como incurso nas penas do art. 121, caput do CP.
Transcorrido o prazo para eventual recurso e preclusa a decisão,
remetam-se os autos ao Juiz Presidente do Tribunal do Júri, nos termos
do art.421 do CPP.”

• Lembrar que, na decisão de pronúncia, o juiz não deve fazer menção a eventual
concurso material ou formal de crimes, pois esta é matéria relativa à aplicação da pena.

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