1. Em que casos é possível ocorrer decadência em relação à confissão de
dívida tributária? Nos tributos sujeitos a lançamento por homologação (ou autolançamento), o contribuinte é quem calcula e declara o quanto deve e antecipa o pagamento que lhe é devido. Caso o Fisco entenda que o valor declarado encontra-se correto, realizará a homologação do pagamento. Apenas com a homologação (expressa ou tácita) é que o crédito tributário será extinto (artigo150, parágrafo 4° do CTN). Nesse contexto, a jurisprudência pacífica do STJ consolidou-se no sentido de que a declaração de débito pelo contribuinte representa confissão de dívida - apta, assim, a constituir o crédito tributário. Diante desse cenário, conclui-se que é possível ocorrer a decadência em relação à confissão de dívida tributária no caso em que o contribuinte declarou e pagou a menor o tributo sujeito a lançamento por homologação. Nessa hipótese, o Fisco terá o prazo de 5 anos, contado do dia que ocorreu o fato gerador, nos termos do artigo 150, parágrafo4° do CTN, para a realização do lançamento de ofício da diferença de valor. Passado o prazo, haverá a decadência e homologação ficta do valor pago a menor. Por outro lado, no caso em que não houve declaração de débito nos tributos sujeitos a lançamento por homologação, aplicar-se-á o termo inicial do prazo decadencial previsto no artigo 173, I, do CTN, qual seja, o primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. É o teor da Súmula 555 do STJ. Por fim, vale dizer que, no caso em que o contribuinte declarou o débito, mas não efetuou qualquer pagamento, haverá a constituição do débito mediante a declaração. Nesse caso, não haverá necessidade de lançamento, podendo o Fisco inscrever o débito diretamente em dívida ativa e ajuizar a execução fiscal.
2. Substituição de Certidão de Dívida Ativa e modificação de sujeição passiva:
disserte sobre o tema. A lei de execuções fiscais estabelece em seu art. 2º, §8º, a possibilidade de a certidão de dívida ativa ser substituída até a decisão em primeira instância. Sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça possui entendimento sumulado estabelecendo que a fazenda pública pode substituir a certidão de dívida ativa até a prolação da sentença de embargos, quando se tratar de erro material ou formal, sendo vedada a modificação do sujeito passivo da execução. Súmula 392 do STJ: A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução. Com efeito, a substituição da certidão de dívida ativa não pode modificar o sujeito passivo da ação executiva, pois, caso isso ocorra, será julgada a ação extinta sem resolução do mérito. No entanto, é possível que exista erro material ou formal em relação ao sujeito passivo, como no caso de empresa ter sido declarada falida antes da ação de execução fiscal sem que a fazenda pública tenha conhecimento. Nesse caso, é possível a correção de erro material e formal da certidão da dívida ativa com finalidade de modificar o sujeito passivo da pessoa jurídica para a massa falida, sem que isso constitua modificação do polo passivo. Assim, quando o juízo tomar conhecimento da declaração de falência, deverá intimar a fazenda pública para corrigir erro material da certidão da dívida ativa para a continuidade da execução fiscal. Portanto, é possível a substituição da certidão da dívida ativa até a decisão dos embargos, desde que isso não modifique o sujeito passivo da ação executiva.
3. Discorra sobre o protesto de Certidões de Dívida Ativa - CDAs.
De acordo com a Lei nº 6.830/1980 (LEF), constitui dívida ativa da Fazenda Pública aquela definida como tributária ou não tributária na Lei nº 4.320/1964. Enfatiza a Lei de Execuções Fiscais, ainda, que se considera como dívida ativa qualquer valor cuja cobrança seja atribuída por lei à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e às respectivas autarquias (arts. 1º e 2º, caput e § 1º). A inscrição desses valores na dívida ativa é realizada pelo órgão competente para apurar a liquidez, certeza e exigibilidade do crédito (em regra, a atividade é confiada aos órgãos de representação judicial dos entes públicos, como a Procuradoria da Fazenda Nacional – art. 2º, § 4º, da LEF), o que consubstancia ato de controle administrativo de legalidade. A partir dessa inscrição, que nos termos do art. 204 do CTN goza de presunção relativa de certeza e liquidez, é extraída a correspondente certidão de dívida ativa, título executivo extrajudicial apto a aparelhar a execução forçada, conforme o disposto no art. 784, inciso IX, do CPC/2015 e do art. 6º, §§ 1º e 2º, da Lei nº 6.830/1980. Com efeito, o art. 1º da Lei nº 9.492/1997 prevê que o “Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida” (art. 1º). Em que pese o protesto extrajudicial tenha sua origem impontualidade e do inadimplemento do devedor), nota-se que a própria Lei nº 9.492/1997 tratou de ampliar o seu alcance a “outros documentos de dívida” (não restrito, pois, a títulos cambiais). Para além disso, não se pode ignorar que o protesto assumiu destacado papel como instrumento eficaz na ‘cobrança de dívidas’. A propósito, o Superior Tribunal de Justiça teve a oportunidade de reconhecer que o “protesto é também meio lícito e legítimo de compelir o devedor a satisfazer a obrigação assumida ou, ao menos, buscar sua renegociação”, sendo pacífica a orientação jurisprudencial no sentido de que “só se admite a suspensão dos efeitos do protesto quando as circunstâncias de fato, efetivamente, autorizarem a proteção do devedor, com a presença da aparência do bom direito e, em regra, com a prestação de contracautela. A viabilidade jurídica do protesto extrajudicial de certidões de dívida ativa suscitou muita controvérsia no seio da doutrina e na jurisprudência, em especial antes da edição da Lei nº 12.767/2012. Na realidade, anteriormente ao advento da referida Lei nº 12.767/2012, que alterou a Lei nº 9.492/1997, o STJ vinha sinalizando a desnecessidade e ausência de interesse da Fazenda Pública em promover o protesto da certidão de dívida ativa. De todo modo, embora desnecessário esse proceder (protesto), a Corte tendeu a afastar pretensões indenizatórias por supostos danos morais decorrentes do protesto de CDAs. Diante do novo panorama jurídico trazido pela legislação de 2012 (que introduziu o parágrafo único ao art. 1º da Lei nº 9.492/1997), a jurisprudência do Superior Tribunal passou a admitir o protesto extrajudicial da certidão de dívida ativa. Referida disposição da Lei nº 9.492/1997 (parágrafo único do art. 1º, inserido pela Lei nº 12.767/2012) teve a sua constitucionalidade questionada perante o STF. No âmbito da ADI nº 5.135/DF, a Confederação Nacional da Indústria arguiu, em síntese, que o preceito normativo padeceria de vício formal (tendo em vista ter sido incluído por emenda em medida provisória que tratava de matéria diversa) e, ainda, seria materialmente inconstitucional (traduzindo “sanção política” rechaçada pela jurisprudência da Corte, na esteira do que enunciam as antigas Súmulas nº 70, nº 323 e nº 547 do STF). Todavia, a posição majoritária do Supremo Tribunal assentou a improcedência do pedido formulado na ação direta, referendando a constitucionalidade do dispositivo que expressamente autorizou o protesto das certidões de dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas. Fixou-se, assim, a seguinte tese jurídica: “O protesto das Certidões de Dívida Ativa constitui mecanismo constitucional e legítimo, por não restringir de forma desproporcional quaisquer direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e, assim, não constituir sanção política". Assim, podemos concluir que se encontra resolvida a polêmica jurídica, sendo legítimo o protesto de certidões de dívida ativa (CDAs).
4. O pedido administrativo de compensação tributária interrompe o prazo
prescricional para a ação de repetição de indébito tributário? Conforme decidido pelo STJ, o pedido administrativo de compensação tributária não interrompe o prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário, pois não há previsão legal para tanto. O art. 174, parágrafo único, do CTN prevê as causas legais de interrupção da prescrição em matéria tributária: o despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal, o protesto judicial, qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor e qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor. Assim, cotejando o disposto no citado artigo, não se pode compreender o pedido administrativo de compensação como uma causa interruptiva da prescrição, pois não é medida judicial nem é ato que importa reconhecimento inequívoco do indébito pela Administração Pública.
5. Incide imposto de transmissão causa mortis – ITCMD – sobre valores
oriundos de plano de previdência privada? Atualmente, existem duas modalidades de investimentos em previdência privada, o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) e o VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre). Em regra, no caso de morte do beneficiário da previdência privada, não há incidência do ITCMD, mas os Estados vêm realizando alterações legislativas para exigir o ITCMD nas transmissões de recursos provenientes de tais investimentos aos herdeiros. Considerando a natureza jurídica dos planos de previdência, conforme normas da SUSEP, que é o órgão de regulação e de fiscalização dos referidos planos, o VGBL é seguro da pessoa, enquanto o PGBL é plano de previdência. Desse modo, o VGBL não pode ser tributado pelo ITCMD, pois o art. 794 do Código Civil expressamente exclui da herança o capital decorrente de seguro de vida. Quanto ao PGBL, mesmo que o investidor possa indicar beneficiário do plano no caso de morte, também possuindo características de seguro de vida, a classificação como plano de previdência (e não seguro) tem gerado decisões judiciais no sentido da incidência do imposto sobre o montante investido. Nesse aspecto, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça no sentido de que o PGBL seria uma “poupança previdenciária” e, assim, na morte do titular do investimento, há fato gerador de ITCMD.
6. A fiança bancária e o seguro-garantia judicial, se cobrirem o total do
montante devido, suspendem a exigibilidade do crédito tributário? Não. A questão tem como elemento central a interpretação do art. 151 do CTN, no qual constam como causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário: a moratória; o depósito de seu montante integral; as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; a concessão de medida liminar em mandado de segurança; a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; e o parcelamento. Nota-se que não há menção à fiança bancária, tampouco ao seguro-garantia judicial, como causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Portanto, diante dessa omissão, é necessário recorrer à regra de interpretação contida no art. 111, I, do CTN, no qual consta que se interpreta "literalmente" a legislação tributária que disponha sobre a suspensão ou exclusão do crédito tributário. Em razão desse crivo restritivo, o STJ sedimentou que o crédito TRIBUTÁRIO não tem a sua exigibilidade suspensa em razão de fiança bancária e seguro-garantia judicial, mesmo que sejam suficientes para cobrir o total do montante devido. Por outro lado, é necessário asseverar que, recentemente, o STJ decidiu que o crédito NÃO TRIBUTÁRIO pode ter a sua exigibilidade suspensa na hipótese de a fiança bancária ou o seguro-garantia judicial serem suficientes para cobrir o montante total devido. Isso porque tanto o art. 111 quanto o art. 151, ambos do CTN, tratam do crédito tributário.
7. Solidariedade tributária e interpretação econômica do Direito Tributário:
disserte sobre o tema. A norma geral sobre solidariedade tributária se encontra no art. 124 do CTN, abrangendo duas hipóteses: pessoas que tenham interesse comum na situação que constitui o fato gerador da obrigação tributária; e demais pessoas designadas por lei. Doutrina e jurisprudência ainda indicam que a lei, ao atribuir responsabilidade a terceiro, deve observar o art. 128 do CTN, isto é, apenas pessoas vinculadas ao fato gerador, ainda que indiretamente, podem ser responsabilizadas. A primeira hipótese, contudo, é que suscita maiores controvérsias. A definição do "interesse comum" não dispensa uma interpretação construtiva do significado do conceito indeterminado. Nessa esteira, discute-se hoje sobre como as teorias econômicas podem contribuir à definição de conceitos e institutos tributários, não sendo desarrazoado priorizar o interesse econômico comum, em detrimento de outro de natureza moral ou política, por exemplo, já que a obrigação principal tributária, ao fim e ao cabo, se resume à pecúnia, bem como os agentes de mercado, no sistema capitalista, estão sempre a visar à otimização de seus recursos financeiros. Sem embargo, a interpretação subsidiada por elementos da teoria econômica não se confunde com a interpretação econômica empregada em meados do século XX na Alemanha, que ficou conhecida por ignorar as balizas legais, a fim de se adotar, como único parâmetro à tributação, a substância econômica do fato gerador. As inovações teóricas de hoje, sobretudo com o desenvolvimento da análise econômica do Direito (Law & Economics), consideram que este diálogo interdisciplinar deve respeitar os limites autopoiéticos (Luhmann) de cada ciência, de sorte que a decisão sobre a legalidade e a constitucionalidade não resultarão de uma análise de eficiência econômica, porém esta, se relevante na definição de significantes empregados pelo legislador, pode fundamentar tal decisão.
8. Tratados de tributação e legislação interna: prevalência e critérios para
solução de conflitos. Disserte sobre o tema. Estabelece o artigo 98 do CTN que “os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes sobrevenha.” Este dispositivo do CTN tem sido objeto de diversos estudos e debates na área tributária, sendo a sua aplicação extremamente controvertida, em especial quando os tratados internacionais entram em conflito com as leis internas (leis de âmbito nacional). Muitos doutrinadores já se debruçaram sobre este tema, mas é regra geral de entendimento entre os doutrinadores tributaristas que: para a solução de conflitos entre tratados internacionais e leis internas, seria possível perscrutar a baliza sobre hierarquia de normas, segundo qual norma de hierarquia superior prevalece sobre hierarquia superior, sendo certo que já há precedentes, no STF, no sentido de serem os tratados internacionais sobre direito tributário de status de norma supralegal, portanto abaixo da Constituição Federal, mas acima das leis infraconstitucionais. Também o princípio da especialidade, segundo qual norma especial prevalece sobre norma de caráter geral, e o critério temporal, segundo qual a lei mais nova, tratando sobre o mesmo assunto de lei pretérita, há de prevalecer sobre a lei anterior. Embora não haja entendimento jurisprudencial consolidado no Supremo, sobre o tema o Ministro Gilmar Mendes expõe: Em um mundo globalizado e regido pelo multilateralismo, há que se privilegiarem os acordos consensuais entre países em detrimento das leis pátrias infraconstitucionais, tendo em vista que num pacto de acordo tarifário de encargos tributários, as nações olvidam esforços para dar ênfase ao livre comércio com o mínimo de custos tributários para ambos os países, com o fito de fortalecer o comercio e a circulação de bens e serviços entre países, portanto não seria equânime que determinada lei restringe um determinado benefício fiscal a determinado produto estrangeiro em confronto com tratado internacional, pois isso geraria quebra do princípio isonomia e boa fé na consecução do contrato, pois o Estado Constitucional exige a boa-fé e a segurança jurídica dos compromissos internacionais.
9. Incide IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre veículo importado
para uso próprio? Sabe-se que o IPI é um tributo federal (art. 153, inc. IV, CF) e incide sobre produtos que possam ser enquadrados como industrializados, ou seja, decorrentes da produção. Incide sobre a produção e a circulação de produtos industrializados. É seletivo em função da essencialidade do produto, não cumulativo e não incide sobre produtos destinados ao exterior (art. 153, §3º, da CF). Diferentemente do que ocorre sobre os produtos destinados ao exterior, a CF não estabelece a imunidade do IPI para produtos importados. Assim, não existe imunidade no caso de importação de veículos. E não importa se quem importou é pessoa física ou jurídica, assim como também não interessa o fato de o importador não exercer o comércio e adquirir o bem para uso próprio, ocorrendo o fato gerador ocorre com o desembaraço aduaneiro (art. 46, I, CTN). Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE n. 723.651/PR, em repercussão geral, firmou tese no sentido de que "incide o imposto de produtos industrializados na importação de veículo automotor por pessoa natural, ainda que não desempenhe atividade empresarial e o faça para uso próprio”. Em suma, ausente imunidade constitucional e, por outro lado, à luz do disposto no art. 46, I, do CTN, força é convir que incide IPI sobre veículo importado, ainda que o faça para uso próprio. Nesse sentido, caminha a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, inclusive com tese fixada em repercussão geral.
10. Confissão espontânea da dívida e parcelamento restabelecem a
exigibilidade do crédito tributário extinto pela decadência ou prescrição? Conforme as lições da doutrina especializada, acolhidas pela jurisprudência do STJ, o parcelamento tributário, por vezes acompanhado da confissão de dívida, é capaz de interromper o prazo prescricional (art. 174, parágrafo único, IV do CTN). Contudo, só pode ser assim considerado, com a consequente interrupção de prescrição, se há ato volitivo de adesão. Por sua vez, quando o parcelamento é liberalidade do Fisco, concedido de ofício, não há que se falar em interrupção da prescrição. De outro giro, em relação a débitos já prescritos ou decaídos, o parcelamento tributário não tem o condão de reavivar a possibilidade de cobrança. Isso porque o parcelamento tributário não é hipótese de novação de dívida, não podendo se falar de interrupção de prescrição já consolidada. Inclusive, a decadência (art. 156, V, do CTN), é forma de extinção do crédito tributário. Sendo assim, uma vez extinto o direito, não pode ser reavivado por qualquer sistemática de lançamento ou autolançamento, seja ela via documento de confissão de dívida, declaração de débitos, parcelamento ou de outra espécie qualquer.
11. As contribuições de intervenção no domínio econômico podem ser
cobradas em setor que não é o destinatário da intervenção? As Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico, conhecidas como CIDE, são espécies de contribuições especiais, e a competência para sua instituição é exclusiva da União. Como o próprio nome sugere, sua finalidade não é a de arrecadar fundos para os cofres públicos, como é o caso dos impostos, mas ser um mecanismo de intervenção do Estado na economia. Nota-se, assim, que a CIDE tem a função primordial de estimular ou desestimular certos comportamentos, criando um encargo financeiro para sua prática. Trata-se, portanto, de um tributo extrafiscal. A Constituição Federal não delineou os fatos geradores sobre os quais o tributo deveria incidir, portanto, pode-se afirmar que não há materialidade concreta estipulada na Constituição, o que denota certa autonomia da União para criar novas contribuições de intervenção no domínio econômico. Por se tratar de um tributo finalístico, os recursos arrecadados devem ter finalidade direcionada em obediência à lei que ensejou a instituição da CIDE. Assim, enquanto nos impostos, em regra, a afetação de receita é proibida, nas contribuições especiais, dentre as quais se insere a CIDE, a vinculação à finalidade é imprescindível, observada a disposição legal, em relação ao contribuinte da CIDE, o Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento de que é desnecessária para a sua caracterização, que haja vinculação direta entre os benefícios decorrentes da CIDE e aquele que contribui, ou seja, o contribuinte da CIDE não necessariamente deve se beneficiar diretamente da contribuição, bastando para caracterizá-lo como tal, a previsão legal.
12. A formalidade burocrática legal, quando existente para fins de gozo de
imunidade tributária, é requisito declaratório ou constitutivo da imunidade? A imunidade se constitui, na lição de Paulo de Barros Carvalho, em uma norma de competência, isto é, o Poder Constituinte, ao delimitar a competência tributária do ente, deixa de fora determinada operação ou pessoa, por exemplo. Ainda, na lição de Regina Helena Costa e do entendimento do STF, a imunidade encerra um direito e uma garantia individuais, figurando, por isso, como cláusula pétrea. Nos casos em que a legislação tributária exige análise administrativa para efeito de reconhecimento da imunidade, o STF, há muito tempo, acompanhado posteriormente pelo STJ, consagrou o entendimento de que o ato administrativo é um ato declaratório com efeitos ex tunc, retroagindo seus efeitos ao marco em que a entidade beneficente de assistência social comprovou o preenchimento dos requisitos necessários ao gozo da imunidade. Isso porque, embora, de fato, a entidade passe a ostentar uma nova situação jurídica, imune à exação fiscal em comento, fato é que o pedido administrativo de reconhecimento da imunidade tributária abrange períodos anteriores ao pleito e, muitas vezes, demora um longo tempo (inclusive anos) até ser efetivamente analisado, de modo que não pode ser prejudicado o contribuinte que, cumprindo a legislação de regência, comprovou a sua condição de imune em exercícios anteriores. Portanto, a formalidade burocrática legal, quando existente para fins de gozo da imunidade tributária, possui viés declaratório, retroagindo, por isso, à data ou exercício financeiro em que a entidade comprovou o cumprimento dos requisitos necessários ao gozo da imunidade tributária. Nesse sentido é a atual orientação do Superior Tribunal de Justiça que editou, inclusive, a Súmula nº 621 de seguinte teor: "O certificado de entidade beneficente de assistência social (CEBAS), no prazo de sua validade, possui natureza declaratória para fins tributários, retroagindo seus efeitos à data em que demonstrado o cumprimento dos requisitos estabelecidos por lei complementar para a fruição da imunidade".