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EMAGIS RODADAS DISCURSIVAS 2019

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. Em que casos é possível ocorrer decadência em relação à confissão de


dívida tributária?
Nos tributos sujeitos a lançamento por homologação (ou autolançamento), o
contribuinte é quem calcula e declara o quanto deve e antecipa o pagamento que lhe
é devido. Caso o Fisco entenda que o valor declarado encontra-se correto, realizará
a homologação do pagamento. Apenas com a homologação (expressa ou tácita) é
que o crédito tributário será extinto (artigo150, parágrafo 4° do CTN).
Nesse contexto, a jurisprudência pacífica do STJ consolidou-se no sentido de que a
declaração de débito pelo contribuinte representa confissão de dívida - apta, assim,
a constituir o crédito tributário. Diante desse cenário, conclui-se que é possível
ocorrer a decadência em relação à confissão de dívida tributária no caso em que o
contribuinte declarou e pagou a menor o tributo sujeito a lançamento por
homologação.
Nessa hipótese, o Fisco terá o prazo de 5 anos, contado do dia que ocorreu o fato
gerador, nos termos do artigo 150, parágrafo4° do CTN, para a realização do
lançamento de ofício da diferença de valor. Passado o prazo, haverá a decadência e
homologação ficta do valor pago a menor.
Por outro lado, no caso em que não houve declaração de débito nos tributos sujeitos
a lançamento por homologação, aplicar-se-á o termo inicial do prazo decadencial
previsto no artigo 173, I, do CTN, qual seja, o primeiro dia do exercício seguinte
àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. É o teor da Súmula 555 do
STJ.
Por fim, vale dizer que, no caso em que o contribuinte declarou o débito, mas não
efetuou qualquer pagamento, haverá a constituição do débito mediante a
declaração. Nesse caso, não haverá necessidade de lançamento, podendo o Fisco
inscrever o débito diretamente em dívida ativa e ajuizar a execução fiscal.

2. Substituição de Certidão de Dívida Ativa e modificação de sujeição passiva:


disserte sobre o tema.
A lei de execuções fiscais estabelece em seu art. 2º, §8º, a possibilidade de a
certidão de dívida ativa ser substituída até a decisão em primeira instância. Sobre o
tema, o Superior Tribunal de Justiça possui entendimento sumulado estabelecendo
que a fazenda pública pode substituir a certidão de dívida ativa até a prolação da
sentença de embargos, quando se tratar de erro material ou formal, sendo vedada a
modificação do sujeito passivo da execução. Súmula 392 do STJ: A Fazenda Pública
pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de
embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a
modificação do sujeito passivo da execução.
Com efeito, a substituição da certidão de dívida ativa não pode modificar o sujeito
passivo da ação executiva, pois, caso isso ocorra, será julgada a ação extinta sem
resolução do mérito. No entanto, é possível que exista erro material ou formal em
relação ao sujeito passivo, como no caso de empresa ter sido declarada falida antes
da ação de execução fiscal sem que a fazenda pública tenha conhecimento.
Nesse caso, é possível a correção de erro material e formal da certidão da dívida
ativa com finalidade de modificar o sujeito passivo da pessoa jurídica para a massa
falida, sem que isso constitua modificação do polo passivo. Assim, quando o juízo
tomar conhecimento da declaração de falência, deverá intimar a fazenda pública
para corrigir erro material da certidão da dívida ativa para a continuidade da
execução fiscal. Portanto, é possível a substituição da certidão da dívida ativa até a
decisão dos embargos, desde que isso não modifique o sujeito passivo da ação
executiva.

3. Discorra sobre o protesto de Certidões de Dívida Ativa - CDAs.


De acordo com a Lei nº 6.830/1980 (LEF), constitui dívida ativa da Fazenda Pública
aquela definida como tributária ou não tributária na Lei nº 4.320/1964. Enfatiza a Lei
de Execuções Fiscais, ainda, que se considera como dívida ativa qualquer valor cuja
cobrança seja atribuída por lei à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos
Municípios e às respectivas autarquias (arts. 1º e 2º, caput e § 1º). A inscrição
desses valores na dívida ativa é realizada pelo órgão competente para apurar a
liquidez, certeza e exigibilidade do crédito (em regra, a atividade é confiada aos
órgãos de representação judicial dos entes públicos, como a Procuradoria da
Fazenda Nacional – art. 2º, § 4º, da LEF), o que consubstancia ato de controle
administrativo de legalidade.
A partir dessa inscrição, que nos termos do art. 204 do CTN goza de presunção
relativa de certeza e liquidez, é extraída a correspondente certidão de dívida ativa,
título executivo extrajudicial apto a aparelhar a execução forçada, conforme o
disposto no art. 784, inciso IX, do CPC/2015 e do art. 6º, §§ 1º e 2º, da Lei nº
6.830/1980.
Com efeito, o art. 1º da Lei nº 9.492/1997 prevê que o “Protesto é o ato formal e
solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação
originada em títulos e outros documentos de dívida” (art. 1º). Em que pese o
protesto extrajudicial tenha sua origem impontualidade e do inadimplemento do
devedor), nota-se que a própria Lei nº 9.492/1997 tratou de ampliar o seu alcance a
“outros documentos de dívida” (não restrito, pois, a títulos cambiais).
Para além disso, não se pode ignorar que o protesto assumiu destacado papel como
instrumento eficaz na ‘cobrança de dívidas’. A propósito, o Superior Tribunal de
Justiça teve a oportunidade de reconhecer que o “protesto é também meio lícito e
legítimo de compelir o devedor a satisfazer a obrigação assumida ou, ao menos,
buscar sua renegociação”, sendo pacífica a orientação jurisprudencial no sentido de
que “só se admite a suspensão dos efeitos do protesto quando as circunstâncias de
fato, efetivamente, autorizarem a proteção do devedor, com a presença da
aparência do bom direito e, em regra, com a prestação de contracautela.
A viabilidade jurídica do protesto extrajudicial de certidões de dívida ativa suscitou
muita controvérsia no seio da doutrina e na jurisprudência, em especial antes da
edição da Lei nº 12.767/2012. Na realidade, anteriormente ao advento da referida
Lei nº 12.767/2012, que alterou a Lei nº 9.492/1997, o STJ vinha sinalizando a
desnecessidade e ausência de interesse da Fazenda Pública em promover o
protesto da certidão de dívida ativa. De todo modo, embora desnecessário esse
proceder (protesto), a Corte tendeu a afastar pretensões indenizatórias por supostos
danos morais decorrentes do protesto de CDAs.
Diante do novo panorama jurídico trazido pela legislação de 2012 (que introduziu o
parágrafo único ao art. 1º da Lei nº 9.492/1997), a jurisprudência do Superior
Tribunal passou a admitir o protesto extrajudicial da certidão de dívida ativa.
Referida disposição da Lei nº 9.492/1997 (parágrafo único do art. 1º, inserido pela
Lei nº 12.767/2012) teve a sua constitucionalidade questionada perante o STF. No
âmbito da ADI nº 5.135/DF, a Confederação Nacional da Indústria arguiu, em
síntese, que o preceito normativo padeceria de vício formal (tendo em vista ter sido
incluído por emenda em medida provisória que tratava de matéria diversa) e, ainda,
seria materialmente inconstitucional (traduzindo “sanção política” rechaçada pela
jurisprudência da Corte, na esteira do que enunciam as antigas Súmulas nº 70, nº
323 e nº 547 do STF). Todavia, a posição majoritária do Supremo Tribunal assentou
a improcedência do pedido formulado na ação direta, referendando a
constitucionalidade do dispositivo que expressamente autorizou o protesto das
certidões de dívida ativa da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios
e das respectivas autarquias e fundações públicas. Fixou-se, assim, a seguinte tese
jurídica: “O protesto das Certidões de Dívida Ativa constitui mecanismo
constitucional e legítimo, por não restringir de forma desproporcional quaisquer
direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e, assim, não constituir sanção
política". Assim, podemos concluir que se encontra resolvida a polêmica jurídica,
sendo legítimo o protesto de certidões de dívida ativa (CDAs).

4. O pedido administrativo de compensação tributária interrompe o prazo


prescricional para a ação de repetição de indébito tributário?
Conforme decidido pelo STJ, o pedido administrativo de compensação tributária não
interrompe o prazo prescricional para a ação de repetição de indébito tributário, pois
não há previsão legal para tanto.
O art. 174, parágrafo único, do CTN prevê as causas legais de interrupção da
prescrição em matéria tributária: o despacho do juiz que ordenar a citação em
execução fiscal, o protesto judicial, qualquer ato judicial que constitua em mora o
devedor e qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em
reconhecimento do débito pelo devedor.
Assim, cotejando o disposto no citado artigo, não se pode compreender o pedido
administrativo de compensação como uma causa interruptiva da prescrição, pois não
é medida judicial nem é ato que importa reconhecimento inequívoco do indébito pela
Administração Pública.

5. Incide imposto de transmissão causa mortis – ITCMD – sobre valores


oriundos de plano de previdência privada?
Atualmente, existem duas modalidades de investimentos em previdência privada, o
PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) e o VGBL (Vida Gerador de Benefício
Livre).
Em regra, no caso de morte do beneficiário da previdência privada, não há
incidência do ITCMD, mas os Estados vêm realizando alterações legislativas para
exigir o ITCMD nas transmissões de recursos provenientes de tais investimentos aos
herdeiros.
Considerando a natureza jurídica dos planos de previdência, conforme normas da
SUSEP, que é o órgão de regulação e de fiscalização dos referidos planos, o VGBL
é seguro da pessoa, enquanto o PGBL é plano de previdência.
Desse modo, o VGBL não pode ser tributado pelo ITCMD, pois o art. 794 do Código
Civil expressamente exclui da herança o capital decorrente de seguro de vida.
Quanto ao PGBL, mesmo que o investidor possa indicar beneficiário do plano no
caso de morte, também possuindo características de seguro de vida, a classificação
como plano de previdência (e não seguro) tem gerado decisões judiciais no sentido
da incidência do imposto sobre o montante investido.
Nesse aspecto, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça no sentido de que o PGBL
seria uma “poupança previdenciária” e, assim, na morte do titular do investimento, há
fato gerador de ITCMD.

6. A fiança bancária e o seguro-garantia judicial, se cobrirem o total do


montante devido, suspendem a exigibilidade do crédito tributário?
Não. A questão tem como elemento central a interpretação do art. 151 do CTN, no
qual constam como causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário: a
moratória; o depósito de seu montante integral; as reclamações e os recursos, nos
termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; a concessão de
medida liminar em mandado de segurança; a concessão de medida liminar ou de
tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; a concessão de medida
liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; e o
parcelamento.
Nota-se que não há menção à fiança bancária, tampouco ao seguro-garantia judicial,
como causas de suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Portanto, diante
dessa omissão, é necessário recorrer à regra de interpretação contida no art. 111, I,
do CTN, no qual consta que se interpreta "literalmente" a legislação tributária que
disponha sobre a suspensão ou exclusão do crédito tributário.
Em razão desse crivo restritivo, o STJ sedimentou que o crédito TRIBUTÁRIO não
tem a sua exigibilidade suspensa em razão de fiança bancária e seguro-garantia
judicial, mesmo que sejam suficientes para cobrir o total do montante devido.
Por outro lado, é necessário asseverar que, recentemente, o STJ decidiu que o
crédito NÃO TRIBUTÁRIO pode ter a sua exigibilidade suspensa na hipótese de a
fiança bancária ou o seguro-garantia judicial serem suficientes para cobrir o
montante total devido. Isso porque tanto o art. 111 quanto o art. 151, ambos do CTN,
tratam do crédito tributário.

7. Solidariedade tributária e interpretação econômica do Direito Tributário:


disserte sobre o tema.
A norma geral sobre solidariedade tributária se encontra no art. 124 do CTN,
abrangendo duas hipóteses: pessoas que tenham interesse comum na situação que
constitui o fato gerador da obrigação tributária; e demais pessoas designadas por lei.
Doutrina e jurisprudência ainda indicam que a lei, ao atribuir responsabilidade a
terceiro, deve observar o art. 128 do CTN, isto é, apenas pessoas vinculadas ao fato
gerador, ainda que indiretamente, podem ser responsabilizadas. A primeira hipótese,
contudo, é que suscita maiores controvérsias.
A definição do "interesse comum" não dispensa uma interpretação construtiva do
significado do conceito indeterminado. Nessa esteira, discute-se hoje sobre como as
teorias econômicas podem contribuir à definição de conceitos e institutos tributários,
não sendo desarrazoado priorizar o interesse econômico comum, em detrimento de
outro de natureza moral ou política, por exemplo, já que a obrigação principal
tributária, ao fim e ao cabo, se resume à pecúnia, bem como os agentes de
mercado, no sistema capitalista, estão sempre a visar à otimização de seus recursos
financeiros.
Sem embargo, a interpretação subsidiada por elementos da teoria econômica não se
confunde com a interpretação econômica empregada em meados do século XX na
Alemanha, que ficou conhecida por ignorar as balizas legais, a fim de se adotar,
como único parâmetro à tributação, a substância econômica do fato gerador.
As inovações teóricas de hoje, sobretudo com o desenvolvimento da análise
econômica do Direito (Law & Economics), consideram que este diálogo
interdisciplinar deve respeitar os limites autopoiéticos (Luhmann) de cada ciência, de
sorte que a decisão sobre a legalidade e a constitucionalidade não resultarão de
uma análise de eficiência econômica, porém esta, se relevante na definição de
significantes empregados pelo legislador, pode fundamentar tal decisão.

8. Tratados de tributação e legislação interna: prevalência e critérios para


solução de conflitos. Disserte sobre o tema.
Estabelece o artigo 98 do CTN que “os tratados e as convenções internacionais
revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que
lhes sobrevenha.” Este dispositivo do CTN tem sido objeto de diversos estudos e
debates na área tributária, sendo a sua aplicação extremamente controvertida, em
especial quando os tratados internacionais entram em conflito com as leis internas
(leis de âmbito nacional).
Muitos doutrinadores já se debruçaram sobre este tema, mas é regra geral de
entendimento entre os doutrinadores tributaristas que: para a solução de conflitos
entre tratados internacionais e leis internas, seria possível perscrutar a baliza sobre
hierarquia de normas, segundo qual norma de hierarquia superior prevalece sobre
hierarquia superior, sendo certo que já há precedentes, no STF, no sentido de serem
os tratados internacionais sobre direito tributário de status de norma supralegal,
portanto abaixo da Constituição Federal, mas acima das leis infraconstitucionais.
Também o princípio da especialidade, segundo qual norma especial prevalece sobre
norma de caráter geral, e o critério temporal, segundo qual a lei mais nova, tratando
sobre o mesmo assunto de lei pretérita, há de prevalecer sobre a lei anterior.
Embora não haja entendimento jurisprudencial consolidado no Supremo, sobre o
tema o Ministro Gilmar Mendes expõe: Em um mundo globalizado e regido pelo
multilateralismo, há que se privilegiarem os acordos consensuais entre países em
detrimento das leis pátrias infraconstitucionais, tendo em vista que num pacto de
acordo tarifário de encargos tributários, as nações olvidam esforços para dar ênfase
ao livre comércio com o mínimo de custos tributários para ambos os países, com o
fito de fortalecer o comercio e a circulação de bens e serviços entre países, portanto
não seria equânime que determinada lei restringe um determinado benefício fiscal a
determinado produto estrangeiro em confronto com tratado internacional, pois isso
geraria quebra do princípio isonomia e boa fé na consecução do contrato, pois o
Estado Constitucional exige a boa-fé e a segurança jurídica dos compromissos
internacionais.

9. Incide IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) sobre veículo importado


para uso próprio?
Sabe-se que o IPI é um tributo federal (art. 153, inc. IV, CF) e incide sobre produtos
que possam ser enquadrados como industrializados, ou seja, decorrentes da
produção. Incide sobre a produção e a circulação de produtos industrializados. É
seletivo em função da essencialidade do produto, não cumulativo e não incide sobre
produtos destinados ao exterior (art. 153, §3º, da CF).
Diferentemente do que ocorre sobre os produtos destinados ao exterior, a CF não
estabelece a imunidade do IPI para produtos importados. Assim, não existe
imunidade no caso de importação de veículos. E não importa se quem importou é
pessoa física ou jurídica, assim como também não interessa o fato de o importador
não exercer o comércio e adquirir o bem para uso próprio, ocorrendo o fato gerador
ocorre com o desembaraço aduaneiro (art. 46, I, CTN).
Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE n. 723.651/PR,
em repercussão geral, firmou tese no sentido de que "incide o imposto de produtos
industrializados na importação de veículo automotor por pessoa natural, ainda que
não desempenhe atividade empresarial e o faça para uso próprio”.
Em suma, ausente imunidade constitucional e, por outro lado, à luz do disposto no
art. 46, I, do CTN, força é convir que incide IPI sobre veículo importado, ainda que o
faça para uso próprio. Nesse sentido, caminha a jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, inclusive com tese fixada em repercussão geral.

10. Confissão espontânea da dívida e parcelamento restabelecem a


exigibilidade do crédito tributário extinto pela decadência ou prescrição?
Conforme as lições da doutrina especializada, acolhidas pela jurisprudência do STJ,
o parcelamento tributário, por vezes acompanhado da confissão de dívida, é capaz
de interromper o prazo prescricional (art. 174, parágrafo único, IV do CTN).
Contudo, só pode ser assim considerado, com a consequente interrupção de
prescrição, se há ato volitivo de adesão. Por sua vez, quando o parcelamento é
liberalidade do Fisco, concedido de ofício, não há que se falar em interrupção da
prescrição.
De outro giro, em relação a débitos já prescritos ou decaídos, o parcelamento
tributário não tem o condão de reavivar a possibilidade de cobrança. Isso porque o
parcelamento tributário não é hipótese de novação de dívida, não podendo se falar
de interrupção de prescrição já consolidada. Inclusive, a decadência (art. 156, V, do
CTN), é forma de extinção do crédito tributário.
Sendo assim, uma vez extinto o direito, não pode ser reavivado por qualquer
sistemática de lançamento ou autolançamento, seja ela via documento de confissão
de dívida, declaração de débitos, parcelamento ou de outra espécie qualquer.

11. As contribuições de intervenção no domínio econômico podem ser


cobradas em setor que não é o destinatário da intervenção?
As Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico, conhecidas como CIDE,
são espécies de contribuições especiais, e a competência para sua instituição é
exclusiva da União. Como o próprio nome sugere, sua finalidade não é a de
arrecadar fundos para os cofres públicos, como é o caso dos impostos, mas ser um
mecanismo de intervenção do Estado na economia.
Nota-se, assim, que a CIDE tem a função primordial de estimular ou desestimular
certos comportamentos, criando um encargo financeiro para sua prática. Trata-se,
portanto, de um tributo extrafiscal.
A Constituição Federal não delineou os fatos geradores sobre os quais o tributo
deveria incidir, portanto, pode-se afirmar que não há materialidade concreta
estipulada na Constituição, o que denota certa autonomia da União para criar novas
contribuições de intervenção no domínio econômico. Por se tratar de um tributo
finalístico, os recursos arrecadados devem ter finalidade direcionada em obediência
à lei que ensejou a instituição da CIDE.
Assim, enquanto nos impostos, em regra, a afetação de receita é proibida, nas
contribuições especiais, dentre as quais se insere a CIDE, a vinculação à finalidade
é imprescindível, observada a disposição legal, em relação ao contribuinte da CIDE,
o Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento de que é desnecessária para
a sua caracterização, que haja vinculação direta entre os benefícios decorrentes da
CIDE e aquele que contribui, ou seja, o contribuinte da CIDE não necessariamente
deve se beneficiar diretamente da contribuição, bastando para caracterizá-lo como
tal, a previsão legal.

12. A formalidade burocrática legal, quando existente para fins de gozo de


imunidade tributária, é requisito declaratório ou constitutivo da imunidade?
A imunidade se constitui, na lição de Paulo de Barros Carvalho, em uma norma de
competência, isto é, o Poder Constituinte, ao delimitar a competência tributária do
ente, deixa de fora determinada operação ou pessoa, por exemplo. Ainda, na lição
de Regina Helena Costa e do entendimento do STF, a imunidade encerra um direito
e uma garantia individuais, figurando, por isso, como cláusula pétrea.
Nos casos em que a legislação tributária exige análise administrativa para efeito de
reconhecimento da imunidade, o STF, há muito tempo, acompanhado
posteriormente pelo STJ, consagrou o entendimento de que o ato administrativo é
um ato declaratório com efeitos ex tunc, retroagindo seus efeitos ao marco em que a
entidade beneficente de assistência social comprovou o preenchimento dos
requisitos necessários ao gozo da imunidade.
Isso porque, embora, de fato, a entidade passe a ostentar uma nova situação
jurídica, imune à exação fiscal em comento, fato é que o pedido administrativo de
reconhecimento da imunidade tributária abrange períodos anteriores ao pleito e,
muitas vezes, demora um longo tempo (inclusive anos) até ser efetivamente
analisado, de modo que não pode ser prejudicado o contribuinte que, cumprindo a
legislação de regência, comprovou a sua condição de imune em exercícios
anteriores.
Portanto, a formalidade burocrática legal, quando existente para fins de gozo da
imunidade tributária, possui viés declaratório, retroagindo, por isso, à data ou
exercício financeiro em que a entidade comprovou o cumprimento dos requisitos
necessários ao gozo da imunidade tributária.
Nesse sentido é a atual orientação do Superior Tribunal de Justiça que editou,
inclusive, a Súmula nº 621 de seguinte teor: "O certificado de entidade beneficente
de assistência social (CEBAS), no prazo de sua validade, possui natureza
declaratória para fins tributários, retroagindo seus efeitos à data em que
demonstrado o cumprimento dos requisitos estabelecidos por lei complementar para
a fruição da imunidade".

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