Você está na página 1de 16

MILAGRE NA CELA 7: UMA ANÁLISE A PARTIR DA NECESSIDADE DE

GARANTIAS INDIVIDUAS NO PROCESSO PENAL BRASILEIRO

Fabio Agne Fayet1


Juliano Astor Corneau2

RESUMO: Esta breve análise visa realizar uma breve síntese acerca das garantias individuais
no processo penal brasileiro, cotejando-as com a obra cinematográfica “Milagre na cela 7”,
disponível na plataforma Netflix. Constata-se a necessidade de debater o tema de garantias
fundamentais do indivíduo, especialmente o acusado durante o processo penal, considerando
as constantes flexibilizações de garantias individuais nos últimos anos, em especial como forma
de combate à criminalidade contemporânea. Discorrer-se-á sobre algumas garantias individuais
e princípios processuais penais caros à Democracia, tecendo breves comentários acerca destes,
realizando comparação com cenas e momentos verificados durante o filme, constatando a forma
com que a arte aborda o jurídico. Diante destas análises, concluir-se-á acerca da necessidade
das garantias supra referidas no processo penal e sua indispensabilidade para a dignidade da
pessoa humana. Efetuar-se-á busca sistematizada abrangendo artigos de periódicos,
dissertações, teses, livros, capítulos de livros e legislação.

PALAVRAS-CHAVE: Processo penal. Direitos e garantias individuais. Milagre na cela 7.


Garantismo penal.

INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objetivo realizar breve análise acerca da necessidade das
garantias individuais no processo penal brasileiro, colacionando-as com o filme turco “Milagre
na cela 7”, 3 publicado na plataforma Netflix no ano de 2019. Este trabalho não possui o condão
de analisar exaustivamente cada princípio, mas tecer comentários, bem como demonstrar a
forma com que a arte traz a percepção do jurídico para a vida. Possui relevância tendo em vista
a fragilização e o enfraquecimento das garantias individuais perante o processo penal, em meio
a um ativismo judicial que por vezes visa atender aos anseios populares.

1
Doutor em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Mestre em Ciências
Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Especialista em Direito Penal
Econômico e Europeu pela Faculdade de Direito de Coimbra. Graduado em Direito pela Universidade do Vale
do Rio dos Sinos. Sócio Diretor e Advogado na FAYET Advogados Associados S/C. Professor de Direito
Penal e Processo Penal da FSG – Centro Universitário da Serra Gaúcha. Contato: fabio.fayet@fsg.edu.br.
http://lattes.cnpq.br/1361242497259188.
2
Acadêmico do Curso de Direito da FSG - Centro Universitário da Serra Gaúcha. E-mail:
juliano_corneau@hotmail.com. http://lattes.cnpq.br/3203560401574983.
3
MILAGRE NA CELA 7. Direção: Mehmet Ada Öztekin. Produção: Sinan Turan; Saner Ayar. Turquia:
Motion Content Group, 2019, 132 min. Disponível em:
<https://www.netflix.com/watch/81239779?trackId=14170286&tctx=2%2C1%2Cd3bc796c-3984-4cd4-
b3f0-ca2841d8326c-7160970%2C85c2d4f0-22fa-40cc-a6ca-
0726e07ce7c6_36732828X3XX1622311836665%2C%2C>. Acesso em 09 de mai. de 2021.
Inicialmente, cumpre realizar breve síntese acerca da obra cinematográfica, que
consiste em “Memo”, um pastor de ovelhas, que certo dia se envolve num mal-entendido e é
acusado de assassinar uma criança. Durante este processo, foi torturado para confessar, e
mesmo já possuindo ao tempo do ato a incapacidade para notar a ilicitude do fato devido ao seu
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, é condenado à morte. No decorrer da obra,
verificam-se atos onde ocorrem ofensas a diversos princípios processuais e garantias
individuais: a presunção de inocência, ampla defesa e contraditório, o devido processo legal e
juiz natural.4
Por fim, serão abordadas análises acerca da conexão da obra com o mundo jurídico, que
ao longo do texto estarão perceptíveis, em um breve apanhado das obras lidas e estudadas ao
longo desta discussão, tema onde é possível dissertar acerca de cada tópico exclusivamente.

1 GARANTIAS BÁSICAS NO PROCESSO PENAL


A liberdade é atributo essencial e inato ao ser humano, e o processo penal se interpõe
entre a pretensão punitiva do Estado e o direito de liberdade do indivíduo,5 visando estabelecer
todas as regras para que, se necessário solapar a liberdade do indivíduo, que ocorra com o menor
desgaste, seja justa, correta e siga as regras de um processo penal democrático.6 O processo
penal é um limitador do poder de punição estatal e garantidor dos direitos fundamentais, que se
apresentam como normas basilares do sistema processual, sem os quais não é possível cumprir
a proteção e garantia à dignidade da pessoa humana,7 sendo, essencialmente, um direito de
fundo constitucional.8
De acordo com Aury Lopes Jr., a concepção do processo penal parte de uma lógica de
redução de danos, ou seja, considera o inegável sofrimento durante um processo de acusação
do cometimento de um crime,9 e a partir deste sofrimento, estabelece constitucionalmente

4
MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 16a ed. São Paulo:
Saraiva, 2021, p. 187.
5
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 41.
6
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 12.
7
Aduz Gilmar Mendes e Paulo Branco que: “Não se pode perder de vista que a boa aplicação dessas garantias
configura elemento essencial de realização do princípio da dignidade humana na ordem jurídica. Como
amplamente reconhecido, o princípio da dignidade da pessoa humana impede que o homem seja convertido
em objeto dos processos estatais.”. (MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito
Constitucional. 16a ed. São Paulo: Saraiva, 2021, p. 187.)
8
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 25ª ed., São Paulo: Atlas, 2021, p. 44.
9
Esta questão é explorada na obra: CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. 3ª ed.
Tradução: Antônio Roberto Hildebrandi. São Paulo: Edijur, 2020.
garantias mínimas para o bem decorrer da avaliação da punibilidade ou não do ato,10 evitando
a condenação de inocentes e a aplicação de vinganças e penas privadas.11-12 A seguir, serão
abordados estes princípios e garantias processuais penais.

1.1 Presunção de inocência


Consagrada por meio da Declaração dos Direitos do Homem de 1789 no advento da
Revolução Francesa, a presunção de inocência sofreu breves ataques durante o fascismo, mas
hoje é considerada um princípio processual básico do direito brasileiro, sendo estabelecida na
Constituição Federal no art. 5°, LVII.13 Diferentemente do período inquisitório, onde a dúvida
gerada pela falta de provas produzia uma espécie de juízo de semi-culpabilidade e semi-
condenação,14 em um período democrático sob a vigência da presunção de inocência, o
indivíduo possui a seu favor o encargo probatório, que é tarefa exclusiva do Estado,15 obtida
mediante processo penal, restando ao réu a possibilidade de produzir prova e contra-prova, por
meio do contraditório.16
O status jurídico-penal de condenado apenas ocorre após a sentença com trânsito em
julgado, de acordo com o entendimento do Supremo Tribunal Federal, referendado nas ADC’s

10
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 23.
11
WUNDERLICH, Alexandre; OLIVEIRA, Rodrigo Moraes de. Resistência, prática de transformação social
e limitação do poder punitivo a partir do sistema de garantias: pela (re)afirmação do garantismo penal
na contemporaneidade. In: WUNDERLICH, Alexandre. Política Criminal Contemporânea:
Criminologia, Direito Penal e Direito Processual Penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 68.
12
Neste sentido, afirma GRECO FILHO que: “Talvez a solução constitucional se explique por dois motivos: o
primeiro, em virtude da origem histórica das garantias individuais, basicamente instituídas como proteção
contra o arbítrio penal; o segundo, em virtude de estar diretamente envolvida no processo penal a liberdade
pessoal, em que o confronto Estado-particular é imediato e concreto, aí parecendo decididamente a
necessidade de garantias, conforme aliás discorremos neste mesmo capítulo.”. (GRECO FILHO, Vicente.
Manual de processo penal. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 39)
13
“LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;”.
(BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 1° de setembro de 2021)
14
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 37.
Ademais, afirma GIACOMOLLI: “Com a inquisição, na Idade Média, numa estrutura de processo penal
inquisitorial, não se partia da inocência do acusado, mas de sua culpabilidade. Nesse paradigma, a inocência
era declarada quando o acusado a demonstrasse (purgatio da acusação), bastando um simples indício à
formação de um juízo condenatório.”. (GIACOMOLLI, Nereu José; Art. 5º, LVII - ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. In: CANOTILHO, J.J.
Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz. Comentários à
Constituição do Brasil. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018, p. 471.)
15
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 25ª ed., São Paulo: Atlas, 2021, p. 52.
16
GIACOMOLLI, Nereu José; Art. 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo
Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz. Comentários à Constituição do Brasil. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018,
p. 476.
43,44 e 54, com todos os indivíduos sob o signo da presunção de inocência, indiferentemente
do crime cometido ou o procedimento instaurado contra si.17 Há, em caráter excepcional, casos
previstos na lei para a prisão de forma anterior ao trânsito em julgado, como nas prisões
cautelares (de caráter processual), que não representa uma antecipação dos efeitos da
condenação,18 mas sim visam garantir a realização da jurisdição penal e a efetividade do
processo, fundada em extrema necessidade. 19
Decorrente do princípio ora discorrido, tem-se o direito ao silêncio ou da não-
autoincriminação previsto no art. 5°, LXIII da CF,20 bem como na Convenção Americana sobre
Direitos Humanos, em seu art. 8º, § 2º, inexistindo a obrigação do acusado de falar durante o
processo ou na investigação, seja por meio de tortura ou outra metodologia invasiva.21-22
Ademais, esta garantia estende-se ao interrogatório, entendido como meio de defesa, onde o
acusado possui direito de estabelecer comunicação com seu advogado antes do referido ato,23

17
“Somente o trânsito em julgado da sentença penal condenatória descaracteriza a ‘presunção juris tantum de
inocência do réu, que passa, então, a ostentar o status jurídico-penal de condenado, com todas as
consequências legais daí decorrentes’. Ademais, ‘a evolução histórica desse direito fundamental titularizado
por qualquer pessoa, independentemente da natureza do crime pelo qual venha a ser condenada’, se constitui
em ‘direito fundamental do indivíduo e limitação ao poder do Estado’, como afirmado na ADPF 144.”
(GIACOMOLLI, Nereu José; Art. 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo
Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz. Comentários à Constituição do Brasil. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018,
p. 473.)
Asseverando o alcance da presunção de inocência “se aplica aos procedimentos em que haja possibilidade de
restrição de direitos ou sanção à condição, conduta ou atividade da pessoa, não se restringindo somente ao
processo penal. Todas as pessoas, independentemente de estarem sendo submetidas a algum procedimento,
estão sob o signo da presunção da inocência.” (GIACOMOLLI, Nereu José; Art. 5º, LVII - ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória. In: CANOTILHO, J.J.
Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz. Comentários à
Constituição do Brasil. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018, p. 477.)
18
GIACOMOLLI, Nereu José; Art. 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo
Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz. Comentários à Constituição do Brasil. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018,
p. 475.
19
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 25ª ed., São Paulo: Atlas, 2021, p. 53.
20
“a expressão ‘preso’ não foi utilizada pelo texto constitucional em seu sentido técnico, pois esse rol de direitos
e garantias individuais tem como titulares todos aqueles, acusados ou futuros acusados (por ex.: testemunhas,
vítimas), que possam eventualmente ser processados ou punidos em virtude de suas próprias declarações.”.
(MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 37ª ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 158-159)
21
GIACOMOLLI, Nereu José; Art. 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado
de sentença penal condenatória. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo
Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz. Comentários à Constituição do Brasil. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018,
p. 476; PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 25ª ed., São Paulo: Atlas, 2021, p. 48.
22
“como se a verdade residisse nos músculos e nas fibras de um miserável torturado”. (BECCARIA, Cesare.
Dos delitos e das penas. 2ª ed. Tradução: Neury Carvalho Lima. São Paulo: Hunter Books, 2015. p. 48.)
23
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 25ª ed., São Paulo: Atlas, 2021, p. 48.
porém não sustando efeito de possível confissão espontânea ou cooperação na produção
probatória por parte do acusado, propiciando melhora no seu quadro penal.24
Outrossim, nota-se que o princípio da presunção de inocência e do direito ao silêncio
foi violado quando Memo é preso, torturado e obrigado a confessar um crime que não cometeu,
com os policiais agindo com a violência marcando com sua digital numa folha onde
supostamente corroborava com as afirmações da acusação, tornando impossível do acusado
contestar a suposta confissão, visto a coação sofrida. Esta situação ora referida enseja,
claramente, uma exclusão de confissão,25 obtida de forma ilegal e desumana, violando direitos
básicos do réu.

1.2 Ampla defesa e contraditório


Ao adotar uma concepção de processo justo e equitativo para obter uma imposição de
sanção de natureza penal, o ordenamento jurídico brasileiro previu como meio de defesa do
acusado os princípios do contraditório e da ampla defesa.26 Embora semelhantes entre si, cada
um dos princípios possui sua aplicação significativa e analítica para o processo penal,27
umbilicalmente conectados, sendo verdadeiro requisito para a validade do processo28 e
inseparável de qualquer ideia de administração organizada de justiça.29 O contraditório consiste
no meio do réu de “contradizer” a acusação, ou seja, conhecer as alegações feitas no processo
pela outra parte30, e, posteriormente, defender-se perante a acusação judicial ou administrativa
imposta e patrocinada pelo Estado, estabelecendo a estrutura dialética do processo.31
Obtempera Rogério Lauria Tucci, que os direitos atinentes ao contraditório, concedidos

24
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 37ª ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 160.
25
“Os direitos ao silêncio e à não autoincriminação demandam a exclusão de uma confissão impropriamente
obtida por outros meios que destroem sua natureza voluntária, qualquer indução de natureza de promessa ou
ameaça exteriorizada pela pessoa com autoridade para obter a confissão ou a entrega de documentos e provas
desfavoráveis. A obrigação compulsória de responder perguntas ou de fornecer evidências destruiria
claramente a natureza voluntária de qualquer confissão, induzindo, consequentemente, a suspeita de culpa
sempre que o acusado não concordasse em produzir as provas solicitadas pela Polícia ou pelo Ministério
Público, e, consequentemente, reduziria drasticamente o âmbito de proteção do direito fundamental à ampla
defesa.”. (MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 37ª ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 162)
26
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 25ª ed., São Paulo: Atlas, 2021, p. 50.
27
MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 16a ed. São Paulo:
Saraiva, 2021, p. 223.
28
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 25ª ed., São Paulo: Atlas, 2021, p. 50.
29
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 379.
30
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 379.
31
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 40.
comumente ao preso, se estendem ao investigado e ao indiciado, visto que a situação
procedimental em relação ao do preso é semelhante, buscando atender ao tratamento paritário
que a lei confere ao indivíduo e do comprometimento com a amplitude de defesa.32
Há, doutrinariamente, uma diferenciação entre contraditório e direito de defesa, visto
que do contraditório que origina-se o exercício de defesa, porém, esta que garante a aplicação
eficaz do contraditório.33 Rege todo e qualquer processo, indiferentemente de ser jurisdicional
ou não, pois, onde reside a possibilidade do indivíduo receber uma decisão desfavorável, existe
o direito ao contraditório,34 que deve ser estar presente em todo processo, e não apenas na
instrução criminal.35 Consiste numa gama de atos a serem praticados afim de obter a ampla
defesa, tais como: requerer a produção de provas, que se determinadas pertinentes, devem ser
obrigatoriamente produzidas; acompanhar a produção das provas, inclusive com o uso das
perguntas cabíveis no caso de prova testemunhal; falar sempre depois da acusação; manifestar-
se sempre em todos os atos e termos processuais aos quais deve estar presente; e recorrer quando
inconformado.36
Está previsto no ordenamento jurídico brasileiro no art. 5°, LV,37 da Constituição
Federal, e tem como objetivo fornecer ao réu a faculdade de ser ouvido no processo, ainda que
escolha não exercer este direito,38 bem como assegurar que tenha uma defesa técnica que
participe e influa nos rumos do processo, constituindo verdadeiro “direito de influência”, não
apenas mero instrumento formal de defesa.39 Para os indivíduos que não possuam recursos para
o pagamento de advogado, a Constituição garante, no art. 5°, LXXIV, que “o Estado prestará

32
TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 2ª ed., São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2004, p. 350.
33
“enquanto o contraditório é a própria exteriorização da ampla defesa, impondo a condução dialética do
processo (par conditio), pois a todo ato produzido pela acusação caberá igual direito da defesa de opor-se-
lhe ou de dar-lhe a versão que melhor lhe apresente, ou, ainda, de fornecer uma interpretação jurídica diversa
daquela feita pelo autor.”. (MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 37ª ed. São Paulo: Atlas, 2021,
p. 154)
34
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 379.
35
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 35.
36
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 40.
37
“LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”. (BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 02 de setembro de 2021)
38
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 39.
39
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 380.
assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos”,
designando a Defensoria Pública, prevista no art. 134 da CF, assistindo o acusado em todos os
graus de jurisdição.40 Na ausência de Defensoria Pública, deve ser designado advogado dativo
ao patrocínio da causa, visto que o art. 261 do CPP garante que “nenhum acusado, ainda que
ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor”.41-42
Intrinsecamente conectado ao contraditório há o princípio da ampla defesa, que consiste
na possibilidade dada ao réu de utilizar-se de todos os elementos e meios para esclarecer a
verdade ou calar-se, conforme julgar pertinente.43 Realiza-se por meio da defesa técnica,
representada na figura do advogado constituído ou da Defensoria Pública, e confere ao réu a
faculdade de utilização de provas ilícitas no processo, visando demonstrar a inocência do
acusado.44
A concepção moderna do direito de ampla defesa reclama alguns procedimentos, tais
como: o direito à informação (o advogado deve ter acesso irrestrito aos autos do processo,
inclusive se correm em segredo de justiça)45 a bilateralidade da audiência (contraditoriedade) e
o direito à prova legitimamente obtida ou produzida. 46 São conferidos estes direitos ao
indivíduo desde a fase pré-processual (investigação criminal), até o processo de execução,
indiferentemente se for condenatória ou absolutória,47 a fim de que o acusado possa preparar
sua defesa técnica ou autodefesa. Parte da doutrina entende da possibilidade da utilização da

40
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 41.
41
Aury Lopes Jr. Ressalta o dever do Estado com a assistência judiciária gratuita, pois “Assim como o Estado
organiza um serviço de acusação, tem esse dever de criar um serviço público de defesa, porque a tutela da
inocência do imputado não é só um interesse individual, mas social.”. (LOPES JUNIOR, Aury. Direito
processual penal. 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 40.)
42
“A defesa técnica decorre da necessidade de simetria de conhecimento especializado entre acusação e defesa
e é absolutamente indisponível no processo. Essa é a razão pela qual constitui entendimento pacífico no
âmbito do STF que, ‘no processo penal, a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só
o anulará se houver prova de prejuízo para o réu’ (Súmula 523). Vale dizer: a ausência de defesa leva à
decretação de nulidade do processo, ao passo que o vício derivado de sua deficiência só levará a idêntico
resultado se provado o prejuízo dela oriundo. Outra não é a razão, igualmente, que levou o STF a decidir que
‘é nulo o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia do único defensor, o réu não
foi previamente intimado para constituir outro’ (Súmula 708).”. (SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz
Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito Constitucional. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 384.)
43
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 37ª ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 153.
44
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 25ª ed., São Paulo: Atlas, 2021, p. 51.
45
MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 16a ed. São Paulo:
Saraiva, 2021, p. 223.
46
TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 2ª ed., São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2004, p. 176.
47
TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 2ª ed., São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2004, p. 181.
prova obtida ilicitamente, o que é vedado para a acusação, caso desta prova ser destinada à
demonstração da inocência do acusado, estendendo o estado de necessidade. 48-49
Outrossim, durante a obra cinematográfica verifica-se que não havia a presença de
advogado ou defensor público durante o interrogatório policial sofrido por Memo, ferindo o
princípio do contraditório e da ampla defesa, podendo ensejar a nulidade desta suposta
confissão.50

1.3 Devido processo legal


Para a existência de um Estado Democrático de Direito, é necessária a presença de um
pressuposto essencial: o devido processo legal. Previsto desde a Magna Carta, promulgada em
1215 na Inglaterra pelo Rei João-Sem-Terra, em seu art. 39 diz que qualquer restrição à
liberdade ou perda de bens51 deve ser realizada mediante um processo justo,52-53 e o julgamento
deve ser previamente definido em lei.54 Para que o processo seja entendido como justo, deve
ser realizado de forma adequada e razoável, respeitando os direitos e garantias fundamentais55,

48
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 25ª ed., São Paulo: Atlas, 2021, p. 51.
49
Alexandre de Moraes estabelece uma diferença entre provas ilícitas e ilegais/ilegítimas: “As provas ilícitas não
se confundem com as provas ilegais e as ilegítimas. Enquanto, conforme já analisado, as provas ilícitas são
aquelas obtidas com infringência ao direito material, as provas ilegítimas são as obtidas com desrespeito ao
direito processual. Por sua vez, as provas ilegais seriam o gênero do qual as espécies são as provas ilícitas e
as ilegítimas, pois configuram-se pela obtenção com violação de natureza material ou processual ao
ordenamento jurídico.”, ao passo de que “ Desta forma, repita-se que a regra deve ser a inadmissibilidade das
provas obtidas por meios ilícitos, que só excepcionalmente deverão ser admitidas em juízo, em respeito às
liberdades públicas e ao princípio da dignidade humana na colheita de provas e na própria persecução penal
do Estado.”. (MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 37ª ed. São Paulo: Atlas, 2021, p. 163-165)
50
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 379.
51
“Esta regra aplica-se tanto ao processo penal, na restrição da liberdade do indivíduo, quanto ao processo
civil, na perda de bens.” (GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 9ª ed., São Paulo: Saraiva,
2012, p. 35.)
52
“nenhum homem livre será detido ou sujeito a prisão, ou privado dos seus bens, ou colocado fora da lei ou
exilado, ou de qualquer modo molestado, e nós não procederemos ou mandaremos proceder contra ele, se não
mediante um julgamento regular pelos seus pares e de harmonia com a lei do país”. (COUTINHO, Jacinto;
Art. 5º, LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente. In:
CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz.
Comentários à Constituição do Brasil. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018, p. 460.)
53
AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 9a ed., Belo Horizonte: Fórum, 2018, p. 259.
54
COUTINHO, Jacinto; Art. 5º, LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK,
Lenio Luiz. Comentários à Constituição do Brasil. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018, p. 460.
55
COUTINHO, Jacinto; Art. 5º, LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK,
Lenio Luiz. Comentários à Constituição do Brasil. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018, p. 461.
sendo explicitado no ordenamento jurídico brasileiro por meio da Constituição Federal, em seu
art. 5°, LIV.56
Entendido como um “princípio síntese”, visto que abarca uma série de outros valores-
norte do processo penal, tais quais os já supramencionados contraditório e ampla defesa,
presunção de inocência, bem como do juiz natural, publicidade dos atos processuais, dentre
outros.57 A ordem jurídica concede à pessoa humana a liberdade de agir, salvo contrarie lei
promulgada e vigente, onde poderá ser obrigado a fazer ou deixar de fazer algo, a ser julgado
mediante a submissão de um processo nos rigores da lei,58 conforme a regra nulla poena sine
judicio.59-60
O estabelecimento do devido processo legal assume um pressuposto democrático
essencial para o fundamento constitucional brasileiro, a saber: a dignidade da pessoa humana.
Esta, “não é um direito, mas a essência do ser humano”, portanto, “não é algo acidental e nem
cambiante conforme o tempo e o espaço, mas perene e inerente às pessoas”. 61 Sendo inerente
ao ser humano, deve ser pilar básico de todo e qualquer processo, não servindo de “instrumento
ou meio à degradação humana, ao aniquilamento da essência do ser, de sua qualidade humana”,
devendo o Estado operar em função do acusado, e não este, se submetendo, sem possibilidade
de contestação, ao Estado.62
Em âmbito penal, a determinação de prisão apenas pode ocorrer nos casos previstos na
lei, tal qual a sentença de condenação penal transitada em julgado (art. 5°, LVII, CF), bem como

56
“LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;”. ((BRASIL.
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 02 de setembro de 2021)
57
SILVA, Ângelo Roberto Ilha da. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 2ª ed., Belo Horizonte: D’Plácido,
2021, p. 98.
58
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 31.
59
GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 35.
60
Obtempera o professor Ângelo Ilha: “O princípio da legalidade é, seguramente, o mais concreto e efetivo
princípio limitador ao imperium estatal no que tange a intervenção penal, porquanto sob seu influxo não há
falar em crime assim como não há falar em pena sem que haja uma prévia e formal incriminação legal.”
(SILVA, Ângelo Roberto Ilha da. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 2ª ed., Belo Horizonte: D’Plácido,
2021, p. 77)
61
GIACOMOLLI, Nereu José. Resgate necessário da humanização do processo penal contemporâneo. In:
WUNDERLICH, Alexandre. Política Criminal Contemporânea: Criminologia, Direito Penal e Direito
Processual Penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 332.
62
GIACOMOLLI, Nereu José. Resgate necessário da humanização do processo penal contemporâneo. In:
WUNDERLICH, Alexandre. Política Criminal Contemporânea: Criminologia, Direito Penal e Direito
Processual Penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 333.
as hipóteses excepcionais de prisões provisórias de natureza cautelar, como prisão temporária,
prisão em flagrante ou de prisão preventiva.63
Colacionando-o com a situação vivida por Memo, onde aparentemente vive-se uma
ditadura militar, o devido processo legal foi abandonado por completo, com as penas e
imposições ocorridas ao réu ocorrendo à sua revelia e sem seu saber dos fatos.

1.4 Juiz natural


Vetor essencial para superar a irracionalidade da vingança privada, da Lei de Talião do
“olho por olho, dente por dente”, a sociedade democrática optou por monopolizar e conferir ao
Estado o poder de impor sanções penais aos indivíduos. Intentando evitar injustiças ao
estabelecer o devido processo para imposição de pena, com a titularização do poder punitivo
pelo Estado, a sociedade abriu mão para a aplicação do direito objetivo pelo Estado, onde este
irá resolver o conflito social.64
No processo penal, assume papel central na sua condução a figura do juiz, que deve ser
imparcial, natural e comprometido com a máxima eficácia da Constituição Federal, com a tarefa
de proteção dos direitos fundamentais de todos os indivíduos. 65 Primeiramente, verifica-se que
a imparcialidade é garantia essencial, visto que haveria grave risco se o processo penal estivesse
nas mãos de juiz pessoalmente interessado na causa. 66 A Constituição, visando garantir esta
imparcialidade ao magistrado, estabeleceu as garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e
irredutibilidade de subsídios, previsto em seu art. 95.67
Todavia, a lei presume a parcialidade do magistrado em alguns casos, permitindo que
se afaste do julgamento da causa, admitindo situações de impedimento e suspeição. O Código
de Processo Penal prevê no seu art. 252 as situações de impedimento, que pressupõe a
presunção absoluta de parcialidade por meio de incapacidade objetiva. 68 Por outro lado, as

63
TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 2ª ed., São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2004, p. 280-281.
64
MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 16a ed. São Paulo:
Saraiva, 2021, p. 236.
65
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 27.
66
MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 16a ed. São Paulo:
Saraiva, 2021, p. 32.
67
AVENA, Norberto. Processo Penal. 13ª ed., Rio de Janeiro: Método, 2021, p. 25.
68
“Os casos de impedimento são mais graves e proíbem o juiz de exercer o poder jurisdicional para o caso
concreto, podendo ensejar, inclusive, a ação rescisória ou o habeas corpus, porque o processo criminal se
torna ‘manifestamente nulo’.”. (GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 9ª ed., São Paulo:
Saraiva, 2012, p. 37)
causas de suspeição são motivos de incapacidade subjetiva do juiz, previstas no art. 254 do
referido CPP.69
Ademais, deve o juízo destinado à ação penal ser um órgão previamente constituído sob
as bases legais ser revestido de competência para julgamento na esfera criminal, assentado no
princípio da legalidade e utilizando-se de sorteio para o julgamento do processo jurisdicional,
assegurando a aleatoriedade do juiz.70-71
Veda-se o tribunal de exceção, a proibição de se constituir um órgão do Judiciário
exclusivamente para processar e julgar determinados atos ou infrações penais. 72 Tendo em vista
que o ordenamento jurídico brasileiro optou pela ratione materiae, especialização por matéria,
e em competência ratione personae, especialização por funções, não há que se falar em
inconstitucionalidade acerca da especialização das varas por matéria, casos das varas do
trabalho, eleitoral e militar.73
Acerca da “imparcialidade” do julgador, reside na ausência de interesse judicial na sorte
de qualquer uma das partes, sendo um requisito anímico do juiz, visto que sem esta não é
possível o tratamento isonômico das partes.74 Jamais será parte no processo, atua como um
terceiro, pois está dotado de impartialidade, possuindo tarefa diversa das partes na celeuma
processual. 75 Consoante aduz Aury Lopes Jr., a imparcialidade não se confunde com a
neutralidade, tendo em vista que o magistrado continua tendo concepções particulares acerca
da política, religião e ideologia, mas tendo o condão de ser imparcial cognitivamente.76
O início da proteção constitucional do réu ocorre no momento do delito, antevendo
situações de tortura e abusos cometidos durante a fase investigatória (pré-processual).
Correlacionando-o com o filme, pouco se exibe sobre o juiz, limitando-se a aparecer no

69
AVENA, Norberto. Processo Penal. 13ª ed., Rio de Janeiro: Método, 2021, p. 25.
70
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 378.
71
Assevera Vicente Greco Filho que: “Já a suspeição depende de reconhecimento pelo juiz ou de provocação
da parte, que pode recusar o juiz mediante o procedimento da exceção de suspeição.”. (GRECO FILHO,
Vicente. Manual de processo penal. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012, p. 37)
72
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 25ª ed., São Paulo: Atlas, 2021, p. 45.
73
AVENA, Norberto. Processo Penal. 13ª ed., Rio de Janeiro: Método, 2021, p. 30; PACELLI, Eugênio. Curso
de Processo Penal. 25ª ed., São Paulo: Atlas, 2021, p. 45; TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias
individuais no processo penal brasileiro. 2ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 115.
74
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 378.
75
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de Direito
Constitucional. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 378;
76
LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021, p. 23.
julgamento para efetuar a sentença condenatória, mesmo observando que o réu (Memo) não
possuía defesa técnica presente, devendo o magistrado, neste caso, defender o direito
fundamental do réu de possuir o acesso à um profissional habilitado para exercer a sua defesa.

2 A INIMPUTABILIDADE PENAL DE AGENTES COM DOENÇA MENTAL OU


DESENVOLVIMENTO INCOMPLETO OU RETARDADO
O legislador brasileiro definiu na lei nacional o crime como fato típico, antijurídico e
culpável,77 utilizando o critério biopsicológico para analisar a responsabilidade penal dos
indivíduos, onde considera tanto a formação e evolução biológica do sujeito (menoridade), bem
como a indivíduos com desenvolvimento mental incompleto ou retardado,78 considerando-os
inimputáveis penalmente, visto que o indivíduo não possui condições de compreender a
ilicitude do fato ou de determinar-se de acordo com essa determinação legal.79-80
Após o cometimento de um fato típico81 e a constatação por meio de laudo psiquiátrico
de que o indivíduo possui sua capacidade motora (desenvolvimento mental) incompleto ou
retardado,82 este não está mais sujeito a pena, e sim a uma medida de segurança,83 que perdurará

77
Conforme doutrina de Francisco Assis Toledo: “Daí entendermos, contrariamente à opinião de alguns autores,
que a imputabilidade é pressuposto necessário da culpabilidade, não simples elemento desta.”. (TOLEDO,
Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5ª ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 314)
78
Ainda de acordo com o mestre Toledo: “Tendo o legislador usado termos bastante genéricos, como facilmente
se percebe, a exata extensão e compreensão das expressões ‘doença mental’ e ‘desenvolvimento mental
incompleto ou retardado’ fica deferida ao prudente arbítrio do juiz que, em cada caso, se valerá do
indispensável auxílio de perícias especializadas.”. (TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de
direito penal. 5ª ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 315)
79
SILVA, Ângelo Roberto Ilha da. Da inimputabilidade penal em face do atual desenvolvimento da
psicopatologia e da antropologia. 2ª ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015, p. 40-41.
80
Consoante aduz Francisco Assis Toledo: “Quando se afirma que certa pessoa é imputável, está-se dizendo ser
ela dotada de capacidade para ser um agente penalmente responsável.”. (TOLEDO, Francisco de Assis.
Princípios básicos de direito penal. 5ª ed., São Paulo: Saraiva, 2002, p. 313)
81
Nota-se que não é utilizado o termo “crime”, pois, de fato, o indivíduo não comete crime, pois age sem
culpabilidade. (SILVA, Ângelo Roberto Ilha da. Da inimputabilidade penal em face do atual
desenvolvimento da psicopatologia e da antropologia. 2ª ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015, p.
39)
82
Para a norma penal, este conceito deve ser entendido de forma ampla, consoante aduz Ângelo Ilha: “A primeira
causa de inimputabilidade mencionada no artigo é a doença mental. À expressão deve ser atribuído o mais
amplo sentido, abrangendo, além de outras causas, sobretudo as psicoses, aí incluída a esquizofrenia, como
a mais significativa causa de inimputabilidade no âmbito do caput do art. 26 do CP. De especial relevância
também estão a embriaguez patológica, a toxicomania grave, os transtornos bipolares e as demências, tais
como demência senil, Alzheimer, Pick, demência por traumatismo craniano, etc.”. (SILVA, Ângelo Roberto
Ilha da. Da inimputabilidade penal em face do atual desenvolvimento da psicopatologia e da
antropologia. 2ª ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015, p. 55)
83
CASTELO BRANCO, Thayara. O exame de periculosidade do agente e a criminalização da doença mental
no direito brasileiro: apontamentos críticos. In: ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI, 2010, Fortaleza.
Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI, Florianópolis: Fundação Boiteux, 2010, p.1071.
enquanto existir a periculosidade do agente. 84 Esta não possui caráter de pena, mas sim de
tratamento e recuperação do indivíduo, visando obter a proteção da sociedade.85
Dispõe o Código Penal, em seu art. 97: “Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz
determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com
detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.”. Para a medida de segurança,
pressuposto essencial para sua configuração é a periculosidade do agente, que é presumida todas
as vezes que o indivíduo possuir as condições estabelecidas no art. 26, caput do CP.86 Logra
verificar que somente haverá inimputabilidade se a incapacidade do agente impedi-lo de
entender o caráter ilícito do fato ou diminuir a capacidade do agente de autodeterminação em
relação ao caráter ilícito do fato.87 Nem toda doença mental determinará a falta de capacidade
do indivíduo para compreensão da situação fática, a exemplo de alguém acometido de
esquizofrenia, mas devidamente medicado, sem sofrer resquício algum na parte cognitiva em
relação à realidade, restando a sua capacidade penal comprovada.88
Ademais, em situações de semi-imputabilidade, onde a capacidade do agente é reduzida
devido a doença mental ou desenvolvimento incompleto ou retardado, poderá ter a sua pena
reduzida de um a dois terços, conforme art. 26, parágrafo único, do Código Penal. Ademais,
constata-se no início do filme que Memo trata-se de um agente com doença mental, possuindo,
como posteriormente seus colegas de cela descrevem, “o cérebro do tamanho de uma ervilha”,
impossibilitando-o de exercitar o discernimento entre o lícito e o ilícito.

84
CASTELO BRANCO, Thayara. O exame de periculosidade do agente e a criminalização da doença mental
no direito brasileiro: apontamentos críticos. In: ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI, 2010, Fortaleza.
Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI, Florianópolis: Fundação Boiteux, 2010, p.1065.
85
CASTELO BRANCO, Thayara. O exame de periculosidade do agente e a criminalização da doença mental
no direito brasileiro: apontamentos críticos. In: ENCONTRO NACIONAL DO CONPEDI, 2010, Fortaleza.
Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI, Florianópolis: Fundação Boiteux, 2010, p.1061; SILVA,
Ângelo Roberto Ilha da. Da inimputabilidade penal em face do atual desenvolvimento da psicopatologia
e da antropologia. 2ª ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015, p. 112.
86
“Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento.”. (BRASIL. Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de
1940. Institui o Código Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm. Acesso em: 1° de setembro de 2021.)
87
SILVA, Ângelo Roberto Ilha da. Da inimputabilidade penal em face do atual desenvolvimento da
psicopatologia e da antropologia. 2ª ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015, p. 56.
88
SILVA, Ângelo Roberto Ilha da. Da inimputabilidade penal em face do atual desenvolvimento da
psicopatologia e da antropologia. 2ª ed., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015, p. 57.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, após breve análise acerca dos princípios fundamentais do processo penal,
atinentes a esta referida obra cinematográfica, constata-se a violação completa e desmedida das
garantias individuais do ser humano, física e psicologicamente, vivida por Memo. Foi torturado,
obrigado a confessar e condenado à morte por um crime que não cometeu, não sendo revestido
dos direitos que um processo penal democrático o concederiam e que jamais devem descolar-
se do acusado.
Em determinados trechos da obra que, impossibilitado de defender-se devido à sua
doença mental, contou com a comoção de seus colegas de cela, que lhe ajudaram a lutar pela
sua liberdade, e, ao final, lograram êxito em evitar a sua execução. Memo é salvo da condenação
e foge do país em que residia, buscando novos horizontes.
Memo, ao final da obra parece ter um final feliz, mas não o tem. Teve que sair do seu
lar para poder viver uma vida digna, que ultrapasse o mero existir biologicamente. Felizmente,
dentro da situação lamentável que viveu, teve uma oportunidade que muitos outros indivíduos
que tiveram suas prerrogativas violadas não tiveram. A relativização das garantias penais e
processuais despersonaliza o ser humano e o torna mero objeto do Estado, este que deve existir
em função do ser humano, que é um fim em si mesmo.89

REFERÊNCIAS
AGRA, Walber de Moura. Curso de Direito Constitucional. 9a ed., Belo Horizonte: Fórum,
2018.

AVENA, Norberto. Processo Penal. 13ª ed., Rio de Janeiro: Método, 2021.

BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: Os conceitos


fundamentais e a construção do novo modelo. 9a ed. São Paulo: Saraiva, 2020.

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. 2ª ed. Tradução: Neury Carvalho Lima. São
Paulo: Hunter Books, 2015.

CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK,
Lenio Luiz. Comentários à Constituição do Brasil. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018.

CARNELUTTI, Francesco. As misérias do processo penal. 3ª ed. Tradução: Antônio


Roberto Hildebrandi. São Paulo: Edijur, 2020.

89
GIACOMOLLI, Nereu José. Resgate necessário da humanização do processo penal contemporâneo. In:
WUNDERLICH, Alexandre. Política Criminal Contemporânea: Criminologia, Direito Penal e Direito
Processual Penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 344.
CASTELO BRANCO, Thayara. O exame de periculosidade do agente e a criminalização
da doença mental no direito brasileiro: apontamentos críticos. In: ENCONTRO
NACIONAL DO CONPEDI, 2010, Fortaleza. Anais do XIX Encontro Nacional do
CONPEDI, Florianópolis: Fundação Boiteux, 2010, p.1061-1071.

CASTELO BRANCO, Thayara. O estado penal-psiquiátrico e a negação do ser humano


(presumidamente) perigoso. Revista de Criminologias e Políticas Criminais, ano 3,
Maranhão, vol. 3, n. 2, p. 19-32, jul.-dez., 2017.

CASTELO BRANCO, Thayara; PIRES, Anna Kely Diniz. Medidas de segurança: um


instituto que dita o ritmo da narrativa sobre o "louco infrator" e criminaliza a loucura
em nome da defesa social. Revista Ceuma Perspectivas, Maranhão, ano 23, vol. 29, n. 1, p.
73-87, jan.- jul., 2017.

COUTINHO, Jacinto; Art. 5º, LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela
autoridade competente. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar Ferreira;
SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz. Comentários à Constituição do Brasil. 2ª
ed., São Paulo: Saraiva, 2018.

GIACOMOLLI, Nereu José; Art. 5º, LVII - ninguém será considerado culpado até o
trânsito em julgado de sentença penal condenatória. In: CANOTILHO, J.J. Gomes;
MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz. Comentários à
Constituição do Brasil. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018.

GIACOMOLLI, Nereu José. Resgate necessário da humanização do processo penal


contemporâneo. In: WUNDERLICH, Alexandre. Política Criminal Contemporânea:
Criminologia, Direito Penal e Direito Processual Penal. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2008, p. 332.

GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2012.

LOPES JUNIOR, Aury. Direito processual penal. 18ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021.

MENDES, Gilmar; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 16a
ed. São Paulo: Saraiva, 2021.

MENDES, Gilmar Ferreira; Art. 5º, LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus
bens sem o devido processo legal. In: CANOTILHO, J.J. Gomes; MENDES, Gilmar
Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lenio Luiz. Comentários à Constituição do
Brasil. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2018.

MILAGRE NA CELA 7. Direção: Mehmet Ada Öztekin. Produção: Sinan Turan; Saner
Ayar. Turquia: Motion Content Group, 2019, 132 min. Disponível em:
<https://www.netflix.com/watch/81239779?trackId=14170286&tctx=2%2C1%2Cd3bc796c-
3984-4cd4-b3f0-ca2841d8326c-7160970%2C85c2d4f0-22fa-40cc-a6ca-
0726e07ce7c6_36732828X3XX1622311836665%2C%2C>. Acesso em 09 de mai. de 2021.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 37ª ed., São Paulo: Atlas, 2021.

PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 25ª ed., São Paulo: Atlas, 2021.
PIRES, Anna Kelly Diniz; CASTELO BRANCO, Thayara. Medidas de segurança: um
instituto que dita o ritmo da narrativa sobre o “louco infrator” e criminaliza a loucura em
nome da defesa social. Revista Ceuma Perspectivas, São Luís, vol. 29, n. 1, p. 73-87, jan.-jul.,
2017.

SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de


Direito Constitucional. 10ª ed., São Paulo: Saraiva, 2021.

SILVA, Ângelo Roberto Ilha da. Da inimputabilidade penal em face do atual


desenvolvimento da psicopatologia e da antropologia. 2ª ed., Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2015.

SILVA, Ângelo Roberto Ilha da. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 2ª ed., Belo Horizonte:
D’Plácido, 2021.

TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos de direito penal. 5ª ed., São Paulo:
Saraiva, 2002.

TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro. 2ª


ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

WUNDERLICH, Alexandre. Política Criminal Contemporânea: Criminologia, Direito


Penal e Direito Processual Penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.

WUNDERLICH, Alexandre; OLIVEIRA, Rodrigo Moraes de. Resistência, prática de


transformação social e limitação do poder punitivo a partir do sistema de garantias:
pela (re)afirmação do garantismo penal na contemporaneidade. In: WUNDERLICH,
Alexandre. Política Criminal Contemporânea: Criminologia, Direito Penal e Direito
Processual Penal. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.

Você também pode gostar