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15/02/2023

ORIGEM DE PORTUGAL

As relações se constroem em torno dessa unidade política (ainda não existia o Estado) que,
para tal, necessita de:

1. Um território
2. Alguém que governe
3. Reconhecimento internacional: baseia-se num poder de facto1.

No que diz respeito a PT, o 1º território é o Condado Portucalense. Ficava na fronteira com os
muçulmanos e foi entregue ao conde Dom Henrique, por Afonso VI de Leão e Castela. O conde
fica sediado em Guimarães que era a sede do poder na altura. É a partir daí que surge a ideia
de PT.

Segundo Martinez, se os Portucalenses:

1. Não mantivesse posições ofensivas no norte do rio Minho desde 1.130


2. Não tivessem assegurado as fronteiras a sul com a vitória sobre os Sarracenos em
1.139
3. Não tivesse evitado a invasão leonesa nos campos de Valdevez ou Monção

… a unidade portuguesa não lograria o reconhecimento resultante do Tratado de Zamora


(1.143).

Historicamente, a resposta para:

 quem faz o reconhecimento;


diretamente ligada à expansão da fé
 como se formam os territórios;
cristã.
 por qual motivo se formam os territórios

No início do sec. IV, Constantino I, o imperador romano-germânico se torna


cristão e todos os seus súditos tem de professar a mesma fé. Contudo, com
a vinda dos árabes tudo se desmantela e surge a ideia de reconquista do
território.

Buscava-se como fronteira os acidentes naturais tais como os rios. Isto é,


recorria-se aos cursos d’água para estabelecer fronteiras. O condado
portucalense era dependente do rei Afonso VI, mas, em 1.112, Dom
Henrique (pai) falece e coloca em causa a questão da sucessão. Sucede
Dona Teresa que tem um amante (Conde Fernão Peres de Trava > Conde da Galiza > gera
atrito entre o Condado Portucalense > Portucalenses x Galegos) e o conjunto dos fidalgos que
estavam em Guimarães não veem com bons olhos tal relação. Dom Afonso Henriques, o filho,
arma-se em cavaleiro e pretende formar um reino. Isto dá surgimento a intrigas, pois no
castelo as opiniões divergem.

Neste período o atual território PT é formado à custa de 2 tipos de territórios:


1
Ex: Zelensky busca reconhecimento internacional através de pedidos de apoio de ordens diversas. É por esta
razão que o Presidente viaja por países distintos.
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1. Condado portucalense: povoado por cristãos


2. Muçulmano: povoado por Almóadas e Almorávidas

 1.129: composto por 2 reinos > Reino de Portugal e do Algarve


o Reino de Portugal
o Reino do Algarve

É o período da conquista definitiva do Algarve. Contudo, não basta conquistar, pois deve-se
povoar e administrar o território conquistado. Sendo assim, poupam-se vidas visto que são
necessárias pessoas para habitarem os territórios recém-conquistados. Neste sentido, de
entre outras questões, faz-se as mudanças de mesquitas por Igrejas, por exemplo. Sempre que
possível PT mantinham-se as populações vivas mudando apenas os estatutos políticos.

Ordem militar de Santiago: é um corpo militar, uma milícia que conquista praças e avançam
no território.

Portanto, o Condado foi entregue:

 Dom Henrique (1.112 - morte)


 Dona Teresa > sucessora do trono

Quando morre D. Henrique, nascem duas fações:

1. pró-galegos
2. proto-português

Os historiadores classificam como fação, visto que há época não existia a ideia de partido
político, que nasce somente no fim do século XIX. É por isso que na RF não se aceita a
expressão partido, visto que tal era pejorativa. Sempre que se escrever partido deve-se por
entre aspas.

Proto: é expressão que significa > estar antes de, ou seja, antes da história. Está mesmo na
fronteira. Logo, temos dois “partidos”.

“Partidos”/fações:

1. “Pró-galego”
2. “Proto-português”

Relação de vassalagem: é o vínculo de confiança em que o vassalo tem de mostrar


periodicamente ao imperador (suserano). É uma forma de manter o território e obediência.

Antes da ideia de diplomacia, as questões resolviam-se através da guerra. O alimento da


guerra é o sangue. No entanto, em 1.128, tudo muda com a Batalha de São Mamede (não se
sabe se existiu ao certo).

Escolhe-se os melhores cavaleiros que deverão defrontar-se: aceita o resultado dessa Justa.
Não se trata de um torneio, mas de uma espécie de duelo em que os cavaleiros se enfrentam a
fim de sobreporem as suas vontades face ao povo representado pelo cavaleiro perdedor. A
vitória é do “partido” proto-português.

A Batalha de S. Mamede é o ponto de partida para a formação de um reino.


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Entre 1.128 e 1.143: DAH progressivamente conquista territórios aos árabes. A noção de
cavaleiro era pejorativa e isto traz alguns problemas. Neste período DAH realiza as suas
conquistas e procura o necessário reconhecimento e independência.

Na Idade Média as relações diplomáticas são triangulares. Um reino depende sempre da


formação da Santa Sé. O Papa representa o direito divino na terra. É ele quem institui ou
destitui um sujeito de uma determinada relação. Neste caso, temos:

1. Bispo da Santa Sé
2. Rei de Portugal
3. Imperador de Leão

A boa relação entre Portugal e o Imperador de Leão não garante que DAH fosse rei. É um
passo importante ambos entenderem-se, mas, a medida em que segue conquistando o
território a sul (zona meridional) é possível ser atacado na retaguarda, mais ao norte (zona
setentrional). Um bom entendimento político entre os primos, DAH e Afonso VII de Leão,
contribui para as relações diplomáticas, todavia é indispensável o apoio da Santa Sé (Roma).

Dada a natureza duvidosa dos cavaleiros, o Papa 2 não dava lhes dava o devido apoio que
chegou apenas 40 anos depois. No entanto, DAH oferece o reino conquistado à cristandade
com o objetivo de aumentar o território e a fé cristã. Contudo, para se tornar vassalo devia-se
pagar o censo de 4 onças de ouro que se traduz no sentido da obediência.

 Vassalagem: confiança
 Santa Sé: obediência

O primeiro diplomata é Dom João Peculiar (fundador do


Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra na pracinha ao fim da rua >
lembra o Seu Madruga). É enviado nas Embaixadas ao Papa para
demonstrar os objetivos do potencial reino. Quanto aos
resultados práticos não obteve grandes êxitos, mas representou
muito bem os propósitos estipulados.

Todavia, foi na Batalha de Ourique (1.139) que se retraiu a


influência dos árabes, aqui chamados de Sarracenos. Esta
batalha trouxe um novo contexto: pela primeira vez DAH
intitula-se “Alfonsus Rex Portugalensis Dei Gratia”. DAH, para
além de se autointitular cavaleiro, intitulou-se Rex.

DAH entende que a Galiza é herança da mãe, D. Teresa, que é


filha de D. Afonso VI de Leão e Castela. O que significa Dom?
Senhor. Ou seja, Senhor Afonso Henriques.

Quer do lado português e de Leão, o problema seriam os árabes ao sul. Surge a necessidade de
avançar na conquista do território. Para tentar resolver os problemas, dá-se uma trégua/pausa
2
Se pretender identificar um Papa, escreve-se em minúsculas. Ex: papa Pio XII, papa Urbano, papa João Paulo. Do contrário, usa-
se Papa com maiúscula para designar o chefe da Igreja Católica.
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nas hostilidades entre os primos (Conde e Imperador), mas não é o seu fim. É neste período
que realizar-se-á a Conferência de Zamora (1.143). É o momento alto da diplomacia, onde
sentam os beligerantes (DAH e Afonso VII de Leão) e o cardeal Guido de Vico (representante
do papa Inocêncio II).

Desta Conferência de Zamora surgem alguns aspetos que DAH necessitava a nível político:

1. Reconhece que se trata de um território independente > independência do condado


portucalense.
2. Reconhece o título de Rei (Rex) > reconhecimento pelo Imperador, mas não pela Santa
Sé.

Não obstante o reconhecimento de Zamora admitia-se que os efeitos da separação política de


PT atenuassem quando ficasse mais desafogada a situação militar do Imperador Afonso VII ou
quando DAH seguisse com o seu exército a sul (meridional), distanciando-se da fronteira a
norte. Para que não acontecesse, DAH oferece a vassalagem perante ao cardeal Guido de
Vico, não se sabe em qual momento.

Em seguimento à vassalagem prestada, junto do cardeal G. Vico, através da carta Claves regni
coelorum (1.143), dirigida ao papa Inocêncio II, DAH declarou-se vassalo de São Pedro e do
Pontífice.

Nota: segundo Martinez, há aqui duas vassalagens prestadas por DAH.

Por aquela carta DAH se comprometeu, por si e os seus sucessores, a pagar um censo anual de
quatro onças de ouro. O portador da carta régia para Roma foi o arcebispo de Braga, D. João
Peculiar.

A esta carta respondeu o papa Lúcio II (1.144-1.145), através da carta Devotionem tuam3
(1.144). Nela, DAH e seus domínios eram designados por:

 Dux e Província: designava DAH como dux portucalensis e os seus domínios por terra;
 Rex e Regnum: não utilizava as expressões rei e reino;
 Prometia proteção espiritual e material contra o ataque dos inimigos visíveis e
invisíveis: aceitação, por parte do Papa, da vassalagem à Igreja.

A vassalagem à Santa Sé, prestada sem o conhecimento do Imperador Afonso VII, dava um
relevo inesperado à independência portuguesa. Permitia a DAH solicitar a Roma, sem a
mediação do Imperador, a criação de dioceses e a designação de bispos.

Somente em 1.179 (desde a CZ de 1.143) que o papa Alexandre III (1.159-1.181) reconheceu
DAH como Rex. Ou seja, a informação negativa do cardeal Guido fez com que o Papa
esperasse 36 anos para conceder-lhe o título de Rex, contudo tal diálogo ali estabelecido foi
útil.

O pleno reconhecimento formal deu-se com a bula Manifestis probatum, de 23 de maio de


1.179, o papa Alexandre III confirma a DAH a proteção da Santa Sé para a defesa da
3
O Papa Lúcio II, na breve carta Devotionem Tuam de 1144, aceita a homenagem e encomendações feitas à Santa Sé. No
entanto, continua a chamar a Portugal de terra e não reino e refere-se a D. Afonso Henriques de ilustre duque Portucalense.
O reconhecimento da independência portuguesa, total e explícita, veio acontecer com a Bula Manifestis Probatum, do Papa
Alexandre III, em 23 de Maio de 1179.
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integridade do reino e de todos os territórios que conquistasse dos muçulmanos. Nessa bula, a
dignidade real do príncipe português já não é omitida nem sofismada pelas expressões dux e
terra (dar aparência de verdade). Há a elevação do censo anual para dois marcos de ouro. Na
base deste reconhecimento definitivo há-de se constatar, sobretudo, a consolidação político-
militar do REINO DE PORTUGAL.

Nota: O Prof. Joel considera tal bula uma espécie de Constituição portuguesa, pois nela
constam diretrizes que devem ser seguidas pelo Rex.

DAH e seus cavaleiros constituem o poder político-militar e, posteriormente, quem organiza


administrativa e religiosamente as populações é a Igreja (poder político-administrativo).

 Poder político-militar: DAH e seus cavaleiros


 Poder político-administrativo: Igreja e seus arcebispos (?)

A razão pela qual a igreja assume a responsabilidade traduz-se no facto de que quando ocorre
a queda do Império Romano no Ocidente (476 d.C.), subsiste a Igreja além do latim. Neste
sentido, era a única instituição que se mantivera consolidada durante esse período de
transição. O latim, portanto, consagrou-se à época como a língua da cultura e quando se inicia
o Período da Reconquista o poder da Igreja é o único que está organizado, isto é, estruturado
através de bispados.

A medida que a Igreja avança, acumula mais e mais poder. O poder local, numa determinada
zona, dá-se pelo património fundiário (campos, território agrícolas, etc.). O facto de dispor de
um número crescente de fiéis faz dela rica. O rei passa a questionar-se na medida em que ele
conquista os territórios e não os administra, assim como o facto da posse ser direcionada à
Igreja.

O “Conselho de Estado” era formado, na altura, pelos Bispos que defendiam a Igreja. Eram os
homens mais letrados do país. Logo, há uma constante interferência mútua do poder político-
militar e religioso-administrativo.

Para resolver esta questão: submetem os reis, e não só, às sanções de natureza espiritual
lançadas pelo Papa.

 Sanções de natureza espiritual


o Excomunhão: isolamento social do sujeito perante os demais cristão do reino
o Interdito: isolamento do reino em relação aos demais reinos cristãos

O interdito foi lançado a Portugal e trouxe problemas que foram posteriormente resolvidos.
Logo, era aplicado perante uma situação anómala de desobediência.

O comércio é uma via democrática para as relações internacionais. (é por isso que se acredita
que a economia de mercado pressupõe a ideia de democracia > pressupõe a ideia de
liberdade).

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Dom Sancho I: desconhece o verdadeiro alcance da bula Manifestis probatum de 1.179.


Recusa-se ao pagamento dos marcos ao Papa (deixa de ser onça para transformar-se em
marco). Fê-lo apenas uma única vez. Quem recebiam os marcos era o bispado de Braga. Por
qual motivo o Papa exige o pagamento integral do valor em marcos?

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