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01/03/2023

Os reinos de Leão e Castela ora estão juntos e separados.

D. Sancho II: traz graves problemas. Casa com uma senhora viúva, chamada D. Mécia de Haro.
Tem alguma idade dentro da normalidade (o casamento em idade precoce > período de
gestação mais curtos). A função do casamento régio é garantir a sucessão.

A capital do reino era Coimbra. Tal casamento traz dificuldades, fundamentando tal afirmação
numa de duas hipóteses:

 ou rei vivia isolado com a sua mulher e não se importava com a gestão do reino
 ou era doente e impossibilitado.

Isto faz com que a administração da justiça não funcione e tribunais perdem o sentido
da normalidade na medida em que sofrem com a corrupção. Os abusos são
constantemente denunciados pelos bispos das maiores dioceses ao Papa. Em geral,
são os 4 atalaias que denunciavam: Braga, Coimbra, Porto e Lisboa.

Ora, um Estado anárquico é a negação de qualquer regime político. Isto é, o rei caminhava a
passos largos para uma indefinição político-administrativa. Os bispos notam as dificuldades do
rei, assim como os afrontamentos à Igreja e isto justifica a razão de ser daquela denúncia.

Nota: Vímara Peres foi fundador do Condado Portucalense (estátua frente à Sé do Porto).

O bispo de Lisboa e Porto obtiveram várias bulas que acusavam o rei de não respeitar a
jurisdição temporal. No entanto, por volta de 1238, os burgueses do Porto queixam-se ao
arcebispo de Braga das violências praticadas pelo bispo do Porto.

O rei é ignorante, fraco e politicamente incapaz. Deixa atuar os seus oficiais de forma abusiva.
Isto é, dá aso à corrupção visto que a justiça não funciona. O condado portucalense estava a
caminhar para um clima de anarquia. Ex: ao invés de entregar duas pipas de vinho ao rei, o
povo tinha de entregar 4 onde as outras duas ficavam com os oficiais. Eis um exemplo da
prática corrupta realizada pelos funcionários na administração da justiça.

 Bispo de Lisboa: João de Abbeville


 Bispo do Porto:
 Bispo de Coimbra:

Direito de apadroar: toda gente licitamente autorizada a recolher os rendimentos da igreja.


Estes indivíduos, padroeiros de igreja, multiplicam-se na medida em que o filho, sobrinho,
amigo de um padroeiro usurpa e beneficia-se do direito deste. Havia igrejas com mais de 30
padroeiros.

Os Padres Santos são os Papas. Todos os direitos pertencentes eram sonegados e


espezinhados.

Por isso, os bispos levantam a questão de que o rei não tinha competência para governar e
articulam a sua sucessão política. Naturalmente, hoje, quem pensam tais questões são os
sujeitos pertencentes às fações. O candidato possível era Dom Fernando de Serpa que acabou
por morrer na guerra civil. Tal hipótese ficou fora de questão.

Depois de ser excessivamente advertido, DSII, no Concílio de Lião em 1245: reunião magna da
Igreja presidida pelo Papa, decidindo coletivamente. Assim, o papa Inocêncio IV emite a Bula

DSII: Dom Sancho II / DAH: Dom Afonso Henriques


01/03/2023

Inter alia desiderabilia. Nela elenca todas as questões pelas quais o reino passava. Portanto,
declara que o rei:

1. Não respeitava as liberdades eclesiásticas/religiosas: é o problema fundamental de


qualquer sociedade. A liberdade é o elemento fundamental seja individual ou coletivo.
Há cerceamento da liberdade. Ex: o rei se intromete quando ele próprio apresenta um
candidato para cônego/conselheiro > arrecadação das finanças, educação, catecismo
etc. Indica indivíduos para assistir ao bispo. Ora, naturalmente deve ser indicado pelo
bispo, mas o rei ameaçava os demais cônegos caso não escolhessem.

2. Que oprimia as igrejas: eram os párocos/reitores. As rendas da igreja são pressionadas


para serem distribuídas por indivíduos que não eram da igreja. Sempre que os
opositores para apontar que o regime está mal, do contrário ninguém acredita. Nas
revoluções acusa-se, mas quando vai se averiguar, geralmente, constatam-se as
mentiras. Nunca pode se acreditar com o que é dito e pode recair em erros crassos.

3. Não acatava as admoestações feitas pelo Papa antecessor: é um indivíduo que está
fechado em seu castelo e não está ligado à política. Ex: não recebia os indivíduos a
mando dos bispos que não tinham nada a repassar ao Papa.

4. Era negligente na repressão dos malfeitores: não funciona o combate à criminalidade.


Há falta de segurança.

5. Deixava os patronos dos mosteiros praticar a violência: criou-se os mosteiros


familiares para os irmãos secundários. Quem constrói o mosteiro é o patrono e mentor
dos sujeitos. Tem uma grande interferência no ato religioso, contudo muitas vezes
deixavam os indivíduos à fome.

6. Não reprimia a heresia: o indivíduo que difamava a igreja não era reprimido.

7. Deixava perder os castelos, domínios, herdades da coroa: as inquirições faziam


reverter as situações de abuso e ilegalidades de domínio de terras que pertenciam ao
rei (1258).

Nota: a cadeia era um espaço para ser preso o sujeito antes de se apresentar ao juiz.

8. Permitia o incesto, raptos de monjas e de mulheres seculares: havia casamentos em


regime de consanguinidade. As mulheres de religião são intocáveis e muitas das jovens
adentravam por imposição familiar. Algumas não tinham sensibilidade para a igreja e
eram raptadas porque tinham paixões externas anteriores. As famílias metiam as
jovens nos mosteiros para dar fim a potenciais casamentos.

 Casamentos abençoados: com a aceitação dos pais.


 Casamentos a furto: passado algum tempo, para que a desonra não persista,
aceitam o casamento.

Tocar numa freira era um crime de lesa-majestade. Não poderia andar sozinha e tinha
de evitar o risco. A questão moral está em evidência.

DSII: Dom Sancho II / DAH: Dom Afonso Henriques


01/03/2023

9. Deixava os opressores extorquirem dinheiros aos camponeses e aos clérigos:


qualquer indivíduo armado entravam na casa dos homens e mulheres de trabalho e
roubavam tudo. Tais bandos causavam problemas e criavam dificuldades.

10. Permitia a violação da igreja e cemitérios: os jazigos eram ricos em decoração e


objetos que eram roubados. O mesmo que crime de profanação. É um espaço sagrado
que não escapava dos crimes.

11. Não defendia as terras cristãs dos árabes: é o ponto mais complexo e diz que o rei
não estava atento à reconquista na medida em que conquistava-se e perdiam-se as
conquistas. A guerra alimenta-se de sangue e perder uma guerra era uma censura
terrível. Conquistar para perder era algo terrível, pois há desperdício de armas e
homens. Por isso Lisboa não era segura para ser a capital do poder político.

O Papa destitui o rei DSII. O território passa a ser governado pelo Bispo do Porto, Coimbra, o
prior dos Dominicanos de Coimbra. A incapacidade e instabilidade aumentam. Não se
pretendia substituir como rei, mas escolher um governador. Quem governava e defendia o
reino que não era rei, era o Conde de Bolonha, D. Afonso (irmão de D. Sancho) que estava em
França, casado com D. Matilde (casamento de conveniência: riqueza e títulos eram
importantes).

O governador D. Afonso, irmão do DSII:

1. Participa da batalha de Saintes como vassalo de Luís IX de França, contra Henrique III,
de Inglaterra (1242);
2. Peregrinação a Santiago de Compostela contactou com os seus compatriotas, contra
DSII;
3. Em 1244, encontra-se em Limoges com Luís IX;
4. Foi aliciado pelo papa Inocêncio IV para integrar a cruzada e recuperar Jerusalém.

Os bispos exortavam o povo a aceitar D. Afonso, assim como tinha apoio militar. Entretanto,
outro problema foi que DSII foi acusado de casar sem dispensa de consanguinidade (denuncia
feita por D. Afonso). Ainda que não fosse pensado para ser rei, este só queria ser rei. Se DSII
tivesse filhos legítimos D. Afonso não poderia ser rei. Não era uma questão familiar, mas
política.

Em resumo, no Concílio de Lião 1244/1245, o papa Inocêncio IV recebe a denúncia acerca da


anarquia do país. A consequência é a emissão da Bula Grandi non immerito, dirigida aos
barões, concelhos e povos de PT, bispos, clero, Franciscanos, dominicanos e às quatro ordens
militares: Santiago, Hospital, Templários e Avis.

Desta forma, o rei é deposto, mas não perde a coroa. Foi declarado como rex inutilis, mas o
reino não é declarado res nullius. Os fidalgos que por DSII foram beneficiados ficam ao lado do
rei, dando origem a fações.

DSII: Dom Sancho II / DAH: Dom Afonso Henriques

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