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22/02/2023

Notas acerca da aula anterior

Os resultados da Conferência de Zamora (1.143) são iminentemente políticos. Consegue-se


firmar a paz entre os primos, no entanto deve-se ter em conta que não é por firmar um
tratado de paz que ter-se-á de facto, na medida em que algumas guerras ainda assim
continuaram.

A instituição de um rei e a … de um reino depende exclusivamente do Papa. É a autoridade,


pois o rei deve estar sempre a serviço da cristandade. Isto é, deve determinar o … território
cristão. Quem representa o poder espiritual é o Papa representado pelo bispo, ou seja,
somente ele pode aceitar ou rejeitar tudo aquilo que acontece.

Estamos numa época em que os cavaleiros (ou porque eram deserdados, ou caíam na
desgraça), organizavam-se em bandos.

Nota: Carlos Magno (acho que é Constantino) foi o primeiro imperador da cristandade. Era o
… e, sendo assim, o Papa vai chamá-lo para…

É apenas em 1.179, no fim da vida de D.A.H que é reconhecido, através da bula.

Nota: o professor Joel considera tal bula como a “primeira Constituição” portuguesa.

Interpretação da bula Manifestis probatum do papa Alexandre III (p.22)

Primeiro aspeto: era um texto destinado a DAH e a todos os seus sucessores. O que se
firmasse é valido para todo o sempre e não pode ser modificado, a não ser que seja possível.
Isto é, o que foi definido em 1.1179, em linhas gerais, é imutável.

Trata-se de um texto outorgado pelo Papa para DAH onde utiliza a expressão: “filho em
cristo”, isto é um rei cristão. É um compromisso entre a Santa Sé e o rei que vai passar para os
futuros reis.

Segundo aspeto: “com argumentos claros”, isto é, foi necessário percorrer um tempo
específico para que esses argumentos fossem devidamente comprovados e sustentados. Ou
seja, deu-se provas irrefutáveis que a sua intensão era exatamente aquela que o Papa espera
de um príncipe cristão ao serviço da cristandade, ou seja, que pretendia aumentar o território
cristão.

Terceiro aspeto: as primeiras palavras da bula são sempre laudatórias, ou seja, “em louvor
de”. Está a incentivar o rei na medida em que combateu diligentemente e defendeu a fé. O rei
poderia ter combatido e não defender a fé, como muitos fizeram. Fê-lo como bom filho e
príncipe católico. São as características necessárias para o Papa reconhecê-lo como rei e o
território como um reino.

Quarto aspeto: a mãe é a igreja no sentido espiritual. Todas as conquistas foram em nome da
igreja. Ao fim da vida de DAH é reconhecido por um percurso digno de menção para os
príncipes cristão futuros.

A expressão imitar é utilizada no sentido de que quando DAH morrer, deve o seu sucessor,
conforme estabelecido na conferência da Zamora, deveria deslocar-se apenas para sul e nunca
para leste. Apesar de haver tentações, nunca foram concretizadas. É um exemplo a se seguir.
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Quinto aspeto: trata-se de um individuo escolhido por Deus. “É justo que a Santa Sé apostólica
ame com o sincero afeto aquele que favor celeste lá do alto escolheu para governo e salvação
do povo”. O verbo amar é contrário ao ódio.

“Escolheu para governo e salvação do povo” significa o poder político-administrativo. Ou seja,


ao rei confia-se o poder político-administrativo. Primeiramente conquista-se e depois exerce o
poder político-administrativo.

 Poder político-militar: rei (quem conquista na prática são as ordens militares e o rei
vem atrás).
 Poder político-administrativo: igreja (é exercido tacitamente pela igreja pois a ela
não compete administrar, mas é imanente a sua influência. A igreja era o único
poder político organizado no passado, razão pela qual justifica-se a sua influência na
esfera político-administrativa. É a volta da igreja que se encontra o aglomerado de
pessoas na medida em que ali é que elas se sentiam mais seguras.
 Os espaços administrativos chamam-se bispados (regiões administrativas). Dentro
dos bispados está a célula administrativa que é a paróquia que é a zona
administrativa religiosa mais pequena regida pelo pároco. Hoje é confundido com a
Freguesia.
 Moçarabes: são antigos cristãos que se fundiram com os árabes. Ex: línguas,
costumes, fé, etc. Localizados mais o centro do condado. Ao sul estão, de facto, os
árabes. Contudo, mais ao centro estão os moçárabes.

“Quem salva o povo” não é o rei, mas a igreja. O poder político-militar permite a posterior
chegada da igreja. Assim cristianizava-se a população submetendo-a ao cristianismo, alterando
o seu estatuto. Não se altera a moeda, pois não havia moeda própria. Neste sentido
permanecia o uso da moeda árabe (a moeda de conta/uso podia ser o maravedi ou dinar).

O poder político-militar avança a sul (zona meridional) e impõe um novo estatuto, ou seja,
define-se:

a. Autoridade política
b. Pagamento de impostos
c. Organização política
d. Quem decide, quem determina e quem condena à morte é o rei

Depois segue o poder da igreja/cristianização, que existe para salvar o povo.

Sexto aspeto: prudência política, administrativa, na arrecadação dos impostos, na colocação


de juízes, a proteção dos órfãos, das viúvas, do pobre são características do rei. Por causa da
falta de prudência, ou seja, imprudência, o rei será destituído pelo Papa.

Pedro é o Papa. Não há dúvida de que instituído o rei é criado o reino. Não se trata de
senhorio, porque, assim como foi dado pode ser retirado tal benefício.

Os sarracenos: na Idade Média, chamavam os árabes de vários sinónimos, tais como


sarracenos, árabes, muçulmanos, etc. Há 2 linhagens de árabes: os almoadas e almoravidas
(são fundamentalistas que se estabelecem na Europa), ainda que houvesse outras taifas
(outros reinos) de árabes mais permissivos, dialogantes etc.
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Quando é necessário se estabelecer a justiça, perguntam qual o regime mais favorável se é o


Castelhano, fogem para o reino de Castela. Se for o português, fogem para o Condado de
Portucale.

Portanto, com o auxílio conquista o território sobre os árabes, mas com a ajuda divina. Ex:
Batalha do …

Sétimo aspeto: todo o território conquistado por DAH não pode ser conquistado pelo
imperador vizinho. Portanto, trata-se de um território autónomo reconhecido pelo Papa e que
ao mesmo tempo deve reconhecido de forma difusa por outros reis, que inclusive sucederam
Afonso VII (imperador de Castela).

Oitavo aspeto: é um território não só concedido pela autorização do Papa, mas por indicação
divina neste ambiente espiritual da época. O Papa defenderá tal território de qualquer
circunstância. Os Papa sucessos devem manter tal reconhecimento por vontade divina.

Nono aspeto: a palavra humildade e honra ao serviço da igreja romana. Deve-se continuar
para a expansão da fronteira da fé cristã. Primeiro o território é conquistado e depois a igreja
cristianiza.

Décimo aspeto: antes de 1.179, ele propôs, através de D. João Peculiar, pagar o valor
simbólico de respeito e humildade. Neste sentido, reconheceria o Papa como suserano e DAH
como vassalo. É um sinal de respeito e submissão a autoridade superior que lhe confere o
cargo. O que se firma é que o encargo da obediência e submissão não se restringe a DAH, mas
aos seus sucessores.

Décimo primeiro aspeto: o encargo não era entregue diretamente à Santa Sé, mas aos seus
representantes no Condado de Portucale, neste caso, ao arcebispo de Braga. Poderia ser ao do
Porto, Coimbra ou Lisboa, mas, por ser o mais antigo, entrega-se àquele.

Décimo segundo aspeto: não admite sejam quem for conquistar ou enfraquecer o reino que é
reconhecido a DAH. Tem a palavra do Papa que se repercute aos Papas vindouros.

Décimo terceiro aspeto: todas as pessoas (eclesiastas ou seculares) que forem avisados por 3
vezes deverão reparar a culpa, o prejuízo. Este é um problema que posteriormente afeta a
lógica de prudência por parte dos reis, pois cometem erros e não os reparam. Perdem a
dignidade para além da penalização de foro religioso/espiritual.

Décimo quarto aspeto: ideia de cristandade em proveito próprio. Se fizer o que a igreja
aconselha encontrar-se-á a paz eterna.

A bula é um documento de 1.179 em que o Papa reconhece DAH como rei, definitivamente. O
território é transmissível aos sucessores do rei, assim como o compromisso firmado pelo Papa
é transmissível aos Papas sucessores.

Trata-se de um conjunto de características que devem fazer parte da personalidade do


príncipe/rei que deve estar ao serviço da cristandade. Assim sendo, o rei nunca está ao seu
próprio serviço.
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Dificuldade em se estabelecer o que é de cada um

O rei D. Sancho I passa a questionar o domínio dos territórios. Ora, se foi ele quem os
conquistou, segundo à sua lógica, cabe a ele governá-lo. O problema é que a igreja,
paulatinamente, passa a ter poder que se fundamenta nas doações de povoações, aldeias,
grande propriedade, dinheiro etc.

O rei passa a se questionar no sentido de que não há um único poder político, mas dois. Surge
a dificuldade da interferência direta de ambos. Os reis têm um Conselho de Estado que é
composto por Bispos que fundamentam a sua tarefa no Direito Canónico. Há um certo
favorecimento destes pelo rei que se traduz numa promiscuidade que resulta em conflitos
entre o Estado (rei) e a Igreja. (?)

O grande problema consta da sucessão dos monarcas. Quando morrem os reis deixam
testamentos políticos. Tendem a deixar uma infinidade de bens a fim de remir os pecados e
salvar as suas almas. A grande questão circunscreve-se em determinar se deve ou não ser feita
a vontade do monarca na medida em que as suas decisões podem criar dificuldades para o seu
sucessor.

Na parte final da bula verifica-se que há 2 penas que são lançadas no foro religioso e espiritual:

1. Excomunhão: isolar o indivíduo que e avisado por 3 vezes. O sujeito é proscrito e não
pode fazer comércio, não pode ir à missa, ou seja, é desprezado socialmente.
2. Interdito/isolamento do reino: o reino não poderia, em teoria, ser transacionado com
outros reinos (isolar o reino).

Em Portugal foi abdicado, visto que eram as armas que o Papa tinha para disciplinar o poder
político ao serviço da cristandade. O grande problema surge com o sucessor: D. Sancho I. Ele
dificulta no sentido de que pretende centralizar o poder, ainda que não o tenha concretizado.
Desejava livrar-se da interferência sistemática da igreja na esfera política.

Ele passa a analisar todos os tipos de privilégios e das chamadas imunidades, denominadas
isenções eclesiásticas perante o poder político. Evidentemente que, anteriormente, DAH para
ter apoio tinha de conceder benefícios e privilégios.

 Honras: as terras oferecidas à nobreza.


 Coutos: as terras oferecidas à igreja.

Portanto, D. Sancho I coloca em causa e questiona a distribuição de terras porque se ele não
fica com terras fica sem rendimentos.

 Terras do rei: delas resultam os reguengos. Se o rei não tem dinheiro, não há
reguengos. Ou seja, não há impostos para cobrar. Muitas das suas terras estavam
usurpadas, pois a igreja e nobreza ocupavam-nas e nada recebia o rei.

Depois, temos a tomada de força muito ousada que é deixar de pagar os marcos de ouro ao
arcebispo de Braga (representante da Santa Sé, ou seja, Papa). Quando se diz Papa, quer-se
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dizer: Arcebispo (de Braga). Há uma relação de proximidade e a denúncia é mais fácil de ser
feita.

Por qual motivo não se pagava aquilo que se estava convencionado?

1. Fica em dívida
2. Não reconhecimento da obediência e humildade perante o Papa

Ninguém age como autónomo na Idade Média. Há um prejuízo ao tesouro público porque se
está numa economia de guerra. Nesta altura compram-se cavalos aos árabes. Era a arma
principal do exército, ou seja, a cavalaria.

As moedas árabes chamavam-se maravedi e dinar.

Moeda de conta é a moeda de uso. Ex: euro, real, dólar etc.

Entretanto, isto leva a problemas. Os bispados mais fortes são os do Norte: Braga, Porto e
Coimbra, assim como o da Guarda (+ fraco) que não tem o mesmo peso político. Neste
sentido, o bispo lança o interdito na cidade. No Porto, abusava-se do interdito. Toda a gente
que apoiava o rei acabava interdito. A reação é de um protesto por parte dos mercadores.
Todos os dias comprava-se carne. Não havia forma de conservá-la. Os religiosos que
aceitaram, veem-se…

D. Sancho I procede de forma a perseguir os adeptos dos bispos. A igreja quando dá o direito
de asilo e não pode ser invadida. D. Sancho I permitiu que o poder político-militar invadisse a
igreja, tratando-se de um erro muito grave. As relações entre igreja e poder político são
complexas.

Tudo isso chega ao Papa que se utiliza de intermédios (outros bispos: independente) para
advertirem através de uma bula papal. Neste sentido, ameaça excomungar (interditar?) o
reino.

Santa Sé: o Papa pode expedir os seguintes documentos

 Bula
 Breves (chancelaria > são documentos que não vão ao Papa > documentos
recorrentes)
 Concordata (acordos)

Rei: registo na chancelaria régia

 Cartas
 Ementas ou emendas

Outro abuso era o da colheita. A colheita é um imposto ou obrigação de hospedagem gratuita,


assim como casas, alimentos, roupas, rações etc. O rei não pode prender um clérigo, uma
freira etc.
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Os reis deixavam bens à igreja para reparar alguns estragos. Sancho I reconcilia-se com
Coimbra.

Dissidio entre os filhos de D. Sancho I: D. Afonso II e irmãs (Teresa, Sancha e Mafalda). O


motivo tem que ver com o facto de que D. Afonso II institui as primeiras cortes (espécie de AR:
reunião entre clero e nobreza > limita-se a ouvir a vontade do rei). O rei afirma a sua
supremacia régia. “Enquanto nossa mercê for”.

1. Lei da Desamortização: está relacionada ao património e o rei intervém colocando


travão ao aumento do património ao serviço da igreja.

2. Inquirições: faz-se levantamentos sistemáticos ao longo do século XII. Inquirições


Gerais eram emitidas e levavam a sentenças que retiravam o bem. Faziam-se
levantamentos a fim de saber da existência da escritura da terra, a quem paga etc. Isto
é, deve-se apresentar o título da posse ou do privilégio.

No norte de PT havia muita população, ou seja, as famílias eram compostas de 9 ou 10


nascimentos. A mortalidade infantil era alta e chegavam a idade adulta poucos.
Recebiam a herança o filho mais velho. Os demais irmãos faziam casas nas terras dos
irmãos mais velhos e estes últimos eram inquiridos acerca do título da posse do
terreno.

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