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Universidade Lusíada Norte (Porto)

Faculdade de Direito

Licenciatura em Relações Internacionais

Introdução às Relações Internacionais

Docente: Prof.ª Susana Ferreira

O espaço-tempo, lentes, enfoque e o enquadramento de alguns conceitos do


fenómeno da Globalização à luz das Relações Internacionais

Diego de Almeida Pereira

Matrícula: 21560922

Porto

30 de novembro de 2022
Sumário

O espaço-tempo, lentes, enfoque e o enquadramento de alguns conceitos do


fenómeno da Globalização à luz das Relações Internacionais....................................3
Resumo..........................................................................................................................3
Abstract........................................................................................................................3
Introdução........................................................................................................................4
Globalização: o advento, a relação com as teorias do mundo político e os seus
potenciais conceitos.........................................................................................................5
Conclusão.......................................................................................................................11
Referências.....................................................................................................................12

2
O ESPAÇO-TEMPO, LENTES, ENFOQUE E O ENQUADRAMENTO DE
ALGUNS CONCEITOS DO FENÓMENO DA GLOBALIZAÇÃO À LUZ DAS
RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Diego de Almeida Pereira1

Resumo: É inegável a existência do fenómeno da Globalização, no entanto algumas


questões que lhes são inerentes suscitam dúvidas quando trazidas à tona. Dessa forma,
por intermédio do método de revisão bibliográfica, este trabalho visa analisar o período
histórico no qual credita-se o seu advento à luz das Relações Internacionais, assim como
a real função prática dos paradigmas teóricos diante da tarefa de descodificar a realidade
no sentido de depurar factos e informações relevantes daqueles que não os são. Para tal,
analisar-se-á potenciais conceitos acerca da Globalização, o fundamento de cada teoria e
as respetivas relações destas com o fenómeno em causa.

Palavras-chave: Teoria, Globalização, Relações Internacionais

Abstract: The existence of the Globalisation phenomenon is undeniable, although some


questions inherent to it raise doubts when brought to the surface. Therefore, through the
bibliographical review method, this work aims to analyse the historical period in which
its advent is credited, in the International Relations framework, as well as the real
practical function of the theoretical paradigms facing the task of decoding the reality in
order to depurate relevant facts and information from those that are not. To this end,
potential concepts about the Globalisation will be analysed, along with the basis of each
theory and its respective relations with the phenomenon in question.

Keywords: Theory, Globalisation, Internacional Relations

1
Estudante do 1º Ciclo da Licenciatura em Relações Internacionais da Universidade Lusíada Norte
(Porto).

3
INTRODUÇÃO

A razão de ser deste trabalho resulta da proposta avaliativa da unidade curricular


de Introdução às Relações Internacionais. Sendo produto de uma revisão bibliográfica, é
pertinente mencionar que esta versão final firma-se numa posição diametralmente
oposta à anterior, que pretendia abordar os aspetos positivos e negativos do fenómeno
da Globalização. No entanto, consoante o progresso da imprescindível investigação do
Estado da Arte, novos questionamentos surgiram e despertaram a necessidade de
perceber alguns dos aspetos primários do fenómeno da Globalização, ou seja, o seu
advento e quais os mecanismos teóricos que possibilitam a sua identificação.
O pesquisador comprometido com a sua pesquisa é flexível e não cinge-se a uma
ideia, assumindo uma postura irredutível ou engessada. Notadamente, há um ponto de
partida, no entanto, da leitura técnica realizada não pretendeu-se direcioná-la tão-
somente à necessidade de uma fundamentação teórica que por si só é essencial, mas,
acima de tudo, à construção de um raciocínio. Ora, como não surpreender-se com a
superveniência dos factos oriundos do Estado da Arte?
Assim sendo, escolheu-se abordar tangencialmente questões secundárias e
aprofundar as mais relevantes, isto é, perceber qual o momento histórico que é apontado
para o surgimento da Globalização à luz das Relações Internacionais – e adianta-se a
existência pretérita de uma produção intelectual similar às questões mais caras ao
fenómeno que, naquela circunstância, não estavam a ele associadas pelo que a sua
existência formal enquanto tal ainda não concretizara-se.
Além disso, busca-se compreender quais as ferramentas essenciais de que deve
dispor o pesquisador para identificar a existência do fenómeno. Tal necessidade emerge
face à miscelânea de factos e informações que compõem a realidade e, nesta medida,
questiona-se de que maneira é possível apropriar-se daquilo que é ou não relevante.
O filtro responsável por esta tarefa está diretamente ligado à função prática das
teorias, pois é através delas que o estudioso aferirá, sopesará e valorará as variáveis
possíveis a fim de distinguir o que é do que não é adequado para o perfazimento da
compreensão do fenómeno. O sentido dado à metáfora das lentes coaduna-se
precisamente a esta questão, assim como o respetivo enfoque atribuído a cada uma
delas.
O enquadramento dos conceitos, por sua vez, é fruto das múltiplas conceções de
autores diversos que debruçaram-se sobre o tema da Globalização. Destarte, propõe-se
analisar os cinco conceitos apresentados nas aulas teóricas de Introdução às Relações
Internacionais e correlacioná-los com os seguintes paradigmas: Realismo, Liberalismo e
Sistema-Mundo. Na prática, analisar-se-á, de forma sucinta, a interação destas teorias
com os conceitos suscitados pelos autores acerca do fenómeno da Globalização e, nesta
oportunidade, quais as conclusões a serem extraídas dessa simbiose.
Posto isto, este trabalho visa deslindar questões relativas ao fenómeno da
Globalização, tendo por procedimento – similar àquilo que se propõe o método indutivo
–, reconhecer primariamente a ideia de espaço-tempo, lentes, enfoque e conceitos, por
referência ao fenómeno em causa, a fim de perceber, posteriormente, na sua totalidade,
o seu caráter ontológico.
4
GLOBALIZAÇÃO: O ADVENTO, A RELAÇÃO COM AS TEORIAS DO
MUNDO POLÍTICO E OS SEUS POTENCIAIS CONCEITOS

Há no transcorrer da história fenómenos que trazem no seu bojo um vasto grau de


nuances e exigem a devida meticulosidade de quem observa-os. Inúmeros são os autores
que debruçam-se sobre diferentes temáticas a fim de estabelecer um conceito, um ponto
fixo que servirá de arrimo para o desenvolvimento de um raciocínio que tende a
ramificar-se em partes diversas consoante a sua complexidade sem, todavia, relegar a
importância daquele. No ímpeto de contribuir com o progresso epistemológico, este
mesmo conceito – que antes de sê-lo nada mais é do que um agregado de palavras
ordenadas em busca de dar algum sentido à ordem das coisas – será submetido a um
critério científico, com a perspetiva de não só ratificá-lo enquanto tal, mas legitimá-lo
no sentido de compreender toda ou parcialmente a realidade a que se pretende
descodificar.
A Globalização, “enquanto fenómeno que o é, não está ilesa de suportar desta
imprecisão conceitual” 2. Para além disso, aquando do seu advento – e reputa-se
imprescindível adição desta adenda – há quem remonte-o aos “desenvolvimentos
revolucionários do séc. XIX”3, assim como existem alguns “poucos estudiosos que
recusam-se a confinar a globalização a períodos de tempo medidos em meras décadas
ou séculos”4. Concomitantemente, há certos grupos de autores que observa-o enquanto
decorrência de um “encadeamento de factos”5 e amplia o perímetro do seu espetro na
medida em que não elege um acontecimento histórico único para sedimentar a sua
interpretação. Isto é, partem da lógica de que a Globalização “é meramente um novo
nome para uma questão antiga”6.
Neste contexto, observa-se que “ao julgarmos a globalização como uma nova fase
na história do mundo ou meramente como a continuação de processos que têm
existência há já algum tempo, importará notar que tem havido vários precursores da
globalização”7. Dessa forma, coteja nove factos do mundo político que possuem
notáveis semelhanças com o fenómeno, tendo em consideração o relevo das discussões
promovidas pelos seus respetivos autores, a fim de demonstrar que já existia literatura a
antever os principais temas concernentes à Globalização.

2
Saldanha, E. (2006). Globalização: Fenómeno ou Paradigma?. In Guerra, S. (Org.). Globalização:
desafios e implicações para o Direito Internacional contemporâneo. (207-233). Ijuí: Editora Unijuí.
3
Steger, M. B. (2003). Globalization: A Very Short Introduction. New York: Oxford University Press.
4
Brown, C. & Ainley, K. (2012). Compreender as Relações Internacionais. Lisboa: Gradiva.
5
Robertson, R. (2001). Globalização. Teoria Social e Cultural Global. (1ª edição). Petrópolis: Vozes.
6
Sousa, F., Mendes, P., Freitas, J., Ferreira, D., Rocha, R. & Tavares, A. (Coord.). (2022). Dicionário de
Ciência Políticas e Relações Internacionais. Coimbra: Almedina.
7
Ibidem.

5
PRECURSORES DA GLOBALIZAÇÃO
Nº AUTOR FACTO DO MUNDO POLÍTICO
1 “Teoria da Modernização: a industrialização fez
emergir todo um novo conjunto de contactos entre as
Modelski & Morse
sociedades e alterou o processo político, económico e
social que caracterizava o mundo pré-moderno”8.
2 “Rostow viu um claro modelo/padrão para o
desenvolvimento económico, marcado por fases, pelas
quais todas as economias passavam até que
Walt Rostow
adoptassem políticas capitalistas. Era quase que uma
visão automática da história, na qual a globalização
tendia também em confiar”9.
3 “A natureza da interdependência económica; o papel
dos actores transnacionais; modelo da “teia-de-
Cooper; Keohane & aranha” do mundo político. Muita desta literatura
Nye; Mansbach, antecipou os principais temas teóricos da
Ferguson & Lampert globalização, embora, uma vez mais, isto tenda a ser
aplicado muito mais ao mundo desenvolvido do que
no caso da globalização”10.
4 “Aldeia Global: os avanços nas comunicações
electrónicas resultaram num mundo onde podemos
assistir em tempo real a acontecimentos que estão a
Marshall McLuhan ocorrer em partes distantes do globo. Para McLuhan,
os principais efeitos deste desenvolvimento foram a
diluição do tempo e do espaço, de tal forma que as
coisas perderam a sua identidade tradicional”11.
5 “Emergência de uma Sociedade Mundial: o velho
sistema de Estados estava a ficar cada vez mais
Jonh Burton
ultrapassado à medida que significantes interacções
tomavam lugar entre actores não-estatais”12.
6 “O ênfase era colocado [sic.] na questão do governo
Projecto dos Modelos
global, que é hoje uma questão central em muitos dos
da Ordem Mundial
trabalhos sobre a globalização”13.
7 “Chamou a atenção para o desenvolvimento ao longo
dos séculos de um conjunto de normas e
Hedley Bull entendimentos comuns entre chefes de Estado, que o
leva a afirmar que eles efectivamente formam uma
sociedade e não meramente um sistema
8
Sousa, F., Mendes, P., Freitas, J., Ferreira, D., Rocha, R. & Tavares, A. (Coord.). (2022). Dicionário de
Ciência Políticas e Relações Internacionais. Coimbra: Almedina.
9
Ibidem.
10
Ibidem.
11
Ibidem.
12
Ibidem.
13
Ibidem.

6
internacional”14.
8 “Fim da História: o poder da economia de mercado
está a resultar numa democracia liberal, substituindo
Francis Fukuyama todos os outros tipos de governo […]. Existe uma
direcção para a história e essa direcção é a da
expansão da economia de mercado pelo mundo”15.
9 “Teoria da Paz Liberal: […] a principal ligação com a
Bruce Russett globalização, é a suposição de que há progresso para a
& história, e que este é o facto das guerras estarem cada
Michael Doyle vez mais distantes”16.
Quadro 1: A Globalização e as similitudes com os factos do mundo político

À luz das Relações Internacionais, sendo esta a conceção espaço-temporal que


impende sobrelevar, “a Globalização é um fenómeno com referencial histórico assente a
partir dos anos 80, ainda que não seja consensualmente acordado pela academia. Visto
enquanto processo, tem como causa a revolução na comunicação internacional,
sobretudo a revolução na comunicação resultante da internet” 17. No entanto, nada obsta
aquele de ser contemplado, também, por outros primas que lhes são indissociáveis, de
entre eles, “a economia e a política”18, ou seja, o surgimento das transnacionais e a
queda do muro de Berlim, respetivamente.
Posto isto, importa não somente tornar a discorrer, mas desvelar caminhos no
sentido de atenuar os efeitos da imprecisão conceitual já suscitada. De antemão, insta
salientar que a escolha do verbo «atenuar» para elucidar esta condição, não fez-se de
forma despropositada. A imprevisibilidade que paira sobre os conceitos relativos ao
tema terá a sua carga amainada por intermédio dos “paradigmas teóricos” 19 próprios das
Relações Internacionais, mas isso não significa que tal imprecisão deixará de existir; sê-
lo-á tão-somente reduzida.
É amplamente sabido que “uma teoria não é só um modelo formal com hipóteses
e assunções, é antes de mais um sistema que simplifica o nosso estudo e que permite
decidir quais os factos que efectivamente interessam ou não” 20. A sua função, enquanto
paradigma, será a de comportar algumas características específicas da realidade e
agregá-las num conjunto singular vulgarmente denominado por “lentes” 21 e, em
14
Sousa, F., Mendes, P., Freitas, J., Ferreira, D., Rocha, R. & Tavares, A. (Coord.). (2022). Dicionário de
Ciência Políticas e Relações Internacionais. Coimbra: Almedina.
15
Ibidem.
16
Ibidem.
17
Bedin, G. A. (2006). A Sociedade Internacional e o Fenómeno da Globalização: algumas considerações
sobre o surgimento, a conformação e o declínio do mundo de Vestefália. In Guerra, S. (Org.).
Globalização: desafios e implicações para o Direito Internacional contemporâneo. (19-34). Ijuí: Editora
Unijuí.
18
Santos, B. S. (Org.) (2002). Globalização. Fatalidade ou Utopia? (2ª edição). Porto: Edições
Afrontamento.
19
Dougherty, J. E.& Pfaltzgraff, R. L. (2011). Relações Internacionais. As Teorias em Confronto. (2ª
edição). Lisboa: Gradiva.
20
Sousa, F., Mendes, P., Freitas, J., Ferreira, D., Rocha, R. & Tavares, A. (Coord.). (2022). Op.cit.
21
Del’Olmo, F. (2006). A Globalização e seus Paradoxos: Algumas Reflexões. In Guerra, S. (Org.).
Globalização: desafios e implicações para o Direito Internacional contemporâneo. (237-258). Ijuí:

7
consonância à teoria plasmada, apresentará a realidade com um determinado lastro.
Dessa forma, a perceção de quem incorpora-a será, a partir de então, constituída por
uma tendencial formulação prévia que não renuncia o rigor científico exigido e
organiza-se no sentido de sistematizar a profusão de minudências que encontram-se
imbricadas no caráter ontológico da Globalização.
Sumariamente, encontram-se infra elencadas as principais teorias utilizadas para a
“compreensão e explicação da política mundial” 22. O conteúdo de cada teoria nada mais
é que o enfoque atribuído à realidade política enquanto objeto da análise em causa.
Desta feita, é impossível deixar de inferir, de forma equivalente, que a teoria está para
as lentes, assim como o seu conteúdo está para o enfoque aplicado. Ambas são
metáforas que explicitam, por meio de comparação subentendida, a abstração que perfaz
o âmbito das teorias.

POLÍTICA MUNDIAL
TEORIA/LENTE CONTEÚDO/ENFOQUE
“Procurou ver o mundo como ele realmente era, em
Realismo
vez de o ver como ele deveria ser”23.
“Os principais temas do pensamento liberal estão
relacionados com a ideia de que os seres humanos
Liberalismo são aperfeiçoáveis e que a democracia é necessária
para esse aperfeiçoamento se desenvolver. Por trás
de tudo isto reside a crença no progresso”24.
“A característica mais importante da política
mundial é que ela tem lugar num mundo de
economia capitalista. Nesta economia mundial os
Teoria do Sistema-Mundo
actores mais importante [sic.] não são os Estados,
Estruturalismo/Neomarxismo
mas as classes, e o comportamento de todos os
outros actores é, em último lugar, explicado por
forças de classes”25.
Quadro 2: Teorias da Política Mundial

Face à tomada de consciência de que a construção conceitual não é de todo


desprovida de alguma disputa entre os interesses que subjazem cada um dos paradigmas
na sua essência, sobretudo o facto de cada um trazer consigo um conjunto de valores
que operam como filtro para que se possa vislumbrar a realidade de uma maneira
particular, torna-se pertinente analisar os variados conceitos acerca da Globalização.
Desse modo, recorrer-se-á aos conceitos exortados nas aulas da unidade curricular de
Introdução às Relações Internacionais. Apresenta-se, portanto, o seguinte quadro:

Editora Unijuí.
22
Sousa, F., Mendes, P., Freitas, J., Ferreira, D., Rocha, R. & Tavares, A. (Coord.). (2022). Dicionário de
Ciência Políticas e Relações Internacionais. Coimbra: Almedina.
23
Ibidem.
24
Ibidem.
25
Ibidem.

Quadro 3: Os conceitos diversos de Globalização


AUTOR CONCEITOS
“Globalização refere-se a todos os processos pelos quais as pessoas do
Martin
mundo são incorporadas numa só sociedade mundial, sociedade
Albrow
global”26.

Martin “Globalização é o que nós no Terceiro Mundo, durante séculos,


Khor chamamos de colonização”27.
“As características da Globalização incluem a internacionalização da
produção, novos movimentos migratórios do sul para o norte, um
Robert Cox novo ambiente competitivo que acelera estes processos e a
internacionalização do Estado, tomando os Estados em agências do
mundo globalizado”28.
Rosabeth “O mundo está a transformar-se num centro comercial global, onde as
Moss ideias e os produtos estão disponíveis em todo o lado ao mesmo
Kanter tempo”29.
“Globalização pode ser definida como a intensificação das relações
Anthony sociais mundiais que ligam localidades distantes de uma tal forma que
Giddens acontecimentos locais são formados por acontecimentos que ocorrem
a milhares de quilômetros de distância”30.

Os cinco conceitos, apesar de circunscreverem-se a uma mesma temática,


estruturam-se distintamente e mantêm vieses respetivos que podem relacionar-se ou
com o Realismo, Liberalismo ou o Sistema-Mundo. É nesta circunstância que o
conceito deixa de ser um agregado de palavras, como sugerido, para apresentar-se com
o devido rigor científico na medida em que a passagem pelo filtro do paradigma
transmuta-o de facto numa definição com uma identidade, sentido e finalidade que
descodifica, de per si, a realidade. Observe:

Conceito

26
Sousa, F., Mendes, P., Freitas, J., Ferreira, D., Rocha, R. & Tavares, A. (Coord.). (2022). Dicionário de
Ciência Políticas e Relações Internacionais. Coimbra: Almedina.
27
Ibidem.
28
Ibidem.
29
Ibidem.
30
Ibidem.

9
Teoria
Pretenso conceito

Figura 1: Se cubo é um pretenso conceito e transpassa o limiar da teoria (representada pelo


paralelogramo) que está imbuída das suas hipóteses, valores e assunções, ter-se-á, portanto, um
conceito. O cubo após a feitura do trajeto já não poderá sê-lo pelo que o véu do paradigma converteu-o
em pirâmide. Logo, pirâmide é um conceito.

A ter em consideração que as variações do conteúdo de cada lente modulam as


formulações dos conceitos, verifica-se que “cada uma das teorias parece fornecer uma boa
explicação de alguns aspectos da política mundial” 31 e que “cada uma delas centra-se em
diferentes aspectos da política mundial” 32. Isto para afirmar que “as três teorias, mais do que
diferentes visões do mesmo mundo, são três visões de mundos diferentes” 33, pois o
“Realismo: fixa-se nas relações de poder entre os Estados; o Liberalismo: fixa-se na
interação de atores estatais e atores não-estatais e a Teoria do Sistema-Mundo: fixa-se
nas questões da economia mundial”34.
Por todo o exposto, urge a necessidade de relacionar os conceitos vistos no quadro
3, com as teorias apresentadas no quadro 2. Assim, constata-se que:

GLOBALIZAÇÃO E TEORIAS DA POLÍTICA MUNDIAL


TEORIA RELAÇÃO
“A Globalização não alterou significativamente o quadro da
política mundial, nomeadamente a divisão territorial do mundo
Realistas em Estados-nação. […] A Globalização pode afectar a nossa vida
social, económica e cultural, mas não transcende o sistema
político internacional de Estados”35.
“A Globalização é o produto de uma longa transformação da
política mundial. […] existem vários e diferentes actores, com
diferente importância [sic.] de acordo com área em causa. Os
Liberais
Liberais estão particularmente interessados na revolução da
tecnologia e das comunicações representada pela
Globalização” .36

“A Globalização é a última fase no desenvolvimento do


Sistema-Mundo capitalismo internacional, que em vez de tornar o mundo mais
simétrico, perpetua a divisão entre centro, semi-periferia e
periferia”37.

31
Sousa, F., Mendes, P., Freitas, J., Ferreira, D., Rocha, R. & Tavares, A. (Coord.). (2022). Dicionário de
Ciência Políticas e Relações Internacionais. Coimbra: Almedina.
32
Ibidem.
33
Ibidem.
34
Ibidem.
35
Ibidem.
36
Ibidem.
37
Sousa, F., Mendes, P., Freitas, J., Ferreira, D., Rocha, R. & Tavares, A. (Coord.). (2022). Dicionário de
Ciência Políticas e Relações Internacionais. Coimbra: Almedina.

10
O percurso teórico até ao momento apresentado é a expressão do raciocínio que
viabiliza a compreensão da relação entre o momento histórico em que surge o fenómeno
da Globalização para as Relações Internacionais e os meios que permitem a sua
identificação enquanto tal. Logo, é possível deduzir algumas conclusões.

CONCLUSÃO

Após tentar «fragmentar» a estrutura formal dos paradigmas teóricos das Relações
Internacionais é possível concluir que as «lentes» as quais o pesquisador pode utilizar-se
para vislumbrar a política mundial estão «graduadas» com valores, hipóteses e
assunções que lhes são próprios. Neste sentido, não pode-se negligenciar que cada
autor, ao pretender definir o que é o fenómeno da Globalização, não fá-lo-á destituído
de um elemento axiológico que está associado à sua forma de refletir e emitir as suas
constatações.
Ora, os conceitos apresentados no quadro 3 resultam do pensamento dos autores
mencionados que dispuseram-se a fazer uso dos paradigmas e, com fundamento num
deles, concebeu uma definição à qual acredita ser possível identificar o fenómeno da
Globalização no espaço-tempo. Isto fica evidente no momento em que contesta-se o
período do advento da Globalização, pois, como visto em aula, não trata-se de uma
questão pacificada, ou seja, a académia não é unânime acerca da mesma.
Mais interessante ainda é notar, após a realização deste trabalho que, se há
pesquisadores que acreditam ser a Globalização um fenómeno antigo revestido apenas
de uma nova nomenclatura, por qual motivo os anos 80 foram definidos como o espaço-
tempo do advento da Globalização nesta unidade curricular de Introdução às Relações
Internacionais?
Ainda que muitas questões e reflexões fiquem sem uma exata resposta – e esta é
uma das características das ciências humanas, do contrário estar-se-ia face a um dogma
–, conclui-se que, dos conceitos apresentados no Quadro 3, é perfeitamente possível
coaduná-los aos paradigmas teóricos das Relações Internacionais, portanto, os conceitos
de Khor e Albrow pertencem à Teoria do Sistema-Mundo; o conceito de Cox relaciona-
se à Teoria Realista e o conceito estipulado por Khanter é de teor Liberal.
Por fim, como proposta de estudo para pesquisas futuras, sugere-se a seguinte
hipótese-problema: “a Globalização viabiliza a disseminação da retórica do ódio através
das fake news?”38

REFERÊNCIAS

Bedin, G. A. (2006). A Sociedade Internacional e o Fenómeno da Globalização:


algumas considerações sobre o surgimento, a conformação e o declínio do mundo de
38
Delgado, A. P. T. (2006). Terrorismo e Contemporaneidade. In Guerra, S. (Org.). Globalização:
desafios e implicações para o Direito Internacional contemporâneo. (353-368). Ijuí: Editora Unijuí.

11
Vestefália. In Guerra, S. (Org.). Globalização: desafios e implicações para o Direito
Internacional contemporâneo. (19-34). Ijuí: Editora Unijuí.
Brown, C. & Ainley, K. (2012). Compreender as Relações Internacionais. Lisboa:
Gradiva.
Delgado, A. P. T. (2006). Terrorismo e Contemporaneidade. In Guerra, S. (Org.).
Globalização: desafios e implicações para o Direito Internacional contemporâneo.
(353-368). Ijuí: Editora Unijuí.
Del’Olmo, F. (2006). A Globalização e seus Paradoxos: Algumas Reflexões. In Guerra,
S. (Org.). Globalização: desafios e implicações para o Direito Internacional
contemporâneo. (237-258). Ijuí: Editora Unijuí.

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Confronto. (2ª edição). Lisboa: Gradiva.
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Petrópolis: Vozes.
Saldanha, E. (2006). Globalização: Fenómeno ou Paradigma? In Guerra, S. (Org.).
Globalização: desafios e implicações para o Direito Internacional contemporâneo.
(207-233). Ijuí: Editora Unijuí.
Santos, B. S. (Org.) (2002). Globalização. Fatalidade ou Utopia? (2ª edição). Porto:
Edições Afrontamento.
Sousa, F., Mendes, P., Freitas, J., Ferreira, D., Rocha, R. & Tavares, A. (Coord.).
(2022). Dicionário de Ciência Políticas e Relações Internacionais. Coimbra: Almedina.
Steger, M. B. (2003). Globalization: A Very Short Introduction. New York: Oxford
University Press. [Disponível em: https://search.ebscohost.com/login.aspx?
direct=true&db=e000bww&AN=264792&site=eds-live].[Consultado em: 03/11/2022].

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